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Pra que confissão de fé se temos a Bíblia?

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Um questionamento muito comum que muitas pessoas que são membros de uma igreja
confessional fazem é: por que precisamos de uma confissão de fé se temos a bíblia? O
motivo desse questionamento é porque se entende que jurar fidelidade a um símbolo de fé
implica diretamente em infidelidade a Bíblia ou tê-los como iguais em autoridade a Palavra
de Deus. Geralmente os confessionais são acusados de colocarem o seu documento
confessional no mesmo patamar que a Bíblia, é fato que realmente alguns poucos chegam
a este ponto, mas de forma geral essa acusação é equivocada. Sou pastor da igreja
Presbiteriana do Brasil que é uma igreja confessional em seus documentos oficiais, e em
sua constituição no artigo 1 ela nos diz o seguinte:

“A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única
regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamentos e como sistema
expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege-se
pela presente Constituição; é pessoa jurídica, de acordo com as leis do Brasil, sempre
representada civilmente pela sua Comissão Executiva e exerce o seu governo por meio de
concílios e indivíduos, regularmente instalados.”

Além de ser uma igreja confessional, a IPB exige que seus ministros e oficiais também o
sejam, o Art. 119 da referida constituição também nos diz:

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“O candidato, concluídos seus estudos, apresentar-se-á ao Presbitério que o examinará quanto
à sua experiência religiosa e motivos que o levaram a desejar o Sagrado Ministério, bem como
nas matérias do curso teológico. Parágrafo único. Poderá o Presbitério dispensar o candidato
do exame das matérias do curso teológico; não o dispensará nunca do relativo à experiência
religiosa, opiniões teológicas e conhecimento dos Símbolos de Fé, exigindo a aceitação
integral dos últimos.”

A IPB não somente entende e adota os padrões de fé de Westminster como a exposição


fiel da doutrina bíblica como exige aceitação integral por parte da sua liderança. Mas por
que nós afirmamos o Sola Scriptura ao mesmo tempo que juramos fidelidade aos símbolos
de fé, não seria isto uma contradição? Ainda restam dúvidas tanto por parte dos ministros
e oficiais como dos membros da IPB, do porque a mesma exigir dos seus líderes que
aceitem os símbolos de fé de forma integral e que jure fidelidade aos mesmos assim
como o fazem com a Bíblia. Se a Bíblia está acima dos padrões de fé, por que devemos
aceita-los de forma integral e jurar fidelidade a eles? Meu intuito com este artigo não é de
esgotar o assunto, mas de tentar esclarecer alguns pontos que podem nos ajudar a
entender melhor esse tema, a saber:
1. A confissão de fé nos leva para Bíblia.

A Confissão de Fé de Westminster está subordinada as Escrituras, em nenhum momento


aquela a sobrepõe, muito pelo contrário, a exalta. No capítulo 1 nas sessões IV, V, VI e X a
Confissão de Fé de Westminster afirma:

IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não
depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a
mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da
Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a
majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a
Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas
muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais
abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e
certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito
Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações.

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e
para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser
lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por
novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser
necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas
reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo
da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da
natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser
observadas.

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X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por
quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos
escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja
sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
(WESTMINSTER 2007).

Os nossos símbolos de fé em nenhum momento arrogam para si a prerrogativa de


igualdade com as Escrituras, mas faz exatamente o oposto, reconhece que a Palavra de
Deus está acima de qualquer coisa e que esta é a palavra final sobre qualquer assunto.

2. Ela nos ajuda a mantermos a paz e a unidade na igreja.


Outra coisa que os confessionais são muito acusados é de serem divisionistas. Na
verdade, um dos objetivos dos credos e confissões durante toda história da igreja era o de
manter a unidade e a paz. Sempre houve quem discordasse de uma ou outra interpretação
bíblica dada por algum credo ou confissão. A questão é que muitas vezes os opositores
discordavam de pontos essenciais da fé cristã defendida pelos símbolos. Heresias como o
Arianismo, o Sabelianismo, Unitarismo, livre-arbítrio pós queda e tantas outras foram
defendidas por homens que tiveram suas ideias rechaçadas pela igreja através de sínodos
e concílios, que serviram de base para a igreja posterior se defender contra as mesmas,
mantendo assim a unidade doutrinária e a paz no meio da igreja. Em seu capítulo XX
sessão IV a CFW afirma o seguinte:

IV. Visto que os poderes que Deus ordenou, e a liberdade que Cristo comprou, não foram por
Deus designados para destruir, mas para que mutuamente nos apoiemos e preservemos uns
aos outros, resistem à ordenança de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se opõem a
qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao exercício dele. Se publicarem opiniões ou
mantiverem práticas contrárias à luz da natureza ou aos reconhecidos princípios do
Cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao procedimento; se publicarem opiniões, ou
mantiverem práticas contrárias ao poder da piedade ou que, por sua própria natureza ou pelo
modo de publicá-las e mantê-las, são destrutivas da paz externa da Igreja e da ordem que
Cristo estabeleceu nela, podem, de justiça ser processados e visitados com as censuras
eclesiásticas. (WESTMINSTER 2007).

Ainda tratando sobre o assunto também nos afirma a confissão de fé no capítulo XXXI
sessões II e III:

II. Aos sínodos e concílios compete decidir ministerialmente controvérsias quanto à fé e casos
de consciência, determinar regras e disposições para a melhor direção do culto público de
Deus e governo da sua Igreja, receber queixas em caso de má administração e
autoritativamente decidi-las. Os seus decretos e decisões, sendo consoantes com a palavra de
Deus, devem ser recebidas com reverência e submissão, não só pelo seu acordo com a
palavra, mas também pela autoridade pela qual são feitos, visto que essa autoridade é uma
ordenação de Deus, designada para isso em sua palavra.

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III. Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares,
podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática,
mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa. (WESTMINSTER 2007).

Podemos perceber claramente que os nossos padrões de fé entendem que estes não
estão acima das santas Escrituras e que até mesmo reconhecem que os concílios podem
errar, sim, a confissão de fé não é infalível e nem inerrante. Portanto, afirmar que quem jura
fidelidade aos símbolos de fé está os colocando em igualdade com as Escrituras, na
verdade não os conhecem e cometem um grande engano. Chamar os confessionais de
divisionistas é não entender que, para que haja paz é necessário ordem, submissão e
disciplina. Não defendemos paz a qualquer preço, mas sim, unidade na verdade. Como nos
ensina nosso Senhor no Evangelho de João no capítulo 17.
3. A nossa confissão de fé nos guia contra erros do passado.

Outro dos objetivos dos credos e confissões era o de evitar que a igreja caísse nas
mesmas heresias do passado. De tempos em tempos sempre aparece alguém trazendo de
volta antigos erros doutrinários em roupagem nova, com um novo linguajar, mas a raiz é
sempre a mesma de outrora. Daí a necessidade de nos voltarmos para o passado para
buscar em documentos elaborados por homens que foram grandemente usados por Deus
para a instrução da Sua igreja, o apóstolo Paulo nos ensina sobre isso na carta aos Efésios
no capítulo quatro quando diz:

“E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho
do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da
fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura
da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para
outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia
com que induzem ao erro.” (Efésios 4. 11-14).

O caso do eunuco também tem muito a nos ensinar, a Escritura nos diz:

“Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho
que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Ele se levantou e foi. Eis que um etíope,
eunuco, alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todo o seu
tesouro, que viera adorar em Jerusalém, estava de volta e, assentado no seu carro, vinha
lendo o profeta Isaías. Então, disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro e
acompanha-o. Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que
vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me explicar? E convidou
Filipe a subir e a sentar-se junto a ele. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era
esta: Foi levado como ovelha ao matadouro; e, como um cordeiro mudo perante o seu
tosquiador, assim ele não abriu a boca. Na sua humilhação, lhe negaram justiça; quem lhe
poderá descrever a geração? Porquê da terra a sua vida é tirada. Então, o eunuco disse a
Filipe: Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum
outro? Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a
Jesus.” (Atos 4.26-35).
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As Escrituras nos ensinam que o próprio Deus é quem levanta homens para a instrução do
seu povo, com o objetivo de não deixar que este não caia no erro e nas astúcias dos
homens e que possam chegar a salvação. O etíope estava lendo as Escrituras, mas não
conseguia compreender, foi necessário Deus enviar Felipe para que o mesmo pudesse
entender a Bíblia e ser salvo. O que precisamos é abandonar a nossa soberba espiritual e
entender que Deus usou homens no passado e ainda os usa hoje para que sua igreja seja
protegida do erro. Sendo assim, subscrever um símbolo de fé é reconhecer que Deus
capacitou através do Espírito Santo homens para instruir a Sua igreja contra os erros,
mostra também a nossa humildade em reconhecer que houve homens mais capacitados
do que nós que podem nos ajudar a entender melhor o conteúdo das Santas Escrituras.
Conclusão

Que possamos amar os nossos símbolos de fé sem medo de que estejamos sendo infiéis
as Escrituras, que possamos nos sujeitar as autoridades pelas quais o Senhor Jesus
exerce o seu governo na igreja conforme nos ensina o Catecismo Maior em sua pergunta
45:

Como exerce Cristo as funções de rei?

Cristo exerce as funções de rei chamando do mundo um povo para si, dando-lhe oficiais, leis e
disciplinas para visivelmente o governar; dando a graça salvadora aos seus eleitos;
recompensando a sua obediência e corrigindo-os por causa dos seus pecados; preservando-os
por causa dos seus pecados; preservando-os e sustentando-os em todas as tentações e
sofrimentos; restringindo e vencendo todos os seus inimigos, e poderosamente dirigindo todas
as coisas para a sua própria glória e para o bem do seu povo; e também castigando os que não
conhecem a Deus nem obedecem ao Evangelho. (WESTMINSTER 2007).

Que possamos entender que ser confessional não é ser antibíblico ou ter a Bíblia
subordinada aos símbolos de fé, mas que antes, nos submetemos a eles por que os
mesmos se submetem a Bíblia. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos ajude nessa
tarefa.
Soli Deo Glória!

***
Autor: Rev. Anderson Borges
Fonte: Teologia que Reforma
.

5/5
Creio em Deus Pai Todo Poderoso
bereianos.blogspot.com/2015/05/creio-em-deus-pai-todo-poderoso.html

Por Denis Monteiro

O Credo Apostólico, segundo alguns estudiosos, é um dos documentos mais antigos que
temos na história da igreja - datado do 2º século, e é de onde tiramos a frase que intitula
este artigo.
Eu pretendo, de forma breve, analisar algumas doutrinas implícitas em cada parte que
compõe o documento. O Credo pode ser dividido em três partes, que mostram uma
confissão clara na doutrina da Trindade: Creio em Deus, Creio em Jesus e Creio no
Espírito.

Na primeira parte o Credo resume de forma simples e profunda quem é Deus.

• Deus é Pai
• Deus é Todo Poderoso
• Deus é criador do céu e da terra

1. Deus é Pai

Algumas pessoas influenciadas por teologias fracas, direta ou indiretamente, creem que
Deus é Pai de todos (um tipo de Odim). A Bíblia mostra que Adão foi criado à imagem de
Deus, logo toda a humanidade possui a imagem de Deus (Tg 3.9). Com a queda de nossos
primeiros pais, toda a humanidade perdeu a comunhão com Deus, sendo Deus o nosso
inimigo número um. Os textos abaixo mostram que, antes de sermos adotados, não
éramos filhos de Deus:

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“Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das
potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.” Ef 2.2 (ênfase
acrescentada)

“... éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” Ef 2.3c (ênfase
acrescentada)

“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai.” Jo 8.44a (ênfase
acrescentada)

Essas três passagens do Novo Testamento mostram enfaticamente de que todos quantos
vivem debaixo do pecado não são filhos de Deus. Jesus em João 8.42 diz, “se estes que
são filhos do Diabo, fossem filhos de Deus eles amariam a Cristo. Uma das provas que
podemos ver se alguém é filho de Deus, é ver se esta pessoa vive a cada dia amando a
Cristo. Amando não da boca para fora, mas sabendo quem Ele era e é, e o que Ele fez na
cruz em favor de muitos. Uma vida de amor por Cristo, é uma vida de submissão, assim
como a mulher é submissa ao seu marido.

Como o pecador pode se tornar filho de Deus?

Somente pela adoção. A adoção, segundo J.I Packer, é transformar o seu povo em seus
filhos.[1] A adoção é o coroamento da justificação (o ato pelo qual Deus, o Juiz do Mundo,
nos aceita). Por intermédio da morte de Cristo fomos resgatados para que recebêssemos
a adoção de filhos (Gl 4.4,5). O termo adoção, descrito por Paulo em Gálatas 4, mostra
claramente que nós não éramos filhos de Deus.
Aqueles que são adotados são os mesmos que são nascidos da vontade de Deus
(Nasceram de novo – Regeneração),“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram
do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (João 1.12-
13). E assim, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17).

As evidências da nossa filiação

Guiados pelo Espírito - “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de
Deus.” (Rm 8.14).

Ser guiado pelo Espírito de Deus, neste caso, não quer dizer que Deus me levou a aceitar
aquele emprego, ou aquele ou aquela namorada. Quando o Espírito nos guia, o caminho
pelo qual Ele nos conduz é o caminho da justiça para a santificação. Ele inclina o nosso
coração a servir a Deus, a ter fome e sede para obedecer a Cristo.

R.C. Sproul diz:

“Não é uma questão de biologia, mas de obediência. Somos filhos daquele a quem
obedecemos e, se obedecemos à concupiscência da carne, se obedecemos às tendências de
Satanás, então somos filhos do diabo, não de Abraão ou de Deus. É por isso que Paulo diz que
aqueles cujas vidas são dirigidas pelo Espirito de Deus são filhos de Deus, eles seguem e
obedecem àquele que os leva ao caminho de Deus.” [2]
2/9
Testemunho interno do Espírito - “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus.” (Rm 8.16)
O meio pelo qual o Espírito testifica que somos filhos de Deus não é de modo místico ou
algo sussurrado em nossos ouvidos: “Calma, você é um dos nossos”. O meio pelo qual o
Espírito testifica é com, e através, da Palavra de Deus. Se quisermos ser guiados pelo
Espírito de Deus, mergulhemos na Palavra dEle. Ela é a lâmpada para nossos pés e a luz
do nosso caminho (Sl 119.105).

Fruto do Espírito – “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo
aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu
irmão.” (1 Jo 3.10)

Paulo exorta em Gálatas 5.25 de que devemos andar no Espírito, e versos antes mostra
que o Espírito produz fruto. Logo, a nossa vida, constantemente, deve ter como amostra de
que andamos no Espírito e somos filhos de Deus, o fruto descrito em Gálatas 5.22,23.

Obediência - “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão,
irmã e mãe.” (Mt 12.50)

Aqueles que obedecem a Deus, estes, segundo Jesus Cristo, fazem parte da família de
Cristo. Porque no último dia muitos dirão que “profetizaram, expulsaram demônios e que
fizeram várias maravilhas”. E Cristo lhes dirá abertamente “ nunca vos conheci, apartem-vos
de mim, os que praticais a iniqüidade.” (Mt 7.22,23). A vontade de Deus está revelada em
Sua própria Palavra, obedeçamos.

Comunhão integral – “o que temos visto e ouvido anunciaram também a vós outros, para
que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e
com seu Filho, Jesus Cristo”. (1 Jo 1.3)

Se somos filhos de Deus então somos irmãos de Cristo, o nosso Senhor. Logo, todos
quantos foram comprados por Cristo são nossos irmãos. Portanto, temos que desenvolver
essa comunhão com Deus e Cristo em nossa união fraterna como igreja, corpo de Cristo.
Pois não há sentido de que um membro viva fora do seu corpo, que é Cristo.

São disciplinados por Deus - “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a
quem recebe”. (Hb 12.6)

Os filhos de Deus, quando pecam, são disciplinados por Deus para que abandonem os
seus pecados e se arrependam, para que se tornem participantes de sua santidade (Hb
12.10). Todas as vezes que Deus nos corrige, não nos corrige porque Ele é sádico ou
vingativo, mas porque Ele quer que sejamos recuperados. O fato de Deus nos corrigir
mostra o quanto Ele nos ama, pois se não nos amasse Ele não corrigiria os nossos
pecados, mas nos lançaria no inferno após pecarmos contra Ele.

Que o nosso entendimento da disciplina de Deus seja como a do salmista: “ Foi-me bom ter
eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71).

E assim podemos entender o que diz a pergunta 33 do Catecismo de Heidelberg:

3/9
“Por que é Ele chamado Filho UNIGÊNITO DE DEUS, se nós também somos filhos de
Deus?”

Resposta: “Porque só Cristo é o Filho eterno de Deus, ao passo que nós, por sua causa, e pela
graça, somos recebidos como filhos de Deus”.

2. Deus é Todo Poderoso


Ao invés de tratar do título “Todo Poderoso”, tentarei tratar de um tema muito complicado:
o problema do mal.

Sei que é difícil tratar deste tema, mas creio que vale algumas reflexões sobre o assunto.

O famoso dilema se mostra assim:

1. Se Deus é onipotente, ele pode impedir o mal.


2. Se Deus é bom, ele quer impedir o mal.
3. Mas o mal existe.
Conclusão: Ou Deus não é onipotente, ou não é bom.[3]

Como um Deus Todo Poderoso, como mostra a Escritura e testifica o Credo, pode permitir
que o mal moral exista? Estas são algumas das posições mais defendidas por alguns
sobre este dilema:

Defesa da não realidade do mal

Essa defesa, em sua maioria, parte de religiões orientais (p.e. budismo e ciência cristã).
Eles pregam que o mal é uma ilusão. Mas, biblicamente e logicamente, não podemos
sustentar esse argumento. Pois, se o mal é uma ilusão, logo, será uma ilusão problemática,
que porta dor, sofrimento e morte. Se o mal é uma ilusão, logo, o que diz Isaias sobre a
morte de Cristo, o qual sofreria por nossos pecados, é uma ilusão. Sendo assim, não
temos nenhuma confiança em Cristo, mas não é isso que a Bíblia mostra.

Defesa da fraqueza divina

Essa posição, atualmente, pode ser vista pelos teólogos do processo ou teísmo aberto.
Tais teólogos defendem que Deus não é onipotente, onisciente e/ou soberano. Então,
partindo deste ponto de vista, eles entendem que Deus se esforça para bloquear o mal,
mas não consegue. Porém, biblicamente, não é esse o testemunho. A Bíblia mostra que
Deus é onisciente (Sl 139; Hb 4.11-13; Is 46.10; 1Jo 3.20), onipotente (Sl 115.3; Is 14.24,27;
46.10; 55.11; Lc 18.27); e soberano (Rm 11.33-36; 1Tm 6.15-16). Então, usar tal argumento
para resolver o problema é irônico. Como crer que um deus fraco, pode fazer com que
resolva este problema?

Defesa do melhor mundo possível

Alguns filósofos têm argumentado que o mal neste mundo é nada menos que o mundo
melhor que Deus poderia criar. Para esta visão o mal seria necessário para atingir certos
fins bons. Por exemplo, o fato de haver o sofrimento é para que haja compaixões pelos

4/9
sofredores. O problema é que Deus é eterno e seus atributos sempre o acompanharam,
logo, Deus, mesmo sem o mal, seria compassível. Outro problema é que o texto sagrado
nos relata que a criação era boa mesmo sem a presença do mal. Portanto, a presença do
mal não tornaria nada perfeito, até porque, no novo Céu e nova Terra não haverá a
presença do sofrimento e será um estado eterno de gozo na presença do nosso Senhor.

Defesa do livre arbítrio

A defesa do livre arbítrio é a mais comum que você já ouviu ou ouvirá. Os defensores
desta posição dizem que o mal veio pela livre escolha das criaturas racionais, onde que,
em nenhum momento a escolha era pré-ordenada por Deus. Em certo sentido, o homem
pode fazer suas escolhas. Mas essas escolhas são de acordo com os desejos e
circunstâncias de cada um, quer sejam santos ou ímpios. Portanto essa liberdade não é
libertária, mas causada por algo que a influenciou, até mesmo sendo determinada por
Deus.

Esse é o testemunho da Escritura, ela mostra com frequência Deus determinando nossas
livres escolhas e até mesmo más escolhas (cf. Gn 50.20; 2Sm 24.1; Pv 16.9; Lc 24.45; Jo
6.44, 65; At 2.23,47; 11.18; 13.48; 16.14; Rm 8.28 – 9; Ef 1.11; 2.8-10; Fp 1.29).

Defesa da construção de caráter

A quinta defesa trabalha o argumento de que o homem foi criado em um estado de


imaturidade moral e que tais sofrimentos fariam com que ele desenvolvesse tal
maturidade. É bem verdade que o sofrimento pode ser um modo de aperfeiçoamento,
como mostra Hebreus 12. Mas o texto trabalha com pecadores redimidos – uma situação
um tanto diferente. Segundo as escrituras mostram, quando Deus criou o ser humano, Ele
conclui o sexto dia dizendo que “era MUITO bom”, portanto, não havia imaturidade nisso,
mas a imperfeição veio com a queda (Gn 3.17). E, por fim, é bem claro na Escritura que
nem todo sofrimento irá construir caráter, a nossa santificação é por intermédio da ação
do Espirito Santo juntamente com os meios de graça.

Essas foram algumas respostas a este problema. Mas, será que existe uma resposta que
podemos utilizar? Na verdade, eu não conheço uma resposta satisfatória, porém, a partir
de minhas leituras, entendo que podemos ver o mal da seguinte forma.

A Confissão de Fé de Westminster , diz:

“Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade,
ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o
autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou
contingência das causas secundárias, antes estabelecidas”. (III.I)

Ou seja, mesmo que Deus tenha ordenado tudo quanto existe, Deus não é o autor do mal e
é isso que diz a Escritura, quando diz o profeta que “Tu és tão puro de olhos, que não podes
ver o mal” (Hc 1.13). E assim podemos formar um silogismo cristão:

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• Premissa 1: Deus é todo-bom (onibenevolente)
• Premissa 2: Deus é todo-poderoso (onipotente)
• Premissa 3: Sofrimento e mal existem

Conclusão: Deus deve ter tido boas razões para permitir o mal e o sofrimento. Pois, é visto
pelo testemunho escriturístico que Deus usa o mal e o sofrimento para alcançar um bem
maior, mesmo que não saibamos qual é a razão. E assim a denominamos de a Defesa do
Bem Maior.

O texto paulino diz que “ tudo coopera para o bem de quem ama a Deus ” (Rm 8.28). Então,
alegar que a presença do mal no mundo é boa, pode ser válido. Porque até mesmo
algumas vezes, temos que passar por algum mal, sermos afligidos com dor por um bom
propósito: cirurgia para uma cura, punições em crianças para discipliná-las. Portanto, talvez
Deus tenha um bom propósito em permitir o mal.

A defesa do bem maior parte da nossa base sólida de argumentação, as Escrituras. E as


Escrituras nos mostram que Deus usa o mal de forma positiva, como nos mostra John
Frame:

Para provar os seus servos (Jó; 1Pe 1.7; Tg 1.13), para discipliná-los (Hb 12.7-11), para
preservar a vida deles (Gn 50.20), para ensinar paciência e perseverança (Tg 1.3-4), para
redirecionar a sua atenção para o que é mais importante (Sl 37), para capacitá-los a consolar e
fortalecer outras pessoas (2Co 1.3-7), para habilitá-los a dar vigoroso testemunho da verdade
(At 7), para dar-lhes maior alegria quando o sofrimento é substituído pela glória (1Pe 4.13),
para julgar os ímpios tanto no decorrer da história (Dt 28.15-68), como na vida por vir (Mt
27.41-46), para recompensar os crentes perseguidos (Mt 5.10-12) e para manifestar a obra de
Deus (Jo 9.3; cf. Êx 9.16; Rm 9.17). [4]

As Escrituras lidam com o problema do mal de forma teocêntrica, porque todas as vezes
que a objeção do mal no mundo é levantada, é devido a questão que a humanidade
supostamente ser boa. O propósito primário e último da nossa existência é “glorificar a
Deus e gozá-lo para sempre”. Claro que a Bíblia não proíbe a felicidade humana, mas esta
felicidade deve ser para a glória de Deus.
E, por que é teocêntrica? Porque o único inocente que existiu e existe foi tratado como
pecador, mesmo sem cometer nenhum pecado, e o mesmo morreu no lugar dos filhos de
Deus. Em Cristo, a ira de Deus, por causa da maldade humana é derramada na cruz.

Deus rege este mundo em seus padrões e temos que definir o que seria o nosso conceito
de bondade. Nisso, cremos que Deus é o absoluto moral, e se o incrédulo trata o problema
do mal, nós tratamos do problema do bem. Primeiro como um incrédulo, que não crê em
Deus, sabe o que é o bem e o mal? Se não há absolutos, ele não saberá o que é realmente
bem e mal. E esse é o problema que o incrédulo pode enfrentar, pois mesmo com o mal
existente há pessoas que desenvolvem habilidades e dons maravilhosos, os quais foram
concedidos por Deus, o que chamamos de graça comum. “O Senhor é bom para todos, e as

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suas misericórdias são sobre todas as suas obras” e “Abres a mão e satisfazes de
benevolência a todo vivente” (Sl 145.9,16). Ou seja, como pode haver pessoas com dons,
talentos e aptidões em um mundo mal?

Então, a minha conclusão sobre a defesa do bem maior é que, certamente, o bem que Deus
dá e tem a revelar no último dia é bem maior e maravilhoso do que os males que temos
visto, porque “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória,
acima de toda comparação” (2Co 4.7). De modo maravilhoso na vida de José, Deus agiu
providencialmente para extrair o bem do mal, quando isso parecia uma impossibilidade
total, nós não poderíamos confiar que Deus extrairá bem dos restantes de males que
vivenciamos?

3. Deus é criador dos céus e da terra

A minha explicação aqui não é sobre como surgiu o mundo, criacionismo ou


evolucionismo. Mas para que Deus criou este mundo, e tal descrição será pelo viés bíblico,
partindo do Senhor como um Senhor pactual.

A Escritura revela que todas as coisas foram criadas em Cristo e para Cristo. Deus
estabeleceu formas de como a humanidade deveria se portar diante do seu Criador.

No livro de Gênesis temos o que chamamos de mandatos pactuais, assim como a criação
nos mostra que devemos adorar a Deus somente, Deus nos criou para um relacionamento
pactual cúltico com Ele (Mandato Espiritual), um relacionamento entre a família que
glorifique a Deus (Mandato Social) e que a nossa cultura, arte e trabalho sejam para a
glória de Deus (Mandato Cultural).

Mandato Espiritual - Deus criou Adão e Eva como nossos primeiros pais, à sua imagem e
semelhança. Este mandato envolve um relacionamento com o Deus que nos fez a Sua
imagem (Gn 1.26). Uma paz entre Ele e suas criaturas, o qual, também, estabeleceu um dia
de descanso de nossas obras para dedicarmos inteiramente a Ele em santidade.

Mandato Social – Deus ordena aos nossos primeiros pais que eles deveriam ser fecundos,
que o homem deve ser a cabeça e que a mulher seria a auxiliadora.[5] Este mandato que
envolve um relacionamento não só com Deus, envolve também a família que por Deus fora
criada - a liderança dos pais em saber guiar as suas famílias, segundo a ordem de Deus.

Mandato Cultural – A palavra “cultura” tem a mesma raiz de “cultivar”, a qual aparece em
Gn 2.15 na ordem dada por Deus à Adão que ele deveria “cultivar a terra”. Este mandato
tem como sentido tirar da terra o seu cultivo, não só na forma de trabalho braçal, mas nas
artes, ciência, música e etc.. Ou seja, tudo aquilo que envolve cultura.

Mas, com a queda de nossos primeiros pais, este relacionamento é quebrado, fazendo
com que todos estes mandatos fossem danificados. O homem já não consegue adorar a
Deus realmente, porque passou a ser idólatra, criando para si deuses, vivendo em guerra
com sua família, fazendo que pais matem os filhos e os filhos matem os pais, e seu
trabalho juntamente com sua cultura, foi danificado e penoso, a terra foi amaldiçoada por
causa dele.

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Assim como em Cristo e para Cristo o mundo é criado, o é também na nova criação, o qual
eu chamo de parte um. Paulo usa o exemplo da criação em Gn 1.3 para falar da luz que
Deus fez aparecer em nossos corações enegrecidos pelo pecado: “Porque Deus, disse que
das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação
do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4.6). Assim, podemos
ver que a nossa salvação é parte do ato criativo de Deus, pois somos chamados de “nova
criatura” (2 Co 5.17). E, da mesma forma que Deus criou o homem (humanidade) à sua
imagem, recria os crentes à imagem de Cristo (Rm 8.29). Assim como por sua Palavra Ele
criou e sustenta todas as coisas (Sl 33.6,9), também, por sua Palavra, doa-nos a fé para
cremos em Cristo (Rm 10.17; Ef 1.13).

A nossa transformação pela graça de Deus é apenas o começo dos novos céus e nova
terra (parte dois e última) (Is 65.17-18; 66.22; 2Pe 3.10-13; Ap 21.1-4) nos quais habita a
justiça de Deus. Os crentes são o princípio da obra redentora de Deus (Cl 1.20) que
resultará na consumação final, porque a presente criação como demonstrou acima, foi
amaldiçoada pela queda do homem (Gn 3.16-19),

“Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque
a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na
esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.19-21).

Crer que Deus é o criador dos céus e da terra é crer que o mesmo Deus nos fez novas
criaturas, por intermédio de Seu Filho, para que vivamos nos Novos Céus e Nova Terra.
Pois, de forma pactual, Cristo derrama seu sangue, o sangue da nova aliança, para fazer de
dois um só povo.
Conclusão

O Credo dos Apóstolos é um documento muito importante para a instrução da fé cristã e


um documento que permanece atualizado, do qual podemos tirar várias lições. Ele começa
de forma maravilhosa, mostrando e exaltando a Deus, nos dando o exemplo de como deve
ser a nossa vida – crendo que Deus é Soberano sobre tudo e todos; um Deus amoroso que
criou todas as coisas para o louvor de Sua glória. Mundo este o qual Deus tem total
controle e, misericordiosamente, age graciosamente com todos os seres humanos,
mesmo que alguns não façam parte de Seu rebanho, Deus é misericordioso.

Coloquemos a nossa confiança neste Deus e Pai Todo Poderoso que criou os céus e a
terra.

__________
Notas:
[1] PACKER, J.I., Teologia Concisa. 2.ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 147.
[2] SPROUL, R.C., Estudos expositivos em Romanos – São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.243
[3] FRAME, John. A doutrina de Deus. – São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p.136
[4] Ibid., 143
[5] Algumas cristãs feministas criticam o termo auxiliadora, alegando que tal título

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menospreza a mulher. Mas o que elas não sabem que o titulo “auxiliadora” é aplicado à
mulher e depois a Deus (cf. Sl 33.22; 38.33). Ou seja, quando a mulher cumpre o seu papel
de auxiliadora ela cumpre um papel que se refere à imagem de Deus.

***
Fonte: Bereianos
.

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Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor
bereianos.blogspot.com/2015/06/creio-em-jesus-cristo-seu-unico-filho.html

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do
Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está
sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os
mortos.

Nesta segunda parte, o Credo Apostólico ratifica quem é Cristo, a Sua divindade como
segunda pessoa da Trindade, como ele nasceu, morreu e ressuscitou.
Durante séculos Jesus sofreu vários ataques, alguns negaram a Sua divindade, sua
humanidade, sua existência. Hoje, os ataques à pessoa de Cristo são um pouco diferentes,
alguns desses ataques, ou melhor - blasfêmias, é inventar alguns títulos a Cristo, os quais
não possuem base bíblica. Na verdade esses títulos não são para engrandecê-lo, mas para
menosprezar sobre quem Ele é na realidade.

Certa feita Jesus pergunta aos seus discípulos: “ Quem diz os homens ser o Filho do
homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos
profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse:
Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16.13-16). A resposta de Pedro é a mesma que
afirma o Credo em outras palavras, Jesus Cristo, seu único Filho.

Para o homem moderno essa declaração de Pedro é antiquada, para eles, Jesus foi um
grande psicólogo que já existiu, outros veem Jesus como um grande revolucionário de sua
época, um profeta. Todas essas declarações e outras as quais fazem com que percam o
sentido bíblico de quem é Jesus, podem ser consideradas como atitudes de um anticristo.
João, em sua primeira carta, vai nos mostrar que o espirito do anticristo é aquele que não

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confessa que Jesus veio em carne. Provavelmente João estava se deparando com um pré-
gnosticismo, mas o mais interessante é que não confessar como é Jesus e, como ele veio,
e para que veio, essa pessoa tem o espirito do anticristo. Logo, qualquer pessoa que
intitula Cristo de algo que faz com que se perca do foco da revelação bíblica, esse tem o
espirito do anticristo.[1]

Mas não é assim que o credo trabalha, ele nos mostra de forma magnifica e resumida
sobre quem é Cristo e o que Ele fez:

• Filho de Deus
• Nosso Senhor
• Nasceu da virgem Maria, concebido pelo Espirito Santo.
• Crucificado, morto e ressuscitado.
• A ascensão de Cristo
• Segunda vinda

1. Filho de Deus
No Antigo Testamento o termo “Filho de Deus” era aplicado a nação de Israel, aos juízes,
aos anjos e especialmente ao rei. No Novo Testamento a igreja toma o lugar de Israel e ela
é consistida dos “filhos de Deus”, por adoção.

Mas, no caso de Cristo, este nome adquire um significado mais profundo. Se eu não
reconheço Cristo como Filho de Deus, eu estarei negando o seu:

•Sentido messiânico. Crer que Jesus é o Messias é crer que Cristo, o Filho de Deus, é o
libertador profetizado na Antiga Aliança, o qual deveria morrer pelos pecados de seu povo (Is
52.13 – 53.12). Crer que Cristo é o Messias é crer que o Filho é o próprio Deus. Pois alguns
textos mostram claramente de que a salvação pertence ao Senhor (Jn 2.9), e que o próprio
braço do Senhor pode salvar (Is 59.15-20; cf. 43.3, 11; 45.15,21). A afirmação de que Jesus é
o Messias é central no evangelho bíblico.

•Sentido trinitário. A Escritura mostra que Cristo é a segunda Pessoa da trindade, o


testemunho escriturístico e é claro em mostrar que Cristo é Deus porque é igual ao Pai em
essência, poder e santidade, em essência, Cristo é igual ao Pai em eternidade (Jo 17.5,24), em
honra e glória (Jo 5.23, 17.1,4,5), criador e redentor (Jo 1.3; 5.21), em domínio (Lc 10.22;
22.29), em perfeição (Hb 7.28), auto existência (Jo 1.4. 14.6) e digno de adoração (Mt 14.33);
em poder, Cristo mostra sobre a natureza (Mt 4.3; 14.15-23), sobre satanás (Jo 5.21; 6.40),
para perdoar pecado (Mc 2.5-7) e em santidade (Lc 1.35; Jo 10.36).

Assim, com as definições acima, podemos ver que há, de fato, duas naturezas em Cristo.
Quando a Bíblia mostra Jesus como Filho de Deus, a Bíblia está mostrando a deidade de
Cristo. E quando a Bíblia mostra Jesus como o Filho do Homem, a Bíblia está mostrando a
sua humanidade. Mas Cristo é também chamado de Filho de Davi, onde que, esse título faz
referência ao seu messianismo. É em Cristo que o trono de Davi é perpetuamente
continuado (Sl 89.29,34-36), é onde que o tabernáculo de Davi é levantado (Am 9.11, cf. At

2/12
15.16). Este Rei, o Filho de Davi, não tem um reino politico, mas é Ele que inaugura e
anuncia o Reino de Deus.
2.Nosso Senhor

Crer que Cristo é Senhor sobre tudo e todos para a atual sociedade é repugnante, para a
atual sociedade a melhor forma de guiar o mundo é não tendo um governante, fazendo
assim, com que todos sejam anárquicos.

Até para o evangelicalismo o título de Senhor atribuído a Cristo é menosprezado, um dos


sentidos que o termo Senhor é usado é o fato de fazer referência a um senhor que é dono
de escravos. E é isso que a Bíblia declara. Ela nos testifica que “...não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por preço...” (1 Co 6.19,20) e o mesmo Paulo fala em suas
epístolas que é “escravo de Cristo”. Aqui o crente é visto como uma possessão de Cristo,
mas para alguns ser escravo de Cristo é humilhante e opressor, mas o que alguns não
entendem é que a verdadeira liberdade é ser escravo de Cristo.

Outro uso da palavra Senhor no Novo Testamento referindo-se a Cristo está relacionado
com o Antigo Testamento. A palavra “senhor” no grego (Kyrios) foi usada para traduzir a
palavra hebraica Adonai na Bíblia do Antigo Testamento em grego (LXX), palavra essa que
foi usada na liturgia de Israel para substituir a palavra Yahweh, a qual não podia ser
proferida.[2] No Novo Testamento Jesus recebe o título de Senhor o qual está assentado à
direita de Deus, e assim, Cristo recebe o título de Adonai, pois quando Jesus é chamado de
“Senhor dos senhores” não resta dúvida que o termo se refere a uma autoridade absoluta
sobre toda a autoridade.

Por isso que para a atual sociedade crer que Jesus é Senhor sobre tudo e todos, é
humilhante. Para os cristãos do primeiro século, crer que Jesus como Senhor era desonrar
a César e esperar arcar com as consequências.

3.Nasceu da virgem Maria, concebido pelo Espírito Santo

Como uma expressão de fé, o Credo confirma que Jesus nasceu de uma virgem por obra
do Espirito Santo, e este é um dos temas mais descridos. Como uma virgem pode dar a luz
se não houver um contato com um homem? Mas qual a implicação de crer que Cristo
nasceu de uma virgem?

3.1.A necessidade de uma virgem

A necessidade de uma virgem não era para fazer com que Jesus fosse santo, no entanto,
Cristo seria e é santo por ser a sua natureza eternamente santa. Mas a necessidade de
que Cristo nascesse de uma virgem era para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta
“Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho... ” (Is 7.14). Alguns entendem que o
termo almah não é tão apropriado assim para fazer jus ao termo “virgem” que Mateus
descreve em 1.23. Holladay define o termo almah como uma “moça (em idade para se
casar)”.[3] E assim surgiram vários ataques dizendo que a referência de Mateus a Isaias
era forçada demais. A questão é que a profecia se cumpre nos tempos de Isaias (a curto
prazo) e ela aponta para o futuro por causa do Deus Conosco (a longo prazo).[4] Além de
ser uma dupla referência, a própria Septuaginta (LXX – uma tradução do 1º século antes
de Cristo do Antigo Testamento) traduz o termo “virgem” do hebraico para o grego
3/12
perthernos, da mesma forma que cita Mateus. Logo, seria difícil concluir que os tradutores
da Septuaginta queriam favorecer o cristianismo, como acusam Mateus, o evangelista, de
ter feito isso.

Beale explica sobre o significado de explícitos e implícitos que há em tais passagens, G.K.
Beale defende que tal concepção, o qual ele chama de “O conceito de visão periférica
cognitiva,[5] era mantida pelos escritores do AT (significados explícitos) e que estes
possuíam, o significado implícito. Ou seja, segundo Beale, “quando os autores
neotestamentários e veterotestamentários fazem afirmações diretas com um significado
explicito, essas afirmações sempre pressupõem uma gama correlata de significados
secundários que ampliam o significado explicito”.[6] Por exemplo, quando o autor
neotestamentário diz que os crentes estão “em Cristo”, quais aspectos envolvem essa
união? Essa união de estar “em Cristo” envolve todos os aspectos salvívicos concedidos
por Cristo e em Cristo. Ou seja, quando o apóstolo Paulo fala de justificação, é óbvio que o
apóstolo não estava deixando de lado o tema sobre santificação.

3.2.Por que crer que Jesus nasceu de uma virgem?

Vimos acima que o fato de Cristo nascer de uma virgem não era para que Ele nascesse
santo, mas para se cumprir a profecia que fora dita pelo profeta. Mas, por que é essencial
para a fé cristã crer que Jesus nasceu de uma virgem?

Além de crer na inerrância da Escritura mostrando o seu perfeito cumprimento, Deus


mostra o desfecho final de sua revelação progressiva desde o Antigo Testamento. Na
Antiga Aliança as mulheres estéreis, após Deus abrir o seus ventres, deram à luz filhos que
foram grandes homens de Deus na nação de Israel (p.e. Sara, Gn 11.30; 16.2; Ana, 1Sm
1.6ss e Isabel, 1.7ss), bem como as profecias, serviram de preparação para que, quando
acontecesse o ocorrido, eles entendessem o ocorrido. Ou seja, Deus fez com que mulheres
estéreis dessem à luz a grandes servos de Deus mostrando que o Servo do Senhor que
haveria de vir, viria de uma virgem.

Crer que Cristo nasceu de uma virgem mediante a ação do Espírito Santo não quer dizer
que Cristo herdaria a corrupção de José (apelando para o traducionismo). Mas é entender
a obra de redenção de Jesus Cristo. Quando Deus criou Adão, Deus o formou do pó da
terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida. Quando Deus gerou a Cristo, nascido de
mulher na plenitude dos tempos, foi para mostrar a ação redentora de Cristo sendo o
nosso segundo Adão. Enquanto em Adão a morte passou a todos os homens, em Cristo a
vida veio sobre todo aquele que crê.

Por fim, Rousas John Rushdoony, diz:

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“O nascimento virginal é um milagre, o milagre de uma nova criação, uma nova humanidade.
O renascimento de todo cristão é um milagre, o milagre da regeneração por Jesus Cristo. Esse
segundo milagre depende do primeiro. Porque Jesus Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro
Deus, ele é capaz de refazer o homem segundo a sua imagem. Ele é capaz de preservar o
homem dos poderes das trevas, e é capaz de sujeitar todas as coisas ao seu domínio. De fato, o
objetivo da história é declarado de antemão: “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e
do seu Cristo, ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15). Temos um destino glorioso
naquele que nasceu da virgem Maria.[7]

Somente aquele que nasceu de novo, provou a graça do novo nascimento, pode afirmar
que o nosso Salvador nasceu de uma virgem, não herdando a sua natureza pecaminosa
porque o seu Pai é Deus e sua natureza é santa.
4.Crucificado, morto e ressuscitado

Esta parte, para qualquer teólogo liberal é difícil de aceitar. E isso pode ser um problema
para a atual sociedade. Por exemplo, todo o mundo comemora o Natal (de forma errada,
mas comemoram). É mais fácil crer no nascimento do que na morte e ressurreição de
alguém. O Natal, até para os cristãos, é mais comemorado do que a Páscoa (que simboliza
a ressurreição). Ou seja, crer em um nascimento é fácil, mas na ressurreição não. Mas, o
que significa o fato de Cristo ter sido crucificado, morto e ressuscitado?

4.1. Por que Deus necessitou de uma cruz?

Sendo Deus todo poderoso, criador de todas as coisas, por que Ele precisou de uma cruz
para com que recebêssemos o perdão de nossos pecados?

Paulo nos dá uma luz, dizendo:

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito:
Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” (Gl 3:13)

“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os
gregos.” (1º Coríntios 1:23)

Paulo nos mostra que a cruz era maldição que produzia escândalo nos gregos. Para os
romanos era o castigo mais cruel e asqueroso, morrer em uma cruz era a forma de morrer
mais torturante que podia existir, era para os assassinos e rebeldes.

Se a cruz para os romanos era asquerosa, quanto mais para um judeu que, segundo a Lei,
ser pendurado no madeiro era sinal de maldição (Dt 21.22,23).

A maldição da cruz é colocada sobre Cristo. Ele, sendo o nosso substituto, se faz maldito
para nos tornar bendito diante de Deus, o Pai. O Justo morre pelos injustos. E Pedro,
enfatizou aos judeus de sua época, lembrando-os da maldição de Cristo:

“O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no


madeiro.” (At 5.30)

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“E nós somos testemunhas de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judéia como em
Jerusalém; ao qual mataram, pendurando-o num madeiro.” (Atos 10.39)

“Por não terem conhecido a este, os que habitavam em Jerusalém, os seus príncipes,
condenaram-no, cumprindo assim as vozes dos profetas que se leem todos os sábados. E,
embora não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. E,
havendo eles cumprido todas as coisas que D’Ele estavam escritas, tirando-O do madeiro, o
puseram na sepultura.” (At 13.27-29)

Pedro, assim como outros cristãos, não tinha vergonha de falar que o seu Senhor foi
amaldiçoado no madeiro, por causa de seus pecados. Como o próprio Pedro fala:
“carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados. ” (1Pe 2.24)
A cruz de Cristo mostra que os planos de Deus são bons, mesmo quando não entendemos,
a crucificação de um inocente é a pior coisa que aconteceu, mas ao mesmo tempo foi a
melhor coisa que nos aconteceu. Pois, se cremos que Deus tira um Bem Maior do mal, o
maior bem que Deus fez foi moer o seu próprio Filho na cruz em favor de muitos.

Sendo assim, a razão da cruz, segundo Philip Ryken, era sofrer a maldição que nós
merecemos pelos nossos pecados.[8]

4.2.O Servo sofredor

Jesus, em Isaías 53, é descrito como o “servo sofredor”. O termo não aparece no texto,
mas mostra o Servo de Deus sofrendo, pela vontade e pelas mãos de Deus, em favor de
muitos. Não podemos falar sobre a morte de Cristo sem falar de suas causas. Vejamos
algumas coisas que o profeta Isaías nos revela sobre a morte de Cristo e o propósito da
causa do sofrimento de Cristo.

4.2.1.O pecado humano

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou


sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por
causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que
nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós
andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o
Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não
abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante
os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e
quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela
transgressão do meu povo ele foi atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com
o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.”
(Isaías 53.4-9)

Isaías mostra que as nossas dores, enfermidades, transgressões e iniquidades são a


causa da morte de Cristo, o servo sofredor, por causa da desobediência de nossos
primeiros pais e o pacto quebrado, toda a humanidade recebeu a condenação de Adão.
Este, sendo o representante de toda a raça humana, condenou a todos ao inferno. Mas
Deus o fez enfermar para que nos reunisse em um só rebanho com um só pastor.
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4.2.2.O agrado do Pai

“Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por
expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do
Senhor prosperará na sua mão.” (Isaías 53.10)

A morte de Cristo não foi um mero acaso, até porque Cristo é o cordeiro morto desde a
fundação do mundo (Ap 13.8). Foi a vontade de Deus moer o Seu Filho. Aqui, a pergunta
sobre o mal é respondida: Por que Deus permite que alguém bom (realmente bom) sofra,
Deus seria capaz disso? Sim! Deus permitiu e fez com que o Santo de Israel, o Ungido,
sofresse em favor de seu povo para que o bom prazer prosperasse em suas mãos.

John Piper, diz:

O seu alvo era destruir o mal e o sofrimento através do próprio mal e sofrimento. “ Pelas suas
pisaduras fomos sarados” (Isaías 53.5). Por meio do sofrimento de Jesus Cristo, Deus deseja
mostrar ao mundo que não há pecado nem mal tão grande do qual Ele, em Cristo, não possa
fazer surgir justiça e alegria eternas. “O próprio sofrimento que causamos tornou-se a
esperança de nossa salvação.” [9]

4.2.3.Expiação
A morte de Cristo, segundo o texto de Isaías 53.10, é expiatória. D.A. Carson define
expiação como “o ato pelo qual o pecado é cancelado, anulado, apagado do registro”.[10] A
morte de Cristo na cruz nos mostra que por nós mesmos os nossos pecados não
poderiam ser pagos, muito menos cancelados. Em Cristo, Deus propôs expiação por
nossos pecados (Rm 3.25), ou seja, removendo e afastando de nós o nosso pecado.

4.2.4.Para se satisfazer

O texto prossegue dizendo: “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com
o seu conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles,
levou sobre si.” (Isaías 53.11)

Cristo morre na cruz sabendo que seu trabalho não seria em vão, tinha plena certeza do
bom resultado do seu penoso trabalho. Aqueles que creem em uma expiação universal
têm sérios problemas com esse verso, visto que, Cristo morre por toda a humanidade,
sabendo que nem todos serão salvos, Ele ficaria com o fruto do seu trabalho? Creio que
não, pois que fruto é esse de algo que não foi eficaz? Somente a morte substitutiva pode
cumprir com este propósito.

Este belo trabalho envolve a justificação, esta só pode ser feita por alguém justo, e Cristo é
Servo Justo, o qual justificará a muitos. A justificação é o ato pelo qual Cristo, tomando o
nosso lugar, nos declarou quites para com a Lei de Deus.

Sendo assim, a morte de Cristo era necessária para se cumprir o que os Escritos já
mostravam, pois era impossível a nós satisfazer à ira de Deus, e Cristo, Seu Filho, recebe a
nossa condenação na cruz cancelando os nossos pecados e dividas diante de Deus.

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4.3.Ele não está aqui

Esta foi a frase que o anjo disse às mulheres quando foram até o túmulo no domingo de
manhã (Mt 28.6).

Nos pontos acima vimos a Sua humilhação, Cristo, sendo Deus, como Paulo descreve, não
teve usurpação em ser igual a Deus, antes, foi um servo obediente até a morte e morte de
cruz (Fp 2.5-11). Cristo, em seu estado de humilhação, nasceu de uma pecadora, viveu
entre pecadores, comeu com esses pecadores, por causa dos pecadores foi humilhado,
cuspido e morto na cruz. O credo agora vai mostrar o Seu estado de exaltação:
Ressurreição e ascensão.

4.3.1.Cristo ressuscitou para quê?

Como mostrei acima quando falei do seu nascimento, abordei a questão de que a nossa
sociedade, mesmo sendo a comunidade cristã, não dá tanta importância a Páscoa.
Infelizmente alguns cristãos fazem mais festa no dia 25 de dezembro (tradicionalmente
comemora-se o nascimento de Cristo), do que a sua ressurreição, a qual os primeiros
cristãos, com o testemunho bíblico, entenderam ser Cristo a nossa páscoa (1Co 5.7).

Portanto, nós vimos acima que Cristo foi morto na cruz por causa dos nossos pecados.
Mas, e se Cristo não tivesse ressuscitado? Paulo nos responde que “se Cristo não
ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1Co 15.14)

Calvino, diz:

“É vã a pregação, não simplesmente porque ela inclua certo elemento de falsidade, mas
porque é indigna e um completo logro. Pois o que fica se Cristo foi devorado pela morte; se
foi aniquilado; se sucumbiu sob a maldição do pecado; se, finalmente, ficou cativo de
Satanás? Numa palavra, uma vez que o principio fundamental foi removido, tudo o que resta
será de nenhum valor”. [11]

A nossa fé e pregação, que é uma exposição daquilo que cremos, vai por água abaixo.
Pois, a nossa justificação foi fruto da ressurreição de Cristo, vencendo a morte. Cremos e
pregamos que todos quantos morrerem em Cristo antes da Sua volta, ressuscitarão para a
vida eterna, porque Cristo também ressuscitou sendo a primícia dos que dormem (1Co
15.13,20). Se Cristo não ressuscitou a nossa vida continua a mesma, debaixo de maldição,
sendo escravo do mundo, a carne e o Diabo, e assim, “comamos e bebamos que amanhã
morreremos” (1Co 15.32).
A ressurreição é o elemento mais importante da igreja cristã, pois quando Cristo foi
crucificado os discípulos fugiram, mas quando Cristo ressuscita eles saíram de onde
estavam escondidos e passaram com Cristo quarenta dias ouvindo acerca do reino de
Deus (At 1.3).

É nisso que está firmada a nossa fé, pois na ressurreição de Cristo temos:

• A certeza de nossos pecados pagos;


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• A certeza de que fomos absolvidos diante de Deus;
• A certeza de que Cristo não era pecador, porque a morte não o venceu;
• Que na sua morte e ressurreição Cristo venceu a morte e despojou os
principados e potestades;
• A certeza de que ressuscitaremos e viveremos com ele eternamente.
4.3.2.A ressurreição de Cristo é uma prova da Trindade

Assim com a obra de salvação é realizada pela Trindade[12], a ressurreição de Cristo é


também uma prova disto. A Escritura declara que a ressurreição de Cristo foi pelo:

Deus Pai - At 3.26 “Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que
nisso vos abençoasse, no apartar, a cada um de vós, das vossas maldades.” (cf. Gl 1.1)

Deus Espirito - Rm 8.11 “ E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus
habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.”

Deus Filho - Jo 10.18 “Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder
para dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebeu de meu Pai.” (cf. Jo 2.9)

4.4.A ascensão de Cristo


A ascensão de Cristo é a ordem natural da ressurreição, se constituindo no selo do
cumprimento da sua obra expiatória. A ressurreição de Cristo está ligada a três princípios:
Eclesiologia, soteriologia e escatologia.

4.4.1.Eclesiologia

Cristo, ao ressuscitar, passa quarenta dias ensinando os seus discípulos e com mais de
quinhentos irmãos (1Co 15.6). Antes de ascender aos céus Cristo incumbiu aos seus
discípulos que ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc
24.49). Sendo assim, a igreja tem a incumbência de:

• Pregar a Cristo – Mc 16.19,20; cf. At 4.13


• Viver diariamente como Corpo de Cristo – Ef 1.22,23

A ascensão de Cristo é um estimulo de perseveramos na fé, sabendo piamente, que o


nosso Senhor estará conosco até a consumação dos séculos.

4.4.2.Soteriologia

A ascensão de Cristo ressalta o cumprimento de sua missão, revelando a Sua glória e


poder, enquanto na encarnação Cristo se desprende de Sua glória, na sua ascensão Cristo
volta ao seu estado anterior ao seu nascimento. E assim Paulo diz sobre a ascensão e
salvação: “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro ” (Ef 4.8). As suas ovelhas estavam
mortas em pecado, cativos no poder de satanás. Mas, na ascensão de Cristo, Ele consome
a sua obra para a plena posse da salvação dos eleitos.

4.4.3.Escatologia

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A ascensão de Cristo é marcada por um dialogo entre os seus discípulos e seu Senhor e a
resposta de dois homens vestidos de branco:

”Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntou-lhe, dizendo: Senhor te restaurará neste
tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que
o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder [...] E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às
alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no
céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os
quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que
dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.” (Atos
1.6,7, 9-11)

A resposta de Jesus aos seus discípulos é bem enfática, dizendo que não compete aos
homens saber o dia de sua vinda (cf. 1Ts 5.1), mas que Jesus voltará da mesma forma que
os vistes subir, afirmam os homens de branco.

Essa é a esperança que move a Igreja, pregar o Evangelho a todas as pessoas até que
venha o fim, sabendo que o nosso Senhor Jesus voltará com grande poder e glória e
consumará todo o mal, fazendo justiça começando pela casa de Deus (Ml 3.1-5, 13-18; cf.
1Pe 4.17).

4.4.4.Em que a ascensão de Cristo nos beneficia

Primeiro, temos um advogado junto ao Pai (1Jo 2.1), Cristo está no céu defendendo a
nossa causa, para sempre. Satanás não pode nos acusar mais, pois Cristo é o nosso
advogado que está pronto para nos defender.

Segundo, temos a nossa própria carne no céu. Cristo, quando ressuscitou, foi com o
mesmo corpo, só que glorioso. Ou seja, o corpo que Ele viveu entre os pecadores foi o
mesmo que ressuscitou e ascendeu aos céus. Essa é a nossa esperança, de que, da
mesma forma que Cristo ressuscitou e ascendeu aos céus, nós, os que estamos em Cristo,
ressuscitaremos e viveremos eternamente com ele (Cl 3.3-4).

Terceiro, temos o Espírito Santo como resultado, Cristo tinha dito aos seus discípulos que
se Ele não fosse o Espírito não viria. Ele sobe aos céus, a promessa é cumprida e o Espírito
passou a habitar em toda carne (Jo 16.7; At 2.17). Por intermédio do Espírito, Cristo está
presente conosco.

4.4.5.Assentado a direita de Deus

No último aspecto sobre o seu estado de exaltação, após a ressurreição, o Credo mostra
que Cristo foi levado às alturas, posto à direita de Deus em sinal de autoridade, ficando
acima de todo principado, potestade, um nome que está acima de todo nome (Ef 1.10,21),
sujeitando todas as coisas sob seus pés (1Co 15.27), tendo-se tornado tão superior aos
anjos quando herdou mais excelente nome do que eles (Hb 1.3-4).

A.A. Hodge, diz:

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“Cristo assentado sobre esse trono, durante a presente dispensação, como mediador, aplica
eficazmente ao seu povo, por meio do seu Espírito, a salvação que previamente havia
adquirido para eles em seu estado de humilhação.”[13]

Enquanto Cristo estiver à direita de Deus, Cristo está intercedendo pelos eleitos e por
aqueles que serão salvos, mas Cristo virá outra vez para julgar os vivos e os mortos.
4.5.Segunda vinda

A vinda de Cristo, para o Credo, é enfática. Ele morre, ressuscita, ascende aos céus e
voltará. Essa é a certeza de toda a história cristã, tendo como base a certeza de sua
ressurreição, como mostrei acima.

A certeza da volta de Cristo é um sinal de esperança gloriosa e de medo, porque a Bíblia


diz para nós vigiarmos todos os dias, pois não sabemos nem o dia e nem a hora da volta
do Filho do Homem, e uma esperança, pois temos a certeza de que nossas lágrimas serão
enxugadas.

O crente deve ter em mente que a volta de Cristo, para a sua igreja fiel, é um consolo. O
Catecismo de Heidelberg, no 19º Dia do Senhor, pergunta:

Que consolo lhe dá o fato de que Cristo há de vir para julgar os vivos e os mortos?

Resposta: Que em todas as minhas aflições e perseguições eu de cabeça erguida e cheio de


ânimo espero vir do céu, como juiz, Aquele mesmo que antes se submeteu ao juízo de Deus
por minha causa, e removeu de sobre mim toda a maldição. Ela lançará todos os Seus e meus
inimigos na condenação eterna, mas levará para Si mesmo, para o gozo e glória celestiais, a
mim e a todos os Seus escolhidos. (pergunta 52)

A resposta da pergunta 52 do Catecismo nos mostra três motivos para nos alegrarmos
sobre a sua segunda e única vinda.
Primeira, é um consolo porque não tememos o julgamento, porque a ira que nós
merecíamos foi derramada sobre o nosso Senhor, sendo assim, todas as nossas aflições e
perseguições que sofremos aqui na terra cessarão. Segundo, a sua vinda nos traz consolo
porque Cristo subjugará todos os nossos inimigos debaixo de seus pés. Isso não surge
com um tom de vingança pecaminoso, mas a certeza, a qual a Bíblia nos diz, que toda
injustiça será feita justiça que é vinda do próprio Deus. Esse é o brado daqueles que estão
debaixo do trono de Deus: “E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro
e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Ap
6.10).

Terceiro, nos mostra que na sua vinda teremos a certeza que em corpo e alma moraremos
eternamente com o nosso Senhor. A vinda do juiz indica o fim de todo sofrimento, de toda
depressão, de todo câncer e de todos os males causados pelo pecado.

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_____________
Notas:
[1] Cf. 1 João 2.18,22; 4.4.3; 2 João 1.7
[2] SPROUL, R.C. Discípulos hoje. 1º ed. – São Paulo: Cultura Cristã, p. 32
[3] HOLLADAY, William L. Léxico hebraico e aramaico do Antigo Testamento . 1ªed. – São
Paulo: Vida Nova, p. 389
[4] Cf. OSWALT, John. Comentário do Antigo Testamento – Isaías – vol. 01 . 1ªed. – São
Paulo: Cultura Cristã. p. 263-267
[5] BEALE, G.K. O uso do Antigo Testamento no Novo Testamento e suas implicações
hermenêuticas. 1ª ed.– São Paulo: Vida Nova, p. 11-12
[6] Ibidem. p.55
[7] RUSHDOONY, Rousas John. Nascido da virgem Maria.
http://www.monergismo.com/textos/cristologia/nascido-virgem-maria_rushdoony.pdf
Acessado em 26/Dezembro/2014.
[8] Veja a obra de MONTGOMERY, James. A ofensa da cruz. In: GRAHAM, Philip. Et al. O
coração da cruz. 1ª ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
[9] PIPER, John. Para sua alegria. 1ªed. São José dos Campos, SP – Ed. Fiel. 2008, p. 25
[10] CARSON, D.A. Qual a diferença entre propiciação e expiação?
https://www.youtube.com/watch?v=Zz8rDC8pess. Acessado em 26/12/2014.
[11] CALVINO, João. 1 Coríntios. – 2.ed. – São Bernardo do Campo, SP: Edições
Parakletos. 2003, p. 465
[12] Ef. 1.3-5 (Deus Elege); 6-12 (Jesus redime); 13-14 (Espirito Santo sela) (cf. 1Pe 1.2).
[13] HODGE, A.A. Esboços de teologia. 1.ed. – São Paulo: PES, 2001, p. 617.

***
Fonte: Bereianos
Leia também a primeira parte deste estudo: Creio em Deus Pai Todo Poderoso

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Creio no Espírito Santo
bereianos.blogspot.com/2015/07/creio-no-espirito-santo.html

Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos
pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.
Chegamos à parte final do Credo, que tem como “Creio” a terceira Pessoa da Trindade, o
Espírito Santo. O Credo, de forma lógica, após tratar da ascensão de Cristo, mostra agora a
pessoa do Espírito Santo no estabelecimento da Igreja, a comunhão dos santos que estão
espalhados pelo mundo entre povos, línguas e nações, a remissão de pecados, a nossa
ressurreição no último dia e a entrada na vida eterna como parte de sua confissão.

1. O Espírito Santo

O Credo é bem claro em não colocar toda a sua ênfase no Espírito Santo. Não que Ele seja
menor, mas que suas funções são distintas. Algumas igrejas dão tanta ênfase ao Espírito
Santo porque não conhecem o Seu trabalho no que chamamos “economia da Trindade”.
Essas igrejas, possivelmente, não conseguem entender que a ênfase do culto não está
sobre a pessoa do Espírito Santo, e sim, como o próprio Credo mostra, assim como o Novo
Testamento, está sobre Cristo sendo o Senhor da Igreja. A nossa adoração é conduzida
pelo Espírito Santo, nos levando a exaltar Cristo e sua obra de redenção feita na cruz por
intermédio da Palavra para a glória de Deus Pai. Então, de forma breve e simples, duas
grandes categorias sobre o Espírito Santo.

1.1. A pessoa do Espirito Santo

A resposta 53 do 20º Dia do Senhor no Catecismo de Heidelberg nos diz, sobre o Espírito
Santo:

Ele é verdadeiro e eterno Deus, juntamente com o Pai e o Filho.


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O Espírito Santo é uma pessoa porque ele tem funções de uma pessoa. Ele ensina (Lc
12.11-12), fala (At 13.2), intercede (Rm 8.26), se entristece (Ef 4.30). Ou seja, o Espírito
Santo não é uma força ativa ou um modo de existência de Deus.
O Espírito Santo está em toda parte, não há nenhum lugar deste mundo que possamos nos
esconder dele (Sl 139.7). Ele é eterno (Hb 9.14) e o único que conhece a mente de Deus
(1Co 2.10-11). O Espírito Santo é plenamente Deus como esses textos mostram:

• Atos 5.3-4 mostra que mentir para Deus é mentir para o Espírito Santo;

• 1Co 3.16 e 6.19 mostram que Templo de Deus e Templo do Espírito Santo são usados como
sinônimos;

• Mt 28.19 (cf. 2Co 13.14) mostra que Jesus ordena aos seus discípulos que fossem batizados
em nome (singular) de todas as três pessoas (plural) da Trindade. Mostrando a mesma
igualdade em poder, posição e majestade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

1.2.A obra do Espírito Santo


O Catecismo de Heidelberg prossegue dizendo:

Que ele foi dado também a mim, para fazer de mim, por meio de fé verdadeira, um
participante de Cristo e de todos os seus benefícios, para que ele possa me confortar e habitar
comigo para sempre.

O Espirito Santo, assim como Deus Pai, não é só transcendente, mas também, imanente.
Ou seja, o Espírito Santo está conosco em todo lugar, por isso o catecismo diz que “ele foi
dado também a mim”. E assim, a Bíblia diz que:

• O Espírito vive dentro de nós (1Co 6.19);

• O Espírito está em nosso coração para nos fazer clamar “Aba, Pai” (Gl 4.6; cf. 2Co 1.22);

• Temos comunhão com o Espírito Santo (2Co 13.14).

Essa vivencia que há do Espírito Santo em nosso coração não é que o nosso coração é um
compartimento que guarda Ele. Mas que o Espírito Santo habita conosco nos animando,
moldando o nosso caráter, renovando a nossa mente e agitando as nossas emoções. Ou
seja, a Sua presença não é uma residência física, mas uma realidade vivida.
1.3.O Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento

Qual a diferença da atuação do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento?

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No Antigo Testamento o Espírito Santo habitava entre os crentes, como mostra o profeta
“segundo o pacto que fiz convosco, quando saístes do Egito, e o meu Espírito habita no meio
de vós; não temais” (Ag 2.5). Então, a habitação do Espírito Santo sempre existiu mesmo
quando Cristo estava na terra. O que diferencia o Espírito Santo no Antigo e Novo
Testamento é a sua atuação. O que havia na Antiga Aliança eram enchimentos a certos
tipos de pessoas, pois na conversão quem sempre agiu foi o Espírito Santo (Zc 4.6).
Algumas pessoas eram cheias do Espírito Santo para certos tipos de obras que deveriam
fazer, por exemplo, em reis, profetas e sacerdotes.

Já na Nova Aliança, a atuação do Espírito Santo é diferente, começando com o


cumprimento da profecia de Joel 2.28 (cf. At 2.17,18). O cumprimento da profecia de Joel
é o que marca a distinção da atuação do Espírito Santo na Antiga Aliança e na Nova. A
profecia diz que Deus derramaria o seu Espirito sobre toda carne, não mais só em profetas,
reis e sacerdotes. Mas derramaria sobre filhos e filhas, jovens e velhos, e sobre servos e
servas e que a cada um concederia dons. Ou seja, na Nova Aliança todos quantos
participam do corpo de Cristo recebem a ordem de encherem do Espírito Santo.

1.4.O Espírito Santo e a Igreja

Algumas pessoas entendem que estamos na Era do Espírito Santo, fazendo essa distinção
da antiga aliança. É bem verdade que algumas coisas da antiga aliança não são praticadas
hoje, mas o Espírito Santo já habitava na igreja do Antigo Testamento, como mostrei
acima. O que nós temos em Pentecostes (At 2) é o que Abraham Kuyper diz: “a Igreja para
o mundo”.[1] Naquele momento em diante a Igreja avançaria o mundo mostrando que o
Evangelho é para todas as nações, algo bem visto quando cento e vinte pessoas
receberam o dom de línguas e falaram das maravilhas de Deus nos idiomas daqueles que
vieram visitar a festa (At 2.11). Sendo assim, o Espirito Santo concede dons à igreja para
que a obra de Deus prosseguisse avante. Deus concede a Igreja, por intermédio do Espírito
Santo, dons para que esses dons auxiliasse toda a comunidade e não como algo de
vanglória e títulos. Entendemos que os dons ditos revelacionais não são necessários para
os dias de hoje, até porque o modo que interpretam esses dons, principalmente o de
línguas, não pode ser comparado com os de Atos e de 1º Coríntios. Seja qual for o dom
que Deus nos dê, devemos obedecer as regras: não são para o nosso próprio prazer ou
beneficio, mas para equipar a nossa tarefa como povo missionário de Deus.

1.4.1. No ministério da Palavra

Além de o Espírito Santo conceder dons, o Espirito Santo age no cuidado da Palavra: sela, a
interpreta e aplica. Pelo o selo entendo como a sua autoridade divina, se não a Palavra não
pode ser palavra de Deus para nós. Ela é a autoridade final para qualquer decisão que há e
devemos nos submeter a ela. As nossas experiências não podem ser comparadas à
autoridade que a Escritura nos passa. As nossas experiências passam, a Palavra de Deus
é eterna.

A Escritura, sendo autoridade de Deus, deve ser interpretada. A interpretação da Palavra de


Deus não pode ser baseada em achismos e/ ou experiências. Ela deve ser acompanhada
de oração. Uma vida cristã piedosa e auxilio do Espírito Santo. Somente aquele que selou a
sua autoridade é o que pode dar a interpretação.
3/17
Após a interpretação, há a aplicação. A Escritura Sagrada é um verdadeiro manual para a
atual sociedade e de qualquer época, pois ela é eterna. Mas tal aplicação só pode ser feita
pela obra do Espírito Santo. Sendo assim, há duas formas que o Espírito Santo aplica a
Palavra: por intermédio da pregação, devocional e/ ou leitura diariamente.

1.4.2. No governo da Igreja

Assim como foi na eleição do sucessor de Judas (At 1.24-26), o traidor, cremos que o
Espírito Santo escolhe os oficiais que guia a igreja. Cremos que os oficiais da igreja, os
quais são eleitos pela igreja (At 6.5; 14.23; 15.22,25;) são também eleitos pelo Espírito
Santo. Tais homens pecadores, por intermédio da Santa Palavra, agem segundo a vontade
de Deus, tanto na pregação da Palavra, administração dos sacramentos bem como na
disciplina (Mt 18.20).

2. A Igreja

Como assim crer na igreja? O Credo não está afirmando para nós crermos na Igreja da
mesma forma que cremos em Deus, em Cristo e no Espírito Santo. Mas devemos crer na
igreja por aquilo que ela mesma é: O Corpo de Cristo, a Noiva do Cordeiro.

Por questão lógica, depois de apresentar a obra da Trindade, o Credo mostra a igreja como
uma constituição da Trindade. Então, veremos abaixo algumas características
concernentes a igreja.

2.1. Igreja visível e invisível

Segundo a Confissão de Fé de Westminster , a igreja é:

A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já
foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu
cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.

A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a
uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro
professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a
casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.
A esta Igreja Católica Visível Cristo deu o ministério, os oráculos e as ordenanças de Deus,
para congregamento e aperfeiçoamento dos santos nesta vida, até o fim do mundo, e pela
sua própria presença e pelo seu Espírito, os torna eficazes para esse fim, segundo a sua
promessa. (Cap. XXV. I, II e III).

Segundo a Confissão de Fé de Westminster , a Igreja Invisível é constituída por todos os


salvos, tanto da Antiga Aliança como aqueles que conhecemos que morreram no Senhor e
aqueles que estão espalhados pelo mundo. Igreja visível e invisível não são duas igrejas,
mas uma só Igreja porque Cristo só tem um Corpo e uma Noiva a qual, em sua totalidade,
será revelada na eternidade, uma multidão que não se pode contar (Ap 7.9). Ou como
mostra a CFW: consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos
que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça.
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A Igreja visível é a igreja local, a qual é uma porção da Igreja invisível na qual consiste de
crentes e não crentes. E mesmo com governantes crentes a sua natureza carnal ainda não
está totalmente livre do pecado, por isso que a história mostra vários problemas e duras
lutas. Mas, mesmo assim, com todas as suas imperfeições, nos é exigido que cumpramos
com que a Escritura exige de sua igreja.

E assim, entendo que a definição dada pela CFW seja mais fácil de explicar a unidade[2] e
sua universalidade (igreja católica). Os dois termos propostos pela Confissão trata sobre a
unidade da igreja como a igreja que estará presente no céu com o nosso Senhor para todo
sempre, mas também trata da unidade da igreja aqui na terra, a qual é o Corpo de Cristo
onde deve haver edificação mútua até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, ao homem perfeito, à medida da estatura completa de
Cristo (Ef 4.13).

A universalidade da Igreja pode ser descrita pela Igreja Invisível. Pois, se uma igreja advoga
para si a catolicidade haverá alguns problemas, como o exclusivismo. Mas a Igreja
Universal, assim como a Igreja Invisível, está em todos os lugares compostos por eleitos
de todos os tempos, não como afirma o romanismo - que as igrejas locais não podem ser
chamadas de igrejas, mas que todas fazem parte da Igreja como um todo.

Assim, também, o termo Visível e Invisível pode ser aplicado ao termo que a Segunda
Confissão de Helvética (1566), que diz:

Uma é chamada a Igreja Militante e a outra a Igreja Triunfante. A primeira ainda milita na
terra e luta contra a carne, o mundo e o Diabo, que é o príncipe deste mundo, e contra o pecado
e a morte. A outra, já deu baixa e triunfa no céu depois de ter vencido esses inimigos, e exulta
diante do Senhor. Entretanto, essas duas igrejas têm comunhão e união uma com a outra.
(Cap. XVII).[3]

A Igreja Visível é a mesma que Militante, pois está nesta terra com pecadores dentro dela
lutando contra as hostes espirituais.
A Igreja Invisível é a mesma que a Triunfante, que gloriosamente está com o nosso Senhor
Jesus, longe da corrupção que há aqui na terra, composta por todos os eleitos de todas as
épocas.

2.2. As marcas da Igreja

Por marca podemos definir o que se entende certos tipos de sinais externos. François
Turretini diz que as marcas são para:

Distinguir o verdadeiro aprisco de Cristo das covas dos lobos e a genuína sociedade dos
cristãos piedosos.[4]

A Teologia Reformada define uma verdadeira igreja por três vieses, segundo a Confissão
Belga:

5/17
As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do
Evangelho, a pura administração dos sacramentos como Cristo os instituiu, e o exercício da
disciplina eclesiástica para castigar os pecados. Em resumo: ela se orienta segundo a pura
Palavra de Deus, rejeitando todo o contrário a esta Palavra e reconhecendo Jesus Cristo como
o único Cabeça. Assim, com certeza, se pode conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém
convém separar-se dela (artigo 29.2).

2.2.1. Uma fiel pregação


Segundo a reforma protestante a pura pregação é uma das características de uma
verdadeira igreja. Mas concernente à pregação há o ensino. Ou seja, uma fiel pregação e
um fiel ensino da Escritura é a primeira marca que distingue a verdadeira da falsa igreja.

Cremos que uma fiel pregação faz com que se cumpra o que Jesus disse, que as ovelhas
ouvem a voz de Cristo e o seguem (Jo 10.27). É por intermédio da pregação fiel que Deus
concede fé ao pecador (Rm 10.17). Uma igreja que é fiel à Escritura é aquela que se
mantém nas palavras de Cristo (Jo 8.31,32).

Assim como a pregação mostra a fidelidade da igreja, o ensino também. Um exemplo claro
disso é o que relata Atos 2.42 onde que os cristãos perseveraram na doutrina dos
apóstolos. Uma pregação e um ensino fiel da Escritura cumpre com o que Paulo diz aos
Coríntios, em sua segunda carta: “Somos, portanto, embaixadores por Cristo, como se Deus
exortasse por nós” (2Co 5.20 – Sociedade Bíblica Britânica).

É como ser a voz de Cristo na terra quando pregamos, pois “ quem vos ouve a vós, a mim
me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele
que me enviou” (Lc 10.16).

2.2.2. Uma fiel administração dos sacramentos

A fiel administração dos sacramentos é consequência de uma fiel pregação da Palavra de


Deus, pois os sacramentos administrados são como uma pregação. Pois, os sacramentos
são sinais visíveis de uma graça invisível. Portanto, quando o ministro administra bem a
Santa Ceia, conforme a fiel explicação da mesma, ele está pregando, por meio de sinais.
Quando bem explicada, a igreja entende, a cada dia, de que Cristo lhes proporcionou tal
benção de participar de seu Corpo por causa da Sua carne partida e Seu sangue
derramado em favor de muitos. Da mesma forma, quando bem explicado, é o batismo. O
batismo é uma forma de professar publicamente aquilo que foi feito sobrenaturalmente na
vida deste pecador, os quais foram regenerados.

2.2.3. Uma fiel aplicação da disciplina

A necessidade da disciplina faz parte de toda sociedade ordenada e moral. Assim também
é na Igreja de Cristo, para que aquele que está sofrendo a disciplina aprenda a não pecar
mais e aqueles que estão presenciando a disciplina não pequem da mesma forma ou

6/17
diferente. Uma igreja que não disciplina ela se torna imoral da mesma forma daquele que
merece a disciplina. Portanto, com um faltoso dentro da igreja, este fermento faz com que
levede toda a massa (1Co 5.6), levando outros consigo a praticar o mesmo erro.

Uma igreja que não luta contra o pecado não é fiel à pregação e nem aos sacramentos,
pois se pregasse fielmente à Palavra de Deus notaria, com o testemunho dos dois
Testamentos, que Deus sempre disciplinou os faltosos. Da mesma forma, não haverá uma
boa administração dos sacramentos. Pois, todos quantos participam da Santa Ceia devem
ter consciência do que está participando, caso contrário, se o mesmo come e bebe sem
discernimento, come e bebe juízo para si (1Co 11.29).

2.3. Fora da igreja não há salvação?

A Confissão de Fé de Westminster diz:

A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a
uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a
verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de
Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação (XXV.II)

A confissão reformada diz que fora da igreja visível não há salvação, será que todos
quantos estão desigrejados estão perdidos? A CFW não está dizendo que todos quantos,
por algum motivo válido, estão sem congregar não estão salvos. Mas que não é habitual
(ordinário) haver salvação fora da Igreja.
De uns tempos para cá algumas pessoas saíram de suas igrejas e começaram a
congregar em seus lares. Não direi que é pecado a igreja iniciar os seus trabalhos nos
lares, mas sim quando essas pessoas saíram de suas congregações e passaram a se
reunir em lares sem um governo. Pois, cremos que para administrar os sacramentos
devem ser pastores legalmente ordenados, como descrevem as confissões reformadas
(CFW: XXVII.IV e Confissão de Fé Batista de Londres de 1689: XXVIII. II).

Mas no atual cenário dos desigrejados, o que vemos é a insubmissão aos lideres de suas
igrejas e com algumas desculpas que não convém, por exemplo: Na igreja só há hipócritas,
na igreja há injustiças, na igreja há erros e etc. Bom, infelizmente pecadores sempre
haverão de compor a Igreja. Em Atos dos Apóstolos vemos uma má distribuição de
benefícios às viúvas judias e gregas (At 6), onde as judias eram mais beneficiadas do que
as gregas e vemos dois missionários entrando em conflito, Paulo e Barnabé (At 15.37-39).
Portanto, a corrupção sempre haverá na igreja até Cristo voltar. A questão que envolve
é “como resolvem o problema”. A Bíblia não mostra em lugar nenhum algum exemplo de
“desigrejamento”, mas mostra que devemos lutar pela pureza da igreja identificando os
hereges e admoestando-os (2Tm 2.25).

Alguns falam que no Novo testamento o local de congregar era em lares, ou seja, não
houve nenhum outro lugar em que os membros se reuniam. É bem verdade, mas as igrejas
que estavam em suas cidades, como mostra o caso de Priscila e Aquila, que
possivelmente a Igreja de Éfeso era em sua casa (1Co 16.19; cf. At 18.19), eram fixas. A
segunda questão a analisar é o modo que Tiago se dirige a igreja:
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“Porque, se entrar na vossa sinagoga algum homem com anel de ouro no dedo e com traje
esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido.”(Tiago 2.2).

Tiago, criticando o modo que alguns da igreja se comportavam fazendo acepção de


pessoas, usa o termo sinagoga para se dirigir ao local que aqueles irmãos se reuniam. Veja
que o autor do texto toma o sentido judaico de igreja para aplicar à igreja aonde é
direcionada a carta. A palavra "sinagoga" tem como sentido construções, onde aquelas
assembleias judaicas solenes eram organizadas. Ou seja, percebe-se que antes mesmo
das perseguições se concretizarem, possivelmente já havia um lugar de reunião como
descreve Tiago, irmão do Senhor. Em Hebreus 10.25 o autor usa o termo
congregação[5]para se referir ao local onde os cristãos se reuniam.

3. A comunhão dos santos

A comunhão dos santos, segundo descreve a Confissão de Fé de Westminster (cap. XXVI),


mostra que aquele que tem comunhão com Cristo tem comunhão com seus irmãos. Mas
que essa comunhão não o torna o individuo divino como o Senhor Jesus.

A união com Cristo teve seu inicio com o próprio Cristo, o qual se fez carne, morreu em
uma cruz, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Tal obra de salvação feita por Cristo
foi para que tenhamos paz com Deus e tenhamos comunhão com ele mesmo. Pois,
outrora estávamos unidos a Adão, por sua representação federal sob a aliança das obras,
sendo essa a nossa comum natureza antes do nosso resgate, feita pelo ultimo Adão, a
saber, Jesus Cristo (1Co 15.45; cf. Rm 5.12-19) o cabeça da nova humanidade.

3.1. A natureza desta união

Como foi dito acima, tal união só pode ser obtida porque Cristo resgatou o seu povo para
essa comunhão. E por isso rejeitamos a ideia de que Cristo morreu efetivamente por toda
a humanidade, pois tal comunhão só pode ser feita com aqueles que foram dados a Cristo,
como esses textos nos provam:

“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. ” (Jo
17.9)

“Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me
deu. E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das
mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o
diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à
servidão.” (Hb 2.13-15)

Estávamos sujeitos à morte eterna, mas Cristo nos resgatou nos abençoando em Cristo
com “toda sorte de bênçãos espirituais” (Ef 1.3). E, como consequência, nós:

• Somos inseridos no Corpo de Cristo, onde que essa união é de Cristo com os crentes e dos
crentes com os próprios crentes (Jo 15.5; 1Co 6.15-19; Ef 1.22,23; 4.15,16; 5.29,30);

8/17
• Temos uma união vital, a qual, por intermédio de Cristo, temos uma vida (Rm 8.10) que nos
conduz rumo a Deus;

• Temos uma união mediada pelo Espírito Santo, pois é por intermédio do Espírito Santo que
temos comunhão com Cristo (1Co 6.17; 12.13; 2Co 3.17,18; Gl 3.2,3);

• Uma união transformadora, pois a união com Cristo nos faz com que a cada dia sejamos
mais à imagem de Cristo (Rm 8.29), segundo a nossa natureza humana.

3.2. O reflexo desta união


A Confissão de Fé de Westminster , diz:

Os santos são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no
culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais, que tendam à sua mútua
edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas
respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer a ocasião, deve
estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar invoquem o nome do Senhor Jesus (CFW
XXVI.II)

O reflexo desta união, segundo a Confissão, por ordem lógica, a nossa comunhão com
Cristo deve ser refletida na sociedade, no cuidado da comunidade cristã. Sendo assim, por
intermédio desta união com Cristo, o regenerado, o qual possui o Espírito, a mente, a
semelhança e imagem de Cristo; isso deve ser refletida em suas atitudes (Rm 8.9; Fp 2.5;
1Jo 3.2).
Berkhof, diz sobre a união com Cristo e a união com a comunidade:

A união dos crentes com Cristo fornece a base para a unidade espiritual de todos os crentes, e,
consequentemente, para a comunhão dos santos. Eles são animados pelo mesmo espírito,
ficam cheio do mesmo amor, permanecem na mesma fé, empenham-se na mesma luta, e estão
ligados pelo mesmo objetivo. Juntos estão interessados nas coisas de Cristo.[6]

Sendo assim, a Igreja tem a responsabilidade de fazer Cristo aparecer em sua vida,
cuidando dos necessitados da igreja, necessidade essa que não é só material, mas
espiritual também. A igreja, como uma comunidade que tem comunhão com Cristo, é uma
comunidade auxiliadora.
Pois o que fazemos aos nossos irmãos, fazemos a Cristo:

9/17
“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por
herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e
destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os
justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou
com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te
vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei,
lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a
mim o fizestes.” (Mt 25.34-40)

Willian Hendriksen, comentando a passagem diz:

Aqui se revela a mais estreita conexão entre Cristo e seus genuínos seguidores [...]. Tudo o
que se faz em prol dos discípulos de Cristo, por amor a ele, é considerado como feito a ele.[7]

3.3. O culto como comunhão dos santos


Assim como os anjos, os crentes aqui na terra adoram a Deus. O interessante é que
quando a Bíblia mostra os anjos adorando a Deus, tal adoração é feita em conjunto (Sl
148.2,5; Is 6.3; Ap 4.8). Não estou dizendo que não podemos adorar a Deus em nosso lar
sozinho, mas a questão é como a igreja se porta como uma comunidade, que está unida
com Cristo, adorando a Deus.

3.3.1. O Dia do Senhor

Cremos que o Dia do Senhor, não mais o sábado, mas o domingo foi estabelecido por Deus
como um dia de reunião para adorarem ao Deus que os libertou (Êx 20.2-11). Como o
próprio salmista diz: “Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele ” (Sl
118.24). No Antigo Testamento é visto por duas vias para que o guardem. Primeiro, o
Quarto Mandamento foi estabelecido para que o povo de Deus se alegre na criação de
Deus, pois o dia de descanso foi estabelecido após o término da criação. Mas esse dia não
é um dia de adoração à criação, mas ao Criador que criou todas as coisas (Êx 31.16).

O segundo motivo da observância deste mandamento é como começa a própria


introdução aos dez mandamentos, feito pelo próprio Deus: “Eu sou o Senhor teu Deus, que
te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2). O motivo pelo qual se deve observar
o quarto mandamento, mas não só o quarto como todo o resto, é por causa da ação
libertadora de Deus.

Mas alguém poderá responder: “Ok, isso é no Antigo Testamento, não para o Novo
Testamento, porque não temos nenhuma ordenança para guardamos esse dia na Nova
Aliança”. Veremos.

Cremos, biblicamente e confessionalmente, de que o dia estabelecido na Antiga Aliança


fora mudado na Nova Aliança. Primeiro, porque o próprio Cristo é o Senhor do sábado (Mt
12.8), logo, sendo ele mesmo o Senhor, ele tem toda a autoridade para mudar o dia.

10/17
Segundo, cremos que o dia estabelecido na Nova Aliança é por causa do dia em que foi
consumado a nossa libertação e justificação – o domingo, baseando-se no dia de sua
ressurreição (Mt 28.1; Mc 16.2,9; Lc 24.1 e Jo 20.1). Juntamente com a nossa libertação,
na sua morte e ressurreição, na qual Cristo vence a morte e nos faz participantes desta
vitória (Hb 2.13-15), Cristo faz uma nova humanidade, uma nova criatura nele, “porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para
que andássemos nelas” (Ef 2.10).

Terceiro, assim como os cultos na Antiga Aliança eram feitos aos sábados, na Nova
Aliança os cultos eram feitos aos domingos.

• Começando pelo derramamento do Espírito Santo, como cumprimento da profecia, em um


domingo (At 2.1ss; cf. Lv 23.15-21 – NVI).
• Em Atos 20.7 é dito que: “ E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para
partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a
prática até à meia-noite” (ênfase acrescentada). Veja que no primeiro dia da semana eles
tomaram a ceia.

• Em 1 Coríntios 16.1,2 é dito: “ Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós
também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia.” E, “no primeiro dia da semana cada
um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se
façam as coletas quando eu chegar”. As coletas ou recolhimento de ofertas eram feitas aos
domingos, porque se entende que era o dia em que os cristãos se reuniam.

• E em Apocalipse 1.10: “Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de
mim uma grande voz, como de trombeta”. Simon Kistemaker comentando o versículo, diz:
Essa é a única passagem do Novo Testamento em que esse dia é descrito dessa maneira, pois
em outros lugares ele é chamado de primeiro dia da semana. É a ressurreição do Senhor, e no
fim do 1º século os cristãos haviam começado a se referir a ele não como primeiro dia da
semana, mas como dia do Senhor. É o dia dedicado ao Senhor.[8] Da mesma forma,
documento o qual Kistemaker faz referência, a Didaquê dos apóstolos, nos diz que “reúna-se
no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o
sacrifício seja puro”.[9] Ou seja, o termo Dia do Senhor, já no primeiro século era considerado
um dia de culto a Deus.

Vimos até agora as razões da mudança do sábado para o domingo, o qual foi mudado pelo
próprio Senhor do sábado. É bem sabido que a ordenança de sua observância no Novo
Testamento não há uma descrição direta. Mas cremos, pela validade dos Dez
Mandamentos, que todos os mandamentos expressos em Êxodo 20 e Deuteronômio 5
estão válidos perpetuamente. Mas há uma passagem no Novo Testamento que nos
mostra a ordenança da observância do sábado cristão (o domingo), quando Jesus disse:
“O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado ” (Mc 2.27).
Alguns entendem que Jesus estava invalidando a observância do sábado cristão aqui pelo
o fato deles entenderem que o sábado não é nada se não fosse o homem. J.C. Ryle,
explica:

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Nessas palavras de Jesus, há uma fonte de profunda sabedoria. Merecem toda a nossa atenção,
tanto mais porque ficaram registradas exclusivamente no evangelho de marcos. Vejamos o
que elas contêm.

“O sábado foi estabelecido por causa do homem. ” Deus estabeleceu o dia de descanso em
favor de Adão, no paraíso; e renovou-o para Israel, no monte Sinai. O dia de descanso foi
estabelecido em favor de toda a humanidade, não somente para os israelitas, mas antes, para
toda a descendência de Adão. Foi estabelecido tendo em vista o benefício e a felicidade do
homem. Visava o bem de seu corpo, de sua mente e de sua alma. Foi dado ao homem como
uma benção e uma graça, não como um fardo. Assim foi sua instituição original.

Porém, o homem não foi criado “por causa do sábado”. A observância do dia do Senhor
nunca teve a finalidade de ser imposta como algo injurioso à saúde do homem; nunca foi
instituída para interferir nas necessidades humanas. O mandamento original: Lembra-te do dia
de sábado, para o santificar" (Ex 20:8), não tinha o intuito de ser interpretado como prejudicial
ao corpo do homem, ou como empecilho aos atos de misericórdia em favor do próximo. Esse
era o ponto crucial que os fariseus tinham esquecido ou sepultado debaixo de suas tradições.

Em tudo isso, nada existe que apoie a precipitada afirmação de alguns, que nosso Senhor
anulou o quarto mandamento. Pelo contrário, Jesus falou manifestadamente sobre o dia do
descanso como um privilégio e uma dádiva, e regulamentou a extensão de sua observância.
Cristo mostrou que obras necessárias e de misericórdias podem ser realizadas no dia do
Senhor; mas não proferiu uma única palavra que justificasse a noção de que os crentes não
precisam lembrar-se do dia de descanso, "do dia de sábado, para o santificar.

Sejamos zelosos em nossa própria conduta, quanto à observância do dia de descanso. Há bem
pouco perigo de que ele esteja sendo observado muito estritamente em nossos dias. Há um
perigo muito maior de que o dia do Senhor esteja sendo profanado e esquecido
completamente.[10]

Da mesma forma comenta Hendriksen:

O homem foi criado antes do sábado (Gn 1.26- 2.3). O sábado foi instituído para ser benção
para o homem: para mantê-lo saudável, útil, alegre e santo, dando-lhe condições de meditar
calmamente nas obras do seu Criador, podendo deleitar-se em Jeová (Is 58.13,14), e olhar
adiante, com grande expectativa, para o “repouso que resta para o povo de Deus” (Hb 4.9).
[11]

Portanto, vemos que observar o domingo não é algo penoso, mas para que reflitamos de
nossas obras, principalmente da obra que Deus fez em nossas vidas nos libertando. E, por
forma de gratidão e serviço, cultuando-o e adorando e prestando louvores. Isso foi
estabelecido desde a Antiga Aliança.
No entanto, o autor de Hebreus nos dá outra razão pela qual devemos observar este dia de
descanso enquanto estamos aqui. Ele diz: “Portanto, resta ainda um repouso [no grego
'descanso sabático'] para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele
próprio repousou de suas obras, como Deus das suas” (Hb 4.9,10). Essa é a razão pela qual
12/17
nós observamos o Quarto Mandamento, porque o descanso aqui é um emblema daquilo
que será na eternidade, um verdadeiro descanso de nossas obras e um descanso de louvor
a Deus.

3.3.2. A santa Ceia

Como forma de comunhão com os santos e com Cristo, o nosso Senhor instituiu a Santa
Ceia para que isso fosse expresso nos cultos como forma de adoração, onde todos são
beneficiados espiritualmente, nos alimentando e nos fazendo crescer. Todo e qualquer
crente sincero deve participar da Ceia do Senhor, pois ela foi estabelecida pelo próprio
Senhor (Mt 26.26-29) e confirmada por Paulo quando passa tal prescrição aos crentes de
Corinto (1Co 11.23-25). Sendo assim, vemos que a Ceia do Senhor fazia e tem que fazer
parte da vida da igreja, pois é uma atitude que deve ser contínua (1Co 11.24).

A Ceia do Senhor deve fazer com que nos lembremos do que Jesus fez por nós, obra essa
que nos fez ter união com Ele. A Ceia nos serve de recordação. Nela nos recordamos do
que Deus fez com Seu povo na saída do Egito, uma nova aliança (Êx 24.8); ela nos recorda
da promessa da nova aliança profetizada por intermédio do profeta (Jr 31.31,33); ela nos
recorda de que promessa foi cumprida com o “sangue da nova aliança ” (Mt 26.28). Sangue
este que foi derramado na cruz, pois “sem derramamento de sangue não há remissão de
pecados” (Hb 9.22). A Ceia faz com que nós nos lembremos do pacto que Deus fez
conosco, por sua grande misericórdia.

A Ceia do Senhor para a teologia reformada possui outros significados válidos, mas, em
tese, quero destacar o fato de que a Ceia é uma manifestação de nossa comunhão. Pois, a
Ceia do Senhor só pode ser celebrada por aqueles que foram redimidos e, por isso, fazem
parte do Corpo de Cristo, sendo nossos irmãos. Dito isso, quando os redimidos participam
da Ceia do Senhor, eles estão unidos na mesma fé, comendo do mesmo pão e bebendo do
mesmo vinho, os quais simbolizam o sacrifício de Cristo.

Logo, a comunhão dos santos também o é retratada na participação da Ceia do Senhor,


onde que, todos em um mesmo espírito, participam da mesa do nosso Senhor como uma
preparação daquilo que vai ser na vinda de Jesus (Mt 26.29).

4. Remissão de pecados

“Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniquidade, e que passa por cima da rebelião do
restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua
benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará as nossas iniquidades, e tu lançarás
todos os seus pecados nas profundezas do mar.” Mq 7.18,19 (cf. Is 43.25).

A resposta 56 do Catecismo de Heidelberg se volta para essa passagem e mostra a


grandeza do perdão de Deus:

13/17
Creio que Deus, por causa da expiação efetuada por Cristo, não mais se lembrará de meus
pecados ou de minha natureza corrompida contra a qual tenho de lutar durante a vida terrena,
mas que, graciosamente, me outorga a justiça de Cristo, para que jamais eu seja condenado.

De forma interessante, o Credo coloca o tema “remissão de pecados” no mesmo assunto


sobre o Espírito Santo. Seria válido se o Credo colocasse este tema no “Creio em Deus” ou
“Creio em Jesus Cristo”. Mas, de forma lógica, o Credo coloca o assunto sobre o perdão de
pecados após o Espírito Santo, pois somente o pecador, após ser regenerado, reconhece a
necessidade do perdão Divino. Pois, a ordem natural do pecador não regenerado é a
mesma de Adão, ou seja, se esconder. À luz de toda a Escritura, o perdão de Deus é
incomparável, e mesmo assim a sua santa justiça não é afetada em perdoar o pecador,
porque é em Cristo que nós somos perdoados. (Rm 3.21-26).
4.1. Coram Deo

Toda a humanidade está diante de Deus, e ficará no último dia. E é este o significado desta
palavra em latim: Diante de Deus.

Aqueles que não têm os seus pecados perdoados, jamais entenderão o que isso significa.
Pois, um não regenerado não poderá entender o tamanho do significado desta palavra.
Estar diante de Deus nos faz ter em mente duas coisas:

• Para um ímpio estar diante da face de Deus pode não ser nada, mas para o salvo pode ser
doloroso. Pois, sendo Deus onipresente, sabendo de tudo quanto fazemos e/ou pensamos,
deve nos encorajar a viver uma vida santa e piedosa, porque Deus está vendo cada passo que
eu dou e antes mesmo de fazer Deus já sabe. Ou seja, não tem como pegar Deus de surpresa
ou tentar ludibria-lo com desculpas esfarrapadas.

• Outro fato de entender o perdão de Deus e estar diante da face de Deus, tem de nos mover a
uma integridade vocacional. Porque cremos que Deus criou todas as coisas e os meios de
preservar e cultivar tais coisas, por exemplo, música, trabalho, arte, ciência e etc. Logo,
estando diante da face de Deus e perdoados de nossa condenação, tudo quanto venhamos a
fazer temos que fazer para Deus porque tais obras também são serviços para Deus,
primeiramente obedecendo e agradando a Ele. Pois, viver de forma que agrade a Deus nesta
integridade vocacional é tentar, com a ajuda do Espírito Santo, a viver e fazer aquilo que foi
ordenado a Adão.

O profeta Isaías esteve diante de Deus e entendeu: “ Ai de mim! Estou perdido! Porque sou
homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos
viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.5).
Viver Coram Deo é entender que, diante de um Deus santo, somos pecadores que
necessitam a cada dia da misericórdia de Deus.

Viver Coram Deo é viver como um redimido por Deus em Cristo Jesus, pois tal vida que
outrora era pecadora agora é regenerada pelo Santo Espírito. Portanto esta vida, agora não
mais escrava do pecado, é uma nova vida diante de Deus, a qual nos deve mostrar a cada
dia que, diante de Deus, não há disfarces e/ou mentiras. Mas essa vida Coram Deo envolve
14/17
santidade, arrependimento, integridade, obediência, temor do Senhor e humildade.

5. A ressurreição e a vida eterna

O Credo, como já tem mostrado, trabalha de forma lógica. Vimos acima que a “remissão de
pecados ou perdão” só é possível após o ato sobrenatural do Espírito Santo na vida deste
pecador. Assim o é na ressurreição, a qual também será obra do Espírito Santo (Rm 8.11).

Aquilo que, por intermédio da Queda de nossos primeiros pais, ficou deformado, na
ressurreição e na vida eterna serão aperfeiçoados. Ou seja, a nova criatura feita em Cristo,
enquanto nesta vida, sofre por causa das consequências do pecado, estando esse pecador
em um estado de aperfeiçoamento. Mas na ressurreição e na vida eterna essa vida será
perfeita onde “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor e nem dor ” (Ap 21.4).

5.1. A ética da ressurreição

“Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do
homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. E, como
ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te
ouviremos outra vez” (At 17.31-32).

A ressurreição final, em primeiro lugar, mostra que a ressurreição de Cristo foi real, como
argumentei acima e como o próprio Paulo diz, “se Cristo não ressuscitou é vã a nossa
fé” (1Co 15.14). Mas a ressurreição final tem o seu sentido moral ético, como o próprio
texto de Atos 17.31,32 nos mostra, de que, por meio de Cristo, Deus julgará o mundo.
No último dia Deus vai julgar a todos quantos não se arrependeram, julgando as suas
obras diante o tribunal (Rm 14.10). No último dia também, Deus sanará todas as nossas
imperfeições, fazendo com que este corpo corruptível se torne incorruptível. No ultimo dia
também Deus colocará um fim em todas as injustiças que aconteceu e todos os males,
essa é a promessa desde o Antigo Testamento (cf. Ml 2.17 – 3.1-6). Esse é o nosso Bem
Maior que sobrepõe o problema do mal, que um dia Deus porá um fim em toda a maldade,
tanto a nossas quanto as daqueles que vivem impiamente.

Mas a ética da ressurreição não diz respeito só à questão da nova vida no futuro, mas diz
respeito à nova vida aqui no presente:

“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi
ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade
de vida” (Rm 6.4).

Por causa da ressurreição de Cristo e da nossa ressurreição, Deus exige que vivamos não
mais como antes, mas como se já fôssemos ressuscitados como Cristo o fora, pois
quando nós formos ressuscitados, seremos como Cristo é (1Jo 3.2).

15/17
Sendo assim, quando nós pensamos ou falamos da nossa ressurreição futura, não
devemos nos esquecer de que, aqui neste mundo, devemos viver como se já fôssemos
ressuscitados, pois aquilo que será feito na eternidade é o que foi começado aqui, como
diz John Murray:

A perspectiva escatológica deverá sempre caracterizar nossa atitude para com as coisas
temporais e temporárias.[12]

6. Amém
Chegamos no final do Credo Apostólico, onde ele termina de forma afirmativa,
confirmando ser verdadeiro aquilo que fora dito antes. A palavra amém é usada de
diversas formas e nossos dias, mas a Bíblia mostra a forma de como devemos usá-la.

A palavra amém é uma palavra hebraica usada no Antigo Testamento e na adoração da


sinagoga.[13] O amém não é uma frase que conclui somente uma oração como um desejo
ardente, mas expressa uma aceitação de ordens e/ ou ameaças (Dt 27.17-26).

Amém não é uma pergunta, mas sempre é usada de forma afirmativa em todas as suas
circunstâncias. O amém enfatiza a declaração como importante para aquele que fala e se
identifica totalmente com ela. Sendo assim, segundo cada afirmação do Credo, nada mais
justo terminar essa confissão de forma afirmativa e crendo ser verdadeiro tudo aquilo que
o Credo disse.

Por isso, quando terminamos a nossa oração, uma leitura bíblica e/ou uma pregação com
um amém, nós estamos confirmando que isso é verdadeiro e estamos aceitando o que
fora dito. Sendo assim, terminamos este breve comentário com o amém, crendo serem
verdadeiros e confiáveis cada parte deste Credo. Amém!

______________
Notas:
[01] KUYPER, Abraham. A obra do Espírito Santo . 1.ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.
205
[02] O Credo dos apóstolos não trata sobre a unicidade da Igreja. Mas o termo “una” vem
no Credo Niceno-Constantinopolitano de 381 d.C.
[03] BULLINGER, Heinrich. Segunda Confissão de Helvética. 30 de Dezembro de 2014.
[04] TURRETINI, François. Compêndio de teologia apologética: volume 3 – São Paulo:
Cultura Cristã, 2011, p. 117.
[05] Em Tiago 2.2 o termo sinagoga é συναγωγὴν (sunagogén) e em Hebreus 10.25 o
termo congregação é ἐπισυναγωγὴν (episunagogé).
[06] BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. – 3ªed. Revisada_ São Paulo: Cultura Cristã,
2009, p. 418.
[07] HENDRIKSEN, William. Comentário do NT – Mateus Vol. 02 . São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2010, p.467.
[08] KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse . 2ºed. – São
Paulo: Cultura Cristã, 2014, p.128.
[09] A Didaquê dos apóstolos - http://www.monergismo.com/textos/credos/didaque.htm.
16/17
01 de Janeiro de 2015.
[10] RYLE, J.C. Meditações no Evangelho de Marcos. 1ªed. São José dos Campos – SP:
Editora Fiel, 2011, p.29
[11] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Marcos – 1ªed. – São Paulo:
Cultura Cristã, 2003, p 144
[12] Principles of Conducts, p. 72. Citado por George Ladd em: LADD, George. Escatologia e
ética. In: HENRY, Carl F. H. et al (org.). Dicionário da ética cristã. São Paulo: Cultura Cristã,
2007.
[13] Cf. PACKER, J.I. A oração do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. P. 107

***
Fonte: Bereianos
Leia também a primeira e segunda parte deste estudo:
• Creio em Deus Pai Todo Poderoso
• Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor

17/17
A criação
bereianos.blogspot.com/2015/08/a-criacao.html

“Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador dos céus e da terra. ”


Todos os cristãos creem e professam que Deus é o criador dos céus e da terra, mas além
de professar essa verdade, o que isso pode influenciar em nossa cosmovisão?

A frase em destaque é muito conhecida no meio cristão, é a primeira declaração


confessional sobre o cristianismo, e essa confissão começa declarando uma fé; Deus
Criador dos céus e da terra. Seria estranho falar de Cristianismo sem falar da redenção de
Jesus Cristo, mas pode ser mais estranho ainda falar sobre a redenção sem falar da
criação, a qual foi o palco da redenção onde Cristo, nosso Senhor, morreu. No entanto, as
partes que mostram o “Ele disse” (Gn 1.3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26, 29; 2.18)¹ é o ato soberano
de Deus em criar todas as coisas por intermédio de seu comando. Como um Soberano, Ele
dá as ordens e a criação obedece, pois a Sua palavra não volta vazia e faz aquilo que lhe
apraz (Is 55.10-11), é o que nos mostra o salmista:

“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua
boca. Ele ajunta as águas do mar como num montão; põe os abismos em depósitos. Tema
toda a terra ao Senhor; temam-no todos os moradores do mundo. Porque falou, e foi feito;
mandou, e logo apareceu” (Sl 33.6-9).

“Louvem o nome do Senhor, pois mandou, e logo foram criados. E os confirmou eternamente
para sempre, e lhes deu um decreto que não ultrapassarão” (Sl 148.5-6).

Não obstante, aquele por quem Deus cria todas as coisas (Cl 1.16) é o mesmo que fez com
que todas as coisas fossem criadas. Em João 1.1 nos mostra que Cristo estava no
princípio, que a Palavra estava com Deus e que a Palavra era Deus. Portanto, as ordens
soberanas de Deus na criação, as quais faziam com que todas as coisas viessem à
existência, era Cristo, por intermédio de Deus, criando todas as coisas, porque Cristo é a

1/2
Palavra de Deus. E Cristo mostra isso em seu ministério terreno proferindo palavra de
ordens como um soberano sobre a criação, acalmando as ondas do mar (Mc 4.35-41) e
para produzir cura (Lc 7.1-10).

E, assim, como Deus fez todas as coisas por intermédio de Sua palavra, e Cristo mostra a
sua autoridade por intermédio de sua palavra, é a Palavra de Deus que faz com que
tenhamos fé (Rm 10.17) e que a nossa alma seja refrigerada (Sl 19.7), além do mais, Paulo
compara a nossa salvação como o ato criador de Deus de chamar a luz das trevas (2Co
4.6; Gn 1.3).

Sendo assim, crer que Deus criou os céus e a terra não é só uma maneira de combater o
evolucionismo, mas mostrar em quê a nossa cosmovisão está baseada no ato soberano e
pactual de Deus e na revelação do Redentor desde o princípio.

_________
Nota:
[1] KAISER, Walter C. Jr. O plano da promessa de Deus: Teologia bíblica do Antigo e Novo
Testamentos. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2011, p. 35

***
Fonte: Bereianos
.

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Pecadores justos
bereianos.blogspot.com/2015/08/pecadores-justos.html

59. Mas que proveito tem sua fé no Evangelho?

R. O proveito é que sou justo perante Deus, em Cristo, e herdeiro da vida eterna (1).

(1) Hc 2:4; Jo 3:36; Rm 1:17.

60. Como você é justo perante Deus?

R. Somente por verdadeira fé em Jesus Cristo (1).

Mesmo que minha consciência me acuse de ter pecado gravemente contra todos os
mandamentos de Deus, e de não ter guardado nenhum deles, e de ser ainda inclinado a todo
mal (2) , todavia Deus me dá, sem nenhum mérito meu, por pura graça (3) , a perfeita
satisfação, a justiça e a santidade de Cristo (4). Deus me trata (5) como se eu nunca tivesse
cometido pecado algum ou jamais tivesse sido pecador; e, como se pessoalmente eu tivesse
cumprido toda a obediência que Cristo cumpriu por mim (6). Este benefício é meu somente se
eu o aceitar por fé, de todo o coração (7).

(1) Rm 3:21-26; Rm 5:1,2; Gl 2:16; Ef 2:8,9; Fp 3:9. (2) Rm 3:9; Rm 7:23. (3) Dt 9:6; Ez
36:22; Rm 3:24; Rm 7:23-25; Ef 2:8; Tt 3:5. (4) 1Jo 2:1,2. (5) Rm 4:4-8; 2Co 5:19. (6) 2Co
5:21. (7) Jo 3:18; Rm 3:22.

61. Por que você diz que é justo somente pela fé?

R. Eu o digo não porque sou agradável a Deus graças ao valor da minha fé, mas porque
somente a satisfação por Cristo e a justiça e santidade dEle me justificam perante Deus (1).
Somente pela fé posso aceitar e possuir esta justificação (2).

(1) 1Co 1:30; 1Co 2:2. (2) 1Jo 5:10.

• Catecismo de Heidelberg
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O 23º Dia do Senhor, diante das quatorze semanas que foram tratadas sobre cada ponto
do Credo Apostólico, agora nos leva a refletir e perguntar: que bem nos faz crer em tudo o
que foi visto?
A resposta que o Catecismo nos dá é essa: “O proveito é que sou justo perante Deus, em
Cristo, e herdeiro da vida eterna.”

A doutrina implícita que o 23º Dia do Senhor trata é a doutrina da justificação. Infelizmente
muitas pessoas não sabem tratar do assunto ou, quando tratam, abordam de forma
incorreta. A reforma protestante, com Lutero, teve seu ímpeto com a descoberta da
justificação pela fé somente. Sendo assim, o Catecismo, de forma didática, nos ensina
algumas coisas.

Há cinco conceitos importantes na compreensão desta doutrina implícita no 23º Dia.

Primeiro, que deste lado do céu nós seremos, como disse Lutero, simultaneamente justo e
pecador. O Catecismo nos mostra que mesmo estando de bem com Deus, nós,
diariamente, transgredimos os Seus mandamentos. No entanto, Deus não absolve as
nossas culpas por causa de nossas obras, mas porque confiamos “naquele que justifica o
ímpio” (Rm 4.5).

Segundo, a nossa postura diante de Deus não está baseada em nossa justiça, mas em
uma justiça alheia. Ou seja, a nossa justificação não é por nossas justiças, mas por uma
justiça que não é nossa, como mostra a Confissão de Fé de Westminster :

Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feitos, mas
somente em consideração da obra de Cristo (XI.I)

E é nessa mesma voz que August Toplady diz poeticamente:


Nada trago em minhas mãos,
Apenas me agarro à tua cruz;
Nu, venho a ti para me vestir,
Dependente, busco graça em ti;
À tua fonte vou correr.
Lava-me, Senhor, ou vou morrer!
Rocha Eterna, partida por mim,
Deixa-me esconder em ti.

Terceiro, se nada trago em minhas mãos, conforme disse o poeta, devemos entender que a
nossa justificação não é baseada em nossa santificação, até porque, como dito
anteriormente, nós pecamos todos os dias. No entanto, Cristo imputou em nós a sua
justiça, nos livrando da condenação eterna, mas não dos castigos por causa de nossos
pecados atuais.

Quarto, se não é a nossa bondade ou santidade que nos faz justificados por Cristo, o que é
então? A nossa fé, a qual é dada por Deus (Ef. 2.8). Por isso nós falamos que somos
justificados pela fé somente. O catolicismo romano crê que somos justificados pela fé,
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porém não crê que somente a fé pode nos justificar, mas também às práticas de boas
obras que, segundo eles, fazem com que sejamos justificados. É verdade que a fé
justificadora deve ser mostrada pelas obras, no entanto, ela não é a base de nossa
justificação, mas a demonstração da mesma.

E, finalmente, depois do exposto sobre fé para ser justificado, o Catecismo vai nos mostrar,
como um banho de água fria, que a nossa fé não tem valor se não entendermos o que é a
santificação, a justiça e a santidade d'Ele que nos justifica diante de Deus. Ou seja, a obra
perfeita de Cristo é o objeto da nossa justificação e a nossa fé é o instrumento para que
sejamos justificados. Portanto, devemos crer com todo coração em Jesus Cristo, mas
nunca colocar a fé na nossa fé. Devemos descansar em Cristo, não em nossa fé. Somente
Ele é quem morreu por nós e ressuscitou em nosso lugar para a nossa justificação. Creia
nisso, não em você e nem em suas obras.

***
Autor: Denis Monteiro
Fonte: Bereianos
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