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onhecido como TAG, o transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por sentimentos

de preocupação excessiva e apreensão persistente por um período de 6 meses ou mais. Esses


sentimentos vêm acompanhados de sintomas como inquietação, tensão muscular, entre
outros.

Diferentemente da maioria dos transtornos de ansiedade, nos quais há crises agudas com
sintomas físicos intensos, o paciente com TAG sofre com uma ansiedade mais amena, porém
constante — é como se o paciente simplesmente não conseguisse parar de se preocupar.

Esse transtorno pode trazer muitas dificuldades para o dia-a-dia, uma vez que o estresse
constante pelo qual o paciente passa acaba drenando suas energias. O indivíduo pode ter
problemas para se concentrar, sentir irritabilidade e até mesmo ser abatido por uma fadiga
extrema e debilitante.

O portador de TAG pode ser definido como uma pessoa extremamente preocupada e que
sofre em diversas áreas da sua vida por não conseguir deixar essa preocupação de lado. Ele é
afetado não somente na vida profissional, mas também no convívio social e na vida acadêmica.

Em geral, suas preocupações estão voltadas a assuntos corriqueiros com os quais todos se
preocupam, como saúde, dinheiro, problemas sociais, família, amigos, morte, entre outros.
Contudo, diferente do que acontece com a maioria das pessoas, esses indivíduos
simplesmente não conseguem se desligar dessas preocupações, e as sentem mesmo quando
não há qualquer sinal de perigo iminente.

Por falar em perigo, é exatamente isso que o paciente com TAG sente o tempo inteiro: para
ele, algum desastre irá acontecer a qualquer momento e ele terá dificuldades em dar a volta
por cima. Trata-se de uma hipervigilância difusa, relacionada a todas as áreas consideradas
importantes para a vida humana.

De certa forma, a ansiedade é algo natural e que traz certa vantagem para a vida. Contudo,
quando ela é demais, torna-se patológica. Esse assunto será abordado mais profundamente no
tópico “Ansiedade fisiológica versus Ansiedade patológica”.

Na 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o TAG pode ser encontrado
pelo código F41.1.

O TAG é comum?
Pode não parecer ser algo muito comum, mas a ansiedade está presente na vida de cerca de
20 milhões de brasileiros. De fato, o Brasil é o país mais ansioso do mundo.

Já o transtorno de ansiedade generalizada, em específico, atinge de 3 a 6% da população


mundial, e é mais frequente em mulheres abaixo dos 21 anos de idade. Entre os idosos, o
percentual é de 7 a 10%.

Ansiedade fisiológica versus Ansiedade patológica

Existem dois tipos de ansiedade: a fisiológica e a patológica. A diferença entre elas está mais
relacionada à intensidade e às situações nas quais aparecem do que aos seus sintomas.

A ansiedade fisiológica é natural do ser humano e até mesmo de outros animais. Ela serve para
ajudar o indivíduo a planejar melhor suas ações diante de situações de perigo.

Quando temos uma entrevista de emprego, apresentação de um seminário, uma prova


importante ou até mesmo uma apresentação musical, é normal ter uma sensação de
inquietação, misturada com medo e vontade de terminar tudo logo. Essa é a ansiedade
fisiológica agindo.

Nenhuma dessas situações é perigosa no sentido de poder tirar a vida, mas seria desastroso
para nossa vida se alguma delas desse errado. Não conseguir um emprego em uma empresa
inspiradora, ou ir mal numa apresentação para um público trazem consequências financeiras e
sociais desagradáveis.

Caso não fossemos ansiosos, correríamos o risco de ir para a entrevista de emprego sem
pensar direito sobre o que será dito, ou não iríamos estudar tanto para a nossa apresentação.
Nesse sentido, a ansiedade é um sentimento desagradável, porém vantajoso: um sinal claro de
que o que iremos fazer é importante para nós.

O problema é quando esses sintomas passam a acontecer sem motivo aparente ou quando
eles são extremamente intensos. Pessoas que têm dificuldade para falar em público podem ter
crises de diarreia antes de um seminário, por exemplo. Outras podem sentir falta de ar,
palpitações e sudorese durante o expediente sem qualquer razão.
No caso do TAG, esses sintomas costumam ser menos intensos, porém constantes. A pessoa
está sempre preocupada com alguma coisa, mesmo que não haja motivos para tal. Um
indivíduo com esse transtorno pode se preocupar com seu financeiro mesmo que haja R$
5.000,00 em sua conta bancária e as contas estejam todas pagas.

Há indícios de que as pessoas que sofrem com a ansiedade patológica tenham alguma
defasagem no mecanismo de regulação da ansiedade fisiológica e, por isso, ela é mais intensa
e duradoura.

No caso da ansiedade patológica, há também consequências de desempenho no trabalho, na


vida acadêmica, nas relações sociais e qualquer outra atividade diária.

Causas

Não se sabe, exatamente, quais são as causas diretas do transtorno de ansiedade generalizada.
No entanto, há evidências de que fatores genéticos, neuroquímicos e ambientais estão
envolvidos. Entenda:

1. Genética

Existem diversas pesquisas que apontam para um possível componente genético no TAG. Isso
porque pessoas com histórico familiar têm maiores chances de desenvolver o transtorno. Não
se sabe, contudo, se há algum gene específico causador do problema.

Pesquisas mostram que há uma correlação de 50% entre gêmeos idênticos e 15% entre
gêmeos não-idênticos, o que fortalece essa noção de que há um componente genético entre
as causas desse distúrbio.

2. Fatores neuroquímicos

A química do cérebro parece estar ligada ao aparecimento de diversos transtornos de


ansiedade. Dentre eles, o TAG.

Como a ansiedade é uma reação fisiológica, o próprio corpo tem os mecanismos necessários
para cessá-la quando necessário. Entretanto, há indícios de que pessoas ansiosas têm um mal
funcionamento nesse mecanismo.
No cérebro, os neurônios se comunicam através de impulsos elétricos e mensageiros químicos,
denominados neurotransmissores. Quando um neurônio envia um impulso elétrico para outro,
ele transforma esse impulso em energia química e o transmite através de neurotransmissores.

Durante a ansiedade, os neurônios estão agitados, enviando mensagens o tempo todo, pois o
corpo está hipervigilante.

Para lidar com isso quando a ansiedade não é mais necessária, existe um neurotransmissor
chamado ácido gama-aminobutírico, mais frequentemente chamado de GABA. Ele é liberado
para aumentar a resistência dos neurônios à transmissão de informações.

Sendo assim, no momento em que o GABA se liga a um neurônio, ele impede que esse
neurônio continue hiperativo, promovendo calma.

Nas pessoas saudáveis, o GABA é liberado em quantidades o suficiente para que atinja um
grande número de neurônios e a pessoa fique mais calma. Já nos casos de ansiedade
patológica, acredita-se que:

Ou é liberada uma quantidade baixa de GABA;

Ou o GABA liberado não consegue se ligar aos neurônios por algum motivo.

Felizmente, há medicamentos disponíveis no mercado capazes de auxiliar esse mecanismo.


Falaremos mais sobre isso no tópico “Medicamentos para transtorno de ansiedade
generalizada”.

3. Fatores ambientais

Diversos fatores ambientais podem influenciar não apenas na ansiedade, mas em muitos
outros transtornos mentais. Viver em ambientes estressantes, ter passado por traumas,
conviver com uma família violenta ou que briga demais são todos fatores que podem
contribuir para um declínio da saúde mental.

Dentre outros fatores que podem auxiliar no desenvolvimento do TAG, estão:

Estresse no trabalho ou nos estudos;

Ambientes de alta pressão psicológica;

Passar por abuso físico ou psicológico, situações de violência e outros traumas;

Morte de um ente querido;


Divórcio;

Situações de grandes mudanças como troca de emprego, promoção no trabalho, término de


graduação, mudança de cidade ou país, entre outros;

Problemas financeiros ou desemprego;

Relacionamentos interpessoais complicados.

4. Alcoolismo

Há pesquisas que apontam o alcoolismo como um possível causador do transtorno de


ansiedade generalizada. Nesses casos, a abstinência prolongada de álcool é o bastante para
solucionar o problema.

Fatores de risco

Dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento do TAG estão:

1. Sexo

O transtorno de ansiedade generalizada é mais comum em mulheres. Isso pode estar


relacionado a uma combinação de fatores, como mudanças hormonais, exposição frequente
ao estresse ou, até mesmo, o papel da mulher na sociedade.

Nos dias de hoje, a mulher ainda é vista como um ser que se preocupa e cuida de tudo e todos.
Ela é a dona de casa, a mãe, quem cuida das questões domésticas, entre outros.

Sendo assim, muitas mulheres precisam lidar com a pressão de cuidar dos filhos, de manter a
casa sempre arrumada, de ser uma boa companheira ou anfitriã…

Não raramente, a mulher acaba sendo a central de comando da casa, cuidado da agenda dos
filhos e maridos, marcando consultas para os outros membros da família quando necessário,
dentre outras atividades que acabam sendo atribuídas às mulheres.

Devido a tudo isso, não é de se estranhar que as mulheres vivam preocupadas com muitas
coisas ao mesmo tempo, e a preocupação crônica é um fator de risco para o TAG.

2. Preocupação crônica

Preocupar-se com aquilo que é importante é normal. Contudo, muitas pessoas se preocupam
demasiadamente com coisas que, às vezes, não precisam de preocupação.
Fazer um balanço dos gastos do mês é saudável, mas viver com um escorpião dentro do bolso
para não gastar mais por medo de imprevistos pode ser um sinal de que algo está errado. O
mesmo acontece em todas as esferas da vida.

Esse comportamento preocupado gera um estresse desnecessário que pode contribuir para o
desenvolvimento do transtorno de ansiedade generalizada.

3. Personalidade

A personalidade pode ser definida como um conjunto de características psicológicas que


determinam certos padrões de comportamento, pensamento, reações emocionais, entre
outros.

Existem pessoas que tem uma certa tendência cognitiva negativa, ou seja, elas enfatizam
aquilo que é desagradável. As coisas boas que acontecem na vida dessas pessoas são
importantes, mas elas ainda tendem a dar mais atenção aos infortúnios do dia a dia.

Sendo assim, essas pessoas acabam entrando num ciclo vicioso do humor, pois elas têm
pensamentos negativos e, quando algo desagradável acontece, esse padrão de pensamento é
reforçado. No entanto, quando algo bom acontece, não há um reforço de pensamentos
positivos, pois a tendência cognitiva da pessoa é negativa.

Esse traço de personalidade é encontrado em muitas pessoas com transtornos de humor,


como a depressão, e de ansiedade.

Comorbidades

Ter algum problema de saúde crônico ou um diagnóstico de algum transtorno mental aumenta
a probabilidade de desenvolver o TAG.

Receber o diagnóstico de um câncer, por exemplo, pode fazer com que a pessoa fique muito
preocupada em fazer planos para o futuro, especialmente quando tem uma família para
cuidar, e então ela passa a se preocupar demasiadamente com questões financeiras, de saúde,
educação, etc.

Além disso, muitas pessoas que desenvolvem o TAG têm, também, algum outro transtorno de
ansiedade, como a síndrome do pânico, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros.
A depressão também está presente em muitos dos pacientes diagnosticados. A relação entre
depressão e ansiedade ainda não é clara, mas ela existe e é bem frequente.
Pessoas com transtornos de personalidade ou humor também são mais propensas ao
desenvolvimento do TAG.

1. Abuso de substâncias

O uso excessivos de drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, pode estar relacionado ao surgimento
do transtorno de ansiedade generalizada.

Pode ser que o indivíduo faça o uso de drogas por conta da ansiedade em si, uma vez que
essas substâncias ajudam o paciente a lidar melhor com as sensações provocadas pelo
transtorno, ou a própria condição pode ser um efeito colateral desse abuso.

No caso do álcool, por exemplo, pacientes que passaram por um longo período em abstinência
tiveram uma melhora significativa nos sintomas do transtorno.

Sintomas

O sintoma mais notável presente no TAG é a preocupação excessiva e apreensão constante,


ainda que não haja motivos para esses sentimentos. Eles surgem em relação às mais diversas
esferas da vida humana e podem mudar de foco a qualquer momento.

Entenda melhor os sintomas do transtorno de ansiedade generalizada abaixo:

1. Pensamentos

O conteúdo dos pensamentos é o que mais entrega um indivíduo com TAG. Pensamentos
extremistas e negativos como “meu marido está atrasado, deve ter acontecido algo com ele”
ou “se o vôo atrasar, eu vou perder minha entrevista” são constantes e aparecem sem motivo
algum.
Esse primeiro pensamento pode ocorrer por um atraso de 20 minutos no trânsito, e o segundo
pode muito bem aparecer na mente do indivíduo mesmo que o vôo esteja programado para
chegar no seu destino 5 horas antes da entrevista.

Frequentemente, essas pessoas pensam que não conseguem desligar seus pensamentos, que
eles simplesmente correm pela mente e não há nada que se possa fazer.

2. Sentimentos de medo e apreensão frequentes

Não importa o motivo, qualquer coisa é vista como uma ameaça para a pessoa com transtorno
de ansiedade generalizada. Ela pode sair de casa já pensando em todas as precauções que
deve tomar caso aconteça algum desastre na rua, ou pode temer incessantemente pelos seus
entes queridos.

3. Incapacidade de tolerar a incerteza

Um outro sintoma marcante no TAG é a própria incapacidade de tolerar incertezas. Ninguém


gosta de ficar sem uma resposta, mas, para o indivíduo portador do transtorno de ansiedade
generalizada, esperar por uma conclusão em alguma situação é uma representação fiel do
inferno na Terra.

O indivíduo não consegue fazer alguma coisa caso não haja certeza que ele vai ser bem
sucedido ou que ganhará algo com isso. Seu medo de “perder tempo” é tão grande que pode
deixar de realizar diversos projetos por conta disso.

Caso a pessoa tenha uma viagem marcada e, logo em seguida, tem um casamento para ir,
meses antes ela já começa a se preocupar se tudo vai dar certo. Essa pessoa não consegue
lidar com questões como se o vôo atrasar ou se ocorrer qualquer imprevisto. A possibilidade
de algo dar errado e perder o casamento atormenta seus pensamentos dia e noite mesmo
muito tempo antes das datas marcadas.

4. Incapacidade de relaxar

Não adianta nada chegar para um portador de TAG e tentar fazê-lo relaxar, apresentando
algumas opções de entretenimento para que ele se distraia. Relaxar é a uma realidade
extremamente distante para essas pessoas.

O indivíduo simplesmente não consegue desligar seus pensamentos daquilo que o atormenta.
Mesmo se estiver assistindo um filme e gostando, alguma coisa no filme inevitavelmente o
lembrará de alguma situação em sua vida, e ele começará a se preocupar com aquilo de novo.
5. Dificuldade de concentração

Por se preocupar constantemente, o portador de TAG costuma ter muitas dificuldades para se
concentrar nas atividades que está realizando. Assim como acontece no filme, que ao invés de
distrair, o faz lembrar do que incomoda, o indivíduo também não consegue se desconectar dos
seus problemas durante o trabalho ou estudos.

6. Dificuldade com autoexpressão

Expressar a si mesmo é um verdadeiro desafio para quem sofre de transtorno de ansiedade


generalizada. Essas pessoas tendem a sentir o perigo em todos os lugares e, por isso, não
conseguem ser elas mesmas em diversas situações, inclusive na companhia de amigos e
familiares.

7. Evitar certas situações

Uma característica marcante de todos os transtornos de ansiedade é o hábito de evitar as


situações que proporcionam esses sentimentos de ansiedade. Contudo, no caso dos
portadores de TAG, essas situações podem ser as mais diversas possíveis, afinal, eles se
sentem em perigo em praticamente todos os lugares.

8. Perfeccionismo

Outro sintoma muito frequente nos transtornos de ansiedade é o perfeccionismo, ou seja, a


incapacidade de entregar algum trabalho ou desempenhar uma função sem que seja feito com
maestria.

Pessoas que sofrem com TAG podem demorar muito tempo revisando seus trabalhos da
faculdade antes de entregá-los ou ter problemas no trabalho por demorar demais para
entregar um projeto por se ater muito aos detalhes.

O simples medo de fracassar ou entregar algo abaixo das suas próprias expectativas já é algo
que atormenta gravemente esse indivíduo.

9. Sintomas físicos

Apesar de serem menos intensos e frequentes no TAG do que em outros transtornos de


ansiedade, os indivíduos com esse distúrbio podem sofrer de alguns sintomas físicos. São eles:

Sensação de tensão e rigidez muscular;

Dores no corpo;
Problemas para adormecer ou manter o sono (insônia) por conta da mente hiperativa;

Inquietação;

Bruxismo;

Problemas de estômago, como disfagia;

Náuseas;

Diarreia;

Sudorese excessiva;

Necessidade de ir ao banheiro com frequência;

Tremores e espasmos.

O TAG é muito limitante por ser um distúrbio crônico e constante. O tratamento envolve um
especialista e psicoterapia, além de melhora do estilo de vida (alimentação, exercícios,
atividades que causam relaxamento, regularização do sono e horas de descanso, modificações
do comportamento no trabalho, como respeitar pausas e manter alimentação correta durante
a jornada de trabalho, dentre outros). É necessário muito empenho do paciente e vontade de
melhorar sua vida em todos os aspectos. A tendência é pensar que a ansiedade faz parte de
você e que você a controla, mas, após uma análise verdadeira de sua vida, pode não ser esta a
verdade (analisando fatos e comportamentos repetidos ao longo do tempo). Seja verdadeiro
com você mesmo e avalie melhor seu comportamento e seus sentimentos.

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