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| Uwoior® | Omundo da prtica do didlogo fazendo deste um epls6aio de minha vida privada solitdria, quando outrem tomou-se apenas uma auséncia, & que posso, talvez, senti-lo como uma ameaga, pois desapareceu a recipracidade que nos relacionava na concordancia e na discordancia Porque a vida é intersubjetividade corporal e psiquica, e porque a vida ética ¢recipro. cidade entre sujeitos, tantos fildsofos deram a amizade o lugar de virtude proeminente, ex- pressiio do mais alto ideal de justia, Num ensaio, Discurso da serviddo voluntaria, procuran- do compreender por que os homens renunciam a liberdade e voluntariamente server aos tiranos, ofilésofo La Boétie contrapds a amizade a servidio voluntaila, escrevendo: Certamente, o tirano nunca ama nem é amado. A amizade é nome sagrado, coisa santa: $6 pode existir entre gente de bem, nasce da miitua estima e se conserva ndo tanto por meio de beneficios. mas pela vida boa e pelos costumes bons. O que torna um ‘amigo seguro de outro € a sua integridade. Como garantias, tem seu bom natural, sua {fidelidade, sua constancia. Nao pode haver amizade onde hd crueliade e injustica, Entre ‘0s maus, quando se juntam, hé uma conspiragdo, ndo sociedade. Nao se apoiam mutua: ‘mente, mas temem-se mutuamente. Nao sdo amigos, sao ciimplices. ‘Assim também Espinosa afirma que o ser humano é mais livre na companhia dos ou- tros do que na solidio e que" somente os seres humanos livres sao gratos e reconhecidos uns 0s outros”, porque os sujeitos livres so aqueles que "nunca agem com fraude, mas sempre de boa-fé' CAPITULO 8 Etica e ciéncia Ampliando o campo do possivel Aristoteles, a ética delimitou o campo da agao humana as coisas e aos acontecimen: tos queestdo em nosso poder, distinguin (que nao estéo em nosso poder) e, de outro, o possivel (que esta em nosso poder realizar). Vimos, enfim, que 0 necessario tendeu a identificar-se com o que acontece por natureza ou segundo as leis naturais, sobre as quais nada podemos, e que o possivel fol identificado 20 que acontece por liberdade. No entanto, quando estudamos a ciéncia e a tecnologia contemporaneas, vimos que deixou de ser evidente a ideia dle que a natureza é uma forca que, obedecendo as suas pro prlas leis necessérias, resiste ao nosso poder. Pelo contririo, o saber cientifico-tecnoligico parece dominar as forcas naturais de modo cada vez mais amplo e crescente, seja pela ca- pacidade de prever os acontecimentos naturals, seja por meio de intervencoes que mucam © préprio curso da natureza. Em outras palavras, 0 campo do necessério parece cada vez menor e 0 campo do possivel, cada vez maior. \ cabamos de ver a relagao entre liberdade e possibilidade. Vimos também que, desde lo, de um lado, o necesscirio eo contingente 424 425 Euieaecténcla | Gwmwo8 | Vimos também que a ciéncia obtém conhecimentos crescentes e desvenda segredos naturais porque divide sistematicamente a natureza em campos de objetos (fisicos, quimi- 0s, bioldgicos, astrondmicos, etc} que, por sua vez, sio novamente divididos em objetos cada vez mais parciais, estudados em condigdes cuidadosamente controladas. A esse respei- to, 0s cientistas David Suzuki e Peter Knudston, numa obra intitulada GenFtica — Confiitos entre a engenharia genética e os valores humanos, escrevem: (.) as explicagdes cientificas do mundo natural sao necessariamente fragmenté- ras, pois a ciéncia esta condenada a ver a natureza como um mosaico de partes com ponentes, arbitrariamente definidas. Os métodos da ciéncia sao incapazes de abarcar a

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