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ROSANA PAULINO:
REPRESENTAÇÃO DA MULHER AFRO-BRASILEIRA
NATAL/RN
2018
KYVIA KELLY DOS SANTOS MONTEIRO
ROSANA PAULINO:
REPRESENTAÇÃO DA MULHER AFRO-BRASILEIRA
NATAL/RN
2018
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Componente da Banca Examinadora – Profª Drª Bettina Rupp, UFRN
(Presidente da Banca)
____________________________________________________
Componente da Banca Examinadora - Profª Drª Sofia Bauchwitz, UFRN
(Arguidor)
___________________________________________________
Componente da Banca Examinadora –Prof. Me. Artur Luiz de Souza Maciel UFRN
(Arguidor)
DEDICATÓRIA
A Jackeline Monteiro, minha irmã, por acreditar em mim, por não deixar a memória de
a nossa mãe morrer e junto a ela o amor que temos por ser quem somos e de respeitar quem
está a nossa volta.
A Rosana Paulino, artista que me fez questionar sobre minhas origens, sobre o lugar
que ocupo no mundo e por me mostrar que é possível ser quem que quiser enquanto mulher e
negra.
AGRADECIMENTOS
muito pouco.
Octavia Butler
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é compreender, através dos trabalhos realizados pela artista
contemporânea Rosana Paulino, qual o lugar que a mulher negra ocupa na sociedade
brasileira e sua relação com a formação da estrutura social, enraizada no passado extremante
escravocrata, racista e machista, que influenciam no desenvolvimento dos negros
descendentes. Além disso, é visto como o feminismo interseccional intervém beneficamente
pensando a pluralidade das mulheres e fazendo o recorte do feminismo negro a partir de
escritoras como Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales e Angela Davis. Esses
aspectos são encontrados notoriamente na arte de Paulino, especificamente nas obras
Assentamento(2013) e Bastidores(1997), que são analisadas nesta pesquisa uma vez em que
ela altera esses fatos da realidade e transfigura em indagações e denúncias. A forma objetiva
em que a artista passa a sua mensagem em suas produções, utilizando-se das mais variadas
linguagens, como instalações, gravura, fotografia e colagens, torna o processo conciso e
próprio da arte contemporânea.
The inspiration for this research is to understand, through the works produced by the
contemporary artist Rosana Paulino, the place that black women occupy in brazilian society
and its relationship with the formation of the social structure, rooted in the extreme enslaving,
racist and sexist past, that influences the development of black descendants. In additionto this
social, racial and gender intent, it is seen how intersectional feminism intervenes usefully by
thinking of the plurality of women and making the thematic cutting of black feminism from
writers like Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales and Angela Davis. These aspects
are notoriously found in the art of Paulino, specifically in the works Assentamento (2013) e
Bastidores (1997), which are analyzed in this research since it changes these facts of reality
and transfigures them into inquiries and denunciations. The objective way in which the artist
transmits her message in her productions using the most varied languages, such as
installations, engraving, photography and collages, makes the process concise and proper of
contemporary art.
Key words: black woman, brazilian Society, contemporary art, blackf eminism, Rosana
Paulino.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Lorna Simpson, Guarded Conditions, 1989, Dezoito polaroides coloridas, vinte e
uma placas de plástico 231,1x332,7 cm....................................................................................20
Figura 2- Modesto Brocos y Gomes, A Redenção de Cam, 1895, óleo sobre tela, 199x166 cm.
...................................................................................................................................................24
Figura 3 -Édouard Manet , Olympia, 1863, óleo sobre tela, 130,5 x 190 cm...........................25
Figura 4: Pierre François de Wailly, Mulher da Raça Bosuímana, 1815, litogravura...............28
Figura 5- Augusto Stahl. Expedição Thayer, 1865 e 1866. Fotografia.....................................39
Figura 6– Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................40
Figura 7-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................41
Figura 8-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................41
Figura 9-Rosana Paulino, Assentamento, 2013........................................................................43
Figura 10-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................44
Figura 11-Rosana Paulino, Assentamento, São Paulo, 2013, Paper clay, madeira, palha e
cordão. Dimensão variável. Vídeo: Mar Distante. Duração do vídeo: 22 minutos..................45
Figura 12-Rosana Paulino, Bastidores, 1997.Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro....................................................................................................47
Figura 13-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro....................................................................................................48
Figura 14-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro....................................................................................................49
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................11
2. FEMINISMO NEGRO ......................................................................................................16
2.1. FEMINISMO E ARTE CONTEMPORÂNEA .................................................................20
2.2. TRÊS EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NA ARTE .…….24
3.SOBRE IDENTIDADE .......................................................................................................30
4. A RELEVÂNCIA DO PASSADO ESCRAVISTA NA CONSTRUÇÃO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA ................................................................................................33
5. ROSANA PAULINO COSTURANDO NOVOS SIGNIFICADOS .......................…....36
5.1.Assentamento(2013)............................................................................................................39
5.2.Bastidores(1997).................................................................................................................47
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................52
7. REFERÊNCIAS .................................................................................................................55
8. APÊNDICES........................................................................................................................58
8.1. Ação pedagógica I ..............................................................................................................59
8.2. Ação pedagógica II ....................…….................................................................................62
9. ANEXOS ..............................................................................................................…....…....68
9.1.Lista de presença para ação pedagógica II………………………………………………...68
11
1. INTRODUÇÃO
1Professora e filósofa socialista, integrante do Partido Comunista, dos Panteras Negras, militante pelos
direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.
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brancas, fazer o trabalho doméstico para a mulher negra lhe gerava alicerce para sua
autonomia, os homens também se beneficiavam, uma vez que mesmo submetida ao
abuso, era elevada ao lugar central na comunidade escrava. Ao recordar o fato da
mulher negra ser força de trabalho bruto tanto quanto o homem negro elas não eram
diminuídas por suas funções domésticas. Identificando a condição das mulheres brancas
que se sentiam limitadas e vazias em suas funções em âmbito doméstico, ao serem
consideradas donas de casa. As mulheres negras não obtinham o poder de serem donas
de nada, ainda mais donas de casa.
O trabalho doméstico justamente por ser depreciado pelas mulheres brancas as
quais tinham que seguir a ideologia de feminilidade, “um subproduto da
industrialização” (DAVIS 2016, p.24). Ser mulher era sinônimo de mãe e dona de casa,
o que era condicionado à inferioridade feminina e, portanto foi ao mesmo tempo a
possibilidade da mulher negra conseguir obter seu sustento, inclusive muitas vezes,
alicerce da família inteira, mesmo sendo alvo de opressão por ser destinado
exclusivamente às mulheres.
O princípio da industrialização também colaborou para que as atividades
manuais tidas como menores fossem ainda mais rebaixadas, levando as mulheres
(brancas) ao consumismo de produtos industrializados e se desfazendo da necessidade
de produção e consumo de produtos e atividades manuais.
A necessidade de entrar no contexto das atividades domésticas como o bordado e
a relação com a casa em geral, é compreender como os materiais usados por Paulino,
além da forma em que suas obras são expostas, não são apenas os materiais que
constroem a obra, mas fazem parte do conceito. Analisar a representatividade da mulher
negra na arte e sociedade a partir dos trabalhos da artista Assentamento (2013) e
Bastidores (1997) é entender, através de uma análise de sua obra no contexto da arte
contemporânea, sobre as ondas feministas e sobre a influência do passado escravista no
Brasil e como esses processos influenciaram a formação da identidade da comunidade
negra e de como foram construídos preconceitos na sociedade até os dias atuais. É por
meio das suas obras em questão, que foi investigado o processo de construção de
identidade e representatividade das mulheres negras.
A vida de Rosana Paulino influência a sua vida artística, desde o contato com
materiais manuais que instigaram sua criatividade enquanto artista, quanto sua situação
pessoal e familiar enquanto pessoas negras de origem umilde. Isso reflete na sua forma
14
de fazer e arte e como ela utiliza disso como meio de comunicação, como um desabafo,
um grito, uma denúncia.
Esta pesquisa teórica foi realizada após a constatação de que se faz
necessário o estudo de artistas negras e negros contemporâneos que e
principalmente não tenham medo de falar sobre ser negro no universo das artes.
A artista nos faz refletir sobre a busca da identidade em suas obras, traz para o
centro das discussões a procura por uma nova representação e mostra como, na
produção de seus trabalhos, propõe através da sua sensibilidade artística como ela pode
vir a impactar diretamente a maneira como os indivíduos Afrodescendentes se enxergam
na arte brasileira e na sociedade.
A consciência histórica formula uma relação mais consistente para cada povo e
por isso a busca pelo passado é algo presente na sociedade em que vivemos. Conhecer o
passado permite o processo de construção do ser e propicia perpetuar esse
conhecimento.
A história contada sobre o passado dos afro-brasileiros é de uma perspectiva do
“outro” de maneira negativa e pejorativa. Nesse sentido, autodefinição se faz necessária
para a procura pelo passado e a revisitação do mesmo. E essa visão do “outro” acaba
implicando no modo em que a mulher negra se enxerga.
Pensado assim, não existe representatividade das pessoas negras na sociedade
como um todo, categoricamente no feminismo também não, isto é, as mulheres negras
têm muito espaço para ser conquistado.
O ponto forte do trabalho de Rosana Paulino é a busca pela imagem perdida dos
afros brasileiros, principalmente das mulheres, pois, é através da cultura e da história
que ela reconstrói uma imagem esquecida e até mesmo inexistente.
Levar ao público uma artista contemporânea negra que questiona o seu lugar na
sociedade. Através da sua estética e questionamentos, Paulino movimenta discussões
sobre identidade e representatividade ao público. Expandindo um novo mundo de
conhecimento, história, fornecendo voz a esses personagens invisíveis e silenciados,
ressignificando a imagem por meio denúncias e possibilidades de uma nova história.
Para prosseguir com ênfase o estudo sobre a artista se faz necessário uma
pesquisa que tem com fundamento abordagem e caráter exploratório qualitativo, de
natureza básica teórica, buscando atingir o melhor resultado pelo método de estudo de
caso através de análises de entrevistas e dados coletados das obras de Paulino e
pesquisas a partir de artigos, livros e teses de escritoras como Angela Davis, Djamila
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2. FEMINISMO NEGRO
dessas barreiras se dá a partir do momento em que discussões como essas são levadas a
frente, como forma de reconfigurar a sociedade.
Na história da arte acontece o mesmo, estudamos homens brancos europeus e
mulheres brancas, mas homens e mulheres negras são muito raros na arte, com isso se
faz o questionamento se realmente existem esses artistas, e a resposta é sim! Eles
existem, mas em sua maioria a arte produzida por artistas negros não é exibida e
discutida em sala de aula, ou em qualquer tipo de mídia. Existem negras e negros
representados na arte apenas enquanto objeto nas obras, sendo representados como mais
uma peça de fundo, ou a visão de um ser exótico, por mais que em alguns casos não
fosse essa verdadeira intenção acabam reforçando noções estereotipadas “de
inferioridade racial” (DAVIS, 2016 p. 185).
Em Feminismo negro para um novo marco civilizatório (2016), Djamila Ribeiro
pleiteia os pensamentos de Kilomba2 e Simone de Beauvoir3, quando debate sobre a
mulher em relação ao homem branco, quando a mulher sempre é vista pelo homem no
lugar da subordinação onde os argumentos feministas são atribuídos ao ser mulher, no
caso a mulher branca.
Djamila também cita Kilomba que discute a semelhança entre o homem negro e
a mulher branca, eles se igualam em seus poderes dentro da sociedade, sendo vistos
como sujeitos. Em Feminismo negro para um novo marco civilizatório, Djamila Ribeiro
(2016) comenta que pensar sobre o Feminismo Negro serve para analisar não somente
as mulheres negras, mas ao modelo de sociedade que queremos. Quando nos
questionamos sobre o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade brasileira,
estamos destacando mulheres que sofrem desigualdade de gênero, social, econômica e
essas temáticas englobam vários problemas na sociedade brasileira, discutir sobre
feminismo negro vai além da igualdade de gênero, objetiva atingir mulheres de baixa
renda, baixa escolaridade que estejam em desvantagem em relação ao conhecimento só
assim será uma luta justa em que todas as mulheres sejam notadas e lutem juntas.
Angela Davis em Mulheres, cultura e política, 2017, fala sobre o
empoderamento da mulher afro-americana e de como se organizam em grupos na
tentativa de obter poder econômico e político, pois as pautas, apesar do esforço das
ativistas brancas em trazer mulheres de minoria étnica para dentro do movimento, as
2Grada Kilomba (1968) é uma artista e escritora interdisciplinar portuguesa que vive em Berlim.
3Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política,
feminista e teórica social francesa.
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preocupações específicas dessas mulheres não eram incluídas nas pautas, sendo assim
foi necessária a formação de outros grupos feministas.
Davis comenta que a intenção não era causar separação entre as mulheres, mas
que se fazia necessário esse espaço para as discussões das mulheres negras.
grupos, como o racismo, lesbofobia, e assim não alimenta estruturas de poder por incluir
a diversidade das mulheres.
Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa
carruagem, é preciso carregar elas quando atravessam um lamaçal e
elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me
ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede
o melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para
meu braço! Eu capinei, eu plantei, juntei palha nos celeiros e homem
nenhum conseguiu me superar! E não sou uma mulher? Eu consegui
trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando tinha o que comer
- e também agüentei as chicotadas! E não sou uma mulher? Pari cinco
filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei
minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou
uma mulher? (TRUTH, 1851, p. 36.)
O depoimento emocionante de Truth (1851) leva a crer que esse modelo do que
é ser “mulher” trata-se da mulher branca, e que a situação em que a mulher negra ocupa
não é uma condição de ser humano.
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Mulheres brancas e negras ambas sofrem opressão, mas existe uma diferença
explicita entre ambas que deve ser vista e compreendida, para ser aos poucos algo que
não tenha mais necessidade de luta por igualdade e olhar compreensivo em relação ao
outro. Sendo assim se faz necessário esse recorte racial no movimento feminista. E a
importância da arte uma vez sendo meio principal de disseminação de estereótipos e
visões preconceituosas do outro, na arte contemporânea a mulher cria a sua.
Isso significa que o outro, no caso as mulheres enquanto oprimidas tomam poder
do que as constroem enquanto mulheres e mais além, um ser humano, fazem arte
criticando padrões machistas. Como Heartney (2012, p. 51) diz “o provedor privilegiado
da verdade e realidade” tem sua verdade e realidade indagada pelas mulheres.
Levantando questionamentos sobre feminilidade, Linda Nochlin que escreveu o Porquê
não existem grandes artistas mulheres? (2016) Ela propõe que artistas, pesquisadoras e
escritoras questionem a representação da mulher na arte e na publicidade, recorrendo a
estudos da psicologia, sociedade e história. Elas se apropriam daquilo que pertence às
suas vidas, enquanto mulheres e criticam os padrões machistas em suas produções
artísticas.
Lorna Simpson artista negra afro-americana trata sobre estereótipos, mostra
como ser mulher negra resulta em invisibilidade dupla na obra Condições guardadas
(1989) ela expõe mulheres negras de costas alinhadas em série com os braços cruzados
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para trás, atestando vulnerabilidade, logo abaixo expõe as frases “sexo agride” e “pele
agride”.
Figura 1- Lorna Simpson, Guarded Conditions, 1989, Dezoito polaroides coloridas, vinte e uma
placas de plástico 231,1x332,7 cm.
Fonte: https://www.caoscultural.com.br/single-post/2018/02/28/Lorna-Simpson-a-
percep%C3%A7%C3%A3o-das-mulheres-negras
questionamentos substanciais “partilham seu desconforto com uma estética que liga o
prazer visual à objetificação das mulheres”. (HEARTNEY, 2012, p. 54.)
Sobre “mulheres observarem a si mesmas sendo olhadas” se refletir melhor na
perspectiva da mulher negra, quando ela observa a si própria na mídia sua figura é
invisível, sempre passando despercebida, isso envolve também o fator do colorismo,
para Tainan Maria Guimarães Silva e Silva é graduada em Direito pela Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Participação em grupo de pesquisa Direito de povos e
comunidades tradicionais. Interesse nas áreas de Direito Civil, Direito Constitucional,
Direitos Humanos e Ações afirmativas, para ela colorismo trata-se:
A partir disso, quanto mais retinta for a pele e mais aproximado aos traços
africanos da mulher representada mais invisível ela será, sempre em papéis de
subordinação, mas a medida que a pele for clareando, seu papel será restrito a
sexualização, a chamada “mulata”. Elas nunca são vistas como de fato são, a maneira de
existir dessas mulheres é voltada para o aspecto exagerado e por certas vezes esse modo
de agir e de se enxergar são tão opressivos que chegam a virar realidade na vida dessas
mulheres onde elas compreendem que seu lugar é aquele e não há possibilidade de
outro. Absorver essas representações, na construção da identidade faz com que essas
mulheres se enxerguem assim, não havendo outra opção de como ser, mas não são
apenas elas que se enxergam assim, mas a sociedade também. Segundo Silva, “Através
do colorismo apenas cria-se a ilusão de que parte da população negra é imersa nos
espaços, quando, na verdade, àquela população de pele mais escura é negada qualquer
possibilidade de acesso”. (2016, p.13.)
A mulher habita a tela, pintura desenho e o lugar de artista. Quando se fala de
Rosana Paulino, em suas obras percebe-se o questionamento de forma de denúncia.
Mulheres brancas viviam em uma redoma nas representações artísticas pictóricas
assim como as mulheres negras, eram aprisionadas a imagem de serviçais, escondidas
em uma penumbra ou como objetos de estudo, vistas como exóticas e erotizadas.
Apenas como exemplo do estranho, curioso e primitivo, Paulino torna esse lugar da tela,
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Figura 2- Modesto Brocos y Gomes, A Redenção de Cam, 1895, óleo sobre tela, 199x166 cm.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Reden%C3%A7%C3%A3o_de_Cam
efeito de contratempo uma vez que a existência da mulher negra no quadro pode ser
vista como figura que compromete a brancura de sua senhora.
Esta pintura de Édouard Manet introduziu uma mulher negra em uma de suas
obras, intitulada de Olympia. Mas não foi a imagem da mulher negra que gerou
polêmica, mas o fato de exibir uma prostituta conhecida na cidade e atribuindo-lhe o
título de Deusa ao chamá-la de Olympia, e ao seu lado incluindo uma criada, mulher
negra na obra, havendo uma confusão entre os padrões formais e ideológicos exigidos
pela academia de Arte na França, os quais foram violados e desrespeitados.
Aparentemente a intenção de Manet não é causar nenhum espanto, ou tão pouco
levantar alguma discussão sobre o assunto relacionado a personagem negra mimetizada
no fundo escuro, apenas obter um contraste entre claro e escuro na sua obra. Usando o
branco e o preto.
Figura 3 -Édouard Manet , Olympia, 1863, óleo sobre tela, 130,5 x 190 cm.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Olympia_(Manet)
opressões é dar voz as mulheres do passado e garantir a luta das mulheres atuais e do
futuro.
Ser mulher negra que tem a voz ativa nos movimentos e ser intelectualmente
dinâmica torna-se uma ameaça constante onde todos os seus princípios são tachados de
limitadores e excludentes, segundo (COLLINS, 2018) sendo que pensar as mulheres
negras, alcança mulheres pobres, mulheres trans, lésbicas por exemplo, ela não pensa
somente a mulher negra de classe alta, o que seria atingir uma quantidade mínima de
mulheres para a luta. As vozes dessas mulheres não podem ser silenciadas e postas em
lugar de vítima, mas de autoras de suas próprias vozes que colaboram para a
sobrevivência das demais mulheres negras.
Estar no grupo categorizado como “mulher negra”, visível aos olhos limitados e
distorcidos da classe dominadora, acaba resultando na invisibilidade das mulheres
negras, porque desconsidera a individualidade de cada uma. O feminismo negro entra
para demolir a barreira dos estereótipos e dar conhecimento e poder as mulheres para
construir uma imagem fortalecedora de si mesmas, levando a importância do pessoal e
individual para a construção da autodefinição.
Fonte:https://s-i.huffpost.com/gen/3918046/thumbs/o-VENUS-HOTENTOTE-570.jpg?1
O terceiro exemplo, que Lotierzo apresenta trata sobre Sara Baartman, mulher
negra Sul-africana, apelidada de “Vênus Hotentote” exposta pela primeira vez em
Londres 1810, onde seguiu para a França como um “animal” de circo, alvo de
curiosidade para os olhos Europeus, por causa das suas formas voluptuosas e acúmulo
de gordura excessiva na região das nádegas, coxas e quadril. Essas mesmas
características fizeram com que Sara fosse alvo de estudos, após sua morte precoce por
volta dos 25-26 anos, para os cientistas da época o corpo volumoso da mulher, “seriam
sintomas de uma pré disposição inata para sexualidade irrefreada” 6 algo anormal para as
mulheres da época. Segundo Sander Gilman, (1985, p.191.) “a aparência física da
mulher hotentote é, de fato, o principal ícone do século XIX para a diferença sexual
entre o europeu e a população negra” (Gilman apud LOTIERZO, 2017, p. 191.)
Nota-se que o pensamento científico racista europeu, que é uma das bases para as
pesquisas de Paulino, foi disseminado através das artes ao conhecimento público da
população como tradição, levando a naturalização desse pensamento. E a
hipersexualização, exotização e invisibilidade da mulher negra reforçados até os dias
atuais.
3. SOBRE IDENTIDADE
Djamila Ribeiro comenta em O que é lugar de fala?, (p.30, 2017.), que a real
intenção em relação à identidade é desmanchá-la uma vez em que ela foi construída
pelo outro baseado em estereótipos e limitações de pensamento. Na tentativa de
desconstruir essa identidade limitadora que é dada, revemos a forma em que somos
representados pelos olhos do outro e constrói-se uma nova representação.
“A identidade é a imagem que temos de nós mesmos” para filósofa, Marcia
Tiburi em Feminismo em comum (p.80. 2018), a afirmação pode parecer contraditória
em relação ao conteúdo anterior, uma vez em que afirma que a identidade vem do olhar
do outro e não do sujeito em questão, mas trata como este processo identitário quando
relacionado a grupos oprimidos e invisibilizados a referência da mudança da
autoimagem se faz necessário para desconstruir uma identidade nociva.
Já para Moritz (2018), a identidade seria a imagem que o outro faz, entende-se
portanto que a partir do olhar do outro, o sujeito se enxerga da mesma forma que é visto
pelo outro de forma estereotipada. Ainda há a contribuição da mídia que reforça a
imagem de esteriótipos a partir de uma identidade imposta como absoluta, com o auxílio
dos meios de comunicação em massa, que transmitem às mulheres negras uma imagem
negativa e equivocada, visível através de estereótipos e arquétipos negativos sobre os
corpos negros, sendo inferiorizados, fetichizados e invisibilizados não apenas por meios
de comunicação, mas por homens brancos, metáfora para o lugar de poder do homem
machista e racista. (RIBEIRO, p.70, 2017.) A desconstrução da identidade dada pelo
outro, torna a identidade algo próprio do sujeito.
Enquanto mulheres, negras e feministas triplamente marcadas por palavras que já
foram insultos, são usados como meio de resistência por mulheres em situação de luta
pelos seus direitos, tais palavras passam a atingir opressores, como enfrentamento
consequentemente, uma afronta ao sistema opressor. Segundo Mácia Tiburi, professora
de filosofia, artista plástica e escritora política, em seu livro Feminismo em comum
(2018) a autora comenta: “patriarcado que subjuga negros/mulheres/trabalhadores”,
(p.11, 2018.) ou seja, todos estão submetidos à opressão do homem branco hétero, a
figura do homem superior, configura uma pressão sobre ele mesmo. O feminismo
quebra e questiona esse lugar de poder de maneira não opressora, mas fazendo
compreender que todos precisão de direitos iguais.
A maioria das identidades atribuídas a população negra, principalmente as
mulheres são uma herança da “lógica colonial” (RIBEIRO, p.30, 2017), em O que é
lugar de fala?, perceber que essa identidade imposta pela figura do homem branco ao
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sujeito negro como verdade serve para oprimir ou privilegiar indivíduos, homens,
mulheres, crianças de diversas raças e nacionalidades, instituições e sociedades.
Enquanto privilegiados pessoas brancas, detentoras de poder de fala não reconhecem os
processos de entendimento e mudança das identidades reducionistas, que significam um
mal que está entranhado na sociedade. Parte da sociedade branca e de classe média se
reconhece como hegemônica, consideram que discutem sobre o coletivo acusando
pessoas negras de serem separatistas por buscarem seus direitos e a desconstrução da
identidade hegemônica e nociva através de novas representações e discussões sobre a
história, refazendo assim um caminho de uma nova trajetória e construção de
identidade, desta vez desmistificada e positiva aos negros.
A autoimagem que temos vem embutida na modernidade, baseada na herança
que temos do colonialismo, relação de poder e exploração entre povos onde uma nação
se constrói a partir da dominação de terras, trabalho, política e relações racistas sobre
outra nação. Essa herança do colonialismo se chama colonialidade onde essas relações
de poder ainda perpetuam, por mais que o colonialismo não seja mais uma realidade,
Segundo Candau e Oliveira, em Pedagogia decolonial e educação antirracista e
intercultural no Brasil (2010) a colonialidade está presente nas relações diárias, nos
livros didáticos, no universo acadêmico quando nos limitam aos pensadores europeus,
na cultura e na identidade dos povos.
Não se trata sobre anular todo o passado construído na presença dos colonos,
nessa história não há apenas um narrador vencedor. Perceber que houve uma parcela da
população em que viveu na mesma época e que foi silenciada em todo o período
histórico, parte dessa população se estende aos negros e indígenas e que parte de suas
histórias foram estigmatizadas e reduzidas a lendas.
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afastada para longe da realidade dos negros da sociedade brasileira, o direito à história e
ao passado da escravidão, tona-se necessário, quando deve ser contado pela perspectiva
dos negros brasileiros. Ana Mae Barbosa, arte-educadora, comenta em seu livro
Historia da arte-educação (1986) que a “história é importante instrumento de
autodefinição” assim compreende-se que é a partir da história, do conhecimento do
passado que se constrói quem se é, ela colabora na formação do individuo. Vemos que a
arte e história se complementam na arte de Paulino, que refaz a estrutura de um
pensamento mais concreto da formação de identidade de indivíduos que foram omitidos
e reduzidos a recortes históricos sem nenhum tipo de aprofundamento, apenas um
passado ruim que devemos esquecer, mas sendo que nele existem recortes de resistência
e força de um povo que lutou e não apenas sofreu como desgraçados, que ali
constituíram uma nova cultura.
Ana Mae também diz que “a ignorância da própria história torna os povos mais
facilmente manipuláveis” História da arte-educação (1996, p.9.) isso faz lembrar
Djamila Ribeiro filósofa e feminista brasileira que comenta em O que é lugar de fala?
(2017, p. 24.) sobre a hierarquia de saberes, de como podem manipular quando se tem
conhecimento do passado e que ao se beneficiar da falta de conhecimento do outro, a
manipulação desses saberes são realizados e enraizados no entendimento e formação de
uma determinada população sem bases de estudos, no caso, a maioria da população
negra Brasileira.
Falar sobre Paulino significa um ato político no meio das artes uma vez em que
quase toda a história da arte estudada no Brasil, se restringe em sua maioria a artistas
Europeus, Paulino é uma artista negra latina, que em seus trabalhos ressalta a imagem
de mulheres e homens negros, ter conhecimento sobre seu processo e suas obras é
descolonizar o pensamento das artes no Brasil, estudar e pesquisar mais sobre os nossos
artistas enriquece mais a cultura brasileira. Falar e discutir sobre arte europeia não é um
erro, mas se restringir a ela desfaz nossos processos de construção de identidades,
saberes e cultura.
A arte dos povos africanos e negros na maioria das pesquisas e obras de arte
oitocentista foi considerada algo primitivo e irracional, quando estudamos história das
artes, a arte africana com suas máscaras e esculturas, seus corpos na maioria das épocas
foram retratados por mãos de artistas europeus, que usurpavam a arte de seus
colonizados como inspiração, mas nunca valorizavam as artes produzidas por eles, a
35
Aos negros foram feitas das mais variadas agressões sobre inteligência
degeneração e a culpa por praticamente tudo que é desagradável e violento no ser
humano, uma raça considerada inferior para que valorizem a si mesmo, enquanto
homens detentores de poder, inteligência máxima e para justificar os abusos, as
explorações e a colonização. Paulino contesta todos esses paradigmas através da
violência vivida por seus antepassados e semelhantes. Ela denuncia esses abusos e os
expõe através da sua arte.
Grada Kilomaba artista visual, escritora, produz vídeos e instalações a partir de
seus escritos, em sua performance Illusions (2016), explana sobre a ilusão de que na
sociedade atual todos vivenciam o mito da democracia racial, onde a excluem e
marginalizam outras identidades na preservação de uma sociedade homogênea, que
reflete a imagem de si, como um espelho.
costumes; e que após o período de escravidão tiveram que se refazer novamente sem
nenhuma estrutura, mais uma vez invisíveis para a sociedade.
Paulino busca compreender e identificar uma identidade que não subtraia a luta
conquistada pelos negros escravizados, ela busca em suas leituras mulheres e histórias
que resistiram e que são verdadeiras heroínas. Com finalidade de dar noção de trauma, a
artista em seus estudos encontra nas fotografias científicas a figura de uma mulher negra
usada para estudos de eugenia representando um modelo original da mulher africana,
ela amplia essa fotografia e a reproduz em tecido no tamanho real, esse tecido é
recortado em três partes e costurado de modo desigual, além disso, ela costura coração,
raízes, um feto, atribuindo a figura sua existência enquanto ser humano, enquanto
mulher. A representação dessa arte de forma precisa nos comunica como esse
8
“refazimento” irregular cumina em um trauma que se perpetua até os dias de hoje.
Conheceremos mais sobre essas produções artísticas nos tópicos a seguir.
encomendado a figura de uma mulher negra nua usada para estudos de eugenia, mais
estritamente feitos pelo zoólogo suíço Louis Agassiz que em sua concepção a
miscigenação era o principal fator da degeneração da raça humana.
Fonte: http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/rosana-Paulino-assentamento/
41
Fonte:http://rosanaPaulino.blogspot.com/
Essa é uma costura aparente, uma sutura grosseira, uma sutura pesada
que é feita e que é muito da sociedade brasileira, essa sutura nunca foi
bem feita no Brasil, esses indivíduos homens e mulheres nunca foram
incorporados pela sociedade brasileira como deveriam ter sido
incorporados. (PAULINO, 2014)
Paulino comenta que essa costura funciona como uma sutura, o que faz lembrar
um procedimento cirúrgico, provavelmente feito sem anestesia e de forma grotesca, essa
forma de pensar brutaliza ainda mais o significado desse processo de se refazer. Observe
a Figura 7 a seguir:
42
Figura 7-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e costura
Fonte: http://rosanaPaulino.blogspot.com/
Figura 8-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e costura
Fonte:https://www.pinterest.com.mx/pin/325666616784605398/
43
Contudo Agassiz não conseguiu dar continuidade a sua pesquisa, mas deixou
registros que por mais que carreguem um passado e objetivos obscuros, serviram como
registro de pessoas negras, que sobreviveu ao tempo. Servindo de base para as artes de
Paulino.
O uso da fotografia reforça ainda mais a realidade sobre o tema abordado,
porque não é uma pintura que deriva do imaginário do artista por mais que seja baseado
na realidade, mas é uma constatação real das condições do mundo. O tamanho da
imagem interfere a relação entre espectador e obra, as imagens dessa mulher anônima
estão em tamanho real, existe uma imposição e dominação por parte imagem, ou até
mesmo relação de igualdade com a figura representada, por estar equiparado com o
espectador.
Na tradição europeia, da qual Agassiz fazia parte, estar vestido era
sinal de civilização e as roupas eram um símbolo de status e gênero.
Deixar pessoas nuas roubava delas a dignidade e a humanidade. Para
ele, isso era possível porque muitas eram escravas, observa Nancy
(HAAG, 2010)
O fato de a mulher estar nua acentua ainda mais a sua vulnerabilidade, ela está
exposta, indefesa e com sua dignidade desvalorizada, além de seu corpo e suas
cicatrizes, essa catarse diante da arte em que Paulino faz o expectador passar é
impactante. Isso também mostra outro estereótipo da mulher negra, o de que ela é
44
sempre forte e que aguenta tudo estando relacionado tanto a força física quanto
sentimentalmente, anulando suas emoções e fraquezas.
Fonte:http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/rosana-Paulino-assentamento/
Existe uma relação entre as duas obras analisadas neste trabalho, Assentamento e
bastidores ligam estereótipos como à força e o trabalho doméstico como fardos que as
mulheres negras carregam com elas aos dias atuais, em um trecho de Mulheres, raça e
classe (2016), Angela Davis escritora e filósofa política, comenta que a mulher negra
suportava o angustiante trabalho braçal que se igualava aos seus companheiros, homens
negros, no entanto no âmbito doméstico, também havia igualdade entre eles, ou seja,
essa ideologia dominante de separação e hierarquia entre gêneros era muito mais entre
homens e mulheres brancos, na estrutura familiar negra não havia separação entre
papéis. Para Davis,
Figura 10-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e costura
Fonte:https://www.pinterest.com.mx/pin/433119689145995479/
Figura 11-Rosana Paulino, Assentamento, São Paulo, 2013, Paper clay, madeira, palha e cordão.
Dimensão variável. Vídeo: Mar Distante. Duração do vídeo: 22 minutos.
Fonte: http://www.rosanaPaulino.com.br/
Na série Bastidores Paulino trabalha com um assunto delicado, mais uma vez se
tratando da vulnerabilidade e sobre a sua invisibilidade enquanto mulher negra, mas
dessa vez em ambientes domésticos. No capítulo sobre Feminismo foram comentados
48
Figura 12-Rosana Paulino, Bastidores, 1997.Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro.
Fonte:http://www.galeriasuperficie.com.br/artistas/rosana-Paulino/
Figura 13-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro
50
Fonte: http://www.rosanaPaulino.com.br/
Na Figura 13 acima, observa-se uma mulher negra com a boca costurada, e que
segundo a artista representa a silenciação.
Outra camada interessante que pode ser levada em conta é o ponto de vista sobre
a boca costurada, possui relação com um texto de Kilomba, que chama atenção sobre a
relação com silenciamento representado na série, substituindo a palavra racismo, pela
ação da violência doméstica o texto toma uma precisão sobre a relação da obra com o
texto, para Kilomba,
Figura 14-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha de
costura. 30,0 cm diâmetro
51
Fonte:http://www.rosanaPaulino.com.br/
Na Figura 14 há a imagem de uma mulher negra que tem seus olhos costurados e
como uma venda para não enxergar.
Os olhos vendados da moça sugerem que por não se enxergar e se ver
representada nos mais diversos tipos de mídia e nas artes, essas mulheres ao se verem
no espelho, por exemplo, não se reconhecem, seus olhos foram costurados pela
sociedade para que elas não se enxerguem e odeiem seus corpos e características que as
definem como negras, levando a supressão dessas características no modo de
comportamento, de se vestir, tornando cada vez mais latente a raiva do corpo negro e o
esforço de se encaixar como branco.
Mais uma vez a fotografia tem seu destaque na arte de Paulino, ela comenta em
uma de suas entrevistas no canal O beijo que “a fotografia já feita tem um afeto, uma
carga muito grande” a artista inclui uma citação de André Bazin crítico de cinema e
teórico de cinema “as fotos são pequenas múmias de papel” (PAULINO, apud 2017)
segundo o autor, a quem é uma das inspirações de Paulino, uma vez em que essas
fotografias carregam um peso de uma história e ao serem expostas com bocas garganta e
olhos costurados trazem um peso sobre ainda maior aos bastidores. A linguagem de
Paulino é usada como meio de poder, ela articula o tema com os materiais de um modo
acessível, unindo a prática tida como intelectual – a arte – com a prática política.
Algumas das representações em que as mulheres negras em sua maioria ocupam
e que fazem parte da realidade de muitas, ainda é uma herança da época da escravidão,
assinada a lei áurea em 1888, com a falta de oportunidades de emprego, o trabalho
como servil parece ser sua única opção de sobrevivência do sujeito negro. A
52
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte (MG).
Letramento, 2018.
ARTE Moderna. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo355/arte-moderna>. Acesso em: 15 de Mai.
2018. Verbete da Enciclopédia.
______ Contemporânea. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura
Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo354/arte-contemporanea>. Acesso em: 15
de Mai. 2018. Verbete da Enciclopédia.
AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade?. Belo Horizonte -MG: Letramento:
Justificando, 2018.
ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa.2 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2012. 263 p. (Coleção Mundo da arte).
BUTLER, Octavia Estelle. Kindred: Laços de Sangue/Octavia E. Butler; Tradução:
Carolina Caires Coelho.-São Paulo: Editora Morro Branco, 2017. p.432.
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: A situação da mulher negra na America
Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Geledés, 2011. Disponível em:<
https://www.geledés.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-na-
america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero/>. Acesso em: 28. Mai 2018.
FOSTER, Hal. O retorno do real: A vanguarda no final do século xx: Hal Foster.
Tradução: Célia Euvaldo. São Paulo: Ubu Editora, 2017.
56
DAVIS, Angela. 1944-Mulheres raça e classe. [tradução: Heci Regina Candiani] 1.ed-
São Paulo: Boi tempo,2016.
HIARELLI, Tadeu. Arte internacional brasileira. 2 ed. São Paulo: Lemos Editorial,
2002.
Itaú Cultural. Rosana Paulino – Diálogos Ausentes (2016). 2016. (9m24s) Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=7awdUzh9UVg> Acesso em: 10 Abril 2018.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça
naa sociedade brasiliera/Lilia Moritz Schwarcz. -1ª Ed. –São Paulo: Claro Enigma,
2012.
SABER, CASA DO. Ser Brasileiro: Qual a Minha Identidade? | Lilia Moritz
Schwarcz. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rbg8NyUxCic>.
Acesso em: 17 out. 2018.
SANTOS, Luislinda Dias de Valois. O negro no séc. XXI. Curitiba: Juruá, 2009. 84p.
APÊNDICE
59
8. AÇÕES PEDAGÓGICAS
Plano de aula:
A primeira ação aconteceu no Departamento de Artes-UFRN no dia 14 de
Setembro de 2018 a partir das 09:00 até as 13:00 com público estimado para vinte
estudantes.
Tema:
O tema em questão foi feminismo negro relacionado a apresentação de três
artistas Rosana Paulino com as instalações Assentamento e Bastidores que
compõem o eixo principal da pesquisa e procuram através do olhar da artista
Paulino questionar o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade brasileira
através do estudo do passado, relacionando a pesquisas científicas e vivências
pessoas e das mulheres de sua família, Grada Kilomba outra artista apresentada
discute sobre a descolonização de pensamento e das artes, discute a visão do negro
na sociedade exemplificando através de textos e videoarte o racismo velado que
acomete aos negros todos os dias e são negados pela sociedade. Harmonia Rosales
busca em suas artes representar negros em uma perspectiva de poder, os quais em
sua maioria no ocidente nunca foram vistos por esse ponto de vista, ela se apropria
de obras majoritariamente brancas e feitas por homens e substitui por mulheres
negras um exemplo é o homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci.
Objetivo geral:
O principal objetivo é apresentar as artistas Rosana Paulino, Grada Kilomba e Harmonia
Rosales e a diversidade de suas artes e a relação que possuem com o feminismo negro.
Objetivos específicos:
Ampliar o conhecimento e facilitar o entendimento sobre o feminismo
negro.
Relacionar o trabalho das artistas apresentadas ao feminismo negro.
Apresentar artistas negras de várias nacionalidade e a diversidade da
temática de seus trabalhos.
60
Conteúdo:
O assunto abordado trata sobre como as mulheres negras foram invisibilizadas
durante muito tempo e por conta dos movimentos feministas principalmente a partir da
segunda onda feminista em meados dos anos 60 e 80 nos Estados Unidos e Brasil, elas
estão em ascensão. Enaltecer a importância que as artistas possuem nas artes
contemporâneas enquanto mulheres negras e feministas.
Desenvolvimento do tema:
Aula expositiva por meio da apresentação de slides e logo após uma roda de
conversa sobre o tema explanado.
Avaliação:
Após a apresentação seguida da roda de conversa com os alunos pude observar
como o conteúdo foi absorvido de acordo com o conhecimento de cada individuo e de
como as discussões que foram levantadas serviram de grande suporte para a minha
pesquisa uma vez em que pude absorver conhecimento a partir do diálogo com
mulheres e homens de diversas realidades.
Relatório:
Introdução
O tema trabalhado na ação pedagógica discute questões de gênero, raça e classe
social, a partir das obras da artista Rosana Paulino, que tem como principal
questionamento em suas obras, o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade
brasileira, mas também são exemplificadas artistas de variadas nacionalidades, mas que
se consideram negras e trabalham com esse tema em suas obras, como Grada Kilomba e
Harmonia Rosales.
61
Objetivos:
Resultados e discussão:
Conclusão:
Plano de aula:
Tema:
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
Conteúdo:
O assunto abordado trata sobre como as mulheres negras foram invisibilizadas
durante muito tempo e por conta dos movimentos feministas principalmente a partir da
segunda onda feminista em meados dos anos 60 e 80 nos Estados Unidos e Brasil, elas
estão em ascensão e a importância que elas possuem nas artes contemporâneas enquanto
mulheres negras e feministas. Abordar identidades que reforcem a imagem positiva dos
negros a partir de referências musicais, literatura e arte
Desenvolvimento do tema:
Uma breve apresentação expositiva por meio de slides e uma roda de conversa
sobre o tema explanado.
Avaliação:
Após a apresentação seguida da roda de conversa com os participantes pude
observar como o conteúdo foi absorvido de acordo com o conhecimento de cada
indivíduo e de como as discussões que foram levantadas serviram de grande suporte
para a minha pesquisa uma vez em que pude absorver conhecimento a partir do diálogo
com mulheres e homens de diversas realidades.
Relatório:
Introdução:
Neste relatório pretende-se explanar sobre lugares de poder que devem ser
ocupados por negros e de como a exposição de artistas em geral como Rosana Paulino,
Harmonia Rosales e Grada Kilomba, discutem questões de decoloniedade, lugares de
poder, feminismo negro e ressignificação de identidades. E como essas artistas realçam
as possibilidades tanto como artista, como as obras, que mulheres e homens negros são
capazes.
Objetivos:
64
Resultados e discussão:
Conclusão:
Conclui-se com essa exposição de ideias que levar essas discussões a espaços além
da universidade, permitem alcançar uma pequena parcela de pessoas que precisam
desses conhecimento para entender a situação do outro e de si mesmo, socialmente e
historicamente.
65
REFERÊNCIAS:
KILOMBA, Grada. Tradução: Quem pode falar? (Grada kilomba). 2016. Tradução:
Anne Caroline Quiangala. Disponível
em:<http://www.pretaenerd.com.br/2016/01/traducao-quem-pode-falar-grada-
kilomba.html> Acesso em: 12 Setembro de 2018.
Itaú Cultural. Rosana Paulino – Diálogos Ausentes (2016). 2016. (9m24s) Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=7awdUzh9UVg> Acesso em: 10 Setembro
2018.
O Beijo.O corpo negro nas obras de Rosana Paulino. 2017. (3m37s) Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=Y8NMJLyKiXw> Acesso em: 11 de Setembro
de 2018.
67
ANEXO
68
9.ANEXO A
9.91. LISTA DE PRESENÇA PARA AÇÃO PEDAGÓGICA II