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Mundicarmo Ferretti
Boletim On-Line
CMF - n. 13 /Maio 1999/ atualização quadrimestral
Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, São Luís-MA, v. 13, n. 13, p. 6-7, 1999.
Todo terreiro de Mina realiza muitas festas durante o ano. Algumas em feriados e dias
santos previstos no calendário oficial do país, outras em datas estabelecidas pelo
calendário católico, outras no aniversário da chegada das principais entidades espirituais
da casa, no aniversário do terreiro, ou em datas relacionadas com o ciclo de iniciação de
filhos-de-santo (batismo, ordenação ou feitoria).
Embora nem sempre os de fora percebam facilmente, toda festa de terreiro tem relação
com alguma entidade nele cultuada. Assim, quando uma casa festeja o 13 de Maio,
costuma comemorar a libertação de escravos e homenagear os Pretos Velhos ou algum
deles; quando festeja o dia 19 de Novembro, dia da Bandeira, costuma render
homenagem a João da Mata, também conhecido por Caboclo da Bandeira, ou a entidade
de sua família. Do mesmo modo, quando festeja Reis, São João e São Pedro, costuma
render homenagem a algum vodum ou caboclo a eles relacionado na Mina como:
Dossu, Reis de Mina (06/01), João do Leme (24/06) e Pedro Angasso (29/06).
O Carnaval nos terreiros de Mina é geralmente antecedido e/ou sucedido por rituais
religiosos, sendo o arrambam ou bancada - realizado na Quarta-feira de Cinzas - o mais
conhecido. Sérgio Ferretti informa que a Casa das Minas realizava até 1975 ou 1976, no
Domingo de Carnaval ou em domingo anterior a ele, um ritual denominado Entrudo,
quando eram cantadas, em jeje, músicas especiais e os voduns mais jovens, os toquenos,
brincavam jogando talco e água de cheiro uns nos outros e na assistência. Segundo a
mesma fonte, o Entrudo era realizado durante o dia, sem vestimenta especial
(FERRETTI, S. 1996:160; 1996b:10).
Além da Casa das Minas-Jeje, alguns terreiros da capital realizam a Bancada na Quarta-
feira de Cinzas, como a Casa de Nagô, a Casa Fanti-Ashanti, o Terreiro de Iemanjá (de
Pai Jorge) e o Terreiro Fé em Deus (de Mãe Elzita). Outros realizam-na em outras
épocas do ano: no fim de março, como o Terreiro "das Portas Verdes", do saudoso José
João; em maio, como o de Dona Santana, no Maracanã. A Bancada costuma levar
muitas pessoas aos terreiros pois, além de serem distribuídas frutas e outros alimentos a
todos, acredita-se que eles são portadores de "axé", uma vez que permanecem muitas
horas no "quarto do santo" antes de serem distribuídos.
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, Jorge. Orixás e voduns nos terreiros de Mina. São Luís: SECMA, 1989.
SANTOS, Maria do Rosário C. e SANTOS NETO, Manoel dos. Boboromina: terreiros de São Luís, uma
interpretação sociocultural. São Luís: SECMA, 1989.