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Composição do colostro e práticas de

manejo de bezerras em aleitamento


POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR
E GLAUBER DOS SANTOS
CARLA BITTAR
EM 31/07/2013

Sabe-se que o manejo e a alimentação de colostro de alta qualidade podem reduzir a mortalidade e
aumentar a imunidade de bezerras leiteiras. Sabe-se também que o atraso no fornecimento de colostro
aos recém-nascidos reduz a transferência de imunidade e retarda o fornecimento de nutrientes
essenciais aos bezerros. Porém, pouco se sabe como é esse manejo e muito menos a qualidade do
colostro em rebanhos brasileiro.

Além de transferir imunidade, o colostro é uma excelente fonte de nutrientes necessários aos bovinos
neonatos, particularmente aqueles que são minimamente transferidos via placenta, como as vitaminas
lipossolúveis. Os bezerros também necessitam de energia e proteína para se manter durante os
primeiros dias de vida, assim como fatores de crescimento e outros nutrientes que são concentrados na
primeira secreção láctea da matriz recém-parida. Alguns trabalhos tem mostrado a importância destes
fatores de crescimento na vida produtiva do animal.

No entanto, a maioria das pesquisas com colostro tem focado apenas na concentração de
imunoglobulinas G (IgG), ignorando outras IgGs, a composição em nutrientes, além dos fatores de
crescimento. Embora a transferência de IgG seja o fator mais importante para a saúde e sobrevivência
do bezerro, é possível que o foco exclusivo na IgG tenha ofuscado o valor de outros componentes do
colostro. Além disso, são limitados os trabalhos que tem examinado a relação entre os valores nutritivos
do colostro e práticas de manejo. A elucidação das concentrações normais desses componentes e a
avaliação do impacto das praticas de manejo pode fornecer alternativas para a melhoria na saúde de
bezerras leiteiras.

Na tentativa de conhecer um pouco mais sobre essas interações, um grupo de pesquisadores de


Wisconsin (Kehoe et al., 2007), realizaram um levantamento das principais práticas de manejo e
avaliaram a qualidade nutricional do colostro em fazendas leiteira da Pensilvânia. Os pesquisadores
desenvolveram um questionário contendo questões sobre o manejo do colostro, o qual incluía
procedimentos de ordenha, armazenamento de colostro e protocolo de tratamento. Além disso, questões
referentes ao tempo para a primeira alimentação após o parto, volume ingerido de colostro e método de
alimentação. Um total de 55 fazendas foram pesquisadas e amostras de colostro foram coletadas para
determinação da composição.

O conteúdo médio de gordura das amostras de colostro foi 6,7 ± 4,2% (Tabela 1) e teve baixa correlação
com os níveis dietético de gordura na alimentação de vacas gestantes. A proteína apresentou um teor
médio de 14,9 %, valor este bem semelhante as revisões apresentadas; da mesma forma que o teor de
gordura, o conteúdo proteico foi pouco in uenciado pela nutrição da gestante. A concentração de
lactose é reduzida no colostro e ao contrário dos outros nutrientes, aumenta com as ordenhas. Este fato
coincide com a siologia do bezerro neonato, uma vez que a lactase é encontrada em baixa
concentração ao nascimento e aumenta ao longo do tempo.

A concentração de IgG foi de 34,9 ± 12,2 mg/mL (Tabela 1), sendo a IgG1 responsável por 85% deste
valor. Pesquisas anteriores mostraram que a disponibilidade de nutriente para vacas no pré-parto não
tem afetado signi cativamente o conteúdo de IgG no colostro. Um grande número de outros fatores
foram os responsáveis pelo conteúdo de IgG no colostro, como: o volume de colostro produzido, número
de partos, raça, duração do período seco, vacinação, entre outros.
Tabela 1 – Composição de amostras de colostro coletados de vacas na Pensilvânia

 A lactoferrina é uma glicoproteína que se liga ao ferro e tem se mostrado como importante agente na
redução da mortalidade e na melhora do crescimento de bezerros neonatos. No presente estudo, a
média de lactoferrina foi de 0,82% ± 0.54 mg/mL. As vitaminas lipossolúveis são importantes
componentes do colostro, embora o tocoferol passe através da membrana fetal e seja armazenado no
feto, os neonatos ainda nascem com baixo nível de tocoferol.

Com relação ao manejo, o questionário envolvia questões relacionadas desde a vaca seca incluindo
vacinação, instalações, suplementos vitamínicos entre outros, até a colostragem dos recém-nascidos
(Tabela 2). A palha foi o material predominante como cama nas baias de maternidade, provavelmente
devido ao custo e disponiblidade deste material naquela região. Todas as fazendas avaliadas vacinavam
as vacas secas; dessas, 29% usavam vacinas para Escherichia Coli e Diarreia Bovina Viral. Quando
aplicadas no momento correto, essas vacinas aumentam a transferência de IgG para a doença
especí ca e aumenta a proteção dos bezerros através da transferência passiva.

Tabela 2 – Respostas do questionário relacionado ao menjo de vaca seca e novilhas antes do parto, em
função do tamanho do rebanho (pequeno <100 vacas; médio 101 a 200 vacas; grande >200 vacas), em %
A quantidade e o tempo para que o colostro seja oferecido para as bezerras também foi pesquisado
(Tabela 3). Os bezerros foram alimentados por mamadeira em 87% das fazendas e somente uma
fazenda permitiu que o bezerro mamasse diretamente da mãe. Estes dados mostram uma evolução,
quando comparado levantamentos anteriores que reportaram 22% dos bezerros mamando na própria
mãe. Os bezerros precisam receber colostro o mais rápido possível para que a transferência de
imunidade passiva seja adequada e a maioria das fazendas forneceu colostro aos bezerros dentro de 4
horas após o parto. Os bezerros receberam colostro em um tempo médio de 2,7 horas depois do parto,
sendo que 43,6% das fazendas alimentaram os bezerros com colostro dentro de 2 horas depois do parto
e em 51% das fazendas este tempo foi de 2 a 6 horas.

Tabela 3 – Respostas do questionário relacionado a alimentação de colostro pelos recém-nascidos, em


função do tamanho do rebanho (pequeno <100 vacas; médio 101 a 200 vacas; grande >200 vacas), em %
Com relação ao volume de colostro consumido, este variou de 2 a 4 litros de colostro de primeira
ordenha para 57% das fazendas entrevistas e foi de 1,89 litros em 37% das fazendas. Além disso, apenas
74% das fazendas alimentavam os bezerros com colostro de segunda ordenha. O uso de banco de
colostro foi da ordem de 38% (Tabela 3), valor superior a levantamentos anteriores (22%). A
manipulação, armazenamento e ordenha do colostro também foram investigados na pesquisa e os
resultados são apresentados na Tabela 4. O uso de colostro congelado aumentou de 22% para 38%,
indicando um aumento da conscientização do fornecimento do colostro na hora oportuna.

Tabela 4 –Respostas do questionário relacionado ao manejo e armazenamento de colostro, em função


do tamanho do rebanho (pequeno <100 vacas; médio 101 a 200 vacas; grande >200 vacas), em %
Foi realizada uma correlação entre os dados do questionário e a composição nutricional do colostro,
entretanto, poucas foram as correlações signi cativas. Fazendas com média de CCS <200.000, no mês
anterior a coleta do colostro, apresentaram colostro com maior quantidade de tocoferol, vitamina A,
potássio e IgG2 quando comparado a fazendas com CCS >200.000.

O tamanho da fazenda, bem como o manejo adotado pela mesma, pode re etir na qualidade do colostro,
por exemplo, fazendas menores suplementam menos as vacas seca com premix mineral-vitamínico. O
colostrômetro foi usado em 43% das grandes fazendas e 10 e 12% nas fazendas médias e pequenas,
respectivamente. Em 11% das grandes fazendas o pasteurizador é utilizado, o que não ocorre em
nenhuma fazenda com menos de 200 vacas. Isso pode ser devido a disponibilidade de recursos e do
volume de leite pasteurizado. Fazendas que utilizam o pasteurizador também adotam o colostrômetro,
armazenam mais colostro e não permitem que os bezerros mamem direto na mãe.

Nas fazendas pequenas, 59% não armazenam colostro enquanto este valor é de 21% nas fazendas
grande. Provavelmente, por apresentarem uma quantidade menor de bezerros e esses tenderem a
mamar o colostro diretamente da mãe. Tal fato, pode predispor o recém-nascido a falhas na
transferência de imunidade passiva, aumentando taxas de mortalidade.

Fazendas grandes tendem a ordenhar a vaca logo após o parto mais rápido do que fazendas médias e
pequenas. Nenhuma fazenda grande ordenhou a vaca dentro de 1 a 2 horas após o parto, comparado
com 10% das fazendas com menos de 200 vacas. Em 68% das fazendas grandes as vacas foram
ordenhadas dentro de 2 a 6 horas após o parto, comparado com 60 e 35 % das fazendas médias e
pequenas. Entretanto, 67% das fazendas grandes reportaram que o intervalo entre o parto e a ordenha é
o mesmo durante o dia ou a noite. Em contraste, 40 e 35% das fazendas médias e pequenas apresentam
um intervalo maior quando o parto acontece durante a noite.

Os resultados de amostra de colostro e manejo em fazendas com diferentes tamanho mostraram que
fazendas menores foram manejadas diferentemente de fazendas maiores. Essas diferenças incluem
disponibilidade de funcionários, recursos nanceiros e alimentação, o que resultou em diferenças
signi cativas no manejo e composição do colostro. Com base em dados de pesquisas anteriores, pode-
se constar que houve melhorias no manejo e alimentação de colostro, uma vez que produtores
aumentaram o volume de colostro fornecido de 2,7 para 3,5 kg e reduziram o tempo no qual os bezerros
recebem este colostro de 2,6 para 2,4 horas. Além disso, a quantidade de fazendas que armazenam
colostro e de fazendas que separam o bezerro da mãe e fornecem o colostro manualmente foi superior.

Diferenças foram encontradas no manejo e na concentração de nutrientes entre fazendas pequenas e


grandes. Fazendas maiores apresentaram um tempo mais longo em ordenhar as vacas recém-paridas
após o parto, maior CCS e menor conteúdo de nutrientes no colostro comparado com fazendas
menores. Entretanto, uma quantidade maior de fazendas grande armazenam colostro, fornecem
suplemento mineral-vitamínico e usam o colostrômetro, comparado com fazendas menores, entretanto,
ainda há espaço para melhorias.

Referência
Kehoe, S. I.; Jayarao,B. M.; Heinrichs, A. J.A Survey of Bovine Colostrum Composition and Colostrum
ManagementPractices on Pennsylvania Dairy Farms.J. Dairy Sci. 90:4108–4116

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CARLA MARIS MACHADO BITTAR


Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

GLAUBER DOS SANTOS

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