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As caminhadas Jane’s Walk têm o objetivo de incentivar as pessoas a

experimentar e discutir a qualidade do ambiente urbano em que nós vivemos.


Para isso, todas as pessoas são bem-vindas, a diversidade faz a discussão
ultrapassar barreiras e multiplicar as possibilidades e percepções da cidade. Em
Campo Grande o evento surgiu da necessidade de se ter um evento para
discussão do ambiente urbano da cidade, onde se pudesse experimentar a
cidade de uma forma crítica, através dos olhos e seguindo os conceitos da
literatura da urbanista.

À primeira caminhada Jane’s Walk em Campo Grande ocorreu, no mês de


aniversário da urbanista mais influente do mundo, Jane Jacobs. Jane's Walk foi
fundada em 2006 por um grupo de amigos e colegas da Jane Jacobs como uma
forma de honrar e ativar suas ideias. No primeiro ano, houveram 7 caminhadas
em Toronto. Em dez anos, o movimento observou grande adesão global. Em
2017, 1700 Jane's Walks aconteceram em 225 cidades em todo o mundo,
abrangendo 37 países e 6 continentes.

Estamos neste sentido promovendo a 2º Caminhada Jane’s Walk,


objetivando o debate cidadão relativo as questões urbanas em foco a área
central que tem recebido atenção da gestão pública com a proposta de
requalificação do centro, contido no projeto Reviva Centro.

O evento está vinculado ao LabuH (Laboratório de Humanidades) da


UCDB, que é uma das atividades realizadas pelo Grupo de Pesquisa Estudos
Críticos do Desenvolvimento, dentro do Programa de Pós Graduação Stricto
Sensu – Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Local - UCDB

Os organizadores são: Fernando Camilo de Carvalho Junior, arquiteto há


mais de 20 anos, professor universitário do curso de Arquitetura e Urbanismo na
UCDB, onde ministra e tem contato com as disciplinas de Teoria e História da
Arquitetura e do Urbanismo e Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo
das Cidades sendo que esta tem total enlace com o pensamento de Jane Jacobs
e outros pensadores, denominando o novo urbanismo; Vínicius Néspoli Ferzeli,
arquiteto e designer, ambas formações pela UCDB, realiza trabalhos de
fotografia de arquitetura, também atuando na área de pesquisa acadêmica com
tema relacionados a mobilidade e desenvolvimento, cujo trabalho de conclusão
de curso orientado pelo Prof. Fernando Camilo Jr. Tem recebido premiações e
destaques em revistas nacionais e internacionais com a temática
“Intermodalidade a serviço do desenvolvimento local” onde aborda questões do
papel do transporte férreo e arquitetura espetacular para o desenvolvimento do
município e do estado; e Carlos Gonçalves Junior, acadêmico do curso de
Arquitetura e Urbanismo da UCDB atua no Grupo de pesquisa de estudos da
Gentrificação Urbana com a supervisão do Prof. Fenando Camilo Jr. Tendo como
coordenador e orientador o Prof. Dr. Josemar de Campos Maciel.

O fracasso da utopia das cidades planejadas tem levantado várias críticas


desde a década de 1960. Autores como Jane Jacobs, através da estreita
observação do cotidiano das cidades, entenderam as paisagens planejadas
como monótonas e não comprometidas com a diversidade estética e funcional,
essencial para a vida urbana.
Estas críticas reforçaram a ideia defendida por Jan Gehl arquiteto e
urbanista Dinamarquês Autor de livros sendo o de maior repercussão é
CIDADES PARA AS PESSOAS, e com esse pensamento de escala humana
segue alinhado com outros autores de dissertam sobre urbanismo
. O espaço da rua experimentado por pedestres, antes esquecido em
propostas modernistas, recuperou nas últimas décadas a sua importância como
um palco de urbanidade.

A jornalista americana Jane Jacobs que no início da década de 1960


escreveu o seu mais importante livro, O MORTE E VIDA DE GRANDES
CIDADES, que influenciou a partir de então o pensamento mundial sobre
urbanismo. Jacobs fazia parte de um grupo de pensadores que criticavam
severamente o planejamento urbano produzido em sua época, baseado no
urbanismo de modelos que, segundo eles, desrespeitava as preexistências e era
muito subjugado aos automóveis.

Entre os pontos importantes defendidos no pensamento apresentado por


Jane em seu livro estão:
A importância da vitalidade urbana para a qualidade de vida das pessoas e
a sustentabilidade das cidades, vendo estas como sistemas vivos complexos.
Defendia que as paisagens monótonas criadas pelos planejadores prejudicavam
o convívio entre as pessoas e enfraqueciam a economia das cidades, devido
principalmente à falta de diversidade estética e de usos nos ambientes criados.
Nesse sentido apresentar uma pauta que seja inclusiva e permeie a vida
urbana levando em consideração a escala humana é toda racionalidade contida
no argumento apresentado por Jane.
O referido livro contém uma experiência de observação, o uso da
percepção sensorial dos espaços e as reações diversas produzidas nela relação
de troca de experimentações e diálogos. A estrutura simples e pertinente
apresenta-se em 4 Capítulos por onde Jane constrõe sua abordagem crítica à
cerca das cidades modernas, entretanto de maneira propositiva desconstruindo
alguns paradigmas relacionados à segurança pública, setorização de usos,
habitação, especulação imobiliária entre outros.

O Primeiro Capitulo trata das Calçadas, e relação direta que eles possuem
como elemento de potencial gregária para vida urbana, entretanto em nossas
cidades a concepção quase sempre equivocada de uso dessas calçadas gera o
estado de insegurança experimentados por todos nós. Jane afirma que a calçada
por si só é uma abstração, ela apenas se torna algo quando relativizada com
alguma coisa, os prédios o limite de edificações, outras calçadas. Etc. neste
sentido a rua tem o mesmo conteúdo, se não articularmos com outros elementos
da estrutura urbana não tem nenhum significado a não ser destinar-se ao leito
de transporte de veículos. Portanto, se pensarmos uma rua com uma paisagem
interessante, haveres de verificar uma cidade interessante e neste mesmo
sentido em caso de possuirmos ruas monótonas o resultado será de cidades
monótonas.
Para tanto essa abordagem se dá para construir um preceito de segurança,
em nossas cidades as ruas quase sempre não são seguras redundando em
calçadas e espaços não seguros.
“Sendo assim, as calçadas os usos que as limitam e seus usuários são
protagonistas ativos do drama urbana da civilização versus barbárie.” Jane
Jacobs.

Utilizamos como comparativo a segurança das vilas suburbanas e das


cidades interioranas e quase com um saudosismo infantil essas reminiscências
tomam conta de nossa memória ao comparar determinados tempos idos da
cidades. Tomar a forma pelo conteúdo é equivocado dado posto que o único
elemento que não está presente e desconecta toda essa viabilidade é a
referência das vivências coletivas. Nas grandes cidades todos somos
desconhecidos, o vinculo de proximidade estabelecido em paisagens urbanas
de menor escala contam com a referência do convívio, do significado de
vizinhança.
Essa relação não será construída através de produção de espaços
qualificados, ou da reurbanização dos mesmos, o problema de insegurança não
será resolvido com a presença ostensiva da polícia, nem tampouco afirmamos
que na sua ausência.
O que se deve ter em mente que essas áreas de controle quase sempre
constroem uma sensação de segurança baseada na falta de uso, e essas
regiões sempre são transformadas em zonas selvagens, não há de se falar em
presença policial em áreas que o uso da violência se tornou algo normalizado.
Sendo assim não se pode conceber espaços seguros na ausência de pessoas
ou no controle ostensivo.

Segundo Jane, podemos nos indagar....o que faz os espaços serem ou


tornarem-se seguros?
Por que se evita determinadas ruas ou regiões como por exemplo o centro
a orla ferroviária em Campo Grande? Por que certas ruas são movimentadas e
em certo períodos de repente se esvaziam?

Para Jane são necessários 3 pontos são necessários para ter infraestrutura
e receber desconhecidos e ter a presença deles como trunfo para a segurança.
1º Nitida a separação entre o espaço público e o privado.
2º os olhos para rua
3º as calçadas devem ter usuários transitando.
Em contraponto Jane apresenta para esses argumentos as relações em regiões
de ocupação irregular, onde certas regras de convivência, uso e outras relações
de poder constroem um cenário “mais” favorável para o uso das ruas.

Neste sentido infere....que não adianta construir pátios internos, áreas de


recreação cercadas, o sucesso ou não para esta segurança está no modo como
as ruas da cidade se relacionam com os “desconhecidos” posto que essa é a
destinação das mesmas.

Parece que estamos apresentando metas simples:


Produzir e destinar segurança às ruas em que não haja equivoco entre o espaço
privado e o público e que as haja olhos vigilantes para esses espaços públicos
da rua na maior parte do tempo.
Como forçar as pessoas a utilizarem as ruas sem motivo?
Como forçar as pessoas a vigiar ruas que não querem vigiar?

Parece contrassenso, manter vigilância e policiamento em conjunto, mas não


é...A segurança da rua é mais eficiente quando as pessoas estão menos
consciente dessa vigilância, neste sentido estão utilizando espontaneamente
desses espaços.

Neste sentido o espaço de vigilância eficiente é aquele em que existem um


número considerável de estabelecimentos e locai públicos disponíveis ao longo
da calçada deste bairro ou localidade, os usos mistos e múltiplos produzem o
aumento de segurança nas calçadas, sendo assim faz-se necessário
Primeiro; Produzir locais, lugares onde as pessoas, tanto moradores quanto
estranhos tenham interesse em transitar – motivos concretos para utilizar as
calçadas destes locais
Segundo; Fazer com que as pessoas transitem por calçadas que não queira
frequentar, entretanto são caminhos e tornam-se cheios de usuários mesmo que
sem interesse no espaço público, mesmo assim utilizam por serem meio de
acesso aos espaços que desejam acessar.
Terceiro; Os próprio grupo de comerciantes e donos de estabelecimentos que se
forem em número considerável irão produzir a segurança do local
Quarto; A própria movimentação de pessoas torna-se atrativo para mais pessoas
Por último; Os projetistas, planejadores assim como o poder público tomarem
consciência de que a presença de pessoas atraem pessoas por consequência
uso e apropriação, até o presente momento as propostas de intervenção para
espaço públicos vem acompanhada de vazios, ordem e sossego, a inexistência
de vida e movimento.
Outro ponto de tensão que está contido no pensamento de Jane, não é na
verdade um pensamento é uma preocupação, e tem ocupado uma considerável
parte do nosso tempo...
A palavra REVITALIZAÇÃO.....sempre revestida de um discurso de futuro
promissor e alvissareiro;

Alguns gestores públicos e privados tentam materializar esse termo


escondendo em muitas oportunidades por equivoco ou de caso pensado os reais
interesses nessas intervenções, que quase sempre agradam a maior parte da
população por sempre demostrarem um “cuidado” da gestão pública destinando
do seu tempo para gerar espaços qualificados à população em geral. A maior
preocupação é que na maioria dos casos em requalificação do espaço viabiliza,
aparelha a iniciativa privada na instalação de um processo de especulação
imobiliária produzindo na maioria das vezes o efeito de gentrificação que alguns
técnicos tentam conceituar como algo positivo.

Este Modelo de “reordenamento” espacial recebeu o nome de


Gentrificação quando, em 1964, Ruth Glass1 descreveu o processo de
substituição de moradores de antigos bairros desvalorizados do centro de
Londres por famílias da classe média. Posteriormente o termo Gentrificação
recebeu novas contribuições conceituais, cabendo destacar a definição
considerada por Neil Smith2 que, de certa forma, foi bastante influenciada pelo
geografo David Harvey3 (1996), Smith (2006) entende que o desenvolvimento
urbano, aplicado aos moldes de “reutilização”, “revitalização”, vai além dos
quesitos de classes sociais. Em verdade é um processo que apresenta nova
concepção morfológica do modelo construtivo e espacial, sendo algo
como uma higienização social com incremento na infraestrutura local.
Deste modo, prepara-se o território para ser ocupado por um novo perfil de
usuário, provavelmente uma nova classe com potencial econômico mais elevado
do que da comunidade existente.
Na conceituação de Ruth Glass, ao deslocar do tempo vários teóricos tem
se debruçado sobre a temática do estudo da gentrificação, por vez a fala deles
é uma evolução do pensamento inicial aplicado os conceitos vinculados a
questão fundiária, renda, desenvolvimento, e indubitavelmente todos eles
convergem para as questões de especulação imobiliária, sendo por vez
potencializada por políticas públicas equivocadas, sendo o viés mais usual, as
propostas de reurbanização apresentadas em escala planetária, que não
obstante pode-se evidenciá-las no território da capital Sul Matogrossense,

1
Ruth Adele Lazarus, (1912–1990) nascida na Alemanha, entretanto conhecida como Socióloga Britânica,
visto ter sido na Inglaterra, principalmente em Londres sua maior participação.
2
Neil Smith, geógrafo escocês erradicado nos Estados Unidos.
3
David Harvey, é um geógrafo britânico marxista formado na Universidade de Cambridge. É professor
da City University of New York e trabalha com diversas questões ligadas à geografia urbana.

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