Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Feiticarias e Magia Mulheres Negras e As Visitas Da Iquisicao em Sao Paulo Sec 18 PDF
Feiticarias e Magia Mulheres Negras e As Visitas Da Iquisicao em Sao Paulo Sec 18 PDF
SÃO PAULO – SP
2016
FEITIÇARIAS E MAGIAS: MULHERES NEGRAS E AS VISITAS PASTORAIS
NA CAPITANIA DE SÃO PAULO – SÉC XVIII
SÃO PAULO – SP
2016
S173f Salomé de Souza, Alexandre Bueno
Feitiçarias e Magias: Mulheres Negras e as Visitas
Pastorais nA
Capitania de São Paulo / Alexandre Bueno Salomé de Souza
–
2016.
103 f.: il ; 30 cm
LC BF1584.B7
Ao meu Marido, Vagner Salomé, com amor e carinho
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Introdução..........................................................................................................14
Considerações Finais........................................................................................84
Referências Bibliográficas.................................................................................86
Esta pesquisa foi inicialmente pensada pelo autor com o objetivo de falar
sobre as bruxas na idade média, e sobre os processos inquisitorais
envolvendo, mulheres, os aspectos históricos das crenças e práticas de
feitiçaria na Europa e no Brasil Colonial. Falar sobre o Universo Colonial é bem
complexo, pois envolve três séculos. Trabalhar com documentos e processos
de crimes, leva tempo, paciência e complexidade, pois os textos são difíceis, as
vezes com caligrafia muito desenhada... e no mestrado o tempo é muito curto,
contudo acredito que as pesquisas deveriam estar mais completas... Foram
vários casos de processos crimes encontrados, porém decidi separar alguns
casos apenas, primeiro pelo tempo e segundo pela complexidade. Decidi
então, a achar mulheres negras, acusadas de feitiçaria, no Brasil Colonial, nos
fins do século XVIII, analisando crimes que envolvessem, sortilégios, crimes,
animais, raízes, plantas e práticas mágicas. Entretanto antes de tecer as
feiticeiras do Brasil, tinha que definir o que era feitiçaria e bruxaria, num sentido
mais amplo, então me propus a descrever as diferenças, no aspecto geral,
depois passando pela Europa, destacando assim as Bruxas e só assim
analisando e descrevendo a feiticeiras do Brasil. Para a execução deste
estudo, levantamos inicialmente inúmeras fontes bibliográficas acerca do
período histórico que foi pesquisado relativas as visitas pastorias e do Santo
Ofício no Brasil colonial. Em paralelo procuramos compreender através dos
registros bibliográficos o perfil da mulher negra, escrava e liberta, no período
estudado, verificamos suas relações com a religião e com a sociedade livre.
Tendo realizado estas pesquisa introdutórias, analisamos as preciosas fontes
primárias dos processos crimes de feitiçaria, onde mulheres negras foram
aprisionadas e julgadas por estes crimes. Os processos criminais que foram
estudados estão arquivados na Cúria Metropolitana de São Paulo. Sendo
assim:
O primeiro capitulo foi dedicado a discutir e analisar a Bruxaria e a
Feitiçaria num sentido geral, apoiando se em bases teóricas e historiograficas
que discutiram esse tema. Nesse sentido procedemos a intenção de analisar
também Magia, feitiçarias e bruxarias, passando pela Europa e caindo no
Brasil, uma vez que o mesmo herdara da Europa e da África praticas mágicas
e cheia de encantos. Procuramos traçar as principais características da Bruxa e
da Feiticeira, destacando as práticas, as acusações e as relações delas com a
sociedade. Fizemos grande estudo sobre trabalhos já publicados e analisados
anteriormente, desde a antiguidade, passando pela Idade Média, até chegar no
Mundo Moderno. Em sintese fizemos conexões entre as bruxas da Idade
Média, com as feiticeiras do Brasil Colonial, extraindo nos documentos
inquisitorias a cultura religiosa de uma época.
Os processos crimes analisados neste trabalho versam sobre histórias
de mulheres negras que fizeram maleficios contra seus senhores, monstrando
que muitas vezes essas práticas eram por vingança em relação a violência que
sofriam nas senzalas. No primeiro capítulo nos preocupamos em conceituar
feitiçaria e bruxaria em diferentes aspectos, conceito esse que se mostra de
suma importância para a análise dos documentos que fizemos posteriormente.
O segundo capítulo está mais específico ao tema proposto da pesquisa, pois
apresentamos como eram as visitas pastorais e do Santo Oficio no Brasil
Colonial, focando mais nas visitas pastorias e analisando mais o que era de
cunho singular e a mentalidade da sociedade em relação as práticas de
feitiçaria e como eram essas mulheres acusadas, o que faziam, qual o papel
que representavam na sociedade da época, enfim a relação entre igreja, as
práticas mágicas e a relação a religiosidade dos negros em frente a
religiosidade dos brancos e a presença diabólica nos cultos que representavam
o pecado de heresia. Dois processos crimes foram citados neste trabalho com
o objetivo de dar mais credibilidade e consistência a pesquisa: fontes primárias.
O temor da repressão, o contato com as visitas pastorais, nessas vilas,
conforme analisa Souza (1986) contribuiram decisivamente para que os traços
de um mundo antigo se lapidassem, tornando o diabo, como o terrivel, o
monstruoso, senhor dos tempos a luz das bulas papais, do Malleus
Maleficarium; “foi ainda a cultura das elites que contribuiu para que o diabo
ganhasse dimensão virulenta na vida cotidiana dos colonos, misturando
sagrado e profano, deixando pelo caminho mortes e sofrimentos atrozes,
fundindo: sabbats, missas e calundus”. (SOUZA, 1986, p. 378)
No último capítulo nos dedicaremos à análise dos processos crimes de
feitiçarias que se encontram na Cúria Metropolitana de São Paulo. Conclui-se,
portanto, que as práticas mágicas de feitiçaria e magia estão espalhadas pelo
Brasil, e que estão não apenas representadas em mulheres negras e sim em
índias, brancas, mestiças e também em homens. Sendo assim: “Feitiçaria e
religiosidade popular apresentavam – se extremamente multifacetadas,
agregando concepções e crenças diversas”. (SOUZA, 1986, p. 375).
DEFINIÇÃO DE FEITIÇARIA, BRUXARIA E MAGIA
A magia é vista pelo cristianismo, como algo exercido pelo demônio,
Pierucci ( 2011, p. 76 – 77 ) nos informa que a história da civilização é cortada
por essa desconfiança. Por isso a ideia de que todo o feiticeiro ou bruxo, no
fundo é sempre um agente das trevas; contudo, conforme Pierucci descreve,
acredita-se que as bruxas, se não chegam de fato a firmar um pacto com o
diabo, pelo menos cultivam intimidade com os espíritos maus. Entretanto em
suas pesquisas afirma que a feitiçaria é o desempenho consciente de um ato
tecnicamente possível, ou seja, é o mal real. Portanto é o oficio da magia negra
e pode ser aprendida por qualquer um; já a bruxaria é a qualidade inata da
bruxa, e todas as manifestações de bruxaria são intrinsicamente sobrenaturais.
Por outro lado, Russell (2008, p.17-18) define que bem diferente dos
sistemas sofisticados da alta magia é a magia aplicada quase que
tecnologicamente com fins extremamente práticos, para ele essa é a baixa
magia ou apenas uma simples feitiçaria. Entretanto se a feitiçaria é uma magia
automática, há quem faça bruxaria e outro, tecnologia. O autor afirma que
alguns antropólogos não estabelecem nenhuma distinção entre feitiçaria e
bruxaria, outros como Evans – Pritchard, ainda fazem diferenças entre
bruxaria e feitiçaria africanas, distinguindo os magos maus, que usam objetos,
tais como ervas e sangue para realizar encantos malignos, de magos que
utilizam das mesmas ervas para curar atribuindo o significado da palavra
inglesa “sorcerer” [feiticeiro] aos primeiros e o de “witch” [bruxo], aos últimos. A
distinção é válida, mas a escolha das palavras inglesas foi arbitrária. A maioria
dos historiadores estabelece uma distinção entre a bruxaria européia, que era
uma forma de diabolismo – isto é, a adoração de espíritos malignos – e a
feitiçaria de âmbito mundial, que não envolve a veneração dos espíritos, mas a
exploração deles. A palavra inglesa wicca, que já aparece em um manuscrito
do século IX, significava originalmente “feiticeiro”; todavia, durante as
perseguições às bruxas, passou a ser usada como o sinônimo de maleficus, do
latim, que significava um bruxo (a) adorador (a) do diabo.
O termo feitiçaria traz consigo a ideia de “algo feito”, para alguns autores
estando relacionado ao latim fatum = destino, Nogueira ( 1991, p. 26 – 27) nos
informa que na Europa, a palavra parece estar ligada a magia amatória ou
erótica, desenvolvida na Grécia, ou, nas operações mágicas vinculadas aos
desejos e paixões amorosas, o que faz com que a feiticeira, além de efetuar
elocubrações mágicas, intervenha como intermediária de casos amorosos, com
o auxilio da observação e de técnicas comuns e correntes as praticas
amorosas. Silva ( 2012, p. 28) nos informa que o estereótipo da feiticeira
diabólica se solidificou na idade Moderna sob as luzes da cultura letrada, diante
destas características, Nogueira (2011, p. 32), nos relata que a feitiçaria seria
uma prática individual, de caráter urbano. “É no meio urbano que se encontra a
possibilidade do encontro e da mescla de desigualdades materiais e mentais,
criando novas necessidades e desejos nas consciências dos indivíduos e que
justificam a necessidade da feitiçaria”. Em relação à Bruxaria, o autor afirma
que seria uma prática rural e de caráter coletivo e que assume dentro do
imaginário uma situação passiva.
Figura 2 - Desenho de Bruxas feito em 1514 por Hans Baldung Grien ( 1480 – 1545).
(fonte:CLARK, 2006, p.38)
2
Na Europa medieval, difundiu-se a crença de que "Herodíade" era a líder, demônia ou deusa
de um culto de feiticeiras, que também foi identificada como Diana, Sácia, Abúndia, Fortuna
etc. Na Idade Média, a Igreja freqüentemente classificou como culto de Diana ou de Herodíade
várias aparentes sobrevivências de cultos e superstições pagãs e chamou as "bruxas" que as
praticavam de "dianas", termo mais tarde popularmente alterado para janas.Não se sabe ao
certo como a personagem bíblica foi sincretizada com uma divindade pagã, mas é possível que
a confusão tenha se originado de um sincretismo da grega Hera com a romana Diana -
Heradiana -, que veio a ser erradamente interpretada pelos inquisidores como Herodias ou
Herodíade.
causavam desconfiança e receio no meio social no qual estavam inseridas e
que, embora tivessem alguns casos de repressão violenta, Silva (2012) afirma
que pouca atenção suscitavam entre as autoridades eclesiásticas. Sendo
assim:
Contudo Silva (2102, p. 36) nos diz que uma imagem feminina relacionada à
sabedoria, ao poder e ao divino estão inseridas nestas histórias inspiradas pela
religiosidade céltica3 na qual a figura da mulher cumpria importante papel, a
autora informa que no imaginário ocidental uma importante “bruxa” se destaca:
a personagem Morgana ou Morgana das Fadas, vista por muitos como uma
reformulação, a partir de elementos cristãos, de antigas divindades célticas.
3
A religiosidade dos celtas era marcada por uma série de divindades que possuíam poderes
únicos ou tinham a capacidade de representar algum elemento da natureza ou animal. Com o
passar do tempo, alguns mitos e deuses foram incorporados pelo paganismo romano e, até
mesmo, na trajetória de alguns santos cristãos Em relação às leis romanas, o crime de magia
foi proibido em toda tradição jurídica latina. Pela Lei das XII Tábuas, escrita em meio a uma
sociedade basicamente agrária, o praticante de magia era punido por usar de sortilégios para
transportar a colheita de um vizinho para seu próprio campo e usar conjuros para causar danos
a alguém. Em ambos os casos a pena era a morte por fustigação. Em 81 a.C. foi instituída por
Sila a Lex Cornelia de sicariis et veneficiis que daí em diante pontuou as ações legais contra a
magia. Nesta lei temos a punição àqueles que atentarem contra a vida de outrem a mão
armada, a confusão se dava devido ao veneno usado para o assassinato receber o mesmo
nome que a poção mágica (veneficium).
Silva, ainda afirma que as fadas teciam divinamente, daí a expressão “tecer
como uma fada”.
Sendo assim, ainda de acordo com Silva (2012) qualquer meio termo
no Universo da magia é inaceitável e incompreensivel para a cultura
eclesiástica, os termos “magia branca” e “magia negra”foram cunhados para
resolver essa incoerência que está no âmago do imaginário da feitiçaria. Já
Silva (2006) nos diz que tanto a magia branca como a magia negra são termos
que permanecem populares até nossos dias e que exprimem intuitivamente a
convicção do ponto de vista social; uma é pública e benéfica, a outra é secreta,
anti-social e maléfica na sua essência.
4
O Código Criminal de 1508 determinou que, quando por meio delas acontecia um dano real,
as pessoas acusadas deveriam ser condenadas, da mesma maneira como hereges, ao fogo;
quando não, elas deveriam ser punidas de outra maneira, em proporção ao delito.
5
Purgação - Purificação
Figura 4 – rapaz enfeitiçado na estrebaria (fonte: NOGUEIRA, 1991, p.134)
6
Talião - [Jurídico] Aplicação de pena idêntica àquela cometida; pena do mesmo dano causado;
lei de talião; talionato.[Por Extensão] Qualquer punição que se equivale ao dano sofrido; ação
de revidar na mesma proporção uma agressão sofrida; retaliação.
aparecem como práticas interpenetradas e, em certo sentido, confundidas; o
historiador ainda relata que isso pode ser feito através de uma análise da
evolução histórica e das muitas interpretações sobre a magia. Cardini em suas
pesquisas sobre magia e bruxaria assim relata:
7
Religião persa antiga caracterizou-se principalmente pela dualidade entre o bem versus o
mal, forças representadas pelos dois principais deuses: Ahura-Mazda (Ormuz-Mazda) e Arimã
(AngroMainyush). Os princípios do masdeísmo foram compilados no Zend-Avesta (Avesta). O
masdeísmo pregava ainda a existência da vida após a morte, indicando a existência de um
paraíso para os justos e em um purgatório e inferno para os pecadores. Os ensinamentos do
masdeísmo foram compilados pelo profeta Zoroastro ( Zaratustra) que viveu por volta de 628
a.C. e 551 a.C.. O nome do profeta levou a religião a também ser conhecido como
zoroastrismo.
concretos do ponto de vista étnico e em permanente colisão com outras
práticas, como as dos astrólogos assírios e dos adivinhadores de sonhos
tirrenos, até a sua afirmação definitiva.
CRISTIANISMO
PAGANISMO
Portanto para Baroja (1967, apud NOGUEIRA, 1991, p.23) a magia foi
uma certa atividade baseada em um vinculo de simpatia ou afinidade,
estabelecido por um pacto ou operação de caráter mais ou menos contratual,
entre certos seres humanos e certas potências sobrenaturais ou divindades,
pela entrega de uma parte de seu ser ou a sua totalidade, às mesmas
potências, malignas ou não, mas que sempre têm um caráter especificamente
ligado com alguns aspecto da “psique humana”: amor, ódio, desejos em geral”
Tanto magia, bruxaria, ou feitiçaria soam para o senso comum como elementos
extraordinários, que nos dão poder. Somente essas palavras por si só se
completam nos fazem viajar por outros Universos, nos fazendo sentir imortais.
O novo mundo era uma Terra cheia de desafios, onde o real encontrava-se
com a fantasia, céu e inferno, um Universo curioso. O Brasil era considerado
pelo colonizador como um paraíso, algo insento de calamidades, de
sofrimentos, de uma vegetação incomparável. Entretanto de acordo com
Pieroni ( 2000, p. 250 - 251), esse maravilhoso Éden, além de maravilhoso e
fantástico para o explorador português, também podia ser comparado ao
inferno, pois era um lugar assustador, onde a natureza humana muitas vezes
se identificava com o diabo em pessoa. Muitas vezes o Brasil era comparado
não somente ao céu e ao inferno, mas também com o purgatório. Contudo
Pieroni, afirma que a comparação com o paraíso terrestre não teve grande
duração e que no imaginário popular da época, Deus e o Diabo povoavam
tanto o mundo conhecido, como o que estava a descobrir. “A colônia era vista
pelas autoridades portuguesas como o lugar de morada de hereges, feiticeiros
e demais colonos desviantes da ordem legal ”. (COUCEIRO, 2008, p. 15)
(...) o medo das forças maléficas crescia continuamente, sobretudo a
partir do século XIII, catástrofes, pestes, fome provocavam na
consciência dos homens um horror ao diabo como origem de todas
8
as calamidades, gerais e sucessivas. A invenção da imprensa
encarregou – se dessa propagação... (PIERONI, 2000, p. 251)
Diabolus – O orgulhoso;
Satan – O Inimigo;
Demonium – O iníquio;
8
Em 1455 o inventor alemão Johannes Gutemberg criou uma das maiores contribuições para o
mundo moderno, contudo essa invenção contribuiu para a difusão de livros que falavam do
maligno e das ações demoníacas ( Malleus Maleficarum – 34 reedições, o Teatro dos
Demônios e a história de Fausto)
9
No século XVI, Jean Wier afirmava que o grande reino dos demônios era composto por 79
príncipes e 7.409.127 diabos divididos em 1.111 legiões com 6.666 subordinados.
Leviathan – O ávaro;
Asmodeus – O da luxúria;
Behemoth – O da gula;
Belial – O da libertinagem;
O Brasil além de ser terreno fértil para ouros e diamantes também foi
muito rico em castigos, sofrimentos e torturas, tudo isso em nome da fé e da
ordem. Diamantes e impiedades, conforme nos relata Souza (1986, p. 153),
caminhavam juntos. Ambos brotavam abundantes, das terras coloniais,
engastando – se um no outro como dois pólos opostos e complementares.
Silva (2012, p. 42) nos esclarece que o Brasil estava cheio de:
curandeiras, rezadeiras, benzedeiras, que tiveram amplo papel na conformação
da identidade cultural do povo brasileiro, reunindo a medicina popular e a fé
religiosa numa profusão de práticas supersticiosas sincréticas, porém conforme
nos sinaliza Silva , estes seriam os figurantes da magia branca, pública e
10
a palavra "calundu" tem origem angolana e vem da palavra kilundu, que é um ente
sobrenatural que dirige os destinos humanos entrando no corpo de uma pessoa, a torna triste,
nostálgica, mal-humorada...
11
culto de feitiçaria que combina a magia branca europeia com elementos negros, ameríndios
e católicos; catimbau, catimbaua [É chefiado por um 'mestre' que defuma os assistentes com
seu cachimbo, e a quem se recorre para resolver problemas diversos, seja para o bem, seja
para o mal.]. O Catimbó cultua ervas, símbolos e santos católicos, mas se tivermos que
caracterizar qual é o principal objeto de culto não ha dúvida que são as ervas. O Catimbó tem
como principal elemento a árvore da Jurema e todos os Mestres tem um erva de fundamento.
benéfica, em oposição aos propagadores da magia negra, geralmente
relacionada a bruxaria e feitiçaria individual, secreta e maléfica. A historiadora
em suas pesquisas, ainda informa que nesse cenário mágico ainda surge as
adivinhas, que eram de dois tipos: aqueles que se utilizavam de técnicas
específicas para desvendarem o Universo oculto e aqueles que possuiam o
dom da vidência.
12
Chapim - Antigo calçado de sola alta para mulheres. Coturno usado na representação das
tragédias. Pequeno pássaro da família dos conirrostros, muito útil à agricultura por ser
destruidor de insetos
13
Balaio - Cesto grande de palha, junco, bambu ou cipó, cuja boca ger. é mais larga do que o
fundo; canastra; patuá.
tesoura e a pregava no meio de um chapim; então, com ambos os dedos
mostradores postos debaixo dos anéis da tesoura, levantou para o ar o chapim,
dizendo: “diabo guedelhudo, diabo orelhudo, diabo felpudo, tu me digas se vai
Fuão por tal caminho (...), se isto é verdade, tu faças andar isto, se não é
verdade, não o faças andar ” ; a tesoura e o chapim moveram – se em meia
roda, andando para uma banda. Souza afirma que, de fato o tal homem foi ao
lugar indicado.
14
Maria Padilha - Maria Padilla nasceu e cresceu em Astudilho, Palencia, Espanha por volta do
ano 1334, e faleceu em Alcazar de Sevilha em 1361. Possivelmente de alguma doenca,
posteriormente foi transportada a sua terra natal aonde permaneceu ate que a reconheceram
como Rainha. Maria pertencia a uma familia Castelhana, os Padilla, originarios de Padilla de
Abajo, anteriormente Padiella de Yuso, na localidade de Burgos, cujos membros foram sempre
pessoas destacadas na sociedade de essa epoca. Nascida na Espanha Medieval teve o amor
do rei Dom Pedro I de Castela, o qual foi chamado de "O CRUEL", pelo povo espanhol. Foi
amante do rei, Maria de Padilha que era uma jovem muito sedutora. Viveu entre o ano de 1.300
à 1.400. Dom Pedro de Castela já estava noivo de Dona Blanca de Borbon, uma jovem
pertencente a corte francesa, que foi enviada para Castela para casar-se com Dom Pedro,
porque este estava já para assumir o Reinado do pai, no ano 1350. Dom Pedro I de Castela,
não queria casar-se com Dona Blanca de Borbon, mais este casamento traria excelentes
benefícios políticos para a corte Espanhola e Portuguesa. Maria de Padilha foi viver no reinado
de Castela como dama de companhia de D. Maria, mãe de D. Pedro I de Castela (O
cruel). Padilha fez junto a uma árvore, um feitiço de amor, para conquistar o amor de seu rei
ela preparou um espelho mágico vindo a fazer com que o rei se olha-se no espelho mágico
sem saber que estava sendo enfeitiçado pelo poder do espelho.O feitiço lançado ao rei pela
poderosa Padilha seria eterno. Através deste feitiço, Dom Pedro se apaixonou
por Padilha loucamente. Maria de Padilha trabalhava na magia com um judeu cabalista e que
presas ou não, cobraram o dinheiro ou fizeram o negócio a que iam, que eu
darei um vintém de pão e outro de queijo e te estimarei muito no meu coração”.
Práticas da peneira e da tesoura para descobrir roubos e reaver pertences
eram praticadas na Inglaterra quinhentista.
estes a ensinou muitas magias e através destas... conseguiu dominar o Rei de Castela
completamente. Padilha mandou chamar uma bruxa de Andaluzia a qual era perseguida pela
igreja, mas não se tinha provas de sua ligação com o Diabo, a qual fez um trabalho de
amarração para Padilha onde o erotismo que uniu os amantes foi como um impulso sagrado.
pena infamante do ferro foi depois suspensa, substituida pelas ordenações
filipinas (livro V, tt. IV p.115215). (SOUZA, 1986, p. 184)
Josefa Hilaria, alias Hilaria Correia, c.c Manuel da Costa Palma, homem do mar
– AF 14-10-1714.
Tereza Maria, a valente, c.c Matias dos Santos, homem do mar – AF 8-11-
1750.
15
Vide em Anexo
16
Listas de Auto de fé . ANTT, Inquisição de Lisboa – (SOUZA, 1986, p. 191-192-193)
Francisca de Sa – AF 17-8-1664
17
Pedra de ara - O nome (substantivo) ara vem «do lat[im] ara-, altar». Trata-se de «altar
gentílico onde se faziam os sacrifícios» ou «altar cristão». A expressão pedra de ara é «pedra
benta sobre a qual, durante a missa, o sacerdote coloca o cálice e a patena com a hóstia» [in
Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora].Por sua vez, o Dicionário Eletrônico
Houaiss diz que ara vem do «lat[im] ara,ae "altar; socorro, ajuda, proteção; urna ou cipo
funerário; base, supedâneo"», e que se trata, na área da religião, «entre os pagãos, [de]
espécie de mesa de pedra em que se faziam sacrifícios; altar» ou «entre os cristãos, [de]
mesa, bancada sobre a qual se colocam o cálice e a hóstia, nas cerimônias religiosas; altar».
vezes com orações da igreja católica. Esta, por exemplo seria pra conseguir
perdão : “Donia é Donia, doce é Deus; requiem eternam pelas almas e santos
dignos fiéis de Deus = Deus vos salve, santos fiéis de Deus; Deus vos salve,
salve – vos Deus; os que andais pelos adros e pelos sagrados, ou batizados e
por batizar, todos se queiram ajuntar, e incorporar, e no coração de fulano e
fulana queiram entrar, e o perdão lhe queiram dar; comer e beber, e dormir
queiram tirar, e que a fulano mandem buscar para o perdão lhe querer dar”.
(SOUZA, 1986, p. 198). Junto com essas palavras, Souza (1986), relata que
primeiro, fazia-se um fervedouro com um coração de algum animal atravessado
por três agulhas e três alfinetes, jogando-se tudo numa panela, na qual deveria
ser nova e acrescentava-se um pouco de vinagre e em seguia dizia-se:
“Fulano, aqui fervo o teu coração com quantos nervos em teu corpo estão, com
Barrabás, Satanás, com Lúcifer e sua mulher, todos se queiram ajuntar e no
teu coração queiram entrar para que não possas estar, nem sossegar sem que
a sentença a favor de fulano queiras dar, e tudo quanto te pedir queiras
outorgar”. (SOUZA, 1986, p. 198).
Por fim, Souza (1986), declara que Antonia Maria18 foi presa, processada pela
Inquisição de Portugal e veio degredada para Pernambuco por volta de 1715,
onde aqui não deixou de fazer feitiços e se aperfeiçoar, tirando assim a vida de
sua amiga Joana de Andrade, também feiticeira que veio degredada para o
Brasil.
18
ANTT, Inquisição de Lisbos, Processo número 1.377. Processo de Antonia Maria casada
com Vasco Janeiro natural e moradora de Beja – (SOUZA, 1986, p. 198 – 199 - 200 )
19
ANTT, Inquisição de Lisboa, número. 10.181. (SOUZA, 1986, p. 211)
20
Regras riscadas - Na Umbanda, dentro de uma gira, na chegada de uma Entidade de Luz,
estando incorporada em um médium, a Entidade faz com que ela seja reconhecida, e para isso
usa-se o Ponto Riscado, que a grosso modo é a identificação da Entidade de Luz para seus
picados, um embrulho de papel com migalhas de agnus-dei, um alho, dois
raminhos de arruda, um osso do tamanho da cabeça de um dedo (embrulhado
num papel, parecendo ser de defunto), Souza descreve que o papel que estava
embrulhado o dedo tinha uma nódoa, parecendo ter sido colocado ainda
fresco.
consulentes. Esses Pontos Riscados são constituídos de riscos e símbolos gráficos, Eles
normalmente são traçados ou riscados em tábuas ou no próprio chão. Essas ditas tábuas
podem ser de madeira ou até mesmo em mármore, e são feitos com uma espécie de giz, que
na Umbanda se da o nome de Pemba. Essas pembas podem ser de várias cores, e a Entidade
usa a cor determinante a linha que trabalha e ao Orixá que a rege. os Pontos Riscados são os
instrumentos dos mais poderosos dentro da Umbanda, pois uma vez sem ele, nada se poderia
ser feito com segurança, uma vez que é com a Pemba que se tem o poder de fechar, trancar e
abrir os terreiros conforme seja a exigência determinada do trabalho que será praticado. Os
Pontos Riscados são extensos códigos registrados, firmados e sediados no plano espiritual, e
cada um deles tem sua função específica.
21
Idem, idem, p. 209
VISITAS PASTORIAS E VISITAÇÕES DO SANTO OFÍCIO NO
BRASIL COLONIAL
22
De acordo com o Código de Direito Canônico, o Herege não rejeita totalmente a fé cristã. A
noção de Heresia está exposta no cân. 751, ao dizer que se trata da negação ou dúvida
pertinaz de uma verdade que deve ser crida com fé divina e católica da parte de um batizado.
Deve – se advertir que o cân. 751 fala do pecado de heresia, para que exista o delito de
heresia, é necessário comprovar que existem os dois elementos constitutivos do delito.
23
Além do desempenho dos cargos especificados nos regimentos das inquisições, os
membros do santo oficio eram eventualmente – ou até em caráter permanente – designados
para cumprir outras funções importantes ao andamento do Tribunal, entre elas está a de
visitador das comarcas ou das livrarias, recebiam da Santa Sé jurisdição e faculdades
necessárias para inspecionar uma igreja, diocese ou região, em tudo o que se relacionasse
com assuntos de interesse da fé e da vida eclesiástica. Iam inspecionar as comarcas e terras
sob a jurisdição do Santo Oficio com o fito especial de sustar o alastramento da herética
pravidade e apostásia.
personagens que o compunham, seres animalescos, demoniacos, um
purgatorio sobretudo por sua condição colonial. Segundo a autora, na colônia,
tudo se esfumaçava e se confundia. A catequese era o veículo da função
salvacionista metropolitana, porém caso se mostrasse insuficiente, os naturais
da terra deveriam ser afastados do espaço pecaminoso em que estavam
afundados: a colônia era sempre um perigo, e, encravado nela, o colégio
jesuítico aparecia como oásis de salvação. Entretanto para Souza, para tanto
pecado, não havia outro caminho senão o da dureza e o do castigo. Sendo
assim :
Nas cidades coloniais do século XVI e XVII, Pieroni (2008), nos relata
que eram vários os pecados de heresias, dentre eles a blasfêmia: blasfemar
era algo bastante comum e que as autoridades administrativas, missionários,
brancos, negros, mestiços desajustados, índios desgarrados das aldeias,
vadios, ciganos e andarilhos, soldados, prostitutas, marinheiros e degredados
afiavam a língua nas praças, igrejas e tabernas. Os alvos, na maioria das
vezes, eram Deus, Cristo e sua família, os apóstolos. Muitas confissões e
denúncias de blasfêmia e desrespeito aos objetos sagrados foram anotadas.
Pieroni, ainda informa que em Pernambuco e na Bahia, entre 283 faltas
confessadas, contaram-se 68 expressões insultuosas que renegavam Deus,
zombavam dos santos ou duvidavam da virgindade de Maria, a mãe de Jesus e
que no topo da lista dos blasfemadores brasileiros estavam o governador da
capitania de Porto Seguro, Pero de Campo Tourinho, preso em 1546 por causa
de insultos dirigidos a Deus e à Igreja. O pesquisador afirma que Tourinho
disse publicamente que ofereceria uma vela de bosta para Santo Antônio e que
os santos eram todos “santinhos de merda”. Entretanto, ameaçado de
excomunhão, reagiu de maneira ainda pior, proclamando aos quatro ventos
que faria sua higiene pessoal com a carta papal. No Brasil Colonial os homens
eram os campeões da blasfêmia e as mulheres não cometiam
ordinariamente esse pecado. Pieroni relata casos de algumas mulheres que
tentaram quebrar o protocolo, quase sempre de forma escandalosa, essa
exclusividade masculina. Dentre elas o autor cita:
24
De acordo com o dicionário de Latim, significa Modo de agir
O Santo Ofício visitava cidades e Províncias (SIQUEIRA, 2013, p. 657 –
658); iam até os Territórios de Ultramar. Esses inquisidores levavam a justiça a
todos os domicílos e também a penitência e a reconciliação das consciências
com a fé.
25
Pano de damasco – Tecido na cor roxa, representava penitência e conversão
26
CONCÍLIO ECUMÊNICO DE TRENTO - Sessão XIV - Celebrada no tempo do Sumo
Pontífice Júlio III, em 25 de novembro do ano do Senhor de 1551 – Capítulo V – Da confissão –
Disponível em : http://agnusdei.50webs.com/trento18.htm
passaram a ser aprisionados em práticas escusas e muitas vezes não
confessadas, segundo a pesquisadora. Sendo assim:
1. Negativos do Judaismo27;
2. Confitentes de minutos de Judaísmo;
3. Diminutos28 em suas primeiras confissões; presos – por isso segunda
vez depois de reconciliados;
27
Negativos eram os réus que nada diziam ou que negavam sempre por se declararem
inocentes.
28
Diminutos eram os réus que faziam confissões insuficiente e incompletas
4. Revogantes29;
5. Dogmatistas30
6. Relapsos31;
7. Falsários32;
8. Autorias
9. Blasfêmias e proposições heréticas;
10. Impenitentes que não cumprem sua penitência;
11. Pacto com o demônio;
12. Dos que dizem não ser: pecado a fornicação simples e molicies;
13. Bigamos;
14. Solicitantes;
15. Nefando33
16. Sortilégios34;
17. Dos que dizem missas sem terem ordens;
18. Dos que ferem ou matam a outros nos cárceres do Santo Ofício;
19. Dos guardas e mais oficiais que comentem algum crime dentro dos
cárceres;
20. Dos que se fazem Oficiais do Santo Ofício não o sendo;
21. Dos que mandam matar oficiais do Santo Ofício por fazerem seus
mandados;
22. Dos que alevantam falsos testemunhos dos oficiais da Inquisição sobre
cousas de seus ofícios sobre a honestidade de suas partes;
23. Clérigos de missa cristãos novos, reconciliados de Judaismo
24. Acoutados nos cárceres por sentença de Conselho Geral;
25. Dos que batem nas paredes dos cárceres do Santo Ofício da banda de
fora e pelo A.B.C35 falam com os presos;
26. Dos que não cumprem suas penitências deixando de trazer seus hábitos
e quebram o cárcer que lhes foi assinado, saindo dele sem licença;
29
Os que confessavam vários delitos, imprevistos, e depois revogavam tudo
30
Os que estabeleciam dogmas
31
Os réus que haviam reincidido no erro
32
Os réus que professavam conscientemente ideia falsas em matéria de fé.
33
De que não se deve falar, por ser digno de aversão; abominável, execrável, infando, de má
índole; malvado, perverso.
34
Feitiçaria; ação do feiticeiro que pratica magia ou bruxaria.
35
A.B.C ( Letras que significam pessoas)
27. Jactância36, dos que se jactam que não cometeram as culpas que
confessaram na mesa do Santo Ofício;
28. Mortos no cárcere, relaxados em estátua37;
29. Doidos;
30. Dos que dizem que o estado dos bons casados é mais perfeito que o
dos religiosos que vivem mal;
31. Luteranos reduzidos à nossa Santa Fé Católica;
32. Cismáticos38;
33. Que não há de haver juízo universal senão particular de cada um e que
o mundo há de durar para sempre;
34. Cristão renegados;
35. Soltos do cárcere do Santo Ofício sobre a fiança por doentes e doidos;
36. Saludadores39;
37. Cristão velhos presos por testemunhas falsas que foram soltadas em
livramentos;
38. Frades que foram mandados se desdizer dos púlpitos de proposições
que neles tinha dito e repreendidos pela mesa;
39. Dos que desacreditam o Santo Ofício e modo de proceder de seus
Ministros dizendo que queimam sem culpa os presos e outras palavras
semelhantes;
40. Dos que negam o culto e veneração às imagens e adoração da cruz;
41. Dos que confessam a lei de Moisés por boa e a dfendem na Mesa do
Santo Ofício;
42. Dos que dizem proposições contra a pureza da Virgem Nossa Senhora;
43. Dos que foram presos pelo nefando e constando não o ser senão
molícies foram soltos sem ir a auto;
44. Acusados por juízes no cárcere;
45. Dos que se vem apresentar e acusar nesta Mesa por judaísmo, que
estavam indiciados e por isso foram ao auto;
46. Dos que tomam o Santissímo Sacramento depois de comemerem e
beberem;
36
Comportamento de quem age com arrogância; altivez.
37
Relaxados, eram os réus entregues à justiça secular para serem executados
38
Que tende a cismar; que fica pensando excessivamente (em); pensativo.
39
Curandeiros
47. Pessoas que por não terem capacidade para entender por si a obrigação
que tinham de crer na Igreja Católica ainda que fosse um confuso por
razão de sua pouca idade, ou poir não terem notícias de nossa santa fé
foram hereges ou judeus;
48. Dos que prendem a outros por parte do Santo Ofício não sendo
manandados, nem oficiais da Inquisição;
49. Se cristãos novos saíram reconciliados por este Santo Ofício antes do
perdão geral p;odiam e deviam depois dele sendo letrados ser
restituídos para usarem como antes de suas letras;
50. Dos que teram o hábito em vindo o auto fé;
51. Pecado nefando;
52. Mais pecado nefando pelo qual foram açoitados publicamente e
degredados para as galés;
53. Mais relaxados em estátua;
54. Mortos recebidos no cárcer e lidas suas sentenças no auto;
55. Ausentes relaxados em estátua;
56. Mais revogantes;
57. Dos que dizem em pregações ao povo – que os confessores nas
confissões que não fazem mais que declarar que vem limpos os
penitentes, como faziam os sacerdotes das Lei Velha – aos leprosos que
se que lhe iam mostrar;
58. Mais apresentados a quem se tirou o hábito no auto;
59. Dos que não creem que N. S. Jesus Cristo está no SS. Sacramento da
Eucaristia;
60. Dos que são presos juntamente por delitos distintos, como são o crime
de heresia, ou dizer missa sem ter ordens, e pelo nefando, ou se hão de
ser acusados e processados tudo em sum só processo e em uma só
sentença , ou em diferentes processos;
61. Apresentados na mesa do Santo Ofício que não estavam indiciados nem
depois lhe sobreveio prova, que confessaram suas culpas e, foram
reconciliados na Mesa sem hábito penitencial diante dos inquisidores um
notário e dois Oficiais por testemunhas e outros abjuraram de levi40;
40
Abjuração – detestação da heresia – Abjuração de levi – a de quem foi declarado levemente
suspeito de heresia
62. Dos que sentem mal da concessão da Bula da Cruzada41 contra
indulgências, e dos ritos e cerimônias da Igreja Católica;
63. Dos que negam a imortalidade da alma e por isso sentem mal dos
sufrágios da Igreja pelos defuntos;
64. Dos que desacreditam o Santo Ofício;
65. Tormentos in caput alienum42
66. Mais doidos;
67. Dos que corrompem os ministros do Santo Ofício ou tentam fazê – lo
com dádivas e promessa para saberem de presos que estão no cárcer e
se comunicarem com eles por cartas e recados e procuraram por este
meio saber os segredos do Santo Ofício e impedir seus procedimentos;
68. Dos que dizem missa sem terem ordens;
69. Dos que dizem que Cristo Nosso Senhor não fora amortalhado nem
sepultado e que da Cruz subira ao céu e que o Santo Sudário não tinha
sinais de sangue porque o corpo morto não tinha sangue para por sinais;
70. Dos que dizem de Cristo Nosso Senhor que se lhes fizessem o que
fazem aos judeus presos pelo Santo Ofício, que pudera desesperar ou
desesperara;
41
Também chamada de Tribunal da Junta da Bula da Cruzada, foi instalada no Brasil pelo
decreto de 29 de junho de 1808, com a nomeação do comissário-geral frei José de Moraes,
esmoler-mor do rei. Criado em Portugal em 1591, sua competência, segundo o regimento de
10 de maio de 1634, era “tomar conhecimento de todas as causas e negócios, que
diretamente, ou por qualquer modo tocassem à expedição da bula, à cobrança do rendimento
dela, às dívidas, contratos, quase-contratos e convenças feitas por sua causa”. A bula da
cruzada concedia indulgências aos fiéis mediante compra e existia desde o período da
reconquista cristã. Sua aquisição implicava a dispensa de certos rituais católicos, como jejuns e
abstinências. Durante o período da expansão marítima, os papas continuaram a concedê-la,
com o objetivo de financiar a luta contra os infiéis na África e a construção da basílica de São
Pedro em Roma. Do montante arrecadado, a Coroa portuguesa enviava uma parte aos
pontífices e apropriava-se do restante. A Junta, dessa forma, integrava o sistema de
arrecadação do Reino português. Em Portugal, o tribunal era composto pelo comissário-geral,
escolhido pelo papa, e três deputados, além de secretário, tesoureiro-geral, provedor, contador,
escrivão da receita e despesa, promotor fiscal, porteiro e solicitador, providos pelo comissário.
Nas possessões ultramarinas, existiam comissários subdelegados, que cuidavam da
arrecadação das esmolas da Bula e tinham alguns privilégios, como a desobrigação de
participar de expedições militares. As bulas da cruzada eram publicadas anualmente no Reino
e apresentadas em uma procissão solene na qual se divulgavam as indulgências e graças que
lucravam aqueles que as obtinham. As concessões papais para que os monarcas portugueses
pudessem distribuir as bulas eram renovadas a cada seis anos. Nos domínios ultramarinos,
exigia-se igual solenidade, sendo escolhidos pelo tesoureiro-mor os melhores pregadores,
41
capazes de persuadir o maior número de pessoas possível. Tormento in capu alienum era o
ministrado a um prisioneiro para que depusesse como testemunha, em determinadas
circunstâncias em processo de outro acusado no qual fora citado como testemunha.
71. Mortos em suas terras e casas contra a memória, fama e fazenda, dos
quais se procedeu no Santo Ofício da Inquisição de Coimbra pelo crime
de judaismo depois do quinquênio e foram convictos e condenados e
sua estátua entregue à justiça secular43.
Essas regras foram fixadas para classificá - las de maneira exata e precisa.
Diante disso, Siqueira (2013), informa que, configurada a heresia, seria
necessário saber qual o grau e sua profundidade, quando as informações
requeridas fossem em relação a fé. O promotor pedia a prisão das pessoas,
quando o caso era duvidoso ou muito grave. Siqueira afirma que deveriam ser
consultados alguns deputados. “Prendiam-se os réus para processá-los, antes
da formação de culpa; a prisão era no caso, uma pré-condenação, visto que os
processos arrastavam – se, com longa duração, variável o tempo de retenção
dos réus”. (SIQUEIRA, 2013, p. 561).
43
Libelos e processos de todo gênero de delitos de que se conhece nesta Inquisição para se
poderem por eles fazer outros e processar e julgar casos semelhantes. Biblioteca de Coimbra,
Ms.fol. 233 – 246. (1620) apud SIQUEIRA, 2013, p. 552 – 553 – 554 – 555 – 556 – 557.
vitimadas principalmente mulheres, pois perturbava o imaginário medieval
cristão a figura feminina e sua sensualidade inerente. Entretanto as ações da
Igreja Católica no Brasil colonial ( AGUIAR, 2012, p. 110) estiveram sempre
ligadas a um processo de mudança promovido pelo Concilio de Trento44 (1545
– 1563), contudo esse Concilio afirmou o poder da Igreja sobre os poderes
civis, sendo presidido pelos papas e bispos, o mesmo segundo o autor
ressaltou o valor das visitas pastorais na identificação e correção de práticas
que não eram condizentes com a moral cristã católica.
44
O Concílio de Trento foi o XIX ecumênico reconhecido pela Igreja Católica Romana. Foi
convocado pelo papa Paulo III, em 1542, e durou entre 1545 e 1563. Teve este nome, pois foi
realizado na cidade de Trento, região norte da Itália.
Decisões do Concílio de Trento: - Condenação à venda de indulgências (um dos principais
motivos da Reforma Protestante, que foi duramente questionada por Martinho Lutero);
Confirmação do principio da salvação pelas obras e pela fé; Ressaltou a importância da missa
dentro da liturgia católica; Confirmou o culto aos santos e à Virgem Maria; Reativação da
Inquisição (Tribunal do Santo Ofício); Reafirmou a doutrina da infalibilidade papal; Confirmou a
existência do purgatório; Confirmação dos sete sacramentos;Proibição do casamento para os
membros clero (celibato clerical); Criação de seminários para a formação de sacerdotes;
Confirmação da indissolubilidade do casamento; Medidas e decretos visando à unidade
católica e o fortalecimento da hierarquia.
45
A coroa portuguesa recebeu o Direito do Padroado e junto, o dever de propagação da fé
entre os povos dominados. Desta forma, a partir da Lei do Padroado muitas vezes o ato de
colonizar se confundia com o de evangelizar; a ordem temporal se misturava com a ordem
espiritual, a esfera política com o eclesial e o econômico com o evangélico.
Neste mundo de conforto só as ordens militares como a Ordem de Cristo não se sujeitavam ao
rei ou ao Estado, pois estavam ligadas diretamente à Santa Sé e tinham maior liberdade de
ação. Isso sempre foi uma fonte de conflito com as autoridades coloniais. O mesmo se deu
também com a Companhia de Jesus, os Jesuítas, até chegar a ser expulsa de Portugal e de
todas as suas colônias.
Como instrumentos jurídicos existiam algumas bulas papais, especialmente a Universalis
Eclesiae, de 1508 e a Examiae Devontionis Sinceritas, de 1501. Estas bulas reafirmavam o
poder pontifício e a delegação que os papas faziam. A Lei do Padroado (Ius Patronatus)
organizava as relações entre a Igreja e o Estado. Por ela, direitos e deveres de ambos os lados
eram bem determinados. Desta forma, a organização e a administração da Igreja ficavam nas
mãos do Estado, através da Casa de Contratação, a mesma que cuidava da economia e dos
aspectos militares e administrativos na América.
A partir de 1524 o Padroado começa a ser exercido pelo Conselho das Índias que se torna
então o órgão supremo e última autoridade nas Índias. Assim, pelo Padroado que lhes
concedia um conjunto de faculdades especiais e de privilégios, os reis e outros mandatários de
Portugal e Espanha assumiam a direção e organização da Igreja. Desta forma se entendia esta
relação: As leis da Igreja são as leis do Estado e vice-versa.
controlar assuntos religiosos, protegendo e propagando a fé católica,
em todos os terrritórios sob seu poder (AGUIAR, 2012, p. 112).
Para Wehling (1999, p.13), a formação colonial brasileira entre os séculos XVI
e XIX é uma realidade história que tem várias interpretações. O autor informa
que não podemos ter a pretensão de conhece-la como realmente foi, isso não
seria possível; pois o Brasil não seria pensado como primeira existência
particular:
Na colônia existia o catolicismo de família, Souza (1986, p.87), nos revela que
o capelão era subordinado ao pater familias46, ou seja a religiosidade,
subordinada a força dos engenhos de açucar, integrando o triângulo:
Casa Grande
Senzala
Capela
Figura 7 – Formação da Família Brasileira sob regime de Economia Patriarcal. (FREYRE, 1958
apud SOUZA, 1986, p.87)
46
Era o mais elevado estatuto familiar (status familiae) na Roma Antiga, sempre uma posição
masculina. O termo é latino e significa, literalmente, "pai de família".
medicamentos, que tirem o juízo, ou consumão os corpos. E fazendo
alguém o contrario haverá as penas impostas no título precedente,
provando-se que as taes cousas tiverão effeito: porque em tal casos
se fica concluído que as taes palavras e obras procedem de algum
comercio, familiaridade e pacto com o Demônio. Porém se por outra
via se mostrar, que as taes palavras se dizem, e as taes obras se
fazem por engano, e fingimentos em algum effeito, e só a fim de
ganhar dinheiro, serão os deliquentes castigados arbitrariamente (2)
com penas pecuniárias, e corporaes, de modo que, semelhantes
desordens se atalhem. (VIDE, 1720, apud SCHLEUMER, 2011)
48
São Benedito nasceu perto de Messina, na ilha da Sicília, Itália, no ano de 1526. Benedito
significa abençoado. Seus pais foram escravos vindos da Etiópia para a Sicília. Era filho de
Cristovão Manasceri e de Diana Larcan. O casal não queria ter filhos para não gerarem mais
escravos. O senhor deles, sabendo disso, prometeu que, se eles tivessem um filho, daria a ele
a liberdade. Assim, eles tiveram Benedito. E, como prometido, ele foi libertado pelo seu senhor
ainda menino; morreu em 1569, devido a sua cor tornou – se protetor dos negros, entretanto
seu culto permaneceu proibido pel Igreja Romana, sendo autorizado somente em 1743.
49
Desde os Séculos XV e XVI os negros já se congregavam nas Irmandades de Nossa
Senhora do Rosário em Portugal. Inicialmente, a devoção à santa era realizada somente pelos
brancos e se tornou popular com a famosa batalha de Lepanto em 1571, em que a vitória dos
cristãos sobre os mouros foi, de certa forma, atribuída à proteção da Virgem. A devoção dos
negros a essa santa é cheia de histórias e lendas. Segundo alguns estudiosos, os Padres
Dominicanos portugueses utilizaram da imagem dessa santa para catequizar os povos
africanos em plena África, fazendo a relação sincrética da Virgem do Rosário com o Orixá Ifá,
do Panteão Mitológico Africano, que era o oráculo dos homens e mesmo dos outros deuses,
e possuía um colar de sementes de palmeiras que foi associado ao Rosário de Maria. No
Brasil, a devoção a Nossa Senhora do Rosário foi trazida pelos primeiros escravos, mas foi em
Minas Gerais que as comemorações tiveram maior projeção. No Compromisso da Irmandade
de Vila Rica (Ouro Preto) de 1713, ficou registrado que a festa já existia há trinca anos,
enquanto na Vila do Príncipe (Serro) o Compromisso é datado de 1728. No Tijuco
(Diamantina), a Irmandade dos Escravos adotou o nome de “Nossa Senhora dos Pretos, de
São Benedito, Santa Efigênia e Santo Antônio de Cartagena”, e os registros da festa
são datados de 1745, conforme livros do Arquivo do Palácio Arquiepiscopal. Incentivada pelo
clero local, como forma de manter os negros cativos, que se rejubilavam ao verem seus Reis
coroados, as comemorações em louvor à Santa eram magníficas, repletas de danças e
batuques.
controle social, um instrumento de submissão para o escravo. Diante disso,
Souza, ressalta que o Brasil era uma colônia escravista, permeada pelo
sincretismo religioso e que o sincretismo afro-católico dos escravos seria uma
realidade que se fundiu com a preservação dos próprios ritos e mitos das
primitivas religiões africanas
50
Cultuava-se São Benedito, mas cultuava-se também Ogum , e
batiam-se atabaques nos calundus da colônia: nas estruturas sociais
que lhe foram impostas, os negros, através da religião, procuraram
“nichos” em que pudessem desenvolver integradamente suas
manifestações religiosas (...) a religião africana secretou sua própria
concha. (BASTIDE, 1960, p. 69 apud SOUZA, 1986, p. 94)
50
Ogum é o orixá da guerra, da coragem, o protetor dos templos, das casas, dos caminhos.
Conforme nos informa Bastide (1989) no Brasil, a capela se dividia em
duas partes separadas, o pórtico e a nave, os brancos tinham o direito de ter
um lugar nos bancos da igreja, os negros ficavam do lado de fora, vendo a
missa do pórtico através das portas abertas. Os negros, participavam da
religião dos seus senhores, como seres inferiores. Portanto, nas fazendas e
engenhos muitos escravos e escravas não ouviam missa, primeiro porque as
igrejas eram bem pequenas, andavam nus, e também pelo mau cheiro que
exalavam de seus corpos. Bastide nos informa um detalhe importante, que
mesmo os negros libertos, não podiam pretender entrar nas ordens
eclesiásticas e que padres negros, ou provinham de Cabo Verde ou de Angola.
O catolicismo com seus ritos consolidava-se com o dia a dia da colônia e com
as estações do ano.
Virgem do Rosário
Senhora do Mundo...
51
No Brasil, chegou com os colonizadores portugueses, mas com o propósito de ser absorvida
pelos escravos que misturaram crenças da sua terra africana ao culto dos senhores de
engenhos, com ênfase à devoção – principalmente aos santos negros como São Benedito,
Santa Efigênia, Santo Onofre e, também, à Nossa Senhora do Rosário, a mais venerada entre
os negros brasileiros. Há registros de que alguns grupos de escravos, ao chegarem no Brasil,
já cultuavam essa tradição. Os festejos da Irmandade do Rosário mantém-se vivos na tradição,
cuja Corte é constituída por um Rei Perpétuo e uma Rainha Perpétua; Sendo assim Perpétuo e
Perpétua são os sucessores o filho e a filha mais velhos. Segundo a tradição e estatuto da
entidade, são escolhidos, na comunidade, um rei e uma rainha ( que recebem o Nome de Rei
Perpétuo e Rainha Perpétua), além de um juiz e uma juíza, o escrivão e a escrivã, que
participam dos festejos repassando seus respectivos títulos para os próximos representantes
durante o ritual de coroação que acontece no encerramento da festa em frente à igreja.
52
A taieira é uma dança-cortejo, de cunho religioso e profano, cujos participantes entoando
cantigas religiosas e populares, dançando e tocando instrumentos de percussão, acompanham
a festa de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, os santos padroeiros negros,
comemorada no dia seis de janeiro (Dia de Reis). Os mais antigos registros da taieira no Brasil
datam, ao que tudo indica, do século XVIII, por ocasião das comemorações do casamento de
Dona Maria I, realizadas em 1760, em Santo Amaro, na Bahia. As danças da traieira são
executadas em roda ou em duas fileiras. Seus personagens são compostos pelas Taieiras,
dançarinas vestidas com blusa vermelha e saia branca enfeitada com fitas coloridas; Guias ou
as chefes dos cordões ou fileiras, que usam uma faixa verde na cintura e outra amarela
cruzando o peito (as cores são invertidas no outro cordão), pulseiras, colares, um chapéu
branco com fitas e flores vermelhas, além de uma pequena cesta pendurada no braço ; as
Lacraias (corruptela de lacaia), moças que seguram as sombrinhas para as rainhas e que não
usam trajes especiais
Dê – me um coco d’agua
Senão vou ao fundo!!...
Virgem do Rosário
Senhora do Norte...
Dê – me um coco dägua
Senão vou ao pote!...
53
Antiga dança dramática dos negros, com cortejo e danças guerreiras em celebração à
puberdade
as congadas, datam de 1700 e na cidade de Iguarassu (Pernambuco),
entretanto a sua origem foi em Portugal.
54
Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Processos-crimes. Feitiçaria. Páscoa. São
Paulo, 1749.
55
Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Processos-crimes. Feitiçaria. Joanna. Santos,
1759.
Processos-crimes. Feitiçaria. Páscoa
Esse crime aconteceu na cidade de São Paulo, no ano de 1749, onde Páscoa
foi acusada de “matar gente”, usando de feitiçaria, Páscoa pessoalmente
relata os seus crimes, falando a sua dona que sua filha seria curada. Nos
relatos primários vemos:
56
De acordo com Souza (1986), ossos de defuntos eram ingredientes muito caros para as
feiticeiras, com ossos de gente as feiticeiras faziam uma água peçonheta.
ossos de costela de vaca e de galinha, além de bolinhas que se
assemelhavam a excrementos. (SCHLEUMER, 2011, p. 05)
Essas mulheres negras eram condenadas, porque eram vistas como perigo
para os dogmas católicos e também por levantarem suspeitas que poderiam
ter feito pacto com o demônio, só por essa hipótese, já eram vistas com outros
olhos pela mesa inquisitorial outro ponto que devemos salientar é por
pertencerem a um grupo onde eram minorias, negras, escravas, vitimas de um
poder excludente, como diria Keith Thomas (1991), a maioria de pessoas
envolvidas em relação a magia e feitiçaria eram de mulheres pobres e a
Côlonia estava cheia de preconceitos étnicos, violências físicas e simbólicas.
“A estrutura social do Brasil escravista, separando as cores em classes
superpostas, cada qual com sua civilização própria, levou naturalmente numa
falsificação de seus respectivos valores” (BASTIDE, 1989, p. 198) . Nos casos
analisados, após a acusação essas mulheres eram condenadas a prisão e
sobre segredo de justiça ficam a disposição do Santo Ofício, para serem
degredadas ou não. “As práticas e discursos da normatização e da subjugação
punham-se como presenças constantes, limites com os quais era forçoso que
os africanos soubessem negociar, em uma espécie de liberdade condicionada
cujo exercício se limitava a certos espaços que tinham de ser criados e
reivindicados em uma negociação tensa – e sempre arriscada”. (MARCUSSI,
2006, p. 124) Contudo a história do Brasil Colonial é uma história de lutas,
onde brancos se julgam e são melhores que os negros; Joana, Isabel e
Páscoa, relatadas no estudo de caso são provas de um sistema religioso
altamente herético e com ecos de um imáginário que não era daqui, uma
mentalidade com raízes européias. Entretanto gostariamos de destacar que os
casos de feitiçaria, relatados através dos processos crimes, é uma pequena
amostra de feitiçarias e práticas mágicas no Brasil Colonial; presença essa que
não estão apenas num passado distante, com certeza ainda se fazem
presentes num mundo, onde as formas de se chegar até Deus são
representadas de diversas formas. Infinitas possibilidades de pesquisa são
instigantes aos olhos do pesquisador, ainda mais num tema como esse, porém
temos que ter um cuidado extra, de não deixar ser enfeitiçado pelas feiticeiras
e enveredar por outros caminhos que não sejam a ciência e sim a fantasia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AGUIAR, Rhulio Rodd Neves. Justiça eclesiástica e ação inquisitorial nas
Minas setecentistas: o casamento do padre José Rodrigues Pontes. 2012.
Disponível em: /Users/Note-1/Downloads/2314-15602-1-PB.pdf. Acesso em: 12
Out 2016.
ALVES, Adriana Dantas Reis. As Mulheres Negras por cima: O Caso de
Luzia Jeje. 2010. Disponivel em http://www.historia.uff.br/stricto/td/1220.pdf.
Acesso em 26 de junho de 2016.
BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas No Brasil. Contribuição A Uma
Sociologia Das Interpenetrações De Civilizações. São Paulo: Editora
Pioneira, 1989
BOLOGNE, Jean-Claude; Gasso , Carlos; GASPAR, Fátima Leal. Da chama à
fogueira: magia e superstição na Idade Média. Portugal: Editora Dom
Quixote, 1998.
Documentos Manuscritos:
Documentos eletrônicos: