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Livro - Memória Social - Uma Metodologia Que Conta Historias de Vida e o Desenvolvimento Local PDF
Livro - Memória Social - Uma Metodologia Que Conta Historias de Vida e o Desenvolvimento Local PDF
Lopez, Immaculada
Memória social: uma metodologia que conta histórias de vida e o desenvolvimento local/
Immaculada Lopez. -- 1. ed. -- São Paulo: Museu da Pessoa: Senac São Paulo, 2008. São Paulo – 2008
Bibliografia. 1ª edição
ISBN 978-85-60505-06-7
08-01666 CDD-361.25
Movimento 3: Contar e ouvir histórias ......................... 35 Movimento 6: Idéias viram projetos ..............................76
Roda de histórias .................................................................................... 36
Construção coletiva ................................................................................. 78
Descoberta da entrevista .......................................................................... 36
Criar sentido .........................................................................................80
Entrevistado e entrevistador ...................................................................... 38
Plano de ação ........................................................................................ 82
Roteiro da entrevista ............................................................................... 40
Registro da entrevista ............................................................................. 45
A primeira entrevista................................................................................ 46
Programa Redes Sociais ............................................94
Em busca de mais histórias ........................................................................ 48
Trabalho com as fotos ............................................................................. 50 Créditos e agradecimentos ....................................... 100
Apresentação
Aliar a valorização das histórias de vida ao desenvolvimento Formação de lideranças
local. Esse foi o desafio assumido pelo Senac São Paulo e O ponto de partida do Projeto Memória Social foi a formação de 20 lideranças
pelo Museu da Pessoa no início de 2007. Na soma de suas das Redes Sociais fomentadas pelo Senac São Paulo, em dez diferentes localidades
experiências, as duas instituições criaram uma parceria inédita paulistas. Metade do grupo foi composto por lideranças comunitárias e a outra
para a formação de lideranças comunitárias na metodologia metade por integrantes da equipe do Senac atuantes na articulação local.
de histórias de vida, no propósito de que possam construir, Ao longo de seis meses, o grupo participou de encontros presenciais na capital
organizar e socializar suas histórias. Assim surgiu o Projeto paulista, organizados pela equipe de formação do Museu da Pessoa, bem como de
Memória Social. acompanhamento on-line. Ao conhecer e vivenciar a metodologia de construção,
Dedicado a proporcionar o desenvolvimento de pessoas e organização e socialização de histórias, as lideranças puderam vislumbrar o
organizações para a sociedade do conhecimento, o Senac São potencial da memória como aliado do desenvolvimento local.
Paulo vem procurando representar, para as comunidades ou Juntos, refletiram sobre conceitos ligados à memória e à história,
cidades onde atua, um efetivo ponto de encontro, informação experimentaram a prática da entrevista, bem como pensaram no desenvolvimento
e atualização sobre o mundo do trabalho, além de seu de produtos. Para fechar o ciclo da formação, o grupo recebeu incentivo
comprometimento com o desenvolvimento local. Com essa e orientação para elaborar planos de trabalho e iniciar projetos nas suas
ação, tem provocado interferências e levado contribuições comunidades. Todos os exemplos e comentários presentes nas páginas a seguir
positivas para a vida das instituições de toda natureza, seja resultam dessa vivência.
da sociedade civil, da iniciativa privada, seja dos órgãos
Esta publicação reúne conceitos e ferramentas metodológicas desenvolvidas
públicos, na superação dos inúmeros desafios que a sociedade
pelo Museu da Pessoa – vivenciadas e enriquecidas pelos participantes do
contemporânea coloca para os diversos agentes.
Projeto Memória Social. Originou-se, assim, um conteúdo inédito. Desejamos
O Museu da Pessoa, por sua vez, tem como missão contribuir que ele seja inspirador a novos grupos e lideranças, no intuito de que sejam
para tornar a história de cada pessoa valorizada pela sociedade. produtores, guardiões e difusores da sua própria história.
Visa um mundo mais justo e democrático, baseado na história
de pessoas de todos os segmentos da sociedade. Desde 1992,
Museu da Pessoa
dedica-se a desenvolver e disseminar uma metodologia de
registro, preservação e socialização de histórias de vida. Senac São Paulo
Busca também articular e fortalecer diferentes iniciativas
de valorização da história das pessoas no Brasil, bem como
em seus três núcleos no exterior – em Portugal, nos Estados
Unidos e no Canadá.
– MEMÓRIA SOCIAL
– APRESENTAÇÃO
6 7
Um mapa de histórias Redes – São Paulo
Votuporanga
O ser humano aprende e se desenvolve ao longo da sua vida Barretos
inteira e podemos dizer que “as diversas aprendizagens que ele S. J. do Rio Preto
Catanduva Ribeirão Preto
realiza se potencializam quando são socialmente compartilhadas Araçatuba
Jaboticabal
na procura de solucionar um problema comum”. S. J. da
Araraquara Boa Vista
Ao compartilhar, cada pessoa encontra no outro, de forma Presidente Prudente São Carlos
Marília Itirapina
geral, apoio, companhia, segurança e outros tipos de ajuda. Bauru Jaú Rio Claro Campos
Cada um de nós faz o mesmo em maior ou menor grau e assim Águas de São Pedro Limeira do Jordão
Piracicaba Guaratinguetá
vamos construindo relações, vínculos e, por conseqüência, as Botucatu
Jundiaí Taubaté
nossas redes pessoais. Osasco S. J. dos Campos
Sorocaba SÃO PAULO
Carapicuíba
Redes – Grande São Paulo
Freguesia do Ó/Brasilândia
Desenvolvimento local
Penha
Lapa Itaquera
Bela Vista
Vila Prudente
Quando fomentamos encontros entre pessoas que têm muitas redes
pessoais, estamos reunindo milhares de histórias. E, quando nos
Jabaquara
propomos a trabalhar em rede, estamos multiplicando as conexões,
Campo Grande
ampliando a possibilidade de potencializar toda a riqueza construída nas
Desenvolvimento local relações ao longo da vida. Não é possível parar esse movimento porque
não é possível viver só. E, se fosse possível, não poderíamos afirmar que
haveria desenvolvimento nessa condição.
Então, desenvolvimento é algo que somente pode ocorrer com relações.
Se tentarmos formar um mapa das pessoas com as Por isso é dinâmico e se movimenta e é permanente. Se permanente,
quais interagimos, podemos incluir a família, os amigos, a então, somente pode ser sustentável. Mas, se é sustentável, algo o suporta.
comunidade, as relações profissionais, acadêmicas, além Esse algo novamente são as pessoas que se relacionam e compartilham
– UM MAPA DE HISTÓRIAS
das relações virtuais por internet, que nos dão inúmeras soluções e criam inovações e geram riqueza. Quando direcionada para o
– MEMÓRIA SOCIAL
possibilidades de conexão. Ainda podemos tipificar essas benefício das próprias pessoas e para o cuidado com o meio ambiente e os
relações: algumas são íntimas, outras de menor compromisso recursos naturais de que dispomos, alimenta o ciclo do desenvolvimento.
e outras mais distantes. Todas essas relações e esses vínculos Então, se o desenvolvimento é das pessoas e da sociedade que elas criam,
formam o mapa das relações sociais de cada um. somente pode ser humano e social.
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Nossa proposta, ao fomentar redes, ao desenvolver
metodologias a partir da comunidade, a partir do local, é a
Um pouco de história
de contribuir com esse desenvolvimento humano e social. “O Senac tem um trabalho de determinada localidade, um bairro, uma cidade para
Entendemos que esse processo pode potencializar-se ainda responsabilidade social já de 30 anos. No que eles possam pensar projetos de interesse comum.
mais se pudermos registrar os milhares de histórias e início, o trabalho consistia em o Senac ir Vamos atrás das pessoas e fazemos a proposta,
experiências do passado e do presente, de cada instante, de para as comunidades carentes oferecer cursos perguntamos se elas não querem trabalhar juntas
cada evento, de cada foto, de cada olhar. gratuitamente. A instituição entendia que as para pensar um projeto de interesse daquela
pessoas que não podiam pagar poderiam ser comunidade. As experiências pelo interior de São
Ao investirmos numa metodologia que possibilita todo
beneficiadas com alguns cursos. Mas havia Paulo têm sido fantásticas. Atualmente eu faço
esse registro, queremos saber mais da história – a nossa
a reflexão: o Senac oferece os cursos, mas não parte de uma equipe que coordena 33 projetos em
própria, a de cada um e a de todos. Acreditamos que histórias sabemos se as pessoas que recebem a informação todo o interior de São Paulo e aqui na cidade de
de processos de desenvolvimento contribuirão muito para as entram no mercado de trabalho. São Paulo.
novas vidas e para as novas redes que irão se formando. E começamos a identificar outra necessidade Para que a gente constrói esse tipo de encontro?
Temos, entretanto, um desafio muito grande pela frente. na comunidade: as lideranças comunitárias, Para que as localidades tomem para si a
Como disseminar pelas comunidades, pelas redes sociais os que geralmente estavam ligadas a alguma responsabilidade e a reflexão de que elas podem
ensinamentos ou orientações deste livro? Como efetivamente, organização não-governamental, demandavam fazer. E que não dependem de quem está fora. A
ao praticar o registro de histórias de vida, podemos contribuir capacitação para fazer melhor os trabalhos localidade pode fazer alguma coisa por si mesma.
para uma vida melhor e para um melhor convívio social? na comunidade. Isso nos fez pensar que, se É uma proposta política. A idéia da rede é a de
oferecêssemos curso para essas lideranças, se que a gente pode fortalecer um tecido social, a
Ainda não temos uma resposta completa, mas, desde o
elas trabalhassem de uma forma mais equipada, gente pode integrar os setores de forma que as
início, acreditamos como seria rico poder (re)conhecer as
mais profissional, poderiam atender melhor a sua pessoas decidam aquilo que elas desejam nas suas
variadas trajetórias de vida e sentir as emoções do evento,
comunidade. Isso acontece em 97, 98. E a gente localidades e que não esperem a política pública
da foto, do olhar, do bairro, da vila, da vida. E como o
vai avaliando que o trabalho pode ser diferente. para que isso aconteça.
desenvolvimento somente pode ser humano e social e as
As organizações não-governamentais Eu me considero uma pessoa privilegiada de
emoções também, o convite é para que juntemos todas as
precisavam de um investimento para que estar à frente de um projeto que faz uma diferença
emoções possíveis e façamos da vida uma grande história.
pudessem crescer, se profissionalizar. Careciam concreta na vida das pessoas, do ponto de vista
A mais linda história da vida, a vida. de um processo de aprendizagem de como humano, social e econômico. Eu vejo acontecer com
elaborar projetos, pensar a captação de recursos esse trabalho a transformação das pessoas. Pessoas
Jorge Duarte etc. E foi isso que o Senac começou a fazer com que não participavam da vida comunitária e agora
Gerência de Desenvolvimento as organizações sociais. A conseqüência dessa participam; que não falavam por timidez ou por
Senac São Paulo capacitação fez a gente ver que podíamos fazer insegurança e agora falam; pessoas que achavam
mais do que oferecer cursos. Podíamos promover que não tinham muito com que contribuir e que
uma convivência entre as organizações sociais, agora já descobriram que o que elas sabem é útil para
entre elas e o poder público e também aproximar
– UM POUCO DE HISTÓRIA
aquela comunidade avançar.”
a iniciativa privada do trabalho social. Então
– MEMÓRIA SOCIAL
10 11
Movimento 1:
Minha história, nossa história
Com a leitura dessa história, começou o primeiro
Aprendendo com o menino
encontro do Projeto Memória Social, desenvolvido
Guilherme Augusto em parceria pelo Senac São Paulo e pelo Museu da
– O que é uma memória? – perguntou Guilherme Augusto. Ele vivia fazendo perguntas. Pessoa. A fim de valorizar, preservar e socializar
a história das comunidades – contada por elas
– É algo de que você se lembre – respondeu o pai.
mesmas –, o projeto reuniu, ao longo de seis meses,
Mas Guilherme Augusto queria saber mais; então ele procurou a Sra. Silvano, que 20 multiplicadores das Redes Sociais apoiadas pelo
tocava piano. Senac São Paulo em dez diferentes localidades do
Estado de São Paulo. Juntos, puderam conhecer e
– O que é uma memória? – perguntou. vivenciar a metodologia desenvolvida pelo Museu da
– Algo quente, meu filho, algo quente. Pessoa (leia apresentação do projeto na pág. 6).
O ponto de partida foi refletir em grupo sobre
Ele procurou o Sr. Cervantes, que lhe contava histórias arrepiantes.
qual o lugar das memórias e das histórias na vida de
– O que é uma memória? – perguntou. cada pessoa e da sociedade em geral. O personagem
– Algo bem antigo, meu caro, algo bem antigo. Guilherme Augusto ajudou com a indagação: o que
é uma memória? “Eu fiquei com vontade de bater
Ele procurou o Sr. Valdemar, que adorava remar. palmas, essa história é linda. A gente sempre relembra
– O que é uma memória? – perguntou. as nossas histórias misturadas com as outras”, logo
expressou a integrante do grupo Lourdes Alves de
– Algo que o faz chorar, meu menino, algo que o faz chorar.
Souza, da Rede Social de São Paulo.
Ele procurou o Sra. Mandala, que andava com uma bengala.
– O que é uma memória? – perguntou.
– Algo que o faz rir, meu querido, algo que o faz rir.
Ele procurou o Sr. Possante, que tinha uma voz de gigante.
– O que é uma memória? – perguntou.
– Algo que vale ouro, meu jovem, algo que vale ouro.
14 15
Com funciona a memória? Para que serve? Onde está
guardada? Cecília Tavares, também de São Paulo, observou
que “a memória pode estar presente em várias formas: em objetos, Glossário
músicas, palavras”. “E ela não é estática”, arrematou Adilson de
Toledo Souza, da Rede Social de Águas de São Pedro. “O dia em O que é memória?
que Guilherme Augusto for idoso, vai precisar de alguém para lhe dar A memória pressupõe registro – ainda que tal registro seja realizado
um objeto para ele se lembrar.” em nosso próprio corpo. Ela é, por excelência, seletiva. Reúne as
Realmente, a História nunca está pronta, nem é absoluta. experiências, os saberes, as sensações, as emoções, os sentimentos que,
O fazer histórico é um processo permanente, vivo, que diz por um motivo ou outro, escolhemos para guardar.
respeito a todos. É impossível imaginar a vida sem História. “A memória é essencial a um grupo porque está atrelada à construção de sua
Sem ela, as pessoas não saberiam quem são, nem para onde identidade. Ela é o resultado de um trabalho de organização e de seleção
vão. Mais do que lembrar o que foi vivido, a narrativa histórica do que é importante para o sentimento de unidade, de continuidade e de
transmite valores e visões de mundo e ajuda a compreender o experiência, isto é, de identidade.”
que se vive hoje e o futuro que se deseja. ( ALBERTI, 2005, pág. 167)
Na verdade, existem muitas maneiras de entender o que é
História. Como em toda forma de conhecimento, a definição O que é História?
desse conceito é também histórica, isto é, depende da época, da Toda história é sempre uma narrativa organizada por alguém em
ideologia e dos objetivos de quem define. Mas sempre inclui a determinado tempo e implica uma seleção. Essa construção ocorre,
produção de uma narrativa. De fato, o que fica da História são invariavelmente, no presente, por um ou mais autores.
sempre narrativas, sejam elas produzidas por atores presentes
“Uma história é uma narração, verdadeira ou falsa, com base na ‘realidade
ou passados.
histórica’ ou puramente imaginária – pode ser uma narração histórica ou
Mas o poder de narrar, registrar e definir o que faz parte uma fábula.” (LE GOFF, 1996, pág. 18)
da História tem ficado concentrado em poucas pessoas e
instituições. Muitas vezes, estabelece-se uma narrativa
oficial, que passa a ser a única preservada e repetida nos livros
didáticos, no cinema, na literatura, na mídia.
“O exercício da linha do tempo trouxe à tona muitos sentimentos, como o
Na superação desse padrão, no entanto, cada grupo pode orgulho que tenho de meus pais, sempre lutadores e honestos; a alegria de poder
tornar-se produtor, guardião e difusor de sua própria história. entrar na escola; o pulsar do meu coração no meu namoro com Luiz, hoje meu
E essa narrativa histórica apresenta um potencial valioso no esposo. Recordar como foi bom o nosso namoro deu até vontade de namorá-lo
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EM AÇÃO
Entre outras maneiras, a atividade de construção da linha do tempo
pode ser organizada da seguinte forma:
Minhas memórias:
linha do tempo individual
1. Distribuir, entre os participantes do 4. Em seguida, pedir que, em grupos de três
Ser autor da história da sua vida, da de seu grupo, papel, canetas coloridas e imagens a quatro, os participantes compartilhem
(podem ser de revistas, jornais e xerox de suas cronologias.
grupo, instituição ou comunidade significa fotografias antigas). Também podem ser
5. Pedir ao grupo que levante pontos comuns
perceber que as experiências podem ser narradas e usadas fotos próprias, trazidas de casa.
e distintos entre as linhas apresentadas.
registradas por seus protagonistas. Nesse sentido, 2. Pedir para que cada pessoa faça a linha do
6. Solicitar a uma pessoa por grupo que
nada melhor do que entrar em contato, então, com tempo de sua história a partir de um grupo
apresente as diferenças e identidades
de questões, com a possibilidade de usar
sua própria trajetória. pontuadas pelo grupo.
as cores, as imagens e os desenhos para
A construção de uma cronologia estimula as ilustrar a produção. 7. Cada cronologia produzida pode ser
entendida como um novo “documento”,
pessoas a organizar sua própria história. Ela 3. Lançar algumas questões que podem
que merece ser preservado como fonte
permite que cada uma visualize a sua trajetória estimular a reflexão para a construção da
da história do grupo. Portanto, vale
linha do tempo:
como um todo, ao mesmo tempo em que se vê a pena identificá-lo, imaginando que
Quais os principais marcos de sua vida? outras pessoas poderão consultá-lo.
diante do desafio de fazer escolhas e selecionar o
Por que são marcos?
que quer contar e registrar.
Quais as pessoas significativas?
Nesse sentido, cada participante do Projeto
Quais as escolhas?
Memória Social foi convidado a construir uma Quais valores nortearam
linha do tempo individual revelando os marcos, as as escolhas?
rupturas, as escolhas e as pessoas significativas no Quais valores são permanentes?
desenrolar de sua vida, desde que nasceu. Quais se transformaram?
dos detalhes com que reconstituiu a sua trajetória tempo, permitir uma reflexão sobre de que maneira as memórias de cada um são
(págs. 20 e 21). individuais e coletivas. Afinal, fazem parte de um contexto histórico comum.
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Minhas Memórias
Linha do tempo individual elaborada por Cristina Prado Rodrigues
9/10/1956 9/10/1961 1962 1963 1964 1969 1970 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1980 1981 1983
(três meses).
20 21
EM AÇÃO
A seqüência a seguir pode ser
usada como base para organizar a
atividade de construção da linha do
tempo coletiva:
22 23
Linha do tempo coletiva elaborada pelo grupo
Trajetória das Redes Sociais
Constituição Federal
assinala os direitos
básicos.
24 25
Linha do tempo coletiva elaborada pelo grupo
Trajetória das Redes Sociais
26 27
Movimento 2:
Refletir sobre o fazer histórico
Firmando princípios
A partir da vivência de construção das linhas do tempo, o • Toda história tem valor. “A minha história é diferente
grupo pode retomar os conceitos de memória individual e A história de cada pessoa ou da dos outros, mas também
coletiva, bem como refletir sobre a dinâmica de construção grupo é única, tem valor e merece de certo modo se assemelha à
da história. ser preservada e conhecida. Não história de muitas mulheres
A valorização das histórias de vida das pessoas – contadas por há histórias melhores ou piores, como eu. De algum modo,
elas mesmas, registradas e socializadas pelos próprios grupos, nem mais ou menos importantes. eu gostaria que a minha
comunidades e instituições – traduz uma forma de entender o • O uso das narrativas históricas história pudesse também ser
que é, como se faz e para que serve a história: faz parte do cotidiano. A história a história de outras pessoas.
produzida merece ser preservada Acho que é isso que me motiva: contar minha
• A História é uma narrativa. Não há uma única História já para as futuras gerações, mas só própria história, mas também trazer a história
pronta. Ela é sempre narrada, contada por alguém. É um de uma cultura, de uma etnia.”
é preservado o que tem sentido
processo vivo, permanente. Por mais que fale do passado, a
social. Integrado ao dia-a-dia Lourdes Alves de Souza,
História é feita no presente e, de acordo com a percepção do
presente, de forma acessível Rede Social São Paulo
grupo, ela pode mudar.
e útil, o registro e o uso das
• A História é feita pelas pessoas. Toda pessoa é personagem e histórias se perpetuam.
autor da História. De um lado, ela faz parte e se relaciona com Tão importante quanto contar uma história é fazer com que
os acontecimentos e rumos coletivos. De outro, participa da seja ouvida e usada.
autoria desse registro. Como titular de sua trajetória de vida, • O que é produzido socialmente deve ser apropriado pela
toda pessoa tem o direito de decidir o que quer contar sobre sociedade. A história de cada um diz respeito à história de toda
sua experiência, bem como de qual forma e para quem quer a sociedade. Deve-se garantir o acesso público e o amplo uso
transmiti-la. das narrativas históricas.
A possibilidade de democratizar as fontes e os autores da “Garantir o retorno para a comunidade, fortalecer a autoria é
História despertou muitos comentários por parte do grupo: muito importante”, comentou o grupo.
“É uma mudança de paradigma.” “As outras pessoas poderem • A articulação das histórias contribui para uma nova memória
registrar suas histórias, o foco do registro também muda.” social. Articuladas, as narrativas produzidas por diferentes
Em especial, despontou a oportunidade de enriquecer a indivíduos, grupos e instituições tecem uma nova memória
história dos movimentos sociais. “Há uma dimensão política. social, plural e democrática.
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Etapas essenciais
A partir desses princípios, a realização de um projeto 2. Organizar história – Para que os conteúdos registrados e coletados na primeira etapa
de memória pode ser entendida em três etapas essenciais: possam ser utilizados pelo próprio grupo ou por outros públicos, é necessário organizar
construir, organizar e socializar história. Não são etapas a história produzida. Acima de tudo, esta etapa permite que o usuário acesse e relacione
estanques ou sucessivas. Na verdade, acontecem em paralelo e esses conteúdos e estabeleça novas conexões entre eles. Possui três fases principais:
se entrelaçam continuamente. classificar, processar e preservar.
1. Construir história – O grupo é estimulado a produzir 3. Socializar história – O ciclo só se completa quando o conteúdo produzido é
narrativas, coletar documentos, fotos, objetos e identificar socializado. Toda história pressupõe troca – as narrativas só existem à medida que, além
espaços e construções que considere parte de sua história. de narradas, sejam também escutadas e interpretadas por alguém. Essa socialização
Da história individual à história coletiva, o grupo pode usar pode acontecer em diferentes níveis: do próprio grupo envolvido ao público mundial
diferentes ferramentas (entrevistas, rodas de histórias, linhas da internet. É nessa teia que as narrativas se conectam, abrindo novas possibilidades de
do tempo, seleção e coleta de objetos, fotografias) para produzir interação social.
registros que se tornam fontes e referências de sua história.
32 33
Movimento 3:
Contar e ouvir histórias
Roda de histórias
“A história que eu
Para começar a “Construir História”, é necessário provocar Busca-se transformar a entrevista tenho para contar é
e registrar narrativas. Com esse propósito, e a linha do tempo num momento solene, até mesmo pparte de mim mesma.
como cenário, foi proposto que o grupo do Projeto Memória sublime, em que a pessoa possa Eu desenvolvia
Social compartilhasse suas experiências. Organizou-se, assim, se religar a sua memória e contar um projeto junto
uma roda de histórias. sua história, com ajuda de um à associação de
A roda é um espaço quase mágico, em que os olhares se entrevistador atento e respeitoso. moradores do meu
encontram, o silêncio é respeitado e o poder da palavra gira É como puxar o fio da memória e bairro, como dona-
entre todos. Nesse sentido, os participantes do projeto foram deixar que a narrativa flua. de-casa, como mãe, como esposa, mas
não tinha nenhuma formação técnica.
convidados a formar uma roda e pensar: Como cada um se insere Costuma-se dizer que, para uma
Quando eu cheguei, no primeiro dia, as
nessa trama? Algum episódio o/a marca de maneira especial? boa entrevista, pode bastar uma
pessoas começaram a se apresentar: ‘eu sou
Que história gostaria de contar? Entre outras histórias, Neuda e primeira pergunta. A partir de
socióloga’, ‘sou psicóloga’, ‘sou economista’
Alexandra relataram sua experiência no trabalho comunitário e então, é saber ouvir uma história
e foram falando, falando, falando...Eu me
na Rede Social (veja o box na página ao lado). que muitas vezes está simplesmente
apresentei e fiquei me perguntando: mas o
guardada, pronta para ser contada.
que é que eu tô fazendo aqui.
Cabe ao entrevistador auxiliar a
No segundo dia, vieram os termos: ‘otimizar’
Descoberta da entrevista pessoa a organizar as lembranças
e não sei o quê. E eu corri na biblioteca,
que vêm à tona em uma narrativa
peguei o dicionário e fui procurar todas
Após a vivência da roda de histórias, o grupo passou a própria. Tão importante quanto o
aquelas palavras. Porque, enquanto
descobrir outra maneira valiosa de provocar a narrativa de uma conteúdo narrado é seu ritmo e o
elas falavam, eu ia anotando lá no meu
pessoa: a entrevista de história de vida. jeito de contar.
caderninho. Depois, eu fui tomando
Tanto o papel de entrevistado como o de entrevistador foi consciência de que realmente era o lugar em
vivenciado e refletido pelos participantes. Em trios, todos que eu deveria estar, porque eu não tinha
realizaram o exercício, revezando-se nessa posição, sempre teoria, mas eu tinha prática. Então, a Rede
com a participação de um observador, que registrou as suas Social, para mim, veio trazer aquilo que era
impressões. Em seguida, os grupos apresentaram sua síntese, primordial, que é a formação.”
analisando o surpreendente processo da entrevista. Neuda Maria de Souza Martins,
A entrevista é uma prática de interação entre dois lados: Rede Social Limeira
quem conta e quem pergunta/ouve. Ao contrário de um Glossário
“interrogatório” ou “questionário”, o que se busca é criar
que o assunto da conversa é a história de vida de uma delas. Podemos definir história de vida como a narrativa construída a partir
Pode-se dizer que a entrevista é um produto em co-autoria do do que cada um guarda seletivamente em sua memória. Ela corresponde
entrevistado e do entrevistador. a como organizamos e traduzimos para o outro parte daquilo que
vivemos e conhecemos.
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Entrevistado e entrevistador
Cada entrevistado não é entendido como uma mera fonte de • Sabedoria – O entrevistador nunca deve julgar o entrevistado. Exigir atitudes,
“informações” sobre o assunto, mas, sim, como uma pessoa discutir opiniões ou cobrar verdade e precisão histórica. O objetivo da entrevista é
que de alguma maneira vivenciou um pedaço daquela história. registrar a experiência pessoal que o entrevistado tem dos acontecimentos e não uma
Nesse sentido, sua narrativa de vida é, em si mesma, a principal verdade absoluta.
fonte que se quer coletar. É muito importante que o grupo sinta
curiosidade e respeito pelo entrevistado. • Humildade – O diálogo é baseado no entrevistado. O entrevistador não deve
pressupor que o entrevistado possui os mesmos valores e conceitos que ele.
O entrevistado é o autor principal da narrativa. É ele quem
deve determinar o ritmo, o estilo e o conteúdo da sua história.
• Emoção – O papel do entrevistador é estimular e auxiliar o entrevistado na construção
No entanto, o sucesso da entrevista depende muito do
da história que ele quer contar. O entrevistador não é um psicólogo. Não deve procurar
entrevistador. É importante refletir em grupo a respeito de
subentendidos, não ditos. Mas certamente a emoção faz parte.
alguns pontos sobre o papel e a postura do entrevistador:
• Ritmo próprio – Cuidado para não interromper a linha de raciocínio do entrevistado,
• Autoria – A entrevista surge da interação entre entrevistado mesmo que pareça que ele esteja saindo fora do tema. Apenas interferir quando for
e entrevistador. Cabe ao entrevistador um papel ativo na
realmente necessário, seja para retomar o fio da meada, seja para ajudá-lo a seguir.
produção da narrativa.
• Atitude – O corpo, os olhos, os movimentos fazem parte do diálogo e influenciam
• Respeito – A entrevista é um momento solene, até mesmo a construção da narrativa. É necessário estar atento. Cuidado em não demonstrar
sagrado, no qual o entrevistado está eternizando sua história impaciência ou desinteresse, olhando o relógio, bocejando.
e o entrevistador participa da construção de um documento
histórico. É importante preparar um ambiente acolhedor para • Foco – O entrevistador deve priorizar a narrativa, as histórias. Não deve deixar o
garantir que o entrevistado se sinta tranqüilo e, acima de tudo, entrevistado perder-se em comentários e opiniões genéricas.
ouvir com atenção a sua história. Quando o entrevistado é
idoso, há a tendência a infantilizá-lo, e é muito importante que • Organização – Todo material e equipamento necessário para a realização da
não se caia nessa tentação. entrevista deve ser ordenado e testado antes dela.
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Roteiro da entrevista EM AÇÃO
Cabe ao entrevistador ajudar o entrevistado na construção de O roteiro não deve ser entendido Construção do roteiro
sua narrativa, fazendo perguntas, estimulando seu relato. como um questionário rígido, mas
É importante, portanto, ele se preparar para esse momento, e a como um guia para “puxar o fio da 1. Para começar – Começar com
elaboração de um roteiro da entrevista ajuda bastante. memória” do entrevistado. O desafio é perguntas fáceis de responder, como
nome, local e data de nascimento.
construir uma seqüência de perguntas Além de contextualizar a pessoa,
que ajude a pessoa a encadear seus essas perguntas têm a função
pensamentos e organizar a narrativa de “esquentar” a entrevista. É
como um começo delicado de um
à sua maneira. O tipo e a ordem das relacionamento, e nada como
perguntas – estejam ou não previstas perguntas simples e objetivas para
Perguntas que ajudam: no roteiro – tendem a definir o tipo de deixar o entrevistado à vontade
e ajudá-lo a mergulhar em suas
• Descritivas - Recuperam detalhes envolventes. história que será contada. memórias.
Exemplo: descreva como era a casa de sua infância. Após um exercício de entrevista
2. Encadeamento – A ordem cronológica
entre eles, os participantes do costuma ser um bom fio condutor
• De movimento - Ajudam a continuar sua história. da conversa, mas não é o único. Vale
Projeto Memória Social discutiram a
Exemplo: o que você fez depois que saiu de casa? observar se a comunidade ou grupo
realização da primeira entrevista do
tem outra lógica de organização
• Avaliativas - Provocam momentos de reflexão e projeto e definiram o nome de Jorge de suas histórias. Se for adotado o
avaliação. Exemplo: como foi chegar à cidade grande? Carlos Silveira Duarte, da Gerência critério cronológico, o roteiro pode
ser organizado em três grandes blocos
de Desenvolvimento. Elaboraram,
de perguntas:
então, o roteiro de perguntas para o
Introdução – Origem da pessoa, pais,
Perguntas que atrapalham: convidado (págs. 42 e 43). avós, infância.
• Genéricas - Estimulam respostas genéricas (“boa” ou Desenvolvimento – Fases da sua
“muito difícil”), sem histórias. Exemplo: como foi sua trajetória, incluindo, se for o caso, o
tema específico do projeto.
infância?
Finalização – Conclusão da história,
• Puramente informativas - Podem desconcertar o relação com o presente e o futuro.
entrevistado e interromper sua narrativa. Exemplo:
3. Número de perguntas – O roteiro não
qual era o nome da praça? (Se importante, tal dado precisa ser extenso nem exaurir
deve ser pesquisado antes ou depois da entrevista.) todos os temas, pois é apenas uma
base para a entrevista. Um bom
• Com pressupostos - Propiciam respostas meramente exercício é começar construindo
40 41
Roteiro de entrevista
Elaborado pelo grupo para a primeira entrevista do projeto.
42 43
EM AÇÃO
Registro da entrevista
Gravação em vídeo Certamente, o momento
Equipamento – Uma câmera de vídeo, um tripé de câmera, um
da entrevista por si só pode
par de microfones, um kit básico de luz e um fundo fotográfico. ser muito significativo para
Câmeras – Vale tentar os modelos digitais, sobretudo DVCam. os envolvidos. Entretanto,
Enquadramento padrão – É o chamado plano americano, que para “construir história”,
registra o depoente de maneira semelhante a uma fotografia é essencial o registro do
3x4. Sem movimentos significativos de câmera, salvo em depoimento. Apenas assim
ocasiões nas quais o entrevistado se movimenta a ponto de
comprometer o enquadramento. a narrativa produzida
poderá se manter no tempo
Iluminação básica – O objetivo é homogeneidade e baixo
contraste. e ser acessada pelos outros.
A forma de garantir o
Gravação em áudio registro integral da fala do
Entrevista realizada com
Equipamento – Um gravador (de preferência digital), dois entrevistado é a gravação em
Jorge de Paula Ribeiro Filho
microfones de lapela com fio (recomendado) ou um “microfone áudio ou vídeo.
de mão”. em 26 de junho de 2007,
A entrevista pode ser realizada por duas em Votuporanga. Jorge
Gravadores – Os gravadores digitais são de pequeno porte, com
pessoas: uma assume a interlocução direta
melhor qualidade de registro, sem o risco de deterioração das é voluntário na Aprevo
fitas cassete. Eles registram, na memória do equipamento, o com o entrevistado e a outra observa. Com uma – associação de apoio
áudio num arquivo digital, que depois é salvo no computador e visão do todo, esta última percebe os “ganchos”
reproduzido em CD. aos pacientes que fazem
perdidos e ajuda a complementar. Uma hemodiálise. A entrevista foi
Microfone – No caso de microfones de lapela, um deve ser entrevista de história de vida dura, no mínimo,
colocado no entrevistador e o outro no entrevistado. Microfones feita por Daniela Marin e Ana
de lapela devem ser presos às roupas a cerca de 20 cm da boca, uma hora e meia, mas pode também ter mais de Cristina Fernandes, da Rede
sempre longe de colares ou gravatas. No caso de “microfone de dez horas de duração (em várias sessões). Social de Votuporanga.
mão”, é necessário acoplá-lo a um pedestal montado o mais
perto possível do entrevistador, já que é menos sensível. Cuidados especiais podem ser tomados
para retribuir ao entrevistado seu presente:
uma cópia da entrevista, o convite para que
Dicas
ele participe do resultado final do projeto,
Vários podem ser os ambientes para a realização da entrevista.
Mas, preferencialmente, devem ser locais silenciosos, sem um certificado, uma carta de agradecimento
outros estímulos. etc. Além do reconhecimento por sua
Avisar o entrevistado que, sempre que quiser, poderá ser feito participação, todos esses cuidados constituem
É importante que todos desliguem celulares, pagers, e que dos desdobramentos que ela pode ter ao ser
peçam a familiares ou pessoas do entorno que não interrompam
a entrevista. integrada às histórias de sua comunidade e da
sociedade como um todo.
44 45
A primeira entrevista
“Da minha infância, uma
coisa legal que me lembro é do “Os entrevistados foram escolhidos pela riqueza que poderiam trazer ao projeto.
futebol, não tanto pelo futebol A comunidade contribui muito na busca da moradora mais antiga.”
em si, mas pelo que significava Maria Cristina Degli Esposti, Rede Social Rio Claro
o time de futebol no bairro. A
diretoria era formada pelos
próprios pais, e era uma festa!
No domingo, as famílias
iam participar, torcer... O
bairro era uma família. Todo
mundo se conhecia, era uma
O que contribuiu:
comunidade.” • “A tranqüilidade do entrevistador permitiu que o entrevistado ficasse à vontade.”
“Outra coisa que me
marcou muito é que aos 11 anos tive um professor • “Em nenhum momento o conteúdo foi manipulado.”
chamado Nestor. Fomos para uma escola nova, só que
nessa escola as carteiras ficaram soltas... E o professor
• “O entrevistado ouviu atentamente.”
começou a conversar com os alunos, que a gente • “O roteiro foi sendo alterado de acordo com o conteúdo que ia aparecendo.”
poderia fazer esse trabalho se conseguisse a madeira...
E ali eu aprendi a furar madeira, a pregar um prego, a • “Refazer a pergunta para voltar no foco.”
fazer uma conexão. Foi uma aprendizagem do querer
fazer, construir, trabalhar em grupo.” • “O local é muito importante.”
Estes dois pequenos trechos sobre a infância • “Postura de acolhimento, empatia e interesse.”
de Jorge Duarte fazem parte da primeira
entrevista realizada pelos integrantes do projeto.
Por quase duas horas, puderam conhecer e O que não contribuiu:
registrar sua trajetória.
Como parte do aprendizado, a entrevista foi
• “Atenção no tempo podou um pouco a entrevista.”
realizada por uma dupla indicada pelo grupo, • “A presença de outras pessoas durante a entrevista pode prejudicar a naturalidade
com a observação dos demais. Na seqüência,
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Em busca de mais histórias
EM AÇÃO
Depois da entrevista de estréia, o grupo se organizou em Para chegar às pessoas que podem
duplas segundo a localidade. Cada dupla se propôs, então, Escolha dos entrevistados
contribuir para a história que se
a realizar uma nova entrevista, já na sua comunidade, na deseja registrar, vale a pena definir O roteiro a seguir pode orientar a
perspectiva de iniciar um projeto local. Para tanto, foi escolha dos entrevistados:
critérios e organizar um quadro de
necessário discutir quem entrevistar. Definidos os nomes, entrevistados. O levantamento das Definir critérios – O grupo deve buscar
os critérios que podem garantir a
as duplas partiram para as entrevistas, adaptando o roteiro pessoas pode ser realizado de forma profundidade e a diversidade de
para cada convidado. empírica, freqüentando encontros, assuntos e enfoques desejados.
circulando pela comunidade ou Sendo a história uma narrativa e os
entrevistados autores dessa narrativa,
pedindo indicações. Em geral, quanto mais diversos, mais rico será o
levantam-se muito mais nomes resultado.
do que o número de pessoas que Mapear nomes – Definidos os critérios,
serão efetivamente entrevistadas, uma primeira lista de nomes pode
ser produzida a partir da leitura de
garantindo oportunidade de reflexão material já existente sobre o tema,
e escolha por parte da equipe. bem como da sugestão das pessoas do
grupo. Também vale lançar a pergunta
Organizar e sistematizar essas
para a instituição ou comunidade em
opções, entretanto, não significa geral: quem você conhece que pode
que a narrativa de um é melhor ou nos ajudar a contar essa história?
mais verdadeira do que a de outro. Contato inicial – Uma pré-conversa
O quadro de entrevistados tem com o potencial entrevistado permite
que a equipe confirme as informações
como premissa a idéia de que cada da indicação, bem como apresente
pessoa selecionada traz, em sua o projeto à pessoa e saiba se ela
história de vida, uma perspectiva deseja compartilhar sua história.
Cabe exclusivamente a ela aceitar
sobre o conjunto de histórias que se ou não o convite. Nesse momento,
quer levantar. a equipe também pode avaliar se a
pessoa precisa de alguma atenção
especial por conta da idade ou alguma
deficiência.
Pesquisa preparatória – Uma pesquisa
“A entrevista do Professor foi uma opção do Cícero,
preliminar em jornais, livros ou na
justificada pela sua simplicidade e pelo seu significado na internet pode ajudar a equipe a
48 49
Trabalho com as fotos
EM AÇÃO
Além da narrativa, as fotos, os documentos e objetos pessoais
também são valiosos portadores da memória. Não se trata Confira como o trabalho com o acervo pessoal pode ser facilitado:
somente de ilustrar a entrevista, mas sim de complementá- Pedir ao entrevistado que selecione fotos, objetos e documentos
la e enriquecê-la. Dessa maneira, em torno do entrevistado, significativos da sua trajetória de vida. O convite para a entrevista
costuma ser um bom momento para esse pedido.
forma-se um acervo, muitas vezes inédito e de grande riqueza.
Estimular o entrevistado a contar as histórias ligadas ao seu acervo.
É necessário reservar tempo e criar ambiente para levantar e
registrar esses relatos. Essa conversa pode ser antes ou depois da
entrevista ou até mesmo em outra ocasião agendada.
Registrar o relato sobre as fotos e os documentos. Ele pode ser
“Registro da primeira saída do nosso anotado pelo entrevistador ou até mesmo gravado em áudio ou vídeo.
filho, Iuri, ao quintal para tomar sol, na O entrevistado também pode ser convidado a escrever sobre ele.
primeira semana em casa. A foto foi tirada Identificar e processar esse conteúdo como parte do acervo do
projeto. Assim, as fotos, os documentos e objetos poderão ser
na cidade de São Paulo, em outubro de 1990, consultados, além de serem rica matéria-prima para elaboração
pelo meu marido, Luiz Henrique.” de produtos.
Cristina Prado Rodrigues,
da Rede Social Águas de São Pedro
50 51
Movimento 4:
Organizar as histórias
Para quê? Passo 1: Classificar EM AÇÃO
Após “Construir História”, ganha ênfase a fase do “Organizar Classificar é essencialmente separar e
Procedimentos iniciais
História”. Isso significa, essencialmente, pensar no outro, identificar o material coletado segundo
A seguir, algumas práticas de
permitindo que a história permaneça no tempo. Para que algumas categorias preestabelecidas pelo
organização do conteúdo:
possa ser socializada, é necessário que seja disponibilizada e grupo. O objetivo principal é possibilitar
Identificação – É muito mais
preservada de forma organizada. Mas organizar não corresponde ao próprio grupo, assim como a outros prático e seguro identificar
a dispor o acervo em prateleiras ou armazenar em armários. potenciais usuários, o acesso ao material. minimamente cada foto, documento
É, fundamentalmente, criar instrumentos que permitam a e objeto no momento em que
Existem inúmeras formas de definir é coletado. Da mesma forma,
localização, o uso e o crescimento ordenado do acervo, inclusive as categorias de classificação, como, cada fita ou CD gravado devem
de maneira virtual. por exemplo: tipo de material (papel, ser etiquetados imediatamente.
Antes da entrevista, vale a pena
Podemos dividir o aprendizado do “Organizar História” em vídeo, áudio, fotografia, objeto etc.), gravar um pequeno cabeçalho
três etapas principais: classificar, processar e preservar. procedência (museu da cidade, casa informando nome completo do
de fulano de tal, biblioteca, rua etc.), entrevistado, entrevistadores, data
e local do registro. Incorporada à
tema (trabalho, mulheres, festas etc.), gravação, essa claquete permite a
tipo de pesquisa (depoimentos, acervos identificação imediata dessa nova
pessoais, acervos públicos), entre fonte histórica.
Glossário outras. Pode-se criar classificações Recibo de empréstimo – Todo material
emprestado por um entrevistado ou
amplas ou extremamente detalhadas. O
instituição necessita de atenção
O que é acervo? fundamental é que as categorias sejam redobrada. Um pequeno recibo
Acervo é um conjunto de documentos de diferentes compreensíveis e combinadas entre de empréstimo listando os itens
suportes e formatos, destinados a pesquisa, consulta, emprestados, data de empréstimo
todos do grupo. É importante também
e devolução ajuda a evitar mal-
ou simplesmente guarda. Reunidos e organizados, eles que o sistema classificatório esteja entendidos.
constituem um acervo, que pode se manter em constante explicado para o público, permitindo que Cessão de direitos – A história de
construção. o material seja consultado. cada pessoa, grupo ou instituição
diz respeito à história de toda a
Uma ferramenta bastante eficaz
O que é a licença Creative Commons? sociedade. Dessa forma, vale garantir
para organizar classificações é a criação que um conteúdo socialmente
Criada em 2001, por uma iniciativa de Lawrence produzido seja socialmente
de fichas e etiquetas. Com campos de
Lessig, professor da Universidade de Stanford, a licença apropriado. É essencial que os
informação padronizados, elas permitem
de Creative Commons (www.creativecommons.org. autores da narrativa (o entrevistado
coletar e registrar, de maneira organizada, ou o titular de uma foto, por
br) permite uma utilização mais ampla de conteúdos exemplo) autorizem a reprodução e
informações sobre o conteúdo. Números,
da internet, mas sem infringir as leis de proteção o uso da sua imagem, voz ou texto,
– ORGANIZAR AS HISTÓRIAS
códigos, nomes servem para classificações. É
à propriedade intelectual. No Brasil, a instituição bem como sejam esclarecidos quanto
uma prática que faz parte do nosso dia-a-dia. ao destino do material. Há diferentes
– MEMÓRIA SOCIAL
56
Ficha de fotografia Exemplo de ficha de documento
Modelo usado pelo grupo no Projeto Memória Social Modelo usado pelo grupo no Projeto Memória Social
ACERVO DE: Elizabeth Maria Kuhnen ACERVO DE: Adilson de Toledo Souza
CÓDIGO ARQUIVO DIGITAL: LOCAL DO ARQUIVO DIGITAL: CÓDIGO ARQUIVO DIGITAL: LOCAL DO ARQUIVO DIGITAL:
Adilson – 2
INDEXADOR: CIDADE/UF/PAÍS – DATA
Apicultura Itapecerica da Serra – SP – Brasil – 1995 INDEXADOR: CIDADE/UF/PAÍS – DATA
EVENTO: FOTÓGRAFO: São Paulo, Brasil - 27/3/1959
Oficina de Educação Ambiental Desconhecido
EVENTO: FOTÓGRAFO:
NOME DOS PERSONAGENS (da esquerda para direita): Aniversário de um ano Desconhecido
Alunos da oficina e Beth Kuhnen. Ao fundo, um educador e a diretora Marisa.
NOME DOS PERSONAGENS:
HISTÓRICO: Adilson de Toledo Souza
Beth conheceu Marisa (diretora do sítio Colina Verde, em Itapecerica da Serra) numa visita ao sítio, quando
conversaram muito sobre meio ambiente e apicultura. Desse encontro surgiu a idéia de realizar oficinas de HISTÓRICO:
educação ambiental para crianças, com foco na vida das abelhas, como forma de disseminar a organização Cartão comemorativo do primeiro ano de vida (27/3/1959).
social das abelhas e incutir valores no processo educativo. A proposta foi realizar a oficina de forma lúdica e
incluir jogos e brincadeiras numa grande colméia, que foi construída especialmente para esse trabalho. OBSERVAÇÕES:
Este tipo de cartão de aniversário era uma prática muito comum na época e tinha por objetivo, além de
OBSERVAÇÕES:
enaltecer o acontecimento, registrar a presença das pessoas no respectivo evento.
Os fantoches, favos e a colméia foram construídos com a orientação de uma designer amiga da Marisa.
ESTADO DE CONSERVAÇÃO:
LEGENDA DA FOTO:
Beth no sítio Colina Verde, em oficina vivencial de apicultura para crianças – 1995. ( ) Bom ( ) Manchado ( ) Rasgado ( ) Riscado ( X ) Amarelado ( ) Com Fungos
Transcrição total ou parcial – Transcrever significa passar o conteúdo oral para texto
escrito. Cada pergunta e resposta é redigida a partir da escuta paciente da gravação. Nesse
Glossário processo, devem ser resolvidas dúvidas em relação a nomes citados, grafia de palavras
etc. É um trabalho árduo e requer disponibilidade de tempo e dedicação. Há sempre a
alternativa de contratar profissionais ou buscar parceria com voluntários preparados. Na
O que é base de dados?
transcrição parcial, são transcritos apenas trechos previamente selecionados no áudio ou
Uma base de dados é um software que permite armazenar,
no vídeo. A escolha pode ser em função de um produto ou uma atividade, bem como de um
organizar e relacionar grandes quantidades de informação.
– ORGANIZAR AS HISTÓRIAS
tema de maior interesse do grupo.
Texto em primeira pessoa – A partir da escuta atenta à gravação, uma pessoa ou
– MEMÓRIA SOCIAL
– ORGANIZAR AS HISTÓRIAS
Emoção – Quando houver choro, riso ou outra demonstração de emoção durante
Trecho transcrito da entrevista de Rita Maria de Lima Silva, a entrevista, identifique com observação entre parênteses. Ex.: (riso).
– MEMÓRIA SOCIAL
– ORGANIZAR AS HISTÓRIAS
tipo de material merece uma atenção específica.
O que é DPI?
– MEMÓRIA SOCIAL
– SOCIALIZAR AS HISTÓRIAS
temos? Produzimos uma bela coleção de o produto? Qual a complexidade e a
produtos, bem como gostará de ser convidado
desenhos? Há material em áudio? Vídeo? experiência necessária?
para os eventos do projeto.
– MEMÓRIA SOCIAL
68 69
No geral, a originalidade Vídeo – Assim como um livro, editar um vídeo é escolher conteúdos e organizá-los de
e a consistência de um livro maneira a contar uma história interessante para o público. Mais uma vez, ao trabalhar
dependem de três ingredientes as entrevistas de história de vida, é preciso respeitar a narrativa do entrevistado,
que devem ser bem sem alterar o significado de seu discurso ou criar um novo personagem no vídeo.
amadurecidos: É importante manter a essência do que é dito pela pessoa, inclusive sua forma de
• Conceito gerador – Qual expressão, bem como valorizar os trechos mais interessantes e únicos do depoimento.
história se quer contar e como. Procedimentos parecidos são usados na edição de áudio.
É o fio condutor da narrativa. Produtos em áudio – São várias possibilidades: programas de rádio ou web-rádio, CDs
Exemplo: a história dos educativos, intervenções em shows, instalações em exposições. Da mesma forma que
trabalhadores pode ser contada um produto em texto ou vídeo, um produto em áudio precisa, antes de tudo, ser pensado
a partir da história da sua luta sindical, em função do público, dos recursos e dos objetivos do projeto. O próximo passo é fazer
pela história de suas profissões ou outras abordagens. um roteiro, prevendo conteúdos, organização e duração. Uma etapa-chave é a edição das
• Projeto editorial – Corresponde à planta de um prédio: como entrevistas de histórias de vida. O espírito é o mesmo que o do texto ou do vídeo.
a construção vai se estruturar, como o espaço vai ser distribuído
e ocupado. Diz respeito à organização do conteúdo e à relação
entre texto, imagens, títulos, legendas, gráficos etc. Exemplo: EM AÇÃO
os capítulos podem seguir as fases cronológicas de uma história Procedimento básico para vídeo
ou pode ser dedicado cada um a um personagem.
1. A edição é feita no computador, por meio 5. Com todas as imagens organizadas no
• Projeto gráfico – É a dimensão visual do projeto editorial. de programas específicos. Para começar, computador, o editor deve lançá-las
é necessário digitalizar as imagens. na time-line (linha do tempo), que é a
Deve facilitar a leitura e valorizar o conteúdo. Traduz o estilo interface do software de edição em que
2. Aconselha-se que o editor faça a
escolhido pelo grupo (mais ousado, sóbrio ou informal), as imagens são colocadas em ordem e
decupagem do material gravado. Ou
equilibrando texto, imagem e outros elementos. podem ser incluídos efeitos (de imagens,
seja, assista a tudo o que foi gravado
de transição, de som), trilha sonora etc.
e vá anotando as características das
Para completar a vivência da formação do Projeto Memória imagens e dos sons, como formatos dos 6. Na time-line, o editor constrói o vídeo,
Social, foi proposta, então, a confecção de um produto coletivo. planos, qualidades dos enquadramentos, decidindo quais planos, com qual
A idéia era consolidar a produção dos encontros numa criação assuntos gravados e a minutagem da fita. duração, qual será a ordem, como serão
feitos os cortes. Os programas de edição
compartilhada. Com os textos 3. Com as anotações da decupagem, não é
possuem ferramentas específicas: uma
necessário capturar para o computador
editados a partir das entrevistas, para “cortar” as imagens; outra para
tudo o que foi gravado: basta selecionar
os participantes decidiram inserir fusões; outra para “empurrar” as
os trechos que, segundo o roteiro,
imagens etc. As possibilidades são quase
fazer um livro artesanal. poderão ser usados no vídeo final.
infinitas.
Logo definiram a estrutura: 4. Esses trechos são salvos numa pasta do
7. Com o material pronto, o editor precisa
– SOCIALIZAR AS HISTÓRIAS
apresentação e prefácio; computador e organizados em blocos para
retirá-lo do computador, gravando-o
evitar confusão no trabalho.
dedicatória; índice; capítulos novamente em uma fita. Para tanto, é
– MEMÓRIA SOCIAL
70 71
EM AÇÃO
– SOCIALIZAR AS HISTÓRIAS
valorizados e já estão começando a sentir que algo muito bom basta ter um computador com acesso à internet, acessar a página da
está acontecendo naquele lugar.” web-rádio e ouvir os programas. Exemplo: http://estudiolivre.org
– MEMÓRIA SOCIAL
72 73
Edição de conteúdo Para além dos produtos
A elaboração de produtos passa pela escolha e pela Realização de eventos – Outro caminho de “Socializar História” é organizar eventos que
articulação de conteúdos. Um vídeo, por exemplo, promovam vivências sobre a memória, bem como divulguem as histórias registradas.
não poderá exibir a íntegra de todas as entrevistas Alguns exemplos: Festival de Histórias, Rap Sua História, Contação de Histórias. Por
gravadas. Uma exposição, por sua vez, resulta da outro lado, as fontes históricas produzidas pelo projeto podem se firmar como fontes
seleção e organização de imagens, textos e objetos. O de pesquisa para o público interno ou externo. Cada vez que um novo folder, relatório,
mesmo acontece na hora de fazer um livro. Entra em reportagem ou publicação for elaborada, as histórias terão presença garantida.
cena o processo de edição: definir os conteúdos do
produto e organizá-los de forma coerente e atrativa Espaços de memória – Reafirmando a construção da memória como um processo
para o público que se deseja alcançar. permanente, inserido no cotidiano, um espaço – ou espaços – de memória pode ser
organizado como local de referência para preservação e disponibilização do acervo produzido
Vale ressaltar que se pode optar por uma edição
na íntegra, da memória do processo do próprio projeto, bem como de continuidade e
com mais ou com menos interferências, mas
articulação da iniciativa.
sempre haverá a marca e a responsabilidade do
editor, que tem como missão trazer as histórias Práticas do cotidiano – A prática da entrevista, da linha do tempo, da roda de histórias ou
para que os leitores percebam e se emocionem com do trabalho com fotos pode se tornar uma ferramenta poderosa para o grupo enriquecer,
as falas dos entrevistados. expandir, aprofundar sua atuação. A percepção de que cada um é autor da história individual
Algumas posturas podem ser acordadas com e coletiva, e de que ouvir a história do outro ajuda a compreender e a intervir melhor na
antecedência em relação, por exemplo, aos cacoetes realidade, pode se tornar um aprendizado inspirador de novas posturas e práticas na escola,
de linguagem, correções gramaticais, inversões de sindicato, empresa ou qualquer outra instituição ou comunidade.
fala. De qualquer forma, convém manter a oralidade,
o tom coloquial e o ritmo da narrativa, valorizando
o estilo da pessoa. Em nenhum caso, no entanto, EM AÇÃO
devem ser criados novos conteúdos, incluindo
Dicas para edição
“falas” na narrativa do entrevistado.
1. Cacoetes de linguagem – Se 3. Inversões – Na fala, muitas vezes
prestarmos atenção na fala, não estruturamos a frase de forma
iremos perceber que muitas vezes direta, pois falamos o que nos ocorre
exageramos nos tá, né, hein, primeiro e só depois completamos. No
então, viu. No texto escrito, essas texto, essa inversão pode confundir o
repetições ficam cansativas. Os leitor e deve ser reordenada.
excessos devem ser eliminados sem
4. Correção gramatical – Os erros
prejudicar a narrativa.
gramaticais, principalmente os de
– SOCIALIZAR AS HISTÓRIAS
2. Pontuação – Mesmo que o entrevistado concordância verbal, devem ser
fale por períodos muito longos, sem revistos na edição. No entanto,
pausas, no texto é importante ter pode-se optar por preservar modos
– MEMÓRIA SOCIAL
74 75
Movimento 6:
Idéias viram projetos
Construção coletiva Nossa memória
Saberes, experiências,
Lideranças em suas redes e comunidades, os integrantes do
valores e sensações
Projeto Memória Social receberam o desafio de levar o trabalho
selecionados e guardados
com as histórias de vida para as suas localidades. Ainda em grupo,
pelo grupo.
puderam criar e transformar suas idéias em planos de trabalho.
Quanto mais coletiva é a construção do projeto, envolvendo
diferentes pessoas do grupo, maior é a possibilidade do projeto
tornar-se uma prática permanente na organização ou comunidade. 3. Fontes de história 1. Sentidos de memória
Para tal, precisa-se identificar qual a demanda inicial que o Onde está nossa memória? Por que queremos registrar?
grupo apresenta. Por que o grupo quer registrar sua história? Qual será o material coletado O que mobiliza o grupo para
Ainda que não necessariamente explícito, existe sempre um e consultado? Quais pessoas promover uma iniciativa
sentido que move aquele grupo. Qual é o sentido da memória para serão entrevistadas? de memória?
este grupo? É importante explicitá-lo e aprofundá-lo. Outras
perguntas aparecem na seqüência: quais são os objetivos, as etapas
e os resultados esperados do projeto?
Ao conceber e estruturar o projeto, uma palavra é obrigatória:
sustentabilidade. É importante definir objetivos, atividades,
Autor/Autores
recursos e resultados a cada ciclo do projeto, para que a iniciativa
ganhe consistência e não termine interrompida ou esquecida. O grupo
É fundamental também organizar as atividades no tempo e no
espaço e dividir o projeto em etapas.
Tão importante quanto criar ações simples, viáveis no curto
prazo, é construir uma visão de futuro, com ações estratégicas de
longo prazo, que permitam de fato colaborar com o processo de
2. Objetivos 4. Públicos
desenvolvimento social.
Para que queremos construir Para quem queremos contar
essa história? Quais são os nossa história? Quais são os
Dica objetivos do grupo? públicos aos quais se destina
O mapeamento das iniciativas de memória já essa iniciativa?
existentes é uma etapa importante de construção do
projeto. Além de permitir a troca de informações
78 79
Criar sentido Construção das diretrizes
O trabalho de elaboração dos projetos locais começou Alguns exemplos do diagrama preenchido por cada subgrupo
com a apresentação do Diagrama da Memória (veja pág. 79),
dialogando-se sobre os diferentes aspectos que orientam um
projeto de memória. MEMÓRIA SENTIDOS
OBJETIVOS FONTES PÚBLICO PRODUTO
COLETIVA DA MEMÓRIA
Divididos por localidade, os participantes discutiram as
diretrizes de ação a partir dos itens propostos. Organizaram CIDADES/ Que memória Por que quero Para quê? Com quê/ Para quem? O quê?
suas idéias usando o esquema do diagrama e apresentaram a REDES registrar? registrar essa quem?
memória?
proposta para o grupo.
Para construir projetos que façam sentido nas instituições, SÃO PAULO – Como eram Investigar esses Analisar e Pessoas antigas Moradores e Vídeo e evento
as moradias, aspectos e sua promover da localidade; trabalhadores – narrativa
JABAQUARA
comunidades ou grupos, é importante discutir o escopo, as E ITAQUERA os serviços mudança no uma reflexão: pesquisas do local. em texto na
oferecidos, a decorrer do como o passado históricas – terceira pessoa
intenções e o sentido do projeto com o grupo envolvido. Que
questão do lixo e tempo. influencia o jornais, livros, e trechos
história o grupo quer contar? Uma série de elementos influi na da água. presente e de internet. transcritos.
que forma pode-
articulação de uma narrativa histórica. se usar esses
Podemos revelar esses elementos por uma seqüência conhecimentos
para transformar
de perguntas: Por quê? Para quê? Quem participa? O que a realidade?
produzir? Para quem? As respostas irão nortear o trabalho
dos autores do projeto e acabar definindo o tipo de narrativa LIMEIRA Memória Registro Valorização da Fotos, Sociedade em Livro,
do Bairro – histórico. comunidade. entrevistas geral. exposição
histórica e os produtos que resultarão da iniciativa. Cada uma loteamento. Contexto (moradores), de fotos e
dessas questões traduz uma escolha. O conjunto das respostas Crescimento. político- imobiliária, filme.
Desenvolvimento. econômico- prefeitura.
estabelece as diretrizes do projeto. social.
82 83
Etapas e atividades Cronograma das etapas
84 85
Projeto Rede Social Águas de São Pedro Atividades da etapa 1:
Elaborado por Adilson de Toledo Souza, Cristina Prado Rodrigues e a) formação do grupo de trabalho (27/6/07);
Stella Maria Gonçalves Crescenti, mediadores da Rede Social b) elaboração do projeto;
c) identificação de parcerias/patrocínios;
Objetivo d) necessidade de legislação específica municipal e aprovação;
Criar um espaço que reúna e divulgue toda a memória da e) captação de recursos;
cidade de Águas de São Pedro, desde a sua criação até o dia f) implantação.
de hoje, e que mantenha atualizados os registros históricos
da estância.
Etapa 2 – Subproduto: entrevistas – memória social
Objetivo: registrar a memória social dos moradores de Águas de São Pedro, através da
Justificativa
narrativa oral (metodologia do Museu da Pessoa).
Águas de São Pedro – cidade planejada.
Atividades da etapa 2:
Construção da cidade.
a) identificar as pessoas a serem entrevistadas:
Modelo de urbanismo.
– prioridade 1 – moradores antigos (mínimo de 5 pessoas);
– prioridade 2 – pessoas que trabalharam na construção da cidade
Quem participa?
(mínimo de 10 pessoas);
Grupo de trabalho a ser definido em reunião no dia 27/6/07,
sob a coordenação de Stella Crescenti, com o apoio da – prioridade 3 – moradores atuais (mínimo de 5 pessoas);
Comissão de Desenvolvimento Local. – prioridade 4 – pessoas da Rede Social (mínimo de 10 pessoas);
– prioridade 5 – colaboradores externos (mínimo de 2 pessoas) – estudiosos
Qual a duração? E as etapas? e pesquisadores.
O projeto terá a duração aproximada de 3 (três) anos e será Total estimado = 32 pessoas
composto pelas seguintes etapas:
Total de entrevistas até setembro/2007 (fechamento do curso) = 8 entrevistas
b) realizar as entrevistas;
c) transcrever as entrevistas;
Etapa 1 – Elaboração do Projeto do Memorial (parte física)
d) elaborar biografia e sinopse da entrevista;
Objetivo: elaborar o projeto do Memorial de Águas de São
e) gravar em CD-ROM.
Pedro, na forma de um espaço físico que resgate, conserve,
atualize e divulgue a história e a memória local.
86 87
Etapa 3 – CD itinerante Etapa 6 – Portal de internet
Objetivo: socializar as entrevistas da etapa 2 junto à população Objetivo: criar um site na internet para registro e divulgação da história de Águas de São
local, através da circulação de um CD. Pedro, através do Memorial.
Atividades da etapa 3: Atividades da etapa 6:
a) montar o CD a cada entrevista prevista na etapa 2 realizada; a) definir o conteúdo do portal;
b) identificar as pessoas interessadas em receber o CD; b) identificar material disponível para o site;
c) definir o tempo de permanência do CD com cada pessoa; c) elaborar o portal (layout);
d) iniciar o processo de distribuição e controle. d) realizar o lançamento do portal;
e) manutenção contínua do portal.
Etapa 4 – Folder histórico
Objetivo: criar um folder com a história da cidade, com os
Etapa 7 – Livro “Memória Social de Águas de São Pedro”
respectivos atrativos histórico-turísticos.
Objetivo: socializar a memória social de Águas de São Pedro através de um livro.
Atividades da etapa 4:
Atividades da etapa 7:
a) definir o conteúdo e layout do folder;
a) definir concepção editorial;
b) elaborar o projeto e “boneco” do folder;
b) definir a concepção gráfica;
c) identificar parceiros/patrocinadores e captar recursos;
c) editar os textos e as imagens;
d) distribuição do folder e controle para novas tiragens.
d) revisar textos;
e) detalhar design;
Etapa 5 – Ecomuseu
f) imprimir;
Objetivo: criar um museu ao ar livre, composto pelos atrativos
históricos da cidade, na forma de um roteiro turístico. g) realizar evento de lançamento;
h) distribuir.
Atividades da etapa 5:
a) definir o roteiro histórico-ambiental;
b) pesquisar os dados de cada local que compõe o roteiro; Quais os recursos?
Etapa 1: Projeto Memorial
c) diagnosticar a situação atual de cada local em termos de
conservação, acessibilidade, higiene etc.; • terreno;
d) definir a forma de operacionalização do roteiro (a pé, • construção;
meio de transporte); • projeto arquitetônico;
e) formar monitores para o guiamento dos grupos/pessoas; • montagem;
g) divulgar o Ecomuseu;
h) operacionalizar o Ecomuseu;
i) acompanhamento e avaliação – contínuos.
88 89
Etapa 2 – Entrevistas Etapa 7 – Livro “Memória Social”
• filmadora; • computador;
• local; • material de escritório;
• edição de imagens; • impressão;
• transcrição; • evento de lançamento;
• material de escritório (pastas, canetas, papéis, impressão); • distribuição.
• fitas de vídeo;
• CD-ROMs;
• computador. Possíveis parceiros
• Petrobras
Etapa 3 – CD itinerante • Bauducco
• gravação de CD; • Comércio local
• edição de CD;
• Viação Piracicabana
• telefone para contatos;
• pessoa para distribuição. • Esalq/USP
• USP São Carlos
Etapa 4 – Folder • Oscips Águas para Todos e Água Viva
• designer gráfico; • Acasp
• gráfica – impressão; • Editora Senac
• pessoa para distribuição.
• Rede Social
• Ministério da Cultura
Etapa 5 – Ecomuseu
• treinamento para monitores; • Secretaria de Estado da Cultura
• material de escritório; • Secretaria Municipal da Educação
• meio de transporte – convênio/parceria. • Secretaria de Estado da Educação
• Prefeitura Municipal e órgãos públicos
Etapa 6 – Portal • Empresários que tenham ligação com a cidade (Ex.: Adriane Galisteu)
• web designer;
• Alunos do Senac e das redes municipal e estadual de ensino
90 91
Projeto Rede Social Votuporanga Projeto de registro da memória da Rede Social
Elaborado por Daniela Marin, mediadora da Rede Social Presidente Prudente
Elaborado por Claudia Venério Garcia Dias, mediadora da Rede Social
Quem participa
Faremos um evento para apresentação do diagnóstico Por que registrar
participativo, a história do bairro e das pessoas, utilizando: Socializar a informação.
Registrar as memórias pessoais.
A) Entrevistas
Identidade.
1 pessoa da Rede Social – D. Neusa
Formar capital social.
3 pessoas da comunidade – Rosemeire, Fortalecimento dos vínculos.
Maria Otília e Aparecida
2 pessoas da Comissão de Desenvolvimento Local – Objetivos
Ana e Jorge Divulgar, fomentar e contribuir para o desenvolvimento social.
Fontes
Obs.: As entrevistas estão prontas, falta transcrever e elaborar a
Linha do tempo.
narrativa em terceira pessoa.
– Rede Social, com as organizações que a compõem.
B) Faremos um livro contando as histórias de vida das – Entrevistas com os atores.
pessoas acima e do bairro: Daniela e Ana
Público: para quem?
C) Linha do tempo: fotos. Comunidade de Presidente Prudente.
Senac.
Duração – Etapas Imprensa local.
Entrevistas: 13/7 – Ok, Daniela e Ana.
Narrativa / produtos
Transcrição e edição: 30/8 – Ester – Jornalista.
Livro.
Fotos: parceria com o curso de Jornalismo da Unifev – agosto.
Vídeo.
Realização do evento: setembro ou outubro – Rede Social,
Varal de história.
Unifev (parceria com o curso de Serviço Social, que realizou
as entrevista nas casas – Fofa – do bairro). Metodologia
Construção com os participantes, através de capacitação, em que será utilizado o Guia
Recursos de Formação do Museu da Pessoa.
ao desenvolvimento local, por meio de trabalhavam de forma muito isolada, mediação democrática desse processo, a capacidades comunitárias e a seguir
ações socioeducacionais que capacitam, começamos a fomentar encontros a fim fim de garantir a participação igualitária trilhando o permanente processo do
integram e mobilizam pessoas e de construir compromissos comuns dos componentes e transformar os desenvolvimento.
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Museu Sacaca do Desenvolvimento Sustentável – www.amapa.gov.br
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AMNÉSIA. Direção de Christopher Nolan. EUA: Newmarket Capital Group / Programa Coisas Boas da Terra – www.educarede.org.br
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Associação Grãos de Luz e Griô – www.graosgrio.hpg.ig.com.br
BLADE Runner, o caçador de andróides. Direção de Ridley Scott. Estados Unidos:
Projeto Manuelzão – http://www.manuelzao.ufmg.br
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Terra Paulista – www.terrapaulista.org.br
EDIFÍCIO Master. Direção de Eduardo Coutinho. Brasil: Videofilmes, 2002.
Tesouros do Brasil – www.tesourosdobrasil.org.br
NARRADORES de Javé. Direção de Eliane Caffe. Brasil: Riofilme, 2003.
Fundação Genésio Miranda Lins – www.fgml.itajai.sc.gov.br
O FIO da memória. Direção de Eduardo Coutinho. Brasil: Funarj, 1991.
O VINGADOR do Futuro. Direção de Paul Verhoeven. EUA: Flashstar, 1990.
É uma iniciativa que visa constituir uma rede nacional, de instituições e pessoas, com foco em ações para
potencializar o uso da memória como ferramenta de desenvolvimento social e cultural do país.
Mantém grupos de trabalho, bem como um ambiente virtual interativo.
98
Créditos e agradecimentos
Impressão
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