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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

KYVIA KELLY DOS SANTOS MONTEIRO

ROSANA PAULINO:
REPRESENTAÇÃO DA MULHER AFRO-BRASILEIRA

NATAL/RN
2018
KYVIA KELLY DOS SANTOS MONTEIRO

ROSANA PAULINO:
REPRESENTAÇÃO DA MULHER AFRO-BRASILEIRA

Pesquisa apresentada à disciplina Trabalho de


Conclusão de Curso II, do Curso de Licenciatura em
Artes Visuais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.

Orientadora: Prof.ª Dra. Bettina Rupp

NATAL/RN
2018

KYVIA KELLY DOS SANTOS MONTEIRO


ROSANA PAULINO:
Representação da mulher afro-brasileira

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura
em Artes Visuais, pela Universidade do Rio Grande do
Norte.

Aprovada em: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________
Componente da Banca Examinadora – Profª Drª Bettina Rupp, UFRN
(Presidente da Banca)

____________________________________________________
Componente da Banca Examinadora - Profª Drª Sofia Bauchwitz, UFRN
(Arguidor)

___________________________________________________
Componente da Banca Examinadora –Prof. Me. Artur Luiz de Souza Maciel UFRN
(Arguidor)
DEDICATÓRIA
A Jackeline Monteiro, minha irmã, por acreditar em mim, por não deixar a memória de
a nossa mãe morrer e junto a ela o amor que temos por ser quem somos e de respeitar quem
está a nossa volta.

Dedico a minha família Mãe, irmã, irmão e pai, pedaços de mim.

A Rosana Paulino, artista que me fez questionar sobre minhas origens, sobre o lugar
que ocupo no mundo e por me mostrar que é possível ser quem que quiser enquanto mulher e
negra.

AGRADECIMENTOS

Agradeço também a Bettina, professora e orientadora que acreditou no conteúdo sem


nem pestanejar e me deu forças nos meus momentos de insegurança e timidez, me mostrou
que sou capaz de apresentar e falar em público.
Comecei a escrever sobre poder,

porque era algo que eu tinha

muito pouco.

Octavia Butler
RESUMO

O objetivo desta pesquisa é compreender, através dos trabalhos realizados pela artista
contemporânea Rosana Paulino, qual o lugar que a mulher negra ocupa na sociedade
brasileira e sua relação com a formação da estrutura social, enraizada no passado extremante
escravocrata, racista e machista, que influenciam no desenvolvimento dos negros
descendentes. Além disso, é visto como o feminismo interseccional intervém beneficamente
pensando a pluralidade das mulheres e fazendo o recorte do feminismo negro a partir de
escritoras como Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales e Angela Davis. Esses
aspectos são encontrados notoriamente na arte de Paulino, especificamente nas obras
Assentamento(2013) e Bastidores(1997), que são analisadas nesta pesquisa uma vez em que
ela altera esses fatos da realidade e transfigura em indagações e denúncias. A forma objetiva
em que a artista passa a sua mensagem em suas produções, utilizando-se das mais variadas
linguagens, como instalações, gravura, fotografia e colagens, torna o processo conciso e
próprio da arte contemporânea.

Palavras-chaves: mulher negra, sociedade brasileira, arte contemporânea, feminismo


negro, Rosana Paulino.
ABSTRACT

The inspiration for this research is to understand, through the works produced by the
contemporary artist Rosana Paulino, the place that black women occupy in brazilian society
and its relationship with the formation of the social structure, rooted in the extreme enslaving,
racist and sexist past, that influences the development of black descendants. In additionto this
social, racial and gender intent, it is seen how intersectional feminism intervenes usefully by
thinking of the plurality of women and making the thematic cutting of black feminism from
writers like Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales and Angela Davis. These aspects
are notoriously found in the art of Paulino, specifically in the works Assentamento (2013) e
Bastidores (1997), which are analyzed in this research since it changes these facts of reality
and transfigures them into inquiries and denunciations. The objective way in which the artist
transmits her message in her productions using the most varied languages, such as
installations, engraving, photography and collages, makes the process concise and proper of
contemporary art.

Key words: black woman, brazilian Society, contemporary art, blackf eminism, Rosana
Paulino.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Lorna Simpson, Guarded Conditions, 1989, Dezoito polaroides coloridas, vinte e
uma placas de plástico 231,1x332,7 cm....................................................................................20
Figura 2- Modesto Brocos y Gomes, A Redenção de Cam, 1895, óleo sobre tela, 199x166 cm.
...................................................................................................................................................24
Figura 3 -Édouard Manet , Olympia, 1863, óleo sobre tela, 130,5 x 190 cm...........................25
Figura 4: Pierre François de Wailly, Mulher da Raça Bosuímana, 1815, litogravura...............28
Figura 5- Augusto Stahl. Expedição Thayer, 1865 e 1866. Fotografia.....................................39
Figura 6– Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................40
Figura 7-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................41
Figura 8-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................41
Figura 9-Rosana Paulino, Assentamento, 2013........................................................................43
Figura 10-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e
costura.......................................................................................................................................44
Figura 11-Rosana Paulino, Assentamento, São Paulo, 2013, Paper clay, madeira, palha e
cordão. Dimensão variável. Vídeo: Mar Distante. Duração do vídeo: 22 minutos..................45
Figura 12-Rosana Paulino, Bastidores, 1997.Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro....................................................................................................47
Figura 13-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro....................................................................................................48
Figura 14-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro....................................................................................................49
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................11
2. FEMINISMO NEGRO ......................................................................................................16
2.1. FEMINISMO E ARTE CONTEMPORÂNEA .................................................................20
2.2. TRÊS EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NA ARTE .…….24
3.SOBRE IDENTIDADE .......................................................................................................30
4. A RELEVÂNCIA DO PASSADO ESCRAVISTA NA CONSTRUÇÃO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA ................................................................................................33
5. ROSANA PAULINO COSTURANDO NOVOS SIGNIFICADOS .......................…....36
5.1.Assentamento(2013)............................................................................................................39
5.2.Bastidores(1997).................................................................................................................47
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................52
7. REFERÊNCIAS .................................................................................................................55
8. APÊNDICES........................................................................................................................58
8.1. Ação pedagógica I ..............................................................................................................59
8.2. Ação pedagógica II ....................…….................................................................................62
9. ANEXOS ..............................................................................................................…....…....68
9.1.Lista de presença para ação pedagógica II………………………………………………...68
11

1. INTRODUÇÃO

A arte de Rosana Paulino serve como arcabouço para a busca da


representatividade da mulher Afrodescendente brasileira. Assentamento (2013) e
Bastidores (1997) são obras que representam o modo que Paulino busca, por meio da
arte, questionar padrões estabelecidos como modelos de beleza, gênero e sociedade, que
são perpetuados por meio das mídias.
Assentamento obra composta por instalações que formam uma obra completa,
discutem pautas como a reestruturação após a abolição dos negros que foram
escravizados processo feito sem nenhum um tipo de suporte. Sobre os povos vindos do
continente Africano que se assentaram no Brasil e formaram a cultura brasileira.
Bastidores série de fotografias impressas em tecido e colocadas em cinco
bastidores, são fotos 3x4 de mulheres negras, as quais estão com pontos específicos do
rosto costurados, pontos de expressão e comunicação que denotam a violência direta
ligada as mulheres negras na sociedade brasileira.
Ela, enquanto mulher brasileira negra, tem total propriedade para tentar se
perceber em nossa sociedade intensamente massificada pelos meios de comunicação,
encontrar o “eu identitário” em um meio social, no qual que pessoas afro-brasileiras não
possuem reconhecimento.
A arte de Rosana Paulino é singular, ao tentar se encontrar enquanto indivíduo na
sociedade brasileira ela vai a fundo ao passado cruel do país, e principalmente, quando
se trata das mulheres negras.
Nesta discussão tradicionalmente entra em pauta a questão do gênero, quando se
fala de bordado e costura que se restringem ao universo imposto como feminino. Sobre
as mulheres negras e feminismos; modelos de beleza e etnia quando se fala da mulher
negra, da qual a estética sempre foi anulada, estigmatizada e estereotipada como a mãe
gorda agradável e amável (reflexo da ama de leite) que cozinha ou a mulher
“barraqueira” que fala alto, sem educação e ainda sexualizada (“a mulata”) entre outros
estereótipos. A citação de Santana, mostra que esses esteriótipos são derivados do
processo de escravização que se perpetuam através das artes entre outros meios.

Essa política de estereótipos faz parte de um discurso colonial bastante


disseminado, o qual, por meio de livros, mapas, desenhos, pinturas,
censos, jornais e propagandas vão criando um mundo engessado
enquanto representação, feito cartografia com lugar previamente
12

delimitado e definido (SANTANA, 2016, apud SCHWARCZ, 2014,


p.13)

Os estereótipos relacionados a população negra são processos da herança


colonial que estão impregnados e normalizados, na estrutura do Brasil. As mídias e a
artes são os maiores influenciadores deste tipo de pensamento racista contribuindo para
a normalização desses conceitos.
O bordado e a costura, enquanto produção estritamente feminina e atividade
doméstica tomam uma nova forma no trabalho de Paulino, porque o modo que ela
modifica os valores inferiores atribuídos ao bordado permite um novo olhar que
possibilita uma crítica aos moldes hierárquicos artísticos, de gênero e sociedade.
Em suas obras como Assentamento, por exemplo, ela atribui sentimentos obriga a
sociedade enxergar essa mulher, objetificada como instrumento de estudo em
fotografias científicas, visualizando-as aparecem em destaque a cor da pele, textura do
cabelo, o corpo como existente real e no mundo, como corpo presente que se estende a
alma ao coração, maternidade, feminino, suas raízes e ser humano.
Na busca por uma compreensão da imagem das mulheres negras na sociedade
atual em que vive e também a procura por uma nova imagem, Paulino pesquisa e traduz
as suas investigações na apropriação de fotografias antigas de sua família e muitas vezes
de estudo e de registro do passado. Em suas gravuras, ela utiliza costura e o bordado
para, misturados em suas funções, transformam-se em objetos de trabalho, que
deflagram ao poder e violência. Comunicar-se de maneira impactante com esses
materiais mostra ainda mais a multiplicidade da arte e da artista.
Sobre a vida doméstica nota-se que a cozinha e a costura, tidos como atividade e
lugar restritos somente as mulheres, se expressam quando usados no trabalho de
Paulino. Na sua produção, esses componentes não são mais considerados elementos
opressores, mas sim elementos de falam e na construção de suas obras expõem
preconceitos.
Tendo como referência o livro da escritora e autora de Mulheres, raça e classe,
Ângela Davis1, comenta sobre a vida doméstica, que tinha uma importância singular
para as mulheres negras. Isso porque esses espaços lhe propiciavam a vivência
verdadeira como ser humano, pois as mulheres negras não eram diminuídas por sua
vivência caseira tanto em ambiente familiar como de trabalho, como eram as mulheres

1Professora e filósofa socialista, integrante do Partido Comunista, dos Panteras Negras, militante pelos
direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.
13

brancas, fazer o trabalho doméstico para a mulher negra lhe gerava alicerce para sua
autonomia, os homens também se beneficiavam, uma vez que mesmo submetida ao
abuso, era elevada ao lugar central na comunidade escrava. Ao recordar o fato da
mulher negra ser força de trabalho bruto tanto quanto o homem negro elas não eram
diminuídas por suas funções domésticas. Identificando a condição das mulheres brancas
que se sentiam limitadas e vazias em suas funções em âmbito doméstico, ao serem
consideradas donas de casa. As mulheres negras não obtinham o poder de serem donas
de nada, ainda mais donas de casa.
O trabalho doméstico justamente por ser depreciado pelas mulheres brancas as
quais tinham que seguir a ideologia de feminilidade, “um subproduto da
industrialização” (DAVIS 2016, p.24). Ser mulher era sinônimo de mãe e dona de casa,
o que era condicionado à inferioridade feminina e, portanto foi ao mesmo tempo a
possibilidade da mulher negra conseguir obter seu sustento, inclusive muitas vezes,
alicerce da família inteira, mesmo sendo alvo de opressão por ser destinado
exclusivamente às mulheres.
O princípio da industrialização também colaborou para que as atividades
manuais tidas como menores fossem ainda mais rebaixadas, levando as mulheres
(brancas) ao consumismo de produtos industrializados e se desfazendo da necessidade
de produção e consumo de produtos e atividades manuais.
A necessidade de entrar no contexto das atividades domésticas como o bordado e
a relação com a casa em geral, é compreender como os materiais usados por Paulino,
além da forma em que suas obras são expostas, não são apenas os materiais que
constroem a obra, mas fazem parte do conceito. Analisar a representatividade da mulher
negra na arte e sociedade a partir dos trabalhos da artista Assentamento (2013) e
Bastidores (1997) é entender, através de uma análise de sua obra no contexto da arte
contemporânea, sobre as ondas feministas e sobre a influência do passado escravista no
Brasil e como esses processos influenciaram a formação da identidade da comunidade
negra e de como foram construídos preconceitos na sociedade até os dias atuais. É por
meio das suas obras em questão, que foi investigado o processo de construção de
identidade e representatividade das mulheres negras.
A vida de Rosana Paulino influência a sua vida artística, desde o contato com
materiais manuais que instigaram sua criatividade enquanto artista, quanto sua situação
pessoal e familiar enquanto pessoas negras de origem umilde. Isso reflete na sua forma
14

de fazer e arte e como ela utiliza disso como meio de comunicação, como um desabafo,
um grito, uma denúncia.
Esta pesquisa teórica foi realizada após a constatação de que se faz
necessário o estudo de artistas negras e negros contemporâneos que e
principalmente não tenham medo de falar sobre ser negro no universo das artes.
A artista nos faz refletir sobre a busca da identidade em suas obras, traz para o
centro das discussões a procura por uma nova representação e mostra como, na
produção de seus trabalhos, propõe através da sua sensibilidade artística como ela pode
vir a impactar diretamente a maneira como os indivíduos Afrodescendentes se enxergam
na arte brasileira e na sociedade.
A consciência histórica formula uma relação mais consistente para cada povo e
por isso a busca pelo passado é algo presente na sociedade em que vivemos. Conhecer o
passado permite o processo de construção do ser e propicia perpetuar esse
conhecimento.
A história contada sobre o passado dos afro-brasileiros é de uma perspectiva do
“outro” de maneira negativa e pejorativa. Nesse sentido, autodefinição se faz necessária
para a procura pelo passado e a revisitação do mesmo. E essa visão do “outro” acaba
implicando no modo em que a mulher negra se enxerga.
Pensado assim, não existe representatividade das pessoas negras na sociedade
como um todo, categoricamente no feminismo também não, isto é, as mulheres negras
têm muito espaço para ser conquistado.
O ponto forte do trabalho de Rosana Paulino é a busca pela imagem perdida dos
afros brasileiros, principalmente das mulheres, pois, é através da cultura e da história
que ela reconstrói uma imagem esquecida e até mesmo inexistente.
Levar ao público uma artista contemporânea negra que questiona o seu lugar na
sociedade. Através da sua estética e questionamentos, Paulino movimenta discussões
sobre identidade e representatividade ao público. Expandindo um novo mundo de
conhecimento, história, fornecendo voz a esses personagens invisíveis e silenciados,
ressignificando a imagem por meio denúncias e possibilidades de uma nova história.
Para prosseguir com ênfase o estudo sobre a artista se faz necessário uma
pesquisa que tem com fundamento abordagem e caráter exploratório qualitativo, de
natureza básica teórica, buscando atingir o melhor resultado pelo método de estudo de
caso através de análises de entrevistas e dados coletados das obras de Paulino e
pesquisas a partir de artigos, livros e teses de escritoras como Angela Davis, Djamila
15

Ribeiro e Sueli Carneiro. Em paralelo as produções de artistas como a Grada Kilomba e


Lorna Simpson auxiliam na análise das obras de Paulino e de movimentos feministas
principalmente da segunda para a terceira onda que se desenvolveram em meados dos
anos 1960 até os dias atuais. A maioria dos artistas contemporâneos e seu novo modo de
pensar e fazer arte que em sua maioria criticam formas de pensamento e atitudes
opressoras e abusos de poder, tanto sobre sociedade quanto de gênero e diversidade,
como exemplo: Grada Kilomba, Lorna Simpson, Cindy Sherman e Kara Walker.
Também serviu de embasamento teórico para a construção deste TCC.
Laborar com artistas e escritoras negras é indispensável, justamente pelo fato de
tratarem de certos conteúdos, como a questão do feminismo negro e o lugar em que a
mulher negra ocupa na sociedade e assim como no campo da arte, com mais
importância e propriedade do que outros (as) autores (as) que tratam apenas esses temas
como um simples exemplo que na realidade representa algo com maior complexidade e
que exige maior atenção.
As leituras dos artigos e livros foram feitos simultaneamente com a assimilação
das entrevistas com Paulino, na busca de encontrar situações e conteúdos paralelos que
se conectassem ao processo de produção até a arte finalizada da artista relacionando
com o conteúdo teórico pesquisado.
Os artigos, entrevistas e alguns livros, pela facilidade de localização foram
encontrados na rede de internet. As análises das obras de Rosana Paulino são feitas
todas por meio de imagens disponíveis em de sites incluindo o site da artista, que possui
algumas de suas produções e entrevistas dadas pela mesma, todos os títulos e algumas
obras são expostos pela galeria que a representa, os cenários e instalações recortes das
obras são dispostos individualmente, facilitando assim a observação mais detalhada,
como é o caso das fotografias, costuras, visualização do tecido, materiais usados, e o
uso mínimo das cores em seu processo de produção.
16

2. FEMINISMO NEGRO

Faz-se necessário evidenciar os problemas sociais, históricos e artísticos


relacionados diretamente a mulher negra, os quais se diferem das colegas brancas, por
isso a importância da interseccionalidade, que faz pensar sobre mulheres e suas
diferenças. De acordo com RIBEIRO, 2016 não pode haver prioridade de uma opressão
sobre a outra, a opressão que um indivíduo sofre não inibe a do outro.

[...] As feministas que aderiram à interseccionalidade diz respeito à


tentativa de enfocar em que medida raça, gênero e classe social
interagem com a realidade sócio material da vida de mulheres na
(re)produção e transformação de relações de poder. (GONZALEZ,
apud RIBEIRO, 1995 p. 47.)

De acordo com Djamila Ribeiro (RODRIGUES apud RIBEIRO, 2015, p.47.) O


feminismo vem pensando a categoria das mulheres de forma universal sem levar em
consideração a vivência de outras mulheres, o ponto de vista é sempre o da mulher
branca de classe média.
Segundo o mapa da violência, as taxas da população branca tendem a cair
historicamente, enquanto a população negra é vítima prioritária no Brasil, por isso o
índice de mortes da população negra cresceu de forma drástica. O número de
homicídios de mulheres brancas cai de 1.747 vítimas, em 2003, para 1.576, em 2013.
Isso representa uma queda de 9,8% no total de homicídios do período. Já os homicídios
de negras aumentam 54,2% no mesmo período, passando de 1.864 para 2.875 vítimas.
(JACOBO, 2015, p.83.)
A diferença não existe apenas na questão social, mas também em relação à
história, pois a referência de mulheres brancas é escassa e a menção às mulheres negras
é menor ainda. Temos como exemplo Dandara que ao lado de seu parceiro Zumbi dos
Palmares lutou contra a escravidão e participou fortemente da resistência do quilombo,
no entanto, quando escutamos a história, a participação dela é ocultada, assim como a
participação de outras mulheres negras no decorrer da história. Mulheres negras
produtoras de conteúdo intelectual, pensadoras, são desprezadas pela cultura branca
hegemônica. Esse lado da narrativa que foi omitida está sendo descoberta e exibida
atualmente. Assim, as mulheres negras estão se descobrindo no mundo e
compreendendo que elas podem ocupar espaços que até então eram restritos. A ruptura
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dessas barreiras se dá a partir do momento em que discussões como essas são levadas a
frente, como forma de reconfigurar a sociedade.
Na história da arte acontece o mesmo, estudamos homens brancos europeus e
mulheres brancas, mas homens e mulheres negras são muito raros na arte, com isso se
faz o questionamento se realmente existem esses artistas, e a resposta é sim! Eles
existem, mas em sua maioria a arte produzida por artistas negros não é exibida e
discutida em sala de aula, ou em qualquer tipo de mídia. Existem negras e negros
representados na arte apenas enquanto objeto nas obras, sendo representados como mais
uma peça de fundo, ou a visão de um ser exótico, por mais que em alguns casos não
fosse essa verdadeira intenção acabam reforçando noções estereotipadas “de
inferioridade racial” (DAVIS, 2016 p. 185).
Em Feminismo negro para um novo marco civilizatório (2016), Djamila Ribeiro
pleiteia os pensamentos de Kilomba2 e Simone de Beauvoir3, quando debate sobre a
mulher em relação ao homem branco, quando a mulher sempre é vista pelo homem no
lugar da subordinação onde os argumentos feministas são atribuídos ao ser mulher, no
caso a mulher branca.
Djamila também cita Kilomba que discute a semelhança entre o homem negro e
a mulher branca, eles se igualam em seus poderes dentro da sociedade, sendo vistos
como sujeitos. Em Feminismo negro para um novo marco civilizatório, Djamila Ribeiro
(2016) comenta que pensar sobre o Feminismo Negro serve para analisar não somente
as mulheres negras, mas ao modelo de sociedade que queremos. Quando nos
questionamos sobre o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade brasileira,
estamos destacando mulheres que sofrem desigualdade de gênero, social, econômica e
essas temáticas englobam vários problemas na sociedade brasileira, discutir sobre
feminismo negro vai além da igualdade de gênero, objetiva atingir mulheres de baixa
renda, baixa escolaridade que estejam em desvantagem em relação ao conhecimento só
assim será uma luta justa em que todas as mulheres sejam notadas e lutem juntas.
Angela Davis em Mulheres, cultura e política, 2017, fala sobre o
empoderamento da mulher afro-americana e de como se organizam em grupos na
tentativa de obter poder econômico e político, pois as pautas, apesar do esforço das
ativistas brancas em trazer mulheres de minoria étnica para dentro do movimento, as

2Grada Kilomba (1968) é uma artista e escritora interdisciplinar portuguesa que vive em Berlim.
3Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política,
feminista e teórica social francesa.
18

preocupações específicas dessas mulheres não eram incluídas nas pautas, sendo assim
foi necessária a formação de outros grupos feministas.
Davis comenta que a intenção não era causar separação entre as mulheres, mas
que se fazia necessário esse espaço para as discussões das mulheres negras.

[...] não estabelecemos limites de cor; nós somos mulheres, mulheres


estadunidenses, tão intensamente atraídas por tudo o que nos diz
respeito quanto todas as outras mulheres estadunidenses; não
queremos alienar nem afastar, estamos apenas assumindo a linha de
frente, dispostas a nos unir a quaisquer outras pessoas no mesmo
trabalho e cordialmente convidando e dando as boas-vindas a todas
que se unirem a nós. (DAVIS, 2016 p.16.)

“Ergue-nos enquanto subimos” frase adotada pelas mulheres negras pelo


movimento associativo, demonstra o poder da união e entrosamento entre todos os tipos
de mulheres é essencial para a busca de poder e igualdade de direitos, enfatizando que a
homogeneidade do ser mulher, desconsidera a existência das demais etnias.
O feminismo de forma geral deseja uma sociedade sem hierarquia de gênero, seu
processo de amadurecimento e crescimento se deu a partir de divisões em ondas, sendo
que as ondas que tentaram introduzir o conteúdo sobre mulheres negras na pauta e o
surgimento de movimentos de mulheres negras é a partir da segunda onda (1960-70)
que as desigualdades sociais e políticas entraram no contexto das lutas. Além da luta
pelo direito do trabalho, da sexualidade e contra a violência sexual segundo a Filósofa,
feminista e acadêmica brasileira Djamila Ribeiro (2014), no Brasil, o feminismo negro
começou a ganhar força no fim dessa década, começo da de 80, lutando para que as
mulheres negras fossem sujeitos políticos e principalmente a terceira onda, que se inicia
nos anos de 1990, o recorte de classe e raça se faz necessário nas discussões feministas.

A relação entre política e representação é uma das mais importantes


no que diz respeito à garantia de direitos para as mulheres e é
justamente por isso que é necessário rever e questionar quem são esses
sujeitos que o feminismo estaria representando. Se a universalização
da categoria mulheres não for combatida, o feminismo continuará
deixando de fora diversas outras mulheres e alimentando assim as
estruturas de poder. (RIBEIRO, 2014)

Enfatizar a intersecção como prioridade e não como assunto secundário, torna o


movimento feminista mais consistente sabendo lidar com as opressões dos outros
19

grupos, como o racismo, lesbofobia, e assim não alimenta estruturas de poder por incluir
a diversidade das mulheres.

[...] o projeto feminista negro desde sua fundação trabalha o marcador


racial para superar estereótipos de gênero, privilégios de classe,
cisheteronormatividades articuladas em nível global. (AKOTIRENE,
Carla, 2018 p.18.)

Um exemplo do feminismo hegemônico é o fato das mulheres brancas


reivindicaram direitos por sofrerem discriminação ao ficarem mais velhas em relação ao
mercado de trabalho, por serem consideradas velhas para o mercado e perderem o
direito a aposentadoria aos familiares, enquanto mulheres negras estão são mantidas
longe do trabalho formal, trabalhando além da idade permitida, ou antes, da idade
permitida como o trabalho infantil. Neste relato percebe-se a diferença de raça
desmedida, segundo Akotirene (2018, p.22.) em O que é interseccionalidade?, “raça
impõe a mulher negra a experiência de burro de carga [...] para a mulher negra inexiste
o tempo de parar de trabalhar, vide o racismo estrutural.”
Um paralelo importante que pode ser feito entre a frase da escritora Simone de
Beauvoir, em que ela diz que não se nasce mulher, torna-se mulher, a discussão sobre o
feminino como sendo uma imposição social e não biológica, me faz lembrar um
discurso feito por Sojourner Truth em 1851, intitulado “E eu não sou uma mulher?” na
Convenção dos Direitos das Mulheres em Ohio.

Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa
carruagem, é preciso carregar elas quando atravessam um lamaçal e
elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me
ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede
o melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para
meu braço! Eu capinei, eu plantei, juntei palha nos celeiros e homem
nenhum conseguiu me superar! E não sou uma mulher? Eu consegui
trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando tinha o que comer
- e também agüentei as chicotadas! E não sou uma mulher? Pari cinco
filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei
minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou
uma mulher? (TRUTH, 1851, p. 36.)

O depoimento emocionante de Truth (1851) leva a crer que esse modelo do que
é ser “mulher” trata-se da mulher branca, e que a situação em que a mulher negra ocupa
não é uma condição de ser humano.
20

Mulheres brancas e negras ambas sofrem opressão, mas existe uma diferença
explicita entre ambas que deve ser vista e compreendida, para ser aos poucos algo que
não tenha mais necessidade de luta por igualdade e olhar compreensivo em relação ao
outro. Sendo assim se faz necessário esse recorte racial no movimento feminista. E a
importância da arte uma vez sendo meio principal de disseminação de estereótipos e
visões preconceituosas do outro, na arte contemporânea a mulher cria a sua.

2.1 FEMINISMO E ARTE CONTEMPORÂNEA

Na arte contemporânea o outro encontra a sua voz, questionando o lugar que


cada indivíduo ocupa na arte, buscando mudar a forma em que a sua história foi contada
por homens brancos e tentando retirá-los do pedestal o feminismo questiona a
deformidade criada pelo modernismo que consideravam apenas metas do individuo
masculino europeu.

Ser o outro é ser considerado menos que o individuo do sexo


masculino e menos do que o branco, de descendência europeia. O
outro é visto como marginal, um elemento secundário na grande
narrativa da história mundial.
(HEARTNEY, 2012, p. 65.)

Isso significa que o outro, no caso as mulheres enquanto oprimidas tomam poder
do que as constroem enquanto mulheres e mais além, um ser humano, fazem arte
criticando padrões machistas. Como Heartney (2012, p. 51) diz “o provedor privilegiado
da verdade e realidade” tem sua verdade e realidade indagada pelas mulheres.
Levantando questionamentos sobre feminilidade, Linda Nochlin que escreveu o Porquê
não existem grandes artistas mulheres? (2016) Ela propõe que artistas, pesquisadoras e
escritoras questionem a representação da mulher na arte e na publicidade, recorrendo a
estudos da psicologia, sociedade e história. Elas se apropriam daquilo que pertence às
suas vidas, enquanto mulheres e criticam os padrões machistas em suas produções
artísticas.
Lorna Simpson artista negra afro-americana trata sobre estereótipos, mostra
como ser mulher negra resulta em invisibilidade dupla na obra Condições guardadas
(1989) ela expõe mulheres negras de costas alinhadas em série com os braços cruzados
21

para trás, atestando vulnerabilidade, logo abaixo expõe as frases “sexo agride” e “pele
agride”.

Figura 1- Lorna Simpson, Guarded Conditions, 1989, Dezoito polaroides coloridas, vinte e uma
placas de plástico 231,1x332,7 cm.

Fonte: https://www.caoscultural.com.br/single-post/2018/02/28/Lorna-Simpson-a-
percep%C3%A7%C3%A3o-das-mulheres-negras

Simpson enquanto minoria se apropria da visão estigmatizada da mulher negra e


questiona, botando a frente a imagem da mulher negra, ou seja, a mulher negra
protagonista não apenas na obra mas enquanto artista, ela se comunica com sua própria
angústia.
A busca pela identidade passou a ser o foco, até se descobrir que a identidade
pode ser vista como prisão ou como liberdade, torna-se prisão quando ela é imposta, ou
seja, normas que conservam a ordem cultural e social desigual; a identidade liberal é
aquela que desestabiliza a ordem identitária vigente comandada pelas minorias que de
acordo com Kepler (2015, p.213.) são “sujeitos sociais oprimidos com uma condição
social e cultural inferiorizada, explorada e moralizada”. A identidade vista como algo
dado e não construído, é uma identidade fechada “O fechamento da identidade sobre
alguém obriga essas pessoas a comportamentos, expectativas e autocobranças
específicos” Paula Ávila Kepler (2015, p. 213.) funciona como processo de
aprisionamento.
A questão sobre a identidade parece ser muito mais complexa, pois sendo assim,
ela sempre será vista como opressora e nunca como libertária. Por mais que seja entre
22

minorias, consistiria em um nível de poder entre as próprias minorias, pois sempre a um


padrão a se seguir seria mais parecido como atingir um nível de igualdade sem levar em
conta a individualidade. Percebe-se que não se trata sobre identidade, mas
possivelmente de representatividade, se refere como essas minorias são vistas e
representadas na sociedade, como essas minorias são vistas pelo filtro do homem branco
ocidental e de como elas querem ser vistas. Estar em espaços que nunca ocuparam
historicamente é essencial, porém a representação de uma figura única retratando um
determinado grupo não é o suficiente. Assim, a artista Kilomba em vídeo comenta
acerca de identidade,

Eu vejo aquilo que eu não sou, vejo-me a mim mesmo ou a minha


identidade ser representada de uma forma que eu não sou. Mas sou
também forçado a olhar para mim através da perspectiva dominante
do sujeito branco. E isto é a base da alienação, trauma e decepção.
(KILOMBA, 2016.)

Em uma performance da artista interdisciplinar e escritora Grada Kilomba


intitulada Alienação e imagem (2016), Kilomba apresenta sua visão sobre a
manipulação da imagem que é vista como uma forma de alienação, o que firma a
questão da representação da figura do outro, a partir da visão do outro.
Alterar essa visão é o papel principal do contemporâneo, a qual rejeita
referências que representam a arte moderna. A maioria das artistas contemporâneas são
obstinadas a debater suas causas, falam sobre aquilo que ninguém quer falar, dialogam
sobre si mesmas e sociedade, falam sobre o que é ser humano em sua época, criticam,
instigam o pensamento, e vão além da tinta, pincel e uma tela em branco, elas procuram
objetos cotidianos e usam o próprio corpo como forma de expressão.
No livro sobre arte e pós-modernismo da autora e editora colaborativa do Art in
amercica e artpress, Heartney Movimentos da arte moderna: Pós modernismo, 2012, p.
52.) há uma frase de John Berger, em que ele diz: “homens agem e as mulheres
aparecem. Homens olham as mulheres. Mulheres observam a si mesmas sendo
olhadas”. Essa frase chama atenção e faz pensar que as mulheres em momento nenhum
têm poder sobre si, quando elas presumem tomar posse do que as pertence muitas vezes
reproduzem discursos machistas, esse processo de reconhecimento foi o que marcou o
feminismo no pós-modernismo, algumas negam a feminilidade, outras abraçam com
tom de crítica escolhem as características que as oprimem e transformam em arte, em
23

questionamentos substanciais “partilham seu desconforto com uma estética que liga o
prazer visual à objetificação das mulheres”. (HEARTNEY, 2012, p. 54.)
Sobre “mulheres observarem a si mesmas sendo olhadas” se refletir melhor na
perspectiva da mulher negra, quando ela observa a si própria na mídia sua figura é
invisível, sempre passando despercebida, isso envolve também o fator do colorismo,
para Tainan Maria Guimarães Silva e Silva é graduada em Direito pela Universidade
Federal da Bahia – UFBA. Participação em grupo de pesquisa Direito de povos e
comunidades tradicionais. Interesse nas áreas de Direito Civil, Direito Constitucional,
Direitos Humanos e Ações afirmativas, para ela colorismo trata-se:

O colorismo estaca um tipo de discriminação que enfatizava os traços


físicos do indivíduo, questões determinantes para revelar o valor que a
ele seria dado em sociedade. Dessa forma, aspectos fenotípicos como
um cabelo notadamente crespo, um nariz arredondado ou largo que
são associados à descendência africana, também influenciam no
processo de discriminação no denominado colorismo. (SILVA, 2016 p.
12.)

A partir disso, quanto mais retinta for a pele e mais aproximado aos traços
africanos da mulher representada mais invisível ela será, sempre em papéis de
subordinação, mas a medida que a pele for clareando, seu papel será restrito a
sexualização, a chamada “mulata”. Elas nunca são vistas como de fato são, a maneira de
existir dessas mulheres é voltada para o aspecto exagerado e por certas vezes esse modo
de agir e de se enxergar são tão opressivos que chegam a virar realidade na vida dessas
mulheres onde elas compreendem que seu lugar é aquele e não há possibilidade de
outro. Absorver essas representações, na construção da identidade faz com que essas
mulheres se enxerguem assim, não havendo outra opção de como ser, mas não são
apenas elas que se enxergam assim, mas a sociedade também. Segundo Silva, “Através
do colorismo apenas cria-se a ilusão de que parte da população negra é imersa nos
espaços, quando, na verdade, àquela população de pele mais escura é negada qualquer
possibilidade de acesso”. (2016, p.13.)
A mulher habita a tela, pintura desenho e o lugar de artista. Quando se fala de
Rosana Paulino, em suas obras percebe-se o questionamento de forma de denúncia.
Mulheres brancas viviam em uma redoma nas representações artísticas pictóricas
assim como as mulheres negras, eram aprisionadas a imagem de serviçais, escondidas
em uma penumbra ou como objetos de estudo, vistas como exóticas e erotizadas.
Apenas como exemplo do estranho, curioso e primitivo, Paulino torna esse lugar da tela,
24

da fotografia e dos desenhos em formas de oposição uma vez em que as mulheres em


geral sempre estiveram presas nas representações através dos olhos dos outros: os
homens brancos. Uma vez em que elas comandam esses “olhos”, transformam esse
lugar muito além de representações vazias, mas sim, de revelar quem elas são.
Paulino se apropria do passado agregando memória a uma história mal contada
sobre as mulheres negras, ressignifica as imagens dessas mulheres que foram
desumanizadas e carregam esse fardo da violência, racismo, desigualdades de gênero,
social e econômica, nas duas obras que são alvo nesta pesquisa Assentamento e
Bastidores. Paulino também segue sua jornada de artista sem muitas bases de
referências de negros nas artes tanto pintores quanto nas representações ao longo da
história da arte, restrito aos artistas europeus.

2.2 TRÊS EXEMPLOS DE REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA NA ARTE

De acordo com os estudos e análises de obras do período de (1850-1940) de


Tatiana Lotierzo (2017) fica evidente qual o lugar que a mulher negra ocupa na arte,
segue três exemplos. No primeiro exemplo Lotierzo faz uma análise com a obra
Redenção de Cam do pintor Modesto Brocos, sobre uma velha senhora que agradece
levantando as mãos para o céu enquanto sua filha mestiça segura seu filho (branco) nos
braços. Sentado ao seu lado está o pai da criança que sorri satisfeito, esta obra em
especifica foi feita no Brasil e representa o reflexo de uma sociedade racista. Usada por
médicos pesquisadores da época como representação das pesquisas de
embranquecimento da população, A Redenção de Cam evidencia a naturalização de
propagação do racismo “a mestiçagem seria apenas transitória e benéfica, uma vez em
que não deixaria pistas.” 4

4LOTIERZO, Tatiana. Contornos do (in)visível: Racismo e estética da pintura brasileira (1850-1940)-São


Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2017.
25

Figura 2- Modesto Brocos y Gomes, A Redenção de Cam, 1895, óleo sobre tela, 199x166 cm.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Reden%C3%A7%C3%A3o_de_Cam

No primeiro exemplo Lotierzo comenta a estética da obra A rendenção de Cam


traduz (1895) a naturalização da visão da elite e da perspectiva acadêmica de artes da
época. Há uma conformação com o preconceito racial, visto como algo natural aos
olhos da elite, que visualiza esses corpos através de um filtro delimitador social que se
traduz nas vestimentas, cor da pele e características físicas, ou seja, a pobreza tem cor e
não é branca. Sobre o título da obra, a redenção está ocorrendo a partir do momento em
que a senhora é abençoada com a vinda de seu neto branco, esta situação representa a
personificação da negação da negritude, “tratada como condição obrigatória para
acessar o paraíso” 5 As pinturas brasileiras dos séc. XIX e XX em sua maioria refletem
uma estética uniforme do ser humano como sendo europeus e ocidentais.
De acordo com o pensamento de Tatiana Lotierzo, o segundo exemplo refere-se a
representação da mulher negra, com a obra Olympia de Édouard Manet (1832-1883),
onde em primeiro plano é retratada uma menina de corpo esguio e estreito deitada
cobrindo sua genitália com as mãos, logo atrás está uma mulher negra de corpo
volumoso e rosto marcante á direita, está a serviço da jovem segurando um buquê de
flores. Essa relação segundo Lotierzo, entre as duas mulheres de etnias diferentes, causa
5LOTIERZO, Tatiana (2017) Contornos do (In)visível: racismo e estética na pintura brasileira (1850-
1940)
26

efeito de contratempo uma vez que a existência da mulher negra no quadro pode ser
vista como figura que compromete a brancura de sua senhora.
Esta pintura de Édouard Manet introduziu uma mulher negra em uma de suas
obras, intitulada de Olympia. Mas não foi a imagem da mulher negra que gerou
polêmica, mas o fato de exibir uma prostituta conhecida na cidade e atribuindo-lhe o
título de Deusa ao chamá-la de Olympia, e ao seu lado incluindo uma criada, mulher
negra na obra, havendo uma confusão entre os padrões formais e ideológicos exigidos
pela academia de Arte na França, os quais foram violados e desrespeitados.
Aparentemente a intenção de Manet não é causar nenhum espanto, ou tão pouco
levantar alguma discussão sobre o assunto relacionado a personagem negra mimetizada
no fundo escuro, apenas obter um contraste entre claro e escuro na sua obra. Usando o
branco e o preto.

Figura 3 -Édouard Manet , Olympia, 1863, óleo sobre tela, 130,5 x 190 cm.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Olympia_(Manet)

Nota-se nas representações como a pintura Figura 3 Olympia de Manet por


exemplo, a mulher negra é vista negativamente e retratada, interpretada de formas
limitadoras e preconceituosas, onde seu corpo é amaldiçoado e relacionado ao impuro
pelo fato de comprometer a brancura da moça. A figura do negro sempre como plano de
fundo e em situação de servidão devido a cor da pele e outras características que a
determinam como sendo de mulheres negras.
27

Retornando a Rosana Paulino, em Assentamento o corpo da mulher negra está


despido e exposto. Faz pensar sobre a estética e padrões dos corpos nas artes visuais e
esse corpo negro que em maior parte é despido, julgado, visto como impróprio, feio,
feito de chacota e invadido. Na obra de Paulino esse corpo toma para si a
responsabilidade e a beleza de ser negro que carrega cicatrizes e conta uma história,
carrega uma memória um corpo político que comunica um passado fictício, mas que
possibilita a visão de ser humano a mulher retratada na fotografia. Discutir sobre o que
seria belo é relativo e subjetivo, mas ação de compreender as diferenças e diversidades
do outro, é essencial. Ser negro é lindo. A estética de quando se é negro é um ato
político, onde as características que definem o sujeito enquanto negro são acentuadas e
valorizadas como cortes de cabelo até expressões culturais, por exemplo, que não
seguem a estética padrão das sociedades dominantes.

Para Lotierzo, há também um olhar de curiosidade, certo voyeurismo em relação


às mulheres ligado ao cinema e as artes “O lugar do olhar define o cinema [e as artes],
possibilidade de mudá-lo, variá-lo e expô-lo. [...] Indo muito além de iluminar uma
mulher para ser olhada /confundir-se com o ato de olhar, o cinema constrói uma maneira
pela qual ela deve ser olhada como parte do próprio espetáculo”. As mulheres são
retratadas e vistas pelo olhar masculino que as restringe a papéis eróticos “cobiçados
pelo prazer do homem heterossexual” (LOTIERZO, 2017, p. 202.). Voltando a obra de
Paulino, as fotografias de Auguste Stahl (1828-1877) fotografo que contribui para a
pesquisa de Louis Agassiz serviam também como Voyeurismo, com as fotografias o
desejo do desconhecido que se tornava real, ao serem despidos consequentemente
destituídos de civilização e humanidade para serem fotografadas. Assim como as
mulheres brancas que são retratadas despidas a partir do olhar masculino desde sempre
das obras de arte até as telas de cinema.

Em ambos os trabalhos de Rosana Paulino, ela não é conivente com a exposição


de imagens controladoras sobre a condição da mulher negra como um espetáculo, ao
contrário ela constrói uma identidade para emponderá-la, a mulher negra não é vista
como um ser indefeso, mas como mulheres resistentes, dotada de força. Lembra que
todas as mulheres negras conhecedoras do que as oprime, lutaram contra as opressões
para ter seu lugar de poder, as mulheres representadas por Paulino denunciam e resistem
a partir dessa afronta, ter consciência dos problemas que as atingem e comunicar as
28

opressões é dar voz as mulheres do passado e garantir a luta das mulheres atuais e do
futuro.

Como as mulheres afro-americanas enquanto grupo conseguiram


encontrar a força para se oporem à nossa objetificação como “as
mulas do mundo” (“de mule uh de world”)?Como conseguimos
justificar as vozes de resistência de Audre Lorde, Ella Surrey, Maria
Stewart, Fannie Barrier Williams e Marita Bonner? Que base serviu
desustentação para que SojournerTruth pudesse perguntar “Não sou eu
uma mulher?” As vozes dessas mulheres afro-americanas não são de
vítimas, mas de sobreviventes. Suas ideias e ações não só sugerem que
existe um ponto de vista autodefinido e de grupo de mulheres Negras,
mas que sua presença foi essencial para a sobrevivência das mulheres
Negras norte-americanas. (COLLINS, Patrica Hill, 2018, p. 3.)

Ser mulher negra que tem a voz ativa nos movimentos e ser intelectualmente
dinâmica torna-se uma ameaça constante onde todos os seus princípios são tachados de
limitadores e excludentes, segundo (COLLINS, 2018) sendo que pensar as mulheres
negras, alcança mulheres pobres, mulheres trans, lésbicas por exemplo, ela não pensa
somente a mulher negra de classe alta, o que seria atingir uma quantidade mínima de
mulheres para a luta. As vozes dessas mulheres não podem ser silenciadas e postas em
lugar de vítima, mas de autoras de suas próprias vozes que colaboram para a
sobrevivência das demais mulheres negras.

Estar no grupo categorizado como “mulher negra”, visível aos olhos limitados e
distorcidos da classe dominadora, acaba resultando na invisibilidade das mulheres
negras, porque desconsidera a individualidade de cada uma. O feminismo negro entra
para demolir a barreira dos estereótipos e dar conhecimento e poder as mulheres para
construir uma imagem fortalecedora de si mesmas, levando a importância do pessoal e
individual para a construção da autodefinição.

Figura 4: Pierre François de Wailly, Mulher da Raça Bosuímana, 1815, litogravura.


29

Fonte:https://s-i.huffpost.com/gen/3918046/thumbs/o-VENUS-HOTENTOTE-570.jpg?1

O terceiro exemplo, que Lotierzo apresenta trata sobre Sara Baartman, mulher
negra Sul-africana, apelidada de “Vênus Hotentote” exposta pela primeira vez em
Londres 1810, onde seguiu para a França como um “animal” de circo, alvo de
curiosidade para os olhos Europeus, por causa das suas formas voluptuosas e acúmulo
de gordura excessiva na região das nádegas, coxas e quadril. Essas mesmas
características fizeram com que Sara fosse alvo de estudos, após sua morte precoce por
volta dos 25-26 anos, para os cientistas da época o corpo volumoso da mulher, “seriam
sintomas de uma pré disposição inata para sexualidade irrefreada” 6 algo anormal para as
mulheres da época. Segundo Sander Gilman, (1985, p.191.) “a aparência física da
mulher hotentote é, de fato, o principal ícone do século XIX para a diferença sexual
entre o europeu e a população negra” (Gilman apud LOTIERZO, 2017, p. 191.)

Nota-se que o pensamento científico racista europeu, que é uma das bases para as
pesquisas de Paulino, foi disseminado através das artes ao conhecimento público da
população como tradição, levando a naturalização desse pensamento. E a
hipersexualização, exotização e invisibilidade da mulher negra reforçados até os dias
atuais.

6Tatiana Lotierzo, 2017, p. 191.


30

3. SOBRE IDENTIDADE

A identidade segundo pensadores como Patricia Hill Collins sobre Pensamento


Feminista Negro Conhecimento consciência e a política do empoderamento (2018), pra
ela identidade é uma forma política reducionista, uma forma de limitar nossas formas de
comportamento e pensamento para o bel prazer de instituições que oprimem e
manipulam a sociedade, além de ser peça fundamental para estruturas de opressão e
hierarquia de saberes como o racismo e colonialismo.
O que Lilia Moritz Schwarcz comenta que identidade também é importante, pois
é possível
Compreender como se trata sobre identidade de forma genuína, e não como uma
consequência como aponta COLLINS (2018). “é uma resposta política a um contexto
político” SCHWARCZ, Lilia. Youtube.16 Jan.2018 e que também é uma construção
social, compreende-se identidade a ser o processo de como identificamos o outro
socialmente, o que parece ser o olhar do outro sobre o outro, não há um protagonista
que narre sua própria história, ao tentar desconstruir essa narrativa do outro a identidade
é reformulada. Como exemplo o caso da representação dos negros e negras como seres
inferiorizados e dignos de pena, esse é um tipo de identidade atribuída aos negros, a
qual é rejeitada pelos mesmos. Por meio desta observação sobre a identidade, entende-
se que o contexto político em que o Brasil vive, o processo de construção de identidade
positivo que favoreça a visão que os negros tenham de si, se faz extremamente
necessário, identidades são reconhecidas como processo de exclusão, mas antes de se
desfazer das identidades limitadoras, precisa-se modificá-la ao seu favor. Então de
acordo com o pensamento sobre identidade de Collins em que o define como opressor,
esse tipo de identidade imposta e limitadora tem a incumbência de ser desfeita.
Mas quando um grupo é definido identitariamente no lugar de vítima, há a
necessidade de reverter essa identidade, o propósito da construção da identidade neste
caso, não é de restringir, mas de ascender no meio social como proprietário de si.
O reconhecimento da figura do outro como apenas diferente é compreender de
fato esta diferença, sem haver subalternização a partir da construção de uma identidade
e sem a ideia de que são todos iguais. Criaria uma nova visão positiva, uma maneira de
compreender o outro lado sem relativizar a experiências pessoais.
31

Djamila Ribeiro comenta em O que é lugar de fala?, (p.30, 2017.), que a real
intenção em relação à identidade é desmanchá-la uma vez em que ela foi construída
pelo outro baseado em estereótipos e limitações de pensamento. Na tentativa de
desconstruir essa identidade limitadora que é dada, revemos a forma em que somos
representados pelos olhos do outro e constrói-se uma nova representação.
“A identidade é a imagem que temos de nós mesmos” para filósofa, Marcia
Tiburi em Feminismo em comum (p.80. 2018), a afirmação pode parecer contraditória
em relação ao conteúdo anterior, uma vez em que afirma que a identidade vem do olhar
do outro e não do sujeito em questão, mas trata como este processo identitário quando
relacionado a grupos oprimidos e invisibilizados a referência da mudança da
autoimagem se faz necessário para desconstruir uma identidade nociva.
Já para Moritz (2018), a identidade seria a imagem que o outro faz, entende-se
portanto que a partir do olhar do outro, o sujeito se enxerga da mesma forma que é visto
pelo outro de forma estereotipada. Ainda há a contribuição da mídia que reforça a
imagem de esteriótipos a partir de uma identidade imposta como absoluta, com o auxílio
dos meios de comunicação em massa, que transmitem às mulheres negras uma imagem
negativa e equivocada, visível através de estereótipos e arquétipos negativos sobre os
corpos negros, sendo inferiorizados, fetichizados e invisibilizados não apenas por meios
de comunicação, mas por homens brancos, metáfora para o lugar de poder do homem
machista e racista. (RIBEIRO, p.70, 2017.) A desconstrução da identidade dada pelo
outro, torna a identidade algo próprio do sujeito.
Enquanto mulheres, negras e feministas triplamente marcadas por palavras que já
foram insultos, são usados como meio de resistência por mulheres em situação de luta
pelos seus direitos, tais palavras passam a atingir opressores, como enfrentamento
consequentemente, uma afronta ao sistema opressor. Segundo Mácia Tiburi, professora
de filosofia, artista plástica e escritora política, em seu livro Feminismo em comum
(2018) a autora comenta: “patriarcado que subjuga negros/mulheres/trabalhadores”,
(p.11, 2018.) ou seja, todos estão submetidos à opressão do homem branco hétero, a
figura do homem superior, configura uma pressão sobre ele mesmo. O feminismo
quebra e questiona esse lugar de poder de maneira não opressora, mas fazendo
compreender que todos precisão de direitos iguais.
A maioria das identidades atribuídas a população negra, principalmente as
mulheres são uma herança da “lógica colonial” (RIBEIRO, p.30, 2017), em O que é
lugar de fala?, perceber que essa identidade imposta pela figura do homem branco ao
32

sujeito negro como verdade serve para oprimir ou privilegiar indivíduos, homens,
mulheres, crianças de diversas raças e nacionalidades, instituições e sociedades.
Enquanto privilegiados pessoas brancas, detentoras de poder de fala não reconhecem os
processos de entendimento e mudança das identidades reducionistas, que significam um
mal que está entranhado na sociedade. Parte da sociedade branca e de classe média se
reconhece como hegemônica, consideram que discutem sobre o coletivo acusando
pessoas negras de serem separatistas por buscarem seus direitos e a desconstrução da
identidade hegemônica e nociva através de novas representações e discussões sobre a
história, refazendo assim um caminho de uma nova trajetória e construção de
identidade, desta vez desmistificada e positiva aos negros.
A autoimagem que temos vem embutida na modernidade, baseada na herança
que temos do colonialismo, relação de poder e exploração entre povos onde uma nação
se constrói a partir da dominação de terras, trabalho, política e relações racistas sobre
outra nação. Essa herança do colonialismo se chama colonialidade onde essas relações
de poder ainda perpetuam, por mais que o colonialismo não seja mais uma realidade,
Segundo Candau e Oliveira, em Pedagogia decolonial e educação antirracista e
intercultural no Brasil (2010) a colonialidade está presente nas relações diárias, nos
livros didáticos, no universo acadêmico quando nos limitam aos pensadores europeus,
na cultura e na identidade dos povos.
Não se trata sobre anular todo o passado construído na presença dos colonos,
nessa história não há apenas um narrador vencedor. Perceber que houve uma parcela da
população em que viveu na mesma época e que foi silenciada em todo o período
histórico, parte dessa população se estende aos negros e indígenas e que parte de suas
histórias foram estigmatizadas e reduzidas a lendas.
33

4. A RELEVÂNCIA DO PASSADO ESCRAVISTA NA CONSTRUÇÃO DA


SOCIEDADE BRASILEIRA

Quando se trata sobre a população negra fazendo um recorte no Brasil, sempre


que o retorno ao período da escravidão no País é ressaltado, a um incômodo notório, por
ser algo referente ao passado, o pensamento que não há motivos para retornar a esse
tempo tão hostil e vergonhoso, surge de imediato. Mas porque a necessidade de revisitar
esse passado? Durante produção deste TCC também questionou-se, o porquê dessa
volta?
De uma forma simples de explicar, a população negra brasileira se encontra em
situação desfavorável, socialmente, economicamente e intelectualmente, nesse sentido o
retorno se faz necessário, com a seguinte pergunta, pôr que os negros ocuparam esse
lugar? Um lugar em que o trabalho forçado era extremamente cruel, controlador,
manipulador e sádico, o qual os negros escravizados, levados tanto mulheres como
homens e muitas vezes crianças a usarem de sua força braçal até os limites extremos de
trabalho. Por estarem em condições de moradia e alimentação totalmente deploráveis e
em consequência disso estando mais vulneráveis as doenças e entregues ao descaso,
pois não eram tratados como humanos, mas como animais que serviam apenas como
instrumento, assim como um martelo serve para martelar, um objeto, levando-os a
desumanização.
Tudo isso foi feito por humanos, homens pais de família, mulheres amáveis,
famílias que temiam a Deus. Logo após esse período com Lei Áurea em 1888 assinada
pela Princesa Isabel. Os homens, mulheres e crianças que foram tratados das formas
mais cruéis possíveis, sem nenhum tipo de estrutura e ajuda para trabalho, moradia e
alimentação que foram negados, levando-os a aceitar condições ruins, mas melhores de
que foram forçados a aceitar. Construíram casas, ensinaram seus filhos como podiam de
acordo com as condições que lhe foram dadas. Com diz Lilia Schwarcz Professora de
antropologia da USP e escritora, em Nem preto nem banco, muito pelo contrário, (p. 19,
2012.) “Após a abolição, a liberdade não significou igualdade.”
Dessa forma fica nítido como o passado influencia o futuro, hoje é o nosso
presente, na busca de se compreender enquanto ser humano revisitar o passado em um
ponto de vista que não seja do outro.
No presente existe a herança escravocrata em que a população negra brasileira
carrega como fardo de uma época passada, para que essa herança seja aos poucos
34

afastada para longe da realidade dos negros da sociedade brasileira, o direito à história e
ao passado da escravidão, tona-se necessário, quando deve ser contado pela perspectiva
dos negros brasileiros. Ana Mae Barbosa, arte-educadora, comenta em seu livro
Historia da arte-educação (1986) que a “história é importante instrumento de
autodefinição” assim compreende-se que é a partir da história, do conhecimento do
passado que se constrói quem se é, ela colabora na formação do individuo. Vemos que a
arte e história se complementam na arte de Paulino, que refaz a estrutura de um
pensamento mais concreto da formação de identidade de indivíduos que foram omitidos
e reduzidos a recortes históricos sem nenhum tipo de aprofundamento, apenas um
passado ruim que devemos esquecer, mas sendo que nele existem recortes de resistência
e força de um povo que lutou e não apenas sofreu como desgraçados, que ali
constituíram uma nova cultura.
Ana Mae também diz que “a ignorância da própria história torna os povos mais
facilmente manipuláveis” História da arte-educação (1996, p.9.) isso faz lembrar
Djamila Ribeiro filósofa e feminista brasileira que comenta em O que é lugar de fala?
(2017, p. 24.) sobre a hierarquia de saberes, de como podem manipular quando se tem
conhecimento do passado e que ao se beneficiar da falta de conhecimento do outro, a
manipulação desses saberes são realizados e enraizados no entendimento e formação de
uma determinada população sem bases de estudos, no caso, a maioria da população
negra Brasileira.
Falar sobre Paulino significa um ato político no meio das artes uma vez em que
quase toda a história da arte estudada no Brasil, se restringe em sua maioria a artistas
Europeus, Paulino é uma artista negra latina, que em seus trabalhos ressalta a imagem
de mulheres e homens negros, ter conhecimento sobre seu processo e suas obras é
descolonizar o pensamento das artes no Brasil, estudar e pesquisar mais sobre os nossos
artistas enriquece mais a cultura brasileira. Falar e discutir sobre arte europeia não é um
erro, mas se restringir a ela desfaz nossos processos de construção de identidades,
saberes e cultura.
A arte dos povos africanos e negros na maioria das pesquisas e obras de arte
oitocentista foi considerada algo primitivo e irracional, quando estudamos história das
artes, a arte africana com suas máscaras e esculturas, seus corpos na maioria das épocas
foram retratados por mãos de artistas europeus, que usurpavam a arte de seus
colonizados como inspiração, mas nunca valorizavam as artes produzidas por eles, a
35

inferiorização de suas produções artísticas derivam do fato de serem de outra raça,


subjugada inferior.

Quijano (2005) vai propor o conceito de colonialidade do poder para


referir-se a essa situação. Esta seria uma estrutura de dominação que
submeteu a América Latina, a África e a Ásia, a partir da conquista. O
termo faz alusão à invasão do imaginário do outro, ou seja, sua
ocidentalização. Mais especificamente, diz respeito a um discurso que
se insere no mundo do colonizado, porém também se reproduz no
lócus do colonizador. Nesse sentido, o colonizador destrói o
imaginário do outro, invizibilizando-o e subalternizando-o, enquanto
reafirma o próprio imaginário. (CANDAU e OLIVEIRA, p.19, 2010.)

Segundo Quijano o conceito de Colonidade está diretamente relacionada com a


construção de saber do outro, quando está inserida muito além da ocupação de terras,
mas sim do imaginário do outro. Colocando o outro abaixo de si enquanto reafirma sua
superioridade diante das influências diárias, Djamila enquanto em O que é lugar de
fala? (p. 24, 2017) comunica sobre Lélia Gonzales, revolucionária, feminista negra,
antropóloga, filósofa e intelectual, comenta sobre a hierarquização de saberes que estão
presentes na construção do país, a subtração da educação, sobre direitos e a questão da
identidade e história que foram contados do ponto de vista do outro, o homem branco
enquanto produto e reprodutor de atitudes coloniais desempenham esse papel na
sociedade brasileira, papel de poder e soberania diante do saber “vê a hierarquização de
saberes como produto da classificação racial da população, uma vez que o modelo
valorizado e universal é branco.” (RIBEIRO, 2015, p.78.)
No dito popular referente ao mito de Narciso: “Narciso acha feio o que não é
espelho.” como na música do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso, Sampa
(1978) Faz-se uma analogia ao homem branco europeu, que não assente o que é
diferente de si e recusa aceitar as diferenças, na sociedade contemporânea a história de
narciso faz um paralelo ao racismo institucionalizado baseado na supremacia branca,
além de se julgar no direito de dominar, escravizar e explorar, outros povos e raças,
KILOMBA (2016). Quando se destaca a raça nas lutas feministas, não se refere à
classificação biológica, mas de sociologia e história, a partir do Séc. XVI no período de
expansão europeia em que os europeus começam a ter contato frequente e permanente
com povos diferentes deles no ponto de vista fenotípico e cultural, pondo a relação de
hierarquia onde eles se localizavam no topo dessa pirâmide enquanto os outros povos
estavam localizados abaixo.
36

Aos negros foram feitas das mais variadas agressões sobre inteligência
degeneração e a culpa por praticamente tudo que é desagradável e violento no ser
humano, uma raça considerada inferior para que valorizem a si mesmo, enquanto
homens detentores de poder, inteligência máxima e para justificar os abusos, as
explorações e a colonização. Paulino contesta todos esses paradigmas através da
violência vivida por seus antepassados e semelhantes. Ela denuncia esses abusos e os
expõe através da sua arte.
Grada Kilomaba artista visual, escritora, produz vídeos e instalações a partir de
seus escritos, em sua performance Illusions (2016), explana sobre a ilusão de que na
sociedade atual todos vivenciam o mito da democracia racial, onde a excluem e
marginalizam outras identidades na preservação de uma sociedade homogênea, que
reflete a imagem de si, como um espelho.

6. ROSANA PAULINO COSTURANDO NOVOS SIGNIFICADOS

Paulino nasceu no estado de São Paulo (1967), filha de empregada doméstica e


carregador de sacos de açúcar, Rosana Paulino e suas irmãs tiveram uma infância sem
muitos privilégios, mas com criatividade criava os próprios brinquedos a partir do barro
e água do braço Rio Tiête que passava próximo a sua casa, coloria com as sobras de
tinta que o pai usava para pintar paredes. Aprendeu com a mãe, segundo ela comenta,
por meio de sua educação antiga, a fazer bordado para o seu enxoval. Este aprendizado
é uma de suas maiores influências para suas obras.
Trabalha com fotografia, gravura e desenho e o foco principal de investigação
em suas obras é o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade brasileira,
analisando os preconceitos e as marcas que a escravidão deixou. Seu processo criativo
começa pelos esboços a partir de desenhos e investigações por meio de livros de
história, suas referências em relação a outros artistas é mínima, seu principal foco de
referência é a história do Brasil, por meio da leitura e fotografias.
Doutora em Artes Visuais pela escola de comunicações e artes da Universidade
de São Paulo – ECA/USP, é especialista em gravura pelo London Print Studio, de
Londres e bacharel em gravura pela ECA/USP. Foi bolsista do Programa Bolsas da
Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e Capes de 2008 a 2011. Em 2014 foi
37

agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em


Bellagio, Itália.7
Paulino conserva sua inquietação diante dos problemas socais, raciais e de
gênero dos seus pais, tomando como partido suas experiências pessoais, família e
antepassados, ela elabora obras como Assentamento (2013) e Bastidores (1997).
Ganhou 1º Prêmio Nacional de Expressões Afro-Brasileiras – CADON,
Fundação Palmares e Petrobrás – Modalidade Artes Visuais em 2009. Em 1997 ganhou
Prêmio Embratel no Panorama da Arte Brasileira – MAM São Paulo. Prêmio
visualidade Nascente III – Museu de Arte Contemporânea – MAC/USP e editora Abril,
SP. Prêmio de Aquisição na I Bienal Nacional de Gravura de São José dos Campos.
A escolha da artista Paulino e suas obras têm grande significado no que se refere
à intenção em suas obras em entender o lugar em que ela mulher negra ocupa na
sociedade atual, e como a maioria das mulheres descendentes de negros são
invisibilizadas pela sociedade e como isso se perpetuou da época da escravidão até os
dias atuais, uma verdadeira investigação sobre o seu passado e da maioria dos
brasileiros e brasileiras, o que seria uma busca pessoal se torna a busca coletiva de
outras mulheres.
Através dessa investigação a artista interfere em outros ambientes, como por
exemplo, a forma em que essa mulher negra é retratada e vista pela sociedade. O modo
em que suas obras são exibidas apresentam essa mulher além do filtro que a sociedade a
enxerga, ela exibe o íntimo dessas mulheres, a vida pessoal delas, infelizmente a
realidade da maioria das mulheres retratadas em suas obras que enfrentam ou
enfrentaram uma realidade dura e complexa.
A obra de Paulino também permite que o expectador receba a mensagem de
maneira mais direta, a partir das escolhas dos materiais e técnicas que compõem a obra,
pois as obras comunicam além da utilidade de tornar real a arte.
As obras de Rosana Paulino têm como alicerce a pesquisa sobre o lugar em que
a mulher negra ocupa na sociedade brasileira, uma vez em que ela e sua família
descendem de negros. A partir dessa inquietação ela avança em pesquisas sobre história
do Brasil e sua estruturação, questionando o processo da construção do esqueleto da
sociedade brasileira extremamente racista. Ao não se sentir representada pelas mulheres
negras minimamente vistas nas mídias, e quando aparecem sempre ocupam funções

7Rosana Paulino (PAULINO, Rosana, SÃO PAULO,


1967<.2018.http://www.rosanaPaulino.com.br/>Acesso em 31 Out.2018.)
38

consideradas inferiores pela sociedade como, por exemplo, empregadas, escravas e


muitas vezes prostitutas, o desconforto de Paulino perante essa condição provoca ainda
mais o propósito em sua arte. Em sua bibliografia seu propósito na arte é afirmado, em
vídeo Paulino comenta:

Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na


sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta
população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela
escravidão. (PAULINO, 2016.)

O interesse de Paulino pelo lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade


brasileira, racismo, desigualdades e a história dos pais, atiçou sua produção artística,
segundo Pavam (CARTA CAPITAL, 2016) ela comenta: “O artista é um intelectual e
tem de se posicionar”, acredita. “Este país ainda não foi pensado devidamente por nós.”.
Parede da memória (1994/2015), Série Bastidores (1997), Assentamento (2013),
Adão e Eva no paraíso brasileiro (2014) entre outros trabalhos, a artista Paulino torna a
imagem do negro protagonista na arte.
O trabalho manual acompanha Paulino desde sempre, influenciada pela mãe e
irmãs, vai desde modelar brinquedos com barro e fazer desenhos até costura e bordado
faz parte do seu processo o fazer manual, que se faz presente em todos os seus
trabalhos. Como foi dito ela opera o bordado e costura atribuindo não a uma atividade
frágil, mas sim significativa por ser produzida por ela enquanto mulher, sua atuação
associa mais a credibilidade do seu trabalho, por mais que seja uma atividade
desvalorizada ou pouco valorizada pela sociedade, por ser relacionada a uma atividade
feita somente por mulheres, tanto pela execução, quanto aos temas, como por exemplo,
flores, folclore, utensílios de cozinha entre outros. Além do bordado e a gravura que são
suas principais linguagens de trabalho, fotografias de família e também históricas e
científicas, são utilizadas como seu principal eixo de pesquisa.
Os trabalhos a serem discutidos neste TCC serão, a princípio, Assentamento
(2013) e Bastidores (1997). Em ambos os trabalhos ela deixa claro a sua ancestralidade
buscando dar voz a esse passado acobertado, que os brasileiros fazem questão de
esquecer.
Em Assentamento (2013), Paulino pensa o trauma das pessoas que foram
retiradas de seu espaço de origem e forçados a entrar em uma nova cultura como força
de trabalho sem levar em consideração seus nomes, história, passado, religião e
39

costumes; e que após o período de escravidão tiveram que se refazer novamente sem
nenhuma estrutura, mais uma vez invisíveis para a sociedade.

Estou, neste momento, muito interessada no que as africanas


trouxeram para cá, o que “assentaram” nesta terra. Além da fixação
forçada a um ambiente estranho e, superando isto, nossas ascendentes
assentaram por aqui cheiros, sabores, gostos, costumes, religião… e
tudo sob o jugo da escravidão! Foram para lá de heroínas!
(PAULINO, 2013.)

Paulino busca compreender e identificar uma identidade que não subtraia a luta
conquistada pelos negros escravizados, ela busca em suas leituras mulheres e histórias
que resistiram e que são verdadeiras heroínas. Com finalidade de dar noção de trauma, a
artista em seus estudos encontra nas fotografias científicas a figura de uma mulher negra
usada para estudos de eugenia representando um modelo original da mulher africana,
ela amplia essa fotografia e a reproduz em tecido no tamanho real, esse tecido é
recortado em três partes e costurado de modo desigual, além disso, ela costura coração,
raízes, um feto, atribuindo a figura sua existência enquanto ser humano, enquanto
mulher. A representação dessa arte de forma precisa nos comunica como esse
8
“refazimento” irregular cumina em um trauma que se perpetua até os dias de hoje.
Conheceremos mais sobre essas produções artísticas nos tópicos a seguir.

6.1 Assentamento (2013)

Em sua obra Assentamento, Paulino pensa o trauma dos homens, mulheres e


crianças que foram retirados de seu espaço de origem e forçados a entrar em uma nova
cultura (novo grupo com hábitos diferentes) como força de trabalho sem levar em
consideração seus nomes, história, passado, religião e costumes, necessitando se
reestruturar em uma cultura completamente diferente e não como humanos, mas
unicamente como forças de trabalho. Após a lei da absolvição da escravatura (1888),
eles tiveram que se refazer sem nenhuma estrutura, mais uma vez invisíveis para a
sociedade.
Com finalidade de dar noção de trauma, a artista em seus estudos encontra nas
fotografias feitas originalmente por Augusto Stahl fotógrafo teuto-brasiliero do séc. XIX
8“Refazimento” Termo usado por Paulino. Disponível em:
<file:///C:/Users/kyvia/OneDrive/Documentos/UFRN%202018.1/TCC/imagens%20Paulino/costura
%20desencontrada.jpg> Acesso em: 10 Abril 2018.
40

encomendado a figura de uma mulher negra nua usada para estudos de eugenia, mais
estritamente feitos pelo zoólogo suíço Louis Agassiz que em sua concepção a
miscigenação era o principal fator da degeneração da raça humana.

São de Agassiz as seguintes palavras, no livro A JourneytoBrazil


(1867): “Aqueles que põem em dúvida os efeitos perniciosos da
mistura de raça e são levados por falsa filantropia a romper todas as
barreiras colocadas entre elas deveriam vir ao Brasil”. (PAULINO,
2013.)

Agassiz tentar dar continuidade a sua pesquisa racista sobre a degeneração,


causada pela missigenação vindo ao Brasil com a nomeada Expedição Thayer entre os
anos de 1865 e 1866, mais especificadamente no Rio de Janeiro comprovar sua teoria
racista. As fotografias dos africanos e africanos tidos como “puros” são daguerreótipos
de Augusto Stahl encomendados por Agassiz, para comprovar sua teoria.

Cabia aos homens entender e respeitar isso. Os negros, que teriam


sido criados por Deus expressamente para habitar os cinturões
tropicais, provinham de uma espécie humana inferior, cuja virtude
seria a força física e a capacidade de servir. (HAAG, 2010)

Mais uma vez reforçam a inferioridade dos negros e a objetificação de seus


corpos, dando funções de acordo com suas características e impondo-lhes atributos.

Figura 5- Augusto Stahl. Expedição Thayer, 1865 e 1866. Fotografia.

Fonte: http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/rosana-Paulino-assentamento/
41

A fotografia da mulher representava o modelo de raça “pura” para Thayer,


Paulino amplia essa fotografia e a reproduz através de impressão digital em tecido que é
recortado em três partes e costurado de modo desigual.

Figura 6– Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e


costura

Fonte:http://rosanaPaulino.blogspot.com/

Observa-se na Figura 6 a imagem de um corpo feminino remontado. E com uma


linha que perpassa-o.

Essa é uma costura aparente, uma sutura grosseira, uma sutura pesada
que é feita e que é muito da sociedade brasileira, essa sutura nunca foi
bem feita no Brasil, esses indivíduos homens e mulheres nunca foram
incorporados pela sociedade brasileira como deveriam ter sido
incorporados. (PAULINO, 2014)

Paulino comenta que essa costura funciona como uma sutura, o que faz lembrar
um procedimento cirúrgico, provavelmente feito sem anestesia e de forma grotesca, essa
forma de pensar brutaliza ainda mais o significado desse processo de se refazer. Observe
a Figura 7 a seguir:
42

Figura 7-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e costura

Fonte: http://rosanaPaulino.blogspot.com/

Segundo a Figura 7 acima, Paulino modifica a estrutura inicial da fotografia e


costura coração, raízes, um feto, atribuindo a figura sua existência enquanto ser
humano, enquanto mulher, lembrando que ela teve vida, uma história, memórias e
afetos. A representação dessa arte de forma precisa nos comunica como esse
“refazimento” irregular comina em um trauma que se perpetua aos dias de hoje.

Figura 8-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e costura

Fonte:https://www.pinterest.com.mx/pin/325666616784605398/
43

Na Figura 7 Observa-se um coração com uma costura sobreposta a ele impressão


em linóleo, em preto e branco com destaque da linha em cor vermelha.
Paulino (2018) lembra que “A ideia por trás de Assentamento é mostrar o lado
humano desses indivíduos.” A imagem da mulher desconhecida segundo Paulino (2018)
“irá enfocar questões como dignidade, diversidade e reconhecimento do capital cultural,
artístico e religioso trazido pelas populações de origem africana.”. Não se trata apenas
de uma representação vazia, mas que carrega uma carga cultural vasta de origem
africana, que vai totalmente contra as teorias de Louis Agassiz, era um suíço biólogo,
médico, geólogo e professor.

Em oposição ao que tentava provar o que Agassiz conseguiu foi, de


fato, documentar aqueles que ajudaram a fundamentar a cultura
brasileira. Estes escravos e escravas, colocados ali sem a dignidade
das roupas que sublinhavam a condição humana, foram, na realidade,
peças fundamentais no assentamento de nossas bases culturais.
(PAULINO, 2013)

Contudo Agassiz não conseguiu dar continuidade a sua pesquisa, mas deixou
registros que por mais que carreguem um passado e objetivos obscuros, serviram como
registro de pessoas negras, que sobreviveu ao tempo. Servindo de base para as artes de
Paulino.
O uso da fotografia reforça ainda mais a realidade sobre o tema abordado,
porque não é uma pintura que deriva do imaginário do artista por mais que seja baseado
na realidade, mas é uma constatação real das condições do mundo. O tamanho da
imagem interfere a relação entre espectador e obra, as imagens dessa mulher anônima
estão em tamanho real, existe uma imposição e dominação por parte imagem, ou até
mesmo relação de igualdade com a figura representada, por estar equiparado com o
espectador.
Na tradição europeia, da qual Agassiz fazia parte, estar vestido era
sinal de civilização e as roupas eram um símbolo de status e gênero.
Deixar pessoas nuas roubava delas a dignidade e a humanidade. Para
ele, isso era possível porque muitas eram escravas, observa Nancy
(HAAG, 2010)

O fato de a mulher estar nua acentua ainda mais a sua vulnerabilidade, ela está
exposta, indefesa e com sua dignidade desvalorizada, além de seu corpo e suas
cicatrizes, essa catarse diante da arte em que Paulino faz o expectador passar é
impactante. Isso também mostra outro estereótipo da mulher negra, o de que ela é
44

sempre forte e que aguenta tudo estando relacionado tanto a força física quanto
sentimentalmente, anulando suas emoções e fraquezas.

Figura 9-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.

Fonte:http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/rosana-Paulino-assentamento/

Na Figura 9 Observa-se um braço feito em gesso patinado, com uma mão


humana ao lado segurando-o.
Em sua exposição Paulino apresenta uma instalação no Museu de Arte
Contemporânea de Americana, localizado em São Paulo (2013), intitulada Fardos de
mãos que são braços feitos de gesso, acumulados junto à palha, madeira e amarrados
com cordão trazendo a alusão de fogueiras, e realmente é essa intenção os braços
representam a força de trabalho escrava, ela comenta que no período da escravidão em
um vídeo em seu site “os escravos eram madeira para ser queimada”, Paulino (2018)
ainda cita no vídeo a frase do antropólogo e escritor político Darcy Ribeiro que
apresenta “a escravidão no Brasil, era um moinho de moer gente” esses braços
representam o descaso em que essa população negra escravizada vivenciava não ter seu
reconhecimento enquanto ser humano, mas sim, como uma máquina que poderia ser
trocada, jogada fora ou vista como combustível da economia de uma época.
Paulino também explica que a palavra assentamento tem dois significados, que
pode ser a base de uma construção, de uma casa, por exemplo, ou no sentido espiritual,
que se refere a “força de um templo, de uma casa, o axé da casa” Vímeo. (14 de
novembro de 2014). Ela não nega a sua herança cultural e apresenta essa espirituosidade
45

em uma perspectiva afro-brasileira como um apanhado de memórias salientando os


valores sociais e culturais dos afrodescendentes.
Ambas as séries estudadas nessa pesquisa tem o uso limitado de cores, o preto
ganha destaque tanto na fotografia quanto na cor das linhas, tons terrosos como o
marrom da instalação, marfim da cor do tecido, mas o vermelho se destaca quando é
costurado ao coração, as raízes e ao feto, mas costuradas até um certo ponto, as linhas
ficam soltas e continuam além dos símbolos como exemplo o coração, é uma linha que
não tem a função apenas de costurar as figuras na fotografia/tecido, mas que representa
algo, pressupõe que seja a representação do sangue que escorre e relata a dor e a vida
dessa mulher, esse sangue também pode possuir relação com a parte sensível, o que se
opõe a força em que essas mulheres foram forçadas a ter. A intenção desta interpretação
não é enfatizar a fraqueza dessa mulher, mas mostrar que a força possui limite e é
necessário que isso seja notado, dando voz e liberdade de expressão dessas mulheres.

Se as mulheres negras sustentavam o terrível fardo da igualdade em


meio á opressão, se gozavam de igualdade com seus companheiros no
ambiente doméstico, por outro lado elas também afirmavam sua
igualdade de modo combativo, desafiando a desumana instituição da
escravidão. (DAVIS, 2016, p. 31.)

Existe uma relação entre as duas obras analisadas neste trabalho, Assentamento e
bastidores ligam estereótipos como à força e o trabalho doméstico como fardos que as
mulheres negras carregam com elas aos dias atuais, em um trecho de Mulheres, raça e
classe (2016), Angela Davis escritora e filósofa política, comenta que a mulher negra
suportava o angustiante trabalho braçal que se igualava aos seus companheiros, homens
negros, no entanto no âmbito doméstico, também havia igualdade entre eles, ou seja,
essa ideologia dominante de separação e hierarquia entre gêneros era muito mais entre
homens e mulheres brancos, na estrutura familiar negra não havia separação entre
papéis. Para Davis,

As mulheres negras eram mulheres de fato, mas suas vivências


durante a escravidão – trabalho pesado ao lado de seus companheiros,
igualdade no interior da família, resistência, açoitamento e estupros –
as encorajavam a desenvolver certos traços de personalidade que as
diferenciavam da maioria das mulheres brancas. (DAVIS, 2016 p. 39.)
46

Figura 10-Rosana Paulino, Assentamento, 2013.impressão digital sobre tecido, linóleo e costura

Fonte:https://www.pinterest.com.mx/pin/433119689145995479/

Na Figura 8 observa-se uma linoleogravura em formato de um coração, com


uma linha de cor vermelha representando uma veia sanguínea em destaque, pois a
figura está em preto e branco e a linha em vermelho.
As imagens costuradas ao corpo da mulher são linoleogravuras, o que levam
a obra, novos significados, no processo da linoleogravura é necessário as goivas,
material afiado de metal que talha o linóleo, esse ato de talhar ressignifica o valor
do feto, uma vez em que a gravação do mesmo envolve marcas feitas manualmente,
o que significa uma entrega no fazer com as próprias mãos. A própria artista
executa essa atividade, pois a clareza de algumas imagens levam Paulino a
desenvolver suas próprias imagens, o processo da história dos negros é algo que
não tem nitidez, algo sem foma definida na forma em que é contada, suprimindo
momentos e detalhes e através da sua arte a artista encontra na litogravura uma
forma de fazer essas imagens sem a nitidez de uma história contada pelo outro. Por
exemplo, na figura 10, os traços que marcam a matriz são transferidos para o
tecido, deixando marcas que formam feto, assim como no coração, são marcas que
possuem uma intenção além de alcançar uma imagem desejada, mas também uma
ideia de uma formação com dificuldades e sem nitidez.
47

Figura 11-Rosana Paulino, Assentamento, São Paulo, 2013, Paper clay, madeira, palha e cordão.
Dimensão variável. Vídeo: Mar Distante. Duração do vídeo: 22 minutos.

Fonte: http://www.rosanaPaulino.com.br/

Na Figura 11 observa-se a instalação feita em gesso patinado, Paper clay,


madeira, palha e cordão
A instalação no Museu de Arte Contemporânea de Americana (2013)
também conta com pequenos tablets que ficam localizados próximos aos Fardos no
chão, esses aparelhos passam imagens e o som do mar que se reverbera pelo
ambiente, cada detalhe dessa exposição tem um significado, a sensação de estar
imersa pela experiência de mar, pode ser uma situação agradável, mas pela
presença das obras ao redor esses significados é revertido em uma lembrança em
memória daqueles que não sobreviveram que foram jogados ou se jogaram, uma
reminiscência intensa. A narrativa que a artista constrói na série Assentamento se
mostra importante porque ela rompe com a narrativa dominante, construindo uma
nova forma de pensamento diante da questão da herança histórica sobre a época da
escravidão. No próximo tópico teremos a análise da obra artística Bastidores
(1997).

6.2. Bastidores (1997)

Na série Bastidores Paulino trabalha com um assunto delicado, mais uma vez se
tratando da vulnerabilidade e sobre a sua invisibilidade enquanto mulher negra, mas
dessa vez em ambientes domésticos. No capítulo sobre Feminismo foram comentados
48

os índices de violência contra as mulheres negras brasileiras, como se pode perceber o


aumento dos índices de violência de morte das mulheres negras é alarmante. A artista de
forma objetiva protesta em sua arte essa invisibilidade e silenciamento dessas mulheres,
não só dentro de casa, mas por toda a sociedade.
Paulino pega referências das coisas e pessoas que a cerca, desde pesquisas até a
sua família, dessa vez ela encontra como referência sua irmã especialista em relações
familiares, trabalhando principalmente com violência sexual contra crianças e de acordo
com seus relatos sobre violência doméstica Paulino instantaneamente fixa o assunto em
sua mente e distraidamente enquanto andava pela Rua 25 de Março, ela se depara com
os bastidores de bordar e então ela remete a lembrança dos relatos do que sua irmã
descrevia, em que a violência doméstica pode ser perversamente praticada de diversas
formas, por objetos do dia a dia que se transformam em objeto de coerção como
agulhas, garfos, linhas, cigarros, etc.
Tendo isso em mente Paulino faz um compilado de todas essas informações e
constrói a série Bastidores, uma série em que fotografias de mulheres negras, das quais
muitas dessas fotografias foram retiradas de fotos 3x4 em preto e branco, manipuladas
digitalmente e transferida quimicamente para o tecido. Esse tecido é esticado em um
bastidor para bordado e então ela costura com uma linha preta a boca, olhos e gargantas
de maneira “mal feita” e descuidada que passa uma sensação de violência. Todas as
partes que foram costuradas são consideradas como partes de expressão e comunicação,
que violentamente foram costurados, não deixando alternativa para essas mulheres que
foram silenciadas de forma bruta. Ainda sobre as costuras que representam, além da
violência física, fala sobre o silêncio dessas mulheres, o medo que as cerca e que traz o
nó na garganta, o silêncio, os olhos fechados que não querem presenciar essas
violências, os olhos fechados tanto de quem vê como de quem sofre a violência. Paulino
afirma em entrevista à Pimentel (2016) como afirma Paulino:

No meu caso, tocaram-me sempre as questões referentes à minha


condição de mulher e negra. Olhar no espelho e me localizar em um
mundo que muitas vezes se mostra preconceituoso e hostil é um
desafio diário. Aceitar as regras impostas por um padrão de beleza ou
de comportamento que traz muito de preconceito, velado ou não, ou
discutir esses padrões, eis a questão. Dentro desse pensar, faz parte do
meu fazer artístico apropriar-me de objetos do cotidiano ou elementos
pouco valorizados para produzir meus trabalhos. Objetos banais, sem
importância. Utilizar-me de objetos do domínio quase exclusivo das
mulheres. Utilizar-me de tecidos e linhas. Linhas que modificam o
sentido, costurando novos significados, transformando um objeto
49

banal, ridículo, alterando-o, tornando-o um elemento de violência, de


repressão. O fio que torce, puxa, modifica o formato do rosto,
produzindo bocas que não gritam, dando nós na garganta. Olhos
costurados, fechados para o mundo e, principalmente, para sua
condição no mundo. (PIMENTEL, 2016)

Figura 12-Rosana Paulino, Bastidores, 1997.Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro.

Fonte:http://www.galeriasuperficie.com.br/artistas/rosana-Paulino/

Os materiais usados por Paulino na composição da sua série são materiais


usados para o bordado, atividade vista estritamente como feminina, e que remete a um
lugar protegido e tranquilo. O interessante é como ela consegue reverter essa atividade
inocente e que possui relação com o doméstico em uma carga densa de violência, esta
série compreende em uma conexão entre bordado, doméstico e a violência.
Bastidores é uma série que possui várias camadas de leitura ao mesmo tempo em
que visualizamos o doméstico enquanto mulheres “donas de casa”, também existem as
empregadas domésticas, das quais em sua maioria são mulheres negras. O próprio nome
da série remete também aos bastidores de filme, por exemplo, ou seja, tudo aquilo que
está por trás de tudo o que acontece, o que é invisível aos olhos do espectador.

Figura 13-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha
de costura. 30,0 cm diâmetro
50

Fonte: http://www.rosanaPaulino.com.br/

Na Figura 13 acima, observa-se uma mulher negra com a boca costurada, e que
segundo a artista representa a silenciação.
Outra camada interessante que pode ser levada em conta é o ponto de vista sobre
a boca costurada, possui relação com um texto de Kilomba, que chama atenção sobre a
relação com silenciamento representado na série, substituindo a palavra racismo, pela
ação da violência doméstica o texto toma uma precisão sobre a relação da obra com o
texto, para Kilomba,

A boca é um órgão muito especial, ela simboliza a fala e a enunciação. No


âmbito do racismo a boca torna-se o órgão da opressão por excelência, ela
representa o órgão que os (as) brancos (as) querem – e precisam – controlar e,
consequentemente o órgão que, historicamente, tem sido severamente
repreendido. (KILOMBA, 2016, p. 172.)

Ainda sobre as formas de violência costuradas em pontos específicos nos rostos


dessas mulheres evidenciam ações cotidianas de racismos velados, de direitos essenciais
negados como educação, alimentação, emprego os quais limitam essas mulheres a que
estão à margem da sociedade, silenciadas, invisibilizadas e ceifadas de sua história e
memória por instituições e estruturas racistas que regem o Brasil. Observe o trabalho de
Paulino na Figura 14 a seguir:

Figura 14-Rosana Paulino, Bastidores, 1997. Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha de
costura. 30,0 cm diâmetro
51

Fonte:http://www.rosanaPaulino.com.br/

Na Figura 14 há a imagem de uma mulher negra que tem seus olhos costurados e
como uma venda para não enxergar.
Os olhos vendados da moça sugerem que por não se enxergar e se ver
representada nos mais diversos tipos de mídia e nas artes, essas mulheres ao se verem
no espelho, por exemplo, não se reconhecem, seus olhos foram costurados pela
sociedade para que elas não se enxerguem e odeiem seus corpos e características que as
definem como negras, levando a supressão dessas características no modo de
comportamento, de se vestir, tornando cada vez mais latente a raiva do corpo negro e o
esforço de se encaixar como branco.
Mais uma vez a fotografia tem seu destaque na arte de Paulino, ela comenta em
uma de suas entrevistas no canal O beijo que “a fotografia já feita tem um afeto, uma
carga muito grande” a artista inclui uma citação de André Bazin crítico de cinema e
teórico de cinema “as fotos são pequenas múmias de papel” (PAULINO, apud 2017)
segundo o autor, a quem é uma das inspirações de Paulino, uma vez em que essas
fotografias carregam um peso de uma história e ao serem expostas com bocas garganta e
olhos costurados trazem um peso sobre ainda maior aos bastidores. A linguagem de
Paulino é usada como meio de poder, ela articula o tema com os materiais de um modo
acessível, unindo a prática tida como intelectual – a arte – com a prática política.
Algumas das representações em que as mulheres negras em sua maioria ocupam
e que fazem parte da realidade de muitas, ainda é uma herança da época da escravidão,
assinada a lei áurea em 1888, com a falta de oportunidades de emprego, o trabalho
como servil parece ser sua única opção de sobrevivência do sujeito negro. A
52

marginalização da população negra desencadeou em violência causada pela


desigualdade social, racial e de gênero, quando relacionado à mulher negra. Tal
abandono fez com a que a procura pela sobrevivência levasse a casos extremos como
pedir comida nas ruas até a aceitação de trabalhos subumanos.
Nota-se nas duas obras explanadas neste trabalho que se trata de uma linha do
tempo, onde em Assentamento (2013), gira em torno do processo de (re)construção tanto
durante quanto pós escravidão. E em Bastidores (1997) ela trabalha com a consequência
desse período fazendo o recorte nas mulheres negras, demonstrado através das costuras
as opressões que derivam do processo de escravidão o Brasil.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de Paulino se entrelaça entre memória e história, as memórias são


experiências pessoais que são vivas e vividas em eterna evolução, não se fixa em
detalhes para precisar de comprovação, apenas duram dependendo da sua existência
“ela se alimenta de lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares
ou simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou projeções.” (NORA,
1993, Entre memória e história: a problemática dos lugares.) essa memória citada por
Pierre Nora, historiador francês, de certa forma é dada a personagem da sua instalação
Assentamento (Fig. 3) pois não sabemos as memórias da mulher representada e sua
história real, além dos registros, pois ela não está viva para sabermos, mas ao
atribuirmos memória a ela sua existência torna-se significante principalmente quando
ela está sendo lembrada apenas como objeto de estudo racista, destituindo-lhe de
humanidade.
A forma em que sua imagem se perpetuou como modelo de estudo fixada na
história legitimada por detalhes, imagens e relatos, que em uma das definições de Pierre
Nora, historiador francês, 1993 “é a reconstrução sempre problemática e incompleta do
que não existe mais” do passado que não existe mais, ou seja, a mulher representada na
fotografia está presa à história como um objeto, pois há a comprovação de sua
existência por meios físicos. A história dela enquanto sujeito não há registros, não a
provas de quem realmente ela foi, sem dignidade e visão humana a memória que lhe foi
empregada por Paulino lhe garante um olhar humano.
Pensar sobre memória e história quando nos referimos aos afro-brasileiros, é
pensar essa mutilação histórica e a necessidade de revisitá-la e recontá-la na
perspectivas dos negros brasileiros o período da escravidão no Brasil.
53

Pode-se dizer que a arte de Rosana Paulino incomoda, é “forte” e


provocativa. Se a obra incomoda deve haver algum motivo, a realidade de uma história
e a passada ruim constrange o espectador. Rosana Paulino vai além da apreciação de
uma “boa arte” ela envolve o contexto sociocultural em seus trabalhos, através de uma
simples pergunta “qual lugar a mulher negra ocupa na sociedade atual?”, ela vai afundo
em um universo denso e mal explorado, tentando achar essa resposta, ela atinge quem
olha a sua arte e através do incômodo, do choque e do porque, ficamos com a “pulga
atrás da orelha”. A obra de Rosana Paulino é um verdadeiro enfrentamento e um ato de
coragem.
Há um trecho do livro Mulheres, cultura e política (2016) em que professora e
filósofa socialista estado-unidense Angela Davis, menciona uma poetisa Frances E. W.
Harper do séc. XIX que mesmo tendo nascido livre seus poemas abordam as lutas dos
povos escravizados e que em vez de reforçar conceitos estereotipados sobre os negros
ela celebra a luta justa se seus antepassados. “Qualquer que tenha sido o modo subjetivo
escolhido por essas pessoas para abordar – ou ignorar – a política racial de sua época,
elas dificilmente poderiam ter evitado receber alguma influência das condições
históricas objetivas.” (2016, p. 183.) Quando Davis comenta isso em seu livro, observa-
se que esse recorte pode se relacionado aos dias de hoje, quando falamos de arte,
principalmente contemporânea, mesmo que o tema trabalhado da obra não seja
diretamente relacionado ao pessoal, mas trata sobre inquietações, boas ou ruins, sendo
assim sempre há algo íntimo envolvido na arte de quem produz, sobre pessoas negras
que falam sobre o que é ser negro e reagem contra as ações preconceituosas através da
sua arte, recebem críticas por abordarem a mesma temática, mas uma marca que mudou
para sempre a história dessas pessoas não deve ficar esquecida ou simplesmente fingir
que nada aconteceu, até porque carregamos uma herança forte até os dias atuais, o que
reflete o lugar em que os negros ocupam hoje. A invisibilidade ainda rodeia a arte de
quem e a representação do negro.
O fato da artista também ser negra é de extrema importância uma vez ao
tomar posse de lugares onde os negros nunca estiveram usufruir dessa
representatividade importa, além do que não costumamos ver mulheres negras
como produtoras de conteúdo e ativas intelectualmente, como diz Djamila Ribeiro,
em O que é lugar de fala?, “Também divulgar a produção intelectual de mulheres
negras, colocando-as na condição de sujeitos e seres ativos que, historicamente,
vêm pensando em resistências e reexistências.” a visão que se tem dessa mulher é
54

condicionada para atividades práticas ou na maioria das vezes sendo retratada em


imagens estereotipadas evidenciando a invisibilidade dessa mulher. A voz da arte de
Paulino funciona como estímulo para futuros artistas negros que não se sentem
representados no mundo das artes, a um silêncio que reverbera.
55

REFERÊNCIAS

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Letramento, 2018.

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Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo354/arte-contemporanea>. Acesso em: 15
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Acesso em: 06 Nov. 2018

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naa sociedade brasiliera/Lilia Moritz Schwarcz. -1ª Ed. –São Paulo: Claro Enigma,
2012.

SABER, CASA DO. Ser Brasileiro: Qual a Minha Identidade? | Lilia Moritz
Schwarcz. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rbg8NyUxCic>.
Acesso em: 17 out. 2018.

SANTOS, Luislinda Dias de Valois. O negro no séc. XXI. Curitiba: Juruá, 2009. 84p.

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WAISELFFISZ, J.J. (2015). Mapa da violência 2015: Homicídio de mulheres no


Brasil, FLACSO, 29-39.
58

APÊNDICE
59

8. AÇÕES PEDAGÓGICAS

8.1. AÇÃO PEDAGÓGICA I

Plano de aula:
A primeira ação aconteceu no Departamento de Artes-UFRN no dia 14 de
Setembro de 2018 a partir das 09:00 até as 13:00 com público estimado para vinte
estudantes.
Tema:
O tema em questão foi feminismo negro relacionado a apresentação de três
artistas Rosana Paulino com as instalações Assentamento e Bastidores que
compõem o eixo principal da pesquisa e procuram através do olhar da artista
Paulino questionar o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade brasileira
através do estudo do passado, relacionando a pesquisas científicas e vivências
pessoas e das mulheres de sua família, Grada Kilomba outra artista apresentada
discute sobre a descolonização de pensamento e das artes, discute a visão do negro
na sociedade exemplificando através de textos e videoarte o racismo velado que
acomete aos negros todos os dias e são negados pela sociedade. Harmonia Rosales
busca em suas artes representar negros em uma perspectiva de poder, os quais em
sua maioria no ocidente nunca foram vistos por esse ponto de vista, ela se apropria
de obras majoritariamente brancas e feitas por homens e substitui por mulheres
negras um exemplo é o homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci.

Objetivo geral:
O principal objetivo é apresentar as artistas Rosana Paulino, Grada Kilomba e Harmonia
Rosales e a diversidade de suas artes e a relação que possuem com o feminismo negro.
Objetivos específicos:
 Ampliar o conhecimento e facilitar o entendimento sobre o feminismo
negro.
 Relacionar o trabalho das artistas apresentadas ao feminismo negro.
 Apresentar artistas negras de várias nacionalidade e a diversidade da
temática de seus trabalhos.
60

 Como o feminismo negro pode unir e não separar as mulheres do


movimento feminista.

Conteúdo:
O assunto abordado trata sobre como as mulheres negras foram invisibilizadas
durante muito tempo e por conta dos movimentos feministas principalmente a partir da
segunda onda feminista em meados dos anos 60 e 80 nos Estados Unidos e Brasil, elas
estão em ascensão. Enaltecer a importância que as artistas possuem nas artes
contemporâneas enquanto mulheres negras e feministas.

Desenvolvimento do tema:
Aula expositiva por meio da apresentação de slides e logo após uma roda de
conversa sobre o tema explanado.

Avaliação:
Após a apresentação seguida da roda de conversa com os alunos pude observar
como o conteúdo foi absorvido de acordo com o conhecimento de cada individuo e de
como as discussões que foram levantadas serviram de grande suporte para a minha
pesquisa uma vez em que pude absorver conhecimento a partir do diálogo com
mulheres e homens de diversas realidades.

Relatório:

Introdução
O tema trabalhado na ação pedagógica discute questões de gênero, raça e classe
social, a partir das obras da artista Rosana Paulino, que tem como principal
questionamento em suas obras, o lugar em que a mulher negra ocupa na sociedade
brasileira, mas também são exemplificadas artistas de variadas nacionalidades, mas que
se consideram negras e trabalham com esse tema em suas obras, como Grada Kilomba e
Harmonia Rosales.
61

Objetivos:

Os principais objetivos são levar ao conhecimento público a existência de artistas


negras. Realçar como várias artistas que em suas obras discutem quase o mesmo
conteúdo sobre mulheres negras, mas de formas completamente diferentes, expondo a
pluralidades das artistas e suas diversas formas de fazer arte.

Resultados e discussão:

Após a apresentação, todos os alunos se mostraram interessados sobre o tema,


através da mediação da professora Bettina Rupp, os alunos expressaram suas opiniões
sobre interseccionalidade, sobre alguns que não se identificam com o termo feminismo,
mas sim Mulherismo, pois o termo foi criado por mulheres não brancas. Alunos se
sentiram confortáveis para indicarem suas leituras e houve perguntas sobre dificuldades
em encontrar artistas negros para a pesquisa.

Conclusão:

Conclui-se que existem muitas dificuldades e uma naturalização da ausência de


pessoas negras no meio artístico e assim os alunos ainda possuem muito
desconhecimento sobre tais temáticas. E de como é importante levar esse conhecimento
que por mais que esteja em pauta nas mídias atualmente, permanece um assunto
incompreendido e desconhecido por grande parte das pessoas, levar essa temática de
feminismo negro para a sala de aula dentro das universidades abre a mente dos alunos
que futuramente estarão em espaços de poder e que a partir do momento em que
compreendem esses processos podem informar mais pessoas.
62

8.2. AÇÃO PEDAGÓGICA II

Plano de aula:

A segunda ação com duração de quatro horas, realizada no Ateliê Jackie


Monteiro, para o público seis pessoas, no horário das 14:00 ás 18:00h.

Tema:

O tema em questão, foi uma conversa sobre o feminismo negro, identidade e


empoderamento estético dos negros e como esses processos influenciam no dia a dia
dos negros.

Os componentes da conversa explanaram sobre suas experiências e anseios de se


conectarem mais com a estética negra, sobre preconceitos e curiosidade sobre artistas
negras.

Objetivo geral:

O principal objetivo é apresentar as artistas Rosana Paulino, Grada Kilomba e


Harmonia Rosales e a diversidade de suas artes. A relação que possuem com o
feminismo negro e através de suas obras observar e refletir como as figuras negras são e
foram retratadas ao longo da história.

Objetivos específicos:

 Ampliar o conhecimento e facilitar o entendimento sobre o feminismo negro.


 Relacionar o trabalho das artistas apresentadas ao feminismo negro.
 Apresentar artistas negras de várias nacionalidade e a diversidade da temática de
seus trabalhos.
 Como o feminismo negro pode unir e não separar as mulheres do movimento
feminista.
63

 Separar imagens estereotipadas dos negros e apresentar negros em espaços de


poder, como por exemplo, escritores, artistas visuais e cantores.

Conteúdo:
O assunto abordado trata sobre como as mulheres negras foram invisibilizadas
durante muito tempo e por conta dos movimentos feministas principalmente a partir da
segunda onda feminista em meados dos anos 60 e 80 nos Estados Unidos e Brasil, elas
estão em ascensão e a importância que elas possuem nas artes contemporâneas enquanto
mulheres negras e feministas. Abordar identidades que reforcem a imagem positiva dos
negros a partir de referências musicais, literatura e arte

Desenvolvimento do tema:
Uma breve apresentação expositiva por meio de slides e uma roda de conversa
sobre o tema explanado.
Avaliação:
Após a apresentação seguida da roda de conversa com os participantes pude
observar como o conteúdo foi absorvido de acordo com o conhecimento de cada
indivíduo e de como as discussões que foram levantadas serviram de grande suporte
para a minha pesquisa uma vez em que pude absorver conhecimento a partir do diálogo
com mulheres e homens de diversas realidades.

Relatório:

Introdução:
Neste relatório pretende-se explanar sobre lugares de poder que devem ser
ocupados por negros e de como a exposição de artistas em geral como Rosana Paulino,
Harmonia Rosales e Grada Kilomba, discutem questões de decoloniedade, lugares de
poder, feminismo negro e ressignificação de identidades. E como essas artistas realçam
as possibilidades tanto como artista, como as obras, que mulheres e homens negros são
capazes.

Objetivos:
64

Esperasse que os participantes identifiquem a variedade de artistas negros que


existem e a partir disso, conversar sobre ocupação de espaços de poder, estética dos
negros que foi apagada durante séculos, que envolvem expressões culturais até cortes de
cabelo, que valorizem o sujeito negro enquanto detentor de identidade própria.

Resultados e discussão:

Após a apresentação os participantes se mostraram presentes nas discussões,


propondo mais questionamentos e expondo situações em que foram expostos. Todos
puderam trocar ideias e conversar entre si.

Conclusão:

Conclui-se com essa exposição de ideias que levar essas discussões a espaços além
da universidade, permitem alcançar uma pequena parcela de pessoas que precisam
desses conhecimento para entender a situação do outro e de si mesmo, socialmente e
historicamente.
65

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brancas por pessoas negras. Nexo Jornal, 2018. Disponivel
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%C3%A1ssicas-trocando-pessoas-brancas-por-negras>. Acesso em: 10 Setembro de
2018.

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Anne Caroline Quiangala. Disponível
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(Engl./Port.).2016. (5m40s) Diponível em<https://www.youtube.com/watch?
v=ftRjL7E5Y94> Acesso em: 12 de Setembro de 2018.

KILOMBA, Grada. "Plantation Memories" by GradaKilomba, Part II


(Engl./Port.).2016. (4m11s) Disponivel em:<https://www.youtube.com/watch?
v=SzU0TQxLnZs&t=3s> Acesso em: 12 de Setembro de 2018.

KILOMBA, Grada. Descolonizando o pensamento: Uma palestra performance de


Grada Kilomba.Geledés, 2016. Disponível
em:<https://www.geledés.org.br/descolonizando-o-conhecimento-uma-palestra/>
Acesso em: 12 Setembro de 2018.

Arte!Brasileiros. Performance "Illusions" de Grada Kilomba. 2016. (5m13s).


Disponivel em<https://www.youtube.com/watch?v=1bm8hI9xtf0&t=13s>Acesso em:
12 de Setembro de 2018.

PAULINO, Rosana. Rosana Paulino: Artista visual e pesquisadora. São Paulo.2018.


Díponivel em:<http://www.rosanaPaulino.com.br/>. Acesso em: 11Setembro 2018.
66

PAVAM, Rosane. Rosana Paulino expõe o racismo enraizado no Brasil. 2016.


Disponivel em<https://www.cartacapital.com.br/revista/922/rosana-Paulino-expoe-o-
racismo-enraizado-no-brasil> Acesso em: 10 de Setembro de 2018.

Revista Bravo!.Ateliê da artista: Rosana Paulino. 2018. (5m7s) Disponível


em:<https://www.youtube.com/watch?v=lTdnSyqWv1A> Acesso em: 10 de Setembro
de 2018.

Itaú Cultural. Rosana Paulino – Diálogos Ausentes (2016). 2016. (9m24s) Disponível
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O Beijo.O corpo negro nas obras de Rosana Paulino. 2017. (3m37s) Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=Y8NMJLyKiXw> Acesso em: 11 de Setembro
de 2018.
67

ANEXO
68

9.ANEXO A
9.91. LISTA DE PRESENÇA PARA AÇÃO PEDAGÓGICA II

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