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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de

recursos hídricos no setor de lazer e


turismo

Eduardo A. C. Garcia

SUMÁRIO
1 Introdução 2
2 Problemas 5
3 Objetivos 7
4 Metodologia 9
5 Resultado esperado de simulado estudo de caso 15
6 Conclusões e recomendações 18
Referências 18
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

1 Introdução
A atividade turística teve início na segunda metade do século XX, após a Segunda Guerra
Mundial, sendo impulsionada pela recuperação da economia e por causa dessa recuperação, a
maior disponibilidade de tempo e dinheiro para o lazer da população.
A importância do turismo na economia mundial é auferida por indicadores do que
representa na economia e, neste sentido, alguns exemplos a destacam. Segundo a Organização
Mundial de Turismo (OMT), em 2006, registrou-se um recorde de viagens internacionais
turísticas, em torno de 842 milhões de pessoas, com previsões, para 2010, de um bilhão de
viagens. Nesse contexto, o Brasil se insere com 5,3 milhões de visitantes estrangeiros por ano
(ORÇAMENTO, 2008), além de expressivo aumento do turismo interno.
O turismo apresenta características especiais, entre outras as seguintes:
a) Uma atividade que depende “pouco” do financiamento público sem, contudo, dispensar a
ação pública de regulação, monitoramento e controle de “estados” de qualidade ambiental e
de harmonia de usuários e consumidores para garantir a observância do fundamento legal
de “a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas” (art.
1º. da Lei 9.433, de 8 de jan. de 1997).
b) É destacado como gerador de emprego no curto prazo e com menor custo se comparado
com qualquer outro setor industrial.
c) Em termos relativos, a expansão do turismo (entenda-se em bases sustentáveis) “consome”
menos recursos naturais e se adequadamente planejado, gerido e desenvolvida suas
atividades, tem poucos e assimiláveis - toleráveis impactos ambientais.
d) Apresenta uma ampla capacidade de se integrar e absorver produtos e serviços de
mercados internos com positivos reflexos, diretos e indiretos, na economia; essa capacidade
engloba serviços como os de alojamento, alimentação, transporte, agências de viagens,
guias turísticos e serviços culturais, de entretenimento e esportivos e de segurança e
financeiros, entre outros.
e) O setor é extremamente dinâmico; nele é necessário que todos os envolvidos – interessados
em arranjos (cadeias) do turismo, estejam atentos e zelosos para acompanhar, avaliar-agir e
ajustar-mudar suas atividades no atendimento ao “visitante” que sempre está disposto
(pressuposto que na forma de hipótese tem sido testado e, em geral, aceito) a conhecer
“coisas” novas e que não se pode esperar dele a fidelização, a não ser pelo crescente
atendimento às suas expectativas: satisfação e responsabilidade com a proteção da fonte (a
cachoeira, a praia, a caverna, o nicho, os animais etc.) que o satisfaz.
A complexidade de atores - interessados, ambientes, fatores e condições presentes e
projetáveis interagindo no arranjo do turismo o leva a se organizar por segmentos, com aspectos
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

tanto positivos como negativos (dispensados nesta nota), tornando-o uma atividade complexa não
apenas pela complexidade desses atores e seus interesses, fatores, interações e ambientes, mas
pelas motivações da prática: turismo de negócios, de eventos, de navio; turismo de saúde e
cultura; ou turismo de lazer e aventura.
Nos diversos tipos de turismos há, com maior ou menor frequência e intensidade de uso ou
aproveitamento, um atrativo ou uma motivação associada à diversidade e beleza natural, a
qualidade e “raridade” do ambiente e a segurança e satisfação de atendimento. Nessa segurança e
qualidade se destaca a ação do guia especializado em atrativo turístico, conforme especificação
do Decreto no. 946, de 1º. de out. de 1993 (art. 4º. item IV).
O setor lazer – turismo tem destaque no Brasil dada a sua extensão e diversidade de climas
e ambientes, de geomorfologias e paisagens, de sistemas hidrológicos e “acidentes” atrativo-
turísticos, de biodiversidades e espaços turísticos localizados, entre outros em praias marítimas de
cerca de 8.000 km de costas, com seguros balneários; em seu interior, com um sistema
hidrográfico de abundantes rios piscosos, de cachoeiras e parques nacionais (…).
São atrativos naturais que compreendem bens, serviços e informações para “suporte” de
uma das mais ricas, dinâmicas e promissoras áreas da economia nacional e mundial, - o turismo.
Uma área que passou a ser prioridade e destaque em agendas de políticas públicas, tanto em
países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, tornando-se uma força incomparável
na geração de emprego e renda (com distribuição) e como fonte de divisas.
As fontes do ecoturismo são bens, serviços e informações ambientais valiosos e, em geral,
insubstituíveis - imprescindíveis que se incorporam, direta ou indiretamente, na atividade
produtiva turística. Ao se incorporarem é preciso garantir a perpetuidade dessas fontes, - as
naturais, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, isto é, em uma perspectiva que possa
“atender às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as futuras gerações
atenderem às suas próprias necessidades”.
Uma perspectiva não apenas como um ato de solidariedade intertemporal e inter-geracional,
por vezes questionável, mas de racionalidade e, principalmente, de ética - comprometimento para
manter um baixo impacto ao reduzir, ao tolerável, ou ao eliminar sempre ações predatórias
associadas ao desrespeito de critérios técnicos tais tamanho mínimo, cotas para captura, períodos
de práticas e tecnologias – apetrechos ou desrespeito administrativo – gerencial em áreas ou
locais e períodos especiais.
A possibilidade de baixo impacto do turismo pode ser evidenciada, com menor
questionamento, pelo ecoturismo sustentado em bens e serviços ambientais “garantidos” em seus
melhores estados de qualidade, quantidade e equilíbrio. O ecoturismo pode evidenciar, também,
experiências e aprendizado com a natureza para o “visitante”, não apenas da convivência –
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harmonia do nativo com esta, mas pelo que este oferece em termos de artesanato, folclore,
alimentação e conhecimentos tradicionais, entre outros. Por outro, o nativo também se beneficia.
Para manter estados de qualidade–quantidade ambiental propiciadores de benefícios e para
“assegurar” o monitoramento, a avaliação-controle e o uso dentro da capacidade de suporte
ambiental se têm vários instrumentos, entre outros, os de educação ambiental, planejamento e
gestão estratégicas e instrumentos de políticas ambientais.
Um desses instrumentos é a cobrança pelo uso dos recursos hídricos como expressão de
ser um bem dotado de valor econômico. Por esse instrumento se dá ao usuário ou beneficiário
(satisfeito e disposto a pagar por esse bem que lhe proporciona lazer e satisfação com a pesca
esportiva, a contemplação de uma queda de água, um passeio de reflexão e conforto: uma
hipótese testável) uma indicação de seu valor real e se incentiva a racionalização de seu uso com
a proteção de fontes naturais em seus “melhores” estados de qualidade, quantidade e equilíbrio.
Por que o turismo ecológico, o pescador amador (…) está envolvido na questão econômica
da proteção de fontes, ciclos (…) e na conservação e manejo de fluxos produtivos de bens e
serviços ambientais para o ecoturismo? Porque o turismo, organizado como empresa ou
desenvolvido por pessoas independentes, 1 usufrui de benefícios desses bens e serviços e deve
contribuir (dadas certas condições), para mantê-los.
Os bens e serviços ambientais são utilidades que o mercado e a economia reconhecem
(ainda que seus custos, no início do novo milênio, não estejam internalizados e, “favorecidos” por
legislações, setores produtivos os consideram parte de um passivo ambiental, socializando esse
custo omitido da contabilidade desses setores) e os tratam, inclusive como insumos de uma
função de produção, sem ter conta que tais insumos são exigentes de proteção de suas fontes,
ciclos e estados de qualidade e quantidade.
Na legislação se considera essa exigência ao se estabelecer, como fundamento da PNRH, os
usos múltiplos das águas, um deles é o do setor turismo.
Em câmaras técnicas do CNRH, tais como: planos de recursos hídricos; assuntos legais e
institucionais; educação e capacitação; mobilização e informação; e cobrança pelo dos recursos
hídricos, o setor de pescadores e usuários dos recursos hídricos para o lazer e turismo, - os
pescadores, ao lado de prestadores de serviços de saneamento, geração de energia, indústria e
agricultura, entre outros beneficiários, tem assento para discutir assuntos que transcendem
interesses setoriais.
Assim, os pescados são atores interessados, consultados e afetados, atuais ou potenciais,
com questões da gestão dos recursos hídricos, uma dela é a cobrança pelo uso desses recursos.

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Nesse contexto são excluídos beneficiários “insignificantes” ou aqueles que pelo destino de caça, da
pesca, da captação (…) para consumo (…) são desobrigados pela legislação de recursos hídricos, florestal
e outras.
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

Em alguns casos como, por exemplo, em locais do Pantanal Mato-grossense, a omissão dos
pescadores na conservação, aliada a outros fatores, manifesta-se pela degradação de ambientes e
pela redução significativa do potencial piscoso dessa região.
Neste documento não se tem a pretensão de colocar os problemas, atuais ou potenciais do
setor ecoturistico, nem muito menos apontar possíveis soluções num contexto integrado de
instrumentos da política de recursos hídricos, da política ambiental, da política de
desenvolvimento (…). Apenas incitar à reflexão e fazer a introdução desconjunturada e polêmica
(porém, construtiva) de alguns tópicos que deverão ser tratados pelos interessados com os
devidos cuidados, legitimidades ou pertinências e traços para terem efetividade e se integrarem à
política de recursos hídricos. Desses tópicos problematizados se trata na próxima seção.

2 Problemas
A própria disposição a pagar do “visitante” ao local ecoturístico pelos bens e serviços
ambientais que lhe proporcionam “utilidades” na forma de satisfação, bem-estar e lazer não
aproveitada e utilizada para fins de proteção dessas formas e de conservação e manejo de sues
fluxos passa a se constituir um problema, na perspectiva econômica, do setor ecoturístico.
A seguir se relacionam problemas do meio ambiente e do setor turístico, adiantando-se que
são assuntos com níveis de dificuldades e impactos variáveis não apenas de local para local, mas
em um mesmo local para diferentes períodos. Esclarece-se, também, que a relação e enfoque
apresentados a seguir são definidos em termos gerais, portanto com notáveis exceções.
1) As atividades de pescadores são, para determinados locais, períodos e escalas,
desenvolvidas sem adequado planejamento, gestão e fundamentação técnico-operacional,
entre outras, que disciplinem seu exercício e desenvolvimento sustentável numa perspectiva
de longo prazo; portanto, são desenvolvidas de maneiras aleatórias e com insustentáveis
incertezas para o meio ambiente.
2) Dessa forma desordenada e orientada pelo imediatismo de oportunidades de mercado tais
atividades deixam de gerar benefícios socioeconômicos e ambientais nesses locais, para um
horizonte de longo prazo e em bases sustentáveis.
3) Parte desse planejamento, estruturação e desenvolvimento do ecoturismo compreende
aspectos econômicos relacionados com a valoração ambiental, ambos não considerados.
Essa valoração é condição sine qua non para se estabelecer uma possível cobrança pelo uso
dos recursos hídricos para o segmento de lazer e turismo.
4) Essas perdas de oportunidades de benefícios afetam, entre outros, as fontes e atrativos
paisagísticos que são insumos do ecoturismo comprometendo a qualidade dessas fontes e,
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

portanto, a sustentabilidade da própria atividade ecoturística. É o caso de centros


pesqueiros turísticos do Pantanal Mato-grossense em que “pescadores amadores, com quase
trinta anos vivendo em Mato Grosso do Sul” afirmam “os peixes sumiram dos rios”. Eles
apontam razões, tais como: “poluição das águas, pesca predatória, extrativismo,
assoreamento dos rios etc.”. “No passado, com grandes quantidades de peixes, a
preservação ambiental não foi levada a sério” (BIANCHIN, MELO e BOOCK, 2008).
Semelhantes ou ainda mais graves casos podem ser encontrados em outros centros
pesqueiros da Região como em Cáceres e ao longo da Transpantaneira Poconé – Cáceres,
no Mato Grosso.
5) Os descuidos ou omissões em planos e gestões para manter a integridade de ambientes
hidro-turisticos, tanto em seus aspectos hidrográficos como hidobióticos naturais, se
acusam em danos ambientais provocados pelas atividades descontroladas como poluição e
esforços de pesca que ultrapassam capacidades de recomposição de espécies e de tolerância
ambiental (predatória), entre outros.
6) Pouco conhecimento e tendenciosa informação - comunicação do atrativo ecoturístico de
locais com potenciais não conhecidos em termos de:
6.1) pesca recreativa apenas “virtual”;
6.2) formas “limpas” e sustentáveis de práticas dessas atividades;
6.3) possível complementação (sinergia) com outros atrativos como artesanato, comidas
típicas locais / regionais e aspectos culturais e históricos.
São potencialidades que poderiam diversificar e incrementar (perda de oportunidade) o
turismo em bases sustentáveis.
7) Para o caso da empresa ecoturística, o pouco conhecimento do turista e sua
desinformação, também, é fator causal de problemas que afetam o setor ecoturístico.
8) A disposição a pagar do “visitante” aos locais ecoturísticos, pelos bens e serviços
ambientais que estes lhe proporcionam, “utilidades” na forma de satisfação, bem-estar,
lazer (…) não aproveitada nem utilizada para fins de proteção dessas fontes e de
conservação e manejo de seus fluxos.
Com tais deficiências e, principalmente, com as interações que as potencializam, não é
possível:
a) planejar atividade como as de informação, comunicação e marketing ecoturístico, com
responsabilidade e consistência, ao público potencial alvo;
b) complementar os atrativos naturais com outros atrativos (sinergias: artesanato, segurança,
comidas etc.);
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

c) definir planos de atendimento condicionados às infra-estruturas e à própria disponibilidade


natural desses atrativos, em geral, conformados às dinâmicas e “temporadas” (“alta e baixa”
temporada: estacionalidade) características de cada local e região. O próprio conhecimento
dessas estacionalidades (períodos do ano para as práticas dos pescadores, ciclo das águas e
peixes) e a dinâmica biológica e física são fatores críticos ou limitantes para se planejar e
gerir o turismo ecológico em bases sustentáveis.

3 Objetivos
É preciso entender as atividades turísticas, - as dos pescadores, pelas fontes “reais” de seus
alicerces, entre outros, os naturais e, em geral, dinâmicas de seus atrativos, uma atividade
econômica que tem seus principais insumos em bens, serviços e informações ambientais, no
contexto do desenvolvimento sustentável. É nessa referência que se auscultam e definem os
problemas de pescadores (anteriormente exemplificados uns poucos) e se orientam as definições
dos correspondentes objetivos.
A seguir se relacionam os seguintes objetivos;
1’) As atividade turística deve ser planejada, gerida e desenvolvida com base em fundamentos
técnico-operacionais consistentes com a realidade que cada caso apresenta ou possa
apresentar, segundo estudos diagnósticos - prospectivos, entre outros fundamentos, de tal
forma a disciplinar seu exercício pelo caminho da sustentabilidade discutido e construído
no local e/ou região. Em ausência de tais referências, os objetivos poderão ter
fundamentações em estudos de cenários que destaquem vulnerabilidades e pontos críticos
para o setor ecoturístico no local ou região.
2’) Buscar orientações, além do imediatismo de oportunidades de mercados, em reais e
consistentes oportunidades na visão de longo prazo que venha a se constituir uma fonte de
benefícios socioeconômicos e ambientais locais e regionais, com mínimas e,
principalmente, toleráveis externalidades negativas do ambiente ou local ecoturístico. Parte
dessa tolerabilidade se fundamenta e ajusta, além das condições naturais que se relacionam
com os bens, informações e serviços ambientais, às condições socioeconômicas e culturais
do ecoturismo.
Nesse sentido é preciso, prévio entendimento de causas e conseqüências de problemas e
oportunidades não aproveitadas, devidamente organizadas, delimitadas e caracterizadas,
atender os propósitos correspondentes e especificar os meios e recursos necessários para
atingi-los.
3’) É preciso entender e atender, no planejamento, estruturação e desenvolvimento, aspectos
econômicos que se relacionam com a valoração ambiental na visão de longo prazo. A
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

estimativa da valoração de bens, serviços e informações (especificamente dos recursos


hídricos), para o ecoturismo é um dos propósitos que precede ao possível pagamento pelo
uso da água como meio de sustentação de belezas cênicas: peixes, cachoeira, praias, bem
como da sustentabilidade da própria atividade.
4’) Buscar o aproveitamento de oportunidades de benefícios econômicos. O produto desse
aproveitamento (que poderia ser um fundo de contribuições “condominiais” de empresas
ecoturisticas – em arranjo com um comitê de bacia hidrográfica – ou, ainda, acordos
específicos com possibilidades de serem contemplados em instrumentos como os de
outorga) deverá, em parte, retornar e favorecer as fontes e atrativos paisagísticos e motivos
– basilares da atividade ecoturistica. O fundamento dessa possível “contribuição” se traduz
na sustentabilidade da qualidade ambiental, senão na melhoria da mesma, para a atividade
ecoturística. Essa melhoria poderá representar despoluição de águas, recomposição de
matas ciliares, renovação de ciclos e cadeias tróficas etc. para, no futuro, os “peixes
voltarem aos rios”.
5’) É preciso estar atento e providente (vontade e disposição de empresas públicas e privadas)
com ações e estratégias necessárias que possam ser integradas em planos e gestões,
projetos, instrumentos legais (…). Isso, como condições que possam assegurar a
manutenção da integridade de ambientes ecoturisticos e se evitarem ou reduzirem, em
níveis toleráveis, danos de atividades monitoradas, avaliadas e controladas relacionadas na
definição do problema. Monitorar, avaliar-agir, controlar – evitar ou reparar (…) são
objetivos de ações e estratégias de planos de conservação do ecoturismo.
6’) Aumentar o acervo de dados e informações consistidas, úteis e necessárias (adequadas)
para gerar indicadores de sustentabilidade da atividade turística no local, evidenciando seus
potenciais e formas racionais de seu aproveitamento sustentável. Tais evidencias e fatos
precisam ser registrados em dados, informações e ilustrações e devem fazer partes de
estratégias da informação – comunicação e marketing ecoturístico. Devem ser dados e
informações que permitam passar do potencial para o efetivo na pesca recreativa; de formas
predatórias para as limpas e sustentáveis; aproveitar as sinergias que a região ou local
oferecem.
7’) Identificar, agrupar, caracterizar e sistematizar o turista mediante diagnósticos, estudos de
casos (….), entre outros procedimentos contemplados pela literatura especializada
8’) O conhecimento necessário do atrativo turístico no local ou região e do turista servem de
base o referência para defini o seguinte objetivo.
Conhecer e aproveitar a disposição do “visitante” ao local ecoturístico pelos bens e serviços
ambientais que lhe proporcionam “utilidades” em termos de satisfação e de bem-estar, de
tranqüilidade e lazer (…).
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

No conhecimento desses bens e serviços se colocam, por um lado, a percepção e


valorização dos benefícios gerados e oferecidos e pelo outro, a racionalidade econômica, como
atividade econômica que o ecoturismo é em termos de custo de oportunidades e custo –
efetividade.
A metodologia que se indica, sem especificação, a seguir auxilia tanto a avaliação e
valorização quanto as estimativas desses custos. São passos que precedem à cobrança pelo uso de
bens ambientais.

4 Metodologia
Os objetivos são proposições consistentes com as definições de problemas e oportunidades
de um setor (…) e que compreendem os meios para serem atingidos. Parte desses meios se
encontra em aspectos metodológicos com diversos componentes, tais como: uma base de
conceitos de alicerce ao estudo.
Entenda-se o conceito, com uma entidade abstrata do conhecimento, da comunicação (…)
que permite designar uma categoria, uma relação, um fato (…) de forma a facilitar o
entendimento, concisão e clareza do texto quando se refere a essa designação.
A metodologia compreende os dados e informações, primárias e secundárias (fontes e
meios de obtenção), que representam estados e condições da situação objeto de estudos, auxiliada
pela moderna tecnologia da informação.
Inclui técnicas e métodos para obter, sintetizar e tratar os dados na busca de explicações, de
relações, de soluções (…) incorporando os conceitos e as inferências da análise de dados. Parte
dessas técnicas se orienta para a valoração ambiental ou a determinação do valor de bens e
serviços que não possuem mercado definido. Com essa valoração se busca sinalizar o preço que
possui o bem e serviço ambiental na atividade econômica ecoturismo, tornando possível, quando
necessária e aceita, a aplicação do instrumento de cobrança para conciliar a manutenção –
proteção com a conservação de um bem público.
A hipótese, nessa conciliação, é a disposição a pagar do
beneficiário, o “visitante”, para a conservação e manutenção
desses ativos.
Essa disposição não se restringe somente a um valor a pagar que
expressa preferências dos “visitantes” pela qualidade ambiental e
utilidade ou “prazer” que esse bem lhe proporciona, mas
possibilita medir o grau de conscientização acerca da preservação
desse meio: uma percepção de danos ou melhorias em bens e
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

serviços ambientais que possam se manifestar em perdas


acréscimos de bem-estar. Com esse indicador se acena para o
mercado do bem ambiental e para cobrança da “utilidade”
auferida.
Conforme Silva (2003), a valoração ambiental constitui-se um valor de referência
indicativo da sinalização de mercado, possibilitando, dessa forma, induzir o uso racional dos
recursos naturais com tomadas de decisões políticas sobre a utilização eficientes desses ativos.
Uma possível tomada de decisão é em relação à internalização do instrumento de cobrança na
atividade ecoturística.
Entre os conceitos utilizados se mencionam os de turismo ecológico; e os da base legal, em
especial os da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), para se definir a cobrança pelo
uso da água.
O conceito de turismo ecológico se define como uma parte da atividade turística que utiliza
o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma
consciência de proteção de fontes, reservas, ciclos (…) naturais e de manejo e uso sustentável de
fluxos dessas fontes, reservas (…) incorporadas na atividade ecoturística.
A proteção de fontes (garantir a sustentabilidade) e a conservação de fluxo (garantir a
racionalidade) de bens e serviços ambientais pressupõem o conhecimento, valorização e respeito
do ambiente ao promover – fornecer o bem-estar social do “visitante”. Pressupõe, também, o
desenvolvimento em bases naturais, socioculturais e econômicas sustentáveis; o incentivo de
investimentos direcionados para a proteção, conservação e manejo; e a educação para a proteção
(prevenção) e a conservação, bem como na preparação de guias, pessoal de atendimento em
atividades correlatas de artesanato, alimentação, hotelaria etc.
No conceito de turismo ecológico são compreendidas modalidades como as do turismo
aventura, com significativo crescimento nas últimas décadas, onde as belezas naturais são
imprescindíveis para a prática de uma infinidade de atividades: recreativas, não-competitivas e de
riscos avaliados, controlados e assumidos, em diversos destinos; e do turismo pesca.
O ecoturismo, em seus fundamentos, relaciona aspectos indicativos de assuntos econômicos,
conforme se depreende (BNDES, 2000; complementado):
a) promover e desenvolver o turismo, em bases cultural e ecologicamente sustentáveis; criar
essa base, em especial de sustentação ecológica (o destaque em negrito é para fins desta
nota) pressupõe conhecer, monitorar, avaliar – controlar (…) estados e condições da
sustentabilidade: uma base / banco de dados, uma estrutura de “alimentação” dessa base;
planos de treinamento – educação (…);
b) promover e incentivar investimentos em conservação dos recursos naturais e culturais
utilizados; o incentivo de investimentos de uma atividade sustentável implica racionalidade
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

dessas aplicações; a atividade deve ser rentável, porém não à custa do meio ambiente
omitido dessa contabilidade;
c) fazer com que a conservação [um ato de uso com sustentabilidade ambiental] beneficie,
materialmente, comunidades envolvidas, pois, somente servindo de fonte de renda
alternativa, estas se tornarão aliadas de ações conservadoristas que compreendem custos e
benefícios econômicos;
d) ser operado de acordo com critérios de mínimo impacto [mais do que isso, critérios
indicativos de impactos toleráveis e capazes de serem assimiláveis pelo meio ambiente], de
modo a ser uma ferramenta de proteção e conservação ambiental e cultural;
e) educar e motivar as pessoas para que percebam a importância [a necessidade] de se
conservar a cultura e a natureza; tanto a educação como a motivação pressupõem o
desenvolvimento de ações definidas no campo econômico, entre outros.
Os conceitos de bens e serviços ambientais que fundamentam a atividade turística e que
possibilitam, sob determinadas condições, a cobrança pelo uso desses recursos como forma de
discipliná-los na gestão ao proporcionar o uso múltiplo das águas, são de especial importância e
valor. São bens e serviços que se incorporam à atividade econômica do ecoturismo e que pela
racionalidade econômica tem um custo que não pode ser colocado em um passivo ambiental.
Os ambientes e recursos naturais geram diversos bens e serviços que, direta ou
indiretamente, são insumos de uma função de bem-estar. Alguns são valorados com relativa
facilidade por estarem compreendidos pelo mercado; é o caso de bens ambientais utilizados na
produção alimentos. Outros, como os insumos do ecoturismo, obtidos diretamente do meio
ambiente, por não possuírem preços de mercado, são difíceis de serem mensurados e
internalizados em sistemas contábeis. Mas essa dificuldade não exime o setor de contribuir
economicamente na proteção dessas fontes, de mitigar outros setores impedidos de utilizarem
esses recursos. São insumos com atributos essenciais para o ecoturismo e tem um custo de
oportunidade e um valor de existência, de opção / quase-opção (…) que essa atividade
econômica, se sustentável, não pode ignorar.
Associados ao conceito de serviços ambientais como insumo de atividades dos PUALT
aparecem outros conceitos e fundamentos; um desses fundamentos é o da racionalidade da
cobrança pelo uso da água sendo, para tanto, necessário ajustes (às condições, às possibilidades
etc. do ecoturismo) em outros instrumentos da PNRH, tais como os da outorga, enquadramento e
plano de recursos hídricos. São ajustes para possibilitar o cumprimento, por parte do setor, de
objetivos como os de “assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo
exercício dos direitos de acesso à água”, “assegurar às águas qualidade compatível com os seus
usos mais exigentes a que forem destinadas” e “fundamentar e orientar a implementação [dessa
Política] e o gerenciamento dos recursos hídricos”, respectivamente, na bacia hidrográfica.
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

Os serviços ambientais são processos e funções ecológicas necessárias para manter o


equilíbrio, a estrutura e o padrão de comportamento-resposta ou a capacidade dos ecossistemas, de
reservas, estoques e fontes de fluxos para o desenvolvimento sustentável e a sobrevivência e bem-
estar de toda a coletividade. Esse equilíbrio, estrutura e capacidade são fundamentais para o
ecoturismo.
A conceituação operacional dos serviços ambientais inclui, entre outras ações, medir e
registrar possíveis fatores ou causas de danos ambientais, para: indicar como evitá-los com
oportunidade e menores custos; limitar ou impedir condições que possam provocar danos às fontes
e comprometer os fluxos de serviços ambientais; e minimizar, em níveis toleráveis, ou corrigir
danos às reservas, estoques ou fontes naturais dos fluxos de serviços ambientais.
É possível e desejável determinar, na função de produção de pescadores, a contribuição
econômica, real e efetiva, desses bens e serviços no processo econômico ecoturístico. Não é
economicamente sustentável que esse processo apenas internalize benefícios e vantagens
traduzidas em estímulos, por vezes de sobre-exploração, desses bens e serviços.
É preciso que a atividade econômica ecoturistica assuma os custos quando:
a) incentiva ou promova evitar desperdício, poluição, descuido, apanha-coleta de material (…)
do “visitante” no local; ou em complementação – sinergias de atividades com maior valor
agregado;
b) limita ou disciplina procedimentos, técnicas e métodos que, ainda ditos “mais eficientes”
(por exemplo, pesca computadorizada), sejam inapropriados para as condições naturais e
socioculturais locais;
c) prepara, dota e mantêm estruturas atualizadas e eficientes para o atendimento ao “visitante”;
d) investe para criar e manter um banco de dados e informações e de indicadores ecoturisticos
para informar, comunicar e planejar – desenvolver ações como as de marketing.
Ao relacionar os serviços ambientais de um local ou região se tem:
a) os de aproveitamento de atributos valorizados quando o “visitante” se dispõe a pagar (por
exemplo, pelo prazer, lazer, divertimento, efeitos curativos etc.) pelo uso desse bem;
b) os de regulação ambiental como os de proteção da qualidade da água em balneários; e
c) os de enriquecimento e melhoria da qualidade da vida como os de recreação e estéticos.
Têm-se, também, os beneficiários como pagadores que recebem o serviço ambiental e os
recebedores que aplicarão os recursos para proteger, mitigar, recuperar, manter (…) os atrativos
turísticos.
Mencionam-se alguns conceitos econômicos em que a atividade do ecoturismo se define a
partir da perspectiva de uma função demanda, isto é, do resultado econômico do consumo
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

realizado por “visitantes” com motivações naturais e econômicas geradas no local visitado, e com
a disposição a pagar. Esse resultado representa a importância do consumo ecoturístico
diferenciado de acordo com: bens e serviços característicos do ecoturismo; produtos conexos ao
ecoturismo; e produtos específicos do ecoturismo.
Conceitos como os de externalidade, poluidor – pagador, propriedade e outorga e,
principalmente, valoração de bens e serviços ambientais em termos de:
a) valor de uso: a disposição a pagar e custo de oportunidade, refletindo o valor de uso direto e
o valor de uso indireto atribuído à função ecológica desses recursos e ambientes naturais;
b) valor de opção: a disposição que um indivíduo estaria disposto a pagar para usufruir no
futuro e não no presente;
c) valor quase-opção: reter a opção de futuro por causa de possível desenvolvimento
tecnológico;
d) valor de existência: valor do atributo enquanto participa do equilíbrio ecológico ou é parte
de uma demanda derivada.
São considerados na cobrança pelo uso dos recursos hídricos.
Existem vários métodos e procedimento de valoração por bens e/ou serviços ambientais,
entre eles o de valoração contingente, em que se identificam e avaliam, mediante pesquisas
amostrais, as preferências dos “visitantes” em relação aos recursos ambientais, com dados que
possibilitam criar mercados hipotéticos traduzindo a disposição a pagar para proteger ou para
evitar alterações em atributos ambientais.
Entre os fundamentos e conceitos da PNRH, destacam-se os seguintes:
a) “a água é um recurso limitado, dotado de valor econômico”; cap. I, art. 1º., item II
(negritado ausente da fonte consultada).
O fato dos recursos hídricos serem limitados e com alternativas de alocação entre múltiplos
usos, em determinados locais ou regiões, os colocam no contexto da economia do bem-
estar (GARCIA, 2008) seja como bens privados (não considerado pela legislação
brasileira) ou como bens públicos (no art. 1º., inciso I da Lei no. 9.433, de 8 de jan. de
1997, estabelece como fundamento, “a água é um bem de domínio público”), bens de
pedágio ( ) e bens de acesso livre (…).
Se como bens públicos ou como bens de mérito, esses recursos se identificam, no contexto
da economia, pela forma como se aplicam os conceitos de rivalidade e de excludência,
considerados, junto com o de valorização dos bens e serviços, na cobrança pelos atributos
desses bens e serviços na perspectiva de demanda do serviço oferecido pela atividade
econômica ecoturismo.
14
Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

Como se internaliza o conceito de rivalidade nas atividades de pescadores? Os bens e


serviços ambientais provenientes de uma beleza paisagística (isto é, de um conjunto de
atributos naturais de um local, de uma praia, de um rio piscoso, de uma cachoeira, de uma
floresta nativa (…) impõem, para os concorrentes, um custo de não-uso, de preservação
(…) ao impedir sua incorporação em outras atividades como a extração de areia, pesca
industrial, aproveitamento hidráulico, desmatamento para a agricultura (…).
Um exemplo claro da água indisponível para suprir um uso – consuntivo é o de ficar
indisponível para outros usos. Em tese, o turismo com base em um sistema hidrológico não
é consuntivo e, portanto, não estaria, aparentemente, colocando a água como bem rival.
Contudo, o ecoturismo exige qualidade e quantidade da água, como preservar o potencial
hidráulico de uma cachoeira, a beleza de uma floresta (…).
A fonte preservada desse serviço para o ecoturismo “deve” compensar a indisponibilidade
desses bens e serviços para outros usos.
A excludência é a característica pela qual o detentor do direito de uso que o instrumento de
outorga confere para utilizar e/ou consumir determinado volume de água, excluindo,
portanto, que outros potenciais usuários possam utilizá-lo. Não se trata apenas de um
volume, mas de características intrínsecas do recurso como um bem econômico. Atividades
econômicas não-consuntivas de água como a de geração de energia hidroelétrica (potencial
hidráulico de uma queda aproveitado) e navegação fluvial (calado “exigido” e não vazão)
podem ser afetadas pela “exigência” das atividades de pescadores em manter os atrativos
paisagísticos. Por isso, deverá compensar pelos serviços ambientais que se traduzem em
argumentos de sua função de demanda para evidencia a valoração desses bens e serviços.
Tais conceitos e sua operacionalização implicam negociações, articulações e acordos à luz
de um plano de recursos hídricos.
b) “a gestão de recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas”: cap. I,
art. 1º., item IV. Entre tais usos se têm os relacionados às atividades ecoturísticas.
Em determinadas bacias hidrográficas tais atividades, aparentemente, não são concorrentes
com outras como as de saneamento básicos, indústria e agricultura em que são feitas
captações – derivações, diluições - transporte comprometendo caudais, vazões, qualidade
da água etc. Entretanto, uma análise criteriosa indica que há, por parte de pescadores, uma
demanda em termos de quantidade e, principalmente, qualidade, limitando o potencial de
diluição, de transporte (…) de um sistema hidrológico.
c) “assegurar, à atual e as futuras gerações, a necessária disponibilidade de água em padrões
de qualidade adequados aos respectivos usos”; cap. II, art. 2º., item I.
d) “a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas,
econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País”; cap. III, art. 3º., item II.
15

A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

Na metodologia aparecem os procedimentos, técnicas e métodos para atingir os objetivos


conforme a natureza dos problemas. Parte desses procedimentos e técnicas se orienta para a
obtenção, tratamento, síntese e inferência da análise de dados.
Na parte que segue se ilustra uma possível aplicação de procedimento e técnica de obtenção de
dados para a valoração ambiental necessária e antecedente à instituição da cobrança pelo uso da
água no ecoturismo.

5 Resultado esperado de simulado estudo de caso


Dos problemas, objetivos e conceitos apresentados se tem vários resultados, um deles é a
necessidade de intervenções, tanto pública e comunitária como privada, na gestão integrada de
fontes de bens e serviços ambientais, não apenas pela existência e uso de bens públicos, 2 mas
pelo caráter econômico do setor ecoturístico; por situações de conflitos entre este setor e os
demais, usuários e beneficiários por esses bens e serviços; pela existência de externalidades e
custos de negociação; e pela crescente preocupação, inclusive da pescaria esportiva (…), pela
preservação de ambientes e conservação – manejo desses recursos.
A cobrança pelo uso – consumo de atributos da água em seu ambiente natural pode ser um
mecanismo eficiente na gestão racional e integrada das atividades do setor ecoturístico. Essa
cobrança estará condicionada à prévia operacionalização desse instrumento mediante ajustes de
instrumentos que a precedem, ou que lhes sejam concomitantes, como os de outorga de direito
de uso, enquadramento dos corpos de água e planos de recursos hídricos; condicionada,
também, pela legitimação ou conveniência e oportunidade de implantação, em determinadas
bacias, envolvendo a participação dos interessados, das comunidades (…).
Nos procedimentos da PNRH se tem a representação de pescadores nesse processo de
legitimação. Porém, é preciso que essa representação se mobilize e se articule na implementação
dessa Política.
A identificação–caracterização das atividades de pescadores em um local, junto com
diagnósticos dos outros usuários – beneficiários e o atendimento às possibilidades e expectativas
das comunidades, poderão facilitar a definição e conveniência, oportunidade e especificação da
cobrança tendo como referências e indicativos de mercado a valoração ambiental desses bens e
serviços para o turismo.

2
São todos aqueles que integram o patrimônio da Administração Pública, direta e indireta; os de domínio nacional pertencentes
as pessoas jurídicas de direito público interno; todos os demais são considerados particulares. Os bens públicos são classificados
como os de uso comum, gratuitos ou onerosos (conforme estabelecido em lei e sujeito à afetação: destinação), destinados ao uso
indistinto de toda a população como rios e parques; de uso especial, destinados para uma finalidade específica co mo o caso de um
museu; e bens dominiais que representam o patrimônio do Estado, sem afetação.
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

Ressalta-se que o sucesso na instituição da cobrança não é apenas o resultado de


racionalidade e consistência técnica para se definir a instituição desse instrumento, mas de
discussões, de educação (…) e de acordos para o destino dessa arrecadação “condominial”
dentro de um plano de recursos hídricos com horizonte de planejamento compatível com os
períodos de implantações de programas e projetos.
Um plano diretor com fundamento na bacia hidrográfica como unidade territorial para a
implantação da PNRH e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídrico.
Um plano que contemple, no mínimo, diagnósticos dos recursos hídricos; balanços entre
disponibilidades e necessidade, identificando possíveis conflitos; propostas de áreas restritas ao
uso para a proteção; e diretrizes – critérios para a cobrança.
Tais diretrizes e critérios, no caso das atividades de pescadores, devem ser específicos e
diferenciáveis das aplicáveis em outros setores usuários dos recursos hídricos.
Para ilustrar um procedimento de valoração de bens e serviços ambientais na perspectiva
das atividades de pescadores de uma região compreendida numa bacia hidrográfica e omitindo-
se, para fins ilustrativos, os “outros” usuários – beneficiários dos recursos hídricos, adota-se o
seguinte esquema:
a) Um diagnóstico detalhado da região, compreendendo o levantamento e caracterização de
“todos” os possíveis atrativos turísticos devidamente ordenados em termos de
potencialidades, limitações, temporadas e períodos críticos (…). Esses atrativos podem ser
agrupados em naturais e socioculturais. A representação desses atrativos é sintetizada por
indicadores para o planejamento e gestão.
b) Amostragens estratificadas de “visitantes” para o levantamento de dados e informações
que permitam caracterizar e agrupar perfis. Uma possível fonte de informações primárias
são as entradas e estadias dos locais turísticos
c) Preparação de meios para a obtenção dos dados. Um desses meios é a preparação, teste e
aplicação de um formulário com as seguintes variáveis (relação preliminar): identificação
(nome do “visitante”); procedência e meio de transporte utilizado; expectativas de
atendimento; percepção do meio ambiente e fonte de informação utilizada para ter essa
percepção; sexo e estado civil; idade; nível de escolaridade; renda familiar; preparação e
motivação para fazer a “visita”.
A questão – chave é [Yi (variável nível de renda); Qi (disposição a pagar / período) e Zi
(disposição a pagar / produto)], ilustrada, em parte, a seguir:
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A cobrança pelo uso da água no Brasil: os avanços recentes e as perspectivas futuras

1 Nada
2 Até R$25 / ano
3 De R$ 25 a $50 / ano
Quanto estaria disposto a pagar para “garantir” 4 de R$ 50 a R$ 100/ ano
a proteção das fontes de bens e serviços nesse local? 5 De R$ 100 a R$ 500/ano
6 Mais de R$ 500 / ano

Alternativas ou desdobramentos (Yi, Qi e Zi), tais como (apenas se ilustram três casos):

0 Nada
Quanto estaria disposto a pagar um “visitante” 2 Até R$25 / ano (temporada = T)
3 De R$ 25 a $50 / ano (ou /T)
com renda familiar menor do que R$ Y1?
4 de R$ 50 a R$ 100/ ano (ou /T)
5 De R$ 100 a R$ 500/ano (ou /T)
Quanto estaria disposto a pagar um “visitante” 6 Mais de R$ 500 / ano (ou /T)
com renda familiar entre R$ Y1 e R$ Y2? 7 Outra: ______________________
A1 Até R$ Q1 / visita 3 dias ou menos
Quanto estaria disposto a pagar um “visitante” A2 Até R$ Q2 / visita 3 a 5 dias
com renda familiar entre R$ Y2 e R$ Y3? A3 R$ Q3 / visita de mais de 5 dias
A4 Outra: _________________
Quanto estaria disposto a pagar um “visitante” B1 Até R$ Z1 / “pague-solte” / dias /kg
com renda familiar maior do que R$ Y3? B2 Até R$ Z2 / “pague-solte” / T/ etc.
B3 Outra: _________________

Como principal resultado esperado dos procedimentos indicados se terá uma base de dados
necessária para a valoração de bens e serviços ambientais. Essa valoração, com referências e
validações baseadas (lastro) em resultados citados na literatura especializada, acenam para um
contexto de mercado (para esses bens ambientais) como passo intermediário para se definir a
cobrança afeiçoada às características e propósitos do setor ecoturístico no contexto da PNRH.
Significa uma cobrança não por volumes de captações, derivações, despejos, capacidade de
auto-depuração etc., mas em função de indicador de qualidade ambiental, de opção de uso, de
equilíbrio ou ajuste de usos múltiplos, de disposição de pagamento de “visitantes”, de ajustes em
instrumentos da PNRH (…), entre outros fatores condicionantes e determinantes dessa possível
cobrança.
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Uma perspectiva de cobrança pelo uso de recursos hídricos no setor de lazer e turismo

6 Conclusões e recomendações
A base de dados apenas na forma indicativa (parcial e/ou incompleta) e os problemas /
oportunidades, objetivos e metodologia gerais não permitem inferir nem concluir. Por outro lado,
a proposta do trabalho é de incitar à reflexão e provocar a discussão no contexto da cobrança
pelo uso da água no Brasil, com indicações de alguns avanços e de perspectivas futuras.
Contudo, com base em estudos citados no texto, é possível antecipar que um programa de
incentivo – promoção as atividades de pescadores deve ser feito com base em fundamentos da
sustentabilidade em diversas e integráveis dimensões (por exemplo, biótico-abiótica, social,
cultural, econômica, político-institucional etc.), aqui destacada a proteção de fontes e a
conservação manejo dos recursos hídricos. Foi destacada, também, a necessidade da valoração
de bens e serviços ambientais, com a sua indicação de mercado e seu nexo com a cobrança pelo
uso da água.
Grande parte da informação, fragmentada e simplificada, foi obtida de Garcia (2008), ainda
não publicada, porém possível de ser disponibilizada no estado em que se encontra por meio
digital a quem estiver interessado e s a solicitar.

Referências
BIANCHIN, I.; MELO, H. J. de; BOOCK, A. Por onde andam os nossos turistas Pescadores?
Disponível em: < http://www.embrapa.br/embrapa/imprensa/artigos/2005/ artigo.2005-09-
15.0313159757>. Acesso em 26 de ago. de 2008.
BNDES. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Rio de Janeiro: BNDES, 2000.
GARCIA, EAC. Recursos hídricos no Brasil: síntese de diagnósticos físicos temáticos e de
fundamentos legais e técnicos para a cobrança. Brasília, Mapa/Embrapa, 2008. 854 p.
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. Economia do turismo. Uma perspectiva
macroeconômica 2000-2005. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. (Estudos e pesquisas. Informações
econômicas, 7).
ORÇAMENTO do turismo deve chegar a R$1,8 bilhões em 2007. Disponível em: http://www.
ecoviagem.com.br/fique-por-dentro/noticias/turismo/orcamento-do-turismo-deve-chegar-a-r-1-8-
bilhao-em-2007-6488.asp. Acesso em: 6 de set. 2008.
SILVA, R.G. Valoração do parque ambiental "Chico Mendes", Rio Branco – Ac: Uma aplicação
probabilística do método Referendum com bidding games. Viçosa: UFV, 2003. 125 p.
Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Universidade Federal de Viçosa, 2003.

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