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Helena Salem
Civilização Brasileira, 1982
Para Nelson,
Companheiro querido de tanta vida.
Apresentação
Talvez mais do que qualquer outro problema da mesma natureza, o conflito árabe-israelense, e particularmente a
questão palestina, são temas de difícil discussão. Não por serem extremamente complexos, ou por sua imensa gravidade no
cenário internacional, mas pelas emoções que desperta, pelo profundo intrincamento geralmente vivido entre as questões
política e religiosas e/ou emocionais. Via de regra, o problema é colocado nos seguintes termos: “ou comigo, ou contra
mim; ou meu amigo ou meu inimigo”
Com esse pequeno livro, aceitamos alguns desafios. Primeiro, o de separar questões que, apesar da habitual mistura, são
efetivamente distintas. Ou seja, a questão palestina, o conflito árabe-israelense são problemas essencialmente políticos. E
com tal, podem - e devem - ser tratados com “cabeça fria”, em seus vários aspectos, sem a pressão do “bem” e do “mal”.
Isso não significa que não se tenha uma opinião, um posicionamento. Ao contrário, apenas que esse posicionamento possa
ser discutido racionalmente, baseado em dados da realidade, sem maniqueísmo. Parece-me que no momento em que
árabe matam árabes (no Líbano), em que judeus discordam de judeus (em Israel e no resto do mundo, em relação ao
governo Begin), fica mais do que evidente que a questão não é apenas árabe ou judia, muçulmana ou israelita, mas de fato
política.
O segundo desafio que encaramos é o de tentar escrever de uma forma simples, a mais clara possível, sobre um assunto
tão complexo e, em geral, mal conhecido. A questão palestina está de tal forma envolvida por tantos fatores interno e
externos à região que, não raro, o observador comum se perde naquele emaranhado aparentemente incompreensível. Meu
objetivo é justamente contribuir, de alguma maneira, para que esse observador consiga mais facilmente entender os nós da
questão, seus meandros, no contexto local e internacional.
Pessoalmente, não acho que se auxilie em alguma coisa na segurança do Estado de Israel compactuar com o seu
expansionismo e a sua política de negação dos direitos nacionais de um outro povo, os palestinos. O anti-semitismo não
deve ser combatido com uma nova mistificação, mas com a coragem da razão, da justiça. Também não acho que se possa
ser um bom amigo dos palestinos (como aliás de qualquer outro povo) se se perde o espírito crítico, a capacidade de
discutir eventuais defeitos e limitações de sua liderança - no caso a OLP.
Sendo este um livro de introdução, vimo-nos na contingência de apenas suscitar uma série de pontos, sem poder
aprofundá-los. Limitações certamente inevitáveis em um trabalho desta natureza. No entanto, se este pequeno livro servir
para desvendar um pouco mais o emaranhado da questão árabe-israelense, para desbloquear o forte emocionalismo em
relação ao problema, já nos daremos por satisfeitos, pois nosso objetivo foi alcançado.