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C A P ÍT U L O 4

d^aanífjÃJy <JUo-T U j m n ,
(jjaãÀãjü d c c o w im ljQ  JY U h j i a / y a , o o acm u m lo

Deixe-me ser dolorosamente direto aqui. Aquela pessoa


especial com quem você pensa casar-se — aquela cuja
mão você segura sob a mesa do restaurante e que parece
tão irresistível à luz de velas — cresceu em uma família
falha com pais imperfeitos e irmãos depravados.
Bill Hybels,
Fazendo sua vida ser melhor
o rio Ocoee — um a ousada combinação de classe
de quatro a cinco corredeiras, o local da canoagem das O lim ­
píadas de Verão em 2000, e por anos, o destino favorito dos
adolescentes da nossa igreja. H á simplesmente algo sobre a im-
previsibilidade dessas águas que atrai milhares de visitantes para
enfrentar o desafio.
Muitos anos atrás, uma família da nossa igreja fez sua pró­
pria viagem ao Ocoee. Os meninos estavam em um bote com o
pai e vários outros homens, viajando em um comboio com mais
cinco ou seis barcos. Com respingos explosivos e remadas frenéti­
cas, esses botes de borracha enfrentaram as primeiras corredeiras,
e sem “nadadores” relatados. Mas, depois que o bote deles passou
pela terceira etapa de águas revoltas, eles voltaram-se para esperar
os demais botes de seu grupo. Mas, depois de alguns minutos de
espera, eles viram uma crise desdobrar-se.
Algumas pessoas estavam agarradas à lateral de um bote
virado, e havia nadadores flutuando rio abaixo. Guias estavam
gritando frenéticos comandos uns aos outros e várias pessoas
com equipamentos de resgate estavam pulando nas corredeiras.
Com as equipes de emergência a caminho, um boato começou
a ondular para cim a e para baixo do rio: um homem havia caí­
do e estava agora debaixo d>água, e as equipes estavam lutando
para tirá-lo antes que seus segundos de fôlego acabassem.
O que toda noiva precisa saber

Como segundos tornaram-se minutos, e cinco minutos


tornaram-se 15 minutos, o resgate passou a ser busca, uma ár­
dua batalha contra a água para recuperar o corpo do homem
que havia se afogado. Enquanto nossos amigos esperavam e as­
sistiam [a tudo], a história ficou clara: o passageiro havia sido
jogado para fora do barco, e no esforço de retomar o equilíbrio,
ele simplesmente fez o que veio natural: ele colocou seus pés
para baixo, prendendo-os, instantaneamente, debaixo de uma
enorme rocha. A força da correnteza prendeu os pés dele com
tanta força que ele simplesmente não podia deslocar-se.
Correntezas podem matar. A mesma corrente de água que
traz alegria e prazer também traz devastação. O mesmo é verda­
de em corredeiras e no casamento. O que matou aquele homem
não foram apenas as correntezas; mas também, surpreenden­
temente, fa z er o qu e p a recia norm al. Durante anos, ele havia
aprendido que, quando se sentisse inseguro na água, deveria
tentar ficar de pé. Por isso, ele simplesmente fez o que veio de
modo natural.

Como você ficou tão normal?

Ao longo dos anos, temos visto casais em conflitos por cau­


sa de dinheiro, sexo ou parentes, mas contra o que eles estão
realmente lutando não é sobre essas coisas. Na verdade,
estão lutando contra o normal.
Cada um de nós entra no casamento com sua própria lista
de “mandamentos” sobre o que é normal. Mas quando você
encontra-se em uma explosiva corredeira que a coloca além de
seus limites em seu casamento, fazer o que parece normal pode
matar o seu relacionamento.

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

Quando Robert e Bobbie casaram-se, viagens de carro


eram vistas por Bobbie como oportunidades de experimentar
o sabor local. Ao longo do caminho, ela pensava em parar em
“marcos histórico” ou em lojas típicas, enquanto Robert coçava
a cabeça frustrado, observando seu itinerário finamente orques­
trado do “ponto A ao ponto B” ser desintegrado com sinuosas
interrupções após outra. Era o n orm a l dela indo contra o nor­
m a l dele. O pai de Bobbie alegremente interrompia as viagens
de carro da fam ília para visitas espontâneas ao longo do cami­
nho; já o de Robert apenas parava quando o tanque de gasolina
estava abaixo do vazio.
Em alguns casamentos, evitar todos os conflitos pode
parecer normal para o m arido, enquanto discutir sobre tudo
parece normal para a esposa. Então, quando se trata de diver­
gências, eles ficam presos. E isso náo acontece porque o tema é
muito espinhoso, mas porque eles têm idéias m uito diferentes
sobre a m aneira certa — o normal — para lidar com o conflito.

As regras implícitas do normal

Talvez seja uma regra sobre silêncio na mesa de café da manhã


enquanto o marido lê o jornal. Talvez seja uma regra que diz “a
esposa sempre cuida dos aniversários da família” ou “o marido
sempre joga fora o lixo” ou “a esposa sempre faz as compras do
mercado”. M antenha seus olhos abertos nesse primeiro ano, e
você terá muitos exemplos dos seus próprios norm ais.
No entanto, identificar o seu próprio senso de n orm a l não
é tão fácil quanto parece. A m aioria de nós assume que nossas
regras a respeito do n orm a l são universais — e, é claro, toda
“pessoa norm al” vê a vida dessa forma. Q ualquer outra coisa
está simplesmente errada.

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0 que toda noiva precisa saber

Assim, quando os casais vêm ao nosso aconselhamento


pré-nupcial, passamos três das cinco sessões focados nesse pro­
blema crítico de descobrir os norm ais de cada um . Para muitos
casais, é a prim eira vez que olham para as suposições escondidas
em suas mentes.
Há, felizmente, uma ferramenta maravilhosa que pode
ajudar você e seu marido a começar a reconhecer suas regras
de n orm a l de um a forma não ameaçadora. Casais com os quais
trabalhamos têm consistentemente apontado para esta ferra­
m enta como a parte mais poderosa da preparação pré-nupcial.
Aqui está como ela funciona: começamos com algo chamado
genograma, que se parece com uma árvore genealógica simples.
No entanto, você pode estar pensando: “Por que uma árvore
genealógica?”.
Nossas regras do n orm al quase sempre vêm de nossas
famílias de origem. Bobbie não apenas assumiu arbitrariamente
' que uma viagem de carro significava paradas e aventuras, ela
aprendeu ao longo do tempo que isso era normal na família
dela. Por outro lado, Robert não podia im aginar isso.
Em todos os nossos anos de aconselhamento pré-nupcial,
nunca fizemos questão de perguntar a um casal sobre seus
melhores amigos, seus programas de T V favoritos, ou mesmo
sobre seus mentores mais influentes. Mas sem pre perguntamos
sobre suas famílias. Não é que a m ídia e que os amigos não te­
nham impacto em nossos valores; é apenas que, quando se trata
da impressão do nosso senso implícito de norm al, não há uma
única força que se aproxime do poder da família. Assim, o que
torna o genograma tão eficaz é que ele nos permite identificar
padrões de normal “na família”, e não no indivíduo. E vamos
encarar o fato: a m aioria de nós vê com muito mais facilidade
a estranheza em nossa fam ília do que em nós mesmos, certo?

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

Construindo seu próprio genograma

Para fazer seu próprio genograma, você começa desenhan­


do um a árvore genealógica, que é algo mais ou menos assim:

U m a vez que o desenho está feito, pedimos que a noi­


va ou o noivo dê-nos uma breve descrição de cada pessoa no
genograma deles. Essas descrições podem am plamente variar
de comentários muito específicos, como: “presidente da IBM ”,
“dona de casa em tempo integral” ou” cumprindo pena”, até
palavras mais gerais, como: “educador”, “rigoroso”, ou “idio­
ta”. Enquanto os casais dão essas informações, M ark alerta-os
a dizerem a prim eira coisa que vier à mente deles, sem pensar
muito em suas respostas. Suas respostas honestas e imediatas
sempre oferecerem as melhores pistas para o senso de norm al
de cada um.

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O que toda noiva precisa saber

Uma vez que essas notas descritivas iniciais são obtidas,


M ark pede mais informações sobre os pais e os avós a partir
destas três perguntas:

O que você pode contar-nos sobre o casamento deles?


lír' O que você pode contar-nos sobre como lidavam com
conflito?
O que você pode contar-nos sobre a vida espiritual deles?

Também pedimos que a noiva e o noivo identifiquem al­


gum ótimo casamento que serve de modelo em seus sistemas
familiares ou pontos de tensão entre cada membro de suas fa­
mílias. A partir dessa informação, M ark escreve um “Relatório
Normal”, o qual dá à noiva e ao noivo uma imagem do que
uma pessoa comum que cresceu na fam ília de cada um veria
como normal. Esse relatório responde a cinco perguntas:

1. O que alguém que cresceu nessa dinâmica familiar veria


como um marido normal?
2. O que alguém que cresceu nessa dinâmica familiar veria
como uma esposa normal?
3. O que alguém que cresceu nessa dinâmica familiar veria
como um casamento normal?
4. O que alguém que cresceu nessa dinâmica familiar veria
como uma maneira normal de resolver conflitos ?
5. O que alguém que cresceu nessa dinâmica familiar veria
como uma vida espiritual normal para um casal casado?

Quando conversamos com casais por meio das respostas a


essas questões, a reação é incrível. A grande m aioria realmente
entende, e sai da sessão com seus olhos bem abertos, vendo a

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

necessidade que tem de entrar no casamento preparada para


fazer mais do “que vem naturalm ente”.
Note isto também: Embora exista muito ganho em tra­
balhar por meio um genograma com um conselheiro treinado,
você pode ter m uito sucesso ao identificar seus norm ais por meio
do uso do mesmo processo por própria conta.

Os genogramas de Greg e Carne

Quando Greg e Carrie terminaram sua prim eira sessão


pré-nupcial, gostamos deles imensamente. Greg parecia ser um
rapaz que sabia o que queria da vida e do casamento. Ele era
um cristão forte, com expectativas excepcionalmente altas dele
mesmo e de seu casamento. Mas, durante nossa conversa, nota­
mos um a pitada de raiva logo abaixo da superfície.
Já Carrie era uma jovem calorosa e responsiva, que pa­
recia pensar em cada palavra que era dita. Quando chegaram
para a segunda sessão, eles já haviam terminado suas tarefas e
perguntaram se poderiamos encontrar-nos para mais do que foi
acordado — ou seja, cinco sessões!
Não havia nada incomum nos genogramas deles, os quais
mostravam, em sua maioria, águas calmas com cinco ou seis
pontos irregulares antecipados. Enquanto conversávamos a
respeito disso, nós quatro percebemos que havia correntes abai­
xo da superfície que poderíam apresentar desafios reais para este
jovem casal modelo.
Quando aprenderam que estaríamos conversando sobre a
família deles, Greg e Carrie riram, descrevendo a família dele
como [a do seriado] “Os Cleavers” e a dela como “Os Simp-
sons”. Os dois entraram no processo assumindo, sem dúvidas,
que a fam ília de Greg era a estável e a de Carrie, a disfuncional.

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O que toda noiva precisa saber

Felizmente, o casal estava disposto, até mesmo ansioso, para


descobrir suas áreas de perigo em potencial.

O sistema familiar de Carrie

Os pais de Carrie divorciaram-se quando ela era uma


jovem adolescente. O pai dela logo se casou de novo após o
divórcio. Carrie viveu com sua mãe, quem ela descreveu como
“calorosa, ocupada, insegura e muito solitária”. Seu pai era “es­
tritamente profissional, severo, frio e um pouco irritadiço”, e
ela descreveu sua madrasta como “mandona, egoísta e manipu-
ladora”.
Com uma pitada de ressentimento, Carrie também ex­
plicou que ela nunca viu seu pai expressar afeição física por
nenhum a de suas esposas ou por ela. Quando perguntamos
por que seus pais divorciaram-se, ela respondeu:
— Não tenho ideia.
— Você já perguntou a algum deles? — M ark perguntou.
— Essa não é um a pergunta que possa ser feita aos meus
pais — Carrie respondeu com naturalidade.
No entanto, olhando para a extensa família da noiva, en­
contramos:

Uma tia — “gentil, mas um pouco tensa o tempo todo”


— que é casada com um homem “de muito sucesso”, o
qual trabalha na Europa três semanas de cada mês.
Outra tia — “a amável” — casou-se e divorciou-se. Seu
ex-marido é um caloteiro que teve vários casos.
Um tio — enérgico — que é casado com uma esposa
“submissa”, a qual tem “alguns problemas emocionais”.

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

As avós de Carrie ainda vivem, mas seus maridos “traba­


lhadores” e “severos” faleceram antes da neta nascer. Uma é a
“avó norm al”, a qual m anda biscoitos e dinheiro de aniversário.
A outra, no entanto, é descrita como uma “bruxa”, que “sempre
tem de ter as coisas do jeito dela”.
Enquanto completávamos o genograma de Carrie, per­
guntei:
— H á mais alguma coisa que você queira contar sobre
sua família?
— Sou realmente m uito diferente deles — ela respondeu
ansiosamente. — Já prometi a m im mesma que nunca deixarei
o jeito que eles sáo afetar meu casamento.
O genograma de Carrie era algo mais ou menos assim:

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O que toda noiva precisa saber

O sistema familiar de Creg

Quase todo homem na fam ília de Greg é descrito como


“lendário”. Olhando para o genograma dele, encontramos vá­
rias coisas interessantes:

O pai dele é o “chefe com quem não disputa”, o qual


“nunca é questionado”.
Um dos seus tios é “explosivo”.
Seu avô foi, de modo bem-humorado, descrito como o
“O grande [oficial] Pooh-bah”.
Um dos seus tios é “Grande e responsável”.

Ele retratou vários homens de sua fam ília com superla­


tivos simples, como “extraordinário” ou “homem incrível”.
Muitos dos maridos são homens bastante espirituais, e muitos
são pastores.
Por outro lado, as mulheres na fam ília de Greg são uma
história a parte:

^ Uma quantidade significativa de esposas “calmas e boas”


— mas, em comparação aos seus maridos, essas mulhe­
res maravilhosas são descritas em diminuto.
Uma tia com distúrbio alimentar.
Uma avó levemente alcoólica.
A mãe de Greg, cuja dor crônica nas costas a manteve
inoperante pelos últimos dois anos.
A irmã mais velha de Greg, a “ovelha negra” da família.
^ Duas primas, as quais tiveram um caso extraconjugal.

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

O que está abaixo da superfície?

Você percebeu que as mulheres normais de ambas as famílias


tendiam a ter mais do que sua quantidade justa de problemas?
Independente de ser a mãe insegura e solitária ou a madrasta
m anipuladora de Carrie ou qualquer mulher da fam ília de Greg
que havia experimentado significativos problemas emocionais
ou físicos, a regra clara em ambos os sistemas era: “Esposas
tendem a ter problemas”. Até mesmo a forma como os dois
apresentaram suas famílias, a partir do estereótipo “Cleavers”
da fam ília d ele versus o “Simpsons” da dela, deu ainda mais evi­
dências de que eles já estavam comprando a regra de que espo­
sas normais tem problemas.
Em ambas as famílias, parecia que as mulheres tinham
dificuldade em suprir suas necessidades de maneiras saudáveis.
De casos e vícios a vagos problemas emocionais, não seria consi­
derado normal para uma esposa desse sistema pedir claramente
o que precisava. E os maridos de ambos os sistemas tinham
o padrão de serem distantes, fora de alcance, às vezes, quase
intocáveis. Independente de eles pa recerem ter tudo sob con­
trole (como os homens no sistema de Greg) ou simplesmente
deixarem a fam ília (como o pai de Carrie ou o tio que trocava
pela Europa), o marido normal exibia o padrão de não estar
disponível e de evitar os problemas diários de uma esposa.
Você pode estar perguntando-se como esse tipo de padrão
poderia ser uma tendência perigosa. Vamos fazer uma rápida e
im aginária viagem no tempo para cinco anos desse casamento:
Assim que se casaram, Greg sempre foi o forte, o que ti­
nha o controle. Carrie amava isso no marido, e confiava na
força dele. Ela gostava de ele “estar em controle” e cuidar dela.
Mas agora, depois de cinco anos de casados, ela olha para
fora da janela, o desespero cobrindo-a como um cobertor em

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O que toda noiva precisa saber

volta de si. Ela tem suas teorias: Talvez, foram suas enxaquecas
que começaram há alguns anos; talvez, foi o fato de não ter en­
gravidado; talvez, seja porque não orou o suficiente. Mas uma
coisa lhe é clara: ela já não sente mais nada por esse homem
com quem vive.
Ele é um bom homem, um homem espiritual. Ela o res­
peita. No entanto, ela sente-se culpada por não ter se esforçado
o bastante para manter seu casamento vivo. Mas ela está cansada
— cansada de ele nunca adm itir que está errado; de ele ignorar
suas necessidades; e da atitude arrogante e condescendente dele
para com ela sempre que aparece um problema dela.
Como Greg e Carrie chegaram a esse lugar? Eles fiz e ­
ram o que era natural. Como os homens da fam ília dela são
consistentemente distantes, m anter Greg distante parecia nor­
mal para ela. Ou, para compensar, ela tornou-se pegajosa,
buscando a atenção e a aproximação do marido. No caso de
Greg, a despeito do padrão problemático das mulheres
de ambas as famílias, ele culparia a esposa por qualquer falta de
estabilidade no casamento deles. E Carrie pode facilmente se
culpar também, sem saber como pedir ao esposo o que realmente
necessitava dele.
Carrie e Greg saíram dessa sessão de genograma com seus
olhos abertos para as formas como as correntes convergentes de
seus sistemas familiares poderíam constituir uma ameaça muito
real a eles. O compromisso deles agora tinha um foco mais claro
no que demandaria para manter seu casamento vivo e saudável.
Carrie saiu da sessão com uma disposição fresca de arriscar a ser
atenciosa às suas próprias necessidades e a tornar-se corajosa o
suficiente para compartilhá-las com honestidade com Greg. Já
ele saiu não mais apegado à sua própria força e convicções, mas
comprometido a não perpetuar o padrão de colocar sua esposa
na categoria “problema”.

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

O inimigo mais perigoso: aquele que você não vê

E perigoso assumir que apenas pessoas extremamente disfun-


cionais trazem “problemas” para seus casamentos. Existem
apenas dois tipos de casais que se preparam para o matrimônio:
aqueles que buscam ser honestos sobre os problemas que leva­
rão para a relação e aqueles que fingem ter nenhum . O segundo
grupo, no entanto, está destinado às corredeiras inesperadas.
Alguém , certa vez, disse: “Não sei quem descobriu a água,
mas tenho certeza de que não foi um peixe”. Quando estamos
cercados pelo norm al, é difícil até enxergar que ele existe. Os
casamentos destinados a sérios problemas são aqueles em que
um dos cônjuges é cego para o impacto dos padrões de norm al
de ambas as partes. Ele ou ela diz coisas como:

“M inha família não tem qualquer efeito em que eu sou.”


“Conheço essa menina há anos. Isso não será um pro­
blema.”
“Estou tão feliz por não termos nada de esquisito em
nossas famílias.”

Com cinco anos de casados, M ark e eu enfrentamos al­


gumas corredeiras sem estarmos preparados para elas. M ark foi
enviado por um futuro empregador para um teste psicológico
com duração de três dias. Olhando para trás agora, quase 20
anos depois, rimos sobre isso — o tipo de riso nervoso que
acontece logo após você evitar um acidente. Mas quando ouvi­
mos a avaliação, não rimos.
Depois que M ark completou seus três dias de teste, sen­
tamos no consultório do terapeuta vocacional para esperar os

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0 que toda noiva precisa saber

resultados. Antecipando um resultado previsível, estávamos, na


realidade, ansiosos por esse relatório. M ark sempre se saía bem
em testes, e esperavamos ouvir palavras como altam en te m oti­
vado, excepcional, e sábio para a sua idade. O que ouvimos, no
entanto, foi muito diferente.
Virando-se para m im , o conselheiro disse: “Quero que
você saiba que seu marido é um homem muito irritadiço”.
Eu olhei desacreditada. M ark riu. Ele reaimente fez isso. Na
verdade, meu marido tinha certeza de que o conselheiro havia
confundido o relatório dele com o de outra pessoa. Nunca me
esquecerei da forma como meu esposo olhou para mim — a
m ulher com quem ele havia vivido por cinco anos. Ele disse:
“Diga a ele, querida. Eu sou um homem irritadiço? Eu sou o
cara engraçado, lembra? Pode haver outros homens irritadiços
na m inha família, mas não sou um deles”.
Mas, para a surpresa de M ark, não pude discordar do con­
selheiro. Na verdade, eu corroborei o relatório dele com minhas
próprias evidências suplementares. No entanto, se você pergun­
tasse ao meu marido naquela época “Como sua família afeta seu
casamento?”, ele seria firme: “Não muito. Nosso casamento não
é nada parecido com o dos meus pais”.
No entanto, o que M ark não conseguia ver era que sua
fam ília o havia influenciado profundamente. Ele estava cego
para o óbvio. Ele estava prestes a ingressar na mesma profissão
da maioria dos homens de sua fam ília e já tinha começado a
viver com alguns dos mesmos desconhecidos padrões de raiva.
Isso era apenas norm al.
Durante os meses e os anos subsequentes, M ark come­
çou o processo de abertamente reconhecer sua raiva, para, por
fim, aprender que se ele não a dominasse, ela o controlaria e

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

m anteria nossa família como refém. Uma vez reconhecida sua


perigosa tendência à ira, M ark estava livre para brincar com ela.
Quando lideramos encontros de casais, M ark ama contar
um a história de como minhas brincadeiras têm, às vezes, aju­
dado a libertá-lo de sua raiva. Por razões óbvias, deixarei M ark
contá-la com suas próprias palavras:

Com dez anos de casados, voltei para uma casa na qual


parecia que três crianças selvagens viviam ali (e elas vi­
viam, é claro). Brinquedos estavam espalhados por toda
a sala, a louça estava suja e havia uma metade de san­
duíche sobre o balcão, que estava ali, é óbvio, há horas.
Eu havia tido um dia difícil no trabalho em particular.
Senti a ira crescendo em mim. Rapidamente me esqueci
das boas maneiras. Não houve “Como foi o seu dia?” ou
“Como posso ajudar com o jantar?”; apenas entrei em
casa, dei meu sermão, e comecei a limpar — de modo
“imaculado”, como meus filhos agora chamam isso. E
em pouco tempo, convencí a mim mesmo a respeito da
absoluta injustiça que era ter de voltar para uma casa
bagunçada e limpá-la após trabalhar o dia todo durante
longas horas.
Mas minha esposa, que conhece meu genograma mui­
to bem, aprendeu como interromper meus padrões de
raiva. Nunca me esquecerei daquele intenso momento
na cozinha. Depois de observar-me bufando por alguns
minutos, ela resistiu ao impulso de conectar-se a minha
raiva. Ela poderia facilmente ter reagido explicando que
aquilo aconteceu por ser folga da empregada, ou pode­
ria ter atirado de volta com “Sinto muito por você não
ter se casado com [a personagem] June Cleaver”.

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O que toda noiva precisa saber

Em vez disso, ela disse: “Aqui está o que quero que


você faça: tire sua gravata, deite-se em nossa cama
por alguns minutos, abra aquele livro que você estava
querendo ler, e então, me chame em alguns minutos.
Quando eu chegar lá, quero que você me diga o quanto
me ama. Então, talvez, a gente possa começar tudo”.

Sobre o que estamos discutindo mesmo?

No calor do conflito, é fácil ficar confusa sobre quais são os


verdadeiros problemas. Nossa experiência tem sido esta: quanto
mais o casal foca no conteúdo do conflito — problemas como
dinheiro, sexo, sogros, uma cozinha bagunçada — mais pro­
vável torna-se que ele permaneça preso no conflito. Por outro
lado, quanto mais o casal foca nos problemas dos seus genogra-
mas — padrões de raiva e reação, dominação e subserviência,
ou poder e desamparo — mais provável torna-se que ele passe
por esses problemas com amor e respeito intactos.
O erro que a m aioria dos casais comete quando lida com
conflito é focar no problema errado. Por exemplo, um marido
dominante e uma esposa submissa podem ter um conflito em
relação ao sexo, mas sexo não é o verdadeiro problema. Ou
pode haver uma esposa ranzinza e um marido indiferente que
pensam que o conflito deles é sobre os filhos, contudo, o verda­
deiro problema são os padrões de ranzinzice e de indiferente.
Jim e Irene não foram tão sortudos. Quando nos encon-
trávamos com eles semana após semana, eles não conseguiam
ir além da suposição de que o seu único problema real era di­
nheiro. No entanto, uma noite, ao alcance do ouvido de seus
filhos, eles estavam novamente discutindo sobre dinheiro. O
conflito intensificou-se que saiu de controle, e Jim bateu em

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Família de origem: guia de corredeiras para casamento

Irene com tanta força que quebrou o nariz dela. Eles ficaram
muito assustados com que ele tinha feito. O sangue começou a
descer pelo rosto de Irene quando o filho deles de oito anos de
idade correu para o quarto com seu cofrinho, gritando, “Você
pode ficar com todo o meu dinheiro!”.
Como a criança que pensa que o cofrinho irá ajudar, po­
demos deixar de ver as correntes mais perigosas do n orm al sob
nossos desentendimentos. São essas correntes, e não o assunto
desses desentendimentos, que representam a maior ameaça ao
seu casamento.

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