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Meso-América.

3 etapas:

Formativo: segundo e primeiro milênio a.C.

Entre 1800 e 1400 a.C. se estabelecem redes de comércio: o


exemplo da obsidiana que chegava da Guatemala até
Veracruz. Comércio de produtos de luxo: diferenças sociais.
Aumento da divisão de trabalho e da especialização dentro
de grupos sociais: ceramistas, orfebres, tecelões.

Olmecas.
Área úmeda, com pântanos, lagoas e rios. Presença de
jaguares e lagartos. Utilização do limo dos rios para o cultivo.
Cultura de milho, abóboras, feijão, tomate, etc. Criação de
cães, perus e manatí. Comércio de jade, obsidiana,
serpentina e cinábrio.
Cidades: San Lorenzo, La Venta, Três Zapotes e Lagunas de
los Cerros. Entre 1300 e 700 a.C. Pirâmides feitas de barro,
túmulos, fileiras de colunas, altares de pedra e praças. Classe
privilegiada tinha acesso a bens do comércio, seus túmulos
indicam já uma diferenciação social.
Sobre cabeças colossais, elas foram deslocadas de forma
violenta de seus lugares de origens e muitas foram mutiladas.
Por a diferença entre seu caráter realista e não sagrado, em
relação a posteriores esculturas de caráter religioso,
simbólico, principalmente relacionadas ao jaguar, pode
afirmar-se que existiu uma rebelião de caráter religioso e que
impôs um determinado culto religioso.
Por volta de 1200 a.C., existência de um grupo, ou uma
dinastia, que impõe um determinado culto ligado ao deus-
jaguar. Essa dinastia se apresenta como mediadora da
divindade.
Para Alfonso Caso, os olmecas se apresentam como cultura-
madre.

Clássico: primeiro milênio d.C.


Aumento da população, relacionada a uma melhora nas
técnicas de cultivo, na seleção de plantas e aumento da
produtividade. Expansão e redes de comercio e incorporação
de novas regiões.
Importância da vida urbana. As cidades possuem uma
extensão de mais de 15 km², são planejadas, possuem áreas
de convívio social como o mercado e a cancha de jogo de
pelota.
As cidades se organizam em confederações de cidades,
principalmente de caráter comercial: Monte Albán, Cholula, El
Tajín.
As classes dominantes estavam integradas pelos depositários
de conhecimentos, conhecedores de rituais e de cerimônias
religiosas, donos de comércio e da administração.
Importância do calendário em relação à necessidade de
conhecer melhor o tempo. O calendário regia a periodicidade
do mercado, o destino dos homens e principalmente o
comportamento dos deuses.

Teotihuacan.
Localizada a 50 km de México, surgiu entre 100 e 700 d.C.,
com mais de 150 mil habitantes e com 20 km² de extensão
em sua época de apogeu.
Importância do templo de Quetzalcóatl, da Pirâmide do Sol e
da Lua, assim como a canalização do rio San Juan e o
sistema de esgoto e drenagem, são evidências do
desenvolvimento urbano do período.
Existência de edifícios públicos, de templos e de palácios, de
bairros de artesãos e de estrangeiros.
Importância da agricultura: milho, abóbora, feijão, chili,
tomate, amaranto e a tuna; do trabalho da obsidiana (base do
comércio exterior) e do comércio exterior. Através de ele, as
classes dirigentes obtinham algodão e jadeita e turquesa,
enquanto que aproveitando o trabalho dos artesãos, eles
enviavam objetos de obsidiana e cerâmica.
Impõem seus deuses a outros povos de língua náhuatl:
Tlaloc, deus da chuva; Chalchiuhtlicue, deusa das águas
terrestres; Quetzalcóalt, a serpente emplumada; Xiuhtecuhtli,
deus do fogo, assim como a necessidade de realizar
sacrifícios para poder manter o equilíbrio cósmico.
Teotihuacam se impõe como um centro dominador
principalmente em base ao comércio, através de pactos que
tinham como objetivo a garantir o fornecimento de produtos
chaves e também como centro de peregrinação religiosa.
Aproximadamente em 650 d.C. incêndio destruí a cidade e
começa um progressivo despovoamento.

Maias.

Pós-clássico: até a chegada dos espanhóis.


Politicamente corresponde o período que vá da crise das
cidades-estados no séculos IX e X até a chegada dos
espanhóis.
Crise das cidades, principalmente de Teotihuacan, gerou um
vazio de poder que esteve acompanhado por correntes
migratórias de povos que moravam ao norte. Surgimento de
novas cidades: Tula e Tenochtitlan no planalto mexicano e
Chichén Itzá e Mayapán nas terras dos maias do Yucatán.

Tula.
Cidade dos toltecas, fundada no século VIII, alcançou seu
apogeu no séculos XI e XII, estendendo sua influência na
parte central do México, no Golfo, Yucatán, em Chiapas e
Guatemala. Sua expansão foi através de alianças
matrimoniais, o que permitiu a expansão cultural. Em Tula
residiam aproximadamente 100 mil habitantes. Tinha uma
grande praça rodeada por pirâmides, calçadas com colunas,
canchas do jogo de pelota, altares e centros cerimoniais
dispostos para o sacrifício.
A importância do controle de redes comerciais permitem
apreciar as extensas redes que se estendiam até Guatemala
(turquesa e cerâmica), Oaxaca (jade), Costa Rica (cerâmica),
Campeche (vasos) e Guerrero (serpentina e jade).
Entre 1168 e 1178, a cidade cai, os edifícios são incendiados
e a cidade é abandonada. O motivo principal parece ter sido
invasões de povos do norte, chamados chichimecas.

América Andina.

Prioridade no uso da história dos Andes, os conceitos de


horizontes e de períodos intermediários. O horizonte seria
quando o poder o influencia de um determinado estado se
impõe sobre o conjunto do território, em quanto que o período
intermediário seriam os períodos de desintegração dos
horizontes nos quais surgem poderes locais ou regionais.

Horizonte antigo ou de Chavín. O primeiro milênio a.C.


Diversos povos, recém saídos da transição de tribos para
agrupações maiores, compartindo crenças parecidas: culto ao
jaguar, as serpentes e falcões. Existência de uma casta
religiosa que administrava um centro cerimonial de caráter
local, mas que pelas redes de comercio conseguiram
expandir a sua influencia ao território andino.

Intermédio anterior.
Paracas.
Do século IV a.C. até começos da nossa era.
Estudo de túmulos coletivos permitiu descobrir práticas
mortuárias, enterros que expressavam diferenças sociais.
Tecidos ricamente decorados com cenas da vida natural e
com deuses de antigas rememorações de Chavín.

Nazca.
Floresceu de 100 a 800 d.C.
Devido ao ambiente, tiveram que realizar sistemas de rego
com a finalidade de garantir seus cultivos que eram feitos
sobre escassas terras e construíram observatórios com
finalidade de predizer com exatidão as temporadas de
chuvas, isso através de linhas desenhadas no deserto que
estavam relacionadas às constelações.

Moche.
Importância da sua cerâmica como forma de conhecer a um
povo. Importantes obras de rego e utilização do guano como
adubo. Construção de pirâmides de barro.

Horizonte médio ou de Tiahuanaco e Wari, nos séculos


VIII e XII.
Se estende de 500 a 1000 d.C. Expressa este horizonte um
planejamento urbanístico, a presença do poder militar e a
metalurgia de cobre.

Tiahuanaco.
Importante centro cerimonial, compreende um conjunto de
edifícios construídos de forma a estar orientados pelos pontos
cardinais.

Wari.
Cidade localizada perto de Huamanga, nos Andes centrais.
Se estendeu até o norte, chegando a Cajamarca. Povos e
cidades de Wari estavam rodeados por fortificações, o que
evidencia a importância de seu poder político e militar.
Construíram varias estradas que logo seriam utilizadas pelos
incas.
Como cidade, Wari declinou no século XIII ocasionando a
fragmentação de seu estado em pequenos senhorios.

Intermédio posterior.
Chimú.
Tinha como capital a cidade de Chan Chan, se expandiu nos
séculos XIV e XV. A elite deste reino vinha do norte,
possivelmente do Equador.
Sua expansão política e militar é feita em base ao uso da
força contando com um forte exercito e com o controle das
águas que desciam pela cordilheira.
Importância do artesanato em ouro e prata, serão os
primeiros a utilizar moldes para fazer peças.
A sua capital tinha uma extensão de 17 km², com bairros
separados por muros, e com templos e piramides.

Horizonte inca do século XIV e XV até a chegada dos


espanhóis.
Incas

Mitos sobre a origem dos incas.


Juan de Betanzos fala sobre o ordenamento do mundo feito
por Wiracocha para que logo depois surgissem os homens de
dentro do mundo, de uma caverna, Pacaritambo. De ai
surgiram 4 casais ricamente vestidos (ayar manco, ayar uchu,
ayar cauchi, ayar auca) e com as insígnias de poder
reconhecidas nos Andes (cumbi, bolsa, hondas, tupu), para
logo dirigir-se à montanha Huanacauri. Nesta montanha
cultivariam a batata por um tempo até que decidiram dirigir-se
para o vale do Cuzco, não sem antes ter deixado a ayar cachi
dentro da caverna e a ayar uchu convertido em ídolo. Ayar
manco se converteu em Manco Capac, o qual estabeleceu
como filho do sol uma aliança com o o curaca Alcaviza se
estabeleceram definitivamente no Cuzco. Manco Capac é
reconhecido como introdutor do cultivo do milho.
Existe também a versão de Garcilaso de La Vega, na qual o
Sol faz surgir um casal, Manco Capac e Mama Ocllo, do lago
Titicaca com a tarefa de encontrar um lugar apropriado para
fundar uma cidade ao norte. Para cumprir esta tarefa eles
deveriam afundar uma vara de ouro na terra. O local onde a
vara se afundou foi no Cuzco, especificamente em
Huanacauri, onde eles começaram a viver e começaram a
ensinar aos nativos a cultivar o milho, a tecer e a adorar ao
sol.
O próprio surgimento do império também está envolto dentro
de um mito, o relativo à guerra com os chancas, povo que
morava ao noroeste do Cuzco e que era mais poderoso.
Estes se expandem para a região do Cuzco e obrigam ao
inca Wiracocha e ao filho herdeiro Urcon a abandonar a
cidade. Outro filho que estava desterrado, Inca Yupanqui
decide combater aos chancas com a ajuda do sol que
converte pedras em soldados e com os quais derrota aos
chancas. Se converte em inca e muda seu nome para
Pachacuti (o que muda o mundo). Uma vez reconstruída o
Cuzco e estabelecida a organização no Cuzco, Pachacuti
começa a conquista de diversos senhorios, começando com
aqueles que se encontravam perto do Titicaca. A partir deste
momento e com os monarcas seguintes, o império se
estenderia até chegar alem de Quito e pelo sul até o vale
central em Chile. Importância dos problemas em relação a
quem conquistou determinadas regiões porque as
contradições existentes evidenciam os mecanismos políticos
e militares da mesma.
Um problema que é colocado é sobre o caráter da
territorialidade no império, mas principalmente nos Andes.
Não é uma conceição de continuidade, mas principalmente
como um conjunto de diversos âmbitos ecológicos, os quais
eram complementários, que permitiam a obtenção para os
grupos étnicos de diversos recursos. Com os incas este
mecanismo passará a funcionar dentro de uma única unidade
política, mas sofrendo importantes transformações. As
conquistas, sem tirar de elas seu papel militar, tiveram
sempre um importante componente ritual, na qual se
estabeleciam alianças através dos mecanismos de
reciprocidade e redistribuição: entrega de mulheres como
esposas, de tecidos finos, de ídolos, de mullu.
Problemas sobre a dinastia.
O Cuzco esteve sempre dividido entre Hanan e Urin Cuzco
(alta e baixa), sendo que os cronistas espanhóis sempre a
entenderam de forma seqüencial, primeiro a urin e logo a
hanan. Ao comparar-se os incas com os curacas ou senhores
étnicos dos Andes, o elemento mais característicos é a
existência de uma dualidade na autoridade. Nessa medida,
autores como P. Duviols e T. Zuidema postulam a existência
de uma diarquia e não de uma monarquia, esta última seria
principalmente produto da mentalidade política os cronistas.
Cada inca que governava constituía com a família que
formava no seu reinado e seus descendentes, uma panaqa.
Incas

Urin Cuzco Hanan Cuzco


Manco Cápac Inca Roca
Sinchi Roca Yahuar Huaca
Lloque Yupanqui Wiracocha
Mayta Cápac Pachacuti
Cápac Yupanqui Tupac Inca Yupanqui
Huayna Capac
Huascar
Atahualpa

Incas
Manco Cápac
Hanan Cuzco Urin Cuzco
Inca Roca 1 Sinchi Roca
Yahuar Huaca 2 Cápac Yupanqui
Wiracocha 3 Lloque Yupanqui
Inca Yupanqui
Pachacuti 4 Mayta Cápac
Tupac Yupanqui I 5 Tarco Huaman
Tupac Yupanqui II 6 Filho do anterior
Huayna Capac 7 Tambo Mayta
Huascar 8 Tambo Mayta

A economia os incas.
Caracterizada por ser uma economia sem tributo, sem
moeda, nem mercado e nem comércio. A reciprocidade e a
redistribuição eram a base dos intercâmbios. Por não existir
moeda, o tributo obtinha a forma de tributo em energia de
trabalho. A economia está fortemente relacionada aos laços
de parentesco, aos ayllus, através do estabelecimento de
relações de reciprocidade e redistribuição. Os critérios
recolhidos pelos espanhóis partiam portanto de noções
diferentes, a pobreza ou riqueza do povo era medida por eles
em termos monetários, quando devia ser medida em termos
do tamanho e densidade das relações de parentesco que
eram as que garantiam o fluxo de energia de trabalho. A
reciprocidade em termos de força de trabalho era chamada
como ayni e funcionava dentro dos laços de parentesco como
uma sorte de ajuda entre seus membros para realizar
diversas atividades que supunham ações conjuntas. A base
sobre a qual funcionavam estas relações era o ayllu, o qual
era uma organização de parentesco que organizava ou
administrava a força de trabalho de um grupo de parentesco.
Os curacas se responsabilizavam por organizar estes grupos
e os intercâmbios de força de trabalho seja em seu interior,
em relação com outros grupos e em relação ao estado ou
entidade supra-comunal. Essa organização se estabelecia em
base às relações de reciprocidade, mas será o que permitirá
as relações de redistribuição,principalmente em relação à
obtenção de excedentes. Junto ao ayni, encontra-se a minka
e a mita. A minka era feita em relação a obter um beneficio
comunal, como uma ponte, um depósito. A mita era uma
atividade feita em turnos e que tinha como finalidade a
redistribuição de produtos entre os membros da comunidade.
O inca ao estabelecer relações com os diversos grupos
étnicos através de alianças matrimoniais originava vínculos
recíprocos que lhe permitiam aceder ao uso da força de
trabalho dos grupos étnicos. A utilização dessa força de
trabalho era canalizada pelo inca para o trabalho nas terras
dos incas e do sol. Os produtos obtidos nelas, como o milho,
a coca e o algodão ou a lã, eram guardados em depósitos
estatais com a finalidade de redistribuí-los posteriormente.
Alem do uso da força de trabalho dos grupos étnicos, o inca
contava com o concurso dos yanaconas.
Sobre o controle vertical de um Maximo de pisos ecológicos
ou o chamado arquipélago vertical de J. Murra.
Sistema andino de controle de diversos pisos ecológicos, os
quais eram complementários nos Andes com a finalidade de
atingir a auto-suficiência de determinados produtos. Cinco
casos: Primeiro, o caso dos lupaqas do Titicaca e o controle
de suas colônias produtoras de milho, aji e coca a grandes
distancias, na floresta dos Andes orientais e nos vales do
Pacífico. Segundo, os chupaychus que controlavam colônias,
mas uma distância menor. Terceiro, o controle de zonas do
litoral de regiões da serra e da puna ou altiplano para o
cultivo de aji e coca e o pastoreio e camêlidos. Quarto, o caso
do senhorio de chimor que as colônias tinham a finalidade de
controlar os recursos hídricos. Quinto, a de pequenos grupos
étnicos que se estabeleciam numa mesma região para poder
controlar uma zona produtora, no caso das yungas, do
controle do cultivo da coca. Este sistema que era pré-inca,
com os incas adquiriu uma nova fisionomia devido à
expansão territorial.
Caminhos
Cápac Mam ou caminho do senhor, se extendia pela maior
parte do território, era dividido em dois caminhos principais
paralelos que corriam por todo o território do império, tanto
através do itoral quanto da puna, alem de múltiplos caminhos
secundários que conectavam de forma transversal as
diversas regiões. Estudados por John Hyslop. Os caminhos
tinham a certa distancia os tampus ou tambos que eram
espécies de alojamentos e depósitos com roupa, alimentos e
outros para os viajantes. O serviço de manutenção dos
caminhos e dos tambos era feitos através das mitas ou de
trabalho por turnos.
Qollqas
Depósitos construídos com a finalidade de guardar alimentos,
roupas, armas, lã, etc, construídos em centros administrativos
incas, construídos em zonas altas e secas para facilitar a
conservação dos produtos, e administrados pelos qollqa
kamayoc. Serviam para armazenar os bens que se
destinariam a alimentar os mecanismos de redistribuição
estatal.
Kipus.
Complexo sistema de registro de informações feitos através
de cordas e nos. Neles se registrava informações sobre
população e grupos etários, atividades produtivas, para
organização da mita, para contabilizar os armazéns.

A sociedade inca.
Dualismo.
Hanan e urin, alto e baixo, direita e esquerda, masculino e
feminino, dentro e fora, etc. As idades, o território, as
dinastias, todo estava dividido em esses princípios dualistas.
Aquilo que podia ser hanan, ao mesmo tempo se subdividia
em hanan e urin. São postos complementários, é um principio
organizativo. O caso da hierarquia dos suyos: chinchaysuyu,
collasuyu, antisuyo e condesuyu. Cuzco tinha um numero de
ceques ou linhas imaginarias que correspondiam a certos
huacas o lugares sagrados. Panacas que se subdividiam em
collana (incas fundadores de panacas), payan (as panacas
mesmas) e cayao (ayllus cuzquenhos).
Inca.
Apresentado nas crônicas como um único monarca, seguindo
critérios hereditários ocidentais. De caráter sagrado, é um
mediador entre diferentes planos do mundo, é um modelo ou
arquétipo, um princípio gerador de vida, como divulgador e
organizador. É apresentado como chefe de todas as panacas,
como filho do sol, como o sol na terra e pelo qual tinha que
ser sempre levado em andas, como uma força capaz de
produzir destruição e transformações. É um mediador, como
se fosse um curaca, entre os diversos deuses e planos do
mundo, entre os diversos grupos étnicos e como centro e eixo
da redistribuição entre a população.
Elite.
Formava pelos membros das panacas, mas também por
todos os moradores do Cuzco, já que por ser uma cidade
sagrada, nela só podiam residiam pessoas escolhidas.
Existência dos incas de privilégios, aqueles que tinham sido
enobrecidos pelo inca como premio por seus serviços
prestados. Alem disso, tem que mencionar-se aos membros
principais de grupos étnicos incorporados ao império,
principalmente aqueles que tinham sido incorporados ao
império através de alianças e não do uso da violência. Alem
desses, as altas esferas da burocracia formava parte dessa
elite.
Os curacas.
Mistura de administradores e de autoridades religiosas, os
curacas eram responsáveis pela administração dos grupos
étnicos em relação às funções de reciprocidade e de
redistribuição. Não podem ser considerados funcionários do
império, já que sua eleição dependia de complexos rituais
dentro de cada grupo e seu reconhecimento por parte do inca
era só simbólico. Com a expansão do império e com a
formação de grupos de mitmaqkuna e de yanas, os incas
nomeavam a curacas especiais para organizar e administrar
estes grupos.
Administração incaica e local.
Existência de um conselho que regia aos suyos. Os curacas
constituíam a base da administração do império,
principalmente focados na administração da força de
trabalho. A elite se centrava em tarefas administrativas, mas
não era tão onipresente como afirmam as crônicas.
População.
Existia uma política populacional, principalmente relacionada
à administração dos mitmaqkuna, grupos de homens
retirados de grupos étnicos que eram destinados para povoar
determinadas regiões, para explorar melhor os recursos, para
colonizar regiões fronteiriças ou para controlar a outros
grupos. Outro grupo importante, são os yanakuna,
identificados no começo com os escravos, mas que
principalmente se refere a grupos étnicos que
desempenhavam funções ou tarefas complexas ou
especializadas, que podiam inclusive ser administrativa. As
aqlla ou mulheres escolhidas, estavam destinadas ao culto
seja do sol ou de outras huacas, a ser mulheres secundárias
do inca, ou mulheres das elites ou a curacas, serviam para
estabelecer alianças, para fazer a roupa do inca ou de um
valor simbólico alto.
Religião.
Entender a existência de uma religião oficial, o sol, que era
patrocinada pelos incas, e um conjunto de crenças e cultos
que correspondiam a uma sociedade de caráter
preponderantemente agrária. Mas existia entre os dois
conjunto de crenças, a idéia de um universo dividido em três
esferas: hanan pacha (mundo de acima), cay pacha (mundo
de aqui) e ucu ou urin pacha (mundo de adentro). Entre estes
mundos existem diversas passagens ou pacarinas: as
cavernas, mananciais, fontes, etc. O inca também é um
mediador entre diversos mundos, já que é considerado filho
de deus. As serpentes ou amarus também são mediadores,
assim como os rios, os lagos, os raios, o arco íris. Um caso
especial são os mallquis, semente e múmia, que é apreciado
como um comunicador, como um mensageiro. Desse
elemento, é que os espanhóis levantaram a crença no culto
aos mortos. Crença em espíritos que são reconhecidos como
huacas, como entidades associadas às comunidades.
Relação entre huaca-mallqui-curaca.
Os astecas

Quatro períodos de sua história: 1) assentamento na


zona insular do lago Texcoco e subordinados aos tepanecas
(1325-1430); 2) estruturação de um estado hegemônico
depois da derrota de Azcapotzalco (até 1469); 3) expansão
militar (até 1502) e 4) a consolidação do território (até a
chegada dos europeus).
Sobre Aztlan. Em Aztlan viviam os astecas que tinham
submetido aos mexicas, sendo que estes fugiram como
conseqüência de seus abusos e protegidos por seu deus
Huitzilopochtli. Os mexicas viajavam agrupados em seus
calpultin (sing.: calpulli), protegidos cada qual por seu próprio
patrono e chefe.
Os mexicas se estabeleceram nos ilhotas ocidentais do
lago Texcoco devido a sua abundante fauna e flora, mas
também encontraram problemas: água potável e salubre,
poucas terras, inundações, etc.
A diversidade étnica e política da região os obrigou a
procurar estabelecer alianças com as potencias regionais,
nesta situação com os tepanecas da cidade de Azcapotzalco.
Os mexicas fundaram sua cidade em uma ilhota, México-
Tenochtitlan, mas tiveram que pagar tributo a Azcapotzalco.
Ao mesmo tempo, solicitaram por uma necessidade política
uma rama da linhagem nobre, obtendo os mexicas seu
primeiro tlatoani da linhagem do rei de Culhuacan. Para 1371,
os mexicas tinham já conquistado aos próprios culhuas
dentro do governo de Huitzilíhuitl.
Em 1430, os mexicas entram em guerra contra
Azcapotzalco e a derrotam, depois da morte de seu rei
Tezozómoc, aliando-se aos acolhuas de Texcoco. Se forma a
excan tlatoloyan ou “tribunal das três sés”, ela estaria
formada por Texcoco, México-Tenochtitlan e Tlacopan que
representará aos tepanecas. As funções desta aliança eram:
solucionar conflitos de jurisdição, responsabilizar-se da
segurança da região, incorporar novos territórios e estados e
fomentar a ajuda mútua. Impacto destas mudanças políticas
dentro do estado tenoch: aumenta diferença entre nobres e
plebeus, aumenta centralização do poder, reorganização da
administração publica, surgimento de uma ideologia
militarista, fortalecimento do clero e de benefícios militares.
Depois da morte de Motecuhzoma Ilhuicamina, começa
o período de expansão militar. Tanto Axayácatl, Tízoc quanto
Ahuítzotl realizam um conjunto de campanhas militares e
impulsionam o comercio.
Depois da morte do último, em 1502, a Triple aliança
tinha chegado ao máximo da sua expansão territorial. Foi
escolhido como novo tlatoani Motecuhzoma Xocoyotzin, que
procurou consolidar os novos territórios e reorganizar o reino
em favor dos setores superiores.

Sobre o calpulli. Estúdio em duas correntes, a


encabeçada por Victor Castillo e Lopez Austin para os quais o
calpulli é essencialmente uma forma de organização gentílica
e que se viu obrigada a adaptar-se dentro de estruturas
estatais; e a outra, defendida por Pedro Carrasco, para o qual
o calpulli é uma demarcação territorial-administrativa com a
finalidade de cobrar os tributos e recrutar trabalhadores.
O calpulli era um conjunto de famílias ligadas, que
tinham um protetor comum, o capultéotl, deste derivava o
ofício dos membros do calpulli. Eles tinham a posse comum
da terra, sendo que parte das terras eram divididas entre as
famílias para seu sustento e outra parte para a manutenção
da própria comunidade através do trabalho coletivo,
principalmente para o pagamento do tributo. O calpulli tinha
duas dimensões, uma interna e outra ligada ao governo
central. Na primeira, dirigida pelo “pariente mayor” e um
grupo de anciões, tinham como missão distribuir a terra entre
as famílias do calpuli, levar o censo das famílias e das terras
que poderiam ser utilizadas. Na segunda, a sua função tinha
a ver com os tributos, com a participação na guerra e nos
exércitos, a justiça e o culto central.

Existiam dois grupos ou classes bem diferençadas, os


macehualtin e os pipiltin. Os primeiros eram camponeses,
artesãos e comerciantes; enquanto que os segundos
participavam principalmente das funções públicas. Os
primeiros pagavam seus tributos através de trabalhos e
excedentes, enquanto que os segundos não tributavam e se
beneficiavam da riqueza coletada, mas divulgavam a idéia de
que sua forma de pagar os tributos era exercer as funções
públicas. Se por um lado a nobreza recebia em troca de seu
trabalho público diversas propriedades para seu desfrute mas
que não eram de caráter hereditário, por outro lado ele
recebia prêmios pelas tarefas meritórias exercidas, os quais
se podiam ser acumulados ou vendidos. Também existia a
instituição dos tlatlacoliztli, aos quais se identificou como
escravos. Principalmente, através de um estudo dos últimos
anos da triple aliança quando começaram a chegar grandes
quantidades de cativos que começaram a ser utilizados
também para atividades produtivas, e não mais só para os
sacrifícios.

As terras eram divididas em três grandes grupos: as


comunais, as estatais (governo, culto, guerra) e as de
recompensa. As terras comunais pertenciam ao calpulli, elas
eram repartidas entre as famílias e também as destinadas
para ser trabalhadas coletivamente e que serviam para
manter o calpulli e para o pagamento de tributos. Não existia
direito de propriedade, mas a família na medida que
trabalhava a terra, mantinha a posse da mesma e podia ser
deixada em herança. Terras destinadas ao tributo e membros
do calpulli divididos em dois: os calpuleque e os teccaleque,
os primeiros o pagavam ao tlatoani e os segundos ao tecuhtli
(casa de gov.: tecalli). Parte dos tributos antes pagos ao
tlatoani eram pagos agora ao tecuhtli.
Existiam diversos tipos de terras estatais. As tlatocatlalli
eram as que cobriam os gastos do tlatoani, as tecpantlalli
eram para a manutenção da corte, as teopantlalli eram para a
manutenção do culto e as milchimalli para os gastos do
exercito.
As terras que serviam para recompensa eram chamadas
de pillalli (terra dos nobres), mas aquilo que os nobres tinham
sobre estas terras não era a propriedade, mas o direito a
receber os tributos de seus ocupantes. Seus ocupantes eram
chamados de mayeques e estavam adscritos à terra.

Na área mesoamericana existia uma pluralidade de


formas e níveis de organização política. Existe nessas formas
de governo a coexistência de dois sistemas: a de linhagem e
a territorial. Reconheciam a seus senhores naturais e por
outro, aos soberanos ou tlatoque que governava sobre
diversos grupos étnicos. O tlatocáyotl, o reino para os
espanhóis, eram governos com base nas cidades e de
caráter pluriétnicos, que aproveitou as estruturas gentílicas e
as adaptou, posição não compartida por Carrasco, para o
qual estas foram impostas desde acima como novos órgãos
de governo.
Em México-Tenochtitlan, a máxima direção política
estava em mãos de duas autoridades, o tlatoani, que era o
máximo dirigente militar, grande sacerdote e juiz; e o
cihuacóatl que era seu principal auxiliar, muitas vezes o
substituía e tinha papel de destaque no plano administrativo,
na fazenda e na justiça. No exercito, existia dois funcionários
máximos, o tlacatéccatl, que dirigia a tropa, e o tlacochcálcatl,
que se responsabilizava pelas armas e aprovisionamento. No
culto, existia também dois sumos-sacerdotes, o Quetzalcotl
Totec Tlamacazqui e o Quetzalcotl Tláloc Tlamacazqui. Na
fazenda, era o hueicalpixqui, responsável pelos coletores de
tributos, e o petlacálcatl, responsável por seu armazenamento
e redistribuição.
A INVENÇÃO DE AMÉRICA

I Parte: História e crítica da idéia do descobrimento da


América.
1. O problema do aparecimento de América significa pensar
sobre o próprio ser de América. O descobrimento de América,
não é a mesma coisa que o fato, é principalmente já uma
interpretação desse fato. O problema que levanta o livro é se
devemos ou não continuar com a idéia de uma descoberta de
América, e se é negativa a resposta, qual é a maneira mais
apropriada para entender esses fatos. Aquilo que se procura
não é fazer uma história do descobrimento de América, mas
uma história da idéia do descobrimento de América.

2. Lenda do “piloto anônimo”, estabelece que o objetivo da


empresa de Colombo era descobrir terras desconhecidas,
ocultando-se já a missão asiática das viagens.

3. Gonzalo Fernández de Oviedo (1526): Colombo descobriu


as Índias. No período que separa o descobrimento com a
escrita desta obra, tinha-se dado um processo ideológico no
qual as Índias ou América era entendida já como uma
entidade geográfica separada do Velho Mundo, portanto
fundamentada numa interpretação a posteriori. O que
procuraram realizar estas interpretações é afirmar que
Colombo tinha consciência dessa entidade.

4. Oviedo. Colombo é o descobridor de América porque ele


tinha consciência sobre a existência dessas terras através da
leitura de obras clássicas, identificando-as com as
Hespérides.
Francisco López de Gómara. Afirma a veracidade do relato do
“piloto anônimo”, o qual foi confrontado por Colombo com as
opiniões de homens doutos e chega a conclusão de que
Colombo é o segundo descobridor.
Hernando Colombo. Colombo foi o primeiro a saber de
existência das terras ao ocidente de Europa, produto de seus
conhecimentos, erudição e observações. A viagem portanto é
a comprovação empírica da sua hipótese e sua crença na
existência de terras.

5. Bartolomé de Las Casas. Descobrimento de América como


desígnio divino, sendo o escolhido Colombo, mas não por
revelação, mas sim por intuição que tinha como base uma
hipótese científica. A viagem tinha para Las Casas, uma
finalidade religiosa, encontrar terras povoadas por homens
aos quais ainda não tinha chegado o evangelho. Portanto,
para ele era indiferente se Colombo tinha chegado a China ou
a terras ignotas, o importante era que tinha chegado o
momento de pregar o evangelho a todo o mundo antes da
chegada do fim dos tempos.

6. Problema do objetivo asiático da empresa, de ver-se a


empresa como uma esforço de ligar Europa e Ásia.
Antonio de Herrera. Afirma que Colombo se convenceu de
que tinha chegado a Ásia, e ainda os erros sobre aonde tinha
chegado.
Pablo de La Concepción Beaumont. Apresenta que o objetivo
da viagens pode ser pensado em dois: o primeiro cegar a
terras ignotas e, caso não conseguir, chagar a Ásia.
William Robertson. Formava parte do horizonte do século
XVI, abrir uma comunicação marítima de Europa com a Ásia.
Colombo realiza a sua empresa, mas com a duvida de que
terras poderia encontrar, terras ou um continente ignoto ou a
Ásia, principal de seus objetivos.

7. Publicação dos documentos colombinos por Martín


Fernández de Navarrete.
Navarrete. O objetivo de Colombo era chegar a Ásia e ele
acreditou isso até a sua morte, mas conclui que ele descobriu
América.
Washington Irving. Da mesma maneira que o anterior, mas
afirma que na viagem de Colombo existiu uma
intencionalidade.
Alexandre von Humboldt. Dentro de uma conceição idealista
da história, para ele Colombo teve consciência do
descobrimento, mas não de caráter individual, mas como
parte de forças que dominam a história. O objetivo asiático da
sua empresa é ocultado por segunda vez, com a finalidade de
afirmar que Colombo descobriu América.

8. Morison. Afirma o objetivo asiático e que sempre esteve


convencido de que tinha chegado a Ásia, mas ele descobriu
América por acidente.

9. Interpretar o ato da viagem de Colombo.


Primeira etapa: terras descobertas em 1492 eram um
continente desconhecido porque com essa intenção realizou
a viagem. Segunda etapa: terras descobertas em 1492 eram
um continente desconhecido, mas não era essa sua intenção
quando realizou a viagem, mas por outro lado, cumpriu a
intenção da história de conhecer esse continente. Terceira
etapa: terras descobertas em 1492 eram um continente
desconhecido e que foi encontrado por casualidade. Esta
terceira etapa cumpre com a finalidade de anular ao
individuo, Colombo, e destacar o papel da História.

10. Três idéias fundamentais: 1) a quê se deve que América


foi descoberta; 2) porque essa idéia não foi abandonada
apesar de toda a evidencia empírica e; 3) o absurdo na
maneira como foi revelado o ser de América, a idéia de uma
casualidade.
Três aspetos do problema: 1) seu ser estava feito para ser
descoberto; 2) para seu descobrimento bastava um simples
contato físico, independente das intenções e opiniões de seu
autor e; 3) o ser tem a sua própria intencionalidade de ser
descoberto.

11. A América inventada.

II Parte: O horizonte cultural.


1. Questionamento à tese do descobrimento de América parte
da idéia de que tanto as coisas quanto os acontecimentos
não são algo em si mesmo, mas seu próprio ser depende do
sentido que lhes é atribuído.

2. O universo. Ele é finito, perfeito, segue um modelo


arquetípico e único, e ele pertence só a Deus. O universo
tinha a forma esférica, era finito no tempo e no espaço,
possui duas zonas concêntricas: a zona celeste, formada
pelas órbitas do empíreo, do cristalino, do firmamento as dos
sete planetas; e a zona espiritual, que tinha as órbitas dos
bem-aventurados e das hierarquias angélicas. Esta zona era
a da descomposição e estava formada por quatro órbitas: a
do fogo, ar, água e a terra.

3. O globo terrestre. Dois problemas fundamentais: o


tamanho do globo e a proporção entre as terras e as águas
no globo. Estes dois problemas influenciavam na questão do
tamanho da Ilha da Terra ou orbis terrarum e se existiam
outras ilhas em outros hemisférios ou orbis alterius. Este
problema era fundamental para o cristianismo porque era
contrária a idéia dogmática da origem do homem e porque a
existência contradizia a idéia de que a palavra do evangelho
tivesse sido revelada em tudo o mundo. No século XV,
convivem dois conjuntos de idéias sobre o globo, a de Esdras
que determinava a proporção de seis a um para as terras
secas, e outras que resgatando idéias de Aristóteles,
afirmando que as terras ocupavam um pequeno espaço.

4. A Ilha Terra. Dilema sobre a distância entre Europa e a Ásia


através do ocidente que dependendo do tamanho da
circunferência do globo terrestre, tornava atrativo ou não
realizar essa viagem pelo ocidente. Outro dilema, surgido da
navegação de Marco Pólo, era sobre a existência de uma ou
duas penínsulas, sendo que se existia uma, esta era
identificada com a de Quersoneso Áureo, a qual era
necessário circunavegar para poder passar do Atlântico ao
Índico, mas no caso de ser duas penínsulas, está seria muito
maior que a primeira.

5. O ecúmeno ou mundo. O mundo é a morada do homem,


só do gênero humano, a terra que por certas características
podia ser a morada do homem. Fora dele ficavam outros
orbis alterius ou as zonas polares e a tórrida zona segundo as
idéias de Aristóteles. Dentro das idéias do cristianismo, o
primeiro mundo corresponde ao paraíso terrestre e o segundo
ao homem já caído. Este segundo mundo é um mundo
aberto, um mundo sujeito a transformação, um mundo sobre
o qual o homem é capaz de construir seu próprio destino,
mas o cristianismo o entendeu principalmente como um
mundo a ser possuído. No século XV prevalecia uma
conceição eclética na qual o mundo compreendia a totalidade
da Ilha da Terra, independente de ser toda conhecida e de ter
partes inabitáveis, mas sacrificando a idéia de que seus
limites eram provisórios.
Aquilo que não era parte do mundo, mas formava parte
do universo, era visto como algo estranho, alheio, perigoso e
ameaçador. O homem e seu mundo eram percebidos como
inquilinos na Ilha da Terra, só pela vontade divina. A própria
Ilha da Terra se encontrava dividida em partes hierárquicas.
III Parte: O processo de Invenção de América.
1. A América como tal não existe, as viagens de Colombo não
foram viagens à América nem viagens de descoberta de
América.

2. Projeto de Colombo: navegar o Oceano em direção ao


ocidente, partindo da Espanha e chegar aos litorais orientais
da Ásia. Sustentava essa possibilidade, afirmando que o
globo terrestre era menor daquilo que se afirmava e que a
extensão da Ilha da Terra era muito maior, portanto o espaço
a ser navegado era menor. Os reis católicos apoiaram o
projeto devido à crescente rivalidade com Portugal, a qual
tinha já dobrado o cabo da Boa Esperança, e pela
possibilidade de obter em troca a posse de algumas ilhas no
Oceano.

3. Qual é o sentido que Colombo atribuiu ao acontecimento?


Para ele, o significado do acontecimento é de que ele através
da navegação em direção ao ocidente, tinha chegado a Ásia.

4. Qual é o significado conceitual da viagem de 1492? A


identificação de que tinha chegado a Ásia porque tinha
chegado a uma ilha, não passa de ser uma suposição ou uma
hipótese. O que tornava possível essa suposição era a idéia
previa ou a priori que ele tinha sobre a dimensão da Ilha da
Terra. A idéia que ele se impôs sob a dimensão da terra é
caráter indiscutível, não concedendo à experiência a
possibilidade de colocar em duvida essa idéia. Portanto, o
significado conceitual da viagem é de que ele tinha chegado a
uma parte do orbis terrarum.

5. A coroa espanhola se preocupou por enviar outras frotas


para garantir a exploração e posterior colonização. Também
se preocupou por obter o reconhecimento da Santa Sé.
6. Pedro Mártir de Angleria, humanista ao serviço da coroa,
pensa a viagem como uma façanha que permitirá conhecer
melhor parte desta Terra entre a península de Quersoneso
Áureo e a Espanha. Devido a não compartir a idéia de
Colombo sobre o tamanho da Terra, lhe parece difícil de que
Colombo tenha chegado ao extremo oriental de Ásia. Angleria
foi o primeiro a utilizar a idéia de “novus orbis”, como de algo
ignoto e também como não só uma realidade física ou
geográfica, mas também na sua acepção moral.

7. As idéias lançadas por Colombo não foram plenamente


aceitas, mas também não foram repudiadas. Foram aceitas
como uma possibilidade mais entre outras que pudessem
surgir, principalmente em função da importância que
apresentava a experiência.

8. Duvidas escondem a possível crise. Se as ilhas


encontradas formassem parte na verdade de outros orbes?
Se exige prova a Colombo. Esta prova deve de provar a
crença de Colombo, que as terras encontradas pertençam à
idéia e imagem da Ilha da Terra, e que elas não fossem
simplesmente ilhas, mas fossem parte do orbis terrarum. Mas
principalmente, de achar a passagem marítima que permitia
passar ao Índico descrita por Polo.

9. Segunda viagem de Colombo (Cádiz, 25/09/1493). Em


relação à prova exigida, ele tinha encontrado uma massa
continental da Ilha da Terra, onde além, se encontrava a
passagem para o Índico.

10. Exploração e colonização ficaram por decisão da coroa,


abertas a outros que tentassem. Os resultados desta viagem
seriam percebidos de forma critica por Angleria, o qual no
caso de aceitar essa massa continental afirmada por
Colombo, pudessem elas não formar parte da Ilha da Terra.
11. A apertura de novas viagens e explorações confirmou a
existência de uma massa de terras que se encontrava ao
ocidente. Frente ao avanço das viagens dos portugueses
para chegar à Índia, se colocou como problema urgente
encontrar a passagem ao Índico.

12. Terceira viagem (Sanlúcar, 30/05/1498). Objetivo é


procurar pela passagem, navegando primeiro para o sul e daí
para o poente. Achado de terras, de tamanho continental e de
correntes de água doce que penetravam a grandes distâncias
no mar, colocou um grande problema a Colombo. A uma
saída para explicar a presença destas terras e da não
existência da passagem, era o de reconhecer a existência de
orbis alterius, mas Colombo decide por afirmar que elas
podiam ser as terras onde se encontrava o Paraíso Terrenal,
e portanto encontravam-se no extremo oriental da Ilha da
Terra e formando parte da Ilha da Terra.

13. Sustenta esta idéia partindo de que o globo não era uma
esfera perfeita, mas ela tinha uma protuberância, debaixo do
equador e no fim do oriente, a qual era identificada com o
Paraíso Terrestre. Portanto, levanta mais um problema, ao
afirmar de que essa grande massa de terra austral estivesse
unida a Ásia.

14. Colombo levanta a tese de que tinha encontrado um


enorme orbis terratum comparável à Ilha Terra, que se
extendia desde as terras descobertas na primeira viagem até
a massa de terras austrais, mas que se encontrava separado
da Ásia, que era habitado e habitável e que continha o
Paraíso Terrestre.

15. Colombo considera Paria como um orbis terrarum porque


dessa maneira é possível pensar a existência de uma
passagem para o Índico, portanto a existência do “novo
mundo” em Colombo é uma suposição a priori. Postula isto
porque era a única maneira de manter sua hipótese principal.

16. Novas navegações permitiram conhecer o litoral entre o


Golfo de Darién e o extremo oriental do Brasil. Muitos
pensavam que a existência dessa grande massa de terra
podia ser a península adicional, a qual entrava no hemisfério
sul e portanto era necessário circunavegá-la da mesma forma
que foi feito por Polo. A idéia de Colombo era de que as terras
descobertas no norte constituíam a Ilha da Terra e as do sul
constituíam um “novo mundo”, mas com a condição de que
existisse uma separação entre elas, uma passagem.

17. Terceira viagem de Américo Vespúcio (05/1501-09/1502).


Objetivo de Vespúcio era chegar ao extremo sul da Ásia para
logo passar ao Índico e tentar realizar a circunavegaçao até
Lisboa.
Quarta viagem de Colombo (05/1502-11/1504). Objetivo
de Colombo era chegar a Ásia através de uma passagem que
se supunha estar na separação entre a Ilha da Terra e o
“novo mundo”.

18. A viagem de Vespúcio se depara com um litoral


interminável me direção ao sul. Já a viagem de Colombo
significou a constatação de que não existia uma passagem
para o Índico, e portanto existia uma continuidade entre as
terras do norte e o “novo mundo” ou Paria. Também entendeu
por informações obtidas dos índios que essa terra era uma
estreita franja e que existia um outro mar a umas jornadas
dali.

19. Ante o fracasso da tese da passagem para a Ásia produto


da terceira viagem, Colombo se viu obrigado a aceitar como
verdadeira a idéia da existência de uma península adicional
da Ásia, identificando as terras reconhecidas no hemisfério
norte com as do sul como se fosse uma única massa
continental. Já Vespúcio frente aos resultados da sua viagem
que determinou de que essa massa continental se estendia
até o sul, se negou a identificar a essas terras como sendo
aquelas que tinham sido navegados por Marco Pólo na sua
passagem para o Índico e considerou, depois de vários
problemas, que se tratava de um “novo mundo”. “Novo” na
medida que ninguém sabia da sua existência e de que todos
pensavam de que o hemisfério sul estava ocupado só pelo
Oceano. “Mundo” porque ele considera que está frente a uma
entidade diferente do “orbis terrarum” e porque estas terras
não eram tão imprevisíveis como muitos pensavam. Elas
constituem um “mundo novo” porque são terras austrais
habitáveis e estão já habitadas, portanto é um mundo novo.
Vespúcio aceito a tese de um orbis alterius, à qual se tinha
aproximado Colombo, para deixar de lado a sua tese original
da existência de uma península adicional.

20. A tese de Colombo da existência do novo mundo, que


logo abandonaria, se caracterizava por ter sido elaborada
com a finalidade de preservar a sua tese original, de que as
terras setentrionais achadas constituíam a parte do extremo
oriental da Ilha da Terra. Já para Vespúcio, a sua viagem foi
entendida como uma viagem por terras austrais que se
encontravam separadas das setentrionais e portanto elas não
pertenciam a Ásia, então ele concebeu a existência de um
novo mundo, independente das terras setentrionais pertencer
ou não a Ásia. A existência ou não da passagem alterava
pouco a sua idéia principal em relação à Ilha da Terra, já que
em seu interior ela mesma bloqueava qualquer possibilidade
de identificar a toda terra achada com os litorais asiáticos.

21. Antes de impor-se a idéia do novo mundo, surgiu a idéia


de que estas terras encontradas no norte e também no sul
podiam ser duas grandes ilhas. Esta idéia tinha como
finalidade tentar salvar a idéia de uma conceição unitária do
mundo da maneira como era exigido pelo dogma cristão.

22. Sobre a Lettera escrita por Vespúcio em 4/9/1504. Se


concebe por primeira vez a idéia de que as terras achadas
constituem uma única entidade geográfica, separada e
diferente da Ilha da Terra. Ao mesmo tempo existe uma
indefinição, que produz um vazio, de parte de Vespúcio de
usar o conceito. Problema de postular a pluralidade dos
mundos.

23. Como se aceita a existência de novas terras, que


constituem uma barreira. No Cosmographiae Introductio de
1507 se aceita à idéia da Ilha da Terra dividida em três partes,
se aceita a existência de uma quarta, que seria uma ilha e
não um continente. Além disso, se introduz o nome de Terras
de Américo, para logo nomeá-la com América, nome feminino
como suas iguais. No mapa de Waldseemüller as novas
terras são representadas como uma única entidade
geográfica, independente de que exista uma passagem entre
as duas. Estas novas terras são concebidas como
independentes do orbis terrarum, mas também elas adquirem
um ser especifico e um nome próprio.
A invenção de América é o complexo processo ideológico
pelo qual se atribuiu um sentido especifico e próprio a essa
nova entidade, o sentido do ser da “quarta parte” do mundo.
Falta saber agora qual é a estrutura do ser que foi atribuído
ás novas terras.

IV Parte: A estrutura do ser da América e o sentido da história


americana.
1. Em relação ao ser que foi atribuído às novas terras,
devemos partir de que se reconhece esta nova terra como
separadas e diferentes do orbis terrarum, mas ao mesmo
tempo elas formam parte desse mesmo orbis terrarum, mas
agora como uma de suas partes, a quarta. O elemento que
originava a contradição no começo foi a idéia de que o
Oceano constituía uma barreira intransponível. Logo, um
conceito de orbis terrarum se abriu passo e se destacou por
ser mais amplo. O orbis terrarum passa a ser identificado com
o globo terrestre inteiro, portanto incorporando ao orbis
terrarum as terras recém achadas e ao próprio Oceano.
Da noção de mundo como restrito a uma só parcela ou parte
do universo como parte de uma dádiva divina, passamos
agora à conceição de que no seu mundo pode entrar toda
realidade de que ele seja capaz de se apoderar ou conquista,
e capaz também de transformá-lo.

2. Aquilo que mudou foi a própria visão de mundo que se


tinha, portanto a reflexão pertinente é qual é o ser que dentro
dessa visão corresponde às novas terras. A América será
pensada como a quarta parte do mundo, por um lado
equiparada às três outras partes, mas ao mesmo tempo
diferente de elas.

3. O Oceano deixou de ser considerado como um limite ou


barreira e começou a ser percebido como um simples
acidente geográfico. O ponto central do Cosmographiae
Introductio é considerar todas as terras submersas como um
todo contínuo, onde o Oceano já não divide, mas ao contrario
ele é dividido em diversos mares. As partes do mundo são
vistas como contíguas, independente do oceano que as
separa, e o globo é percebido como quatro continentes e uma
mesma terra.

4. Considerados como quatro continentes, compartindo de


uma mesma natureza, estes também mantêm a sua própria
individualidade. São quatro partes que podem ser
diferenciadas por seus acidentes, mas ao mesmo tempo eles
participam da mesma estrutura interna.

5. A idéia de um mundo dividido em três partes é uma idéia


grega, assim como também a importância da Europa dentro
dessas partes, por ser considerada mais perfeita e mais
apropriada para a vida dos homens. Com o cristianismo, esta
idéia adquiriu um sentido transcendental e se ligou a outras
histórias, os filhos de Noé e aos três reis magos. Dentro do
pensamento cristão, a Europa além de continuar a ser
considerada a categoria mais elevada, ela passou a ser o
reduto único da verdadeira civilização, uma civilização cristã.
Europa assume por si só a história universal, ela e todos seus
valores e crenças se constituem em paradigma histórico para
apreciar às outras civilizações. Esse é o sentido moral e
cultural da estrutura hierárquica da divisão tripartida do
mundo.

6. Não existia nenhum motivo de excluir aos habitantes do


novo mundo da sua condição humana enquanto moradores
do orbis terrarum. Medida contrária significaria colocar em
crise o dogma da unidade fundamental do gênero humano.
Portanto, os nativos assim como os europeus, asiáticos e
africanos, participavam da mesma natureza. Participavam da
mesma história universal, mas elas eram sujeitadas à
conceição hierárquica da mesma. Sua individualidade e
peculiaridade como civilização era sujeito em referencia à
cultura européia e cristã, modelo perfeito que servia para
atribuir valores ou significados históricos. Polêmica entre Las
Casas e Sepúlveda é em essência uma discussão em torno
ao grau no qual a vida indígena se ajustava ao paradigma
cristão. Qualquer que for o valor que se dava à vida indígena,
ainda o mais elevado, não era o suficiente para transcender o
ente da natureza, devido a que os índios se tinham mantido à
margem do evangelho, por desígnios divinos escuros, pelo
qual não tinham podido realizar a sua verdadeira natureza. Ao
mesmo tempo, seu ser foi apreciado como sui generis e como
carente de todo significado histórico verdadeiro, o que
também os impossibilitava de receber os valores da cultura
européia.

7. A possibilidade dada às novas terras de converter-se numa


outra Europa encontrou uma formula adequada na
designação de “novo mundo”. Portanto, essa designação, na
sua essência, é diferente daquela de Colombo e de Vespúcio,
para os quais o mundo já estava constituído na sua condição
e ser, frente a outro que era “novo” só pela circunstancia de
ter sido recentemente encontrado. A designação de “novo
mundo” surgida da idéia da “quarta parte”, se refere a um
ente ao qual se lhe atribui o sentido de mundo, mas só como
resposta à possibilidade ou movimento do outro, do “velho
mundo”, que só se imagina como “velho” por estar em ação e
ocupar o plano mais alto da hierarquia. A idéia de que a
América apareceu como produto de um ato casual de contato
físico tem de ser desterrada e substituída pela idéia de que o
processo inventivo de um ente feito à imagem e semelhança
do seu inventor.

8.
SOBRE A VIDA COTIDIANA EM MEXICO.

Peculiaridade da colonização espanhola: propicia e


administra relações interêtnicas dando com o tempo lugar a
sociedades mestiças.
Surgimento de duas repúblicas: a república dos índios e
a república dos espanhóis. Dois sistemas, duas
“urbanidades”, separadas por certas normas, mas interagindo
entre elas por certos fatores. Os dois sistemas se
encontravam separados devido a um pacto estabelecido
entre a Coroa espanhola e os senhores indígenas com a
finalidade de manter algumas formas de governo dos
indígenas: os caciques, o trabalho coletivo. Também era
resultado da percepção de que era a maneira mais
apropriada para proteger e manter a força de trabalho
indígena. Além de impedir de que os índios adquiram os
maus hábitos dos espanhóis: a mentira, a bebedeira, o roubo,
a violência e outros.
Mas essa separação tinha certas fissuras. O comércio
seria um dissolvente das relações de solidariedade que
permeava à sociedade indígena, facilitando as diferenciações
entre o conjunto e seus senhores, na qual os principais se
beneficiariam dos diferentes tipos de intercambio. O caos
pós-conquista significaria também a abertura de novos
caminhos e espaços para os índios, que geralmente se
encontravam ligados a suas comunidades e grupos étnicos. A
necessidade de contar de intermediários, o caso dos “línguas”
ou os “índios ladinos”, se converteria também num forte
motivador.
Processo de “reducciones” indígenas começa a cobrar
força a partir da metade do século XVI. A finalidade era
estabelecer um novo padrão de assentamento para os
indígenas, os quais moravam dispersos em pequenos e
dispersos assentamentos que dificultavam o controle da
população por parte dos missionários, dos funcionários reais
e pelos encomenderos. É importante destacar que este
processo esteve acompanhado pelas tentativas missionárias
de estabelecer uma única língua geral indígena.
No caso de México, assim como no resto de América,
tinham um papel de destaque dentro da vida urbana a igreja e
o convento.
A mudança dentro da vida das comunidades indígenas
foi incentivada principalmente pelos religiosos, onde a igreja
ou o convento se converteria numa espécie de palco para
encenar-se a peça. Nos primeiros tempos, é destaque a
construção de “capillas abiertas” com a finalidade de receber
a maior quantidade possíveis de indígenas. Mas esta
mudança deve-se principalmente a outros dois fatores: a
costume dos indígenas, principalmente os mexicanos, de
praticar seus atos religiosos em espaços abertos e o perigo
que significava para os espanhóis, devido ao seu pequeno
numero, de compartir espaços pequenos e fechados com a
massa indígena. Estes conjuntos estavam formados por
grandes espaços rodeados por muros de pedra, com duas ou
três entradas, um átrio enorme que podia chegar a 150
metros, com um altar não necessariamente coberto e por
várias capelas periféricas que se localizavam junto aos muros
e que tinham como principal função servir no momento da
comunhão.
Existe uma ambigüidade importante no comportamento
das diferentes ordens religiosas em relação à pratica de
danças e cantos indígenas. Em quanto que em México se
permitiram o uso de danças e de vestimentas indígenas como
as penas, no Peru de 1560 foram proibidos como formas de
acompanhar qualquer manifestação religiosa, principalmente
como uma resposta ao movimento de Taki Onqoy, para logo
aparecer no século XVII. Um exemplo deste são os quadros
de corpus Christi de aproximadamente o ano de 1680 feitos
em Cuzco. Presença de elementos indígenas, como penas e
papagaios, assim como membros da nobreza indígena,
vestidos com seus símbolos de poder e mando,
acompanhando as procissões que se realizavam.
As capelas abertas também cumpriam a finalidade de
servir como espaço para a representação de peças de teatro
catequético e para as tarefas da catequização. É importante
destacar que dentro da tarefa da catequização se encontrava
a própria tarefa de alfabetização que se fazia seja para o
castelhano ou para uma outra língua indígena geral. A
alfabetização se fazia através da própria evangelização e
usando métodos mnemotécnicos, memorizando os conteúdos
e repetindo-os em coro. O sermão ocupará um papel de
destaque, através do qual se transmitirão diversas histórias
sagradas e de conteúdo moral. Nos Andes se realizará uma
fusão entre o teatro, a música e a dança, principalmente por
iniciativa dos jesuítas.
Sobre o processo de “indianización” do cristianismo, foi
interpretado por historiadores como Natham Wachtel na
década de 1970, como um processo de assimilação e de
resistência indígena, na qual através da assimilação de
determinados conteúdos, por efeito da evangelização à qual
eram submetidos os indígenas, estes procuravam manifestar
seus próprios conteúdos culturais. Seu estudo sobre o Taki
Onqoy é destaque, já que ele o interpreta como uma forma de
resistência milenarista e messiânica, conceitos que não
formavam parte do mundo mental andino, mas que
expressam justamente a força da evangelização nos índios,
que criam uma espécie de igreja paralela, com seus próprios
santos e hierarquias, com seus sacramentos e com huacas
com atributos cristãos ou ocidentais.
Papel que assumiria entre os índios o batismo e o
matrimonio, principalmente em relação a novas formas de
coesão social dentro das comunidades, mas também como
um nexo de relação com grupos privilegiados de espanhóis.
Junto ao batismo, é importante pôr em destaque duas
práticas. A primeira é relativa à incorporação de sobrenomes
espanhóis com seus sobrenomes indígenas, prática comum
principalmente entre os “índios ladinos”, aqueles que por
conhecer a língua dos espanhóis, assumiam importantes
posições burocráticas, religiosas ou comerciais. A segunda se
refere à incorporação de símbolos espanhóis de prestígio por
parte da nobreza indígena, principalmente em relação ao uso
de “escudos de armas”, de pinturas e de estandartes. Este
uso será importante porque a Coroa reconhece aos setores
que apoiaram aos espanhóis na época da conquista e
reconhece seus privilégios, procurando reproduzir uma
hierarquia dentro da república dos índios. Entre os privilégios
outorgados se encontram o de manter seus senhorios e
índios, de poder montar cavalo com sela e freio, de vestir
como espanhóis, de usar seus escudos e blasões tanto em
suas roupas, casa e utensílios domésticos, usar vara em suas
visitas aos índios, de ter um matrimônio com um rito
pomposo, de poder outorgar dote e poder deixar um
testamento, assim como poder ser enterrado em alguma
igreja e usar mortalha.
NOBREZA E SEUS VÍNCULOS FAMILIARES

Na sociedades vice-rreinal, hierarquizada por posições


étnicas e de riqueza, a família da nobreza se constituiu num
foco de sociabilidade dirigida à perpetuação e ao
reciclamento de essas diferenças. O “solar” ou casa da
nobreza se constituía num espaço de convívio entre membros
de uma mesma família e linhagem.
A nobreza colonial estava composta por fidalgos,
cavaleiros das ordens militares, a nobreza titulada e alguns
membros da nobreza indígena. Muitos eram peninsulares, só
no século XVIII é que começam a aparecer os criollos dentro
da nobreza. Dedicavam-se a viver de seus mayorazgos,
outros eram comerciantes e outros eram funcionários reais.
Mas todos eles estabeleceram importantes relações
afincadas em laços de sangue e na família, ao ponto que
aqueles que se dedicavam ao comércio, estabeleciam
extensas redes ancoradas em vínculos familiares.
Sobre o matrimônio pode afirmar-se que ele se
caracterizou por estar estabelecido por pares desiguais, seja
pela questão financeira ou pela questão étnica. No século XVI
e começos do XVII ocupam um papel importante os
matrimônios entre membros da nobreza indígena e os
descendentes de conquistadores. Ao mesmo tempo essa
desigualdade nos pares se deu dentro de um conjunto de
relações endogámicas que permitiu o fortalecimento das
relações de consangüinidade, o que teve como conseqüência
direta a necessidade de flexibilizar as normas de casamento
e atenuar os impedimentos.
Existência da prática de esposais ou promessa de
casamento entre menores de idade, prática que tinha como
objetivo o estabelecimento de alianças estratégicas que
fortalecessem o papel de determinadas famílias. Essas
alianças eram estabelecidas entre iguais socialmente, as
classes privilegiadas, e procuravam diversificar as atividades
de uma família. É por isso que muitas vezes a Coroa proibiu o
casamento de importantes funcionários reais com membros
de famílias nobres, proibiu o desempenho de atividades
econômicas privadas como repartimentos de índios e
mercadorias e a posse de fazendas e estâncias, com a
finalidade de coibir o estabelecimento de fortes interesses
econômicos e comerciais. Ver o caso do vice-rei do Peru,
Garcia de Mendoza, marques de Cañete, que em 1590
patrocinou uma viagem para a China contando com o apoio
de importantes comerciantes limenhos e do Tribunal do
Consulado.
Sobre o dote, era a prática pela qual se estabelecia num
contrato que o responsável da mulher outorgava uma
quantidade de bens ou de dinheiro para o marido para seu
desfrute ou administração caso o matrimônio acontecer.
Importância dos filhos em relação à primogenitura e aos
filhos segundos, sejam estes varões ou mulheres. O
mayorazgo dentro da família da nobreza privilegiava ao
primogênito e fazia com que fosse natural a subordinação do
resto dos filhos a ele. Por um lado ocasionava que muitos dos
filhos segundos fossem encaminhados para a vida religiosa,
que no caso dos varões podia significar além disso a
possibilidade de praticar atividades econômicas; mas também
podia significar que muitos deles pudessem desempenhar
atividades econômicas menos dependentes do mayorazgo, o
que permitia que eles pudessem dedicar a atividades
comerciais ou servir de funcionários de casas comerciais,
entre outras.
Mas que uma dependência da família em relação ao pai
dentro das famílias da nobreza, o que podemos observar é
uma dependência em relação ao papel do mayorazgo, já que
em torno de ele girava a vida familiar. Na morte do padre, os
filhos segundos continuavam dependendo do mayorazgo
para continuar vivendo dentro de uma casa e linhagem. O
mayorazgo concentrava os bens disponíveis dentro da
sociedade, impedia ou obstaculizava o matrimonio nos filhos
segundos, sendo o motivo que os solteiros fossem a maioria.
Mas também, o mesmo constituiu uma alavanca para a
diversificação de atividades econômicas dentro da própria
nobreza.
A CORTE DOS VICE-REIS

Ao falar das cortes estamos falando da Europa do


“Antigo Regime” caracterizada pela centralização da
administração, o fortalecimento do aparelho burocrático, a
conformação de uma entidade e unidade territorial e a
progressiva supressão de características feudais (R.
Romano: Fundamentos do mundo moderno). O
fortalecimento da burocracia se deu na base da constituição
de redes entre “patrones” e “clientes”, o “patronazgo”,
constituído por um conjunto de relações pessoais, constituiu
uma rede de relações em torno ao rei e sua burocracia,
procurando atenuar o papel da nobreza e convertendo a corte
num espaço de negociação da nobreza com o rei para poder
manter sua posição.
A corte se constitui no espaço do rei e seus próximos
(Elias), os quais aconselham e servem (Covarrubias).
Caracterização da corte como um estado patrimonial. Junto a
esta definição, é importante destacar o papel da soberania,
importante para entender aos vice-reinados. O século XVI se
constitui num século de transição para a corte, quando ela
passa de ser itinerante para permanente. Para Elliott as
cortes cumpriram as funções de constituir-se no centro
indiscutível do poder político, em fomentar o caráter sacro
das monarquias e em constituir-se num exemplo para o resto
da sociedade.
Questões de controle de matéria de História de América I
Prof. Ms. Luis Alberto

Obrigatória:
1. Qual é a importância da etnia dentro dessas três
grandes culturas?
Escolha duas perguntas para responder:
2. A partir da leitura de Paul Gendrop, como você pensa
que foi a estrutura da sociedade maia a partir das
inumeráveis cidades-estado que existiram.
3. Explique o funcionamento da Tríplice Aliança em relação
a sua composição política e administrativa.
4. Explique o funcionamento do ayllu a nível local e em que
sentido o Império Inca cumpria com as tarefas do ayllu
de reciprocidade e redistribuição a nível estatal.
Reconquista
OC Miguel Angel Laredo Quesada: Granada despues de la conquista. Repobladores y
mudejares.

Tanto a conquista do reino mouro de Granada quanto a das Ilhas Canárias, proporcionam
modelos de colonização das Índias , tanto em formas de organização administrativas quanto
no contato e conversão de populações.
Em relação aos contatos, é importante destacar o papel do desenvolvimento da escravidão
nas cidades da Andaluzia atlântica como mouros, guinés, berberes e canários.
O processo de conquista das Canárias foi um processo na qual se combino de forma
necessária os interesses da Coroa e dos conquistadores e associados, processo que
procurava desde a integração e até a conversão dos nativos até a sua simples escravização.
Em relação à conquista de Granada, a população era vista não como pagãos, como no caso
dos canários, mas como infiéis, com os quais tinham longas relações comercias,
diplomáticas, culturais, etc. A Coroa utilizou diversas técnicas de distribuição de terras e de
propriedades, de longa data, assim como também decidiu diretamente a quantidade de
população cristã que deveria estabelecer-se em cãs localidade, propugnando um critério
fiscal e de repartição de propriedades. A maioria da população a ser estabelecida era de
camponeses e pequenos e médios proprietários. O reino conquistado seria administrado
dentro dos moldes do reino de Castela, mas com a vantagem de acentuar o exercício da
autoridade real.
A expansão para a Granada também significou também como uma expansão ou
urbanização de Castela dentro do processo da política de integração e acumulação
mercantil, que esteve nos últimos anos acompanhada de idéias providencialistas em relação
à conquista.

Ilhas Canárias
OC Eduardo Aznar Vallejo: Before Columbus. Exploration and colonization from the
Mediterranean to the Atlantic, 1229-1492.
O importante é que demonstra que o processo de conquista e de colonização foi um
processo complexo que dependia não só dos interesses conflitantes de mallorquinos,
portugueses, castelhanos e normandos, ou de interesses reais, eclesiásticos ou comerciais;
mas porque a diversidade cultural e organização políticas das ilhas expressavam também os
próprios interesses dos indígenas. Produto dessas diferenças se expressa nas formas de
resistência e aculturação. O importante é que além de proporcionar um ou mais modelos de
como os europeus deveriam proceder na conquista destes territórios e de suas povoações,
também eles proporcionavam as formas como estes poderiam responder.
PROVA PARCIAL DE HISTÓRIA DE AMÉRICA
Prof. Ms. Luis Alberto

1. Qual era a visão que existia sobre o universo, o globo


terrestre, a Ilha Terra e o mundo antes de 1492.

2. Explique o processo da invenção de América a partir da idéia


do surgimento de uma quarta parte do mundo.

3. Em que sentido a conquista e colonização de América se


relaciona a seus antecedentes históricos.

4. Como a encomienda e a necessidade de trabalhadores marca


os ritmos da colonização espanhola em América até a década
de 1550.
PROVA FINAL DE HISTÓRIA DE AMÉRICA
Prof. Ms. Luis Alberto

Responda a duas das seguintes perguntas:

1. A resistência dos índios à conquista espanhola foi uma realidade, mas


também a própria assimilação. Como se estabelece este duplo processo,
segundo o texto lido de N. Wachtel e quais seriam suas conseqüências.
2. “Em aquele primeiro terço do século XVII a idolatria tece seu tecido antigo,
discreta, transparente, protegida o quase, dos olhares dos espanhóis, feita
de uma combinação de saberes e de práticas que apresenta uma realidade
indígena, que marca o campo experimental e instaura uma relação
específica com o outro e com o mundo. A idolatria proporciona não só uma
resposta à desgraça biológica e social, à precariedade das condições de
vida tão distintas e complementares como a ancestralidade, a produção e a
reprodução, o corpo doente, o lar, a vizinhança, os campos, o campo
distante do monte aonde se vá caçar veados e a recolher mel silvestre”
(Serge Gruzinski, 160). Defina o conceito de idolatria colonial segundo
Gruzinski.
3. “Na sociedade do vice-reinado do século XVII, hierarquizada segundo
critérios étnicos e as diferenças de fortuna, a família da nobreza era o foco
de uma sociabilidade congruentemente dirigida à perpetuação e ao
reciclamento de tais diferenças” (Javier Sanchiz, 335). Comente esta
citação pensando a família da nobreza como modelo da sociedade.
4. Qual é o valor do vice-rei dentro da corte do reino de Nova Espanha. Como
essa sociedade organiza sua hierarquia, seus interesses e contradições em
torno desta figura publica. Pense na idéia de N. Elias de que o rei se apóia
nas próprias tensões entre as frações da corte e como a etiqueta, a qual
fixa as posições hierárquicas, se constitui num mecanismo de controle e de
governo das elites.
5. É possível identificar a Nova Espanha com a idéia de uma colônia. Quais
seriam os elementos que integrariam a sociedade novohispana no século
XVII de acordo com a obra de Octavio Paz, principalmente aqueles
relacionados às elites do reino.

Pergunta da prova parcial:

Qual é o sentido da invenção de América na obra de O’Gorman e em que


sentido contribui na interpretação da história de América.

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