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Súmula 576-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
Aposentadoria por invalidez concedida pela via judicial sem que o segurado tenha feito prévio
requerimento administrativo deverá retroagir à data da citação do INSS

Súmula 576-STJ: Ausente requerimento administrativo no INSS, o termo inicial para a implantação
da aposentadoria por invalidez concedida judicialmente será a data da citação válida.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/06/2016, DJe 27/06/2016.

SITUAÇÃO 1: COM PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO


Em 04/04, Lázaro foi até uma agência do INSS e requereu a sua aposentadoria por invalidez, tendo sido o
pedido, contudo, administrativamente negado.
Diante disso, em 07/07, ele ajuizou uma ação contra a autarquia pedindo a concessão do benefício.
Em 10/10, o magistrado julgou procedente o pleito.
Vale ressaltar que, antes, Lázaro não estava recebendo auxílio-doença.

A aposentadoria deverá ser concedida desde que data? Qual é a data inicial do benefício (DIB)?
A aposentadoria deverá ser concedida de forma retroativa à data do requerimento administrativo (no
caso, 04/04). Esta é a DIB.
Para o STJ, “o termo inicial da concessão do benefício previdenciário de aposentadoria por invalidez é a
prévia postulação administrativa ou o dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença.” (AgRg no REsp
1418604/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11/02/2014).

SITUAÇÃO 2: SEM PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO


Em 04/04, Rodolfo ajuizou uma ação contra o INSS pedindo sua aposentadoria por invalidez.
Em 05/05, o INSS foi citado.
Em 06/06, o autor foi submetido à perícia médica judicial.
Em 07/07, o laudo pericial foi juntado aos autos e o INSS foi intimado, atestando que o autor apresenta
invalidez total e permanente para o trabalho.
Em 08/08, o magistrado julga o pedido procedente e determina a concessão da aposentadoria por invalidez.
Vale ressaltar que o autor não chegou a formular requerimento administrativo ao INSS pedindo a
aposentadoria. Em outras palavras, ele ingressou diretamente com a ação judicial.

A aposentadoria deverá ser concedida desde que data? Qual é a data inicial do benefício (DIB)?
A aposentadoria deverá ser concedida de forma retroativa à data da citação (no caso, 05/05). Esta é a DIB.
Segundo o STJ, a citação válida informa a parte ré sobre a existência do litígio, constitui em mora o INSS e
deve ser considerada como termo inicial para a implantação da aposentadoria por invalidez concedida na
via judicial quando ausente a prévia postulação administrativa.

Tese da Procuradoria Federal


A Procuradoria Federal, em geral, defendia o argumento de que a DIB deveria ser a data em que o INSS foi
intimado do laudo pericial. Para os Procuradores, foi nesse dia que o INSS passou a estar em mora.
Essa tese, contudo, não foi acolhida.

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Laudo pericial apenas declara algo que já existia
Para o STJ, não há como adotar, como termo inicial do benefício, a data da ciência do laudo do perito
judicial que constata a incapacidade, haja vista que esse documento constitui simples prova produzida em
juízo, que apenas declara situação fática preexistente.
Dito de outra forma, o laudo pericial não tem força constitutiva, mas sim declaratória. A incapacidade do
segurado já existia antes do laudo ser juntado, de forma que não se pode limitar a essa data o início do
benefício. O direito à aposentadoria já existia antes do INSS ser intimado do laudo.

Recurso repetitivo
Importante destacar que o STJ decidiu esse tema sob a sistemática do recurso repetitivo, tendo sido firmada a
seguinte regra de jurisprudência, que será aplicada para os demais casos semelhantes (art. 543-C do CPC):
“A citação válida informa o litígio, constitui em mora a autarquia previdenciária federal e deve ser
considerada como termo inicial para a implantação da aposentadoria por invalidez concedida na via
judicial quando ausente a prévia postulação administrativa”.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.369.165-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/2/2014 (Info 536).

Este entendimento foi agora materializado na Súmula 576 do STJ.

EXIGÊNCIA DO PRÉVIO REQUERIMENTO


Decisão do STF fixando a obrigatoriedade do prévio requerimento
Para fins de concurso, saber o entendimento da súmula 576 irá resolver a maioria das questões. No entanto,
é importante fazer um esclarecimento adicional e uma observação crítica a respeito do referido enunciado.

Segundo decidiu o STF, em regra, o segurado/dependente somente pode propor ação pleiteando a
concessão do benefício previdenciário se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao
INSS e este foi negado. Caso seja ajuizada a ação sem que tenha havido prévio requerimento
administrativo e sem que este pedido tenha sido indeferido, deverá o juiz extinguir o processo sem
resolução do mérito por ausência de interesse de agir, considerando que havia a possibilidade de o pedido
ter sido atendido pelo INSS na via administrativa.
Este tema foi polêmico até 2014, mas restou pacificado no RE 631240/MG, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 27/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

O próprio STJ já aderiu a este entendimento: STJ. 1ª Seção. REsp 1.369.834-SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 24/9/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

Logo, desde 2014, não há mais dúvidas de que é obrigatório o prévio requerimento administrativo, não
podendo, em regra, o segurado propor diretamente a ação judicial. Obs: se quiser recordar o tema,
inclusive as exceções, consulte o Info 756-STF ou o Info 553-STJ.

Como conciliar a Súmula 576 do STJ com a decisão do STF que impõe o prévio requerimento
administrativo (RE 631240/MG)?
Se formos analisar os precedentes que deram origem à Súmula 576-STJ, iremos perceber que eles envolvem
processos judiciais iniciados antes da decisão do STF no RE 631240/MG, ou seja, na época em que a
jurisprudência majoritária não exigia o prévio requerimento administrativo para que o segurado pudesse
ingressar com a ação. Portanto, os debates que envolveram a Súmula 576-STJ ocorreram em processos
surgidos em dado momento histórico em que o segurado ainda podia escolher se primeiro iria tentar
requerer o benefício na via administrativa ou se já queria propor diretamente a ação judicial pleiteando a
aposentadoria por invalidez. Assim, a Súmula 576-STJ surgiu principalmente para dirimir estes processos.

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Situações em que incide a Súmula 576-STJ
Desse modo, o que podemos concluir é que a Súmula 576 do STJ se aplica em duas situações:
1ª) Para os processos antigos, isto é, anteriores à decisão do STF no RE 631240/MG e que tramitam na
Justiça mesmo sem que tenha havido prévio requerimento administrativo;
2ª) Para os casos excepcionais reconhecidos pela jurisprudência em que o prévio requerimento
administrativo é dispensado. Ex1: quando o entendimento do INSS é notória e reiteradamente contrário
ao pedido do segurado. Ex2: quando o autor comprova que o INSS se recusou a receber o requerimento
administrativo apresentado. Ex3: quando na localidade onde o segurado mora não existe agência do INSS.

Percebe-se, portanto, que os casos em que a Súmula 576-STJ irá ser aplicada são muito restritos, o que nos
faz refletir se havia realmente necessidade de se editar um enunciado para tratar sobre o tema.

REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ É FEITO COMO "AUXÍLIO-DOENÇA"


Vale, por fim, esclarecer mais uma aspecto de ordem prática.
O INSS possui um sistema de agendamento para solicitação de benefícios previdenciários.
Assim, a pessoa que deseja pedir um benefício previdenciário deverá, antes de ir até a agência do INSS,
agendar o seu atendimento pelo telefone 135 ou pela internet, no site da Previdência
(www.previdencia.gov.br). Ao ligar ou acessar o site, o indivíduo já informa o benefício previdenciário que
deseja e receberá, então, um protoloco com a data e o horário no qual será atendido.
Pois bem.
O sistema de agendamento do INSS para solicitação de benefícios previdenciários não possui requerimento
específico para aposentadoria por invalidez. Em outras palavras, ao ligar ou acessar o site do INSS, o
segurado não terá a aposentadoria por invalidez como uma das opções de agendamento. Neste caso, ele
terá que agendar o pedido de auxílio-doença (porque este campo existe no sistema). Ao ser examinado pelo
médico-perito do INSS, se este constatar que a invalidez do segurado é total e permanente, a autarquia
concede a aposentadoria por invalidez. Esta explicação consta no próprio site oficial do INSS:
"A Aposentadoria por invalidez é um benefício devido ao trabalhador permanentemente incapaz
de exercer qualquer atividade laborativa e que também não possa ser reabilitado em outra
profissão, de acordo com a avaliação da perícia médica do INSS. O benefício é pago enquanto
persistir a incapacidade e pode ser reavaliado pelo INSS a cada dois anos.
Inicialmente o cidadão deve requerer um auxílio-doença, que possui os mesmos requisitos da
aposentadoria por invalidez. Caso a perícia-médica constate incapacidade permanente para o
trabalho, sem possibilidade de reabilitação em outra função, a aposentadoria por invalidez será
indicada." (http://www.previdencia.gov.br/servicos-ao-cidadao/todos-os-servicos/aposentadoria-
por-invalidez/)

Em virtude dessa peculiaridade do sistema, alguns advogados e autores defendem que não existe
requerimento administrativo de aposentadoria por invalidez no INSS e que, portanto, a parte poderia
ajuizar diretamente a ação previdenciária pleiteando este benefício. Esta posição, contudo, não é aceita
pela doutrina e jurisprudência majoritárias.
O segurado, caso entenda que possui uma invalidez total e permanente, deverá requerer o auxílio-doença
e, se a perícia constatar que realmente ele apresenta esta enfermidade, o INSS é obrigado a conceder a
aposentadoria por invalidez.
Logo, esta "peculiaridade" do sistema de agendamento do INSS não dispensa que seja feito requerimento
administrativo e não permite que a parte ajuíze diretamente ação pleiteando aposentadoria por invalidez.

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