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Metralhadoras e Submetralhadoras na I e II
Grandes Guerras
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Este artigo visa a complementação de dois outros anteriores, que cobriram a utilização das armas
longas e das armas curtas nas I e II Grandes Guerras. Aqui, pretende‑se agora abordar a utilização
das metralhadoras leves e pesadas, bem como das submetralhadoras. Não se pretende descrever
todas as armas utilizadas por um determinado país, o que demandaria um artigo longo demais; a
intenção é enumerar a principal ou as principais armas, dentre aquelas que foram mais utilizadas em
toda a duração dos conflitos e os modelos com maior penetração nas tropas. Também deixaremos de
abranger armamento de alguns países que, apesar de terem feito parte desses conflitos, não tiveram o
mesmo grau de participação e importância histórica. Algumas das armas aqui descritas possuem
artigos específicos no nosso site. Nesses casos, o leitor opcionalmente será endereçado à eles através
de links.
A idéia e a necessidade de se desenvolver uma arma que fosse relativamente portátil e que pudesse
disparar grande quantidade de munição em grande velocidade sempre exigiu muito da imaginação
de projetistas e inventores. Armas que disparavam projéteis, todos ao mesmo tempo, já existiam até
nos primórdios do século XVIII. Normalmente eram projetos que possuíam diversos canos dispostos
ou horizontalmente, como os tubos de uma “flauta de Pan”, ou então soldados juntos, formando um
arco. Na prática, no entanto, não eram eficientes. Disparando todos as cargas de uma só vez atingiam
somente alvos muito próximos; não era adequada, por exemplo, a um tiro do tipo “varredura” sobre
uma tropa. Além, disso, antes do advento do cartucho metálico, a recarga de todos esses canos era
demorada e trabalhosa.
Acima, um “Organ Gun”, por volta do século XIV
A primeira e mais famosa arma de relativa eficiência em disparar tiros em sequência foi uma criação
do britânico James Puckle, em 1718. Porém, o calibre usado estava mais para um “canhão” do que
para uma arma portátil. Com um tambor contendo várias câmaras e um cano de 32mm de diâmetro,
foi empregada fixa em amuradas de navios, mas nunca obteve muito sucesso e aceitação. Ao girar a
alavanca, cada câmara era alinhada com o cano e em seguida disparava, e assim sucessivamente até
se finalizarem as câmaras carregadas.
Um desenho da época, ilustrando uma Puckle Gun montada em uma praia, utilizada muitas vezes para repelir
ataques e desembarque de tropas navais
A primeira arma realmente eficaz e transportável através de um campo de batalha, que podia
disparar diversos tiros em um determinado espaço de tempo, foi uma invenção do norte‑americano
Richard Jordan Gatling, que projetou a arma em 1861 e patenteou sua invenção em 1862. Foi a
primeira vez que se oferecia a possibilidade de um sistema de alimentação mecânico dos cartuchos, a
primeira vez que se oferecia a possibilidade de um sistema de alimentação mecânico dos cartuchos, a
possibilidade de se usar carregadores já previamente municiados e de troca rápida, e um bom
controle sobre a área alvo e a velocidade dos disparos. Apesar de necessitar ser acionada pela ação
mecânica de uma manivela, e não pela ação de recuo ou dos gases resultantes da deflagração dos
cartuchos, pode‑se afirmar que a Gatling merece ser a primeira arma desse tipo a receber o nome de
metralhadora.
Um dos documentos referentes à patente de Gatling, datado de 1865
A arma de Gatling utilizava, a princípio, seis canos dispostos de forma circular, apesar de que
posteriormente foram produzidos exemplares com até dez canos. A montagem dos canos era feita de
forma que pudessem girar em torno de um eixo, e montados em um mecanismo contido em uma
caixa, que abrigava o sistema de disparo e um sistema de engrenagens para girar o conjunto. Na
parte lateral direita e posterior da arma, situava‑se uma grande manivela, que fazia funcionar todo
esse sistema. Cada um desses canos tinha o seu próprio mecanismo de disparo. A grande vantagem
de se utilizar vários canos permitia que se minimizasse o problema do aquecimento, um problema
tão comum posteriormente, nas metralhadoras posteriores. A Gatling não possuía um gatilho; o
próprio giro da manivela alinhava o cano na posição correta, um cartucho era introduzido no cano e
o disparo era efetuado, tudo automaticamente.
Acima, a versão mais popular e utilizada da Gatling pelo Exército dos Estados Unidos, com 10 canos.
Embora nos primeiros exemplares se utilizava sistema de ignição por percussão e depois cartuchos
de papel, foi com a introdução do cartucho metálico que a arma passou a ser realmente eficiente. Em
1881 a arma foi adaptada para utilizar o potente cartucho .45‑70, adotado pelo Exército Americano
em seus fuzis Springfield “Trap‑Door” de 1873. Com isso, a tropa utilizava o mesmo cartucho nos
dois tipos de arma. Com o advento de um carregador de duas fileiras, montado verticalmente em
cima da arma e que alimentava por gravidade, era possível já ir municiando uma das fileiras
enquanto a arma disparava utilizando a outra fileira. Com isso, mantinha‑se um fogo sustentável.
Com uma guarnição de quatro homens bem treinados, podia‑se atingir uma cadência de quase 400
tiros por minuto. Para sua época, era uma arma de infantaria realmente revolucionária.
Até antes da I Guerra, a invenção de Gatling fez muito sucesso, não só em seu país de origem, como
ocorreu nos anos finais da Guerra Civil e posteriormente na Guerra Hispano‑Americana. Fora dos
Estados Unidos, a Gatling foi bastante utilizada, como na guerra entre Peru e Chile de 1879, na
Rebelião dos Boxers na China e na Guerra das Filipinas, dentre outros conflitos. O Brasil adquiriu
algumas metralhadoras Gatling, em 1873. Depois disso, em 1889, o Exército Brasileiro adquire
também alguns exemplares da Palmcran췽�‑Nordenfeldt, uma “metralhadora” manual, que usava o
sistema de vários canos paralelos, disparando simultaneamente e municiados por um carregador
vertical. O funcionamento era feito por uma alavanca lateral, cujo movimento para frente e para traz
possibilitava o municiamento, o disparo e a extração dos cartuchos.
A Palmcran췽�‑Nordenfeldt de 5 canos, utilizada no conflito da Revolução Federalista de 1893, no Paraná
O autor, em 1974, em visita ao Museu da Cidade, no Rio de Janeiro, e uma das metralhadoras Gatling,
adquiridas pelo Império Brasileiro a partir de 1872. Atualmente essa peça se encontra desaparecida, o que bem
demonstra como o Brasil faz pouco caso com nossos acervos históricos.
Porém, seria uma invenção de um outro norte‑americano que iria, realmente, mudar o cenário dessas
Porém, seria uma invenção de um outro norte‑americano que iria, realmente, mudar o cenário dessas
armas de tiro rápido. Hiram Stevens Maxim, nascido em 1840 na localidade de Sangerville, nos
Estados Unidos, mudou‑se aos 38 anos para a Inglaterra, onde requereu cidadania britânica. Em 1881
iniciou seus trabalhos em um projeto de uma metralhadora realmente automática, ou seja, que não
necessitaria de auxílio humano em seu mecanismo, para que funcionasse. Em 1884 apresentou seu
trabalho à uma comissão britânica de armamentos, para que fosse avaliada.
Após exaustivos testes, em 1888 o Império Britânico adota a arma de Maxim. Sua empresa, no
entanto, também a comercializava para outros países, como o Império Austro‑Húngaro, o Germânico,
a Itália, a Rússia e a Suíça. Ironicamente, mal sabia Maxim que, em um futuro próximo, alguns desses
seus clientes tornar‑se‑iam parte do bloco da Tríplice Aliança, dos chamados Impérios Centrais, e que
esses usariam a sua invenção contra a própria Inglaterra, durante a I Grande Guerra.
A variante sobre rodas da metralhadora Maxim, uma das mais utilizadas na I Guerra
O desenho de Maxim era revolucionário; empregava a força de expansão dos gases, durante a
deflagração do cartucho, para operar a arma na função de extração do cartucho vazio, recuo da
culatra, avanço da fita de alimentação, retorno da culatra à posição de tiro e novamente, a deflagração
do cartucho, enquanto de mantivesse pressionado o gatilho. Esse projeto serviu de inspiração para
diversos outros, que eram cópias quase idênticas ou não, produzidos em diversos países; e claro,
serviu também de base para o desenvolvimento e o conceito da metralhadora moderna. O mais
importante de tudo é que esse tipo de arma iria, principalmente, revolucionar as táticas de guerra, de
uma forma que os exércitos ainda nem imaginavam.
Acima, uma das versões mais comuns da metralhadora Maxim, montada em um tripé, uma alternativa um
pouco mais prática que a versão sobre rodas, que era muito comum na I Guerra
ALEMANHA
Na I Guerra, o Império Germânico e seus aliados estavam bem confortáveis em termos de armamento
de infantaria, detalhe que aliás, se repetiu na II Guerra. Os alemães sempre foram beneficiados com
exímios projetistas, tão bons quanto os que os Estados Unidos produziram.
A principal metralhadora pesada utilizada pelos alemães era, justamente, a inventada por Maxim, a
qual eles denominavam de MG‑08 (Machinengewehr 1908). A Alemanha foi, aliás, o primeiro país
estrangeiro a adquirir essas metralhadoras. Após uma produção feita sob licença, executada pela
Ludwig Loewe de Berlim, passou‑se a fabricá‑la na D.W.M. (o mesmo fabricante das pistolas
Parabellum) e posteriormente na Koniglishe Gewehr und Munitionsfabrik, o arsenal de Spandau.
O modelo 1908 trazia algumas modificações sobre o desenho original. Como todas as metralhadoras
baseadas no projeto de Maxim, a MG‑08 era grande, pesada, alimentada por uma cinta de lona
reforçada com cordonéis de aço, onde os projéteis eram encaixados; a cinta percorria a arma do lado
direito para o esquerdo. Era tracionada pelo mecanismo interno, que funcionava com a ação dos
gases resultantes da deflagração dos cartuchos. Esse mecanismo era engenhoso: após a colocação da
cinta, o ferrolho da arma era acionado pela primeira vez, pelo atirador, puxando‑o para traz. Esse
movimento extraía o primeiro cartucho da cinta e o colocava em posição de alinhamento à câmara.
Com o retorno do ferrolho, o cartucho era inserido na câmara e a culatra era trancada, pronta para o
disparo.
Após acionar o gatilho, a ação do recuo gerado pelos gases durante o disparo liberava a culatra para
Após acionar o gatilho, a ação do recuo gerado pelos gases durante o disparo liberava a culatra para
abrir; o ferrolho trazia consigo o estojo deflagrado, expulsava‑o pela janela de ejeção, arrastava a cinta
de cartuchos em mais uma posição, extraía um cartucho novo, introduzia‑o no cano, trancava a
culatra e o processo se repetia, enquanto o gatilho era pressionado. O sistema era, portanto, de
ferrolho fechado, ou seja, sempre ficava um cartucho na câmara, pronto para o disparo. No caso das
MG‑08, isso não era tanto um problema, principalmente por ser refrigerada à água. Raramente
ocorria uma ignição espontânea em virtude do calor excessivo do cano.
Metralhadora alemã MG‑08
O sistema de refrigeração à água tinha suas vantagens, mas também gerava problemas. O cano da
arma atravessava um grande tubo oco, como pode se ver na foto acima. Esse tubo era completado
com água antes da utilização, através de bujões rosqueados, um para entrada e outro para saída de
água, através de mangueiras. Acompanhava a arma dois ou tres latões, cheios de água fria, para
servirem de suporte ao tiro. Na guarnição que servia de apoio à arma havia um soldado só para
tomar conta desse detalhe, e fazer a troca da água, através de mangueiras rosqueadas ao cano,
quando fosse necessário. Apesar desse trabalho todo, o sistema permitia tiro contínuo sem
necessidade de se trocar de canos frequentemente.
A versão MG08/15, mais leve que a MG08
A cadência de fogo das MG‑08 era em torno de 500 disparos por minuto. As cintas de munição
A cadência de fogo das MG‑08 era em torno de 500 disparos por minuto. As cintas de munição
utilizavam 250 cartuchos e um municiador treinado colocava uma cinta municiada na arma com
grande velocidade, assim que a anterior tivesse sido totalmente utilizada. O cartucho empregado nas
metralhadoras MG‑08 era o 7,92mmX57S, o famoso 8mm Mauser, o mesmo utilizado nos fuzis e
carabinas utilizados pelo Exército Alemão. O peso da arma era de 26Kg, adicionando mais 4Kg
quando carregada com água; com o suporte completo, o peso total era de cerca de 38Kg.
Ainda em relação às metralhadoras baseadas na Maxim, em 1915 foi idealizada uma versão mais
leve, se é que ainda se poderia empregar esse adjetivo. A MG08/15 era uma MG08 contando com um
bipé de aço, montado por debaixo da camisa de água do cano. Um sistema de punho‑pistola foi
implementado, com um gatilho de acionamento, e na parte posterior fixou‑se uma coronha de
madeira. O peso da arma foi reduzido para 18Kg com mais 3Kg. do peso da água, o que realmente já
era uma grande diferença.
Além das metralhadoras baseadas na Maxim, a Alemanha ainda utilizou durante a I Guerra as
metralhadoras Bergmann modelo MG‑15. Elas eram baseadas numa versão anterior de 1902, uma
idealização do engenheiro Louis Schmeisser, associado ao fabricante Theodor Bergmann. A MG‑02
era uma arma bem similar às Maxim, e também refrigerada à água. Era mecanicamente mais simples,
mas provou ser menos durável e suas peças quebravam mais. Por essa razão, o Exército Alemão não
se interessou muito por elas.
A Bergmann‑Schmeisser MG‑02
Porém, a MG‑15 era um conceito totalmente novo, pois empregava um cano de fácil substituição, que
era montado por dentro de uma camisa de refrigeração perfurada, feita de aço. Para manter a
compatibilidade no campo de batalha, a MG‑15 podia ser montada no mesmo suporte das MG‑08,
bem como trabalhava com a mesma cinta de lona. Entretanto, foi desenvolvido para a MG15 uma
nova cinta do tipo desintegrável, feita somente de anéis avulsos de aço. Com a extração de cada
cartucho, os elos se desprendiam da cinta. A cadência de tiro da MG15 era de cerca de 550 disparos
por minuto; seu peso total era 13Kg sem o bipé e as cintas de munição comportavam duzentos
cartuchos. Pode‑se dizer que a MG15 foi o ponto de partida para quase toda a totalidade de modelos
de metralhadoras leves da atualidade.
Metralhadora Bergmann MG‑15, também em calibre 7,92mmX57S
Após o término da I Guerra e a derrota da Alemanha e de seus aliados, foi assinado o Tratado de
Versailles onde os países aliados procuraram, de várias maneiras, limitar o poderio bélico do Reich
Alemão, dali em diante. Inúmeras sanções foram estabelecidas e no âmbito de armas de fogo, os
derrotados sofreram muitas restrições no que de referiam ao tipo de armamento que seria ou não
permitida a produção. Diga‑se de passagem que, principalmente após a subida do Partido Nazista ao
poder, em 1933, praticamente nada foi realmente respeitado dentro daquele tratado.
Sendo assim, nos idos de 1930, a Rheinmetall, na localidade de Sömmerda, iniciou a produção da
metralhadora leve MG30, projeto em grande parte baseado no sistema da metralhadora anti‑aérea
MG15. Nessa época, pré‑nazismo, o Reichswehr não permitiu que se prosseguisse com o projeto na
Alemanha, devido ao tratado. Dessa forma, a Rheinmetall licenciou a Solothurn, na Suíça, e a Steyr‑
Daimler‑Puch na Áustria, que prosseguiram com os trabalhos.
A metralhadora leve MG30, produzida na Suíça e na Áustria
A MG30 era simplesmente revolucionária como metralhadora. Era leve, podia ser transportada por
um só homem, refrigerada à ar e trabalhava com um carregador tipo caixa para 30 cartuchos calibre
7,92mmX57, o padrão adotado pela Alemanha para seus fuzis Mauser, podia disparar de forma
intermitente ou contínua e seu ciclo de fogo chegava aos 800 disparos por minuto.
Posteriormente, por volta de 1934 o projetista Heinrich Vollmer, na época trabalhando na Mauser
Werke, executou algumas melhorias no projeto, melhorando o sistema de trancamento da culatra e
alterando o sistema de alimentação para poder trabalhar com cintas de munição ao invés de
carregadores tipo caixa. O sistema de tecla de gatilho com dois ressaltos permitia que, só com a
mudança da posição do dedo para cima ou para baixo da tecla, podia‑se selecionar entre fogo
mudança da posição do dedo para cima ou para baixo da tecla, podia‑se selecionar entre fogo
automático e semi‑automático. Nascia a MG‑34, um projeto ainda melhor que a MG‑30, com cadência
de fogo entre 800 a 900 tiros por minuto. Mais uma vez a Alemanha usou, como campo de testes para
essa arma, o cenário da Guerra Civil Espanhola.
A metralhadora leve MG‑34, nessa foto utilizando o magazine tipo tambor, de 50 ou 75 cartuchos, o que
permitia a sua utilização com o atirador em movimento
A grande cadência de tiro tornava essa arma temida pelos soldados inimigos. Por outro lado, haviam
alguns impecilhos. Para se manter um poder de fogo contínuo, Vollmer idealizou um sistema de
cinta de alimentação que podia ser montada uma na outra, durante a operação, com rapidez. Outro
problema era o aquecimento do cano, apesar da camisa externa perfurada. Com o excessivo
aquecimento, o cano tinha que ser substituído de tempos em tempos, em pleno campo de batalha, até
que esfriasse e era então, remontado à arma. O sistema de troca de canos era muito simples, com um
sistema de encaixe e travas de segurança e qualquer soldado treinado executava o trabalho em menos
de um minuto, sem prejuízo das atividades em campo.
No início da II Guerra, a Alemanha dispunha, com a MG34, da mais moderna, rápida, versátil e
portátil metralhadora em uso por qualquer um dos países beligerantes. Uma posição de combatentes,
mantida com uma MG34, espalhava um terror à sua volta e provocavam inúmeras baixas com
facilidade. A MG34 trabalhava com o sistema de culatra aberta, ou seja, na interrupção dos tiros o
ferrolho permanecia aberto, facilitando a refrigeração, e sem perigo de um cartucho auto‑detonar no
interior da câmara.
Soldados alemães na frente ocidental, equipados com a MG‑34
A MG‑34 pesava cerca de 12Kg sem o tripé; com ele atingia 19Kg. As versões que possuíam um bipé
frontal eram as mais comuns e versáteis. O comprimento total era de 1,21m. A produção em massa se
iniciou em 1935 e durou até o fim da guerra, em 1945, com cerca de 600.000 armas produzidas. Em
1941 o projeto sofreu algumas alterações, e a versão MG34/41 começou a ser empregada nas tropas,
oferecendo quase 1.200 disparos por minuto de cadência de tiro. Porém, a MG‑34 não era perfeita.
Apesar de que haviam problemas crônicos no funcionamento, principalmente quando submetidas ao
uso em ambientes com muita areia e poeira, a maior desvantagem estava justamente no projeto em si;
mecanismo complicado, que exigia usinagem precisa e materiais caros, complexidade de manufatura
e intercambiabilidade de peças, mais custo de fabricação elevado.
O sistema de gatilho de duas posições, para disparos intermitentes (E‑Eine) e contínuos (D‑Dauer).
Soldados alemães na frente russa, equipados com a MG‑34 montada em um tripé. Um deles porta o fuzil semi‑
automático G43.
A metralhadora MG‑34, apesar de que tenha sido substituída aos poucos pela MG‑42, mais barata e
mais fácil de se produzir, fez muito sucesso após a II Guerra, sendo adotada e utilizada por diversos
países (Portugal, China, Espanha, Arábia Saudita, Turquia, etc.) e eventos bélicos como na segunda
Guerra Sino‑Japonesa, Guerra Civil Chinesa, Vietnam, guerras e revoltas nas colônias portuguesas da
África, dentre outras.
O projeto de uma arma substituta à MG‑34 começou já no início da Guerra, em 1939. As empresas
que atenderam ao pedido da Comissão Alemã foram a Metall und Lackierwarenfabrik Johannes
Grossfuss AG, a Rheinmetall da cidade de Sömmerda, e a Stübgen, da localidade de Erfurt. Desses
projetos, o que melhor provou ser eficaz e eficiente foi a da Grossfuss, ironicamente uma empresa
que, ao contrário das outras duas, não tinha tradição nem experiência no fabrico de armamento.
Porém, era especializada no processo de estamparia, que era justamente onde residia o foco da
redução de custos de manufatura. O lider desse projeto foi o Dr. Werner Grunow.
A arma resultante dessa empreitada era bem similar na aparência, à MG34, o que aliás foi uma
decisão deliberada, uma vez que causaria menos impacto na tropa, já habituada com a operação
daquelas armas. Para simplificar, só havia agora a opção de utilização de cintas de munição, e não
mais de carregadores de tambor, caros e sensíveis às más condições de uso, com uma só exceção, a de
uma variante de 50 cartuchos.
Um dos primeiros modelos da MG‑42, produzida pela Metall und Lackierwarenfabrik Johannes Grossfuss AG
O mecanismo interno não tinha mais quase nada de herança das MG‑34. O complicado ferrolho foi
modificado e simplificado, utilizando‑se pela primeira vez em uma arma automática um sistema de
roletes laterais, que agiriam como elementos de trancamento quando o ferrolho se fechasse. O
sistema era tão eficiente que a cadência de tiro atingia a estonteantes 1200 disparos por minuto, tendo
chegado em testes executados à 1500 tiros. Da MG34 herdou um melhorado sistema de troca de
canos, ainda mais simples e fácil de ser executado.
Na fotografia de cima, o ferrolho da MG42 onde se pode notar os roletes laterais, de travamento da culatra.
Embaixo, desenho esquemático do funcionamento do sistema, da empresa Grossfuss AG.
Testes de campo comprovaram que a arma era bem menos suscetível à travamentos em virtude da
presença de areia, e lama. A produção iniciou‑se em 1942 e estima‑se em 400.ooo unidades
produzidas, com contratos firmados com a Mauser Werke e a Gustloff Werke, além das Johannes
Grossfuss AG. A MG‑42 foi, aos poucos, ocupando o espaço das MG‑34 nos campos de batalha, e tal
como acontecia com sua antecessora, espalhava uma certa apreensão e temor por onde era avistada.
Sua impressionante cadência de 1200 tiros por minuto gerava um som inconfundível, que quase todo
soldado aliado aprendeu a ouvir e respeitar.
A metralhadora leve MG‑42, que se tornou um padrão desse tipo de arma, não só na II Guerra como depois dela,
inspirando inúmeros projetos e cópias feitas em outros países.
O Exército Americano chegou a criar alguns filmes para serem exibidos à tropa, para auxiliar os
soldados, psicologicamente, a enfrentarem o trauma. Os apelidos dados à ela pelos americanos
descreviam o que parecia ser o som de um tecido rasgando, ou até mesmo de uma serra elétrica
(The Hitler’s Buzzsaw). Apesar dessa velocidade, soldados bem treinados adquiriram prática para
economizarem munição e minimizarem o aquecimento dos canos; uma prática denominada de
bursting fire, pequenas e pausadas rajadas curtas. O seu desenho privilegiava o uso de luvas, uma
lição que os aliados só aprenderem com o tempo. O peso da arma chegava perto dos 12Kg e seu
comprimento total era de 1,22m.
A dura lição que os americanos tiveram que aprender era que a doutrina militar americana era a de
privilegiar os fuzileiros, deixando para a metralhadora o papel de suporte. Para os alemães, isso era
exatamente o inverso: a metralhadora atuava no papel principal e os fuzileiros davam o suporte. Isso
significava que os alemães empregavam muito mais metralhadoras em relação ao mesmo número de
soldados na tropa, das forças aliadas.
A MG42 era, sem sombra de dúvida, uma arma muito além de seu tempo. O projeto é tão bom e tão
inovador que inspirou a construção de armas similares, baseadas em seu conceito, em dezenas de
países. Até mesmo a recente metralhadora americana M‑60 possui mecanismos baseados nos
conceitos da MG‑42. A Rheinmetall MG3 e suas variações é, até hoje, a metralhadora leve padrão das
forças da Alemanha, Grécia, Canadá, Itália e Austrália. O Brasil importou um grande lote dessas
armas, apesar de que a dotação em maior escala ainda é das FN MAG, ela mesma possuindo
mecanismo de disparo baseado na MG42.
Acima a metralhadora leve MG‑3 da Rheinmetall, básicamente uma MG‑42 com algumas alterações,
principalmente do ritmo de fogo, baixado para cerca de 800 a 900 disparos por minuto.
Era costume do Exército Alemão adotar as armas curtas produzidas nos países ocupados, a fim de
facilitar operações de produção e distribuição. Isso ocorreu com as metralhadoras ZB‑24 e ZB‑26,
produzidas na Tcheco‑Eslováquia, que passaram também a ser utilizadas, complementando as MG
no teatro de operações. Os alemães as denominaram respectivamente de MG‑24 e MG‑26.
A nomenclatura mais comum usada nessa arma é LK vz. 26 (“LK” significando “lehký kulomet”,
metralhadora leve; “vz.” vem da palavra “vzor”, Modelo na língua Checa). Porém, ZB vz. 26 é
incorreto, pois “ZB‑26” é uma designação do fabricante (Československá zbrojovka v Brně), enquanto
que “vzor 26” ou “vz. 26” é uma designação da arma em si.
Essas duas armas, bem similares entre si, foram desenvolvidas a partir da década de 20 pela empresa
Ceska Zbrojovka (CZ), da localidade de Brno, e baseadas em um projeto dos irmãos Vaclav (Vatslau) e
Emmanuel Holek. Era um desenho bem avançado para a época, de boa portabilidade, refrigerada à
ar e utilizando um carregador para 30 cartuchos inserido na parte superior da arma. Possuía recurso
de tiro automático ou semi‑automático. Apesar de vários problemas enfrentados no início, a arma
entrou em produção em 1926 e foi adotada pelas forças armadas do país em 1928.
Metralhadora leve ZB26, produzida na Tcheco‑Eslováquia e adotada pelos alemães como MG‑26
O desenho dessa arma também fez muito sucesso; era confiável, simples de fabricar e seu cano era
trocado com muita facilidade. O projeto era bom o bastante para se tornar alvo de inúmeras cópias.
Talvez a mais principal delas seja, sem dúvida, a metralhadora britânica BREN, idealizada durante
alguns anos que precederam a II Guerra, por técnicos inglêses, da qual falaremos em detalhe mais
adiante.
No âmbito das submetralhadoras, já durante a I Guerra, em 1915, uma comissão especial alemã
destinada a avaliar e testar armas militares decidiu partir para o desenvolvimento de uma arma
voltada para o combate a curta distância, como nas batalhas em trincheiras. A tentativa de se fazer
modificações em armas curtas já existentes, como certas modificações projetadas para as pistolas
Parabellum e a Mauser C96 , falharam. Armas como essas não conseguiriam manter um fogo preciso
em modo automático, devido à sua própria concepção, tamanho e peso muito reduzido. Com a
exigência de se criar uma arma totalmente nova, Hugo Schmeisser, na época trabalhando com
Theoror Bergmann e outros técnicos, desenharam o que seria a Maschinenpistole 18, ou MP‑18, que
atendia aos requisitos da comissão: velocidade alta de disparo e controlabilidade no tiro automático.
Entretanto, a produção serial só foi iniciada em 1918, já no final da Guerra.
A submetralhadora Bergmann MP18 em calibre 9mm Parabellum
Pode‑se dizer que a MP18 tenha sido a primeira submetralhadora a ser produzida no mundo. Apesar
de que em 1915 o projeto italiano da Villar‑Perosa possa até, por alguns autores, ter tido esse
privilégio, a bem da verdade a VP estava mais para uma metralhadora leve, bem longe do conceito
de real portabilidade da MP‑18.
Apesar de entrar no cenário final da guerra, ainda assim cerca de 10.000 MP18 foram destinadas à
algumas unidades combatentes alemãs. Após a Guerra, com as limitações impostas pelo Tratado de
Versailles, a produção da MP18 foi proibida. Entretanto, de forma dissimulada a Bergmann
continuou com a produção da arma e ela se provou excelente quando equipou algumas unidades de
continuou com a produção da arma e ela se provou excelente quando equipou algumas unidades de
polícias urbanas na Alemanha, bem como posteriormente utilizada na Guerra do Chaco e na Guerra
Civil Espanhola.
A arma sofreu algumas modificações e melhoramentos nos anos seguintes, e versões foram
produzidas utilizando carregadores do tipo tambor (drum magazines), com 50 cartuchos, ou o
tradicional carregador de montagem horizontal para 20 ou 32 cartuchos. Os calibres mais utilizados
foram o 9mm Luger e o 7,63mm Mauser. A cadência de fogo era de 550 tiros por minuto. O cano era
encamisado por um tubo perfurado, para a devida refrigeração. Nos anos que precederam a II
Guerra, a MP18 sofreu evoluções bem como gerou outros projetos, como a MP28 e MP32, também
criadas por Schmeisser.
Bergmann‑Schmeisser MP28
Basicamente o conceito dessas sub‑metralhadoras era o que até hoje é bastante comum, ou seja,
trabalhavam com o ferrolho aberto, sem travas de culatra (blowback) e um sistema de mola
recuperadora enclausurada em um tubo telescópico, uma solução engenhosa que serve de guia para
que a mola, razoavelmente longa, não se deforme com os constantes movimentos de compressão e
expansão.
No ano de 1924, o empresário Bertold Geipel fundou a ERMA, Erfurt Machinen, e a partir de 1928,
contratou Heinrich Volmmer, que passou a fazer parte da equipe de engenheiros e projetistas da
empresa. Na Erma, Vollmer desenvolveu um projeto baseado na MP28, denominado de EMP (Erma
Maschinen Pistole), que gerou posteriormente três variações importantes: A primeira, dotada de mira
tangencial, em 1935, cano longo com camisa perfurada e encaixe para baioneta, que foi vendida para
a Iugoslávia. A segunda variante possuía pequenas alterações, principalmente na coronha e a
terceira, que foi a mais vendida e mais usada na Espanha, incorporava pela primeira vez uma trava
de segurança.
Todos esses projetos, entretanto, utilizava o mecanismo desenvolvido por Vollmer. A EMP
possuía carregadores para 20 ou 32 cartuchos, calibre 9mm Parabellum, posicionado na parte frontal
e à esquerda da arma, em posição de 90º em relação à empunhadura. Pesava cerca de 4,200Kg. e
tinha uma cadência de tiro de 350 a 450 disparos por minuto. Não possuía opção para tiro único.
Acima, a Erma Maschinen Pistole, desenvolvida por Volmer em 1935
Finalmente, em 1938, a menos de um ano da invasão da vizinha Polônia, fato que desencadearia o
maior conflito armado da História, uma mudança de conceitos no Alto Comando Alemão fez com
que seus chefes entrassem em contato com Geipel solicitando com urgência o desenvolvimento e
fabricação de uma arma automática que suprisse as necessidades principalmente de tropas
motorizadas e de paraquedistas. Foi realmente providencial a atitude de Vollmer de ter continuado
com seu projeto, pois a Erma tinha, agora, condições de, em tempo recorde, suprir essa exigência do
Alto Comando. Para esta nova arma, a Erma designou a nomenclatura de MP‑38, ou Machinen‑Pistole
Modell 1938.
Armas Online dispõe aqui (h�ps://armasonline.org/armas‑on‑line/as‑submetralhadoras‑erma/) de um
artigo bastante completo a respeito da MP38 e da posterior MP40, duas submetralhadoras que
estavam, sem sombra de dúvida, dentre as melhores utilizadas naquele teatro de operações.
A submetralhadora Erma MP‑38
A Mp‑38 foi, sem sombra de dúvida, uma espécie de “mãe” de quase todas as sub‑metralhadoras
A Mp‑38 foi, sem sombra de dúvida, uma espécie de “mãe” de quase todas as sub‑metralhadoras
desenvolvidas desde então, revolucionando o conceito de fabricação em massa, de custo baixo e de
soluções práticas e eficientes, principalmente pela substituição de madeira por resinas plásticas e o
uso de uma coronha metálica dobrável, que deixava a arma muito mais prática e menor para uso
geral, podendo até mesmo ser disparada com uma só mão por um soldado paraquedista treinado,
mesmo estando ainda em processo de “aterrizagem”, tal como a praticidade de uma autêntica pistola
metralhadora.
Seu sistema era de ferrolho aberto e com a mola embutida em um tubo telescópico, tal como a EMP; a
armação era de chapa estampada e a estrutura da empunhadura em alumínio; as placas de
empunhadura e fustes eram em plástico. A arma possuía ainda uma peça em plástico, com
articulação bem abaixo do cano, que uma vez escamoteada, servia como um apoio, uma espécie de
monopé útil para manter a arma apoiada em janelas de veículos, por exemplo.
Cabe aqui uma explanação que gera muita confusão quando se fala das MP‑38. Elas são, muitas vezes
e equivocadamente chamadas de “Schmeisser”, palavra que se refere ao nome do ilustre projetista de
armas alemão, Hugo Schmeisser, já citado anteriormente e criador dos modelos da Bergmann. Isso
deve ter sido atribuido em virtude de que Schmeisser foi gerente‑geral da indústria Haenel, empresa
que durante a sua gestão produziu várias unidades da MP‑38. Mesmo quando a MP‑38 foi
substituída pela MP‑40, não só a Haenel continuou sua fabricação como Schmeisser, agora sim,
efetuou modificações na arma e criou a MP‑41, que abordaremos em seguida.
A Mp‑38 possuía um carregador posicionado na parte frontal, alinhado com a empunhadura, com
capacidade para 32 cartuchos calibre 9mm Parabellum (9×19), com uma cadência de tiro entre 500 a
550 disparos por minuto, pesando a arma desmuniciada cerca de 3,700Kg. Não possuía seletor de
tiro.
Acima, uma vista explodida da MP‑38
Um dos problemas que mais afetava a MP‑38 e igualmente em quase todas as armas similares, é a
questão da segurança. Como essas armas trabalham com o ferrolho aberto, e eles possuem
geralmente suas alavancas de armar proeminentes, existe uma grande possibilidade de disparos
acidentais em quedas ou batidas fortes. Esse problema foi resolvido de forma bem simples, até. Uma
pequena reentrância criada no final do rasgo por onde corre a alavanca do ferrolho servia para que
esta alavanca ali fosse encaixada e evitasse o seu retorno acidental para a posição de disparo.
Dois anos mais tarde, surgiu uma necessidade que em muito lembra o mesmo problema ocorrido
com as metralhadoras MG34 e MG42: a simplificação de produção e a redução dos custos. Desta feita,
a ERMA apresentou o projeto denominado de MP‑40, que de certa forma atendia as exigências do
Alto Comando.
Acima, a MP‑40 em calibre 9mmX19 Parabellum
Neste modelo o principal foco foi facilitar ainda mais o processo de produção e reduzir custos. A
armação passou a ser feita de chapa estampada em duas partes e soldada à ponto. O material plástico
utilizado no fuste foi substituído por um tipo de resina fenólica que era mais resistente ao calor e à
impactos. Outra importante mudança foi a utilização de aço com mais baixo teor de carbono, o que
facilitava em muito os processos de usinagens.
ITÁLIA
A Itália, antes da eclosão da I Guerra, fazia parte da Tríplice Aliança, e mesmo assim não declarou
guerra aos aliados em 1914. A bem da verdade, a Itália mantinha historicamente uma animosidade
com o Império Austro‑Húngaro, desde o Congresso de Viena de 1815, após as Guerras Napoleônicas.
A diplomacia aliada cortejava e mantinha um relacionamento amigável com a Itália, sabendo das
tendências nacionalistas e expansionistas de grande parte da elite militar. Dessa feita, com êxito, os
aliados assinaram com o país o Tratado de Londres em 1915, o que desobrigava a Itália de seus
compromissos com a Tríplice Aliança.
Uma das primeiras metralhadoras utilizadas pela Itália na I Guerra foi a Perino modelo 1908. Ela foi
desenvolvida a partir de 1901 pelo engenheiro Giuseppe Perino, que era um militar técnico em
artilharia. Ao que tudo indica, o projeto de Perino foi o primeiro desenho originalmente italiano de
uma metralhadora. Era uma arma refrigerada à água, com alguns conceitos baseados na Maxim. Era
grande, pesada, com mais de 27Kg somente a arma, sem o tripé. Necessitava de uma guarnição de 3 a
4 homens para operá‑la. Uma solução interessante era a utilização de um reservatório de água
contendo uma bomba movida à manivela, através da qual se fazia a água circular por dentro da
camisa de refrigeração da arma e retornar ao reservatório. Mais tarde, mesmo com a introdução da
Fiat Revelli e das metralhadoras Maxim, a Perino ainda conviveu algum tempo junto às tropas.
Metralhadora Perino M1908 em fotografia de demonstração.
A partir de 1910, o projetista Abiel Revelli decidiu modificar a metralhadora Perino, já nessa altura
considerada obsoleta para uso como arma de dotação padrão no Exército Italiano. Mais uma vez a
metralhadora Maxim serviu como base em diversas soluções, uma vez que era um desenho já
provado e testado por inúmeros países. O primeiro protótipo de Revelli foi recusado e a Maxim se
manteve como a arma padrão em uso. No entanto, em 1913, Revelli executou uma série de
modificações no seu projeto original e após novos testes, a arma foi aprovada.
O problema de se treinar soldados em dois tipos de armas fez com que, mais uma vez, o Exército
protelasse a encomenda de armas de Revelli. No entanto, para sua sorte, uma encomenda de 920
metralhadoras Maxim feita pelo governo anteriormente, sofreu atraso na entrega e em 1914, o Estado‑
Maior Italiano reavalia a arma de Revelli pela terceira vez. Dessa feita, decidem encomendar cerca de
50.000 peças para equipar diversas unidades do Exército, sendo que por volta de 10.000 foram
produzidas pela empresa automotiva FIAT e o restante, cerca de 40.000, pela Societá Metallurgica
Bresciana.
Metralhadora Fiat‑Revelli modelo 1914, em calibre 6,5mmX52
Em 1915, a arma foi distribuída para unidades de cavalaria e infantaria. Testada no campo de batalha,
mesmo em condições climáticas extremas e de grande estresse operacional, a arma se mostrou
robusta, apesar da mecânica rústica mas com balística adequada. O calibre era o 6,5mmX52 utilizado
no fuzil Carcano. A cadência de tiro era baixa, de no máximo 600 por minuto, mas não deixava de ser
o padrão para armas daquele tipo. O sistema de carregamento era feito através de uma caixa metálica
acoplada ao lado da arma, com capacidade de 50 cartuchos.
Por outro lado, era uma arma extremamente pesada (22 Kg quando carregada com água),
especialmente por causa do sistema de resfriamento de água. Além disso, Revelli inventou um
sistema de alimentação que era equipado com uma pequena bomba de óleo, que lubrificava cada
curso do ferrolho antes de seu fechamento. Com o tempo percebeu‑se que a arma era sujeita a
emperramentos constantes, uma vez que o óleo, combinado com a poeira que entrava no mecanismo,
criava uma pasta granulada, abrasiva, que ia bloqueando o próprio mecanismo.
Mesmo assim, a Revelli se tornou a metralhadora mais extensivamente utilizada pelo Exército
Italiano, mesmo após a Guerra, participando de outros conflitos armados, como na Líbia e na Etiópia.
Mesmo dispondo da Revelli, algumas unidades do Exército Italiano foram equipados, em menor
escala, com as metralhadoras americanas Colt‑Browning de 1895, as Hotchkiss 1914 e a Lewis, das
quais falaremos adiante.
Em 1930, a empresa Società Italiana Ernesto Breda per Costruzioni Meccaniche projetou, a pedido do
governo italiano, uma metralhadora leve, que acabaria por se tornar a arma automática portátil
padrão do Exército Italiano na II Guerra. A metralhadora Breda trabalhava com um carregador tipo
clipe metálico, para 20 cartuchos. O sistema de funcionamento era o de culatra destrancada
(blowback), o que além de causar trancos violentos ainda ocasionava problemas de extração de
cartuchos. Para piorar mais a situação, e nos parece que os engenheiros italianos não aprenderam a
lição herdada das Revelli, incorporaram na Breda a tal bomba de óleo, com a intenção de melhorar o
funcionamento da arma no que se refere à extração dos cartuchos. Novamente, o tiro saiu pela culatra
pois o óleo, misturado à areia e pó, tornava‑se uma massa pastosa que emperrava o ferrolho da arma.
Os únicos locais onde esse sistema se deu bem foi na região dos Balcãs e na campanha russa, devido
ao clima frio.
Uma metralhadora leve Breda 1930, exposta em um museu de armas canadense.
Em um sistema de culatra fechada em uma arma refrigerada à ar, como era o caso, a frequência de
disparos não intencionais era grande. Devido ao calor na câmara, os cartuchos auto‑detonavam.
Houveram diversos relatos de mortes e ferimentos causados à própria guarnição que operava a arma,
que passou a ser considerada não confiável.
Já durante a guerra, houve uma tentativa de se adaptar as Breda M1930 para utilizarem o novo
cartucho de fuzil da infantaria, o 7,35mm, mais eficiente e moderno que o arcaico 6,5mm Carcano. No
entanto, os planos para isso praticamente não saíram do papel. A Breda 1930 foi também utilizada em
larga escala montada em veículos blindados, como tanques e carros blindados. Em uso regular,
normalmente havia cerca de 24 peças por batalhão, cerca de uma para cada patrulha; porém, com o
passar dos anos, essa relação acabou sendo dobrada.
Acima, os dois lados de uma arma realmente problemática, a metralhadora leve Breda 1930
Apesar de ter um desenho até que avançado para a época, a Breda nunca foi considerada pelos
entendidos como uma arma militar de qualidade. A cadência de fogo era baixa para uma arma desse
tipo, atingindo 500 tiros por minuto. O carregador do tipo clipe metálico era de muito baixa
capacidade, e o remuniciamento era complicado e lento. Para se ter ideia da importância dessa
operação, cada soldado italiano recebia treinamento no recarregamento das Breda, mesmo que
durante toda a campanha nunca tivesse sequer tocado nessa arma. A troca de canos, condição
imprescindível para o êxito de uma metralhadora leve refrigerada à ar, era um tormento de ser
executado em campo de batalha.
Pouco antes da guerra, em 1937, a empresa Breda também lançou uma metralhadora pesada, no
calibre 8mmX59 Breda, com a intenção maior de utilização em veículos blindados e utilização anti‑
aérea, e com bem melhor potência balística que o obsoleto cartucho 6,5mm. Apesar de que seu
projeto mecânico é similar aos das metralhadoras Hotchkiss, utilizando um sistema de clipe
horizontal, o que não se entende é porque os projetistas optaram por fazer a arma retirar o cartucho
do carregador durante o disparo, o que é normal, mas recolocá‑lo de volta no carregador ao invés de
descartá‑lo, o que é contra‑producente pois retarda o ciclo de disparos. Além disso, arma também
sofria de diversos problemas herdados do projeto original da 1930. Mesmo assim, foi adotada pelo
Exército Português e ficou em serviço na Itália até meados de 1960.
Metralhadora pesada Breda Mod. 1937 com caixa de alguns acessórios e mira anti‑aérea
Em resumo, com qualquer uma das armas produzidas, a Breda infelizmente colaborou um pouco
mais para que a Itália entrasse para o rol dos países mais mal equipados, em termos de armas
portáteis, em ambas as Grandes Guerras; uma grande ironia, pois vai de encontro a um país com uma
tradição de armeria de primeira linha, fabricante das melhores espingardas de tiro e caça do mundo,
e porque não dizer, da pistola Bere�a, que hoje é a arma padrão de nada menos do que o Exército
Americano.
Na I Guerra a Itália praticamente não utilizou a sub‑metralhadora, mas isso não era um
comportamento próprio só daquele país. O conceito das batalhas na I Guerra era totalmente diferente
do que ocorria na II Guerra, por exemplo. Quase nenhum país beligerante tinha, nessa época, algum
interesse nesse tipo de armamento.
Mesmo assim, muitos autores costumam afirmar que justamente uma arma de idealização italiana
tenha sido a primeira submetralhadora utilizada em combate. Trata‑se da Villar‑Perosa M1915. A
responsável pelo projeto e a produção dessas armas foi a Officini de Villar Perosa. Orginalmente, o
projeto foi idealizado para que a arma fosse operada pelos tripulantes ou observadores de aviões
militares. No entanto, a ideia de torná‑la portátil era parte importante desse plano. O cartucho
empregado era o anêmico 9mm Glisenti, utilizado nas pistolas Glisenti adotadas pelo Exército.
Portanto, tratava‑se mesmo de uma submetralhadora, as quais, segundo especialistas, só merecem
essa denominação por esse motivo, ou seja, o conceito de uma pistola metralhadora utilizando
cartuchos de pistola semi‑automática.
A Villar‑Perosa era como se fossem duas armas em uma. Possuía não somente dois canos; os
mecanismos que os disparavam eram independentes, bem como os carregadores, o que na realidade
é como se fossem duas armas acopladas uma à outra. O sistema permitia uma cadência de tiro
exagerada, algo em torno de 1500 disparos por minuto, o que era completamente inútil, visto que os
carregadores comportavam 25 munições cada um. Desnecessário dizer que na prática, utilizada em
carregadores comportavam 25 munições cada um. Desnecessário dizer que na prática, utilizada em
aviões, o alcance era pífio e totalmente ineficiente, mesmo levando‑se em conta o tipo de aviões
naquela época.
Um dos modelos da Villar‑Perosa, montada em um suporte para uso em veículos
Por esse motivo, a Villar Perosa começou a ser distribuída para tropas terrestres, de forma que em
1916, praticamente cada batalhão de infantaria do Exército Italiano, possuía uma ou duas delas. Com
o seu baixo peso, comprimento reduzido e elevada cadência de tiro, podia ser utilizada facilmente no
assalto a trincheiras. No entanto, o Exército Italiano considerou‑a inicialmente uma arma de defesa,
equipando cada uma das Villar Perosa com um escudo blindado e uma elevada guarnição composta
por 14 militares. Mais tarde, a Infantaria aprendeu, aos poucos, a utilizá‑la como arma de assalto. A
opção “portátil” pesava cerca de 6,5Kg., com 53cm de comprimento e dois carregadores de 25
cartuchos cada.
Outra variação da Villar‑Perosa, numa opção realmente portátil
A maioria das Villar Perosa ainda existentes no final de 1918, foram desmontadas, sendo os seus
componentes utilizados para a criação da Bere�a M18, com um único cano e uma coronha de
madeira. Esta nova arma era uma verdadeira pistola‑metralhadora no sentido moderno do termo. O
engenheiro Tullio Marengoni foi o responsável pelo projeto, nessa época chefe de projetos da Pietro
Bere�a, uma das mais famosas fabricantes de armas esportivas de alta qualidade no mundo, e a mais
antiga fábrica de armas ainda em atividade.
A ideia era aproveitar o mecanismo da Villar‑Perosa e apenas rearranjar a peça de forma mais
conveniente para uso portátil. Apesar de que o título da primeira sub‑metralhadora do mundo
pertencer à Villar Perosa, pode‑se considerar a Bere�a M18 como sendo a primeira arma em serviço a
ser projetada especificamente para essa função, dado que sua antecessora consistia apenas numa
ser projetada especificamente para essa função, dado que sua antecessora consistia apenas numa
adaptação de uma metralhadora destinada a uso em aeronaves.
As modificações implementadas nas Villar Perosa que resultaram na Bere�a M18, consistiram na
instalação de um novo mecanismo de gatilho, baseado no das espingardas italianas, na adaptação de
uma coronha de madeira com um entalhe de ejeção na parte inferior e na instalação de uma baioneta
dobrável, semelhante às que estavam em uso nas carabinas Carcano. O resultado foi uma arma
prática e manejável, mas mantendo em grande parte, o mecanismo idêntico.
A Bere�a M18 começou a ser atribuída às unidades de Arditi (Comandos) do Exército Italiano, no
início de 1918, tornando‑se a primeira sub‑metralhadora a entrar em serviço no mundo, antecedendo
em algumas semanas até a famosa MP18 alemã. A Bere�a M18 manteve‑se em serviço até à Segunda
Guerra Mundial, sendo, além disso, utilizada na Guerra Civil Espanhola e na campanha da Abissínia.
O carregador comportava 25 cartuchos, o calibre ainda era o 9mm Glisenti, padrão das armas curtas
italianas; seu peso era de 3,300Kg e a cadência de tiro em torno de 900 disparos por minuto.
Pouco antes da II Guerra, em 1935, o projetista chefe da Bere�a, Tullio Marengoni, começou a
trabalhar no projeto da Mosche�o Automatico Bere�a Modello 1938, como uma alternativa à então
obsoleta M1918. Sua arma foi adotada oficialmente em 1938 pelo Real Exército Italiano. A Bere�a
1938 era uma excelente arma, ganhando prestígio e fama por ter sido uma das mais efetivas e
confiáveis submetralhadoras usadas na II Guerra. Entretanto, devido à uma série de dificuldades
geradas pela guerra, só em 1943 que a produção desse modelo atingiu níveis satisfatórios.
A submetralhadora Bere�a M1938
A Bere�a 1938 é reconhecida pela excelência dos materiais, a usinagem de suas peças e de seu
A Bere�a 1938 é reconhecida pela excelência dos materiais, a usinagem de suas peças e de seu
acabamento. O calibre agora era o bem mais eficiente 9mmX19 Parabellum, o calibre adotado pela
Alemanha durante a introdução das pistolas Luger em 1908. O ciclo de fogo era de 600 tiro por
minuto, uma taxa bem confortável e aceitável para armas desse tipo. O carregador podia ser de 10 a
40 cartuchos de capacidade. Manteve‑se ainda, durante algum tempo e em algumas versões, uma
baioneta dobrável, oriunda das carabinas Carcano. O sistema de disparo era sem trancamento
(blowback) de ferrolho aberto, o que na verdade era quase uma unanimidade nas armas desse tipo,
em vários países do mundo. Seu peso ficava em torno de 4,200 Kg, um pouco elevado para uma
submetralhadora.
Acima, a M1938/44, uma das variantes posteriores, mais leve, sem a camisa perfurada, e com a eliminação da
opção de tiro seletivo
O sistema de disparo era feito através de duas teclas de gatilho, o da frente destinado à tiro
individual e o de trás, para tiro automático. Um dos problemas encontrados durante o transcurso da
guerra foi o da produção mais simplificada e mais barata. Marengoni trabalhou sobre o projeto
durante os anos da guerra, e mais de cinco versões diferentes foram produzidas, ora visando alguma
solicitação especial do Exército e ora visando simplificação do processo de manufatura. Uma das
primeiras coisas a serem eliminadas foi a baioneta. A camisa perfurada do cano, apesar de ser boa
proteção às mãos do atirador, mostrou‑se um luxo desnecessário. Algumas versões tiveram o tiro um
a um eliminado e em outras foi incorporada uma trava de segurança.
Marengoni faleceu logo após a guerra e o projeto ficou sob responsabilidade de Domenico Salza, que
continuou trabalhando na arma até o designado Modelo 5, que foi introduzido tanto no Exército
como nas forças policiais italianas. Do Modelo 5 vieram as armas Modelo 12, de 1959, armas bem
mais compactas e modernas, que posteriormente foram adotadas por inúmeros países pertencentes
ao bloco da NATO, como foi o caso do Brasil. A Bere�a M12 também foi exportada para diversos
países da Europa, África e Ásia, onde equipa Forças Armadas e de Segurança. É fabricada sob licença
no Brasil, pela Taurus (MT12) e também na Indonésia. A Taurus MT12 é a pistola‑metralhadora
padrão da Força Aérea Brasileira e das Polícias Militares Brasileiras, como também da Polícia de
Segurança Pública em Portugal.
Submetralhadora Bere�a M12, ou aqui no Brasil conhecida também como MT12 (Taurus) e adotada pelo
Exército Brasileiro sob denominação de Metralhadora 9 M972.
INGLATERRA
Após a mudança de Hiram Maxim para a Inglaterra, a fundação da sua empresa, The Maxim Gun
Company, foi majoritariamente financiada por Albert Vickers, filho do industrial do aço Edward
Vickers. Albert Vickers tornou‑se então o presidente da companhia. Mais tarde, a companhia juntou‑
se à sua concorrente Nordenfelt e assim transformou‑se na Maxim‑Nordenfelt.
Em 1888, a arma foi apresentada para uma comissão do Exército Britânico e aprovada, passando a
equipar diversas unidades militares tanto na própria ilha como nas colônias. Finalmente, essa
companhia foi absorvida pelo empresa‑mãe Vickers. Sob essa nova direção, veio como herança os
projetos da metralhadora Maxim‑Vickers, cujo desenho foi continuamente aperfeiçoado, originando a
Metralhadora Vickers, adotada pelo Exército Britânico em 1912.
A metralhadora britânica Vickers Mod. 1912 Mk I‑ vários melhoramentos foram implementados sobre o projeto
de Maxim
A Vickers foi a metralhadora pesada utilizada em larga escala na I Guerra, pelos britânicos. O
cartucho empregado era o .303 British, o calibre padrão dos fuzis SMLE. A cinta de munições
comportava 250 cartuchos; a cadência de tiro era de 450 e o peso sem tripé de 18k. Com a adição de
água para refrigeração, seu peso subia para 22 Kg, aproximadamente. Tal como as Maxim e suas
derivadas, a Vickers Mk I e suas variantes posteriores, era uma arma muito confiável, resistente e de
grande durabilidade. Podia manter fogo contínuo por muito tempo, sem problemas de
funcionamento.
Adicionalmente, mesmo antes da entrada dos Estados Unidos na guerra em 1917, acordos de
colaboração entre os dois países permitiram aos Estados Unidos fornecerem equipamento militar em
grande escala. Para suprir as necessidades do Exército Britânico na área de armas portáteis, como
fuzís e metralhadoras, dois modelos de metralhadoras foram incorporados às tropas: a Browning
Mod. 1917 e a metralhadora Lewis Mod. 1914. Sobre a Browning 1917 falarmos no capítulo referente
às armas norte‑americanas, pois ela foi a metralhadora padrão do Exército dos USA nas duas grandes
guerras.
A Lewis, apesar de ser um projeto norte‑americano, foi bem mais utilizada pelos britânicos, que a
A Lewis, apesar de ser um projeto norte‑americano, foi bem mais utilizada pelos britânicos, que a
adotaram no curso da I Guerra. A Lewis foi um projeto idealizado pelo Coronel do Exército
Americano Isaac Newton Lewis, em 1911, baseado em idéias anteriormente criadas por Samuel
Maclean. Lewis tinha algumas desavenças pessoais com o chefe do departamento de ordenança
americano, o Gen. William Crozer, e por esse motivo, a Lewis acabou sendo rejeitada pelo
departamento e a arma não foi aceita pelo Governo Norte‑Americano.
Então, Lewis deixou os Estados Unidos em 1913 e mudou‑se para a Bélgica, onde fundou a Armes
Automatique Lewis, na cidade de Liège, importante comunidade belga com muita tradição e atividade
armeira naquele país. Com essa empresa iniciou conversações com antigas amizades que tinha com a
BSA, a British Small Arms, uma tradicional fabricante britânica de motocicletas e armas.
Soldado britânico defendendo sua trincheira com a metralhadora Lewis, na I Guerra Mundial
Após os contatos, Lewis produziu uma quantidade pequena de exemplares de sua metralhadora a
serem enviadas à Inglaterra, em calibre .303 British, o padrão daquele país e o mesmo usado nas
Vickers. A BSA gostou do projeto e adquiriu uma licença para fabricação local da arma, em 1914,
propiciando ao Coronel Lewis um significante reembolso em forma de royalties. Na iminência da
invasão alemã na Bélgica, Lewis mudou‑se com sua fábrica para a Inglaterra. A própria Bélgica
utilizou a metralhadora durante a invasão germânica, mas em pouca quantidade.
A arma foi oficialmente adotada em 1915 com a designação típica britânica de “Gun, Lewis .303‑cal.”.
No esforço de guerra, entretanto, a empresa norte‑americana Savage Arms conseguiu um contrato de
fornecimento aos britânicos de uma grande quantidade de metralhadoras.
A Lewis era uma metralhadora operada a gás, com uma tomada de coleta de gás na posição
A Lewis era uma metralhadora operada a gás, com uma tomada de coleta de gás na posição
intermediária do cano, que impulsionava uma trava do ferrolho na culatra, para destrancá‑la. Era
confiável, tanto que fez muito sucesso utilizada em aviões durante a I Guerra, inclusive em aviões da
Força Aérea Americana, onde ela havia sido recusada pelo Exército, anteriormente.
Metralhadora leve Lewis
Um dos detalhes que mais chama a atenção na Lewis, e que a torna uma silhueta inconfundível, é o
enorme tubo oco que envolve o cano e o carregador tipo tambor, instalado na posição horizontal,
montado sobre a culatra da arma. Esse carregador era inusitado em sua concepção, pois a maioria
dos carregadores de tambor utilizados em metralhadoras possuem os seus cartuchos dispostos de
maneira paralela. Na Lewis, os cartuchos eram posicionados de forma axial, apontados para o centro
do tambor.
Outro detalhe era a protuberância semi‑circular que se nota bem em frente ao guarda‑mato, que é um
alojamento para a mola recuperadora. Também, inusitadamente, ao invés de se utilizar uma mola
espiral para esse serviço, que é padrão em quase todas as armas automáticas, a Lewis usava uma
grande mola em formato de caracol, similar ao sistema utilizado em cordas de relógio.
Acima, o interessante sistema do carregador da metralhadora Lewis
A capacidade dos carregadores era de 47 a 92 cartuchos. A cadência de tiro era de 500 a 600 disparos
por minuto, com peso em torno de 13Kg. O grande tubo oco era feito de alumínio e o cano situava‑se
centralizado dentro desse tubo. Segundo Lewis, o tubo oco agia como um sistema de refrigeração
forçada, pois a própria expansão dos gases gerada pela saída dos projéteis pela boca do cano, causava
a troca gradual do ar quente por ar frio. Há algumas controvérsias sobre a real eficiência desse
sistema, uma vez que muitas unidades britânicas costumavam retirar o tubo e o funcionamento e
resfriamento da arma não eram prejudicados.
Apesar de que a Lewis e a Vickers permaneceram em uso mesmo na II Guerra, o que corrobora para
a fama dos ingleses de serem conservadores ao extremo, outra arma automática viria a fazer parte
integrante dessa equipe e que se tornaria a artista principal do evento, pelas suas qualidades e
portabilidade.
Após o término da I Guerra, já em 1922 o Small Arms Commi�ee of the British Army promoveu
alguns testes comparativos utilizando metralhadoras leves de diversas nacionalidades, com a
intenção de substituir a metralhadora Lewis pelo que agora se chamaria de fuzil‑metralhador, um
conceito de arma automática de infantaria bem mais moderno e prático. Após os diversos
procedimentos, a escolha estava recaindo sobre o norte‑americano BAR, o fuzil metralhador
Browning M1917, do qual falamos em um nosso artigo específico. No entanto, problemas financeiros
falaram mais alto, e devido à enorme quantidade de metralhadoras Lewis ainda existente, resolveu‑
se postergar qualquer decisão.
Em 1930, o Governo Britânico resolveu reativar os testes. Nessa época, as armas que participavam da
contenda eram o SIG Neuhausen, a Vickers‑Berthier e a ZB‑27, produzida na Tchecoslováquia, a
dinamarquesa Madsen e novamente o Fuzil Automático Browning. De acordo com o resultado dos
testes, em 1935, o Governo resolve adotar o fuzil‑metralhador ZB‑27 (Zbrojovka‑Brno), então
produzido na cidade de Brno, na Tchecoslováquia. A intenção era substituir duas armas, a
metralhadora Vickers e as metralhadoras Lewis, por uma só, de bem melhor portabilidade.
A metralhadora leve ZB‑26, antecessorra da ZB‑27 que serviria de base para o BREN
O desenho foi levemente modificado, bem como algumas alterações mecânicas, a pedido dos
britânicos, e prontamente atendidos pela empresa tcheca. A arma assumiu então a denominação de
ZB‑33. Uma das mais importantes mudanças foi o carregador, alterado de retilíneo para curvo, em
virtude do cartucho .303 britânico possuir aro (rimmed). Além disso, a alça de mira foi graduada até
50 jardas e não mais em 2.000 como antes; as ranhuras de refrigeração do cano foram eliminadas;
alavanca de armar foi redesenhada; o ejetor foi melhorado. Novos testes executados em 1934
incluíram o disparo de 150.000 cartuchos somente na avaliação mecânica e cerca de 50.000 para testes
de precisão.
Desta maneira, a nova denominação ZGB‑34 foi empregada e um contrato de produção sob licença
foi assinado, para se produzir a arma na Inglaterra. Daí por diante passou a ser designado como
Bren‑Gun, uma fusão das primeiras letras das palavras Brno e Enfield, respectivamente as duas
cidades onde ele será produzido de ora em diante. Os maiores produtores britânicos do BREN, fora o
Arsenal de Enfield, foram a BSA (British Small Arms) e a Austin Motor Works.
O fuzil metralhador Bren, extensivamente utilizado pela Grã‑Bretanha na II Guerra
Tratava‑se de uma arma operada a gás, alimentada por carregador para 30 cartuchos, de encaixe
Tratava‑se de uma arma operada a gás, alimentada por carregador para 30 cartuchos, de encaixe
superior, de desenho convencional e simples. Muito eficiente, foi amplamente usada pelo exército
britânico na Segunda Guerra Mundial junto com o fuzil Lee‑Enfield .303 e a sub‑metralhadora
Sten. Seu cano era de troca rápida e muito fácil, e seu sistema quase a prova de falhas, faziam da Bren
Gun uma excelente arma, tanto para ser usada como fuzil automático ou para ser usada como
metralhadora leve. Além disso, seu mecanismo podia ser ajustado pelo atirador para controlar a
cadência de tiro. Talvez o seu único ponto falho tenha sido justamente a conversão para o obsoleto
cartucho britânico, bem inferior balisticamente que o 7,92mmX57 Mauser para o qual havia sido
projetado. Seu peso era em média em torno de 10Kg, e a cadência de tiro entre 500 a 600 por minuto.
Durante a guerra, diversas alterações foram sendo implementadas, inclusive visando a redução de
peso, que chegou a ficar em torno de 8,5Kg. nas últimas versões.
No que tange às submetralhadoras, durante a II Guerra, pode‑se dizer que a Inglaterra lançou mão
somente de duas armas: a Lanchester e a Sten, pelo menos as mais utilizadas em larga escala. Os
Estados Unidos já haviam oferecido do Governo Britânico, antes da II Guerra, o fornecimento de
submetralhadoras Thompson, ideia que na época foi arquivada.
Já durante a II Guerra, após a fatídica retirada de Dunquerque, os militares britânicos repensaram na
sua posição anterior de que “não apreciavam armas usadas por gangsters, nas mãos de seus
soldados”, e solicitaram com urgência à Auto Ordnance, fabricante das Thompson nos USA, o
fornecimento de sub‑metralhadoras, na maior quantidade que poderiam produzir. Desde 1930 a Auto
Ordenance estava passando por conturbados problemas financeiros, e essa encomenda foi uma
dádiva dos céus. Mesmo assim, não tinham capacidade produtiva para tal demanda. Dessa forma, ela
sub‑contratou outra grande fabricantes de armas nos Estados Unidos, a Savage Arms Co., de Utica,
NY. Esse contrato permaneceu até que o Governo Americano assumiu a responsabilidade de
fornecimento de armas ao Império Britânico em 1941, com o advento da chamada Lease Lend. A
Savage e a Auto Ordnance continuaram fornecendo as Thompson, agora sob contrato norte‑
americano. Sobre as submetralhadoras Thompson falaremos mais adiante, no capítulo referente às
armas utilizadas pelos Estados Unidos.
A Lanchester foi idealizada por volta de 1941 e era baseada na MP‑28 de Schmeisser. O autor do
projeto era George H. Lanchester e foi produzida inicialmente pela Sterling Engineering Co., entre
1941 e 1945. Essa arma teve duas versões, a Mk.1 e a Mk.1* (Mark 1, estrela). Essa última era uma
simplificação da Mark 1, onde foi eliminado o seletor de tiro automático ou individual. Dessa forma,
ela só disparava em modo de fogo automático. A maior parte das Lanchesters foi distribuída à
Marinha Britânica.
Sub‑Metralhadora britânica Lanchester MK 1
Tal como a sua base MP‑28, era uma arma que trabalhava no sistema de ferrolho sem trancamento; os
carregadores eram montados do lado esquerdo e serviam como empunhadura. O cartucho
empregado era o alemão 9mmX19 Parabellum, carregadores com capacidade para 50 cartuchos e
cadência de fogo em torno de 600 tiros por minuto. Era equipada com uma coronha de madeira, na
cadência de fogo em torno de 600 tiros por minuto. Era equipada com uma coronha de madeira, na
verdade uma adaptação que permitia utilizar sobras de coronhas do fuzil SMLE desativados.
Mas a fama da submetralhadora mais utilizada pelas forças britânicas iria recair sobre uma outra
arma, tosca, feia, mal acabada, com aparência de arma feita em oficina de “fundo de quintal”. No
entanto, seu sucesso e aceitação são inquestionáveis. Trata‑se da submetralhadora Sten, desenvolvida
por volta de 1941, rapidamente adotada e distribuída às tropas, alcançando a cifra de quase 4 milhões
de armas produzidas. Seu nome é um acrônimo do nome de seus projetistas, R. V. Shepard and H.
J. Turpin e da fábrica que produziu inicialmente, o arsenal inglês de Enfield. Durante a guerra, além
de Enfield, a Sten foi produzida por famosos fabricantes de armas britânicos como a BSA Ltd e a
Royal Ordnance Arsenal. bem como no Long Branch Arsenal, no Canada.
Acima, a STEN Mark I
A STEN, cujo nome oficial era “9mm STEN Machine Carbine, Mark I” era uma submetralhadora de
culatra destrancada, blowback, sistema de ferrolho aberto. O gatilho permitia tiros individuais ou
automáticos, mediante um seletor de ajuste. O carregador era montado do lado esquerdo da arma,
com capacidade padrão de 32 cartuchos. A coronha era do tipo “esqueleto”, feita com tubos de aço e
era dobrável.
Quadro com 4 versões mais comuns da submetralhadora Sten, algumas delas empregando madeira para a
coronha e punho‑pistola.
Acima, a Sten equipada com silenciador
A versão MK II, da qual foram feitas 2 milhões, era um pouco menor que a MK I, com cano mais
curto. O encaixe para o carregador era móvel, e podia girar em 90º mas só para efeito de facilidade no
transporte, em grandes quantidades. Em campo, eles tinham que estar na posição correta. Isso gerou
alguns problemas de mal funcionamento, pois esse sistema não era muito durável. A mola do
carregador também foi, muitas vezes, causas de problemas de mal funcionamento da arma junto às
tropas. Algumas Sten foram produzidas com uma espécie de silenciador acoplado ao cano. No
entanto, a efetividade desses silenciadores era baixa, pois grande parte do ruído era gerado pelo
mecanismo da culatra. Instruções que acompanhavam esse modelo insistiam para que fosse mais
usada no modo semi‑automático, onde a durabilidade do silenciador era estendida.
Mas o projeto não era perfeito; problemas ocorreram com frequência, o mais comum deles eram
disparos acidentais durante a queda da arma ao chão. De certa forma foi uma decisão acertada
quanto ao carregador ser baseado no da MP‑38 alemã. Isso traria certas vantagens nos campos de
batalha, pois carregadores portados por soldados alemães abatidos podiam ser aproveitados. Mas
essa atitude trouxe como herança os mesmos problemas que haviam nos carregadores das MP‑38 e
40.
Naquela arma o carregador era bifilar, ou seja, haviam duas carreiras de munição intercaladas, de
Naquela arma o carregador era bifilar, ou seja, haviam duas carreiras de munição intercaladas, de
forma que o carregador poderia ser mais curto mas de grande capacidade. No topo do carregador, tal
como ocorre hoje nas pistolas semi‑automáticas que utilizam o sistema bifilar, há um
estrangulamento de forma que somente um cartucho seja oferecido para uso, de cada vez. Nas
submetralhadoras Thompson, por exemplo, esse problema não ocorria pois cada “coluna” de
cartuchos era usada de forma alternativa, uma de cada vez, similar ao carregador das pistolas Mauser
C96. No caso da Sten, os “lábios” de retenção do cartucho eram submetidos à grande esforço e
prematuro desgaste. Além do que, o ângulo de saída tinha que ser de 8º de forma precisa, e isso ia se
alterando com o tempo.
Acima, a diferença entre dois carregadores bifilares. À esquerda o chamado “double‑row/double‑feed” (dupla
coluna, alimentação dupla) e à direita “double‑row/single‑feed” (dupla coluna, alimentação única). As
americanas Thompson utilizavam o carregador como da foto à esquerda, e as Sten e as MP’s alemãs, o da
direita.
Carregadores que falhavam na alimentação tinham que ser retirados da arma, normalmente batidos
contra o joelho ou sola da bota, na tentativa de realinhar as colunas e depois ser introduzido na arma
novamente.
O peso médio da Sten era de 3,3 Kg; o calibre era o 9mm Parabellum, o mesmo utilizado pela
Alemanha nas pistolas Parabellum, Walther P‑38 e nas submetralhadoras MP‑38 e MP‑40 e a cadência
de tiro ficava em torno de 500 por minuto.
Acima, um SS‑Obergruppenfuhrer (General der Arm) examinando uma MP3008
O projeto da Sten foi tão bem sucedido que nos últimos anos da guerra chegou a incomodar até os
especialistas alemães. Em 1944, por ordem do Alto Comando, a Mauser começou a produzir uma
cópia da Sten MK II para ser usada principalmente em missões clandestinas e de sabotagem. A
chamada Gerät Neuminster era uma cópia exata da Sten, exibindo até as marcas de prova iguais às
britânicas.
Além disso, desenvolveu‑se a MP3008, uma outra cópia desenvolvida como medida de emergência,
pela Mauser em 1945. Destinou‑se a equipar as Forças Populares de Defesa Territorial (Volkssturm),
recebendo o apelido de Volksmachinenpistole (pistola‑metralhadora do povo). No entanto, optou‑se
por utilizar o carregador posicionado verticalmente, como nas MP‑38 e 40, e não horizontalmente
como na Sten.
Após a guerra, a Sten continuou sendo utilizada em diversos outros conflitos bélicos, como na
Segunda Guerra Sino‑Japonesa, Guerra Civil Chinesa, na Revolução da Indonésia, Guerra da Coréia,
na crise do canal de Suez e em vários outros.
FRANÇA
Durante a I Guerra, a França tinha em mãos um projeto de um fuzil‑metralhador que poderia ser
utilizado como metralhadora leve. Tratava‑se do C.S.R.G., iniciais que significam Chauchat, Suterre,
Ribeyrolle et Gladiator, adotado que foi em 1908. Os tres primeiros nomes são os dos seus projetistas
e o último, do fabricante da arma, Établissements des Cycles “Clément‑Gladiator”, um fabricante
e o último, do fabricante da arma, Établissements des Cycles “Clément‑Gladiator”, um fabricante
francês de bicicletas.
Apesar de sua aparência estranha, era bem revolucionário em sua concepção, tanto que fez enorme
sucesso militar no cenário da I Guerra, chegando até a ser utilizado pelas forças norte‑americanas,
adaptado para o calibre .30‑06 Springfield, ao invés do padrão 8mm X 50R, cartucho que
era utilizado pela França em seus fuzis de repetição Bertier e Lebel. Essa arma, apesar de que, pelos
conceitos atuais, acredito eu ser um fuzil semi‑automático com tiro seletivo, na época era chamado de
metralhadora leve; mas pela sua inovação e criatividade, resolvi citá‑lo aqui também como referência.
O Fuzil “Metralhador” Leve de projeto francês: C.S.R.G. – Chauchat, Suterre, Ribeyrolle et Gladiator, em
calibre 8X50R. O carregador em forma de meia‑lua era resultado do fato dos cartuchos 8X50R possuírem um
acentuado formato cônico e serem dotados de aro (rimmed).
Era, a bem da verdade, uma monstruosidade com 1,14 metro de comprimento e 9Kg de peso. O
modelo mais comum possuía um carregador em forma de meia lua, muito trabalhoso de municiar e
capacidade para 16 cartuchos. O carregador meia‑lua possuía enormes janelas laterais, desenvolvidas
para que o atirador pudesse acompanhar melhor a capacidade de cartuchos restantes. Entretanto,
lama, areia e cascalhos eram o que as trincheiras mais ofereciam de pior aos soldados e às suas armas,
e esses carregadores se entupiam com isso. Além do mais, eram frágeis e entortavam facilmente
quando derrubados ao chão. A cadência de tiro era baixa, chegando perto dos 300 por minuto.
Em termos de metralhadoras pesadas, a opção mais comum em uso na I Guerra eram as Hotchkiss
modelo 1909 e a posterior 1914. Essas armas foram produzidas baseadas em um projeto do Barão
Adolf Odkolek von Ujezda, de Viena. A empresa Hotchkiss, fundada em 1860 pelo norte‑americano
Benjamim B. Hotchkiss adquiriu as patentes de Odkilek em 1893, mas o fundador Hotchkiss já havia
falecido nessa época.
Dois engenheiros da empresa, Laurence Vincent Benét (1863–1948), com a ajuda de Henri Albert
Mercié fizeram inúmeros melhoramentos no projeto original e o testaram em 1895. O Exército
Francês testou e adquiriu a arma em 1897. O modelo 1909, descendente direta e aperfeiçoada da 1897
era uma metralhadora leve, também conhecida como Hotchkiss Mark I e M1909 Benét–Mercié.
Os Estados Unidos adotaram essa arma em 1909, sob a denominação de “Benét–Mercié Machine
Rifle, Caliber .30 U. S. Model of 1909”, e disparava o cartucho padrão de fuzil .30‑06 Springfield. O
histórico dessa arma nos Estados Unidos não foi dos melhores, infelizmente, como descrevemos no
artigo sobre o Browning Automatic Rifle. A arma era operada à gas, refrigerada à ar, com um peso
por volta de 12 Kg. Inicialmente era alimentada por um carregador tipo lâmina para 30 cartuchos,
uma das causas maiores de emperramentos da arma quando não eram municiados de forma correta.
Mais tarde desenvolveu‑se a opção de alimentação por cinta flexível. A cadência era de 400 tiros por
minuto.
A metralhadora Hotchkiss Benét‑Mercié de 1909
Em 1914, a empresa Hotchkiss lançou a metralhadora pesada M1914, utilizando o cartucho padrão
francês 8mmX60 Lebel, que era baseada no modelo 1909 e nas idéias do capitão austríaco Barão
Odkolek. A partir de 1917, a Hotchkiss M1914 passou a ser a metralhadora padrão do Exército
Francês, substituindo a bem menos confiável rival, a St. Etiènne M 1907. A M1914 era tremendamente
robusta, confiável, tanto que permaneceu em serviço até meados de 1940, já durante a II Guerra. Mais
de 100.000 armas foram produzidas, contando com as exportadas para diversos países, como Brasil,
Japão e México.
Esquema de funcionamento da alimentação da M1914
Esquema de funcionamento da alimentação da M1914
A M1914 era uma metralhadora operada à gás, refrigerada à ar, funcionando no sistema de culatra
aberta, como são hoje a maioria das metralhadoras modernas. Sua característica marcante são os
grandes anéis forjados junto ao cano para exercerem função dissipadora de calor. Pesava cerca de
24Kg, possuía um tripé de apoio e trabalhava com os mesmos carregadores de lâmina, de operação
horizontal, usados na M1909. O calibre era o 8mmX50 Lebel, padrão do Exército Francês.
Metralhadora Hotchkiss M1914
A M1914 possuía um regulador da tomada de gases no cano que permitia que a cadência pudesse ser
regulada, apesar de que a máxima se situava em torno de 450 tiros por minuto. Durante a I Guerra,
em 1916, a linha de frente dos franceses ainda estava equipada com a St. Etiènne 1907, que era a arma
padrão do Exército. Entretanto, os problemas eram tantos que o alto comando convenceu o General
Pétain para que ordenasse a substituição delas pelas Hotchkiss M1914, o que acabou sendo feito a
partir de 1917.
A Hotchkiss M1914 com o carregador “flexível” para 250 cartuchos
O projeto mecânico da M1914 era muito bom: a arma possuía somente 32 peças (sem contar o tripé),
utilizava somente 4 molas helicoidais e pouquíssimos pinos e parafusos. Todas as peças foram
desenhadas de forma a não permitir a montagem da arma de forma equivocada. Apesar de que a
arma podia ser municiada rapidamente, o carregador comportava somente 24 cartuchos, mas como
eles eram ejetados automaticamente ao disparar o ultimo cartucho, e o ferrolho ficava aberto, era
muito rápido colocar outro carregador e reiniciar a atividade. Havia também a solução de se emendar
um carregador à outro, duplicando ou triplicando a autonomia, mas algum operador tinha que ficar
sustentando‑o na arma durante os disparos, para que fosse alimentado corretamente.
A troca do cano era recomendada a cada 1.000 disparos. Mais tarde surgiu a opção de um carregador
de lâmina maior, que tinha uma certa flexibilidade, mas que necessitava de um ajudante para facilitar
a passagem dele através da arma. A cadência de tiro era em torno de 450 por minuto, mas podia ser
regulada para menos. A maior reclamação sobre a M1914 era o peso, que com o tripé podia chegar a
quase 50 Kg.
Combatentes franceses entrincheirados com uma M1914 na I Guerra Mundial
O Brasil utilizou a Hotchkiss M1914, que participou ativamente de conflitos como a Revolução
Constitucionalista de 1932. Os combatentes paulistas, quando a ouviam disparar, a apelidavam de
“pica‑pau” devido ao ruído característico de sua baixa cadência de tiro.
Como já dissemos anteriormente, a metralhadora anterior à Hotchkiss 1914 de uso regular nas Forças
Francesas era a St. Etiènne Modele 1907. Apesar de também utilizar o cartucho padrão francês
8mmX50R, não tinha semelhança nenhuma com os modelos da Hotchkiss, a não ser pelas
características similares de refrigeração à ar e operação à gas. Operava por um sistema meio
complicado e sujeito à falhas, derivado da metralhadora francesa Puteaux de 1905, que havia sido
considerada arma comprovadamente insatisfatória. Um intrincado sistema de pinhão e cremalheira e
muitas peças pequenas eram fonte constante de problemas. Mesmo assim, os projetistas da
Manufacture D’Armes de Saint Etiènne promoveram uma série de melhorias e aperfeiçoamentos.
Acima, a metralhadora St. Etiènne Modèle 1907
A M1907 era uma tentativa deliberada de desenvolver uma metralhadora de infantaria que seria
mecanicamente diferente da Hotchkiss Mle 1900, que era um projeto de metralhadora patenteado.
Mas a idéia de se basear o projeto na metralhadora Puteaux não foi acertada. Essa arma utilizava um
sistema denominado de “blow‑forward“, onde se inverteu o princípio convencional; ao invés do pistão
ser impulsionado para traz para destrancar a culatra, ele é empurrado para a frente. Como ele
conectado a um sistema de pinhão e cremalheira, esse movimento faz com que uma engrenagem gire
meia volta e através de um came, destranque o ferrolho.
Vista parcial do mecanismo interno da St. Etiènne M1907: no momento do disparo, a saída dos gases, através de
um orifício no cano, empurra um pistão para a frente; ele é ligado à peça (d) que por sua vez puxa a cremalheira
(a) para a frente, fazendo a engrenagem (b) girar no sentido anti‑horário. Neste movimento, o came da
engrenagem arrasta a peça (c) para trás e libera o ferrolho.
A arma foi incorporada ao Exército em 1907 e participou de diversos combates durante a I Guerra,
mas sempre gerando reclamações da tropa. Cerca de 40.000 peças foram produzidas. Seu peso era em
torno de 25Kg. sem o tripé. O ciclo de fogo podia ser regulado desde 80 até 650 disparos por minuto,
o que era uma opção interessante. Os clipes eram do tipo Hotchkiss de 25 cartuchos calibre 8X50
Lebel ou uma opção mais longa de 250, também igual ao usado na M1914, somente introduzido em
1916. Entretanto, a partir de 1917 ela começou a ser gradativamente substituída pela muito mais
confiável Hotchkiss de 1914. Com isso, passaram a ser enviadas para as linhas de retaguarda e
algumas delas foram até fornecidas à algumas tropas italianas.
O confiável e eficiente Browning Automatic Rifle, fornecido à França pelos Estados Unidos no esforço de guerra
O confiável e eficiente Browning Automatic Rifle, fornecido à França pelos Estados Unidos no esforço de guerra
Durante a II Guerra, a metralhadora Hotchkiss M1914 se manteve na ativa na maior parte das zonas
de combate, embora o Exército contasse com as bem mais escassas Darne e Reibel, muito pouco
utilizadas na guerra. Finalmente, no campo das metralhadoras leves, foi importante a presença da
Hotchkiss M1922. Pesando 8,5Kg e com um carregador tipo caixa para 20 cartuchos, era uma arma
eficiente e de boa portabilidade. O calibre ainda era o velho 8X50R Lebel. Um pouco mais tarde a
M1922 foi oferecida no mais moderno calibre 7,5mmX54. O sistema era bem convencional,
refrigerada à ar, operação à gás com tomada na parte mediana do cano e trabalhando com o método
de ferrolho aberto. O carregador era inserido por cima, na vertical, e os cartuchos caíam ao solo por
uma abertura inferior.
Metralhadora leve Hotchkiss M1922
Havia a opção da M1922 utilizar carregamento por clipes metálicos, mas as armas não eram
compatíveis com os dois carregadores simultaneamente. No entanto, o modelo que utilizava o
carregador tipo caixa era muito mais confiável e por isso, o preferido pelas tropas. O envio de alguns
milhares de fuzis automáticos Browning, o BAR M1918, efetuado pelos Estados Unidos em muto
ajudou as tropas francesas a disporem de uma arma automática de maior portabilidade.
O Exército Francês praticamente não utilizou submetralhadoras durante a I Guerra. Mesmo durante a
II Guerra, a presença desse tipo de arma nas mãos da infantaria francesa era tremendamente escassa.
Submetralhadora MAS Modèle 38 em calibre 7,65mm “Longo”
O desenvolvimento de submetralhadoras francesas iniciou por volta de 1930, envolvendo diversos
arsenais e fabricantes de armas daquele país. Em 1935, a Manufacture d’Armes de Saint‑Etienne
apresentou um projeto denominado de SE‑MAS 35, que pouco mais tarde, em 1938, acabou sendo
adotado pelo governo francês. A produção da então MAS‑38 iniciou‑se em 1939, mas muito poucas
entraram em serviço antes da invasão alemã de 1940. De qualquer forma, houve também a
entraram em serviço antes da invasão alemã de 1940. De qualquer forma, houve também a
colaboração dos Estados Unidos no suprimento de algumas submetralhadoras Thompson, bem como
o fornecimento de submetralhadoras STEN efetuado pela Inglaterra.
De um modo geral a Mas‑38 não era perfeita, mas era aceitável. Mecanicamente era confiável mas seu
cartucho 7,65X20, também conhecido como 7,65mm Longo, era inadequado para uso militar. O
sistema era bem comum, tipo blowback, trabalhando com ferrolho aberto. Pesava 2,800Kg e o
carregador comportava 32 munições. A cadência de tiro era de 600 por minuto. O seu desenho era
estranho, devido à má impressão causada pelo desalinhamento entre o ferrolho e o cano. Essa
solução de se manter um leve ângulo de inclinação entre o cano e ferrolho reduziria, em tese, o recuo
da arma, devido a uma fricção maior no ferrolho. O tubo extensor do ferrolho e sua mola penetravam
, em parte, para dentro da coronha.
ESTADOS UNIDOS
Desde 1887 que o Exército dos Estados Unidos tinha grande interesse nas metralhadoras Maxim.
Dois anos depois algumas variações da arma foram testadas exaustivamente. Finalmente em 1904 o
exército adota a metralhadora, denominado‑a de Maxim Machine Gun, Caliber .30, Model 1904. Esse
cartucho era então o .30‑03 Springfield, o antecessor do .30‑06 que viria a se tornar o cartucho padrão
norte ‑americano para as duas Guerras Mundiais. As primeiras Maxim foram produzidas pela
Vickers, na Inglaterra. Localmente, foi escolhida a Colt´s Manufacturing Company para produzí‑las.
Como a Colt só começou a produção em 1908, suas armas já eram no calibre .30‑06.
Quando os Estados Unidos ingressou em operação na I Guerra, as Maxim foram designadas somente
para fins de treinamento; nunca participaram na linha de combate. Uma das metralhadoras que
participaram do conflito foi a Benét‑Mercié de 1909, da qual falamos acima, no capítulo referente às
armas francesas. No entanto, a terrível experiência anterior nos campos de batalha, durante a guerra
contra o México, haviam marcado de forma indelével e traumatizante a história dessa metralhadora.
O primeiro desenho de uma metralhadora automática realmente norte‑americano surgiu em 1895
com a Colt‑Browning. Essa arma havia sido desenvolvida por Browning entre 1891 e 1895. Tão logo
começou a ser testada, ganhou o infame apelido de “potato‑digger“, ou cavadora de batatas, devido ao
estranhíssimo sistema de coleta de gases que utilizava uma alavanca debaixo da arma, que durante os
disparos, articulava‑se para fora da arma, de uma maneira realmente perigosa. Era refrigerada à ar,
alimentada por cinta de munições e inicialmente calibrada para o cartucho .30‑40 Krag, adotado pelo
Exército naquela época. A cadência de tiro era em torno de 400 por minuto.
A metralhadora Colt‑Browning M1905
Um dos maiores inconvenientes dessa arma era o fato de não poder ser utilizada muito rente ao solo,
devido à tal alavanca que articulava embaixo da arma e que precisava de um certo espaço, sob pena
de literalmente cavar o solo abaixo dela. Portanto, o ideal era que a arma ficasse montada sobre um
tripé. Apesar de que era funcional e razoavelmente confiável, estava longe de ser a metralhadora
ideal que o Exército Americano sonhava ter. Felizmente essa tragédia estava com os dias contados,
novamente graças à colaboração do gênio americano John Moses Browning.
Em 1917, uma metralhadora pesada apresentada por Browning para testes do Exército, que por sinal
era um projeto dele desde 1901, foi aprovada com louvor. Nada menos que 20.000 disparos foram
efetuados sem nenhum problema mecânico de enguiço ou quebra de peças. A partir desse ano, perto
de 40.000 armas foram produzidas e entregues ao Exército antes do armistício, mas muito poucas
chegaram aos campos de batalha na França. A Browning 1917 era uma metralhadora refrigerada à
água, pesando cerca de 47Kg completa (com tripé, munição e carregada com água), com cadência de
tiro de 450 por minuto na versão M1917 a de 600 na versão M1917A1. A alimentação era feita por
cinta de lona para 250 cartuchos, calibre .30‑06 Springfield. A guarnição de uma M1917 era de quatro
homens: um atirador, um municiador, carregador de água e de munição.
Acima a metralhadora Browning M1917 em cal. 30‑06 Springfield, completa com tripé e reservatório de água.
Acima, um “raio‑X” da M1917 (clique para ampliar)
Após a guerra, a Browning M1917 se tornou a arma padrão desse tipo no Exército. A cavalaria
solicitou um modelo mais leve, capaz de maior poder de fogo sustentado. Através dessa solicitação
Browning projetou uma variação da M1917 com a mesmo mecanismo, porém utilizando um cano
mais curto e com uma camisa de aço perfurada para a refrigeração à ar. O tripé também foi
reprojetado para um modelo bem mais leve e de maior portabilidade, sem os complexos mecanismos
de elevação e ajustes laterais. Nascia então a M1919, que serviria de base para diversas variações que
surgiriam ao longo dos anos e se tornaria a metralhadora padrão norte‑americana.
Metralhadora Browning M1919
A Browning M1919 era refrigerada à ar, municiada com cinta de lona de 250 cartuchos, com peso em
torno de 14Kg sem o tripé. A cadência de fogo era de 400 a 600 tiros por minuto, e trabalhava com
método de curto recuo do cano, para efetuar o destrancamento, e sistema de ferrolho aberto.
Por volta de 1940, o Exército iniciou uma série de testes em diversos projetos de metralhadoras, a
maioria deles baseado nos desenhos de Browning, como as do Arsenal de Springfield, Rock Island e
outras de projetos originais como a Sedgley e Ruger, operadas à gas. Nenhuma delas realmente
convenceu os técnicos, de modo que o Exército acabou por adotar uma pouco modificada versão da
M1919A4, usando um tripé tipo M2, visando uma arma de peso e porte médio para equipar as tropas
americanas através da II Guerra. Apesar de suas inúmeras vantagens e alta confiabilidade, um de
seus pontos fracos era o fato do cano não ser facilmente trocado. Ele era rosqueado na caixa, e após a
remontagem, era necessário um ajuste da folga existente entre o cartucho e o ferrolho, pois isso
causaria falhas na percussão do cartucho.
Browning M1919A4, a versão padrão em uso na II Guerra
Browning M1919A4, a versão padrão em uso na II Guerra
A versatilidade do sistema empregado na M1919 deu margem à inúmeras variações e modificações,
sendo que cada uma delas eram destinadas à diferentes atividades, como o uso em vários tipos de
carros de combate, montadas dentro ou fora dos veículos, usando suportes que permitiam o giro em
360º, bem como em aviões, com várias opções de montagem, algumas delas utilizando um sistema
elétrico para disparo remoto do gatilho.
A Browning M1919A4 com sistema de disparo por gatilhos operados pelos dedos polegares.
A versão M1919A6 foi uma das tentativas de se transformar a M1919 em uma metralhadora “leve”, o
que realmente não ocorreu na prática. Mesmo assim, a idéia era equipá‑la com uma coronha de
madeira e um bipé frontal ao invés de um pesado tripé. Uma alça de transporte também foi agregada
à camisa do cano para facilitar o transporte.
Acima, a M1919A6, uma metralhadora mais “light”
A M1919A6 não era realmente indicada para fogo sustentado, pois ainda necessitava de uma ajuda
de um municiador. Porém, em um combate onde o avanço da tropa era rápido, tirá‑la de sua posição
e levá‑la para outro local de forma rápida, era bem mais fácil. Mesmo assim, seu peso atingia 16Kg e
ainda era uma arma desajeitada quando se comparava às MG34 e Mg42 alemãs.
Como arma automática de suporte à tropa, além da Browning M1918 e M1919, o Fuzil Metralhador
Browning teve um papel muito importante, principalmente pela sua grande versatilidade e melhor
portabilidade. Não tinha, evidentemente, o poder de gogo sustentável como nas metralhadoras. O
BAR, como era chamado, tem aqui em nosso site um capítulo dedicado à ele.
Acima, o Fuzil Automático Browning, em calibre .30‑06, uma arma de apoio muito importante na infantaria.
A opção de uma metralhadora mais pesada, com calibre bem mais potente e com melhores
pretensões para emprego anti‑aéreo ficou a cargo de uma arma que se tornaria uma verdadeira
estrela, que aliás brilha até hoje em campos de batalha como Iraque, Afeganistão e muitos outros. É a
metralhadora pesada Browning M2, em calibre .50 BMG. O seu projeto se baseia em conceitos
mecânicos muito semelhantes aos da metralhadora Browning M1919 de calibre .30‑06.
Foto comparativa dos cartuchos empregados pelos USA desde a II Guerra: .50BMG, .30‑06 Springfield,
7,62X51 NATO (baseado no .308 Winchester) e 5,56X45 NATO (baseado no .223 Remington)
Durante a I Guerra, o general comandante da Força Expedicionária Americana, John J. Pershing havia
solicitado o desenvolvimento de uma arma automática de maior potência que as metralhadoras .30.
O Coronel John Henry Parker havia comandado uma escola militar na França e havia observado a
eficiência da metralhadora de 11mm com munição incendiária que se utilizava em caráter
experimental. Baseado nos estudos de Parker, Pershing estabeleceu que a nova arma deveria
trabalhar com um cartucho de calibre de pelo menos meia polegada, ou .50″. A velocidade deveria
trabalhar com um cartucho de calibre de pelo menos meia polegada, ou .50″. A velocidade deveria
atingir por volta de 2.700 pés por segundo. A intenção era produzir uma arma muito versátil, para
uso contra infantaria, veículos semi‑blindados, fortificações leves e aeronaves em baixa altitude.
Os diversos tipos de munição empregados até os dias de hoje nas metralhadoras M2
Por volta de 1917, John Browning iniciou os estudos para redesenhar a metralhadora .30‑06 M1917,
para utilizar um cartucho maior. A Winchester Arms Co. se encarregou de projetar o cartucho, que
seria proporcionalmente um cartucho .30‑06 aumentado. Em 15 de outubro de 1918 as primeiras
armas produzidas começaram a passar pelos testes. A cadência de tiro estava por volta de 500 por
minuto e o projétil atingia a velocidade de 2.300 pés por segundo. No entanto, a arma era muito
pesada, difícil de controlar e ainda não muito eficaz contra blindagens leves.
John Browning testando um dos primeiros protótipos da metralhadora .50, com refrigeração à água
Depois de um esforço conjunto de John Browning e de Fred Moore, o resultado foi a versão
refrigerada à água M1921. Outra versão com cano mais leve foi idealizada para uso em aviões e
outra, com cano mais pesado, para uso em terra. No entanto, em 1926, morre John Browning e a
partir daí o projeto fica na mãos do Dr. Samuel. H. Green, que projetou uma armação que podia ser
partir daí o projeto fica na mãos do Dr. Samuel. H. Green, que projetou uma armação que podia ser
convertida em até sete tipos diferentes de munição, para diferentes empregos. Em 1933 a Colt
Firearms produziu diversos protótipos contando com suporte técnico da Marinha.
Metralhadora Browning .50BMG M2HB com o tripé padrão para uso em alvos terrestres. Essa versão era a
mais utilizada quando montada em torres ou suportes sobre veículos blindados, como tanques e carros meia‑
lagarta.
A variação da M2 refrigerada à ar recebeu um cano mais grosso e pesado, o que de certa forma
compensava a perda do elemento de refrigeração, e deixando a arma mais leve e menor. O modelo
M2HB, de Heavy‑Barrel, tornou‑se então a metralhadora padrão, base para outras variantes. A M2Hb
pesava 38 Kg. sem o suporte, contra os 55Kg da versão refrigerada à água. Um sistema de troca fácil e
rápida para o cano foi implementado, chamado de QCB (Quick Change Barrel).
Metralhadora M2 refrigerada à água com suporte tipo torre para uso anti‑aéreo (Museu da 11ª Brigada de
Infantaria de Campinas, SP)
Soldados americanos em operação na Sicília, com a M2 em montagem anti‑aérea
Soldados americanos em operação na Sicília, com a M2 em montagem anti‑aérea
O sistema de disparo da M2 era efetuado por curto recuo do conjunto cano e ferrolho solidários, e
com a culatra fechada. A cinta de munição era de aros de metal e se desintegrava durante o uso. Cada
cartucho fazia a união com os demais, através desses aros. Dessa forma, podia‑se montar cintas de
munição com qualquer quantidade de cartuchos. O sistema de ferrolho fechado da M2 facilitou em
muito a instalação dela nos aviões Curtiss P‑40, um dos caças mais utilizados pela Força Aérea
Americana, sendo que a arma tinha que ser sincronizada com as pás da hélice, pois os disparos eram
feitos através das pás. As M2 podiam ser facilmente adaptadas para receberem as cintas de munição
de ambos os lados da arma, o que facilitava sua operação e instalação dentro de tanques ou de aviões.
Diferentes versões para uso da Marinha e Aeronáutica, na II Guerra
Acima a M2 na versão de uso anti‑aéreo e embaixo uma seccionada, para estudos e treinamento técnico
O ciclo de fogo médio das M2 era de 450 a 500 disparos por minuto, sendo que os modelos de uso em
aviões eram calibradas para 750 a 850 por minuto. O alcance efetivo do cartucho .50BMG era de 1.800
metros, com alcance máximo em torno de 6.000 metros, mais que o dobro conseguido pelas
metralhadoras Browning .30 M1919. Durante a II Guerra, o tipo de cartucho mais empregado foi o
metralhadoras Browning .30 M1919. Durante a II Guerra, o tipo de cartucho mais empregado foi o
denominado AP (armor‑piercing) e o API (armor‑piercing incendiary), bem como a APIT (armor‑
piercing incendiary tracer), essa última traçante.
Resumidamente, a M2 podia ser utilizada como arma de suporte à infantaria, tiro anti‑aéreo de terra
ou de embarcações, arma de apoio e defesa em carros blindados, arma de apoio e defesa em
embarcações de pequeno porte, arma de apoio em embarcações de grande porte, arma de ataque em
aeronaves como no Mustang P‑51, Curtiss P‑40, Thunderbolt P‑47, etc.
Soldado americano na Normandia, com a M2HB em um suporte de dupla finalidade; tiro anti‑aéreo e anti‑
pessoal.
Durante a II Guerra, da mesma forma que os americanos odiavam a presença de uma MG‑34 ou MG‑
42, os alemães também não se sentiam à vontade com a M2. Os danos causados pelo potente cartucho
.50BMG eram muito comuns em veículos de blindagem leve, principalmente na rodagem e nos
motores, que frequentemente eram quebrados pelos disparos. O grande alcance efetivo das M2
também era um problema para eles, pois os atiradores americanos podiam, muitas vezes, estar a
centenas de metros de distância e alvejar companhias e batalhões alemães inteiros.
A M2 ainda é a principal metralhadora pesada da OTAN, e tem sido utilizada por muitos outros
países. A M2 está em uso mais tempo que qualquer outra arma no arsenal dos Estados Unidos, com
exceção da pistola Colt M1911 .45 ACP, aliás também desenhada por John Browning. A M2 é
fabricada hoje nos Estados Unidos pela General Dynamics e U.S. Ordnance para uso do governo dos
Estados Unidos, e para os aliados americanos através das vendas via Foreign Military Sales. A
empresa belga FN Herstal também produz a M2 desde a década de 1930. Nenhuma outra
metralhadora teve produção e vida ativa tão longa como a M2, até os dias de hoje.
No que se refere às submetralhadoras, os Estados Unidos passaram a pensar na utilização militar de
uma submetralhadora durante o período de paz, de 1918 a 1939. A sub‑metralhadora Thompson
nasceu em 1919, da mente criativa de um grupo de projetistas norte‑americanos: o General John T.
Thompson, que acabou perpetuando seu nome à arma, John Bell Blish e Thomas Ryan que juntos,
fundaram a Auto Ordnance Corporation, no ano de 1916, em Nova York. Credita‑se também a outros
tres engenheiros a participação no desenvolvimento do projeto: Theodore H. Eickhoff, Oscar V.
Payne, and George E. Goll. Apesar de que há controvérsias sobre John Thompson ter sido ou não,
Payne, and George E. Goll. Apesar de que há controvérsias sobre John Thompson ter sido ou não,
somente ele, o projetista da arma, o fato é que foi ele, provavelmente, o criador do termo “sub‑
machine gun“, até então nunca utilizado em uma arma de fogo.
O modelo 1919, denominada de Thompson Nº 1, com seu sistema de carregamento híbrido por magazine tipo
box e por uma cinta de projéteis.
Em 1920, a Auto Ordnance resolve demonstrar seu produto para o Exército Americano, em Camp
Perry, um campo de treinamento situado às margens do Lago Erie, em Ohio. Surpreendentemente o
resultado dos testes foi mais do que satisfatório deixando o pessoal técnico do Exército muito
animado. Como a Auto Ordnance não tinha alta capacidade de produção, ela sub‑contratou a Colt
Firearms para a produção de 15.000 dos agora chamados modelos 1921.
Thompson modelo 1921 com magazine “box” montado, tambor para 50 cartuchos e a alça de mira da Lyman
O modelo 1921 que chegou a ser fornecido em pequena escala ao Exército sofreu algumas
modificações, várias delas exigências do Depto. de Ordenança, tais como a troca do punho‑pistola
dianteiro por um fuste horizontal de madeira, anéis para a montagem de uma bandoleira, encaixe
dianteiro para uma baioneta de 16″ de comprimento (a mesma do fuzil Springfield 1903) e até uma
opção estranha: um silenciador desenvolvido pelo famoso projetista de metralhadoras pesadas, Sir
Hiram Maxim, norte‑americano de nascimento e posteriormente tornando‑se cidadão britânico.
Bem mais tarde, em 1928, o Governo dos Estados Unidos, através do Departamento da Marinha, faz
um pedido em pequena quantidade de sub‑metralhadoras, para uso em caráter experimental pelos
Fuzileiros Navais em missão na Nicarágua. Este foi a primeira demonstração real da Thompson em
combate, após os testes feitos em Camp Perry.
Pouco antes da eclosão da II Guerra, o Governo Francês foi o primeiro a fazer um pedido de
fornecimento dessas armas, e em 1939 encomendou 3.750 Thompson modelo 1928. Porém, durante a
II Guerra, após a fatídica retirada de Dunquerque, os militares britânicos repensaram na sua posição
anterior de que “não apreciavam armas usadas por gangsters, nas mãos de seus soldados”, e
solicitaram com urgência à Auto Ordnance o fornecimento de sub‑metralhadoras, na maior
quantidade que poderiam produzir.
Desde 1930, sempre passando por conturbados problemas financeiros, a Auto Ordnance já estava sob
as mãos de Russell Maguire, homem visionário mas que já antecipava os tempos difíceis que viriam
em breve, mas com boas perspectivas no ramo de armamento militar. Russell fez um convite à Colt
para participar de um incremento na produção das Thompson mas recebeu uma posição negativa .
Assim, após a encomenda do Governo Britânico, a empresa sub‑contratou outra grande fabricantes
de armas nos Estados Unidos, a Savage Arms Co., de Utica, NY. Esse contrato permaneceu até que o
Governo Americano assumiu a responsabilidade de fornecimento de armas ao Império Britânico em
1941, com o advento da chamada Lease Lend. A Savage e a Auto Ordnance continuaram fornecendo
as Thompson, agora sob contrato norte‑americano.
Submetralhadora Auto‑Ordnance Thompson 1928A1 – (coleção particular)
O modelo M1, baseado na 1928A2, foi planejado especificamente para a produção em tempo de
guerra e suprir a alta demanda do Exército Norte Americano, agora às voltas com a guerra no
Pacífico. Neste tipo de cenário, as sub‑metralhadoras iriam se afirmar como armas ideais para o
combate corpo a corpo e no ambiente da selva, onde o alcance da munição utilizada não era uma
necessidade.
O modelo M1, com alavanca de ferrolho movida da parte de cima para a lateral direita, simplificação da alça de
mira, eliminação do compensador Cu�s, coronha fixa, dentre outras simplificações
Na M1 eliminou‑se a peça retardadora projetada por Blish, o que derrubou uma antiga crença de que
as Thompson não poderiam funcionar bem sem ela. Outra simplificação de processo foi a eliminação
do rasgo de encaixe existente na armação para a montagem dos carregadores de tambor. Doravante,
somente carregadores retilíneos de 20 e 30 cartuchos seriam montados na arma. Em 1942, um modelo
que foi muito pouco fabricado chegou a incorporar um percussor móvel ao invés do tradicionalmente
fixo dos modelos anteriores, na tentativa de baixar ainda mais a cadência de tiro. Foi denominada de
modelo 42M1 .
A Thompson M1A1, o modelo mais difundido em uso pelo Exército Americano na II Guerra
O modelo final das Thompson foi o M1A1, com mínimas alterações em relação à antecessora, que
atingiu uma produção de 515.000 armas, antes de começar a ser gradualmente substituída pela sub‑
metralhadora M3, a conhecida “Grease Gun”. O Armas Online tem em seu acervo um artigo
específico sobre a submetralhadora Thompson, que poderá ser acessado aqui.
Durante a II Guerra, desde 1941, levando‑se em conta o desempenho das Thompson nos cenários de
guerra principalmente do Pacífico, já estava bem claro na mente dos responsáveis técnicos pelo
armamento americano de que a Thompson, como submetralhadora, era muito grande, desajeitada,
pesada e ainda dispendiosa para produção em massa. Urgia o desenvolvimento de uma substituta
para ela, mais curta, mais leve e principalmente barata de se produzir, a exemplo do que os britânicos
estavam fazendo com as Sten. Além disso, o desempenho das alemãs MP‑38 e 40 também era muito
elogiado pelos analistas militares.
O Departamento de Ordenança traçou as diretrizes do projeto, e uma das premissas da nova arma
era a que deveria continuar a ser usado o cartucho .45ACP, para manter a compatibilidade com a
Thompson e as pistolas Colt 1911. Outra norma é de que a arma deveria ser totalmente de metal, sem
partes de madeira ou borracha. A opção de disparo deveria ser de semi ou totalmente automático,
um ferrolho pesado que não deixasse a cadência de tiro superar os 500 por minuto, dentre outras
exigências.
Os primeiros protótipos receberam a denominação de T15; George Hyde, da General Motors Inland
Division era o responsável pelo desenho da arma enquanto Frederick Sampson, chefe de engenharia
da Inland Division se incumbiu de preparar e organizar o ferramental. Logo depois a equipe decidiu
pela não permanência do sistema duplo de disparo, a opção de se usar somente fogo automático foi o
que prevaleceu.
Submetralhadora M3
Desenvolveu‑se também um kit para utilizar cartuchos 9mm Parabellum, com simples troca do cano
e carregador, projeto esse que levou o nome de T20. Durante testes, mais de 5.000 tiros foram
disparados por um dos modelos sem nenhum incidente. A T20 foi então formalmente aprovada pela
Ordenança do Exército e recebeu o batismo de U.S. Submachine Gun, Caliber .45, M3. Com sua
construção baseada em peças estampadas, soldadas e rebitadas, o custo de fabricação era muito
baixo, o que tornava simplesmente a arma descartável assim que qualquer problema mais sério
ocorresse. A utilização em massa das M3 iniciou‑se em 1944, devido à problemas de atraso na
produção. Pela sua aparência que lembrava as engraxadeiras mecânicas da época, logo recebeu o
apelido de “Grease‑Gun” pelos soldados.
Submetralhadora M3A1
Submetralhadora M3A1
Em dezembro de 1944, respondendo à inúmeros pedidos de melhoramentos em seu desenho básico,
uma versão ainda mais simplificada da M3 foi fornecida ao Exército, denominada de M3A1.
Entretanto, somente 15.500 armas foram produzidas antes do término da II Guerra. O total da
produção em período de guerra atingiu 600.000 armas. Mesmo assim, não foi levada a cabo a
substituição de quase a totalidade das Thompsons, como pretendia o Estado Maior.
Desenho esquemático do interior da M3
Basicamente a M3 é uma arma de culatra destrancada, disparando com o sistema de ferrolho aberto.
O ferrolho trabalhava com duas molas recuperadoras, uma de cada lado, encaixadas em ranhuras
fresadas no corpo do ferrolho. A sensibilidade da arma contra areia, poeira, lama e umidade era
muito boa, o que a tornava bem confiável em diversas situações. A armação era feita de duas metades
de chapa de aço estampada; somente ferrolho e cano eram forjados.
A alavanca de armar ficava do lado direito da arma, de grande tamanho e boa empunhadura. Não
havia nenhum sistema de segurança, a não ser um método bem simples de barrar o curso do ferrolho
através de uma tampa articulada que cobria a janela de ejeção. Essa tampa também evitava a entrada
de areia ou lama no interior da arma. A coronha era uma armação de tubo de aço que corria
paralelamente à arma, como num sistema telescópico. As M3A1, simpliicações da M3, não possuíam
mais a alavanca externa de armar; nesse caso, o ferrolho possuía na sua parte exposta na janela de
ejeção um grande orifício onde se inseria o dedo indicador para puxá‑lo para trás. O cano era de
substituição fácil, montado encaixado na armação e fixo por uma grande bucha rosqueada.
A M3A1, versão mais simples da M3; note a ausência da alavanca de armar, substituída por orifício no
ferrolho.
No entanto, devido à pouca espessura das chapas empregadas, principalmente nas quedas da arma
ao chão, essa tampa amassava e deixava de ter utilidade, chegando às vezes a não permitir o uso da
arma. Muitos soldados a arrancavam e a descartavam durante o uso. O carregador era para 30
cartuchos mas, ao contrário dos utilizados nas Thompson, era de sistema de dupla coluna mas com
estrangulamento superior para alimentação simples.
Soldado americano mantendo um prisioneiro com sua M3, na Bretanha, em 1944
Diversos problemas ocorreram por esse motivo, gerando muitas reclamações. A arma pesava cerca de
3,700Kg desmuniciada, 450 disparos por minuto em média, alcance efetivo de 100 metros. De
maneira geral, apesar de alguns problemas típicos de qualquer arma automática. a M3 foi bem aceita
e sem dúvida, transformou‑se em uma boa substituta para as grandalhonas e pesadas Thompson.
Após a II Guerra, continuou em serviço na Guerra da Coréia, Vietnã, nos conflitos da Guerra do
Após a II Guerra, continuou em serviço na Guerra da Coréia, Vietnã, nos conflitos da Guerra do
Golfo, além de ter sido adotada e copiada por diversos países como Argentina, China, Colômbia,
Equador, Grécia, Marrocos, dentre outros. Saiu de serviço nos Estados Unidos em 1992.
JAPÃO
Desde os últimos anos do século XIX que o Japão havia se envolvido em diversos conflitos bélicos,
dentre eles os mais importantes a Guerra Sino‑Japonesa e a Guerra contra a Rússia. A partir de 1886
os militares japoneses voltaram seus olhares para o modelo militar alemão e prussiano como base
para a sua reformar militar. Consultores alemães estiveram trabalhando no Japão desde 1885
para implementarem novas medidas, como a reorganização da estrutura de comando do exército em
divisões e regimentos, o reforço da logística do exército, transportes e estruturas e a criação de
artilharia e regimentos de engenharia com comandos independentes.
Na década de 1890, o Japão tinha à sua disposição um moderno, profissional e treinado exército de
estilo ocidental, que foi relativamente bem equipado. Seus oficiais haviam estudado no exterior e
foram bem educados em tática e estratégia. Até o início da guerra Sino‑Japonesa, o Exército Imperial
Japonês tinha em campo uma força total de 120.000 homens em dois exércitos e cinco divisões.
A partir do século XX, essa modernização incluiu a adoção de novos equipamentos, dentre eles, a
importação de metralhadoras Hotchkiss modelo 1900, similares às que o Exército Francês adotou
antes e durante a II Guerra e da qual falamos anteriormente.
Posteriormente, em 1914, baseando‑se nos sistemas utilizados pela Hotchkiss, desenvolveu‑se a
metralhadora Tipo 3, sob licença da Hothkiss, mas utilizando o cartucho japonês 6,5X50mm Arisaka.
Era uma arma pesada, com cerca de 55 Kg, com cadência de fogo de 450 tiros por minuto, refrigerada
à ar, e operada à gas. O general japones Kijiro Nambu, que tornar‑se‑ia um prolífero projetista de
armas, implementou uma série de melhoramentos e modificações no projeto original.
Metralhadora pesada Tipo 3
O cano da Tipo 3 era ranhurado em sua parte anterior, com a finalidade de refrigeração. Sua
desmontagem para troca necessitava de ferramentas especiais e não era muito fácil de ser substituído
em combate. A parte traseira do cano era enclausurada em uma pesada camisa de refrigeração toda
aletada externamente, e que era permanentemente parte da estrutura da arma, sendo inclusive
aletada externamente, e que era permanentemente parte da estrutura da arma, sendo inclusive
utilizada para a montagem do apoio do tripé.
Em 1932, o Exército Imperial Japones resolveu substituir o obsoleto e relativamente pouco potente
cartucho 6,5mm pelo mais moderno 7.7x58SR (Tipo 92) e também uma nova metralhadora para
utilizar esse cartucho, na verdade baseado no .303 britânico, dotado de semi‑aro. A nova munição
melhorou em muito a eficiência mas causou um problema logístico pelo fato do Exército ter que
manter utilizar dois cartuchos diferentes, um para os fuzís e outro, para a nova metralhadora. A Tipo
92 foi a metralhadora padrão do Exército Japonês durante a II Guerra.
Metralhadora Tipo 92 em calibre 7,75X58SR (Semi‑Rimmed)
A alimentação da Tipo 92 era feita por uma fita semi‑rígida de metal, para 250 cartuchos, que
infelizmente só funcionava no sentido do lado esquerdo da arma para o lado direito. Havia também
um peculiar sistema de lubrificação para facilitar a extração dos cartuchos baseado em uma pequena
bomba injetora, muito similar às utilizadas nas metralhadoras italianas Breda e Revelli. A baixa
cadência de fogo, em torno de 450 tiros por minuto, fez com que a Tipo 92 recebesse o apelido de
woodpecker (pica‑pau) pelos soldados americanos.
No âmbito das metralhadoras leves, no conflito da Mandchúria em 1936 o Japão teve a oportunidade
de ver em ação algumas metralhadoras checas ZB‑26 utilizadas pelos chineses. Mediante a captura de
alguns exemplares, o Arsenal Militar de Kokura testou em 1936, a ZB‑26 e desenvolveu a partir dela,
a metralhadora leve Tipo 96. A partir daí cerca de 40.000 armas foram produzidas por aquele arsenal.
Apesar do desenho do mecanismo interno ser bem diferente da original ZB‑26, ela realmente lembra
aquela arma, inclusive adotando o mesmo sistema de carregador instalado por cima e o sistema de
bipé. Posteriormente foi adotada a Tipo 97, maciçamente utilizada nos tanques japoneses, essa sim,
uma cópia licenciada da ZB‑26.
Metralhadora leve Tipo 96, baseada parcialmente no projeto da metralhadora checo‑eslovaca ZB‑26
Posteriormente, diversas implementações foram feitas nos projetos da Tipo 96, lideradas pelo Gen.
Kijiro Nambu, culminando com a Tipo 99, bastante similar à 96, porém eliminando‑se o problemático
sistema de lubrificação dos cartuchos bem como substanciais melhoramentos no sistema de troca
rápida dos canos. A Tipo 99 pesava somente 11 Kg, também operada à gás como suas antecessoras,
com ciclo de fogo de 700 tiros por minuto. Mais de 50.000 armas Tipo 99 foram produzidas e ela foi
muito bem aceita no teatro de operações no Pacífico. Sem tirar os méritos do Gen. Nambu, a Tipo 99,
apesar de não ter sido um projeto genuinamente japonês, era uma das melhores metralhadoras leves
utilizadas na II Guerra.
Metralhadora leve Tipo 99, em calibre 7,7X58mmSR
Metralhadora leve Tipo 99, em calibre 7,7X58mmSR
No que se refere às sub‑metralhadoras, a China havia utilizado as submetralhadoras Bergmann MP18
no conflito contra a invasão japonesa. Os japoneses já tinham certa familiaridade com essa arma, pois
haviam importado da fabricante suíça SIG vários exemplares da SIG1920, uma MP18 produzida
naquele país sob licença. Baseado no projeto da Mp18, mais uma vez entra em cena o General
Nambu, que desenvolve alguns protótipos para testes do Exército Japonês em 1939. Após sucesso
nessa fase, a arma foi oficialmente adotada em 1940 e denominada de Tipo 100, pois o ano de 1940
equivalia ao ano 2600 do calendário japonês.
Submetralhadora japonêsa Tipo 100 calibre 8mmX22 Nambu
A nomenclatura dos armamentos japoneses leva‑nos à muita confusão, em virtude de que não se
utilizava o calendário gregoriano. Os japoneses usaram diversos calendários por várias centenas de
anos; um dos sistemas mais utilizados era o baseado na data em que o último Imperador havia sido
coroado. Outro método bastante empregado era tomando como base a fundação do I Império
Japonês, que remonta ao ano de 660 A.C.
Pelo nosso calendário, o ano de 1940 seria o ano 2600 pelo calendário japonês. Por isso, as armas
acima citadas, como as Tipo 92, 96 e 99 por exemplo, referem‑se aos anos de 2592, 2596 e 2599
respectivamente 1932, 1936 e 1939 pelo nosso calendário.
Voltando à Tipo 100, como opção de uso na infantaria, a arma tinha coronha em madeira sólida, e na
versão de uso de paraquedistas foi equipada com coronha também em madeira, mas dobrável. A
partir de 1944, com a crise da indústria japonesa durante a guerra, a Tipo 100 se resumiu somente à
versão com coronha dobrável. A empresa Nambu e o Arsenal de Nagoya e Kakuro se incumbiram de
produzir a Tipo 100, de 1940 a 1945. A arma era simples, sistema blowback de culatra destrancada,
funcionando com ferrolho aberto, pesando cerca de 3,5 Kg e com cadência de fogo de 450 tiros por
minuto.
Versão da Tipo 100 dotada de coronha fixa
O cartucho era o anêmico 8mm Nambu, o mesmo utilizado nas pistolas do mesmo nome. Estima‑se
em 25.000 a 30.000 a produção total das Tipo 100 durante a Guerra. Nos últimos anos de produção, a
qualidade geral das armas diminuiu substancialmente, sendo que em alguns casos haviam riscos à
integridade de seus usuários, como disparos acidentais. Não havia nenhum dispositivo de segurança
integridade de seus usuários, como disparos acidentais. Não havia nenhum dispositivo de segurança
e nem seletor de tiro único e automático. O carregador era para 30 cartuchos, montado do lado
esquerdo da arma, e era curvado para frente, devido ao formato cônico do cartucho 8mm Nambu.
UNIÃO SOVIÉTICA
Pelo menos até pouco antes da Revolução de 1917, o Exército Imperial Russo tinha como base de seu
armamento regulamentar muita coisa que se utilizava nos países da Europa Ocidental,
principalmente na França e Inglaterra. Assim sendo, a adoção de armamentos oriundos desses dois
países culminou com a presença maciça de metralhadoras Chauchat modelo 1915 e das Hotchkiss
M1909, adquiridos da França, e das Lewis 1914, Maxim M1910 e Vickers MK I da Grã‑Bretanha,
armas que já foram citadas nesse artigo, no capítulo referente aos seus países de origem. Após a
Revolução, principalmente no período que antecedeu a II Guerra, a produção e desenvolvimento de
armamento militar genuinamente soviético ganhou bem mais espaço e força.
Em 1926 o projetista Vasily Degtyarov idealizou uma metralhadora leve para uso do Exército
Vermelho, em contrapartida às pesadas Maxim e Vickers, com a confiabilidade que não se conseguia
com os Chauchat e Lewis. Degtyarov se tornaria um dos mais prolíferos projetistas de armas na
União Soviética, tornando‑se Major‑General de Engenharia, Doutor em Ciências Técnicas e Deputado
do Soviete Supremo.
Em 1928 a arma foi adotada sob nome DP‑28, após severos testes que incluíram mais de 500 disparos
em condições extremas de areia e lama. Era uma arma simples de ser fabricada e com somente 80
peças. Um dos pontos fracos era o seu bipé, frágil demais para uma arma daquele porte. O
funcionamento era à gás, com a tomada feita na seção média do cano. Mas o maior problema residia
no carregador. Talvez inspirado pelas metralhadoras Lewis, Degtyarov optou por um carregador tipo
tambor, que era instalado sobre a arma em posição horizontal. A capacidade era para 47 cartuchos
do calibre 7,62mm X 54R. e devido à esse carregador horizontal, cuja tampa superior girava em torno
do seu eixo na medida que era utilizada, a arma foi apelidada pelos soldados, de “toca‑discos”
(proigryvatel).
Metralhadora leve DP‑28
O problema era que a recarga desses carregadores era muito lenta e trabalhosa, e com só 47 cartuchos
O problema era que a recarga desses carregadores era muito lenta e trabalhosa, e com só 47 cartuchos
a sustentação de fogo era comprometida, nada comparável às armas que trabalhavam com cintas de
250 cartuchos. Mesmo com uma cadência de tiro de 500 disparos por minuto, o aquecimento do cano
era muito rápido e a troca do mesmo era constante. A arma pesava cerca de 9 Kg com um
comprimento de 1,27 m. O alcance útil situava‑se em torno dos 800 metros.
Apesar de tudo, a arma foi utilizada com algumas modificações até meados de 1960, e participou de
dezenas de conflitos armados pelo mundo, nas mãos de chineses, coreanos, vietnamitas, cambojanos,
iugoslavos, sírios e líbios. A Finlândia produziu essa arma localmente para substituir gradualmente
as metralhadoras Lahti M26. Lá recebeu o apelido de Emma, nome de uma popular valsa cujos
discos eram vendidos em grande quantidade, mais uma alusão ao carregador giratório da arma.
Outra arma automática desenvolvida na União Soviética foi a metralhadora média SG‑43, projetada
pelo engenheiro Piotr Goryunov em 1943, baseando‑se em parte no sistema das Browning 1919 norte‑
americanas.
A metralhadora média Goryunov SG‑43 em seu carro, com blindagem de proteção
A idéia principal do comando militar soviético era substituir gradativamente as metralhadoras
A idéia principal do comando militar soviético era substituir gradativamente as metralhadoras
pesadas Maxim por arma mais leve e mais facilmente transportada pela infantaria. Foi desenhada
para utilizar o cartucho padrão soviético 7,62mmX54R, o que mantinha a compatibilidade dessa arma
com todas as demais em uso pelo exército soviético. Era mais frequentemente usada montada sobre
uma carriola, bem como muito utilizada em pedestais, montada sobre veículos blindados.
Apesar de possuir um sistema um tanto complicado para a extração dos cartuchos, principalmente
pelo fato do 7,62mm russo ser do tipo com aro (rimmed), historicamente não houve relatos constantes
de mal funcionamento. O cano era bem pesado, o que ajudava em parte no problema do
superaquecimento, e sua troca era rápida e fácil, auxiliada por uma útil manopla de madeira sob o
cano. O seu peso era de 13 quilos, cerca de 41 quilos com o carrinho; cadência de tiro de 500 a 600 por
minuto, alcance efetivo de 800 metros. O carregamento era feito por meio de cinta de metal, para 200
ou 250 cartuchos.
Em 1934, Vasily Degtyarov, o mesmo idealizador da metralhadora DP‑28, desenvolveu uma
submetralhadora denominada de PPD (Pistolet‑Pulemyot Degtyarova) que foi adotada pelo Exército em
1935, sob denominação PPD‑34. Não foi produzida em larga escala, de forma que equipou algumas
unidades de fronteira e forças policiais internas.
Acima, a submetralhadora PPD‑34
O projeto seguia basicamente os conceitos já bem estabelecidos pela Bergmann‑Schmeisser MP‑28,
trabalhando com ferrolho aberto, mas optou‑se pela utilização do carregador inserido por baixo da
arma, e não lateralmente. Uma camisa de aço perfurada envolvia todo o cano para proteção e
refrigeração. O cartucho era o padrão soviético 7,62mmX25 Tokarev, equivalente ao 7,63mm Mauser,
que devido ao seu perfil cônico obrigava o carregador a ser levemente curvado para a frente. O peso
da arma era em torno de 3,5 Kg, carregador para 25 cartuchos e uma cadência de 800 tiros por
minuto.
Em 1938 efetuaram‑se modificações e melhorias no projeto, culminando com a PPD‑34/38. A
mudança mais notada foi a introdução de um carregador tambor para 71 cartuchos. Posteriormente,
após a campanha soviética na Finlândia, mais algumas modificações foram introduzidas, como o uso
de uma coronha em duas peças separadas, arma que recebeu a denominação de PPD‑40. A cadência
de tiro foi levemente aumentada na PPD‑40, para cerca de 900 a 1000 tiros por minuto. Todos os
modelos, da 34 à 40 eram equipados com uma chave seletora de tiro único ou contínuo, localizada
defronte ao gatilho.
A submetralhadora PPD‑40, com o carregador tipo tambor e a coronha feita em duas peças
Durante a guerra, o Alto Comando Soviético chegou à conclusão de que a PPD‑40 não era muito
adequada à produção em laga escala, com custos baixos e processos simplificados de manufatura. A
PPD‑40 ainda era uma arma de produção cara, com muitas operações de usinagem, principalmente
na armação. O engenheiro Tenente‑Coronel Georgi S. Shpagin foi o encarregado de desenvolver uma
arma que atendesse a eficiência e maneabilidade da PPD‑40 mas que reduzisse substancialmente os
custos e processos de manufatura. Uma das decisões básicas de Shpagin era a de empregar
maciçamente a estamparia para a maior parte possível de peças. Shpagin criou um protótipo em
setembro de 1940, que possuía um compensador de recuo na extremidade do cano, o que melhorava
sensivelmente o grupamento obtido com a arma.
Submetralhadora PPSh‑41 em calibre 7,62mmX25
O início da produção se deu em algumas fábricas em Moscou e a produção atingiu 155.000 armas nos
O início da produção se deu em algumas fábricas em Moscou e a produção atingiu 155.000 armas nos
cinco meses seguintes. Nos primeiros meses de 1942 a produção inicial era de 3.000 armas por dia
mas aumentou durante melhorias posteriores no processo. Registros soviéticos indicam que cerca de
6.000.000 de armas foram produzidas durante a guerra. A submetralhadora recebeu a denominação
de PPSh‑41 (Pistolet Pulemyot Shpagina), mas logo já era carinhosamente chamada de pepesha pelos
soldados russos, ou também de papasha, que em russo significa “papai”.
Acima, versão da PPSh‑41 utilizando carregadores para 35 cartuchos
A PPSh‑41 era um clássico exemplo de um projeto adaptado para produção em massa em tempos de
guerra, assim como suas similares norte‑americanas M3, a alemã MP‑40 e a britânica Sten. A maior
parte de suas peças podia ser produzida com equipamento simples encontrado muitas vezes em
oficinas e garagens. Possuía 87 peças ao invés das 95 da PPD‑40. A coronha de madeira era uma
adaptação do Mosin‑Nagant M1939 e os canos eram reaproveitados do fuzil Mosin‑Nagant M1891,
esses últimos cortados ao meio e posteriormente usinadas as câmeras para uso do cartucho
7,62mmX25.
O peso da arma ficava em torno de 3,6ooKg, uma cadência de 900 a 1000 disparos por minuto, e uma
chave defronte ao gatilho que permitia a opção de tiro seletivo. O sistema era de culatra aberta,
“blowback”, como todas as demais submetralhadoras da época. O cartucho era o 7,62mmX25
Tokarev, padrão do Exército Soviético em armas curtas, como na pistola Tokarev. Esse cartucho é
praticamente idêntico ao alemão 7,63mmX25 Mauser, utilizado nas pistolas Mauser C‑96.
A manutenção e limpeza no campo de batalha era muito facilitada pelo engenhoso sistema
basculante de cano e parte da armação, que podia ser dobrado para baixo, expondo o mecanismo
interno permitindo a retirada e limpeza das peças.
Acima, a PPSh‑41 parcialmente desmontada
Grande parte das submetralhadoras desenvolvidas na época tiveram problemas com seus
carregadores, e um dos pontos fracos da PPSh‑41 era justamente o seu carregador do tipo tambor.
Inicialmente foi feito com chapa de aço de 0,5mm de espessura, o que causava deformação precoce.
Esse tipo de carregador também é de fabricação cara e demorada e é lento e trabalhoso para ser
recarregado. Por essa razão, não se abandonou a utilização dos carregadores simples do tipo caixa,
apesar de que depois passou‑se a utilizar chapas de 1,0mm de espessura nos carregadores de tambor.
Mesmo com a presença maciça das PPSh‑41 nas tropas, em 1943 introduziu‑se uma versão mais leve
e de maior maneabilidade.
Submetralhadora soviética PPS‑43
Essa arma era a PPS‑43 (Pistolet‑Pulemet Sudaeva). O projetista Alexei Sudarev foi indicado pela
Comissão Soviética de Armamentos para aperfeiçoar um protótipo de submetralhadora que havia
sido desenhado pelo tenente Bezruchko‑Vysotsky, da Academia Dzerzhinsky de Artilharia. Sudarev,
nascido em agosto de 1912 em Alatyr, Russia Central, iniciou seus trabalhos na arma em 1942, que
chegou a ser designada como PPS‑42, após testes efetuados em abril e maio de 1942. Sudarev adoeceu
gravemente em 1943 e faleceu em 1946, com 35 anos de idade. Foi agraciado pela Ordem de Lenin e
várias outras condecorações.
Em julho, Shpagin também havia terminado um projeto seu, baseado na PPSh‑41 e denominado de
PPSh‑2, e ele foi colocado à prova nos testes contra a PPS, que no entanto, acabou provando ser
superior em precisão, maneabilidade e confiabilidade. Documentos indicam que deve ter havido
quase 20 projetos participantes nesses testes, de projetistas diferentes.
Desenho esquemático do mecanismo da PPS‑43, arma muito simples e eficiente, adequada à rodução em massa
em tempos de guerra
Mesmo com a aprovação da PPS‑43, no ano seguinte, várias modificações foram implementadas
resultando no desenho final da arma. Estima‑se em 2.000.000 a produção total de 1943 a 1946.
Tecnicamente a PPS‑43 é simples, possui somente a opção de tiro automático, disparando no
princípio comum de culatra destrancada (blowback) e aberta. Foi incorporada uma trava de
segurança defronte a guarda‑mato. A armação e a capa de proteção do cano eram de chapa de aço
estampada, e possuía uma alça de mira com duas posições, para 100 e 200 metros. A coronha era
dobrável, e articulava sobre a armação. O cano recebia uma camada de cromação e tinha uma
durabilidade de cerca de 20.000 tiros. O carregador tambor foi finalmente deixado de lado e a PPS‑43
utilizava carregadores de caixa para 35 cartuchos. Infelizmente não eram compatíveis com os
utilizados na PPSh‑41.
As PPS‑43 costumam algumas vezes serem citadas como as melhores submetralhadoras utilizadas na
II Guerra, tanto que após o conflito foram extensivamente distribuídas para forças militares soviéticas
nos países anexado, parte do que seria no futuro o Pacto de Varsóvia. Inúmeras cópias foram
produzidas por dezenas de países asiáticos e europeus orientais após a Guerra.
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Wri�en by Carlos F P Neto
16/12/2015 às 14:22
13 Respostas
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Erick, como sempre muito úteis e interessantes suas sempre bem vindas informações. Grande
abraço.
Carlos F P Neto
25/04/2017 at 22:09
Prezado Carlos,
Algumas observações sobre a “sub” francesa MAS‑38:
1) O cartucho 7,65mm MAS, na verdade, era uma cópia do .30 Pedersen norte‑americano, usado
nos “Pedersen Device” – dispositivo que convertia os fuzis Springfield em armas semi‑
automáticas;
2) Consta que uma MAS‑38 foi utilizada pelos “partisans” italianos para executar Benito
Mussolini. Em dois filmes diferentes que vi a respeito, a encenação da execução do Duce foi feita,
num deles, com uma MP‑40 (Mussolini: Ultimo A�o, com Rod Steiger) e, em outro, com uma
pistola Walther P‑38 (Mussolini: A História Não Contada, com George C. Sco�);
3) Há um exemplar de MAS‑38 (ao que eu saiba, sem carregador) no acervo do museu da PMESP.
Possivelmente, foi testada – e rejeitada – pela antiga Força Pública.
Sobre a MP‑28 II:
As MP‑28 II, adotadas por diferentes Polícias Militares brasileiras, tinham diferentes procedências
e calibres. As utilizadas em São Paulo eram fabricadas na Alemanha e eram em calibre 7,63mm
Mauser, onde eram conhecidas como “Schmeisser”. Já a PM do antigo Distrito Federal (depois
estado da Guanabara) usava MP‑28 II fabricadas na Bélgica e em calibre 7,65mm Parabellum.
Naquela corporação, era designada “mosquetão‑metralhador Bergmann”.
Erick Tamberg
25/04/2017 at 17:40
Achei o site por acaso. Fiquei muito feliz pela qualidade das informações. Parabéns pelo belo
trabalho.
Celson Ferreira da Silva
03/03/2017 at 13:17
Caro amigo, elogios de um expert como você são sempre muito bem vindos !!
Carlos F P Neto
28/08/2016 at 21:02
Parabéns, Carlos.
Novamente um artigo que serve de referência, claro, detalhado e bem escrito.
José Renato
28/08/2016 at 19:50
Amigo Henrique, agradeço muito seus gentis comentários, grande abraço.
Amigo Henrique, agradeço muito seus gentis comentários, grande abraço.
Carlos F P Neto
12/08/2016 at 9:16
Parabéns pela página, é dificil reunir e de se achar tanta informação de metralhadoras e
submetralhadoras em um só lugar, mais uma vez, parabéns pela dedicação, estudo e pesquisa.
Henrique Magalhães Gloor
12/08/2016 at 2:30
Rodrigo, muito grato pelos seus elogios.
Carlos F P Neto
01/04/2016 at 9:37
Excelente artigo. Muito bom mesmo.
Não encontrei algo tão bom em nenhum site em português.
Rodrigo Rodrigues Rocha
30/03/2016 at 18:25
Clécio, sempre um prazer enorme tê‑lo como leitor e ainda mais recebendo seus elogios. Sobre os
Mausers, em nosso artigo sobre a Fábrica de Itajubá já temos algo sobre eles, mas sem dúvida um
artigo exclusivo sobre o mais bem sucedido fuzil militar de todos os tempos será necessário.
Grande abraço.
Carlos F P Neto
24/02/2016 at 16:47
Caro Carlos, mais uma vez trazendo, para o prazer dos fãs de história e armas de fogo, outro
excelente artigo. Parabéns e muito obrigado pela dedicação e qualidade com que nos tem
brindado sempre. Continue sempre assim e ainda aguardo, ansioso, um artigo nas suas palavras
sobre a família Mauser de fuzis de ação manual no ferrolho.
Grande abraço.
Clécio M. Galinari
23/02/2016 at 22:56
Caro Antônio, grato pelas suas gentis palavras.
Carlos F P Neto
09/02/2016 at 11:36
Excelente artigo. Parabéns mais uma vez, mestre Carlos!
Antônio C L Ripe
09/02/2016 at 10:53