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AULA 4

TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL -
ANSIEDADE SOCIAL, ANSIEDADE
GENERALIZADA E FOBIAS

Prof.ª Michelle L. Correia da Silva


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, abordaremos aspectos psicoterapêuticos do Transtorno de


Ansiedade Generalizada, conhecido também como TAG, sob a perspectiva da
Terapia Cognitivo Comportamental. Inicialmente, veremos os critérios
diagnósticos e os sintomas relacionados ao transtorno (Tema 1). No Tema 2,
abordaremos como o TAG se apresenta clinicamente e quais são os pontos
específicos que devem ser considerados no diagnóstico. No Tema 3,
analisaremos quais aspectos devem ser considerados na etiologia e
desenvolvimento do transtorno. No Tema 4, veremos o Modelo Cognitivo
Comportamental, com base no modelo da Intolerância à Incerteza e seus
princípios teóricos, para entendimento da TAG. No final da aula, abordaremos as
intervenções e as estratégias terapêuticas do modelo de intolerância a incertezas,
usadas no tratamento do TAG. Como já estudamos nos outros temas até aqui, a
ansiedade e o medo são respostas inerentes ao processamento de medo e
ameaça. É uma resposta natural de enfrentamento diante dos desafios da vida.
No TAG, como nos outros transtornos de ansiedade, a ansiedade é vivenciada de
forma persistente, e tem como resultado um processo incapacitante para os
indivíduos acometidos. Pois, como veremos nesta aula, padecer de ansiedade e
preocupações excessivas com tudo (situações e/ou eventos de vida), na maior
parte das atividades diárias, por longos períodos de tempo, tem como produto final
o TAG. Vamos iniciar nossos estudos trazendo os critérios diagnóstico e os
sintomas relacionados ao TAG.

TEMA 1 – CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E SINTOMAS

A ansiedade generalizada é um quadro clínico de transtorno emocional,


relacionado basicamente a preocupações excessivas. Ela “é caracterizada por um
padrão de preocupação e ansiedade frequente, persistentes, desproporcionais ao
impacto do acontecimento ou da circunstância que é o foco da preocupação”
(Sadock, 2017, p. 409). Fazemos a distinção entre a ansiedade normal e a
ansiedade patológica dentro do quadro do TAG. A diferença é o quesito
intensidade. Logo, o caráter de excesso confirma o caráter de prejuízo e de
sofrimento significativos, a que os indivíduos que são acometidos pelo transtorno
estão sujeitos. Porém, é importante entender quais são os critérios diagnósticos
mais específicos em relação aos sintomas, para que a avaliação seja feita de

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forma correta, pois, para o diagnóstico do TAG, “os pacientes devem apresentar
a síndrome completa, e seus sintomas também não podem ser explicados pela
presença de outro transtorno de ansiedade comórbido” (Sadock, 2017, p. 410).
Vamos aos critérios:

A. ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva),


ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos
eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade
e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis
sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias
nos últimos seis meses). 1. Inquietação ou sensação de star com os
nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade. 3. Dificuldade em concentrar-se
ou sensação de “branco” na mente. 4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular.
6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou
sono insatisfatório e inquieto). D. A ansiedade, a preocupação ou
sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo
no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da
vida do indivíduo (Sadock, 2017, p. 409).

Lembrando ainda que os sintomas devem ser diferenciados de outros


quadros de transtornos de ansiedade, e não podem ser explicados por outras
condições médicas. Uma dica é obter detalhes quanto ao foco das preocupações.
Em relação às comorbidades no transtorno de ansiedade generalizada, as mais
comuns são: transtorno depressivo maior, fobia social, fobia específica, transtorno
de pânico.
Segundo Sadock (2017, p. 408), “Talvez 50 a 90% dos pacientes com
transtorno de ansiedade generalizada tenham outro transtorno mental”. Algumas
diferenciações entre outros transtornos mentais e a ansiedade no TAG são: no
caso do pânico, por exemplo, o sujeito sente o medo do ataque em algum lugar
ou circunstância em que não há recurso de ajuda ou saída; nas fobias específicas,
o medo é irracional e desproporcional ao perigo apresentado por um objeto ou
situação; na fobia social, o medo é relacionado à avaliação negativa sobre o
próprio desempenho; no caso do TAG, “os pacientes tendem a se preocupar mais
com coisas improváveis ou acontecimentos futuros remotos” (Dugas; Robichaud,
2009, p. 21). Por exemplo, em um voo, o indivíduo com TAG teria preocupação
excessiva em sofrer um acidente aéreo.

TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS NO TRANSTORNO DE ANSIEDADE


GENERALIZADA

Continuaremos agora com mais algumas características clínicas comuns


ao quadro do TAG. O objetivo é explicar com mais detalhes como os sintomas se
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apresentam clinicamente dentro dessa condição multifacetada, que engloba
aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Vejamos primeiramente que,
muitas vezes, os sintomas de preocupação são interpretados pelo paciente como
um comportamento funcional. Assim, preocupar-se com diversos aspectos da
vida, ou com diversas situações, significa que eles exercem certo controle sobre
os problemas, e que, portanto, devem ter esse padrão de enfrentamento, caso
contrário falharão, ou vão sofrer consequências negativas. Em muitos casos, o
quadro aparece como um traço de sua personalidade que justifica muitos de seus
comportamentos. Pacientes com preocupações excessivas podem passar longos
anos sem diagnóstico definitivo, e assim o quadro de preocupações excessivas
perdura por longos. Ainda existe a possibilidade de suas preocupações passarem
despercebidas pelo olhar “clínico”, como algo relacionado a um transtorno de
ansiedade, pois pacientes com características de TAG muitas vezes recorrem a
cuidados médicos em geral por queixas isoladas relacionadas a algum sintoma
somático (pelo fisiológico), por exemplo: distúrbios gastrointestinais, diarreia
crônica, tensão muscular, dores físicas, insônia, sentimento de estar “estressado”
e de se “preocupar demais”.
Os itens a seguir essa são algumas das formas clínicas das preocupações
apresentadas pelos pacientes (Dugas; Robichaud, 2009):

 Tendência à preocupação com muitas coisas em vários aspectos da vida


(situações do dia a dia, família, relacionamentos, trabalho, finanças
pessoais, escola etc.)
 A maioria dos pacientes com TAG apresenta preocupação com “quase
tudo”, de forma generalizada.
 As preocupações de um paciente com TAG são comuns às de outras
pessoas. Porém, indivíduos com TAG ficam apreensivos com
“preocupações menores”, por exemplo: qual tipo de torradeira você
compra, qual livro ler.
 Uma preocupação leva à outra. Por exemplo: paciente tem preocupação
com a saúde, e pode ir mudando os focos das preocupações conforme
seus pensamentos avançam. “E se eu tiver câncer?”. Em seguida, pode se
preocupar com a família e as finanças. “Quem cuidará dos meus filhos
quando eu morrer?”; “Será que eles serão amparados?”; “E se minha
família não conseguir pagar as despesas do enterro?”.

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Outra característica comum é que os pacientes com TAG têm uma
tendência a se preocupar com coisas que terão um desfecho improvável,
imaginando os piores cenários, envolvendo acontecimentos futuros que ainda não
aconteceram, ou que provavelmente nunca acontecerão. A maioria dos pacientes
com TAG se preocupa “mais”, ainda que com as mesmas coisas que todo mundo
(Dugas; Robichaud, 2009, p. 21; Barlow, 2016, p. 207). Outros aspectos, como
intolerância a incertezas, serão abordados no tema sobre o modelo cognitivo da
TAG.

TEMA 3 – ETIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DO TAG

Entre as principais causas relacionadas ao TAG, estão as variáveis do


modelo de vulnerabilidade biológica à ansiedade, como já estudamos
anteriormente. Nessa perspectiva, a vulnerabilidade (condições individuais
genéticas, neurofisiológicas, e de temperamento, que geram vulnerabilidades
cognitivas e biológicas) determinaria a resposta a situações adversas de vida
vivenciadas pelo indivíduo. Outros fatores inter-relacionados, como psicossocial,
hereditário (componente familiar), além de eventos traumáticos em si, estariam
envolvidos na gênese e manutenção do transtorno, como também os próprios os
recursos comportamentais e cognitivos utilizados pelos indivíduos para lidar com
a ansiedade.

TEMA 4 – MODELO COGNTIVO-COMPORTAMENTAL

O termo terapia cognitivo-comportamental é usado para descrever uma


série de modalidades terapêuticas. Os tratamentos se diferenciam nas metas e
nos procedimentos usados. A linha de base no entendimento dos aspectos
envolvidos no desenvolvimento do transtorno de ansiedade generalizada está no
modelo cognitivo. O termo modelo cognitivo refere-se aos conceitos teóricos do
modelo cognitivo com base na intolerância à incerteza (Dugas; Robichaud, 2009),
desenvolvido por terapeutas da Universidade de Quebec, a partir de 1992, no
programa de pesquisa do TAG. Vamos apresentar os principais conceitos do
modelo cognitivo do TAG, tomando como base seus quatro fatores: intolerância à
incerteza; crenças positivas sobre preocupação; orientação negativa para
resolução de problemas; e evitação cognitiva. Outros modelos com bases
comportamentais não são negligenciados; porém, no entendimento da etiologia e

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manutenção do TAG, o viés principal é o modelo cognitivo de crenças sobre
incertezas. “As crenças básicas conduzem a maneira pela qual pessoas
processam a informação do seu ambiente” (Dugas; Robichaud, 2009, p. 33). Na
parte final das intervenções, no Tema 5, reveremos o uso de outras estratégias
de tratamento, como por exemplo mindfulness, na aceitação da ansiedade.
Vejamos mais detalhadamente os processos cognitivos envolvidos no
modelo de intolerância à incerteza do TAG. O primeiro fator é a intolerância à
incerteza. Aqui, as crenças negativas sobre não conseguir tolerar desfechos
incertos levam os indivíduos a interpretarem as situações ambíguas ou incertas
como negativas, estressantes ou perigosas. O principal efeito da intolerância à
incerteza é tentar prever o máximo possível de desfechos percebendo
pensamentos do tipo “e se...”, que geram altos níveis de preocupação (Rangé,
2011). Por exemplo: imagine um indivíduo com medo de perder o trabalho. Ele
pode superestimar a probabilidade da perda: “Se eu não fizer cada tarefa
perfeitamente, vou perder o meu emprego. E se eu não encontrar outro emprego?
E se os outros empresários souberem que fui demitido deste trabalho e não
quiserem me empregar mais?”. Aqui, a estimativa da probabilidade não é nada
realista (Dugas; Robichaud, 2009, p. 37).
Nos indivíduos com TAG, as preocupações podem estar voltadas a eventos
externos (saúde de um familiar, segurança própria, certos sintomas físicos),
quando são tipicamente usadas como forma de enfrentamento. Com a
preocupação negativa sobre o próprio ato de preocupar-se (ou seja, preocupação
da preocupação), uma pessoa acredita que precisa parar de se preocupar, pois
poderia sofrer consequências ruins, desenvolver doenças físicas, ou problemas
psicológicos – “Vou ter insônia”. (Rangé, 2011).
O segundo fator são as crenças positivas sobre a preocupação, que levam
a um estado de ansiedade:

1 - preocupar-se ajuda a chegar a solução de problemas; 2 - preocupar-


se faz aumentar a motivação para conseguir realizar as tarefas; 3 -
preocupar-se com algo antecipadamente pode diminuir a reação
negativa se o acontecimento vier a ocorrer; 4 - preocupar-se com as
coisas e com a própria preocupação pode prevenir acontecimentos
negativos de se realizarem; 5 - preocupar-se demonstra que a pessoa é
responsável e que se importa com as coisas (Dugas; Robichaud, 2009,
p. 50).

Partindo desses dois últimos pontos, um estado de ansiedade se inicia,


desencadeando o terceiro fator: orientação negativa (disfuncional) para solucionar
problemas. Duas características são notadas aqui: o indivíduo se vê como agente
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da solução de problemas, e logo considera habilidade serão necessárias para
resolvê-lo. Por exemplo: definir o problema, as metas, gerar alternativas, escolher
a solução e testar sua afetividade. Nessa perspectiva, os indivíduos com TAG
sabem resolver os problemas, porém têm dificuldades de fazê-lo, pois apresentam
um conjunto de cognições negativas que os bloqueiam quando encaram os
problemas de frente. Veem os problemas como ameaças, duvidando das suas
habilidades de resolvê-los, sendo pessimistas quanto aos resultados obtidos. O
último ponto é a evitação cognitiva: o indivíduo usa estratégias para se afastar
do que considera aversivo, como por exemplo usar a preocupação primariamente
como uma “atividade mental verbo-linguística ou léxica” (Dugas; Robichaud, 2009,
p. 55), como uma forma de não deixar que a ativação emocional da ansiedade
seja sentida – ou seja, preocupando-se, o indivíduo inibe um estado de excitação
fisiológica. A supressão de imagens mentais ameaçadoras também ocorre.
(Rangé, 2011, p. 317). O modelo de intolerância à incerteza traz o conceito de que
o TAG é um transtorno movido por preocupação invasiva, incontrolável e
excessiva, considerando a preocupação como o foco principal. Os sintomas
somáticos são entendidos como uma consequência da preocupação patológica,
como agitação, nervosismo, sentir-se no limite, ficar exausto facilmente, brancos
na mente, irritabilidade, tensão muscular etc. No modelo cognitivo da intolerância
à incerteza, os sintomas somáticos não são o foco; porém, toda mudança no
processo da preocupação patológica terá como consequência a redução das
preocupações, e, portanto, a redução dos sintomas somáticos.

TEMA 5 – MODELO DE INTOLERÂNCIA À INCERTEZA NO TRANSTORNO DE


ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG)/INTERVENÇÕES

O objetivo geral no tratamento a TAG no modelo de intolerância à incerteza


está na preocupação, vista como invasiva, incontrolável e excessiva. Buscamos
ajudar os pacientes a desenvolveram uma maior tolerância à incerteza. Os
objetivos gerais são: identificar as formas de incertezas e suas reações; os
pacientes são encorajados a não evitar situações que induzem a incerteza, ou
seja, a abandonar comportamentos de reasseguramento; identifica-se quais
componentes específicos exacerbam ou mantêm a preocupação excessiva; quais
são as crenças positivas responsáveis por manter as preocupações; ajuda-se os
pacientes a resolver os seus problemas ao invés de só se preocuparem com eles;

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e um último objetivo é, pela exposição imaginária, que os pacientes encarem seus
piores medos. (Dugas; Robichaud, 2009, p. 101-102).
Agora vamos à visão geral do tratamento em 16 sessões separadas em
módulos e suas principais técnicas.

 Módulo 1: Psicoeducação e treinamento de conscientização da


preocupação. Objetivos: apresentar os princípios da TCC (por exemplo, a
relação entre pensamento, sentimento e comportamento), explicando o
diagnóstico da TAG (exemplos de ansiedade normal e excessiva, e
sintomas com: situação  e se?  preocupação  ansiedade 
comportamento: exaustão) e treinamento de conscientização da
preocupação (aqui, o objetivo é ajudar os pacientes a “enxergarem” e
reconhecerem os seus próprios sintomas e a relação com os problemas
decorrentes deles, com a diferença entre preocupação corrente como
“produtiva” e preocupação hipotética ou usualmente definida como
“improdutiva”; uso do Dário da preocupação para monitoramento da
preocupação).
 Módulo 2: Reconhecimento da incerteza e exposição comportamental.
Objetivos: uso de analogias para entendimento do paciente sobre o papel
da incerteza como combustível da preocupação excessiva e da ansiedade.
Por exemplo: uso da analogia das lentes. O indivíduo que usa lentes de
incerteza tem capacidade de reconhecê-la mais rapidamente que outras
pessoas, maximizando o potencial ruim das coisas que podem vir a
acontecer. Quanto mais intolerante à uma incerteza for uma pessoa, mais
provavelmente começará a se perguntar “E se?”, levando-o a
preocupações. A explicação sobre as manifestações da intolerância à
incerteza: aqui, os pacientes se familiarizarão com as estratégias usadas
por eles para eliminar as incertezas de suas vidas. O ato de preocupar-se
é usado em geral por pessoas com TAG como uma maneira de tentar
imaginar todos os cenários e desfechos possíveis, em busca da solução
para uma situação incerta, com o objetivo de torná-la previsível ou o menos
incerta possível. Essa estratégia costuma trazer sensação de segurança.
Exemplo de estratégia de aproximação: querer fazer tudo e não delegar
tarefas a ninguém; procurar muitas informações antes de começar algo;
conferir e voltar a repetir coisas porque você já não tem a certeza de que
as fez corretamente. Exemplos de estratégias de evitação: evitar se

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comprometer com certas coisas, como por exemplo com uma amizade ou
relacionamento amoroso, porque o resultado é incerto, e não há garantias
de que vai dar certo; procrastinar, ou seja, deixar para depois o que poderia
estar sendo feito agora; protelar uma ligação porque você não está seguro
de como a pessoa irá reagir. Usar monitoramento do comportamento na
incerteza, para “experimentos de tolerância a incerteza”. Aqui, são eleitos
comportamentos de escolha, sentimento de desconforto ao desempenhá-
los, pensamentos, e depois efetivamente fazê-lo ver quais são os
pensamentos envolvidos.
 Módulo 3: Reavaliação das vantagens da preocupação. Objetivos: tratar
crenças positivas sobre as vantagens de se preocupar. Indivíduos com
TAG tendem a superestimar as vantagens de suas preocupações.
Exemplos de crenças: crença de que se preocupar ajuda a encontrar
soluções para problemas; crença de que a preocupação tem uma função
motivacional, garantindo que as coisas sejam feitas; a crença de que a
preocupação pode proteger uma pessoa de emoções negativa, etc. São
identificadas quais crenças o paciente apresenta, depois são formuladas
afirmações questionadoras sobre as vantagens da preocupação específica
dentro da crença nas situações.
 Módulo 4: Treinamento de resolução de problemas. Objetivos:
aprimoramento da orientação do problema. Metas: ajudamos o paciente a
reconhecer os problemas e a resolvê-los; reconhecer que os problemas são
parte normal da vida; perceber os problemas como possibilidade e não
ameaça. Utilização de capacidades de resolução de problemas . Metas:
ajudamos o paciente na definição do problema e na formulação objetiva;
com a geração de soluções alternativas; tomada de decisão;
implementação e verificação da solução.
 Módulo 5: Exposição imaginária. Objetivos: aprender estratégias
específicas para lidar com preocupações referentes a situações hipotéticas
(que ainda não aconteceram), explicando aos pacientes como a tentativa
de evitar certos pensamentos pode ser contraprodutiva (efeito crescimento
e efeito rebote). Metas: os pacientes aprendem a se expor a uma imagem
mental de seus medos para que se possa tratar a tendência de evitação
cognitiva, por meio de um “miniexperimento” antes de realmente fazerem
alguma coisa. Após a exposição imaginária em sessão, os pacientes são

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orientados a começar a exposição em casa, diariamente, durante 30 a 60
minutos, permanecendo atentos ao cenário pelo tempo necessário até
produzirem uma curva de exposição. Ou seja, ocorre uma elevação do nível
de ansiedade, que permanece alto por alguns minutos, e logo após
retorna-se naturalmente ao nível normal (anterior à exposição). Pode ser
usada também quando há preocupações hipotéticas.
 Módulo 6: Prevenção de recaídas. Objetivos: ajudar os pacientes a usar
as habilidades adquiridas com a expectativa de melhora após a última
sessão. Metas: manutenção diária (saber quais estratégias ajudam a se
sentir melhor); identificação de situações de risco (adotar expectativas
realistas de que a ansiedade e a preocupação flutuarão após o fim do
tratamento); preparação para situações de risco (diferenciar um lapso, que
é uma flutuação normal do nível de preocupação e ansiedade, de uma
recaída, que é o retorno ao estágio inicial antes do tratamento). (Dugas;
Robichaud, 2009, p. 123-197).

O objetivo geral do tratamento do TAG na modalidade cognitiva de


intolerância à incerteza é desenvolver uma maior tolerância à incerteza, por meio
da redução da preocupação excessiva e da ansiedade. A redução significativa dos
sintomas está relacionada ao aprendizado das habilidades adquiridas ao longo do
tratamento. O principal objetivo final é que os pacientes entendam que a
preocupação e a ansiedade são controláveis, proporcionando uma melhor
qualidade de vida.

5.1 Outras intervenções no TAG

Uma primeira opção que pode ser usada para complementar aspectos do
tratamento é o treinamento de relaxamento. Seu objetivo é intervir na ansiedade
somática quando o paciente tem dificuldades para colaborar nas intervenções
cognitivas, por ter um nível de ansiedade somática muito alto. (Marques, 2016).
Uma segunda opção é o uso das Terapias Baseadas em Aceitação, entre elas a
Mindfulness, desenvolvido por Jon Kabat-Zinn. No geral, a prática de Mindfulness
na ansiedade traduz um treinamento mental de atenção voltado para o aqui e
agora, e novas habilidades de lidar com os pensamentos ruminadores e as
interpretações catastróficas, permitindo uma melhora gradual dos sintomas nos
quadros de ansiedade.

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Outros modelos baseados em Aceitação são MBCT (Terapia Cognitiva
baseada em Consciência Plena, de Segal, Teasdadela e Williamns); ACT (Terapia
de Aceitação e Compromisso, de Hayes, Strosahl e Houts); e TCD (Terapia
Comportamental Dialética).

5.2 Algumas observações no tratamento medicamentoso no TAG

O tratamento com medicação típico em casos de TAG envolve o uso de


benzodiazepínicos, inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS),
antidepressivos tricíclicos e betabloqueadores (Marques, 2016). Alguns
apontamentos importantes de observação clínica no uso da medicação
combinada com terapia cognitivo-comportamental: quando o paciente já iniciou o
processo de psicoterapia com uso de medicação, é importante para o
psicoterapeuta ter conhecimento de qual a medicação, a dosagem, e por quanto
tempo o paciente está em uso. Esses dados podem ser colhidos nas sessões
iniciais. Durante todo o processo de tratamento, o psicoterapeuta continua a
colher informações sobre o uso da medicação.
O critério de indicação para uso da medicação quando o paciente não está
em tratamento medicamentoso, porque iniciou primeiramente a psicoterapia, deve
ser o nível de ansiedade e gravidade dos sintomas. Uma diretriz nesse caso pode
ser: quando não houver melhora dos sintomas da ansiedade, ou quando o
paciente sofrer muito com os sintomas somáticos da ansiedade já nas primeiras
sessões, recomenda-se o encaminhamento para um profissional especializado
(psiquiatra). Deve-se atentar para o fato de que pacientes com transtornos de
ansiedade normalmente têm o desejo que os sintomas desaparecem
rapidamente, e assim é preciso fazer uma boa psicoeducação, explicando como
a medicação pode produzir alívio dos sintomas, facilitando o trabalho
psicoterapêutico no acesso a conteúdos cognitivos e no enfrentamento da
exposição.

SUGESTÕES DE LEITURA

CLARK, D.; BECK, A. Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade.


Porto Alegre: Artmed, 2012.

LEAHY, R. L. Técnicas de terapia cognitiva: manual do terapeuta. Porto Alegre:


Artmed, 2006.

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REFERÊNCIAS

BARLOW, D. H. Manual clínico dos transtornos psicológicos: tratamento


passo. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

DUGAS, M. J.; ROBICHAUD, M. Tratamento cognitivo-comportamental para


o transtorno de ansiedade generalizada: da ciência para prática. Rio de
Janeiro: Cognitiva, 2009.

MARQUES, E. L. L. Como lidar com o transtorno de ansiedade generalizada na


perspectiva da terapia cognitivo-comportamental. Synthesis Revista Digital
Fapam, Pará de Minas, v. 7, n. 7, p. 82-97, dez. 2016.

RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2011.

SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e


psiquiatria clínica. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

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