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Bife não passado.

Ela se aproxima da mesa num raio de trinta graus de distância. Aproxima-se da mesa e entrega
ao seu pretendente um prato. Na faca, sangue e um laço de fita amarelo.

Ela sorri para seu pretendente ele não entende nada. Seu percurso foi intenso de estórias para
contar. Saiu de casa vestida para ver morte na vala das esquinas, no escuro das vielas, na mira
dos camburões. E é gente como a gente. Dessa gente de passar fome em meio à noite a rasgar
o estômago.

Gente como a gente, de chegar à casa embebida pelo suor do trabalho árduo durante o dia e o
salto a fincar os pés de fora para dentro.

Serviu seu pretendente com uma faca de aço avermelhado pelo sangue ao invés de um assado
e este na mesa a encarar com um prato de bife não passado. Latejando sangue e ainda cheiro
de vida na mesa pomposa.

Que foi? Ele pergunta repetidas vezes desesperadamente e ela devolve sorriso amarelo sem
medo de ser debochada.

Cláudia matou conto isso por ter visto o exato momento em que a tentativa de defesa ocorreu.
Um vizinho a viu de vestido vermelho e renda a cruzar com gargalhadas a banca de jornal.
Magnetismo de Professora da vida.

A fofoqueira do bairro disse ter visto Cláudia saindo da banca de jornais. Estressada de pirraça
com a lua a chamar o último ônibus como quem chama táxi. O porteiro disso ter visto sombra
e gritos na esquina da praça. Já eu vi Cláudia a realizar uma fossa no estômago de sua vítima
como quem manipula bife não passado. Este que Glauber serve a ela no primeiro encontro em
troca de afetos que ele nomeia serem apenas um emaranhado de beijos e apenas sexo.

Na madrugada a cidade se cala num cochicho grande do asfalto para baixo com quem sabe o
que é subsolo desde sempre. Cláudia se arruma. Lava as mãos ensangüentadas no vestido e
pega a lotação em direção ao pretendente. De vestido vermelho ensangüentado e mãos
cheirando a bife não passado.

Ela ri, e entrega a faca a dar gargalhadas na mesa. Um breu surge em meio ao encontro e o
garçom se retira por educação.

Queremos bife acebolado! Gritam.

Ela senta, aperta o braço dele e sente aconchego. Esquece por minutos que foi a poucas horas
estratégia de sobrevivência.

O cheiro do bife remoeu em mim quando passei por lá. Senti a morte a correr minha presença
da janela.

A dúvida tem fim quando paro de flertar com a moça que está na mesa de bar com aquele
rapaz desconhecido. Fecho a janela e deixo viverem suas vidas até que eu crie outra estória
novamente.

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