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ALEGAÇÕES FINAIS
em face da acusação contra sua pessoa, promovida pelo Ministério Público no presente processo
crime, aduzindo o entendimento a seguir como o mais justo para o desfecho da lide.
A denúncia para o acusado foi recebida em 14/04/2011 (fl. 73). Oferecida defesa
inicial às fls. 88.
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Encerrada a instrução, o Ministério Público pugnou pela procedência da acusação
pela prática de crime do artigo 171, caput do CP e duas vezes nas penas do artigo 171, caput, c/c
artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, bem como que seja o acusado condenado a reparar os
prejuízos sofridos pela vítima Mariazinha no valor de R$ 170,00 (cento e setenta reais).
II - DO MÉRITO
ARTIGO 171, CAPUT, C/C ARTIGO 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL – CRIME
IMPOSSÍVEL
Em que pese à acusação movida contra o ora acusado, importante frisar que o
mesmo em seu interrogatório às fls. 118/119 confessa o crime a ele imputado, afirmando
categoricamente que não responde a outra ação penal e que é pai de família, tendo dois filhos
menores a quem sustenta.
Contudo, denota-se do presente caso que com relação à tentativa realizada pelo
acusado de convencer as vítimas se torna pelo meio de atuação, crime impossível, tendo em vista a
forma e a abordagem do acusado, pois segundo às próprias vítimas a “propaganda” realizada pelo
acusado não às convenceu, ou seja, não houve nenhum resultado prático com relação ao crime a
ele imputado, qual seja, a tentativa de estelionato.
Assim, não resta dúvida quanto à atipicidade da conduta do acusado, tendo em vista
que não houve se quer prejuízo às vítimas e que não houve o elemento essencial para caracterizar o
crime de estelionato, o convencimento das vítimas a pagar a quantia requerida pelo acusado,
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conforme se verifica nos depoimentos das vítimas, Sheila dos Santos Souza e Mayara Rayane Alves
Mariano, às fls. 115 e 116 respectivamente, vejamos in fine:
“Fl. 115 (depoimento de Sheila dos Santos Souza): (...) que o acusado se apresentou
como funcionário do Supermercado EXTRA e que estava com sobras de mercadorias;
que o acusado ofereceu uma TV de plasma de 42 polegadas e um notebook, no valor
total de 300 reais; que a vítima não acreditou na proposta feita pelo acusado; que
não sofreu prejuízo nenhum; (...)” (grifamos)
“Fl. 116 (depoimento de Mayara Rayane Alves Mariano): (...) que foi abordada pelo
acusado, que ofereceu uma TV e um micro-ondas pelo valor de 200 reais; que a
depoente não aceitou a proposta; (...)” (grifamos)
Ademais, não se pode apenar a tentativa por quem pela atipicidade da conduta não
obteve resultado algum, conforme se verifica no artigo 17 do CP, in verbis:
"Art. 17. não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime."
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delito. 2. Sendo material o crime de estelionato, e consistindo ele na obtenção,
para si ou para outrem, de vantagem ilícita, em prejuízo alheio, inexistindo o
objeto patrimonial sobre o qual recaia a conduta do agente, não houve qualquer
risco objetivo ao bem juridicamente tutelado, afigurando-se impossível a
consumação do delito, por absoluta impropriedade do objeto. (...) 7. Recurso
parcialmente provido. (ACR 200551015034387 RJ 2005.51.01.503438-7 - Relator(a):
Desembargadora - Federal LILIANE RORIZ - SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA -
Data:20/04/2010 - Página::71/72) (negritamos, grifamos)
Assim, o que se percebe até então é que houve ineficácia absoluta do meio ou
absoluta impropriedade do objeto, e verificando até mesmo a teoria da imputação objetiva, adotada
pelo código penal, torna-se claro o fundamento da atipicidade do crime impossível.
(...) que o acusado ofereceu um notebook e câmera digital, no valor total acordado de
350 reais pelos produtos; que a depoente entregou 170 reais em espécie ao
acusado; que o acusado era uma pessoa muito convincente e estava bem arrumado;
que o acusado dizia que a mercadoria estava sobrando no estoque; (...) (grifamos)
Ora Excelência, houve dano a vítima, ocorre que este dano se deu em matéria
meramente cível, sendo à medida que se coaduna ao presente caso o ressarcimento civilmente, não
sendo a via eleita a correta para o ora pleiteado.
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É de se ressaltar que o valor antecipado pela vítima ao acusado esbarra-se no óbice
do princípio da insignificância, pois a lei penal observa o aspecto material da conduta, neste sentido,
não basta apenas que a conduta humana esteja descrita formalmente na lei, tem-se que visualizar
“algo mais”: se esse comportamento humano foi, verdadeiramente, lesivo a bens jurídicos, moral ou
patrimonialmente.
Com isso, considerar-se-iam atípicas condutas humanas que não lesem a vida em
sociedade, por serem tão ínfimas e insignificantes, não merecendo qualquer apreciação da função
judiciária.
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que não considero apenas e tão somente o valor subtraído (ou pretendido à subtração)
como parâmetro para aplicação do princípio da insignificância. Do contrário, por óbvio,
deixaria de haver a modalidade tentada de vários crimes, como no próprio exemplo do
furto simples, bem como desapareceria do ordenamento jurídico a figura do furto
privilegiado (CP, art. 155, § 2°). Como já analisou o Min. Celso de Mello, no precedente
acima apontado, o princípio da insignificância tem como vetores "a mínima ofensividade
da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada."
(HC 84.412/SP). 3. No presente caso, considero que tais vetores não se fazem
simultaneamente presentes. Consoante o critério da tipicidade material (e não apenas
formal), excluem-se os fatos e comportamentos reconhecidos como de bagatela, nos
quais têm perfeita aplicação o princípio da insignificância. O critério da tipicidade material
deverá levar em consideração a importância do bem jurídico possivelmente atingido no
caso concreto. 4. No caso em tela, a lesão se revelou significante não obstante o
bem subtraído ser inferior ao valor do salário mínimo . Vale ressaltar, que há
informação nos autos de que o valor "subtraído representava todo o valor encontrado no
caixa (fl. 11), sendo fruto do trabalho do lesado que, passada a meia-noite, ainda
mantinha o trailer aberto para garantir uma sobrevivência honesta." Portanto, de acordo
com a conclusão objetiva do caso concreto, entendo que não houve inexpressividade da
lesão jurídica provocada. 5. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.” (RHC
96813, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 31/03/2009, DJe-
075 DIVULG 23-04-2009 PUBLIC 24-04-2009 EMENT VOL-02357-04 PP-00706 LEXSTF
v. 31, n. 366, 2009, p. 371-380 RF v. 106, n. 407, 2010, p. 475-480) (negritamos)
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(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em
08/04/2008, DJe 25/08/2008) (negritamos).
IV - CONCLUSÃO
a) Que o réu seja considerado inocente das duas acusações acerca dos crimes
previstos no artigo 171, caput, c/c artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, tendo em vista à
atipicidade da conduta do acusado, bem como que não houve se quer prejuízo às vítimas.
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b) Que o réu seja absolvido no que tange à aplicação do artigo 171, caput, do
Código Penal, tendo em vista o óbice do princípio da insignificância, sendo medida de rigor que
qualquer dano material seja guerreado em ação própria na esfera cível.
Alexandre Carvalho
OAB/DF 35.428
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