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METÓDICOS
RESUMO
Palavras-chave
Método histórico-crítico; Escrituras Sagradas; história; características; passos
metódicos.
ABSTRACT
Keywords
Historical-critical method; Holy Scriptures; history; characteristics; methodic steps.
1. INTRODUÇÃO
1
Mestre em Teologia Dogmática e Filosofia da Religião pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia. Professor de Teologia na Faculdade Batista de Minas Gerais (FBMG), e de Teologia e
Direito no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (CUMIH).
2
2
Cf. LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 149-150.
3
3
Cf. VOLKMANN, Martin; DOBBERHAHN, Friedrich Erich; CÉSAR, Ely Éser Barreto. Método histórico-crítico.
São Paulo: CEDI, 1992. p. 11.
4
4
VOLKMANN; DOBBERHAHN; CÉSAR, Método, p. 12.
5
Ibid., p. 13.
6
Ibid., p. 14.
5
não são suas ideias, mas a Palavra de Deus. É o Espírito Santo quem dita
diretamente a profetas e apóstolos o que devem escrever.7
A inspiração verbal tem duas causas. A primeira é chamada causa
eficiente principal. O Deus Triúno não só inspira os conteúdos, mas também as
próprias palavras do escrito. A segunda é chamada causa eficiente ministerial. Os
profetas, evangelistas e apóstolos, ao escreverem, teriam sido incapazes de cometer
erros por causa da iluminação recebida do Espírito Santo.8
Segundo Volkmann, quatro consequências decorrem da doutrina da
inspiração verbal, tal como elaborada pela ortodoxia. A primeira é a identificação da
Bíblia com a Palavra de Deus. A segunda é a infalibilidade da Bíblia. Se ela é a
Palavra de Deus ela é, necessariamente, infalível. A terceira é a perda total da
historicidade. Isso porque a inspiração verbal direta, de caráter sobrenatural, torna a
relação histórica do autor com o evento histórico de Jesus totalmente irrelevante. A
quarta e última é a negação da encarnação da verdade revelada, porque nega a
dimensão histórica de Jesus.9
A segunda característica da doutrina da Escritura é a elaboração das
chamadas características da Sagrada Escritura. Para Volkmann “são três as
características da Escritura: autoridade, perfeição ou suficiência e transparência ou
eficácia.”10 Autoridade porque a Escritura é Palavra inspirada de Deus. Perfeição
porque a Escritura é suficiente para se conhecer a vontade de Deus e as condições
da salvação. Consequentemente, a tradição eclesiástica não é mais necessária. E
transparência porque, na Escritura, a vontade salvífica de Deus pode ser claramente
percebida. Mais uma vez, não é necessária a interpretação do magistério da igreja.
O objetivo por trás de tal argumentação da ortodoxia é se dirigir contra a
doutrina católica de que a Escritura necessita de complementação da tradição
eclesiástica para que a mensagem alcance o seu objetivo. Disso decorrem duas
consequências: 1) a ortodoxia desenvolve uma doutrina da Escritura que a
compreende como documento infalível da Revelação de Deus; 2) isso faz com que
este documento seja distante da realidade humana a quem tal Revelação se
destina.11
7
Ibid., p. 14
8
Ibid., p. 15.
9
Ibid., p. 15-16.
10
Ibid., p. 16.
11
Ibid., p. 16.
6
12
Ibid., p. 17.
13
GERHARD, Johann, apud VOLKMANN; DOBBERHAHN; CÉSAR, Op.cit., p. 18.
7
realmente importa é que o Espírito restabeleça a sintonia com o seu falar fixado por
escrito no livro sagrado. O falar de Deus é considerado eternamente igual.14
Encerrando a análise sobre o fechamento da questão histórica na
ortodoxia, Volkmann afirma:
14
Cf. VOLKMANN; DOBBERHAHN; CÉSAR, Op.cit., p. 18-19.
15
Ibid., p. 19.
16
Ibid., p. 19.
8
outras palavras, tudo o que é dito sobre e a partir da Escritura deve estar em
concordância com os artigos da fé.17
Embora, na primeira regra, Flacius tenha colocado o papel dos interesses
dogmáticos em segundo plano, na quarta regra ele os retoma novamente. Isso quer
dizer que, em última análise, ele está interessado em uma interpretação teológica da
Escritura. Para Volkmann:
Flacius se aproxima do que mais tarde dirá a ortodoxia e o germe para uma
análise histórica da Bíblia é novamente abafado, porque: a Bíblia deve ser
vista como uma unidade orgânica e não pode haver contradições; a
interpretação dogmático-teológica é o objetivo último de maneira que a
interpretação histórica passa a ser mera ciência auxiliar subordinada e a
serviço da dogmática, cujos resultados de forma alguma podem estar em
18
discordância com os princípios dogmáticos.
17
Ibid., p. 19 - 20.
18
Ibid., p. 21.
19
Ibid., p. 21.
9
20
Ibid., p. 21-22.
21
É válido destacar que, em 1516, Erasmo, o humanista, havia editado o Novo Testamento grego. Essa edição
passou a ser o textus receptus e declarado inspirado pelos teólogos ortodoxos.
22
VOLKMANN; DOBBERHAHN; CÉSAR, Op.cit., p. 22-23.
23
Ibid., p. 23-24.
10
24
Ibid., p. 24.
25
Ibid., p. 24.
26
Ibid., p. 25.
27
Ibid., p. 25.
28
Ibid., p. 25-26.
11
Outro que sofre a influência deísta e que assume posição muito semelhante
à de Turrettini é o seu quase contemporâneo Johann A. Ernesti. Ele
defende, além disso, uma análise separada de Antigo Testamento e Novo
Testamento, devido à diferença histórica entre ambos. Mas, apesar desses
avanços, Ernesti ainda permanece preso à opinião de que a Escritura não
30
pode errar por ser inspirada.
29
Ibid., p. 27.
30
Ibid., p. 27.
12
grandeza inconteste. Semler considera que todo ele deve ser submetido à crítica,
uma vez que a pertença de um livro a ele é uma questão meramente histórica. Isto
é, a decisão de incluir um livro no Cânon é produto de um acordo entre as diversas
regiões eclesiásticas acerca dos livros considerados válidos para a leitura no culto.31
Partindo dessas duas premissas, Semler conclui que os escritos bíblicos
devem ser analisados historicamente com todo rigor e com todas as conseqüências.
Seu programa hermenêutico pode ser analisado por dois pontos de vista. Por um
lado, importa, num primeiro momento, analisar e destrinchar o texto puramente em
seu significado histórico, e, apenas num segundo momento, dizer o conteúdo dos
textos de forma nova para os dias atuais. Por outro lado, sendo o Cânon uma
grandeza histórica não idêntica à Palavra de Deus, ele deve ser analisado
criticamente32.
Volkmann conclui sua exposição sobre a origem do método histórico-
crítico afirmando o porquê de Semler ser considerado o seu pai:
35
Ibid., p. 184.
36
Ibid., p. 184.
37
Ibid., p. 185.
38
Ibid., p. 186.
14
39
Ibid., p. 187.
40
Para Lopes, o termo “alta crítica” surge para se referir a essa tarefa de “criticar” o relato bíblico e limpá-lo dos
acréscimos mitológicos. Ele afirma também que outros estudiosos preferem usar o termo “saga” para se referir
às lendas criadas por Israel sobre suas origens e pela igreja apostólica sobre Jesus.
41
Cf. LOPES, Op.cit., p. 188.
42
Ibid., p. 188.
43
Ibid., p. 189.
15
44
Cf. FEE Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? São Paulo: Vida Nova, 1998. p. 237-318.
45
Cf. FEE; STUART, Entendes, p. 256.
46
Wenham apud FEE; STUART, Op.cit, p. 256.
47
LOPES, Op.cit., p. 189.
48
Kirst apud FEE; STUART, Op.cit., p. 257.
16
49
Ibid., p. 258.
50
Cf. FEE; STUART, Op.cit., p. 258.
51
LOPES, Op.cit., p. 193.
17
unidade textual, determinando o seu gênero e perguntando por seu lugar vivencial.
Ao fazê-lo, pressupõe que existe uma correlação entre forma e conteúdo” 52.
Segundo Nicodemus, a crítica da forma:
Vai mais além que a crítica das fontes e ocupa-se com a pré-história das
fontes escritas que compuseram o texto. De acordo com a crítica da forma,
boa parte dos livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento são, em
sua forma final, o resultado de um processo de coleção, edição e
harmonização de tradições antigas, fontes anteriores (escritas ou orais) por
parte de editores e escribas. Essas fontes adquiriram sua forma, como
sagas, lendas, ditos dominicais, parábolas, etc., no processo de reflexão,
evangelização e apologia por parte da igreja, e refletem a teologia da igreja
(Gemeindetheologie). A crítica da forma, portanto, preocupa-se com o
estágio oral pelo qual o texto passou antes de adquirir forma escrita. O alvo
do intérprete é reconstruir o ambiente vivencial (Sitz im Leben) em que
53
essas fontes foram produzidas para assim chegar ao sentido do texto.
52
FEE; STUART, Op.cit., p. 259.
53
LOPES, Op.cit., p. 192.
54
Kirst apud FEE; STUART, Op.cit., p. 259.
55
Cf. FEE; STUART, Op.cit., p. 260.
18
56
Ibid., p. 260.
57
Para maiores informações sobre revelação, inspiração, veracidade, canonicidade e autoridade, cf. GRUDEM,
Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. Embora os termos não estejam descritos assim
nessa obra, o conteúdo sobre os mesmos está presente na mesma.
19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? São Paulo: Edições Vida
Nova, 1998.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
KAISER JR., Walter C., SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica bíblica. São
Paulo: Cultura Cristã, 2002.
VANHOOZER, Kevin. Há um significado neste texto? São Paulo: Editora Vida, 2005.