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Estado de Minas ­ Impresso

Pequenos mais fortes

Francelle Marzano 
Agroindústria familiar conquista novos mercados a partir da melhoria da qualidade dos
processos e da certificação de produtos. Formalizadas, empresas valorizam suas iguarias

Denize  Viana  capricha  no  preparo  dos  queijos  artesanais  certificados,  que  agora  estão  aptos  para  a
conquista de novos mercados 

Queijo, cachaça, geleia, café, doces. Essas são algumas das iguarias mineiras que fazem sucesso por
aí.  O  que  as  pessoas  não  sabem  é  que  a  maioria  desses  produtos  é  fabricada  por
pequenos agricultores que residem no meio rural e promovem o beneficiamento de modo artesanal ou
em  pequenas  indústrias  instaladas  na  propriedade  da  família.  Os  investimentos  em
pequenas agroindústrias têm o objetivo de agregar valor ao produto, elevar a renda da família, além de
valorizar a cultura e gerar ocupação na região em que elas atuam. Quando formalizadas e registradas,
podem alavancar o mercado, vendendo os produtos para outros municípios e estados.

Segundo  último  estudo  disponível  sobre  a  realidade  da  agroindústria  no  estado,  elaborado  pela
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Ruraldo Estado de Minas Gerais (Emater­MG), o estado
tem cerca de 15,2 milagroindústrias artesanais de alimentos, sendo que 72% delas são familiares. Da
amostra  total,  72,7%  informaram  quais  tipos  de  produtos  desenvolvem.  Cerca  de  37,2%  processam
leite; 24,6%, cana­de­açúcar; 24%, frutas e outros vegetais; 19,3%, mandioca; e 2%, carnes.

A  pesquisa  foi  feita  em  2008,  mas  informações  da  Emater­MG  apontam  que  o  número  de
empreendimentos no setor não se alterou significativamente nos últimos anos. No entanto, a mudança
mais  evidente  observada  foi  busca  pela  qualidade  dos  produtos.  Em  2008,  somente  6%  dos
estabelecimentos  tinham  alvará  sanitário  e  o  registro  que  autoriza  a  comercialização  dos  produtos.
Desses,  47,8%  contavam  com  registro  no  Sistema  de  Inspeção  Municipal  (SIM)  ou  na  Vigilância
Sanitária; 34,3%, no Instituto Mineiro deAgropecuária (IMA) e 10,4%, no Sistema de Inspeção Federal.
A  expectativa  é  que  esse  número  já  tenha  crescido  expressivamente.  Apenas  entre  2012  e  2014,  de
acordo com o IMA, foram certificadas 300agroindústrias especializadas na venda de produto de origem
animal, como carne, leite, ovos, mel e seus derivados e pescados. Outras 150 já entraram com pedido
de certificação para este ano.

O IMA acrescenta ainda que já são mais de 130 alambiques com 231 marcas de cachaça certificadas,
além de 245 produtores de queijo de minas artesanal e 12 de mercadorias orgânicas, que contemplam
mais de 100 produtos. Sobre o café, o programa Certifica Minas Café (CMC), realizado junto à Emater­
MG,  já  certificou  1.460  propriedades  rurais  de  cafeicultores.  De  acordo  com  o  gerente  de  Educação
Sanitária e Apoio à AgroindústriaFamiliar do IMA, Gilson de Assis Sales, a ausência do alvará estava
ligada à dificuldade de os produtores familiares terem que parar a produção para adequar o espaço.

Com  a  implementação  da  lei  que  regulariza  os  estabelecimentosagroindustriais  rurais  de  pequeno
porte,  foi  aberto  precedente  para  que  esses  empreendimentos  menores  pudessem  continuar
produzindo.  No  entanto,  eles  têm  que  ter  condições  mínimas  de  higiene  sanitária.  Esse  precedente  é
válido  por  um  período  de  dois  anos,  tempo  concedido  pelo  instituto  até  que  o  proprietário  regularize
todas  as  normas  para  obter  o  registro  definitivo.  “A  vantagem  é  que  eles  continuam  produzindo  e
vendendo seus produtos e podem capitalizar para investir o dinheiro na adequação do espaço. Antes,
isso  era  proibido  e  muitos  tinham  que  parar  a  produção,  o  que  desanimava  a  maioria  dos  produtores
familiares”, explica Gilson.

Foi por isso que os produtores Paulo Roberto Resende Viana e Denize Azevedo Viana, de Vespasiano,
na  Região  Metropolitana  de  Belo  Horizonte,  resolveram  pedir  a  certificação  do  instituto.  Produzindo
queijo  há  mais  de  10  anos,  eles  vendiam  o  produto  de  forma  ilegal,  até  que  foram  pegos  pela
fiscalização.  “Foi  só  aí  que  começamos  o  processo  de  certificação,  há  cerca  de  dois  anos.  Mas,  se
soubéssemos  dos  benefícios,  a  gente  já  tinha  regularizado  há  mais  tempo”,  afirma  Paulo  Roberto.  O
casal conta que trabalha sozinho e produz cerca de 40 quilos de queijo por dia, com mais de 250 litros
de leite que também é produzido na propriedade do casal.

Para conseguir regularizar o produto e adequar a propriedade dentro das normas sanitárias exigidas, a
família conta que fez um investimento de cerca de R$ 150 mil ao longo dos dois anos. Denize afirma
que, com a certificação, eles conseguiram abrir um leque para os negócios, além de agregar 20% ao
valor do produto. “O investimento é alto, mas os benefícios são maiores. Antes, o quilo do nosso queijo
era  vendido  a  R$  10  ou  R$  12.  Hoje,  comercializamos  a  R$  15.  Além  disso,  estamos  atendendo  os
mercados de BH, Lagoa Santa e lojas no aeroporto de Confins”, completa.

EFICIÊNCIA

As pequenas agroindústrias que atendem às regras de segurança, saúde e meio ambiente recebem um
selo  de  identificação  que  passa  a  ser  obrigatório  na  embalagem  dos  produtos  e  um  diferencial
competitivo  no  mercado.  De  acordo  com  Míriam  Alvarenga,  da  gerência  de  certificação  do  IMA,  o
processo  ajuda  o  produtor  a  administrar  seu  negócio  e  ter  uma  visão  empreendedora  sobre  ele.  “A
certificação é fundamental para uma gestão eficiente. Ele passa a ter mais controle de despesas, mão
de obra e o quanto ele lucra e quanto ele vende”, explica.

Ainda segundo Míriam, o produto certificado é mais valorizado pelo consumidor e, consequentemente,
tem  maior  valor  agregado.  É  possível  alcançar  uma  alta  de  30%  no  preço  na  comparação  com  o
produto  não  certificado.  A  teoria  é  confirmada  pela  produtora  de  frutas  vermelhas  Rosana  Lago.  Ela
conta  que  investiu  na  lavoura  de  mirtilo,  framboesa  e  amora  há  cerca  de  10  anos.  Para  ganhar  mais
com  as  frutas,  ela  e  o  marido,  Luiz  Antônio,  começaram  com  a  produção  de  geleias  e  roscas
recheadas.  Para  conseguir  a  certificação  do  produto  no  Sistema  de  Inspeção  Municipal  (SIM),  eles
investiram R$ 45 mil na instalação da minifábrica. “Agora, nosso produto pode ser reconhecido. Além
disso, é valorizado pelo consumidor, que sabe de onde veio e como ele é fabricado”, afirma. Um pote
de 220ml da geleia, que leva apenas fruta e açúcar, é vendido a R$ 12.
Rosana Lago e Luiz Antônio ganham mais com as geleias de frutas 
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