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Fonte: (ANTÍA,2002)
A partir daí, existe a necessidade de averiguação dos canais de transmissão pelos quais
a crise argentina atingiu o Uruguai. O primeiro é o canal comercial, o peso da Argentina nas
exportações de bens e serviços do Uruguai representava 30% e o impacto vindo do parceiro
fronteiriço já vinha sendo pronunciado. Logo, as exportações de bens para Argentina na
primeira metade do semestre caíram em 70%, os turistas vindos de lá foram reduzidos pela
metade e o saldo comercial com o parceiro ficou negativo. Outro canal é o das expectativas: os
agentes econômicos sentiam que a argentina estava se deteriorando em termos econômicos e
que o mesmo aconteceria com o Uruguai. Isso determinou uma contração nos gastos
domésticos, que aprofundou a recessão. E por último o canal financeiro, este foi o canal de
transmissão foi um dos mais graves e resultou em uma crise dos bancos. (ANTÍA,2002, p. 149)
Poderia se atentar aqui a crise dos bancos, entretanto, o foco da análise é a
vulnerabilidade Uruguai face a Argentina e com o aparato teórico sobre interdependência e com
os dados históricos e econômicos apresentados anteriormente é possível fazer um prognóstico
sobre o que pode vir a acontecer nos próximos meses no Uruguai. Para isso, deve-se a princípio
considerar os atores envolvidos nessa relação de interdependência. O Uruguai é o âmago e o
objeto de estudo, a Argentina é a variável independente e, neste caso, é possível considerar o
Brasil como uma variável interveniente. Nesse sentido, ponderar as ações no âmbito externo
dos três respectivos países conjuntamente é de extrema relevância, uma vez que a premissa da
análise é a correlação dos atuais momentos econômicos passado pelos países mencionados
anteriormente e qual o resultado dessa interdependência no Uruguai.
Então, no que tange a interdependência complexa percebe-se que o Uruguai é um pais
consideravelmente sensível e vulnerável. Embora o governo uruguaio tenha emitido uma
opinião em relação ao apelo da Argentina de 50 bilhões de dólares emprestados do FMI, o que
demostra um grau de resposta diante do fato, os custos que estão sendo pagos pelo Uruguai em
termos econômicos estão sendo muito altos. Denota-se aqui que a lógica de 2002 está sendo
reaplicada aqui, o Uruguai vem sofrendo e tentando demonstrar segurança econômica para que
os investidores continuem investindo no pais de forma assídua, entretanto, a crise na Argentina
abala a confiança da prosperidade da economia uruguaia.
A situação da Argentina é crítica a fuga de capitais dos países emergentes atinge a
economia. O peso se desvalorizou mais de 50% desde janeiro, a taxa de juros está em 60%, a
inflação não para de subir e o PIB cairá em 2018. Além disso, tiveram de solicitar uma
ampliação de apoio ao FMI de 50 para 59 bilhões de dólares, com o compromisso de alcançar
o equilíbrio orçamentário em 2019, um ano antes do previsto anteriormente. Para 2020, o país
deverá chegar a um superávit primário de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Ademais, o FMI
informou que Banco Central da Argentina concordou em deixar que o câmbio flutue livremente
e só vai intervir no mercado em situações extremas. Ou seja, a Argentina está ficando cada vez
mais com os “pés e mãos amarrados”, pois o fato de pedir um volume maior de dinheiro
simboliza que o problema é ainda maior do que se esperava, resvalando mais ainda na economia
uruguaia.
O brasil se torna um ator interessante do ponto de vista da ciência política, mas que pelos
indícios vai ser desfavorável para o desenvolvimento econômico na América do Sul. O próximo
presidente brasileiro, que assumirá em 2019, Jair Bolsonaro entra no poder com um discurso
majoritariamente conservador e protecionista. Logo, a possibilidade de diminuição de
reciprocidade econômica com a Argentina e consequentemente com o Uruguai é altamente
plausível, pois em um ambiente protecionista provavelmente o governo brasileiro irá tentar
produzir mais produtos de valor agregado, que anteriormente compravam de seus parceiros,
como por exemplo, carros da Argentina, diminuindo assim os fluxos econômicos entre esses
países. Deste modo, as retaliações por parte dos parceiros virão à tona e possivelmente entrarão
em um dilema econômico. E os processos de integração regional que já estavam distantes
ficarão ainda mais, como evidência, governo de Jair B. por intermédio de seu futuro ministro
da Economia, declarou a um jornal argentino que seu governo haveria um distanciamento do
MERCOSUL, pois esta era uma instituição “enviesada”.
A questão é, o Uruguai como um país de porte pequeno ficará à deriva de seus parceiros
de tamanho maior. O PIB possivelmente virá a cair, a economia novamente entrará em uma
recessão que acompanhará a Argentina e Brasil, o fluxo de turistas que já vem caindo e caíram
consideravelmente em 2002 diminuirá ainda mais, a moeda, bem como a confiança entrarão
num funil de deterioração e é muito provável que o Uruguai, assim como o Brasil precisem
recorrer a empréstimos do FMI. Não há saída para os três atores se não cooperarem a nível
regional e multilateral para encontrarem “ uma luz no fim do túnel”.
Entretanto, ao contrário de 2002 em que se tinha os bancos como pontos chave na crise,
a atual será pautada na falta de exportação de bens e serviços, no aumento da inflação a níveis
extremamente altos e na dificuldade de desenvolvimento de relações internacionais simétricas.
Além disso, convém dissertar sobre o bem-estar social. Quando se pensa em políticas de
Estados talvez perde-se a noção de que essas políticas afetam no cotidiano da sociedade, com
essa crise em escala regional é possível que a população uruguaia, argentina e até mesmo
brasileira queiram emigrar, pois em momentos de crise aumentam os índices de violências de
todas as naturezas e o uma maneira de sanar este problema é procurar um lugar onde exista um
nível de qualidade de vida razoável. Todavia, há de se denotar que a América do Sul, caso isso
viesse a acontecer, entraria em uma de suas piores fases da história, dado que existe uma crise
que paira não somente sobre esses três países anteriormente mencionados, mas também como
na Venezuela, que não só vive uma crise econômica, mas também humanitária e está crise em
um nível que atingisse a o Uruguai, Brasil e Argentina seria no mínimo catastrófico para a
região.
REFERÊNCIAS:
ANTÍA, Fernando, Uruguai 2002: contágio, crise bancária e perspectivas. Ícones Revista de
Ciências Sociais [online] 2002, (dezembro): [Data da consulta: 19 de novembro de 2018].
Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50901515> ISSN 1390- 1249>
SARFATI, Gilberto – Teorias das Relações Internacionais. São Paulo: Ed. Saraiva, 2005.