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História Medieval de Portugal

1.A Península Ibérica antes da criação de Portugal

1.1. A Península Ibérica Visigoda e Muçulmana


1.2. O período de expansão do reino asturiano-leonês
1.3. A Dinastia de Navarra e reestruturação do Condado de Portucale e da Terra de
Coimbra

A partir do século VIII árabes mas, sobretudo berberes do Norte de África foram-se
instalando como colonos. Tanto nas cidades como nos campos, muçulmanos
sedentarizados desde muito civilizados, ao lado de tribos de costumes mais primitivos,
vieram radicar-se na Península.

Pode-se mesmo dizer que colonizaram pela primeira vez, concorrendo com os Romanos,
no desbravamento dos futuros Estados Ibéricos. Todo o sul e centro do Portugal actual,
até à região do Mondego ou porventura do Douro, com ocasionais estabelecimentos
para o Norte deste, conheceram a presença dos colonos muçulmanos.

A Língua:

Dos idiomas falados no território do futuro Portugal desapareceram todos os anteriores ao latim,
que fora trazido pelos invasores romanos a partir do século I a.C. Contudo o desaparecimento
não foi imediato, coexistindo durante séculos, falares mediterrânicos, não indo-europeus, falares
indo-europeus pré-célticos e célticos, e falares latinos. No latim introduzido pela administração e
pela colonização romanas havia diferenças. O latim literário, língua da escrita e, portanto, língua
da administração, era um deles, ajudando a manter a unidade entre os vários dialectos. A um
nível inferior, o latim vulgar, falado pelos militares e pelos colonos, variava ainda consoante a
proveniência geográfica dos seus locutores.
Ao verificar-se a conquista muçulmana em começos do século VIII, falavam-se na faixa
ocidental da P.Ibérica, além do latim literário (mais escrito do que propriamente falado), dois
dialectos romances principais: o galaico-português a norte do Douro e o lusitano a sul. Foi
sobretudo sobre o lusitano que incidiu o peso ou influências da língua dos invasores (árabes e
berberes).

Entre o ano 16 e 13 a.C. as reformas administrativas de Augusto dividiram a Península


Ibérica em três províncias: Bética, Terraconense e Lusitânia. Mais tarde, entre 284 e
288-89 d.C. Diocleciano criou duas outras províncias: a Cartaginense e a Galécia. Para
fins judiciais cada província dividia-se em unidades menores, chamadas conventus. No
primeiro século da nossa era este sistema conventual já estava bem estabelecido.

Abaixo dos conventus havia as civitates ou civitas, com relevo para o seu povoado
capital de onde irradiava toda a administração. Eram de várias categorias, consoante a
maior ou a menor romanização dos respectivos habitantes. As chamadas «colónias de
cidadãos romanos» e os «municípios de cidadãos romanos» contavam-se entre as
principais, com um grau de autonomia máximo. Tinham as suas leis próprias e elegiam
as suas autoridades locais. Ex: Olisipo (Lisboa), Pax Iulia (Beja), Scallabis (Santarém).

Algumas cidades, capitais de civitas, emergiam como centros de relevância maior, quer
política quer económica. Foi nelas que se desenvolveu o cristianismo, religião

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essencialmente urbana. Pelos finais do período romano, a maioria delas era residência
de bispos e capitais de distritos religiosos conhecidos como dioceses. A partir dos
séculos III a V surgiram as dioceses de Faro, Évora, Lisboa, Braga e Chaves.
Os Suevos e os Visigodos não trouxeram consigo grandes alterações a este panorama
administrativo.

A civitas entendida apenas como povoado-capital, e o seu território circunvizinho, o


territorium, foram suprimindo aos poucos, para fins administrativos e políticos, tanto o
conventus como a província. Isto queria dizer que a unidade política primeira e os
problemas locais iam tendo cada vez mais importância, em oposição directa à existência
de uma centralização geral e eficiente. Para fins práticos, a província (por vezes
chamada ducado, porque o seu chefe era agora um duque), deixou de ter qualquer
significado real.

Durante a época visigoda, o enfraquecimento da autoridade provincial deu realidade


única ao conventus, não porque desempenhasse qualquer papel de relevo na justiça ou
na administração, mas porque a organização episcopal, sobrepondo-se a ele, o garantia e
fixava.

O conventus iria desaparecer também como grande unidade administrativa. À medida


que o cristianismo se expandia, novos bispados se iam fundando dentro da mesma área
conventual. E estes, tornavam-se as unidades administrativas básicas acima das cidades
e dos territórios. Na Lusitânia, novas dioceses surgiram durante os séculos VI e VII:
Beja, Coimbra, Viseu, Lamego. A norte do Douro fundaram-se bispados em Portucale
(Porto), Dume e Tui.

A conquista árabe (século VIII) respeitou e manteve por toda a parte as unidades
administrativas existentes. Só as denominações mudaram. Por todo o Islão,
estabeleceram-se emirados, cada qual correspondendo a uma província ou grupo de
províncias. Abaixo dos emirados existiam outras unidades de administração menores.

Apesar de tudo, a organização administrativa muçulmana sobrepôs-se com inevitáveis


adaptações e alterações, à romana, fortalecendo costumes e autonomias de séculos.
Quando a Reconquista começou e a «ordem» cristã foi gradualmente submergindo todo
o Ocidente da Península Ibérica, nada de essencial fora mudado nas fronteiras e nas
tradições administrativas.

Os romanos, ao quererem centralizar a administração, civilizar e pacificar as tribos


indígenas, construíram uma vasta rede de estradas, ligando regiões que até então se
tinham mantido em relativo isolamento. Tornaram-se assim possíveis comunicações
mais fáceis entre todas as províncias e todos os conventus.

Deste sistema de comunicações salientam-se dois factos: a existência de duas áreas mais
desenvolvidas (uma a norte do Douro e outra a sul do vale do Tejo) separadas por uma
vasta região de menor povoamento; e a ligação por estrada entre o sul e o norte
ocidental, que pôs essas duas áreas em contacto permanente e fácil.

A rede viária romana expandiu-se um pouco nos séculos posteriores ao apogeu da


romanidade. O surto de alguns povoados levou à necessidade de construção ou
ampliação de caminhos. Isto verificou-se sobretudo no sul, durante o período islâmico.

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Ao que parece havia mais povoados a sul do Tejo do que a norte. A situação explicava-
se pelo próspero comércio e artesanato que caracterizavam todo o sul da Península.
Ambas as regiões (norte e sul) eram predominantemente agrárias mas não há dúvidas
que tanto o comércio como a nevegação desempenharam no sul um papel muito maior.

Entre os povos bárbaros que invadiram a Península Ibérica nos começos do século V os
Suevos desempenharam um dos papéis principais. Chegando por terra ou por mar, já em
411 haviam atingido o distante Noroeste estabelecendo-se na Galécia (Galiza) e a pouco
e pouco, emergia um forte reino.

Depois de se terem visto livres dos Alanos e dos Vândalos, os Suevos ficaram sós e
dividiram a província com os indigenas. Escolheram as zonas rurais para se fixarem e a
população romana das cidades pôde viver pacificamente. O número dos Suevos era
escasso mas souberam mostrar grande combatividade especialmente para com os
Visigodos, outro povo germano, mais civilizado que entrara na Península mais ou
menos pela mesma data que os Suevos.

Pelos meados do século V, apogeu dos Suevos, este povo exercia soberania sobre a
Galécia e parte da Lusitânia. Porém quis a sorte que os Visigodos chegassem ao próprio
coração da monaquia sueva. Porém, quer como tributários dos Visigodos quer
coexistindo com eles numa área reduzida, o reino dos Suevos conseguiu durar mais cem
anos, embora limitado ao extremo noroeste. A conversão dos seus monarcas ao
catolicismo, empreendida por S. Martinho de Dume (550), levou à conquista definitiva
pelos Visigodos (585), que eram na altura arianos.

Os Visigodos: Entrada e fixação na P. Ibérica

Enviado pelos próprios romanos, o rei germânico Valia (Visigodos), irá tentar colocar em ordem
os povos bárbaros que ocupavam a Península Ibérica em 416. São então duas as zonas de
ocupação: a Bética (ocupada pelos Vândalos, que entretanto acolhem também os Alanos e outros
Vândalos sobreviventes dos ataques dos Visigodos) e a Galécia (ocupada pelos Suevos).

Instalados no sul de França, os Visigodos irão, na segunda metade do século V, começar a


instalar-se gradualmente em zonas rurais da Península Ibérica. Essa colonização passa a ser
definitiva já no século VI (1), pois entretanto as tréguas com os romanos chegam ao fim. Os
romanos preferem um pacto com os Francos e estes vão progressivamente empurrando os
Visigodos para sul (2).

Até 585 há uma certa situação de paz entre Suevos e Visigodos até porque, depois das
campanhas punitivas dos Visigodos em 456, os Suevos tiveram de se converter ao arianismo
(eram antes disso, crentes do cristianismo católico saído do Concílio de Niceia em 325) e
partilhavam agora a mesma fé que os Visigodos (3).

Após a aniquilação da dinastia dos Baltos (Visigodos), estes passam a enfrentar um período de
grande instabilidade, com guerras civis entre as mais poderosas famílias. Não havia consenso de
como restaurar o poder visigótico: se através de uma monarquia hereditária ou monarquia
electiva. Esta situação irá durar cerca de 200 anos.

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Após a sua conversão ao cristianismo católico de Niceia, o século VII surge para os Visigodos
como uma época de esplendor. A fusão entre os Visigodos e as populações hispano-romanas
instaladas já há muito na região é então favorecida e surge uma classe eclesiástica bastante
produtiva encabeçada por homens de grande estatuto como Santo Isidoro de Sevilha (bispo). Dá-
se também a unificação das leis que estavam redigidas em dois códigos distintos: um para os
Visigodos (Código de Eurico) e outro para as populações hispano-romanas (Código de Alarico).

1) As fronteiras do Império Romano estavam já bastante fragilizadas. O primeiro momento de perigo foi o saque
de Roma por Alarico em 410.
2) Esta acção bélica contra os Visigodos foi camuflada pelo facto de este povo germano ser adepto do
Arianismo, uma heresia.
3) Os Visigodos professavam o Arianismo desde o século III.

Para a formação de Portugal interessa sobretudo salientar a organização eclesiástica dos


Suevos. A existência do seu reino fez agrupar sob uma mesma autoridade eclesiástica (o
metropolita ou arcebispo de Braga) dioceses meridionais que antes dependiam de
Emérita (Mérida) por estarem localizadas na Lusitânia. Esta unidade persistiu até 660.

Dos Visigodos também ficaram algumas influências em épocas posteriores: o Liber


Judiciorum, as várias cerimónias para legitimar o poder real, certas instituições muitas
das quais originárias dos romanos.

Os Muçulmanos desembarcaram na Península Ibérica com objectivos não totalmente


definidos em 711. Cinco anos mais tarde, grande parte do território se achava nas mãos
do invasor. A Lusitânia e a Galécia caíram em 712-716.

Como prenúncio à invasão dos Muçulmanos podemos identificar a situação política


caótica dos Visigodos no século VIII. Morrera o rei Vitiza, e como até então não fora
estabelecido um modo de sucessão directo do trono, houve lutas pelo poder. Por um
lado haviam os dois filhos do rei defunto, e do outro Rodrigo, eleito pelo senado
hispano-romano.

Rodrigo pertencia a uma família influente e poderosa e a guerra civil que se instala vai
ser-lhe favorável. Por essa razão os dois filhos de Vitiza necessitavam de apoio externo
e pediram-no aos Muçulmanos que entraram facilmente pelo sul, estando na altura
Rodrigo em Pamplona. A ajuda dos Muçulmanos não tardou a tornar-se uma invasão e
consequente conquista da Península Ibérica.

A Península Ibérica, ou seja a parte conquistada pelos Muçulmanos transformou-se


então numa província do Califado Omíada de Damasco, com épocas de transição de
autoridades (filhos de Vitiza e Muçulmanos) de cerca de dez anos. Durante esse tempo
afluíram à Península Ibérica vários individuos, árabes, berberes, sírios, egípcios...que se
fixaram mas que, exceptuando os árabes, nunca formaram uma massa coesa com os
muçulmanos.

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A Reconquista cristã começou apenas várias décadas depois, resultando de uma rebelião
favorecida por migrações de nobres e de soldados cristãos e por revoltas de berberes
muçulmanos, após estes terem atravessado críticos períodos de fome e de escassez sem
que as autoridades predominantemente árabes os tenham apoiado (740).
Por esta altura o Califado Omíada de Damasco vivia os seus últimos dias e instalava-se
no poder o Califado Abássida (750) com sede em Bagdade. Estas turbulentas querelas
também eram sentidas na Península Ibérica.

A partir de 756 funda-se o Emirado de Córdova que se manterá até 1008, ainda que
desde 929 esse Emirado tenha passado a Califado. Afonso I das Astúrias, aproveitando
as fragilidades do Califado Omíada recentemente destruído pelos Abássidas, e
intitulando-se sucessor directo do último monarca godo, conseguiu em poucos anos
conquistar um vasto território que à sua morte, em 757, abrangia as Astúrias, a actual
Galiza e Entre-Douro-e-Minho, ultrapassando mesmo, esporadicamente o rio Douro.

A partir de então e durante cinco séculos o espaço do Portugal de hoje esteve dividido
entre cristãos e muçulmanos com avanços e recuos de parte a parte. Entretanto é
importante explicitar a formação do reino das Astúrias. A sua capital foi primeiramente
Cangas de Õnis sendo o reino essencialmente de características bárbaras. Dominavam o
nomadismo e a organização política não era muito organizada.

Só com Afonso II (finais do séc. VIII e inicios do séc. IX) se começa a organizar o reino
a nível político e sobretudo militar. Devido à tensão que ainda se fazia sentir entre os
Muçulmanos e as populações da P. Ibérica (quer estas já se tivessem convertido à
religião islâmica (malados) ou não (moçárabes)), o exército de Afonso II chegou a
apoiar malados e moçárabes em revoltas contra as autoridades muçulmanas.

Para a corte das Astúrias vão também as elites do Al-Andaluz descontentes com o
governo dos Muçulmanos, e vários membros do clero. Esta era então uma verdadeira
corte real, denominada neo-visigótica. Apoiando toda esta centralização do reino
asturiano, funda-se uma nova capital em Oviedo, e ainda igrejas e mosteiros. Por esta
altura o reino das Astúrias converte-se à religião cristã.

Também no reino das Astúrias serão adoptadas várias características visigóticas: Liber
Judiciorum, cerimónias de coroação, convocação de concílios, o estilo da corte, a
aparência física dos reis (à maneira de Leovigildo).

Afonso III, além de várias campanhas militares contra os Muçulmanos, muda também a
capital para Leão, muito melhor localizada do que a anterior, e será a partir deste
momento que se passa a denominar reino Asturiano-Leonês.

Junto à zona fronteiriça ficava o reino de Navarra onde estavam instalados os Bascos.
Os Muçulmanos fizeram campanhas punitivas contra Navarra mas nunca demonstraram
intenções de lá permanecer.

No ano 800, Carlos Magno era coroado pelo papa como Imperador, e as tropas
carolíngias perseguiam os Muçulmanos nos Pirenéus. Isto levou a uma influência dos
carolíngios a nível cultural e civilizacional na zona de Aragão e dos condados catalães.
O reino de Navarra não sofre esta influência com tanta intensidade, mas as suas igrejas e
mosteiros eram liderados por monges e clérigos carolíngios.

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É também a partir de 800 que os eclesiásticos de Oviedo entram em ruptura com os de
Toledo. Há algum tempo, o bispo de Toledo, tentando evitar a conversão da população
ao islamismo simplificara o dogma cristão, alterando a base da Santíssima Trindade. A
teoria do bispo de Toledo ficou conhecida como Adopcismo, e contra ela surge a
reforma dos clérigos das Astúrias: surge então a Igreja Asturiana; tentam-se recuperar as
dioceses que estavam sob a tutela de Toledo; criam-se novas dioceses em cidades e
recuperam-se algumas dioceses romanas, sendo uma delas Bracara Augusta (não
estando esta cidade no território Leonês, transfere-se a sua autoridade eclesiástica para
Lugos, que passa a ser a principal diocese do reino Asturiano-Leonês)1. Nos reinos de
Navarra, Aragão e nos condados catalães predominava a autoridade da Igreja romana.

Haviam portanto, na Península Ibérica, três dogmas católicos diferentes, com liturgias
distintas. As Igrejas de Toledo e de Oviedo possuíam bases completamente diferentes
do dogma católico romano.

A Reconquista foi marcada por sucessivos espaços de fronteira, zonas mais ou menos
longas e mais ou menos «terras de ninguém», caracterizadas por diminuta segurança,
desorganização administrativa, povoamento rarefeito e destruição intermitente,
acentuada nos povoados maiores. Foi o que sucedeu na Galiza e em Entre-Douro-e-
Minho, cuja reorganização e repovoamento só começaram, com garantias de
continuidade, em meados do século IX.

Portucale (Porto) teve um papel de relevo neste movimento, salientando-se a actividade


de um dos seus governadores, Vimarano Peres. Pelos finais do século IX, muitos dos
bispos cristãos, fugidos ao invasor e à guerra, estavam de regresso às suas dioceses.
Dentro do reino das Astúrias (ou de Leão, como passou a ser chamado depois do século
X), as grandes unidades para fins administrativos eram Astúrias, Leão, Galiza e Castela.

Chamavam-se terras e o seu governo confiava-se a um conde, igualmente chamado


duque. Havia outros condes que administravam unidades mais pequenas, igualmente
chamadas terras ou territórios. Em finais do séc. IX, o território para sul do Lima e para
norte do Douro foi desmembrado da Galiza e entregue a um governador separado. Este
funcionário surgiu com o título de duque pelo menos a partir de meados do século X. A
nova unidade política tinha por sede Portucale, uma das primeiras cidades a ser
repovoada.

O território de Portucale estava dividido em pequenos condados denominados terras.


Uma família de nobres latifundiários locais passou a governar a nova unidade por
delegação quase feudal de Leão. Trava-se de Vimarano Peres e depois seu filho. Porém,
estes governaram territórios mais pequenos do que o território que o conde Diogo
Fernandes terá governado depois e a quem sucedeu o seu genro Mendo Gonçalves e
depois os seus descendentes.

A sul do Douro os territórios conquistados formavam outra província, Coimbra, onde


não se processou a transmissão hereditária do governo. Esta terra terá sido governada,
durante algum tempo por um moçárabe, Sismundo Davidiz.

1
O mesmo sucede com a diocese de Iria que é transferida para Compostela com toda a sua importância
relativa aos restos de Santiago, agora feito santo de Compostela e transformando esta cidade num centro
de peregrinação.

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O crescimento e a força cada vez maior de Portugal (ainda não totalmente uma unidade
política), constituíram um problema para o rei de Leão e Castela, Fernando I, e para a
sua política centralizadora. Desde 1050, o rei substituiu o governador Mendo Nunes por
funcionários por ele nomeados e mais fáceis de controlar.

Expansão de Navarra:

Até ao séc. XI há uma predominância, na P. Ibérica, do reino de Leão (reino Asturiano-Leonês). Este
reino conseguiu ocupar várias terras que estavam abandonadas desde os séculos VIII e IX. O reino
de Navarra encontrava-se numa situação delicada, encravado entre o reino de Leão e o condado de
Aragão e condados catalães. Porém, no século XI o reino de Navarra consegue grandes vitórias sobre
os seus vizinhos cristãos e expande-se também para sul (Al-Andaluz). Os condados de Aragão,
Ribagorza, Palhares e Sobrarbe são nesta altura integrados no reino de Navarra. Este dirige o seu
expansionismo para o condado de Castela. Quase em meados do século XI, sob o reinado de Sancho
III, o Magno, Navarra recebe um pedido de auxílio do conde de Castela contra o rei de Leão. A
consequência disto foi a posterior anexação de Castela por Navarra, sendo que Sancho III chegou
mesmo a anexar uma parte do reino leonês. O clima de instabilidade do primeiro período de taifas
(1009-1080) foi aproveitado por Sancho III, que comandava também um exército à altura,
especialmente devido aos mercenários que o integravam. O reino de Leão estava pois fragilizado
mas a situação alterou-se completamente quando Sancho III morreu. O rei dividiu o reino pelos seus
4 filhos: Garcia (reino de Navarra), Fernando (condado de Castela, parte conquistada do reino de
Leão), Gonçalo (condados de Sobrarbe, Ribargoza e parte do condado de Aragão), Ramiro
(condado de Aragão). Desta partilha resultou uma guerra entre os irmãos. Garcia e Gonçalo foram
mortos, e a disputa continuou entre Fernando e Ramiro. O primeiro passa a ser rei de Castela e anexa
parte do reino de Leão e do reino de Navarra enquanto que Ramiro se intitula rei de Aragão que é
constituído pelo condado de Aragão, parte de Navarra e os condados de Sobrarbe e Ribargoza.
Pouco depois, Fernando invade o reino de Leão e após matar Afonso V, casa com a sua filha e
legitima assim o seu novo cargo de rei de Leão e Castela e o seu novo título de Imperador da
Hispânia com o nome Fernando I, o Magno. Após a morte deste o seu reino será dividido pelos seus
3 filhos: Sancho II (Castela), Afonso VI (Leão) e Garcia (Galiza). Sancho II e seu irmão Garcia não
viveram muitos anos, e por essa razão, Afonso VI surgiu como único rei dos territórios hispânicos.

Assim, durante quase duzentos anos, todo ou grande parte do norte de Portugal
manteve-se unido sob a mesma família, com um governo central rudimentar, uma corte
ducal estabelecidade a norte do Douro e problemas comuns consequentes. Ainda parcela
do reino Leonês, achava-se relacionado com os seus negócios políticos. Mas a coesão
fora já iniciada, existindo total separação da Galiza.

A partir do século IX, a ruína e o desmembramento do Califado de Córdova, que


unificara e robustecera toda a Península Ibérica sob o domínio islâmico, levaram à
criação de vários reinos chamados taifas alguns deles com dinastias de quase cem anos.

A tendência para a desagregação no Al-Andaluz acompanhava a feudalização de quase


toda a Europa. O fraccionamento do Califado e as lutas em que se envolveram muitos
dos reinos de taifa favoreceram os cristãos e o progresso da Reconquista. Em meados do
século XI, os avanços do rei de Leão e Castela, Fernando I, conquistando Coimbra e

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ameaçando o vale do Tejo, induziram o rei de Badajoz (na altura um reino de taifa), a
pedir auxílio aos Almorávidas.

Os Almorávidas haviam erguido um império no norte de África e sentiu-se desde logo a


ameaça que representavam para a independência dos pequenos reinos de taifa. Os
Almorávidas desembarcaram na P. Ibérica, repeliram de facto os cristãos mas
resolveram ficar e reunificar a Península sob o seu domínio. Invertendo as alianças, o rei
de Badajoz pediu ajuda aos cristãos, abrindo-lhes as portas de Santarém e de Lisboa
(1093), mas em vão. O poder Almorávida tornara-se forte de mais. Todo o al-Garb lhes
caiu nas mãos (1094-1095). Pouco depois as duas referidas cidades eram recuperadas
pelos invasores e a fronteira muçulmana atingia novamente a bacia do Mondego.

Os reinos de taifa não duraram o bastante para criar um conjunto político unificado na
Península. Os seus chefes nunca assumiram o título de Califa nem mesmo de rei.
Acentuaram-se no entanto os localismos durante a sua existência. E as parcelas locais
do al-Garb tornaram-se, na verdade, as melhores aliadas dos cristãos na consecução da
Reconquista.

2.Portugal: de condado a reino

2.1.O Condado Portucalense


2.2.De condado a reino
2.3.A constituição do território de Portugal

Os reis de Leão, como herdeiros teóricos dos soberanos visigodos adoptaram o título de
imperador, que começaram a usar, embora esporadicamente, a partir do início do século
X. Fernando I (1037-1065), seu filho Afonso VI (1072-1109) e seu bisneto Afonso VII
(1126-1157) procuraram impor uma autoridade suserana a todos os soberanos da
“Espanha”, incluindo os Muçulmanos, a quem cobraram tributos sempre que puderam.
Como imperadores, podiam e deviam ter reis como seus vassalos. E foi essa relação
entre reis e imperador, que contribuiu para o nascimento de Portugal como reino
autónomo.

Pelos fins do século XI chegaram à Península Ibérica, com o objectivo de combater o


infiel e ajudar os príncipes cristãos contra a ameaça Almorávida, vários contingentes de
cavaleiros “franceses”. A maioria dos cavaleiros e dos seus chefes havia sido recrutada
entre os filhos-segundos dos grandes senhores, a quem escasseava terra e glória. Um
deles era Raimundo, conde de Amous (quarto filho de Guilherme I, conde da Borgonha).
Raimundo tinha um condado muito pequeno e de pouca importância na região.

O objectivo da sua segunda vinda à Península Ibérica foi já bem diferente, pois fora
chamado como noivo de Urraca, única filha legítima e herdeira do imperador Afonso VI
e de Constança, tia do duque da Borgonha Eudo I. Este casamento fora mesmo apoiado
por Constança e pelos beneditinos da congregação de Cluny, cujo abade Hugo, era tio
da rainha Constança.

Raimundo chegou acompanhado pelo primo Henrique, também ele sem grande
apanágio. A este foi dada em casamento uma filha bastarda do imperador, Teresa. A

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ambos, concedeu Afonso VI como feudos os três territórios fronteiriços do extremo
ocidental que convinha colocar em mãos aguerridas e experientes, pela sua situação de
risco: a Galiza (a norte do Minho), Portugal (entre os rios Minho e Douro) e Coimbra (a
sul do Douro). Henrique recebeu em 1096 os dois condados mais meridionais, Portugal
e Coimbra.

Ao seu suserano, e sogro, o conde D. Henrique ficava ligado pelos habituais laços de
vassalagem feudal: devia ser-lhe fiel e leal e prestar-lhe ajuda e conselho quando
necessário. Fê-lo sempre pelo menos até à morte de Afonso VI. Confirmou diplomas
imperiais o que prova que era chamado às cúrias de Afonso e nelas participava. Ajudou
sempre o sogro em campanhas militares e ia com frequência à sua corte.

Raimundo morreu em 1107 e Afonso VI em 1109. Urraca herdou a coroa mas não o
título imperial por ser mulher. O seu segundo casamento com Afonso I de Aragão
(1109)2 inaugurou um estado de guerra civil quase constante que iria durar até à sua
morte em 1126. Afonso VI investira conjuntamente o governo da Galiza em Urraca e
em seu filho Afonso Raimundes com a condição de que este último governaria apenas
se a mãe casasse novamente.

Assim que Urraca casou com Afonso I, os nobres exigiram que esta cláusula fosse
respeitada, porque isso lhes dava mais margem de manobra já que Afonso Raimundes
era ainda bastante jovem. Esta situação ajuda a explicar a definitiva separação de
Portugal da Galiza. O conde D. Henrique nunca se comprometeu com qualquer dos
partidos preferindo o lado vencedor e mantendo a liberdade de acção.

De 1109 até à sua morte em 1112 ou 1114, deixou de cumprir os deveres feudais
embora sem se revoltar abertamente. D. Teresa herdou tanto o governo como a política
do marido. Conseguiu manter uma relativa independência mas não com tanto sucesso
pois foi forçada a acatar os chamamentos da irmã, Urraca, para ir a Oviedo em 1115 e
teve, mais tarde, de lhe prestar homenagem (1121). D. Teresa conseguiu no entanto
conservar todo o Portugal e ainda lhe acrescentou alguns pequenos feudos.

A morte de Urraca pôs Afonso Raimundes no trono (1126) com o nome de Afonso VII.
O novo monarca terá em 1127 feito uma campanha que visava sobretudo manter a tia, D.
Teresa em submissão. Surge então a figura do jovem D.Afonso Henriques. Cercado em
Guimarães teve de se render e prometer vassalagem ao primo. Em seu torno reunira um
grupo de nobres que se opunham ao governo de D. Teresa e do seu valido, o conde
Fernando Peres de Trava.

Uma rebelião interna deu a Afonso Henriques uma vitória na Batalha de S.Mamede em
1128. D. Teresa e o conde de Trava fugiram para a Galiza e não mais regressaram. Dois
anos depois a condessa morre mas o seu filho permanece mais activo do que nunca. De
1128 a 1137, Afonso Henriques esteve em quase permanente rebelião contra o primo,
Afonso VII. Afonso Henriques desejava provavelmente a expansão territorial do seu
feudo e aspirava ao título de rei.

No período de 1128-1137 havia na “Espanha” cristã, além do rei-imperador de Leão e


Castela, dois outros reis governantes, o de Aragão e o de Navarra. O título de rei não

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Este casamento foi mais tarde anulado.

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implicava independência no sentido de uma quebra completa dos laços feudais. Além
disso, Afonso VII de Leão e Castela fizera-se proclamar imperador nas cortes de Leão
em 1135. Sendo do interesse do imperador ter como vassalos reis, este não se opôs em
demasiado à ambição do primo. O que não podia aceitar era um rebelde como rei e por
isso exigia submissão, lealdade e amizade.

Em 1137 alcançou-se uma primeira paz tendo sido assinado em Tui um acordo com as
cláusulas feudais típicas entre vassalo e senhor. Mas as hostilidades regressaram e em
1140, Afonso Henriques invadiu a Galiza enquanto Afonso VII entrava em Portugal.
Por essa altura, ao que parece, Afonso Henriques já se apresentava como rei. Mas, só
em 1143 pôde ser negociado um acordo definitivo de paz com a intervenção de um
legado papal 3 . Não era ainda a independência mas o caminho abria-se. Agora era
necessário negociar na Itália.

O grande objectivo era obter o reconhecimento do Papa, tanto para o título como para o
reino. À maneira feudal, Afonso Henriques encomendou Portugal à Santa Sé e
considerou-se, com todos os seus sucessores, vassalo lígio4 do Papa. Prometeu pagar
todos os anos um tributo de 4 onças de ouro. Contudo, Afonso Henriques não tinha o
direito de dispor de Portugal como se de um reino alodial se tratasse. Sabia-o
perfeitamente, tal como o sabiam os embaixadores leoneses que, mais tarde, o iriam
contradizer junto do Papa.

Este respondeu-lhe em 1144: não estava na política de Roma em “Espanha” apoiar


tentativas de separação mas antes de promover a união política sob a chefia suprema de
quem pudesse facilitar a luta contra o Islão. Afonso VII de Leão era o preferido do Papa.
Embora louvando os feitos de Afonso Henriques e aceitando-lhe o tributo, o Papa Lúcio
II chamou-lhe apenas dux (duque) portugalensis, e a Portugal chamou terra.

Iria levar 35 anos ao monarca português a modificar a disposição do papado. Também


lhe custou importantes privilégios concedidos à Igreja e o aumento anual dos tributos
pagos. Só então o Papa Alexandre III reconheceu Afonso Henriques como rei e o seu
Estado como reino, em 1179.

Entretanto muito mudara na monarquia leonesa. Depois da morte de Afonso VII, em


1157, os seus dois filhos, Fernando e Sancho dividiram o reino entre si. Fernando
herdou Leão e a Galiza e reinou com o nome de Fernando II, enquanto Sancho
conservou Castela e reinou como Sancho III. Os dois reinos permaneceram separados
até 1230. O título de imperador foi abandonado.

Desde esta altura, ou seja, desde a morte de Afonso VII, que Afonso Henriques não
tinha qualquer motivo para se sentir ligado por um acto de vassalidade teórica feita para
com um imperador que já não existia. A luta por um Portugal autónomo esteve
relacionada com certos problemas de administração eclesiástica. Foi acompanhada pela
luta entre os arcebispos de Braga e os de Toledo.

O arcebispo de Toledo a quem o Papa garantira, nos finais do século XI, o primado
sobre toda a “Espanha”, deparou com a resistência do de Braga consciente dos seus

3
Aparentemente, Afonso VII aceitava Afonso Henriques como rei, mas faltava a aceitação do Papa.
4
Os vassalos puderam, a partir de determinada altura, ter vários senhores. O juramento ligio era feito
apenas ao senhor principal ou favorito.

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privilégios e tradições como metropolita da Galiza. Com Afonso Henriques, todas as
dioceses de Portugal se unificaram uma vez mais sob o primado de Braga.

O longo reinado do primeiro monarca português (1139-1185) ajudou à consolidação do


novo Estado. Afonso Henriques conseguiu largo prestígio interno e externo ao lograr
todo o ciclo inicial de vitórias sobre os seus adversários leoneses e muçulmanos que fez,
mais tarde, esquecer alguns desastres. Fixou a fronteira cristã no Tejo, protegendo-a
com a construção e reparação de fortificações poderosas. O surto demográfico ajudou à
prosperidade do reino e à popularidade do soberano, permitindo migrações internas e o
começo de um movimento mercantil.

Os sucessos da Reconquista autorizaram uma farta distribuição de benesses pela


nobreza, cimentando o seu apoio ao monarca. Também o clero foi contemplado, quer o
secular, quer o regular – monges cistercienses, cónegos regrantes augustinianos – quer
ainda as novas ordens militares: Hospitalários e Templários.

Em 1146, o rei casou com Matilde, filha de Amadeu III, conde de Sabóia, sobrinha-neta
do conde D.Raimundo. A relação matrimonial anunciava a manutenção dos laços com a
Borgonha, de onde o conde D.Henrique era originário. Durante os 12 anos de casamento
nasceram pelo menos 7 filhos, cujos sobreviventes o rei teve a preocupação de casar
com governantes ou filhas de governantes da Península Ibérica ou fora dela,
conseguindo assim forjar contactos internacionais que o acreditassem.

Entre Portugal e Leão e Castela foi possível manter a paz durante quase uma geração. A
morte do imperador Afonso VII abriu no entanto caminho para uma mudança. Fernando
II de Leão e Sancho III de Castela tentaram então travar o avanço português para sul. A
morte de Sancho III, deixando um filho menor em 1158, isolou o irmão e criou querelas
que puseram frente a frente as duas facções do ex-império. Afonso Henriques, no seu
próprio interesse, imiscui-se nelas. Uma primeira guerra com Leão (1160-1165) saldou-
se com vantagens para Portugal.

Fernando II teve de reconhecer em Pontevedra a personalidade do reino português,


casando até com Urraca, filha de Afonso Henriques. Três anos depois os dois Estados
entraram novamente em desacordo (o casamento de Fernando e Urraca fora anulado por
motivos de parentesco). Os portugueses atacaram a Badajoz muçulmana (1169). A
chegada de reforços leoneses converteu o ataque português em debandada e Afonso
Henriques caiu do cavalo partindo uma perna acabando por ficar prisioneiro. A
obtenção da liberdade custou-lhe a renúncia às conquistas feitas.

Impossibilitado de montar a cavalo, Afonso Henriques associou ao trono, logo em 1170,


o jovem herdeiro Sancho. Os vinte anos que se seguiram foram assinalados por
vigorosas campanhas militares, quer de conquista, quer de razia, quer de defesa, contra
os Muçulmanos.

Em 1189 (já Afonso Henriques tinha morrido), D.Sancho I esteve prestes a concluir a
Reconquista portuguesa, ocupando com auxílio dos Cruzados, Silves e todo o Algarve a
ocidente. Contudo, as poderosas contra-ofensivas de Al-Mansur, sobretudo em 1190 e
1191, fizeram-no de novo perder todo o Alentejo, exceptuando Évora. No avanço de
1190, os muçulmanos passaram mesmo o Tejo e chegaram a Torres Novas.

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A política de relações internacionais deste reinado seguiu a anterior: era preciso
cimentar e fortalecer o Estado no plano externo. Os contactos de amizade com Aragão,
fundamentais para conter o expansionismo leonês-castelhano, começaram em 1174 com
o casamento do então infante D.Sancho com Dulce, irmã do soberano de Aragão,
Afonso II. Foram estabelecidas relações com a Flandres, com Castela e com Leão.

No plano interno, o reinado de D.Sancho I (1185-1211) caracterizou-se pelas suas


tarefas importantes de repovoamento ou de arroteamento de zonas bravias, servidos pelo
surto demográfico do período, atingindo praticamente todo o país a norte do Tejo. O rei
favoreceu as duas novas milícias de Santiago de Espada e Calatrava, mas não esqueceu
Templários e Hospitalários. Mostrou-se menos liberal para com as ordens religiosas
não-militares e para com o clero secular, consciente do seu perigo como forças políticas.

Com D.Afonso II (1211-1223) inicia-se um estado latente de guerra feudal que vai
caracterizar os 40 anos que se seguem. Houve conflitos sociais, opondo grupos dentro
da nobreza e dentro do clero, e fazendo intervir pela primeira vez como força de pressão,
a população urbana dos cavaleiros-vilãos, mercadores e mesteirais. A influência das
doutrinas centralizadoras da Coroa tendia a cavar um fosso entre o rei e os grandes
senhores.

Todo o governo de D.Afonso II foi marcado por conflitos e atitudes desta natureza.
Servido por conselheiros firmes e de espírito «avançado» (Julião Pais até 1215 e
Gonçalo Mendes depois dessa data), o rei não hesitou em desafiar a nobreza, o clero e o
próprio Papa. Contestando o testamento de seu pai no que respeitava aos feudos
concedidos às irmãs, o rei provocou uma guerra civil que o ocupou durante mais de 3
anos (1211-1214).

Contra si, D.Afonso II viu levantar-se uma coligação em que entravam seus irmãos,
nobres, clárigos, o rei de Leão Afonso IX e o Papa Inocêncio III. Depois de vários
combates D.Afonso II viu-se constrangido a apelar ao Sumo Pontifice e a submeter-se,
aceitando uma solução de compromisso e o pagamento de avultada soma ao papado.

Readquirindo o controle sobre o reino, o monarca atacou novamente os grandes


possidentes mediante a imposição de confirmações gerais aos títulos de propriedade e a
realização de inquirições em Entre-Douro-e-Minho e parte da Beira. Já antes
promulgara as primeiras leis de desamortização dirigidas contra a Igreja (1211).

Os últimos três anos de governo foram novamente de conflito, embora não armado,
entre a Coroa e o alto clero secular. O rei teve por aliada a população de algumas
cidades (Coimbra e Guimarães). Excomungado em 1220 pelo Papa, D.Afonso II ter-se-á
reconciliado com a Igreja quando estava já próximo da morte em 1223. Favoreceu os
Cistercienses, as novas ordens mendicantes e os Templários. Embora não participasse
nelas, autorizou expedições militares de reconquista e readquiriu definitivamente
Alcácer do Sal em 1217.

Com o seu filho D.Sancho II (1223-1248) deu-se um agravamento das tensões, o


descalabro da autoridade central e por fim a queda do monarca. Por vezes, D.Sancho II
apresentava um dirigismo exagerado como o revelaram as leis de desamortização que
promulgou, outras vezes o rei, mal aconselhado, submetia-se ora aos ricos-homens da
antiga nobreza ora a representantes de novas categorias senhoriais.

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Fez grandes concessões às ordens religiosas-militares, entregando-lhes praticamente
todo o Alentejo e parte do Algarve. A abdicação das responsabilidades do poder central
face ao senhorialismo mostrou-se também, nas tarefas de repovoamento e de arroteia,
ante o número elevado de forais concedidos por senhorios eclesiásticos e laicos e o
número relativamente diminuto de cartas régias que lhes dissessem respeito.

A anarquia e os desmandos dos senhores, extensivos ao próprio rei e a seu irmão


Fernando de Serpa, descontentaram quer a pequena nobreza quer o povo quer a Igrejo.
Além disso também não era visto com bons olhos a protecção dispensada pelo monarca
às ordens mendicantes, nessa época olhadas com apreensão e inveja por boa parte das
outras ordens e do clero secular.

Os bispos queixavam-se constantemente ao Papa e a situação foi-se deteriorando a partir


de 1240. O Papa Inocêncio IV, convencido pelo alto clero português de que Sancho II
não tinha condições para continuar a governar, acabou por desligar todos os seus
súbditos da obediência devida, ordenando-lhes que aceitassem D.Afonso (irmão de
Sancho II) como “visitador” do reino. Este aceitou o encargo e depois de solenes
promessas feitas ao clero, de que lhe respeitaria os privilégios (1245).

D.Afonso, em França desde a adolescência, conde de Boulogne-sur-Mer pelo casamento,


desembarcou em Lisboa, qie o apoiou. Seguiu-se uma guerra civil (1246-47) que foi
favorável ao conde. D.Sancho II fugiu para Castela (que o ajudar no conflito) e lá
faleceu em 1248.

3.A estruturação do reino de Portugal

3.1.As estruturas de povoamento


3.2.A estruturação do Poder Régio
3.3.O desenvolvimento das relações internacionais
3.4.Redes peninsulares de poder
3.5.A sociedade e a economia

Em meados do séculp XII a maior parte do povoamento era disperso. Haviam poucos
centros urbanos mas em contrapartida existia um grande número de unidades rurais de
exploração da terra por onde se espalhavam os habitantes. Braga era a grande cidade do
norte e Coimbra a “capital” do sul. A estas cidades seguia-se o Porto e outras
localidades mais pequenas.

O aumento demográfico dos séculos XI e XII chegou a Portugal e isso é demonstrado


nos forais onde se mostra o povoamento recente em várias localidades. Regiões que
nunca haviam sido sistematicamente povoadas passam a sê-lo. O crescimento
populacional afectou também as unidades rurais existentes. Acelerou-se o parcelamento
da antiga villa romana para permitir um maior rendimento uma vez que aumentava o
número de filhos por casal.

Começaram migrações locais de área para área, e do campo para a cidade. As arroteias,
quer de bosques quer de baldios, ajudaram a resolver o problema. Foi por este tempo
que se fundaram vilas e aldeias novas no sentido de povoados. Este movimento afectou

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sobretudo o Minho e vale do Douro. Também se continuava a preencher os espaços
vazios causados pelas campanhas da Reconquista e destruições.

Em cada villa o sistema primitivo de organização económica e social atribuía grande


parte da terra ao proprietário, que directamente a explorava: era o paço, que também
incluía a casa de morada, as casas dos trabalhadores, os estábulos, os celeiros e a igreja.
O restante estava dividido em parcelas concedidas de forma precária a vários tipos de
detentores: eram os casais, as quintas e os vilares.

Cada casal dividia-se ainda em glebas que podiam não ser pedaços de terra contínuos. A
desintegração gradual da villa resultou na autonomia prática do casal. Heranças ou
simplesmente a necessidade, podiam levar à partilha de uma villa mas não lhe
afectavam a unidade. O mesmo acontecia dentro de cada casal.

Grande parte da terra pertencia à Igreja. A Reconquista cristã respeitara os direitos de


propriedade, onde quer que existissem, mas transferira para os bispos e para os recém-
fundados mosteiros boa soma dos bens pertencentes às mesquistas muçulmanas.
Enormes doações feitas por monarcas rivalizavam com os legados de reis e nobres.

D.Afonso II foi o primeiro monarca a atraver-se a desafiar a Igreja, proibindo compras


de terras pelos institutos religiosos, mas permitia aquisições particulares por parte dos
clérigos. D.Sancho II continuou a política do pai com alguns resultados, não só
efectivando as primeiras leis de D.Afonso II como também decretando novas medidas
que proibiam compras particulares pelo clero e até doações e legados à Igreja.

O rei5 era também um senhor fundiário. O seu património fora adquirido por confisco,
quer de terras fiscais (bens do fisco muçulmano), quer de terras cujos proprietários
haviam desaparecido ou tinham morrido sem descendência. A sua fortuna incluía ainda
rendas e tributos sobre os seus novos súbditos. Ainda assim, o rei concedia a parentes, à
nobreza, ao clero, a bravos combatentes e clientes, parcelas várias em extensão e
rendimentos, o que reduzia o seu património e por vezes punha em perigo a sua posição
de riqueza face aos seus súbditos.

Uma outra parte dos bens fundiários e móveis estava nas mãos da nobreza. Adquiridos
fosse por doação real fosse por direito de conquista, acrescidos depois por usurpações
de concessões precárias régias em propriedade alodial, o património da nobreza
espalhava-se por todo o reino. Foi no reinado de D.Afonso II (1211-1223) que se
tomaram as primeiras medidas contra o seu poderio.

O monarca ordenou que todos os títulos de propriedade resultantes de doações régias


lhe fossem apresentados para que os confirmasse. Esta medida foi seguida por um
sistema organizado de inquirições, ordenadas em 1220. Seguiram para o Minho (onde
as usurpações e a confusão eram maiores) comissões régias para determinar a natureza e
a condição jurídica dos títulos e os direitos possuídos pela Coroa em termos de terras,
rendas e padroados religiosos. A morte do rei e a subida ao trono do jovem Sancho II
impediram o prosseguimento de tais medidas. A autoridade real não era ainda
suficientemente forte e estava descentralizada para poder fazer face a estes abusos.

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Em áreas de difícil povoamento ou administração o rei geralmente entregava-as às ordens religiosas-
militares ou às ordens monásticas. Este privilégio podia-lhes ser retirado pelo monarca.

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Uma menor área, composta por terras alodiais estava nas mãos de pequenos
proprietários livres. Haviam também as terras comuns exploradas por comunidades
agrárias ou mesmo urbanas. Isto ajudava a travar um feudalismo excessivo.

A estrutura social era típica das formas feudais. Dentro dos seus senhorios (chamados
coutos se fossem da Igreja, e honras se fossem da nobreza), os senhores detinham
autoridade plena para todos os efeitos, embora o rei conservasse os direitos de justiça
suprema (expressa pelo exclusivo direito de decretar a pena de morte e talhamento dos
membros). Aí vivia uma população composta de servos, ligados à terra que cultivavam,
impedidos de a deixarem mas também de serem expulsos dela, e obrigados ao
pagamento de uma renda proporcional à produção do ano.

A mobilidade social dessa classe, causada pela Reconquista, impediu a estagnação da


classe, contribuindo para libertar grande número de servos, que voluntariamente
deixavam os seus senhores, quer com licença deles quer fugindo.

Em torno do paço, vivia outro tipo de servos, cujos laços para com o seu senhor se
mostravam mais pessoais e cujos deveres estavam relacionados com tarefas domésticas
ou artesanais. Não possuíam terras e por isso dependiam exclusivamente do senhor
(alimentação, vestuário, etc). Parte do paço compunha-se aliás de terra, embora o seu
cultivo fosse assegurado pelas jeiras dos servos (2 ou 3 dias de trabalho semanal), o
senhor tinha os seus próprios feitores, fiscais e outra gente mais humilde.

O rei mostrava-se um senhor como qualquer outro, e a situação social e económica dos
habitantes das suas terras (reguengos) não deveriam ser muito diferentes.

Além dos servos haviam outros trabalhadores rurais, tais como artifices e criados de
casa, que teoricamente podiam dispor da sua pessoa e dos seus bens, sair das terras ou
deixar livremente os seus senhores. Os laços que os prendiam baseavam-se antes em
contratos de arrendamento ou de trabalho assalariado, mas a sua situação económica
não era muito diferente da dos servos. Podiam ainda ser despedidos ou receber ordem
de despejo das terras e casas onde viviam. A sua única vantagem era a de poderem
adquirir terra própria ou de se mudarem para dentro da área dos concelhos, onde a sua
promoção social e económica já era possível.

Aqueles mais ricos viviam em geral dentro da área do concelho 6 , que praticamente
governavam. Se dispunham de rendimentos suficientes para ter um cavalo e ir à guerra
recebiam o nome de cavaleiros-vilãos. Todos os outros entravam na categoria de peões.

Haviam outras actividades possíveis além da agricultura e artesanato, como o comércio


e os serviços. Muitos cavaleiros-vilãos e peões baseavam nessas actividades o seu modo
de vida e extraíam delas o seu estatuto social.

Entre os nobres surgem confusas distinções sociais devido ao surto de uma nova
nobreza durante os séculos XI e XII. Havia um pequeno grupo de favoritos régios e
proprietários locais, os ricos-homens. Abaixo destes vinha uma outra camada de
aristocratas terratenentes, descendendo na sua maioria de antigas famílias de homens
livres dos períodos romano, suevo e visigodo. Este grupo de infanções, cavaleiros e
6
Os concelhos eram comunidades livres, através de um foral, mas mesmo assim tinham de respeitar a
autoridade do monarca como rei.

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escudeiros ressentia-se com o poderio dos ricos-homens. Muitos destes pequenos-
nobres estavam ligados por laços feudais aos ricos-homens, a quem serviam como
vassalos.

O clero possuía pouca individualidade e a sua coesão mostrava-se muito mais na


religião do que no plano económico. Nas fileiras superiores os bispos, os abades e os
mestres das ordens militares eram grandes senhores feudais. Abaixo deles havia um
grande número de clérigos com níveis desde a baixa-nobreza até condições inferiores de
servidão.

Quanto às actividades económicas, a principal fonte de riqueza era a agricultura e a


criação de gado. Mas também se dava um papel de relevo à pesca e ao sal. A maior
parte da economia tinha um carácter local. Cada villa ou pequeno grupo de villae tendia
a ser suto-suficiente e geralmente conseguia-o.

Grande parte do comércio local fazia-se em géneros. Existia a circulação monetária mas
estava longe de generalizada ou exclusiva. Eram os almocreves quem se especializava
na comercialização à distância, transportando nos seus animais a mercadoria. O
almocreve não era, na maior parte das vezes, um comerciante. Servia apenas de
transportador por conta de outrém.

Outra forma de comercializar era no mercado, local onde se reuniam negociantes e


produtos vários. Pelo menos nos povoados maiores existiam mercados diários, semanais,
mensais ou anuais. Para estes últimis o termo utilizado era feira. Com exclusão de umas
quatro já existentes no séc. XII e começos do séc. XIII, as feiras só tiveram início em
1229 e com continuidade e generalização a partir de 1255.

Sempre existira comércio, terrestre e marítimo, entre o espaço português e os demais


reinos cristãos da Península Ibérica e também com o sul islâmico. A expansão geral dos
séculos XI a XII incrementou essas ligações comerciais, mas a grande novidade foi a
abertura do comércio marítimo com o Norte europeu, mais devido a iniciativas
estrangeiras do que a esforços portugueses.

Pouco depois os mercadores portugueses obtiveram cartas de segurança e de isenção ou


diminuição fiscal por parte das autoridades das regiões onde iam. Os ingleses parecem
ter sido os primeiros a favorecer o comércio lusitano: o rei João Sem Terra concedeu-
lhes segurança em 1202-03 e mais tarde abriu-lhes todo o espaço dos seus domínios,
que incluía uma parte da França.

Portugal estava dividido em terras ou territórios, cujo número sempre se mostrou


flutuante. Regra geral, cada terra correspondia a uma unidade política de suserania
feudal ou seja um senhorio, mas esta regra estava cheia de excepções. Regra geral,
também, cada terra era governada por um tenente, de nomeação ou confirmação régia,
que se identificava com o senhor e suserano local. Porém, por vezes, os reis entregavam
várias terras a um único tenente ou administrador por parte da Coroa. Em todos os casos,
as terras compreendiam sempre um ou mais julgados.

Para fins religiosos, os bispados faziam as vezes de grandes unidades administrativas. A


norte do rio Lima, todas as terras pertenciam ao bispado de Tui, na Galiza. Existia o
arcebispado de Braga entre o Lima e o Ave-Vizela. A sul deste situava-se o bispado do

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Porto. Seguia-se o de Coimbra que englobava os antigos bispados de Lamego, Viseu e
Idanha, que só foram repostos em meados e finais do séc. XII.

Os bispados dividiam-se em arcediagados, cada qual correspondente mais ou menos a


uma terra. À unidade religiosa mais pequena chamava-se paróquia ou freguesia. A
freguesia surgira como substituta do antigo paço rural, sempre que o seu senhor deixara
de constituir a fonte de protecção eficaz e o símbolo da riqueza e da autoridade junto da
população de cada villa. Em vez dele foi o padre da paróquia (ou o abade do mosteiro)
que se tornou o chefe respeitado de muitas comunidades.

A administração central pertencia ao rei e seus conselheiros, alguns com cargos bem
determinados como a chefia do exército (alferes-mor), a chefia da casa real (mordomo)
e a detenção do selo real (chanceler). Com D.Afonso II começaram a usar-se registos
dos actos reais, que se conservavam juntamente com o selo real e as outras insígnias do
poder. Datam deste monarca as primeiras leis gerais.

Favoritos régios, funcionários e membros da família real formavam um pequeno grupo


de pessoas que o rei frequentemente convocava e escutava. Era a sua cúria. Quando
havia assuntos importantes a discutir, o rei chamava um grupo mais amplo, incluindo
bispos, arcebispos, abades, chefes da nobreza, mestres das ordens militares, etc. Foi
dessas convocações que derivou o princípio de assembleia ou cortes do reino. A cúria
real funcionava também como tribunal.

A norte do Mondego, grande parte das terras ocupadas pelos cristãos foram-no na forma
de presúria. Tratava-se da simples ocupação de uma terra vaga. Houve vários tipos de
presúria, umas dirigidas e organizadas por qualquer autoridade (rei, Igreja, nobres),
outras resultantes de um acto individual de ocupação. Originaram por vezes actos de
abuso e violência e tiveram de ser regulamentadas mais tarde.

A acção das ordens militares ajudou a impedir as presúrias. No sul grande parte das
vitórias da guerra pertenceu às ordens militares de Santiago, Calatrava (Avis),
Templários e Hospitalários. A distribuição da terra no sul era completamente diferente
da do norte.

Para si (ou para os seus protegidos) o rei guardava a parte essencial das novas
conquistas: as cidades e os grandes povoados. Todos eles eram organizados em
concelhos, mas os impostos, a administração superior, os lagares, os fornos, etc.
pertenciam ao rei. Depois de deduzidas áreas maiores ou menores conhecidas como
termos, e que faziam parte do povoado, o rei praticamente doava o resto às ordens
militares, aos nobres, e também às ordens religiosas não-militares ou monásticas (como
as mendicantes).

Devido aos movimentos da população originados pela Reconquista, foi necessário


regulamentar certas questões, especialmente porque as pessoas levaram com elas novos
usos e leis para os locais para onde migravam. A algumas áreas reconquistadas eram
concedidos, por reis ou senhores (clérigos ou nobres), forais. O seu objectivo consistia
em definir e precisar os sistemas de impostos e a administração da justiça e não a
organização municipal.

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Todos os magistrados tinham de receber confirmação por parte do senhor da cidade, que
era muitas vezes o rei. A auto-administração era reduzida pelo sistema de impostos e
pelas limitações da esfera política.
Cada concelho possuía a sua própria assembleia de notáveis ou homens-bons 7
(pequenos proprietários ou ricos mercadores). Estes elegiam os magistrados. Os 2 ou 4
alcaldes eram os dirigentes e representantes da comunidade. O almotacé, também eleito
controlava a vida económica do concelho.

O rei era representado por um alcaide8 (se havia castelo ou cidadela) ou juiz (exercia
funções jurisdicionais), nomeados por ele. Em regra o alcaide era um nobre, mas em
muitos concelhos podia ser escolhido entre os homens-bons. Com o tempo, o cargo de
alcaide torna-se apenas um cargo honorífico (século XV), pois a partir de então os
alcaides passam a não desempenhar qualquer função de relevo.
No norte o número de concelhos9 era reduzido, quanto mais para sul mais numerosos
estes eram.

4.Portugal e a conjuntura internacional dos séculos XIV e XV

4.1.Demografia e Economia
4.2.O triunfo da vida citadina
4.3.As relações internacionais
4.4.O poder real em triunfo; a nova nobreza; o papel dos concelhos

A vassalidade, como instituição estava plenamente implementada. Concessões régias


em forma de benefício denominavam-se préstamos. Não eram, a principio, hereditários
mas depois a hereditariedade generalizou-se. Muitas concessões régias começaram
revestindo a forma de morgadios ou morgados, que implicavam inalienabilidade,
indivisibilidade e sucessão perpétua dentro da mesma família, geralmente seguindo o
direito de primogenitura e preferência masculina.

O termo honra (e, por vezes couto) parece ter-se aplicado aos senhorios de qualquer
tipo, e até aos alódios. As concessões à Igreja denominavam-se geralmente coutos, o
que o complexo dos privilégios e das imunidades do território. A imunidade era
definida como a proibição de entrada de funcionários régios, a existência de impostos da
Coroa e o exercício, pelo senhor, da autoridade pública, com autonomia administrativa,
judicial e financeira.

Em todos os senhorios, o rei tinha a última palavra nos casos de alta justiça. No séc.
XIII, a Coroa encetou como que um plano de repressão das imunidades e da plena
autonomia dos senhores feudais. O sistema das confirmações de D.Afonso II foi
acompanhado e seguido de sucessivas inquirições, que duraram até aos finais do séc.
XIV, alcançando o auge com D.Dinis. Neste reinado ficam definidas as fronteiras
definitivas do reino com o Tratado de Alcañices, assinado entre o rei português e
Fernando IV de Castela em 1297.

7
De inicio as assembleias eram constituídas por todos os vizinhos (um membro de um concelho era um
vizinho que habitasse ali há pelo menos um ano) do concelho, depois pelos homens-bons do concelho,
que são nada mais nada menos que os cavaleiros-vilãos.
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Os alcaides eram na sua maioria filhos segundo-génitos, que não sendo cabeça de linhagem, tinham de
procurar outros meios de obter fortuna.
9
Os interesses económicos do rei nos concelhos eram salvaguardados pelos mordomos e os saiões.

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As inquirições ajudaram o rei mediante o conhecimento pormenorizado dos direitos de
propriedade e das rendas devidas, a estabelecer com firmeza a sua autoridade,
impedindo abusos e periodicamente interferindo a bem de uma justiça centralizada e de
um sistema financeiro planificado.

Durante o século XIV, outras decisões régias tenderam a travar a expansão do regime
senhorial10. D.Dinis preveniu a nobreza contra abusos de jurisdição (1317), mandou os
seus funcionários impedirem a criação de novas honras (1321) e obrigou todos os
nobres a provarem os seus direitos feudais (1325). Com D.Fernando I (1367-1383), o
direito de justiça feudal foi negado à maioria das honras constituídas a partir de 1325.
No reinado de D.João I (1385-1433) restringiram-se as concessões régias aos
descendentes legítimos (desde 1384) e, depois, aos filhos varões apenas (1389). D.João
seguiu certo número de regras nas doações que fez e o seu sucessor, D.Duarte (1433-
1438) promulgou a Lei Mental (1434).

A Lei Mental11 referia que todas as doações régias só se poderiam transmitir dentro da
linha legítima e não seriam consideradas feudais. Como esta lei se aplicava tanto ao
futuro como ao passado, muitas terras reverteram para a Coroa. Algumas famílias
nobres protestaram e conseguiram ficar isentas ao cumprimento desta lei (ex. conde de
Barcelos, futuro duque de Bragança).

Foram os próprios reis os primeiros a prejudicar os seus interesses com generosas


concessões. Aos príncipes reais doaram-se grandes apanágios. D.Afonso, irmão de
D.Dinis esteve na posse de grande parte do Alentejo, o que acarretou uma luta
demorada entre os dois. No reinado de D.João I, os apanágios ainda se tornaram
maiores. A seus filhos legítimos Pedro, Henrique, João e Fernando, bem como ao
bastardo Afonso de Barcelos, doaram-se enormes quinhões de terra e da fortuna de
Portugal.

O século XV foi de turbulência civil, em parte por causa de tais doações e da


concentração final de propriedade fundiária no património de uma só família, os
descendentes de Afonso de Barcelos (Casa de Bragança).

D.Afonso III (1245-1279), D.Pedro I (1357-1367), D.Fernando e D.Afonso V (1438-


1481) contaram-se entre os mais generosos reis medievais. A família Meneses nos finais
do século XIV e três ou quatro outras (incluíndo os Meneses e Braganças) durante o
século XV podiam comparar-se em riqueza, prestígio e poder a alguns senhores feudais
franceses e alemães. Porém, é certo que este poderio não durou.

O feudalismo implicava a inexistência tanto de liberdade individual quanto de


propriedade privada, quer a nível do vilão quer a nível do nobre.
O sistema dos aforamentos ou emprazamentos, com sua forma precária de concessão de
bens, cobria todo o reino e afectava quase toda a população. Grandes proprietários
doavam herdades maiores ou menores a vilãos, do mesmo modo que as tinham recebido
do rei.

10
Pode-se distinguir entre os senhorios territoriais (terras onde os senhores tinham o poder económico,
jurisdicional e administrativo) e os senhorios jurisdicionais (parte das terras não pertencem ao senhor,
podendo pertencer a ordens religiosas, mas podem cobrar os respectivos impostos).
11
Ficam consagrados os princípios da masculinidade e primogenitura.

19
Na maioria dos casos, os aforamentos ou emprazamentos faziam-se a agricultores
individuais (foreiros), perpetuamente, com diversas condições, como o pagamento de
um foro de parte da produção, geralmente ⅓ ou ¼, a prestação de serviços no paço, etc.

A costa ocidental da Península Ibérica, passou a partir do século XIII a contactar com a
maior parte dos mercados da Europa Ocidental. Já nos finais do século XII os
portugueses haviam chegado às Ilhas Britânicas. Em 1293, D.Dinis aprovou uma bolsa
de mercadores portugueses que comercializavam com a Flandres, a Inglaterra e a França.
Essa bolsa incluía um sistema de seguros para todos os navios que recebessem carga em
Portugal ou que fossem fretados por mercadores portugueses a fim de seguirem para o
estrangeiro.

Em meados do século XIV, o número de mercadores estabelecidos na Flandres e o


volume do seu negócio justificaram a constituição oficial de uma feitoria em Bruges.
Em 1353, os portugueses que faziam comércio com a Inglaterra ou para lá navegavam
assinaram um acordo com o rei Eduardo III, que garantia segurança aos mercadores de
ambos os países pelo período de 50 anos.

As exportações portuguesas para a Europa Ocidental consistiam em fruta, sal, vinho,


azeite, mel, e algumas matérias-primas (pez, couro, peles). Da Inglaterra, França e
Flandres recebia-se: têxteis, produtos manufacturados, armas, munições, cereais,
especiarias…

Outra área de tráfico internacional português situava-se na Espanha e no Mediterrâneo.


Abundavam no Portugal dos séculos XIII e XIV as moedas de ouro e prata do Islão.
Apesar das proibições o comércio com os muçulmanos manteve-se florescente.
Contactos com Castela, Aragão e Catalunha foram favorecidos.

Com as cidades e os reinos de Itália, as relações comerciais desenvolveram-se mais


tarde, mas logo os italianos as tomaram nas mãos. A partir da década de 1270, os
mercadores italianos estabeleceram-se em Lisboa e em outros portos portugueses,
ligando o país à sua complexa rede de contactos e de feitorias internacionais. Não só
controlaram entre a Itália e Portugal, como também boa parte de todo o comércio
português no Mediterrâneo, servindo ainda de intermediários com os países da Europa
setentrional e aos poucos empurrando os portugueses para fora deles. A sua opulência
trouxe-lhes protecção real e privilégios. Entraram mesmo em competição com os Judeus
na actividade de empréstimos e influência política.

O reinado de D.Dinis ficou marcado por uma concentração de cartas de feira. Um tipo
especial de feiras eram as chamadas feiras francas onde os mercadores ficavam livres
do pagamento de impostos. Raras nos séculos XIII e XIV, tornaram-se mais comuns no
século seguinte.

A actividade industrial não se revelou paralela ao florescimento do comércio.


Basicamente não existia transformação de matérias-primas feita em Portugal nesta
altura. Os artífices tiveram as suas formas rudimentares de associação, nomeadamente
as confrarias religiosas e os arruamentos por profissão. Mas só nas últimas décadas do
século XV se organizaria o primeiro grupo de autênticas corporações.

20
Em 1253 foi decretado o primeiro tabelamento regional de preços. Depois dessa data
decretaram-se diversos outros tabelamentos mas quase sempre pelos concelhos. O
sistema monetário português baseava-se quase exclusivamente nos dinheiros de bilhão,
dos quais 12 faziam 1 soldo. A contagem por libras foi a grande novidade do século
XIII (1 libra = 20 soldos).

Uma das maneiras medievais de conseguir dinheiro consistia em desvalorizá-lo.


D.Afonso IV teve de proceder a desvalorizações mais do que uma vez, e a grande crise
que sobreveio iria tornar normal esta prática.

Foram entretanto criados novos cargos políticos, o papel do mordomo-mor declinou a


favor do guarda do selo régio, o chanceler. A partir de finais do século XIII, esta
personagem tornou-se um autêntico chefe de governo. Sob as suas ordens passou a
existir um número crescente de funcionários formando um quadro localizado em Lisboa.

Só o chanceler e alguns escrivães seguiam o rei nas suas viagens pelo país. A partir de
meados dos anos trezentos, a importância do chanceler sofreu a concorrência de outro
funcionário, o escrivão da puridade, que assistia o rei nos seus assuntos mais íntimos e
questões imediatas. Abaixo do chanceler estavam os sobrejuízes, os ouvidores e os
vedores da fazenda, que informavam o chanceler e o rei daquilo que se passava e
preparavam os assuntos a serem discutidos. Eram, geralmente legistas treinados na
prática do direito civil e do direito canónico, possuindo possivelmente graus
universitários.

Para fins de justiça, haviam três tribunais mistos: um permanentemente em Santarém


(mais tarde em Lisboa), lidando com o direito civil, um segundo acompanhando o rei
por todo o país, e um terceiro tratando apenas da propriedade régia.

A administração local também se complexificou. Aumentou o número de magistrados


eleitos no município. Existia também um procurador, servindo de advogado público. A
partir de meados do século XIII, os alcaides ou representantes do rei passaram a ser
assistidos por alguns novos funcionários, de nomeação régia. Surgiram depois os
corregedores, no séc. XIV para manter a justiça, a lei e a ordem. Sempre que necessário,
mandavam-se juízes de fora julgar todos os assuntos que requeressem maior
imparcialidade do que aquela que os juízes locais podiam oferecer.

Com D.Afonso IV, até os juízes locais passaram a ser confirmados pelo rei, caindo a
administração da justiça nas mãos da Coroa. Foi também criado o cargo de vereador,
novos magistrados à escala local que assistiam os juízes em todos os feitos de justiça.
A convocação de representantes populares (delegados dos homens-bons) em Cortes não
aconteceu antes de 1254, e foram apenas convocados delegados de alguns concelhos.

As fontes de direito derivavam do direito canónico e do direito civil. A legislação


portuguesa autóctone incluía leis gerais promulgadas por cada monarca desde os
começos do século XIII, forais, acrescidos de tradições e costumes locais, concordatas
com a Igreja, costumes e regulamentos seguidos na corte e até a autoridade de alguns
legistas mais cotados. O primeiro corpus de todas essas leis, se bem que incompleto, foi
o chamado Livro das Leis e Posturas (século XIV). Seguiram-se-lhe as Ordenações de
D.Duarte e uma maior no reinado de D.Afonso V, Ordenações Afonsinas.

21
Não há provas de uma crise geral em Portugal até meados do século XIV. A aristocracia
gastava de mais e tendia a arruinar-se enquanto que a burguesia cada vez mais próspera
rivalizava com os nobres. A terra já não bastava como fonte de rendimentos e incapazes
de encarar novas realidades, investindo no comércio e em outras actividades lucrativas,
os nobres pareciam cada vez mais saudosos dos tempos da prosperidade fácil aquando
da Reconquista.

A Peste Negra de 1348 trouxe um sinal do que se estava a passar. Pensa-se que entre
1348-49 tenha morrido ⅓ da população, as suas consequências foram antes de mais,
demográficas. Apesar dos campos terem sido afectados, a mortalidade foi mais sentida
nas cidades e grandes povoados, não escapando os mosteiros. Deu-se desde logo um
surto migratório: gentes do campo iam para as cidades, e as gentes das cidades mais
pequenas iam para as cidades maiores como Lisboa, Porto e Évora.

Vieram outras pestes na segunda metade dos anos trezentos e na primeira metade dos
anos quatrocentos, que dizimaram mais gente e enfraqueceram a resistência de várias
gerações. As cidades sentiram-se afectadas por um número crescente de imigrantes em
busca de trabalho e melhores condições de vida. O reajustamento económico e social
significou o desemprego e condições desfavoráveis para quem chegava à cidade. No
campo fez-se sentir a falta de mão-de-obra 12 . Latifundiários nobres, mosteiros e
camponeses mais abastados procuravam em vão trabalhadores rurais.

Perante a situação, muitos recusavam-se a trabalhar nas condições existentes,


movimentando-se para onde julgavam obter melhores pagamentos, ao sabor da sua
própria vontade. O resultado foi uma série de leis obrigando, obrigando os trabalhadores
rurais e não rurais a trabalhar pelos menos salários e na mesma maneira e idêntico local
onde sempre tinham trabalhado, criando um sistema que impedia a livre movimentação
e promovia a repartição da mão-de-obra entre os diversos proprietários.

A lei de 1375, Lei das Sesmarias, obrigou os trabalhadores a permanecerem fiéis ao seu
mester (ofício) tradicional, impedindo a liberdade de trabalho, mantendo os salários
baixos e dificultando a vagabundagem. Porém a tendência para a liberdade do trabalho
continuou. Cem anos mais tarde a maior parte da mão-de-obra era livre e baseava-se em
contratos de trabalho revogáveis e temporários.

Outro aspecto da crise sentiu-se na produção e na paisagem: terras despovoadas,


aumento dos baldios (terras improdutivas), aumento de terras para a caça e pastagens. A
escassez de cereais foi um dos maiores problemas. Algumas cidades sofreram com a
fome, tais como Lisboa e muitas regiões do Algarve, e isto deu origem a algumas
revoltas. A oscilação dos preços e a substituição de certas produções por outras que
requeriam menos mão-de-obra, além de um desacerto entre oferta e procura foram
aspectos negativos que se sentiram nos séculos XIV e XV.

A angústia da morte iminente fez com que, tanto nobres como vilãos deixassem muitos
bens às ordens religiosas e religiosas-militares. Legados destes eram já proibidos por lei,
mas mesmo assim aconteciam com frequência. A grande extensão de terras que a Igreja
possuía não foi, no entanto, bem aproveitada pelo clero que não estava preparado para

12
Provocando os chamados fogos-mortos.

22
tratar delas. Muitas terras foram deixadas por ocupar e nunca produziram nada, outras
não foram exploradas convenientemente.

Os impostos a pagar ao rei ou aos concelhos reduziram drasticamente visto que a Igreja
era privilegiada e as suas terras isentas de contribuições. A desvalorização da moeda
não parou até 1435. Quando D.Afonso IV subiu ao trono em 1325 um marco de prata
valia 19 libras portuguesas. Em 1435-36 um marco já valia 25 000 libras. A inflação
galopante só começou por volta de 1369, sendo em parte causa das aventuras militares
de D.Fernando I (Guerras com Castela) e devido à guerra da independência já no
reinado de D.João I. Foi nos reinados seguintes que a situação se agudizou.

A falta de ouro e prata continuavam a não permitir uma estabilidade e ajustamento


económico e social. A nova moeda, o real, substituiu o tradicional dinheiro e seus
múltiplos, completamente desvalorizado. D.Duarte consegue pôr fim a inflação
descontrolada mas a tendência de desvalorização continuou.

Os talvez únicos beneficiados pela crise foram por um lado a classe média dos núcleos
urbanos, que detinham o comércio local nas mãos (muitos deles acabaram por investir
em terras); e o rei, que beneficiou do clima de instabilidade e oposição entre os grupos
mais ricos e os mais pobres, e ia assim reforçando o seu poder.

Devido ao clima instável, as clamações e queixas aumentaram. Reunir Cortes tornou-se


normal para os governantes desde D.Afonso IV (1325) a D.Afonso V (1438). D.João I
foi eleito em Cortes, ficando mesmo dependente delas durante algum tempo. A partir de
1371, as Cortes reuniram-se com frequência, foi porém no reinado de D.Afonso III que,
devido à intenção do rei em publicar a Lei da Almotaçaria (1253) para o tabelamento
dos preços e dos salários, que o rei manda pela primeira vez convocar para a cúria régia
representantes de alguns concelhos.

O reinado de D.Afonso III foi marcado pelo somatório de três nações (cristã, moçárabe
e muçulmana) e a sua conversão numa entidade homogénea nacional portuguesa.
Quando a crise assolou o país, o Estado já estava organizado e razoavelmente
centralizado. Lisboa era agora a capital e o papel do sul era realçado com o peso dos
seus valores culturais e poder económico. A presença real sentia-se portanto mais no sul
do que no norte, pertencendo sobretudo ao rei e às ordens religiosas-militares.

A subjugação do clero e da nobreza foi empreendida de maneiras diferentes. D.Afonso


III lutou primeiro contra o bispo do Porto e, depois contra todos os demais prelados, à
excepção do de Évora. Quase morreu excomungado como o seu pai. Contra a nobreza
(incluíndo parte do clero), o monarca preferiu enviar comissões de inquérito, que
investigassem os abusos e violações da propriedade e justiça da Coroa no norte.

Além das inquirições o monarca introduziu outras medidas tendentes a refrear os


privilégios da aristocracia e a conceder ao povo melhor justiça e protecção. A sua
política de conseguir apoio popular parece ter resultado.

Ainda assim, a conquista do Algarve levantou alguns problemas fronteiriços com


Castela que só foram apaziguados pelo Tratado de Badajoz em 1267, onde Castela
reconheceu a plena soberania portuguesa sobre o Algarve. Levantam-se entretanto os
problemas de sucessão.

23
D.Afonso III, quando aceitou vir para Portugal era casado com D.Matilde. Tendo
abandonado esta para se tornar rei, o monarca casou depois com D.Beatriz de Castela.
Porém D.Matilde era ainda viva quando o segundo casamento sucedeu e só morreu em
1258. O perdão concedido pelo Papa ao rei por ter casado segunda vez só chegou em
1263 e entretanto haviam nascido três filhos do rei.

Quando D.Dinis foi aclamado rei em 1279, seu irmão D.Afonso (primeiro filho nascido
depois do perdão do Papa) alegou os seus direitos ao trono. Desta situação resultaram
várias rebeliões. O espírito da guerra civil ou guerra feudal não morreu com a
submissão de Afonso, persistindo em muitas outras rebeliões dos séculos XIV e XV.
Salienta-se o facto de que tais conflitos raramente conseguiam mobilizar a grande
maioria dos outros nobres que, ou alinhavam com o seu senhor o rei, ou esperavam o
resultado final da luta.

Depois das querelas internas seguiu-se o conflito com Castela (1295-97). Portugal
juntou forças com Aragão e ambos apoiaram um dos partidos na luta civil castelhana,
cuja vitória significaria nova divisão entre Leão e Castela. A guerra terminou com
benefícios para os portugueses mas sem a divisão dos dois reinos.

De 1297 a 1320 um período de paz interna e externa caracterizou o apogeu do reinado


de D.Dinis e provavelmente o apogeu da Idade Média em Portugal. Com o clero,
D.Dinis assinou uma concordata que pôs fim a uma longa fase de disputas. Em 1288
fundara-se em Lisboa a primeira universidade. O português tornou-se a língua oficial do
reino. A corte régia era um centro de cultura e houve um certo desenvolvimento do
comérico e artesanato. Novos castelos e muralhas em redor das maiores cidades foram
construídos, e procedeu-se à reparação de muitas fortificações.

Um dos maiores triunfos de D.Dinis consistiu em evitar que as riquezas da Ordem dos
Templários, extintos em 1312, deixassem o país ou fosse atribuída a outras ordens
religiosas. O rei obteve autorização papal para criar uma nova ordem, a Ordem de Cristo
(1317), para a qual foram transferidas todas as riquezas da Ordem do Templo.
Independente dos grão-mestres espanhóis, a Ordem Cristo depressa se tornaria umas das
melhores armas ao serviço do rei.

Nos últimos anos do reinado a guerra civil regressou: o infante D.Afonso, herdeiro do
rei, apoiado pela sua mãe D.Isabel e por boa parte da nobreza e do clero, sobretudo do
norte, rebelou-se várias vezes entre 1319 e 1323, exigindo maior autonomia e menores
benesses para os seus irmãos bastardos. A luta acabou por levar a compromissos entre
as duas partes.

D.Afonso IV sobe ao trono em 1325 e seguiu-se uma breve guerra civil opondo o rei
aos seus irmãos bastardos. Seguiu-se depois um conflito mais duradouro com Castela
que passou por várias fases de guerra “quente” e “fria”. Este conflito enquadrava-se já
na chamada Guerra dos Cem Anos 13 e tornou-se uma constante na história política
portuguesa até ao século XV.

13
Esta guerra foi uma série de conflitos ocorridos entre 1337-1455 que opôs a França e a Inglaterra. Na
base destes conflitos estiveram origens dinásticas, feudais e económicas. Com a morte do rei Carlos IV de
França (o último Capeto), sem herdeiros, subiu ao trono Filipe IV de Valois. Eduardo III de Inglaterra era
também descendente da família real francesa, sendo ainda duque da Guyenne (parte da Auitânia), e por

24
A filha de D.Afonso IV, D.Maria, casara entretanto com D.Afonso XI de Castela.
Porém o rei português recebia constantemente queixas da filha contra o marido e isto
resultou no apoio de D.Afonso IV a toda a espécie de opositores do genro, além disso o
rei português escolheu para noiva do filho, herdeiro da Coroa, D.Pedro, a filha do
principal inimigo do rei castelhano. Daqui resultaram guerras, vitórias, derrotas e
destruições para ambos os lados (1336-1338).

A cruzada contra os muçulmanos, que ameaçavam novamente as fronteiras em Espanha,


uniu os dois monarcas. O rei de Portugal, à frente do seu exército juntou-se às forças de
Castela e teve parte decisiva na derrota do infiel na Batalha do Salado (Andaluzia) em
1340. Mas só a morte de Afonso XI em 1350 pôs fim à querela com os portugueses.

Entretanto novo conflito interno estala, desta vez devido aos amores do infante D.Pedro
e de uma dama acompanhante da sua esposa, D.Inês de Castro. O infante casara com
D.Constança Manuel mas as suas paixões por Inês não eram segredo na Corte.
D.Afonso IV não tolerou este relacionamento pois Inês era filha de uma poderosa
família castelhana, que influenciava agora o infante português. Foi ordenada a morte de
D.Inês em 1355 pelo monarca português, o que originou uma curta guerra civil entre pai
e filho.

O grande acontecimento do reinado de D.Afonso IV foi o surto de Peste Negra que


devastou o país de 1348 a 1349. No plano político a peste deu ao poder central um
motivo para se fortalecer, com vista a refrear injustiças e evitar uma subversão social.
Rei e classes superiores deram as mãos para deter a ameaça dos ousados trabalhadores
rurais e artesãos.

Embora auxiliando o seu sobrinho, Pedro I de Castela, nas disputas internas do país
vizinho, D.Pedro I de Portugal reinou dez anos de paz contínua (1357-1367), tendo sido
um rei adorado pelo seu povo, mas um tanto ou quanto excêntrico, a ponto de ter
aclamado D.Inês de Castro como rainha, depois de morta. Pretendia talvez legalizar a
sua união, apesar de não se saber se ambos casaram ou não, e fazer dos seus dois filhos
possíveis herdeiros do trono.

D.Pedro não parece ter tido preocupações em limitar o poder da nobreza mas contra o
clero tomou algumas medidas. Em 1361 proibiu que se publicassem bulas papais sem a
sua autorização (Beneplácio Régio), devido à frequência com que eram falsificadas. O
primeiro passo para a incorporação das Ordens Militares na Coroa foi também dado por
D.Pedro ao investir como mestre da Ordem de Avis, o seu filho bastardo João14 (futuro
D.João I), em 1364.

No reinado de D.Pedro I receberam doações o conde de Barcelos, Fernão Gonçalves


Cogominho e os infantes D. João e D. Dinis, filhos de Inês de Castro. Neste período

isso vassalo do novo rei francês. Ao tentar revear a Guyenne em 1337, Eduardo III voltou a reclamar a
coroa francesa e instalou na Flandres um exército. Sendo a Flandres um território rico e de grande
desenvolvimento comercial, os franceses ripostaram. Várias batalhas foram travadas e a guerra entre os
dois países ultrapassou mesmo as suas “fronteiras” provocando lutas anexas por toda a Europa, encetando
alianças e provocando rivalidades como a que surgiu entre Portugal e Castela. A guerra acabaria por
terminar com Carlos VII de França a conquistar a Normandia e a Aquitânia, em 1453. Os ingleses
abandonaram Calais e o continente em 1558.
14
Filho de D.Pedro e D.Teresa Lourenço.

25
eram sobretudo relevantes duas “casas” senhoriais: a dos infantes D. João e D. Dinis e
dos Castros (membros da família de D. Inês), e a dos Teles.

No reinado de D.Fernando I (1367-1383) tudo se alterou. Com o assassinato do rei de


Castela, Pedro I, o reino vizinho entrou num período de instabilidade. O trono era
conquistado pelo irmão bastardo do rei assassinado, Henrique de Trastâmara.
D.Fernando aproveitou a ocasião para se apresentar como sucessor da coroa castelhana
(era primo do rei assassinado, ambos netos de Sancho IV de Castela). Alguns senhores
castelhanos e galegos, refugiados em Portugal e inimigos de Henrique de Trastâmara,
apoiavam o rei português nos seus intentos. Como aliados de peso Portugal contava
ainda com o reino mouro de Granada, o reino de Navarra, o reino de Aragão 15, e a
Inglaterra.

Iniciadas as hostilidades, a primeira guerra com Castela (1369-1370) ficou marcada pela
fraca coordenação das tropas portuguesas e pela fraca preparação militar do exército de
D.Fernando que não obteve quaisquer êxitos quer a nível terrestre ou naval. O apoio por
parte dos seus aliados não chegou oportunamente e D.Fernando acabou por assinar a
paz separada 16 com Castela após uma contra-ofensiva de Henrique de Castela e das
tropas francesas suas aliadas que chegaram mesmo a tomar Bragança, Braga e
ameaçaram Guimarães.

Em 1371 assinou-se a paz de Alcoutim pela qual D.Fernando teve de entregar as terras
castelhanas que ainda ocupava e se comprometeu a casar com a filha de Henrique de
Castela.

A segunda guerra com Castela em 1372 surge no contexto da Guerra dos Cem Anos e
do casamento do rei D.Fernando com uma dama portuguesa 17 , ao contrário do que
estava disposto na paz de Alcoutim. O apoio inglês fora melhor definido e, tendo
falhado na sua pretensão ao trono vizinho, D.Fernando apoiava agora as pretensões do
duque de Lencastre, casado com uma filha de Pedro I de Castela. Os preparativos para a
guerra ainda decorriam quando o rei de Castela se antecipou e invadiu Portugal,
entrando praticamente sem resistência em Lisboa. O novo tratado de paz foi assinado
em Santarém, no qual Portugal se aliava à França e à Espanha na luta contra a Inglaterra.

A terceira guerra com Castela (1381-1382) foi um novo desastre para o lado português,
por diversas razões. D.Fernando sempre tentou evitar prestar os socorros militares
contra Ingalterra ao rei de Castela e após a morte de Henrique procurou de novo a
aliança inglesa apesar da oposição dos seus conselheiros. Os combates navais
terminaram com uma desastrosa derrota a três dias da chegada dos reforços ingleses.

Estes acabaram também por assolar o território português roubando, violando e


destruindo como se fossem inimigos dos portugueses a quem deveriam vir ajudar18.
Apesar da derrota, Portugal não foi muito castigado nas negociações de paz (Salvaterra
de Magos) e ficou acertado o casamento de D. Beatriz, filha do rei português com o

15
O rei português havia negociado inclusive o seu casamento com a filha do rei aragonês.
16
Este tratado de paz originou um grande mal-estar entre Portugal e o reino de Aragão.
17
A família da rainha tinha interesses mercantis e desejava a aproximação à Inglaterra, contrariamente ao
que estava disposto na paz assinada com Castela.
18
Ao que parece este comportamento deveu-se ao não pagamento dos soldados ingleses pelo rei
português.

26
filho do rei castelhano João I, porém tendo este entretanto enviuvado a jovem infanta
acabou por casar com o próprio rei de Castela.

O casamento de D.Fernando com D.Leonor Teles de Meneses ficou marcado pela


impopularidade. Em contrapartida, este casamento acabou por servir os propósitos do
rei na medida em que impediu um compromisso estável com Henrique de Castela caso
D.Fernando se tivesse casado com a sua filha, também ela de nome Leonor.

O desagrado do povo manifestara-se ainda antes do casamento 19 , quando rumores


davam por certo o interesse do rei por uma dama já casada com um fidalgo importante,
João Lourenço da Cunha. Pouco depois D.Fernando conseguiu a anulação do primeiro
casamento de D.Leonor.

Por esta altura dava-se também o Cisma da Igreja Católica, altura em que dois Papas em
oposição, um em Avinhão e outro em Roma, se consideravam a única autoridade
máxima da Igreja. Consoante os seus aliados Portugal ia reconhecendo e repudiando ora
um ora outro Papa.

D.Fernando continuou a doar extensas terras e privilégios a nobres da sua preferência.


Continuou a engrandecer o conde de Barcelos, D.João Afonso Telo e privilegiou
também D.João Fernandes Andeiro feito conde de Ourém, que seria mais tarde amante
da rainha. Este aumento do poder de certos validos do rei fez-se acompanhar de queixas
nas Cortes contra a ampla jurisdição que cada senhor possuía nos seus territórios.
D.Fernando abrandou estas concessões mas estas não terminaram.

D.Fernando tentou então canalizar esforços na política interna, tomando medidas que
em certos aspectos beneficiaram a economia do reino como foi o caso da promulgação
da Lei das Sesmarias (1375)20, a criação da Companhia das Naus, o fomento da Marinha,
a reparação e construção de castelos e muralhas.

A falta de um herdeiro masculino para suceder ao rei foi sem dúvida um factor de risco
na medida em que a única filha legítima de D.Fernando, D.Beatriz casara com o rei de
Castela. Até esta ter um filho varão e este completar 14 anos, seria D.Leonor Teles a
assegurar a regência do reino. Porém as ambições do país vizinho manifestaram-se e
João I de Catsela decidiu invadir Portugal.

A oposição ao governo da rainha regente e do seu amante, que tinham como aliados a
maioria da nobreza terratenente, aumentara. Os seus opositores eram sobretudo as
fileiras médias e inferiores da burguesia, que se aliara ao mestre de Avis, D.João. Se
num primeiro momento o mestre de Avis parece ter apoiado a entrada dos castelhanos
em Portugal, isso bem depressa se alterou e D.João encabeçou então uma revolta contra
os dois partidos (D.Leonor/Conde de Andeiro e João I de Castela/D.Beatriz).

Depois do assassinato do Conde de Andeiro, D.Leonor Teles teve de fugir para Castela
onde enventualmente se desentendeu com o genro e acabou exiliada. Entretanto D.João,
19
Terá havido manifestações em várias cidades do reino alicerçadas por um movimento dos mesteirais
que se reuniram em grande número.
20
Promulgada em Santarém por iniciativa de D.Fernando, esta lei pretendia sobretudo fixar os
trabalhadores à terra, obrigando os proprietários a semear e lavrar, e ainda diminuir o despovoamento de
certas regiões.

27
mestre de Avis, auto-proclamou-se “regedor e defensor do reino” e começou a preparar
a resistência contra Castela, pedindo auxílio aos ingleses.

A guerra encentou 3 fases principais: na primeira em 1384, João I de Castela invadiu


Portugal, alcançou Lisboa e cercou-a em vão durante 4 meses. Entretanto, os
portugueses chefiados por D.Nuno Álvares Pereira, filho ilegítimo do Mestre dos
Hospitalários, derrotaram os castelhanos em Atoleiros.

Na segunda fase, em 1385, João I de Castela invadiu Portugal de novo mas foi vencido
em Aljubarrota, às mãos de um exército inferior com uma excelente organização e
beneficiando ainda do apoio de archeiros ingleses.

Na terceira fase, entre 1386 e 1387, um tratado formal entre Portugal e a Inglaterra,
trouxe o duque de Lancastre à Península Ibérica como pretendente à Coroa Castelhana.
Uma primeira trégua foi assinada em 1387 mas ainda se dram algumas escaramuças.
Depois seguiu-se uma trégua de 10 anos, renovada por períodos sucessivos. A paz só
viria a ser assinada em 1432, pouco antes da morte do rei D.João I de Portugal,
fundador da segunda dinastia. O rei casou com D.Filipa de Lancastre o que contribuiu
para cimentar a aliança, a partir de agora, permanente, entre os dois países.

A vitória de D.João I depois da Revolução de 1383-85 significou uma nova classe


dirigente. O rei rodeou-se de legistas e burocratas, procurando também o apoio entre os
mercadores. Promoveu a cargos importantes, política e socialmente, gente de boa
condição, oriundos da burguesia, da pequena nobreza e até do artesanato. Foram
importantes as mudanças na administração local com os mesteirais a desafiarem a força
dos terratenentes.

Surgiu entretanto uma nova aristocracia detentora de terras, em parte resultado da


concentração de latifundios e honrarias nuns poucos nomes. No topo desta nova classe
estava D.Nuno Álvares Pereira, feito condestável do reino.

Após o retiro deste para um mosteiro, o seu genro, D.Afonso filho bastardo do próprio
rei, herdou os bens e a posição de líder da nova aristocracia. Apesar da sua relação de
parentesco com o rei, o poder de D.Afonso teve de ser equilibrado com o dos outros
infantes. Os infantes D.Pedro e D.Henrique 21 foram feitos duques, D.João recebeu o
mestrado da Ordem de Santiago e D.Fernando o mestrado da Ordem de Avis. Quanto ao
herdeiro do trono, D.Duarte, foi desde 1411 associado ao governo do reino.

D.João I e o infante D.Duarte elaboraram um plano de expansão militar no norte de


África, teoricamente renovando e continuando a Reconquista. Porém este plano visava
mais canalizar as energias turbulentas da nobreza e conseguir alguns proventos para ela
e para a burguesia. Politicamente teve a vantagem de manter a nobreza ocupada, fora
das fronteiras, e ajudou a aliviar a pressão da crise económica, desviando as atenções da
situação interna do país.

Pensou-se primeiro em conquistar Granada, mas a reacção de Castela fez os portugueses


mudar de ideias. Condições desfavoráveis na pátria vinham ajudar ao pensamento de
emigração mesmo que isso significasse um destino incerto. Comandados pelo rei, pelo
21
Recebeu também o mestrado da Ordem de Cristo, patrocinadora da sua política embrionária dos
Descobrimentos.

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condestável e pela maioria da nobreza, os portugueses atacaram Ceuta em 1415.
Regressaram depois carregados de despojos e deixando uma forte guarnição. Porém,
perceberam que de nada valia ter a cidade se não continuassem as conquistas.

Surgem então dois partidos opostos: o primeiro visava a expansão, e era liderado pelo
infante D.Henrique; o segundo era a favor do abandono de Ceuta e regresso à pátria e
era liderado pelo infante D.Pedro. Quanto aos senhores feudais também estavam
divididos, mas a maioria inclinava-se para a política expansionista.

Já idoso, D.João hesitou, tal como o seu sucessor D.Duarte (1433-1438), mas este
acabou por decidir-se a favor de D.Henrique. a segunda expedição atacou Tânger mas
os portugueses foram cercados (1437) e para poderem regressar tiveram de deixar como
refém o infante D.Fernando, mestre de Avis, que veio a morrer no cativeiro.

D.Duarte não autorizou logo uma terceira expedição e morreu pouco depois deixando
como herdeiro D.Afonso, de apenas 6 anos. Como regente ficara a rainha, D.Leonor,
que apoiava o partido da expansão encabeçado por D.Henrique e D.Afonso de Barcelos.
Contra eles insurgia-se D.Pedro e D.João (mestre de Santiago), parte da burguesia e das
classes baixas de Lisboa e outras cidades.

O clero estava também dividido embora a sua maioria apoiasse a rainha. A vitória coube
primeiro ao infante D.Pedro, depois de uma curta guerra civil e de um compromisso
com o seu meio-irmão D.Afonso de Barcelos, que inverteu o seu apoio e passou a ter o
título de duque de Bragança. Mas D.Pedro ficou com pouca força para impor
permanentemente a sua autoridade. Governou como regente durante sete anos, de 1441-
48, um período bastante conturbado.

Quando atingiu a maioridade, D.Afonso V dispensou os serviços do tio e aceitou o


conselho do partido opositor. Forçado à rebelião, D.Pedro, que tivera o cuidado de casar
D.Afonso V com a sua filha D.Isabel, pegou em armas contra o seu rei mas foi
derrotado e morto em Alfarrobeira com quase todos os seus apoiantes (1449).

Bibliografia: OLIVEIRA MARQUES, A.H. Breve História de Portugal, Lisboa, Ed.


Presença, 2003.

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