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Pena de morte: atentado contra o direito à vida

Trata da ineficácia da pena de morte e da sua violação ao direito fundamental à vida.


30/jan/2007
Francisco das C. Lima Filho
francisco.fil@dourados.br
Veja o perfil deste autor no DireitoNet
A execução do ex-ditador Saddam Hussein nessa madrugada em Bagdá – Iraque, após
pouco mais de cinqüenta dias de sua condenação, trouxe à tona a discussão sobre a
eficácia e justiça desse tipo de punição.
A grande maioria dos países democráticos condena a pena de morte, inclusive o Brasil,
cuja Constituição é expressa ao vedar essa modalidade de punição, salvo em caso de
guerra declarada, embora aqui e acolá se encontrem alguns defendendo esse tipo de
pena, especialmente sob o argumento de que ela seria uma forma de combater ou pelo
menos diminuir a violência que a cada dia aumenta mais entre nós.
De minha parte concordo com aqueles que como Dalmo Abreu Dalari afirmam que “a
pena de morte é um assassinato oficial, que desmoraliza os países que o pratica, sem
trazer qualquer benefício para o povo”, pois além de não evitar o crime foge do seu
principal objetivo, qual seja, o punir ressocializando o criminoso para ser devolvido à
sociedade. Ademais, esse tipo de pena atenta contra o direito fundamental à vida
violando os princípios norteadores do respeito aos direitos humanos proclamados nas
mais diversas Declarações Internacionais e em Tratados Internacionais de Direitos
Humanos.
A pena de morte é algo inútil, pois sequer tem o condão de diminuir o número de crimes
inclusive sem permitir com que o apenado possa meditar sobre os malefícios de seus
atos e talvez por isso mesmo não previna contra novos delitos.
Em dezembro de 1989, o Parlamento Inglês rejeitou proposta de restauração da pena de
morte e o principal argumento para a rejeição era de que embora esse tipo de pena já
tenha existido na Inglaterra, foi abolida porque se chegou à conclusão de que ela tinha
muitos inconvenientes e não exercia qualquer influência sobre a quantidade de crimes.
Argumentou-se naquela época que nos Estados Unidos, onde a pena de morte existe que
o índice de criminalidade é um dos mais altos do mundo. De acordo com um relatório
divulgado em março de 1991 pelo Senado dos Estados Unidos, o número de
assassinatos praticados naquele país em 1990 subiu a 23.200 vítimas, contra 21.500 em
1989. E isso apesar de existir e estar sendo executada naquele País a pena de morte, o
que reafirma a inutilidade desse tipo de pena que, repita-se, além de sequer diminuir o
número de crimes, não os evita e mais grave de tudo, impede que o criminoso reflita
sobre as conseqüências de seus atos.
Ademais, a vida é o maior bem da humanidade e ninguém tem o direito de eliminá-la,
nem mesmo o Estado por mais grave que possa ser a conduta do criminoso. Se não
houver respeito à vida humana, se não houver o reconhecimento de que a vida o bem
mais precioso do homem, todos os demais direitos humanos serão violados e ninguém
terá segurança.
É preciso combater com vigor o crime. Todavia, seus autores têm direito através de um
devido e justo processo serem julgados por um tribunal independente e imparcial e em
caso de condenação, devem pagar pelos seus delitos submetendo-se às penas
compatíveis com a gravidade de seus atos de modo a fazê-los meditar sobre o mau
causado com a reparação dos danos sofridos por suas vítimas. Entretanto, e ao mesmo
tempo, devem ser reeducados para através de um processo de ressocialização serem
posteriormente devolvidos ao convívio social. É este o sentido teleológico e humanitário
da pena, o que a punição com a morte não tem. A pena de morte não passa de uma
inadmissível vingança na velha e desumana forma do “olho por olho, dente por dente”,
de há muito ultrapassada especialmente nos países democráticos.
Como acertadamente assinalou Albert Camus, a execução da pena de morte “é um
assassinato premeditado”, na medida em que é quem Estado quem programa o
assassinato, marca dia e hora, contrata o assassino e usa de toda sua força para
transportar a pessoa que vai ser assassinada para o local em que a morte ocorrerá. E
tudo com grande publicidade, às vezes com transmissão ao vivo das terríveis imagens
para todo o mundo como isso fosse algo normal conforme vimos nas imagens
divulgadas na madrugada do dia 30 de dezembro de 2006, da execução de Saddam
Hussein.
Sabe-se quem montou a cena da morte, quem a transportou a pessoa, quem se valeu da
superioridade física e de armas para impedir que a pessoa fugisse e, afinal, quem
praticou o gesto que acarretaria a morte dessa pessoa humana. Agregue-se a isso o fato
de muitas vezes esse terrível ato ter motivações e interesses políticos inconfessáveis. E
por mais paradoxal que pareça ninguém é punido e muitos recebem dinheiro do Estado
por essa participação e até pousam de heróis como se vê da postura do atual Presidente
dos Estados Unidos.
Registre-se, por outro lado, que a pena de morte, uma vez aplicada não há qualquer
possibilidade de revisão, mesmo que se saiba com absoluta certeza que houve erro, que
o executado era inocente e que a condenação foi injusta e isso tem acontecido não raras
vezes naqueles países que ainda adotam esse tipo absurdo de pena.
Aqui mesmo no Brasil, vale recordar, a última execução de pena de morte ocorreu no
final do século XIV e foi fruto de um erro judiciário irreparável, reconhecido quando já
nada mais se podia fazer porque não havia como devolver a vida à pessoa injustamente
morta pelo Estado. O réu, Mota Coqueiro, tinha sido forçado a confessar a autoria e por
isso foi morto, assassinado “sob as bênçãos do Estado” e “as orações da Igreja”.
Também não se pode esquecer o terrível erro judiciário de foram vítimas dois simples
trabalhadores rurais - os irmãos Naves - envolvidos em uma briga com um colega de
trabalho e logo em seguida desapareceu. Os únicos fatos conhecidos eram a briga
recente e o desaparecimento da pessoa, mas ligando as duas coisas os irmãos Naves
foram acusados de assassinato, agravando com a ocultação do cadáver. Imediatamente
presos, confessaram na prisão a autoria do crime e foram condenados, porém alguns
anos depois, quando um deles irmãos Naves já havia morrido na prisão e o outro
continuava preso, a suposta vítima reapareceu, viva e disposta a esclarecer a história.
Não tinha havido assassinato algum e os dois irmãos eram inocentes. Depois da briga,
temendo sofrer alguma violência, o trabalhador que havia brigado com os Naves decidiu
mudar-se para um lugar bem distante. Como era solteiro e pobre carregou nas costas
tudo o que possuía e foi para longe sem dar notícia a ninguém. Acusados do assassinato
e tendo sido violentamente espancados na prisão os irmãos Naves confessaram a autoria
de um crime que jamais haviam cometido. E assim foram condenados.
Fatos como esses e outros tantos que acontecem com razoável freqüência inclusive aqui
no Brasil, quase sempre ou sempre tendo como vítimas pessoas despossuídas, sem
recursos inclusive para pagar bons advogados para defendê-las, o risco de condenação
de inocentes é ainda maior. Portanto, inadmissível sob todos os aspectos a implantação
da pena de morte como apressada e irrefletidamente apregoam alguns menos avisados.
A execução de Saddam Hussein nos leva a meditar mais uma vez sobre a ineficácia
social e a desumanidade da pena de morte, em que pese a violência por ele cometida
contra milhares de inocentes inclusive muitos deles assassinados simplesmente porque
dele discordavam.
Ao apagar das luzes desse conturbado ano de 2006 conclamo a todos a refletir sobre
este tema, especialmente levando em consideração a nossa realidade social e judiciária e
últimos acontecimentos ocorridos no Rio de Janeiro e o enforcamento de Saddam
Hussein. É hora de pensar. Pensemos, pois, e que o novo ano nos reserve dias de muita
paz.
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3148/Pena-de-morte-atentado-
contra-o-direito-a-vida

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Morte: uma pena irreversível


Aborda pesquisa atinente à aplicação da pena de morte no Brasil e no Exterior, a
incompatibilidade jurídica de sua adoção no Brasil e sua insignificância como meio de
combate à criminalidade.
01/fev/2008
Amaury Silva
amau@uai.com.br
Veja o perfil deste autor no
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A pena de morte, também chamada pena capital, consiste na retirada da vida de forma
legal, a uma pessoa condenada pelo Poder Judiciário por crime grave.
Pesquisa publicada pelo jornal Folha de São Paulo indica que os brasileiros querem a
pena de morte no Brasil como solução para acabar com a violência no país.
O assassinato do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, aumentou a mobilização
popular para a instituição da pena de morte. A repercussão do caso na mídia, abriu
discussão sobre o fato. Opiniões favoráveis a este tipo de punição têm causado polêmica
em todos os setores da sociedade.
Segundo o DataFolha, 55% dos brasileiros são favoráveis à punição em epígrafe,
enquanto que apenas 40% são contra. Interessante frisar que a maior parte dos
defensores da pena capital tem renda familiar superior a dez salários mínimos. O menor
número está entre os que ganham até dois salários mínimos mensais.
No entanto, a Anistia Internacional (movimento mundial independente que desempenha
um papel muito específico na prevenção das violações dos direitos humanos por parte
dos governos e fundada em 1961 pelo advogado inglês Peter Benenson) pede o fim da
pena de morte no mundo. Segundo a secretária-geral deste movimento, Irene Khan, a
Anistia pede uma coalizão global de governos, acompanhada de uma estratégia
diplomática sólida e eficaz. Países onde não existe este tipo de sentença devem se unir
dando um sinal claro de liderança política para isolar as nações que ainda usam este
recurso.
Nos últimos anos, tem-se notado uma redução nas execuções. Em 2006 foram
executadas 1.591 pessoas, em 2005 foram 2.145 e em 2004, 3.400.
Só seis países no mundo são responsáveis por mais de 90% das penas capitais. China e
Iraque que lideram a lista, Irã, Paquistão, Sudão e os Estados Unidos. As demais nações
não utilizam deste método desumano. A União Européia, a Suíça, entidades de direitos
humanos e grande parte da comunidade internacional, também engajadas na campanha,
pedem uma suspensão global da pena de morte.
Como corolário, os legisladores do estado americano de Nova Jersey aprovaram um
projeto de lei que prevê o fim desta pena, substituindo-a pela prisão perpétua sem
possibilidade de livramento condicional. Nova Jersey é o primeiro estado americano a
abolir a pena capital, em vigor desde 1976 quando foram retomadas por decisão da
suprema corte dos Estados Unidos. Em quarenta anos houve cerca de 1.099
condenações que determinaram a aplicação pena de morte. Atualmente, há no corredor
da morte nos Estados Unidos, cerca de 3.350 condenados à espera da execução, sendo
42% de negros e 11% de hispânicos, que poderão ser salvos se outros estados
americanos seguirem o mesmo exemplo de Nova Jersey, abolindo a pena.
No Brasil, a Constituição da República, em seu artigo 5º, veda expressamente a pena de
morte, salvo em caso de guerra, devidamente declarada pelo Presidente da República,
como forma de punição a traidores da pátria.
A segurança pública é um direito de todo cidadão brasileiro, garantido pelo Estado,
assim como são também tutelados os direitos à vida e à liberdade, entre outros. Punir é
dever do estado como também o é, dar proteção à vida. Neste diapasão seria incoerente,
o Estado, que tem a obrigação de defender a vida, direito fundamental do ser humano,
tirá-la.
Condenar uma pessoa à morte serviria apenas para satisfazer o lado ruim do ser
humano, o lado vingativo, que se aflora toda vez que depara com crimes absurdos,
desumanos e covardes. Revoltado, passa então a desejar que o autor do crime seja
punido de forma que o faça sofrer. Assim há uma satisfação do ser, que alimenta o seu
lado cruel. É tão ruim aquele que deseja a morte do outro como punição para seu crime,
quanto o próprio criminoso. Este é ruim por ter cometido um crime bárbaro, aquele é
ruim por se sentir satisfeito com o sofrimento imposto ao criminoso.
A pena de morte de nada serviria para a diminuição da violência. Em países que adotam
esta pena não houve diminuição da criminalidade pelo medo de ser morto.
O medo de algum tipo de pena não inibe o indivíduo de cometer crimes. Prova disso é o
sistema carcerário brasileiro, um dos piores do mundo, com celas superlotadas, prédios
velhos e mofados onde impera a violência. Mesmo sabendo que ficar preso em um
ambiente assim não é nada agradável, os presídios estão superlotados. As péssimas
condições prisionais não impedem que o criminoso cometa seus crimes. Muitos
daqueles que já cumpriram penas privativas de liberdade e sentiram na pele o inferno
que é uma prisão, continuam cometendo crimes, haja vista o grande número de
reincidência. Portanto, a solução para a redução da violência e da criminalidade não está
na aplicação de penas desumanas.
Dificilmente a pena de morte será instituída no Brasil por se tratar de vedação de
cláusula pétrea. Caso acontecesse, as maiores vítimas seriam os negros e os pobres de
todas as raças que são justamente os perfis predominantes nos cárceres brasileiros. Por
se tratar de uma pena irreversível, se posteriormente for detectada a inocência de um
executado nada mais poderá ser feito.
Destarte, não me parece razoável que a instituição da pena capital seria a solução para a
redução da violência. Talvez, grandes investimentos para a erradicação da miséria e
conseqüentemente de inclusão social possam surtir maiores efeitos a longo prazo do que
tirar a vida de um miserável criminoso, pois permanecendo a miséria, novos miseráveis
criminosos nasceriam para ficar no lugar daqueles que por ventura tenham sido
condenados à pena de morte. Portanto, não haveria redução da violência, apenas a
substituição de um criminoso por outro.
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4133/Morte-uma-pena-
irreversivel

data de acesso: 18 de outubro de 2010

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