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A solidão não é uma ótima companheira, somos fadados a sentir a necessidade de

calor humano, assim eu acredito, não sou um especialista, só quero transmitir o que
penso, antes que me seja tarde, mas que fique claro, falo para o maior número de
pessoas possíveis sobre meus pensamentos mas não é todos que escutam, não são
todos que param e prestam atenção, muitas vezes os poucos logo se tornam o nada.
Carência é uma consequência da solidão, muitas vezes as pessoas querem ser
escutadas mas não querem escutar, querem atenção mas não compartilhar a atenção, o
egoismo reina, não os culpo, também quero monopolizar a atenção, mas, como bom ser
humano que sou, não assumo totalmente a culpa, atribuo uma boa parte dela para a
carência em decorrência da solidão. Mas por que sou solitário? Isso jamais soube
responder, talvez ainda não obtive a capacidade de me entender, ou nunca consiga, pois
o tempo é curto, mesmo que se viva muito. Nascemos, o tempo mais extenso que temos
é a infância, depois vem a adolescência, uma fase confusa, de descobertas e
transformações, logo em seguida vem a juventude, e num piscar de olhos você vira adulto
sem perceber, mais do nada ainda se chega a velhice e de repente chega a única certeza
humana, a morte.
Temos um tempo tão curto, para se preocupar com o calor humano, mas, ao
mesmo tempo, ele se torna longo sem o mesmo, algo tão complexo, e tão simples, cresça
, sobreviva, ache um parceiro, procrie ou adote, eduque, morra, assim reinicia o ciclo
geração pós geração. Se optar pela solidão, não vou lhe julgar, não quero que se sinta
triste por ser diferente, jamais vou querer isso, pois, mesmo querendo algo tão comum,
me considero diferente, não saberei explicar com palavras precisas, mas espero que
entenda o que sou. Mas quero que entenda, que se você for como eu, que quer uma
companhia, e é forçado a engolir o pensamento de gostar da solidão pela simples
aceitação de uma batalha não travada, ou batalhas perdidas, entenda que viver pode ser
lutar essa guerra até o fim de seus dias, encontrar a felicidade nessa cruzada é o desafio
da sua vida, ou talvez eu esteja em um delírio, devido as dores que estou sentindo.
Dores no corpo é outra velha amiga, não vou expor meu histórico médico, mas
expelir pedra pelo canal urinário aos 14 anos foi uma das experiências mais extremas de
dor após fica sofrendo uns bons meses de crise renal, sem saber que era o rim, cidade
interiorana, dificuldades financeiras, sistema de saúde precário, e uma puta sorte de ter
várias coisas não graves mas que dão muita dor, são os fatores de me fazer ser um cara
resistente a situações extremas, talvez seja muita arrogância dizer que sou preparado
para situações extremas, vamos reformular isto, vamos dizer que consigo passar por
certas coisas com mais facilidade do que uma boa parte das pessoas.
Fui me moldando ao longo do tempo, odiar as pessoas pelos mais variados
motivos, era uma dadiva minha, ainda é um pouco, as vezes é bom não exterminar por
completo tal capacidade. Mas, logo fui percebendo que, usava o ódio para tentar me
acalmar, culpar algo, um escape da realidade, por que enfrentar a dolorosa realidade que
vivi não é algo legal ou encorajador de fazer para uma criança ou adolescente. Ainda bem
que fui desenvolvendo vários mecanismos para evitar ódios sem sentido, não comparar
realidades, não invejar algo, aceitar como você é, entender que certas coisas é possível
de mudança e depende de você, lógico muitas coisas depende de você, mas em nenhum
momento vou lhe dizer que é fácil ou simples, pois moldar um comportamento não é algo
que se faz da noite para o dia, e existem muitas variáveis para se acalçar o objetivo, o
único conselho que deixarei na minha escrita é, não se use como métrica para ter opinião
sobre algo, jamais faça isso.
Já tentei escrever inúmeras vezes, mas nunca sai nada da segunda página, mas
quando sai não fica do meu gosto, talvez este não saia de duas páginas, mas espero que
saia, estou experimentando uma nova abordagem, quero tentar explicar meus
sentimentos, uma conversa, como converso mentalmente todos os dias com pessoas
aleatórias, em breve entenderá ou não, o que quero dizer com isso, a única certeza que
tenho é que minha mente é confusa, então não espere algo menos do que confusão e
contradições, a final a vida é feita disso, dúvidas, incertezas, inseguranças, péssimas
decisões, um número pequeno de decisões boas, e um pouco, mas só um pouco de
sorte.
Quero dizer que ao longo da minha vida, tomei decisões ruins, desabafei com um
número não tão grande de pessoas, as mesmas já me disseram que alguns não são
motivos de ficar se lamentando ou se culpando até hoje, mas existem fantasmas do
passado e sou assombrado por eles constantemente, muitos deles já foram superados.
Um erro se destaca dos demais, é algo que tenho como objetivo de vida em tentar
reparar, uma pessoa, que tive a oportunidade de ouvir sua voz somente quando lhe disse
seu nome, tem um medo muito grande sobre min, talvez seja até uma fobia, ou nada,
mas, na minha mente isto é real, fico triste, seu rosto assustado está fixado na minha
mente, pretendo um dia reverter tal fato, não sonho com sua amizade ou intimidade,
quero que quando ela me veja tenha uma expressão neutra, até mesmo um sorriso falso,
um rosto tão lindo com expressão de medo por minha causa é algo que me atormenta por
anos.
Esportes sempre fizeram parte da minha vida, mesmo não sendo bom em nada,
sempre encarei ele como uma forma de me sentir útil em algo, minhas notas escolares
eram boas, mas, não me sentia completo, exemplo disso é eu não ser um destaque em
nenhuma área do conhecimento até hoje, como bom ser humano, não me culpo
integralmente, existem fatores que encarregaram de me colocar deixar no limbo do
conhecimento. Praticar algum exporte sempre foi algo que eu gostava, achava que seria
aceito socialmente por praticar algo, infelizmente só ilusão, aprendi a descobrir novas
formas de suprir a solidão com o esporte, alguns momentos estatura e peso, minhas
“habilidades”, eram parte essencial para se obter sucesso no meu esporte predileto nas
quadras, o handbol, de certa forma me fazia sentir parte do time, mas, nunca aceito pelas
pessoas, jamais recebi um abraço pós-jogo, todos os outros garotos recebiam das
meninas que estavam torcendo pela nossa escola. Continuava incompleto, não tinha calor
humano, triste de certa forma, mas existia felicidade em vários momentos, não encare os
relatos como um cara cem por cento triste, valorizo tanto os poucos momentos felizes que
jamais vou compartilhar com outra pessoa, “jamais” é uma palavra forte, que espero que
seja quebrada um dia.
Na minha procura por algo que me apaixone na minha adolescência, já que estava
cansado das platonices com as garotas da minha escola, descobri a corrida de rua, na
verdade a descoberta do prazer que ela gera, sempre adorei assistir maratonas, corridas
rasas, e suas variantes na televisão. Não era bom, tinha uma série de empecilhos, pé
chato, sobre peso, desconhecimento técnico, falta de um tênis com adequações mínimas
para praticar tal esporte. Mesmo assim resolvi encarar, era uma luta contra meus próprios
obstáculos, que a cada superação me dava uma alegria nunca antes sentida, algo que
mudou minha vida, algo que considero o primeiro empurrão de mudança. Um esporte que
não tinha competições na minha cidade, e mesmo que tivesse, não teria condições
competir, algo que poderia fazer pelo simples fato de querer fazer, sem precisar dê um
abraço no final do jogo para me sentir completo, parte de algo.
Nessa primeira fase de evolução da minha vida, as dores se modificaram e se
intensificaram, dores nas articulações, pés, joelhos e tornozelos começaram a ser mais
constantes, me ajudando a ignorá-las a fim de buscar a felicidade que era correr, ter uma
sensação prazerosa de que estava vivo, e só dependia da minha vontade estar vivo e
feliz. Infelizmente a única dor que até hoje, mesmo depois de tantos caminhos percorridos
é a dor sentimental, espero que nos próximos anos consiga superá-la, estou no caminho,
mas existem muitos degraus até o topo, se não conseguir, não ficarei triste por isso.
Abraço do vento

Caminhar longas distâncias foi comum na minha infância, caminhar te dá a


liberdade de observar ao seu redor, se encantar com pequenas coisas, nada difícil
quando se é uma criança, geralmente percorríamos dois ou três quilômetros até o rio ou
riacho para lavar lã de carneiro, uma das várias fontes de rendas que minha mãe tentava
ter, ela era artesã, costureira, empregada doméstica, o que aparecia para uma mulher
sem muito estudo e tinha que sustentar duas crianças ela fazia, na medida do possível.
Meu pai também fazia um certo esforço, mas não vou discutir minha vida familiar, só
deixarei claro que hoje encaro meu pai como algo não muito positivo, e mantenho minha
mãe como a pessoa mais importante da minha vida em seguida o meu irmão.

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