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Nº 02
I. Autores
Nara Fabíola Costa de Brito
II.Introdução
A ansiedade é uma vivência cotidiana comum a todas as pessoas. Pode servir para aumentar a
motivação, a produtividade e a sobrevivência da espécie em resposta a ameaças importantes.
Entretanto, quando a ansiedade ocorre de forma inapropriada ou desproporcional ao estímulo, trazendo
sofrimento importante e/ou prejuízo funcional estamos falando da ansiedade patológica.
O quadro caracterizado por ansiedade tônica livre flutuante e por preocupações sobre diversos
eventos ou situações rotineiras na maioria dos dias é chamado de transtorno de ansiedade generalizada.
Difere de outros transtornos de ansiedade pela presença disseminada de distorções cognitivas que
envolvem a superestimação de riscos e antecipação de desfechos negativos ou prejudiciais.
A média de idade de início encontra-se no começo da terceira década de vida. O início precoce,
na infância ou adolescência, não é raro. A prevalência mundial em 12 meses varia de 0,4 a 3,6%. O
curso, em geral é crônico e flutuante, com piora em períodos de estresse. É mais comum em mulheres.
Muitas vezes, o próprio paciente interpreta os sintomas como parte de sua personalidade e só procura
o tratamento quando ocorre uma complicação (depressão ou um transtorno relacionado a substâncias).
77% dos pacientes apresentam comorbidade com depressão em algum momento da vida e o risco de
depressão aumenta com o tempo dos sintomas ansiosos não-tratados. O transtorno de ansiedade está
associado a incapacidade e sofrimento significativos que são independentes dos transtornos
comórbidos.
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E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (por ex. droga de abuso ou
medicamento) ou a outra condição médica (por ex. hipertireoidismo);
F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental.
V.Critério de inclusão
Pacientes maiores de 18 anos
VI.Critério de exclusão
Pacientes menores de 18 anos
VII.Conduta
Tratamento:
Não farmacológico:
Mudanças de hábitos podem ser úteis, como eliminar o uso de estimulantes (por exemplo, cafeína
e nicotina), alimentação saudável, higiene do sono e recomendar a prática regular de exercícios físicos.
É preciso definir as metas para o tratamento sem criar metas irreais. Muitos pacientes tem a
expectativa de não sentirem mais ansiedade com o tratamento. Explicar que a ansiedade é algo
intrínseco ao ser humano e importante para a nossa sobrevivência.
Muitos pacientes precisam de intervenções psicoterápicas específicas. A eficácia da terapia
cognitivo-comportamental (TCC) foi demonstrada em diversos estudos controlados.
As técnicas utilizadas na TCC incluem:
1.Psicoeducação: uma explicação clara sobre a diferença entre a ansiedade normal e a patológica, sobre
o que é o transtorno de ansiedade generalizada, quais os sintomas e como é o tratamento e o que esperar
do tratamento;
2.Técnicas de manejo da ansiedade: técnicas de relaxamento, como treino de respiração diafragmática
e relaxamento muscular progressivo.
3.Treino de assertividade (muitos pacientes tem dificuldade na resolução de conflitos e para delegar
tarefas)
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Farmacológico:
O perfil de efeitos colaterais é particularmente importante na escolha do tratamento pelo risco de
descontinuação. Além disso, comorbidades são muito frequentes, especialmente com depressão maior
e abuso de substâncias e também devem ser considerados na escolha do tratamento.
Os antidepressivos, particularmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina,
paroxetina, sertralina, citalopram, escitalopram, fluvoxamina) e a venlafaxina são considerados os
medicamentos de primeira linha no tratamento farmacológico para o TAG. A paroxetina e o
escitalopram são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) aprovados pela Food and
Drug Administration (FDA) para o tratamento do TAG mas estudos controlados também
comprovaram a eficácia da sertralina, da fluvoxamina e do citalopram.
Seus principais efeitos colaterais são mal-estar gástrico, disfunção sexual e insônia, sendo que a
disfunção sexual é uma das principais causas de interrupção precoce e frequentemente não é relatada
espontaneamente.
A resposta deve ser avaliada periodicamente, a cada 4 a 6 semanas com dose adequada. Período
este em que já é possível avaliar a ação plena do antidepressivo. Se houver resposta satisfatória, o
tratamento deve ser mantido por 1 ano.
A pregabalina, um modulador de canais de cálcio, mostrou-se eficaz em estudos controlados e
pode ser considerado outro fármaco de primeira linha no TAG. Tem um início de ação mais rápido
que os antidepressivos e mostrou-se segura em idosos. Sua desvantagem é não apresentar eficácia em
sintomas depressivos.
Os benzodiazepínicos (BZD) apresentam um rápido início de ação, sendo superiores aos
antidepressivos nas primeiras semanas de tratamento. No entanto, seu uso prolongado é controverso,
devido ao risco de abuso e por apresentarem uma alta taxa de recaída após descontinuação. São mais
eficazes nos sintomas somáticos e autonômicos e menos eficazes nos sintomas cognitivos primários
(preocupação excessiva e antecipação catastrófica). Os BZD também não possuem efeito
antidepressivo.
Por outro lado, eles podem ser de grande utilidade no início do tratamento. Conforme o
antidepressivo começa a fazer efeito, pode ser retirado gradualmente. Como o TAG é flutuante, os
BZD podem ser utilizados de maneira intermitente, em períodos de piora dos sintomas.
A buspirona, embora apresente menor potencial de abuso do que os benzodiazepínicos, possui um
tempo de latência de 1 a 2 semanas, algumas vezes com melhora significativa apenas após 4 a 6
semanas. Ao contrário dos benzodiazepínicos, atua nos sintomas cognitivos do TAG, porém, também
não possui efeito antidepressivo e parece não ter eficácia a longo prazo.
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Sempre que o tratamento farmacológico não estiver surtindo o efeito desejado, deve-se revisar o
diagnóstico e procurar por comorbidades clínicas ou psiquiátricas que possam interferir na resposta e
considerar a associação de terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Em casos de TAG refratários ao tratamento, podem ser utilizados como estratégia de
potencialização a associação com antipsicóticos atípicos. As evidências para esse tratamento são
limitadas e, em geral, baseiam-se em estudos abertos.
Tratamentos com menor nível de evidência incluem antidepressivos tricíclicos, trazodona,
duloxetina, mirtazapina, anti-histamínicos sedativos e antipsicóticos atípicos.
IX.Referências
1. Bernik, M., Corregiari, F., Stella, F., Asbahr, F.,R. Transtornos de ansiedade ao longo da vida. In:
Compêndio de clínica psiquiátrica. Forlenza, O.V., Miguel, E.C. (editores). Barueri: Manole, 2012.
337-361.
2. Salum Júnior, G.A., Dreher, C.B., Manfro, G.G. Transtorno de ansiedade generalizada. In:
Psiquiatria na prática clínica. Mari, J.J., Kieling, C. (editores). Barueri: Manole, 2013. 55-74.
3. Organização mundial de saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-
10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Geneva: WHO; 1993.
4. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais:DSM-
5. 5º. Ed. Porto Alegre : Artes Médicas ; 2014.
Aprovação
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