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SUJEITO DO ENVELHECIMENTO

1. USO FREQÜENTE DE EUFEMISMO PARA NOMEAR A


VELHICE E TUDO A QUE ELA SE REFERE:
 Tentativa falida de suavizar o peso que a palavra
“velho” causa em nossa sociedade.
 A velhice não pode ser nomeada sem provocar medo
e rejeição.

2. VELHICE É COLOCADA NA CATEGORIA DOS


“IRREALIZÁVEIS SARTREANOS”: não podemos
reconhecer a velhice em nós mesmos, só podemos vê-la
nos outros, embora eles tenham a nossa idade (Simone de
Beauvoir, 1970).

3. PROCESSO CONSTANTE DE CONSTRUÇÃO DA


SUBJETIVIDADE NA VELHICE: “não existe um ser velho,
mas um ser envelhecendo”.

4. O SUJEITO VELHO NOS FALA (NA VIDA E NA CLÍNICA)


DE QUE?

 Temporalidade e morte: consciência da finitude – o luto


pela própria vida
 Limitações do corpo: corpo imaginário que se nega a
envelhecer e que não se reconhece no espelho.

5. QUESTÃO DO OUTRO NA NOSSA CONSTITUIÇÃO


COMO SUJEITOS.
a. O indivíduo tenta coincidir com as expectativas que os
outros (especialmente os pais) têm a seu respeito, ser
a imagem que pode satisfazê-los.
b. O indivíduo se identifica com os valores da cultura e
do social

6. SUSPENSÃO DAS QUESTÕES IDENTIFICATÓRIAS NA


VELHICE (momento de concluir do próprio sujeito)

a. FRACASSO DO PRIMEIRO MOMENTO


IDENTIFICATÓRIO
Falha de representatividade no outro /
Impasse narcísico (posição suspensiva em termos
narcísicos)
O sujeito não se encontra narcisicamente em uma
imagem que o sustente

IMAGINÁRIO:
Eu fortemente desvalorizado
Perda do valor narcísico da imagem
Desnarcisação do sujeito – causadora da depressão e
demência

ESPELHO NEGATIVO
Inquietante estranheza
Fantasias de castração, impotência e aniquilação.
Fim das fantasias de imortalidade e imutabilidade
Fim da onipotência – consciência da deterioração
Aceitação do domínio inelutável da pulsão de morte e,
apesar disso, continuar lutando.

b. FRACASSO DO SEGUNDO MOMENTO


IDENTIFICATÓRIO
Falha de representatividade no Outro
Impasse quanto à referência ao pai (posição suspensiva
em relação às identificações fálicas)
Não encontra no campo social e no discurso uma
referência para poder se reconhecer: se nas sociedades
tradicionais, a figura do velho representava sabedoria,
paciência, transmissão de valores da ancestralidade e
detinha a memória coletiva; na sociedade contemporânea,
a figura do velho não é reprodutor de vida e nem produtor
de riqueza e, portanto, nada vale (inútil e decrépito).

SIMBÓLICO
Perda do valor social e valor simbólico positivo
Processo de descategorização e de exclusão /
Lugar de marginalização

CONSEQÜÊNCIAS:
Crise:
Via do ato – suicídio – se não há novas soluções
identificatórias.
Via da sublimação – trabalho psíquico – o criativo da
solução sublimatória.

7. OBJETIVOS DA ANÁLISE:

A velhice em psicanálise é um tempo lógico de construção


de um trabalho psíquico em termos de simbolização do real
que se impõe ao sujeito nesta fase da vida.

Imaginarização e simbolização do real do envelhecimento

O analista, na posição de Outro Primordial, deve


presentificar uma escuta e um olhar narcisificantes,
sustentando e reatualizando uma aura narcísica quando
esta já se desvaneceu.
Esta imaginarização é o que permite a ocupação de um
lugar simbólico diferente: lugar que lhe cabe na cadeia
geracional (testemunha de um passado e de um ponto de
origem da cadeia geracional) e lugar na pólis (analisar os
fatos presentes à luz de sua experiência).

CONCLUSÃO: Deve ser realizado um trabalho psíquico


(des-envelhecência) no sentido de que o sujeito possa
simbolizar as questões que surjam na velhice para manter
a sustentação psíquica. Se o declínio é físico, não é
necessariamente precisa ser psíquico (conjugar um corpo
que envelhece e uma subjetividade que se mantém
desejante).

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