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Pessoa Ortónimo

♦Na poesia de Ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista.


Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com
marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos
heterónimos ou nas experiências modernistas;
♦A poesia, cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo
conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a
frustração que a consciência de si implica;
♦Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita
conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação esta evidente, por exemplo, em Meu
coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva
Obliqua;
♦ O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge
como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a
inteligência;
♦O Ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde os tempos de Orpheu e
do Paulismo;
♦ A poesia do Ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que
se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta
recorre à ironia para por tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o
fingimento, possibilita a construção da arte;

♦As temáticas:
1. O sonho; a intersecção entre o sonho e a realidade;
2. A angustia existencial e nostalgia;
3. A distancia entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração;
4. A mascara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que
exprimem as emoções ou o que quer comunicar;
5. A intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte;
6. O ocultismo e o hermetismo;
7. O sebastianismo;
8. Tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que sente é
incomunicável;
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Características temáticas
• Identidade perdida (“Quem me dirá sou?”) e incapacidade de
auto-definição (“Gato que brincas na rua (...)/ Todo o nada que és é
teu./ Eu vejo-me e estou sem mim./ Conhece-me e não sou eu.”)
• Consciência do absurdo da existência
• Recusa da realidade, enquanto aparência (“Há entre mim e o real um
véu/à própria concepção impenetrável”)
• Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência
• Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade,
esperança/desilusão
• Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção (“Eu
simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não uso o coração.” – Isto)
• Estados negativos: egotismo, solidão, cepticismo, tédio, angústia,
cansaço, náusea, desespero
• Inquietação metafísica, dor de viver
• Neoplatonismo
• Tentativa de superação da dor, do presente, etc., através de:
- evocação da infância, idade de ouro, onde a felicidade ficou perdida e
onde não existia o doloroso sentir: “Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele
outrora!” – “Pobre velha música”
- refúgio no sonho, na música e na noite
- ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível)
- criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”)
• Intuição de um destino colectivo e épico para o seu País
(Mensagem)
• Renovador de mitos
• Parte de uma percepção da realidade exterior para uma atitude
reflexiva (constrói uma analogia entre as duas realidades
transmitidas: a visão do mundo exterior é fabricada em função
do sentimento interior)
• Reflexão sobre o problema do tempo como vivência e como
factor de fragmentação do “eu”
• A vida é sentida como uma cadeia de instantes que uns aos
outros se vão sucedendo, sem qualquer relação entre eles,

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provocando no poeta o sentimento da fragmentação e da falta
de identidade
• O presente é o único tempo por ele experimentado (em cada
momento se é diferente do que se foi)
• O passado não existe numa relação de continuidade com o
presente
• Tem uma visão negativa e pessimista da existência; o
futuro aumentará a sua angústia porque é o resultado de
sucessivos presentes carregados de negatividade
Características estilísticas
• A simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo
popular) que dá uma ideia de simplicidade e espontaneidade
• Grande sensibilidade musical:
- eufonia – harmonia de sons
- aliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo
- verso geralmente curto (2 a 7 sílabas)
- predomínio da quadra e da quintilha
• Adjectivação expressiva
• Economia de meios:
- Linguagem sóbria e nobre – equilíbrio clássico
• Pontuação emotiva
• Uso frequente de frases nominais
• Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticos – enálage (“Pobre velha
música”)]
• Comparações, metáforas originais, oxímoros
• Uso de símbolos
• Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar...)
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- Características:
- dor de pensar
- angústia existêncial
- nostalgia
- desilusão
- visão negativa do mundo e da vida
- solidão interior

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- inquietação perante o enigma inecifrável do mundo
- tédio
- falta de impulsos afectivos de quem já nada espera da vida
- obsessão de análise
- vagos acenos do inexplicável
- recordações da infância
- ceptismo

- Estilo e Linguagem: - preferência pela métrica curta


- linguagem simples, espontânea, mas sóbria
- pontuação (diversidade)
- gosto pelo popular (quadra)
- métrica tradicional: redondilha (7)
- musicalidade
Temas

Sinceridade/fingimento
- Intelectualização do sentimento para exprimir a arte -> poeta fingidor
- despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria
criação poética
- uso da ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade
- Crítica de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na união de
contrários
- Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para traduzir
emoções e pensamentos (incomunicável)

Consciência/inconsciência
- Aumento da autoconsciência humana (despersonalização)
- tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta

Sentir/pensar
- concilia o pensar e o sentir
- nega o que as suas percepções lhe transmitem
- recusa o mundo sensível, privilegiando o mundo intelegível
- Fragmentação do eu  interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade
e a idealidade; realidades psíquicas e fisicas; interiores e exteriores; sonhos e

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paisagens reais; espiritual e material; tempos e espaços; horizontalidade e
verticalidade.

O tempo e a degradação: o regresso à infância


- desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da
passagem dos dias
- busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossiveis, mas acaba “sem alegria
nem aspirações”, inquieto, só e ansioso.
- o passado pesa “como a realidade de nada” e o futuro “como a possibilidade de
tudo”. O tempo é para ele um factor de desagregação na medida em que tudo é breve e
efémero.
- procura superar a angústia existencial através da evocação da infância e de
saudade desse tempo feliz.
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Na poesia de Fernando Pessoa como ortónimo coexistem duas vertentes: a
tradicional e a modernista.
Alguns dos seus poemas seguem na continuidade do lirismo português outras
iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências
modernistas.
A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo
conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração
que a consciência de si implica (como por exemplo no poema Ela canta, pobre ceifeira
nos versos “O que em mim sente ‘stá pensando./Derrama no meu coração”).
Fernando Pessoa procura através da fragmentação do “eu” a totalidade que lhe
permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente por exemplo, em
Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora absurda ,
Chuva oblíqua e Não sei quantas almas tenho (verso “Continuamente me estranho”). O
interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade, surge como
tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que
se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre
à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que com o fingimento,
possibilita a construção da arte.
As temáticas:
 O sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva oblíqua – “E os
navios passam por dentro dos troncos das árvores”);

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 A angustia existencial e a nostalgia da infância (exemplo: Pobre velha música –
“Recordo outro ouvir-te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me lembra
em ti.” ;
 Distância entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração (“Tudo o que
faço ou medito”);
 A máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as
emoções ou o que quer comunicar (“Autopsicografia”, verso “O poeta é um
fingidor”);
 A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte
(exemplo: Não sei quantas almas tenho – “O que julguei que senti”) ;
 O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)
 O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma na
obra Mensagem;
 Tradução dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é
incomunicável.
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Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional (com marcas do
saudosismo) e a modernista (que se concretizada nos heterónimos e nas experiências
modernistas).
É marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade
pura e a frustração que a consciência de si implica (ex. “Ela canta, pobre ceifeira”).
Procura, através da fragmentação do “eu”, a totalidade que lhe permita conciliar o
pensar e o sentir. A fragmentação é evidente em Hora Absurda e Chuva Oblíqua.
A fragmentação, ou seja, a tendência do eu em deixar de ser uno e a pluralizar-se, no
esforço de apreender a realidade marcadamente plural da vida moderna é outra das
características do poeta: “Sê plural como o universo”. A sinceridade intelectual ou
metafísica é a única que interessa à poesia. Daí que o fingimento seja a mais autêntica
sinceridade intelectual, pois “fingir é conhecer-se”.
O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como
tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se
identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à
ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento,
possibilita a construção da arte.

As temáticas:
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♦A intersecção do sonho e a realidade (Chuva Oblíqua);
♦A angústia existencial e nostalgia (do eu, de um bem perdido, das imagens
infância);
♦A distância entre o idealizado e o realizado e a consequente frustração – “tudo o
que faço ou medito”;
♦A máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as
emoções ou o que quer comunicar (Autopsicografia);
♦A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte;
♦O ocultismo e o hermetismo (Eros e Psique)
♦O sebastianismo
♦Tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é
incomunicável.

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