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O duplo na literatura e no cinema

XI Salão de
Iniciação Científica
PUCRS

Luara Pinto Minuzzi, Cristina Couto Delprete, Emiliano Fischer Cunha, Paloma Esteves Laitano,
Noelci Fagundes da Rocha – Sissa Jacoby (orientador), Carlos Gerbase (co-orientador)

Faculdade de Letras, PUCRS, FALE/FAMECOS

Resumo

Estudo da representação da duplicidade do EU, na produção literária e fílmica


compreendidas entre o período de 1980 a 2010, sob uma perspectiva de atualização teórica, na
esteira do estudo desenvolvido por Otto Rank, em O duplo (Der Dopellgänger, 1914), e de
constituição de um corpus representativo a ser descrito nas duas modalidades narrativas.
A pesquisa procura identificar novas representações do duplo na literatura e no cinema
nas três últimas décadas, uma vez que as pesquisas a respeito dessa temática costumam fazer
referências a obras anteriores a esse período. A análise de um corpus literário e um corpus
fílmico, a serem definidos mediante levantamento e seleção prévios, será realizada, também,
com o objetivo de identificar elementos para uma nova tipologia do duplo com base nas
categorias já existentes.

Introdução
A questão da dualidade do sujeito associada a processos de mimese literária é uma
recorrência na literatura universal, constituindo a temática do duplo, cujas origens remetem a
um passado remoto de crenças e histórias populares. A recorrência do tema na literatura
contribuiu para que ele fosse utilizado pelo cinema desde suas primeiras produções no início
do século XX, como pode ser observado através dos estudos de Otto Rank (1914), em seu
livro O duplo, cujo ponto de partida foi a produção cinematográfica O estudante de praga.
Teóricos como Yves Pelicier, Juan Bargalló, Michel Guiomar, seguiram os estudos de
Rank e estabeleceram algumas tipologias do duplo a partir de exemplos literários clássicos.
Atualizar o estudo do duplo, tendo em vista a recorrência do tema na literatura e no cinema

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contemporâneos, especialmente nas últimas três décadas, está na origem da proposta desta
pesquisa.

Metodologia

O projeto está sendo desenvolvido em duas etapas: a primeira constituiu-se na


pesquisa de textos e filmes, que tenham o duplo como tema, e na descrição dos títulos
encontrados nas duas modalidades. A segunda fase (atual) está se desenvolvendo a partir das
revisões teóricas acerca da utilização da temática do duplo na literatura e no cinema, e das
análises dos modos de representação do tema nas duas manifestações artísticas
contemporâneas.
A coleta de dados é realizada em acervos de bibliotecas, vídeolocadoras e na internet.
Paralelamente à coleta, é elaborada uma breve síntese do texto ou filme, juntamente com os
dados técnicos (no caso de textos ficcionais os dados bibliográficos; no caso de filmes, a
indicação de ano e local de produção, tipo de mídia, diretor e a referência do texto no qual foi
baseado, se for o caso). Semanalmente a equipe do projeto se reúne para apresentação de
resultados e discussão da bibliografia estudada.

Resultados
• Apresentação do Projeto na IX Semana de Letras;
• Discussões teóricas;
• Levantamento dos textos literários e fílmicos;
• Pré-seleção do corpus de textos literários;
• Pré-seleção do corpus de textos fílmicos;
• Análise dos textos literários;
• Análise das narrativas fílmicas.

Conclusão

O levantamento dos textos literários e fílmicos mostrou que a temática do duplo


continua sendo amplamente utilizada nessas duas expressões artísticas.
Porém, a forma como essa questão vem sendo trabalhada ficcionalmente no período
pós 80 está mudando. Muitas das representações dessa duplicidade do EU, encontradas nesses

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materiais, não se aproximam das tipologias previamente estabelecidas. Esse novo modo de
representação do duplo foi constatado a partir das discussões acerca de algumas obras, nos
textos literários, por exemplo, o romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum, o livro de contos
do escritor mexicano Carlos Fuentes, intitulado Inquieta companhia, ou ainda o romance
Paris não tem fim, de Enrique Vila-Matas; no que diz respeito às narrativas fílmicas, foram
analisadas as diferentes adaptações da novela O estranho caso de Dr.Jekyll e Mr.Hyde de
Robert Louis Stevenson, como por exemplo, “À beira da loucura” (1989), produção
inglesa dirigida por Gerard Kikoine; “O segredo de Mary Reilly” (1996), filme americano
dirigido por Stephen Frears e adaptado do romance Mary Reilly, de Valerie Martin,
“Dr.Jekyll e Mr.Hyde – o médico e o monstro”, produção canadense lançada em 2008 e
dirigida por Paolo Barzman.

Referências

1. Leituras teóricas
BARGALLÓ, Juan. (Org.) Identidad y alteridad: aproximación al tema del doble. Sevilla:
Alfar, 1994.
BRAVO, N. Duplo. In: BRUNEL, Pierre (Org.) Dicionário de mitos literários. Rio de
Janeiro: UnB, 1998
CASETTI, Francesco e DI CHIO, Federico. Como analizar un film. Buenos Aires,
Editorial Paidós, 1990.
FREUS, Sigmund. O Estranho. Edição Standard das obras completas de Sigmund Freud. V.
XVII. Rio de Janeiro, Imago. 1996. p. 233 a 270.
GUIOMAR, Michel. Principes d'une esthétique de la mort. Paris: Corti, 1967.
LEMAS, Berenice Sica. O duplo em Lygia Fagundes Telles: um estudo em literatura e
psicologia. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo, Brasiliense, 2003.
MELLO, Ana Maria Lisboa de. As faces do duplo na literatura. In: INDURSKY, Freda &
CAMPOS, Maria do Carmo. (Org.) Discurso, memória, identidade. Porto Alegre: Sagra
Luzzato, 2000. p. 111- 123
PÉLICIER, Y. La problématique du double. In: TROUBETZKOY, W. (Org.) La figure du
double. Paris: Didier, 1995.
RANK, Otto. O duplo. Rio de Janeiro: Cooperativa, 1939.

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ROSSET, Clement. O real e seu duplo: ensaio sobre a ilusão. Porto Alegre: LP&M, 1998.
WARD, Peter. Picture composition for film and television. Burlington, Focal Press, 2003.

2. Leituras literárias
2.1 Contos
BARKER, Clive. Restos humanos. In: Livros de sangue III. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1992.
FIGUEIREDO. Rubens. Nos olhos do intruso. In: MORICONI, Ítalo (Org.). Os cem melhores
contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
FUENTES, Carlos. O amante do teatro. In: FUENTES, Carlos. Inquieta companhia. Rio de
Janeiro: Rocco, 2007.
FUENTES, Carlos. A boa companhia. In: FUENTES, Carlos. Inquieta companhia. Rio de
Janeiro: Rocco, 2007.
FUENTES, Carlos. A Bela Adormecida. In: FUENTES, Carlos. Inquieta companhia. Rio de
Janeiro: Rocco, 2007.
FUENTES, Carlos. Vlad. In: FUENTES, Carlos. Inquieta companhia. Rio de Janeiro: Rocco,
2003.
TELLES, Lygia Fagundes. O Anão de jardim. In: TELLES, Lygia Fagundes. A noite escura e
mais eu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

2.2 Romances
AUSTER, Paul. A trilogia de Nova York. São Paulo: Cia. das Letras, 1999.
BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.
HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
VILA-MATAS, Enrique. Paris não tem fim. São Paulo: Cosac Nayfy, 2007.
SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
SCLIAR, Moacyr. O centauro no jardim. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

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