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Resumo
Blocos de argila compactada são elementos de alvenaria feitos a partir de terra estabilizada
e adensada. Estes materiais se destacam no quesito sustentabilidade por dispensarem a fase
de queima em sua produção e baixa emissão de gases do efeito estufa. A estabilização
química dos blocos pode ser realizada por meio da ativação alcalina que consiste na
obtenção de aglomerantes a partir de materiais aluminossilicatos em uma solução fortemente
alcalina.. Diante disso, foram utilizadas cinzas de eucalipto e rejeito de mineração, dois
resíduos industriais gerados em grande escala, para a confecção do material cerâmico. Os
resíduos foram ativados com uma combinação de hidróxido de sódio e silicato de sódio e
curados a 75°C e a temperatura ambiente. Como resultado verificou-se que os corpos de
prova com maior concentração de hidróxido de sódio e curados a 75°C apresentaram
maiores resistências mecânicas.
Palavras chave: Ativação alcalina, cinza de eucalipto, rejeito de mineração, resistência à
compressão, blocos compactados.
Abstract
Compressed clay blocks are masonry elements made by stabilized earth and compressed. This
materials stand out on sustainability subject because don’t need the burning fase. The
chemistry stabilization can be realized through the alkaline activation that consist on
achievement of binders by alumisilicates materials in a solution hardly alkaline. The alkaline
activation is also seen like ecofriendly due the low emission of greenhouse effect gases. On
this, were used eucalyptus ashes and iron ore tailings, both industrials wastes made in large
scale, to made the ceramic material. The wastes were actived by a mix from sodium hydroxide
and sodium silicate and cured by ambient temperature e 75°C. As result, It was verified that
specimens with higher concentrations of sodium hydroxide and cured at 75 ° C showed higher
strengths.
Keywords: Alkaline activation, eucalyptus ashes, iron ore tailing, compressive strength,
compressed earth blocks.
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61º Congresso Brasileiro de Cerâmica
04 a 07 de junho de 2017, Gramado, RS
INTRODUÇÃO
A terra como material de construção já é utilizada pelo homem há muitos séculos.
Segundo Minke [1] técnicas de construção em terra são conhecidas pela humanidade há mais
de 9000 anos e foram utilizadas por todas culturas antigas tanto para a construção de
residências como de templos religiosos.
Entre os produtos que podem ser fabricados a partir da terra, o bloco de terra
compactado se destaca por não necessitar da fase de queima e com isso dispensa a utilização
de combustíveis em sua fabricação. Se comparados com blocos de cerâmica tradicional, com
queima em forno, os blocos de terra compactado que utilizam 10% de cimento em sua
composição consome de 8 a 16 vezes menos energia [2].
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MATERIAIS E MÉTODOS
O rejeito foi retirado do filtro polpa no final do processo de beneficiamento do minério
de ferro. As cinzas foram coletadas do filtro manga de caldeiras para produção de vapor. O
rejeito e a cinza passaram pelo processo de moagem no planetário Pulverisette 5 da marca
Fritsch à 300rpm durante 10 minutos.
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foi realizada através do granulômetro a laser da marca Cilas 1090 Laser Particle Size
Analyzer. Para a cinza foi utilizado grau de obscuração de 25% enquanto para o rejeito o grau
de obscuração foi de 15%.
Foi utilizada areia normatizada brasileira nas granulometrias média fina (#50) e fina
(#100). Como ativadores foram utilizados silicato de sódio C112 com relação SiO2/Na2O =
2,15 e hidróxido de sódio 98%. A relação líquido/sólido foi igual a 0,7 e 2% de massa dos
aglomerantes do plastificante Silicon ns high 400. A partir destes materiais foram
desenvolvidos dois traços, conforme Tabela I.
Tabela I - Traço
Cinza e
Silicato Hidróxido
Areia rejeito Água Plastificante
Traço de sódio de sódio
(g) (1:1) (g) (g)
(g) (g)
(g)
1 240 80 25,52 0,17 30,31 1,6
2 240 80 18,14 1,33 36,53 1,6
(Próprios autores)
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em consideração a fonte de variação entre grupos e dentro dos grupos. Para o teste de valor P,
valores de P menores que o grau de significância rejeitam a igualdade entre as resistências.
Outra maneira de análise realizada é comparação do valor do limite da região crítica (F
crítico) e o valor de F (F). Caso “F” exceda o “F crítico”, a hipótese deve ser rejeitada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Material SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 Na2O K2O Fe P P2O5 Mn MnO LOI
RMF 22,3 4,25 - 0,01 0,14 0,21 <0,1 0,04 46 0,12 - 0,39 - 6,1
CCE 1,75 4,94 2,42 43,1 8,24 0,5 0,28 4,52 - - 3,24 - 0,39 29,66
(Próprios autores)
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(a) (b)
Figura 1 - (a) difratograma rejeito de mineração e (b) difratograma cinzas de eucalipto
(Próprios autores)
No resultado da análise térmica do rejeito, Figura 2a, para a curva de DTA não fica
evidenciado nenhum evento endotérmico ou exotérmico devido à ausência de picos. Na curva
de TGA, a perda de massa entre 50 e 200°C pode ser associada a dessorção da água
superficial [11]. Já entre 200 e 300°C, principal ponto de perda de massa, está associado a
transformação da goethita em hematita [11]. Para as cinzas, Figura 2b, na curva de DTA as
perdas até 350°C estariam relacionadas a perda de carbono da matéria orgânica ainda presente
na cinza [12]. O carbono presente no eucalipto é resultado de seu processo fotossintético o
que acarreta o aprisionamento deste elemento na planta. Dessa forma, utilizando-se as cinzas
com elevada perda ao fogo para confecção dos blocos pode-se contribuir para a
sustentabilidade uma vez que promove o aprisionamento de carbono. O pico exotérmico e
perda de massa na curva de TGA entre 400 e 500°C pode estar relacionado a calcinação do
carbonato de magnésio [13] e desidroxilação da portlandita [14]. Entre 600 e 700°C há uma
intensa perda de massa que pode estar associada a calcinação do carbonato de cálcio [13] ou
mesmo calcita de magnésio e entre 700 e 900°C [15, 16] a variação de massa é relacionada a
decomposição da silvita.
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(a) (b)
Figura 2 - (a) TGA-DTA rejeito de mineração (b) TGA-DTA cinza de eucalipto
(Próprios autores)
As curvas granulométricas dos materiais estão apresentadas na Figura 3. As amostras de
rejeito de mineração e cinzas de eucalipto apresentam 90% das partículas com diâmetro
inferior a 36,63 µm e 25,03 µm. O diâmetro médio das partículas obtido pelo ensaio foi de
14,13 µm para o rejeito e 12,30 µm para a cinza.
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(a) (b)
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CONCLUSÕES
O rejeito de mineração e a cinza de eucalipto ativados alcalinamente se mostraram uma
fonte alternativa para confecção de tijolos sustentáveis quanto ao quesito de resistência à
compressão. Os melhores resultados foram encontrados para a cura térmica que ocorreu a
temperatura média de 75°C. A maior resistência obtida foi de 6,12 MPa, em que se utilizou o
traço com relação de SiO2/Na2O = 1,56, desta forma pode-se afirmar que a maior
concentração de sódio no material favorece a sua resistência à compressão.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES, à FAPEMIG, ao CNPq, à Vallourec Mineração e a
Nestlé pelo apoio recebido para o desenvolvimento deste trabalho.
REFERÊNCIAS
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2012: Walter de Gruyter.
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