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Tipo de documento PROTOCOLO CLÍNICO GAS.HU/PSIQ.

Nº 02

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO Emissão: 01/05/2018


Título do TRANSTORNO DE ANSIEDADE Revisão Nº: 00
documento GENERALIZADA Data: 00/00/00

I. Autores
Nara Fabíola Costa de Brito

II.Introdução
A ansiedade é uma vivência cotidiana comum a todas as pessoas. Pode servir para aumentar a
motivação, a produtividade e a sobrevivência da espécie em resposta a ameaças importantes.
Entretanto, quando a ansiedade ocorre de forma inapropriada ou desproporcional ao estímulo, trazendo
sofrimento importante e/ou prejuízo funcional estamos falando da ansiedade patológica.
O quadro caracterizado por ansiedade tônica livre flutuante e por preocupações sobre diversos
eventos ou situações rotineiras na maioria dos dias é chamado de transtorno de ansiedade generalizada.
Difere de outros transtornos de ansiedade pela presença disseminada de distorções cognitivas que
envolvem a superestimação de riscos e antecipação de desfechos negativos ou prejudiciais.
A média de idade de início encontra-se no começo da terceira década de vida. O início precoce,
na infância ou adolescência, não é raro. A prevalência mundial em 12 meses varia de 0,4 a 3,6%. O
curso, em geral é crônico e flutuante, com piora em períodos de estresse. É mais comum em mulheres.
Muitas vezes, o próprio paciente interpreta os sintomas como parte de sua personalidade e só procura
o tratamento quando ocorre uma complicação (depressão ou um transtorno relacionado a substâncias).
77% dos pacientes apresentam comorbidade com depressão em algum momento da vida e o risco de
depressão aumenta com o tempo dos sintomas ansiosos não-tratados. O transtorno de ansiedade está
associado a incapacidade e sofrimento significativos que são independentes dos transtornos
comórbidos.

III.Classificação Estatística internacional e problemas relacionados à saúde - CID10


F41.1

IV.Diagnóstico clínico e/ou laboratorial


Os critérios diagnósticos segundo o DSM-V são:
A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por
pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou
profissional)
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação
C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes sintomas (com
pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses):
1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele;
2. Fatigabilidade;
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente;
4. Irritabilidade;
5. Tensão muscular;
6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e
inquieto)
D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo
ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida
indivíduo;

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E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (por ex. droga de abuso ou
medicamento) ou a outra condição médica (por ex. hipertireoidismo);
F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental.

Os critérios diagnósticos segundo o CID-10 são:


O paciente deve ter sintomas primários de ansiedade na maioria dos dias por pelo menos várias
semanas e usualmente por vários meses. Esses sintomas devem usualmente envolver elementos de:
(a) Apreensão (preocupações sobre desgraças futuras, sentir-se no limite, dificuldade de
concentração, etc.)
(b) Tensão motora (movimentação inquieta, cefaleia tensional, tremores, incapacidade de relaxar) e
(c) Hiperatividade autonômica (sensação de cabeça leve, sudorese, taquicardia ou taquipnéia,
desconforto epigástrico, tonturas, boca seca, etc.)

V.Critério de inclusão
Pacientes maiores de 18 anos

VI.Critério de exclusão
Pacientes menores de 18 anos

VII.Conduta

Tratamento:
Não farmacológico:
Mudanças de hábitos podem ser úteis, como eliminar o uso de estimulantes (por exemplo, cafeína
e nicotina), alimentação saudável, higiene do sono e recomendar a prática regular de exercícios físicos.
É preciso definir as metas para o tratamento sem criar metas irreais. Muitos pacientes tem a
expectativa de não sentirem mais ansiedade com o tratamento. Explicar que a ansiedade é algo
intrínseco ao ser humano e importante para a nossa sobrevivência.
Muitos pacientes precisam de intervenções psicoterápicas específicas. A eficácia da terapia
cognitivo-comportamental (TCC) foi demonstrada em diversos estudos controlados.
As técnicas utilizadas na TCC incluem:
1.Psicoeducação: uma explicação clara sobre a diferença entre a ansiedade normal e a patológica, sobre
o que é o transtorno de ansiedade generalizada, quais os sintomas e como é o tratamento e o que esperar
do tratamento;
2.Técnicas de manejo da ansiedade: técnicas de relaxamento, como treino de respiração diafragmática
e relaxamento muscular progressivo.
3.Treino de assertividade (muitos pacientes tem dificuldade na resolução de conflitos e para delegar
tarefas)

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4.Reestruturação cognitiva: identificar e questionar as diversas distorções cognitivas envolvidas no


TAG, promovendo a construção de pensamentos alternativos.
5.Distinguir preocupações produtivas das improdutivas e promover a aceitação da falta de controle em
diversos aspectos da nossa vida.
6.Mindfullness: nessa abordagem o paciente observa seus pensamentos e preocupações sem tentar
intervir neles, como se os tivesse assistindo em uma tela ou como se pertencessem a outra pessoa.
Dessa forma, o paciente permite a coexistência desses pensamentos sem entrar rotineiramente em um
padrão de ruminação.
Algumas destas técnicas também podem ser utilizadas isoladamente sem que para isso o indivíduo
necessite se engajar em uma psicoterapia formal.

Farmacológico:
O perfil de efeitos colaterais é particularmente importante na escolha do tratamento pelo risco de
descontinuação. Além disso, comorbidades são muito frequentes, especialmente com depressão maior
e abuso de substâncias e também devem ser considerados na escolha do tratamento.
Os antidepressivos, particularmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina,
paroxetina, sertralina, citalopram, escitalopram, fluvoxamina) e a venlafaxina são considerados os
medicamentos de primeira linha no tratamento farmacológico para o TAG. A paroxetina e o
escitalopram são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) aprovados pela Food and
Drug Administration (FDA) para o tratamento do TAG mas estudos controlados também
comprovaram a eficácia da sertralina, da fluvoxamina e do citalopram.
Seus principais efeitos colaterais são mal-estar gástrico, disfunção sexual e insônia, sendo que a
disfunção sexual é uma das principais causas de interrupção precoce e frequentemente não é relatada
espontaneamente.
A resposta deve ser avaliada periodicamente, a cada 4 a 6 semanas com dose adequada. Período
este em que já é possível avaliar a ação plena do antidepressivo. Se houver resposta satisfatória, o
tratamento deve ser mantido por 1 ano.
A pregabalina, um modulador de canais de cálcio, mostrou-se eficaz em estudos controlados e
pode ser considerado outro fármaco de primeira linha no TAG. Tem um início de ação mais rápido
que os antidepressivos e mostrou-se segura em idosos. Sua desvantagem é não apresentar eficácia em
sintomas depressivos.
Os benzodiazepínicos (BZD) apresentam um rápido início de ação, sendo superiores aos
antidepressivos nas primeiras semanas de tratamento. No entanto, seu uso prolongado é controverso,
devido ao risco de abuso e por apresentarem uma alta taxa de recaída após descontinuação. São mais
eficazes nos sintomas somáticos e autonômicos e menos eficazes nos sintomas cognitivos primários
(preocupação excessiva e antecipação catastrófica). Os BZD também não possuem efeito
antidepressivo.
Por outro lado, eles podem ser de grande utilidade no início do tratamento. Conforme o
antidepressivo começa a fazer efeito, pode ser retirado gradualmente. Como o TAG é flutuante, os
BZD podem ser utilizados de maneira intermitente, em períodos de piora dos sintomas.
A buspirona, embora apresente menor potencial de abuso do que os benzodiazepínicos, possui um
tempo de latência de 1 a 2 semanas, algumas vezes com melhora significativa apenas após 4 a 6
semanas. Ao contrário dos benzodiazepínicos, atua nos sintomas cognitivos do TAG, porém, também
não possui efeito antidepressivo e parece não ter eficácia a longo prazo.

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Sempre que o tratamento farmacológico não estiver surtindo o efeito desejado, deve-se revisar o
diagnóstico e procurar por comorbidades clínicas ou psiquiátricas que possam interferir na resposta e
considerar a associação de terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Em casos de TAG refratários ao tratamento, podem ser utilizados como estratégia de
potencialização a associação com antipsicóticos atípicos. As evidências para esse tratamento são
limitadas e, em geral, baseiam-se em estudos abertos.
Tratamentos com menor nível de evidência incluem antidepressivos tricíclicos, trazodona,
duloxetina, mirtazapina, anti-histamínicos sedativos e antipsicóticos atípicos.

VII.Termo de esclarecimento e responsabilidade – TER


Não se aplica

IX.Referências

1. Bernik, M., Corregiari, F., Stella, F., Asbahr, F.,R. Transtornos de ansiedade ao longo da vida. In:
Compêndio de clínica psiquiátrica. Forlenza, O.V., Miguel, E.C. (editores). Barueri: Manole, 2012.
337-361.
2. Salum Júnior, G.A., Dreher, C.B., Manfro, G.G. Transtorno de ansiedade generalizada. In:
Psiquiatria na prática clínica. Mari, J.J., Kieling, C. (editores). Barueri: Manole, 2013. 55-74.
3. Organização mundial de saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-
10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Geneva: WHO; 1993.
4. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais:DSM-
5. 5º. Ed. Porto Alegre : Artes Médicas ; 2014.

Aprovação

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