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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
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GRS
Nº 70047647755
2012/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. PARTO NORMAL. FALHA NA PRESTAÇÃO
DOS SERVIÇOS. EPISIOTOMIA. LESÃO DO CANAL ANAL. FÍSTULA
RETOVAGINAL. DANOS CARACTERIZADOS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. INDEFERIMENTO. PREQUESTIONAMENTO. 1. Quanto aos atos
comissivos, responde o nosocômio de forma objetiva pelos danos causados a
terceiros. Inteligência do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. 2. O
conjunto fático-probatório da demanda apontou que os danos suportados pela parte
autora decorreram de falha no atendimento médico prestado pelo réu,...

(TJ-RS - AC: 70047647755 RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Data de


Julgamento: 25/07/2012, Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 02/08/2012)

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
ESTÉTICOS. PARTO NORMAL. FALHA NA
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. EPISIOTOMIA.
LESÃO DO CANAL ANAL. FÍSTULA RETOVAGINAL.
DANOS CARACTERIZADOS. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA. INDEFERIMENTO.
PREQUESTIONAMENTO.
1. Quanto aos atos comissivos, responde o nosocômio
de forma objetiva pelos danos causados a terceiros.
Inteligência do art. 14 do Código de Defesa do
Consumidor.
2. O conjunto fático-probatório da demanda apontou
que os danos suportados pela parte autora decorreram
de falha no atendimento médico prestado pelo réu,
qual causou lesão no canal anal da paciente durante a
realização de parto normal, razão pela qual justa e
legal a condenação do nosocômio ao pagamento de
indenização por danos morais e estéticos.
3. A quantificação da indenização deve levar em conta
o tempo de duração da ilicitude, a situação
econômico/financeira e coletiva do ofensor e ofendido,
a repercussão do fato ilícito na vida do ofendido, a
existência ou não de outras circunstâncias em favor ou
em desfavor do ofendido, dentre outros, razão pela
qual o quantum indenizatório fixado vai mantido.

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4. Os juros moratórios de 1% ao mês, por se tratar de


responsabilidade civil contratual, devem incidir desde a
data da citação, conforme artigos 405 e 406 do Código
Civil e 161, §1º, do Código Tributário Nacional.
5. A justa remuneração do advogado vem ao encontro
da sua indispensabilidade à administração da Justiça,
conforme o art. 133 da CF e como tal há de ser
considerada. Verba honorária mantida.
6. Ainda que em se tratando a ré de entidade
filantrópica, sem fins lucrativos, para a concessão da
Assistência Judiciária Gratuita faz-se necessária a
comprovação nos autos das dificuldades financeiras
em arcar com as custas judiciais e honorários
advocatícios. Assistência Judiciária Gratuita não
concedida.
7. PREQUESTIONAMENTO. O magistrado não está
obrigado a esgotar exaustivamente todos os
argumentos e normas legais invocadas pelas partes,
quando o julgado houver sido proferido com
substancial fundamentação.
APELOS DESPROVIDOS.

APELAÇÃO CÍVEL QUINTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70047647755 COMARCA DE NOVO HAMBURGO

ANA PAULA AMARAL APELANTE

FUNDACAO DE SAUDE PLUBLICA APELADO


DE NOVO HAMBURGO FSNH

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento
aos apelos.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (PRESIDENTE) E DES.ª
ISABEL DIAS ALMEIDA.
Porto Alegre, 25 de julho de 2012.

DES. GELSON ROLIM STOCKER,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. GELSON ROLIM STOCKER (RELATOR)
Trata-se de apelações interpostas sucessivamente por ANA
PAULA AMARAL e FUNDACAO DE SAUDE PLUBLICA DE NOVO
HAMBURGO FSNH, diante da sentença de parcial procedência proferida
nos autos da Ação de Indenização por Danos Morais e Estéticos, que aquela
move em desfavor desta.
Adoto o relatório da sentença (fls. 182-190), que transcrevo:
ANA PAULA AMARAL ajuizou ação de indenização
em face de HOSPITAL MUNICIPAL DE NOVO
HAMBURGO, alegando ter sido hospitalizada em
10/05/2007, em decorrência de trabalho de parto.
Informou que sua filha nasceu de parto normal, sendo
que foi feita uma incisão na região do períneo
(episiotomia), para facilitar o procedimento. Destacou
ter tido alta hospitalar em 11/05/2007, sem ter
recuperado o funcionamento normal de seu intestino,
sentido muita dor, ficando constipada por quase um
mês. Ressaltou ter procurado atendimento médico,
tendo sido constatada a existência de fístula
retovaginal, ocorrida em razão da incisão feita no
momento do parto. Narrou ter se submetido a
procedimento cirúrgico em 06/06/2007 para
fechamento da fístula, passando a fazer uso de bolsa
de colostomia. Asseverou ter sido necessária a
realização de nova cirurgia em 06/05/2008, desta vez
para reconstrução do trânsito intestinal. Aduziu ter

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sofrido com todo o ocorrido, razão pela qual deve ser


indenizada. Pugnou pela procedência da ação com a
condenação do requerido ao pagamento de
indenização a título de danos morais em valor
correspondente a 100 salários mínimos e indenização
a título de dano estético em 50 salários mínimos.
Pediu AJG. Juntou documentos nas fls. 08/35.
Foi deferida AJG à autora (fl. 36).
Citada, a requerida apresentou contestação (fls.
43/52), arguindo, preliminarmente, a necessidade de
retificação do polo passivo, uma vez que o hospital
passou a se chamar Fundação de Saúde Pública de
Novo Hamburgo - FSNH. No mérito, asseverou que a
formação da fístula retovaginal na paciente, não
decorreu dos procedimentos adotados no momento do
parto. Salientou que quando da segunda internação
da autora em 06/06/2007, foi realizado o fechamento
da fístula retal. Referiu a internação da demandante
no período de 29/04/2008 a 10/05/2008, na Santa
Casa de Porto Alegre, para realização de
procedimento e, conforme nota de alta, não restou
evidenciada fístula vaginal. Destacou que a ocorrência
de fístula retovaginal é uma complicação de parto, já
estatisticamente comprovada, que pode ocorrer em
parto normal, sem instrumentação, não significando,
necessariamente, erro médico. Pugnou pela total
improcedência da demanda. Acostou documentos nas
fls. 54/98.
Houve réplica (fls. 100/103).
Em audiência de conciliação (fl. 107), não houve
composição do litígio. Na mesma oportunidade, foi
deferido o pedido da parte ré quanto à produção de
prova pericial.
Foi deferida a alteração do polo passivo (fl. 110).
Apresentados os quesitos (fls. 111 e 115), sobreveio
laudo às fls. 133/139.
Em audiência de instrução (fl. 160), foi ouvida uma
testemunha (fls. 163/165).
Encerrada a instrução, os debates orais foram
convertidos os memoriais os quais foram
apresentados pela parte autora às fls. 167/169, e pela
parte ré às fls 170/173.
Pelo juízo foram apresentados quesitos
complementares (fl. 174), sobrevindo resposta às fls.
178/179.
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Após manifestação de ambas as partes (fls. 180/181),


vieram os autos conclusos para sentença.
É O RELATO.

A sentença recorrida assim decidiu:


ISSO POSTO, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE
o pedido deduzido por ANA PAULA AMARAL em face
do FUNDAÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA DE NOVO
HAMBURGO- FSNH para condenar o requerido ao
pagamento de indenização no valor de R$ 20.000,00
(vinte mil reais), a título de danos morais e de R$
10.000,00 (dez mil reais), pelos danos estéticos
sofridos. O valor deverá ser corrigido monetariamente
pelo IGP-M, a contar da presente data, e acrescidos
de juros de mora de 1% ao mês a contar da data da
citação.
Em face do decaimento mínimo da parte autora,
condeno a parte ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios ao patrono da
parte autora, os quais fixo em 15% sobre o valor da
condenação, nos termos do art. 20, § 3º, do CPC,
considerando o zelo profissional, natureza e
importância da causa.

A parte autora recorre às fls. 192-195. Em suas razões, requer


o provimento do apelo para reformar a sentença, apenas no sentido seja
majorado o quantum indenizatório fixado a título de danos morais para R$
30.000,00 e estéticos para R$ 20.000,00, diante dos inúmeros prejuízos que
sofreu em decorrência da falha dos serviços prestados pela parte contrária.
A ré, por sua vez, recorre às fls. 196-201. Em suas razões,
requer o provimento do apelo para afastar a sua condenação ao pagamento
de indenização por danos morais e estéticos.
Para tanto, aduz que não houve falha na prestação dos
serviços médicos, sendo a ocorrência de fístula uma complicação de parto,
não necessariamente de erro médico.

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Ademais, requer seja concedido o benefício da AJG, por se


tratar de entidade sem fins lucrativos.
Por fim, caso mantida a sua condenação, requer a redução do
quantum indenizatório fixado, que os juros moratórios incidam somente a
partir da data da sentença, bem como a redução dos honorários
advocatícios sucumbenciais, prequestionando a matéria ventilada.
A ré ofereceu contrarrazões às fls. 204-207 e a parte autora às
fls. 208-213, tendo esta, também, prequestionado a matéria ventilada no
feito.
Preparado o apelo da ré e sem preparo o recurso da autora,
por litigar esta sob o benefício da AJG, vieram os autos a esta Corte de
Justiça para apreciação.
Às fls. 249/261 o Ministério Público opinou pelo conhecimento
e parcial provimento ao recurso da autora e pelo improvimento do apelo do
réu.
Registro que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e
552 do CPC, tendo em vista a adoção do sistema informatizado.
É o relatório.

VOTOS
DES. GELSON ROLIM STOCKER (RELATOR)
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço dos
recursos interpostos. Não havendo preliminares, passo, em conjunto, ao
exame do mérito dos apelos.
Compartilho do entendimento da Digníssima Magistrada a quo
quanto à parcial procedência dos pedidos formulados pela parte autora.
Primeiramente, cumpre salientar que a responsabilidade civil
do Hospital quanto aos serviços disponibilizados aos cidadãos independe da
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existência de culpa, ou seja, é objetiva, nos termos do art. 14 do Código de


Defesa do Consumidor.
Nesse contexto, de acordo com o § 3º do apontado art. 14, a
requerida somente não será responsabilizada mediante a prova de que o
defeito inexiste ou de que houve culpa exclusiva do consumidor ou de
terceiro.
Pois pelo conjunto fático-probatório dos autos não há dúvida de
que os danos suportados pela parte autora decorreram de falha no
atendimento médico prestado pelo réu, qual causou lesão no canal anal da
paciente durante a realização de parto normal, razão pela qual justa e legal a
condenação do nosocômio ao pagamento de indenização por danos morais
e estéticos.
A perícia médica realizada no feito (fls. 132-139), bem como a
resposta aos quesitos suplementares formulados pelo próprio Magistrado
foram categóricos ao afirmar que a ocorrência de falha dos serviços da ré.
Para evitar desnecessária tautologia, adoto parte dos
fundamentos da sentença como razões de decidir, não acarretando ofensa
ao art. 93, inciso IX, da Constituição Federal de 1988.
Neste sentido é a seguinte jurisprudência do STJ, senão
vejamos:
“PROCESSUAL CIVIL - INEXISTÊNCIA DE OFENSA
AOS ARTS. 535 E 475, II, DO CPC - ADOÇÃO DOS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA COMO RAZÃO DE
DECIDIR - POSSIBILIDADE.
1. Em nosso sistema processual, o juiz não está
adstrito aos fundamentos legais apontados pelas
partes. Exige-se, apenas, que a decisão seja
fundamentada, aplicando o magistrado ao caso
concreto a legislação considerada pertinente.
2. Não incorre em omissão o acórdão que adota os
fundamentos da sentença como razão de decidir.
3. Recurso especial improvido.
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(REsp 592092/AL, Rel. Ministra ELIANA CALMON,


SEGUNDA TURMA, julgado em 26/10/2004, DJ
17/12/2004 p. 492)

Assim, passo a transcrever parte da sentença:


“(...).
Preambularmente, cumpre ressaltar que a responsabilidade
civil do hospital, no que tange aos serviços prestados é de ordem
objetiva, independentemente de culpa, o que faz presumir àquela
e prescindir da produção de provas a esse respeito, ficando a
cargo do demandado o ônus de comprovar fato modificativo do
direito da parte autora.

A este respeito é a lição esclarecedora de Sérgio Cavalieri


Filho1 ao afirmar que:
Os estabelecimentos hospitalares são fornecedores de
serviços, e, como tais, respondem objetivamente pelos danos
causados aos seus pacientes.
É o que o Código chama de fato do serviço, entendendo-se
como tal o acontecimento externo, ocorrido no mundo físico, que
causa danos materiais ou morais ao consumidor, mas
decorrentes de um defeito do serviço.

No entanto, o nosocômio demandado exonera-se do dever


de indenizar caso comprove a ausência de nexo causal, ou seja,
provar a culpa exclusiva da vítima, fato exclusivo de terceiro, caso
fortuito, ou força maior, situações estas que não estão presentes
no caso dos autos.

Narra a autora que após a realização do parto no hospital


demandado, por erro médico, foi constatada a existência de
fístula retovaginal, ocorrida em razão da incisão (episiotomia) feita
no momento do parto, razão pela qual teve de se submeter à
realização de duas cirurgias, sendo que em uma delas passou a
fazer uso de bolsa de colostomia e, na outra, teve se se submeter
à reconstrução do trânsito intestinal.

Antes de passar à questão de fundo, qual seja, se houve ou


não erro médico quando da realização de episiotomia, importante
verificar o histórico médico da paciente/autora, com base nas
evoluções e prontuários médicos acostados aos autos.

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Segundo se depreende do documento da fl. 57, a autora foi


internada no hospital requerido por estar em trabalho de parto. O
parto foi realizado com fórceps de alívio e episiotomia. Teve alta
hospitalar em 11/05/2007. Em 04/06/2007, na unidade de pronto-
atendimento do nosocômio demandado, foi atendida, informando
constipação intestinal há cerca de 30 dias, com início após o
parto (fl. 20), ocasião em que foi encaminhada ao ginecologista e
receitado laxante. Em 06/06/2007 foi constatado fecaloma. A
autora então narrou não ter conseguido evacuar, salientando que
escorriam fezes líquidas pelo lado da episiotomia (fl. 16), razão
pela qual foi encaminhada ao Postão. Neste mesmo dia foi
constatado no hospital a presença de fístula retovaginal (fl. 25) e
indicada a colostomia (fl. 21), tendo a autora realizado o
procedimento no hospital demandado em 07/06/2007 (correção
da fístula retovaginal).

Posteriormente, em 26/06/2007, novamente a demandante


se dirigiu ao nosocômio requerido, dizendo sentir muita dor na
região superior do abdome, ocasião em que encaminhada ao
Posto de Saúde (fl. 26/27). No dia seguinte (27/06/2007), foi
atendida no hospital com queixa de dor abdominal e febre,
orientada para analgesia e encaminhada ao seu médico (fl. 29).

No ano seguinte, em 29/06/2008, internou na Santa Casa de


Misericórdia de Porto Alegre, sendo realizada em 06/05/2008, o
fechamento da enterostomia e correção da hérnia incisional, não
sendo constatada a presença da fístula retovaginal, por ocasião
da cirurgia (fl. 33).
Do histórico acima é possível constatar que, de fato, a
autora teve de se submeter a diversos procedimentos a partir da
constatação da fístula retovaginal surgida após a realização do
parto. Contudo, resta analisar se a fístula decorreu da má
realização da episiotomia.

O surgimento da fístula retovaginal após o parto é fato


incontroverso entre as partes. Todavia, alega o demandado ter
corrigido o problema quando da internação da autora em
07/06/2007, salientando que a ocorrência da fístula é uma
complicação de parto, já estatisticamente comprovada, não
decorrente, necessariamente de erro médico.

Segundo depoimento do sr. João Edgar Bohn (fls. 163/165),


médico responsável pela realização do parto na autora, a
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episiotomia é um corte que se faz no parto vaginal. Salientou que


foi usado fórceps de alívio. Conforme relato, o corte (episiotomia)
é normalmente médio-lateral, usualmente para o lado esquerdo
do paciente. Ressaltou que a episiotomia pode ser ampliada
naturalmente no período expulsivo quando a cabeça da criança
está saindo, uma laceração e, em havendo esta, pode ocorrer
para qualquer lado, inclusive em direção ao ânus. Afirmou que em
sendo feita a episiotomia, é feito toque retal depois do nascimento
da criança, antes da sutura, para ver se tem alguma lesão no
reto. Depois de feita a sutura, novo toque retal é realizado:

(...)
Informante: A episiotomia é o corte que se faz no parto
vaginal. E foi usado fórceps de alívio, pelo que está aqui no
prontuário.
Juiz: Essa indicação era aplicada ao caso dela? Ou por que
foi feito dessa forma?
Informante: Como ela tinha uma cesária prévia, a gente as
vezes usa o fórceps para aliviar o período expulsivo, para fazer o
período expulsivo ser mais curto, para não ter risco para o feto de
ter um período expulsivo mais prolongado, para evitar danos,
principalmente neurológicos para o feto. A gente faz esse uso de
forceps de alívio e para evitar risco de (ruptura) uterina, né, como
ela tinha uma cesárea prévia.
Juiz: O senhor sabe o período que ela ficou internada?
Informante: Normalmente parto normal fica 24h internada.
Depende da hora que ela ganha o nenê. Se for depois das 18h,
ela fica umas 36h, mas normalmente é 24h.
Juiz: O senhor sabe se em decorrência desse parto ela
precisou retornar, ser hospitalizada novamente ou fazer outro
procedimento cirúrgico?
Informante: Eu sei que ela teve uma fístula reto-vaginal e
em decorrência disso foi feita uma colostomia para correção
dessa fístula. E, posteriormente, foi feita a correção da
colostomia.
Juiz: Isso é normal, é esperado?
Informante: Quando há fistulização reto-vaginal a gente faz
uma colostomia para parar o trânsito intestinal naquele pedaço
que tem fístula para fazer essa correção.
Juiz: O surgimento dessa fístula se dá por qual razão?
Informante: Isso é uma complicação do parto.
Juiz: É uma complicação esperada?

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Informante: Pode acontecer, infelizmente. Como outras


várias complicações de parto né. Rupturas completas, que pega
vagina e ânus, que perde, inclusive a continência fecal. Isso pode
acontecer em parto via vaginal. É uma complicação decorrente,
que pode acontecer. Tem seu índice estatístico.
Juiz: Isso depende da perícia ou não do médico?
Informante: Não, não depende. Inclusive tu pode ter
fistulização em parto espontâneo, em paciente que ganha o nenê
em casa, ou na ambulância no trajeto para o hospital. Podem
ocorrer rupturas completas e fistulizações também. Independente
do médico estar ali ou não isso pode acontecer. Independente da
instrumentação, do fórceps também, ou não, pode acontecer.
Juiz: Mas só para deixar bem claro, a incisão e essa
episiotomia foi o senhor quem fez?
Informante: Fui eu.
Juiz: Dada a palavra à parte ré.
Procuradora da parte ré: O toque retal para verificar as
condições de pacientes submetidos a parto normal é usual? E se
neste caso foi adotado esse procedimento?
Informante: Sempre que se faz uma episio, o corte, a gente
faz toque retal posterior para ver se está tudo direitinho. Deixa eu
dar uma olhada...Com certeza foi feito, agora só quero ver se foi
colocado aqui na descrição. O toque retal a gente faz depois do
nascimento, antes da sutura, para ver se tem alguma lesão no
reto, porque quando a episio está aberta a gente consegue
visualizar isso. Aí depois a gente faz a sutura e depois a gente faz
o toque posterior de novo. Não estou achando a descrição do
quadro aqui, não sei se esse prontuário está completo ou não.
Ah, está aqui. Fl.58.
Procuradora da parte ré: A formação de fístula pode
ocorrer em decorrência de parto sem uso de instrumento?
Informante: Sim. Inclusive em parto sem episio também
pode ocorrer fistulização.
Procuradora da parte ré: Na comunidade médica a fístula
reto-vaginal é uma complicação estatisticamente comprovada?
Informante: Sim, é uma complicação do parto,
independente de instrumentação ou não. Não sei te dizer qual é a
estatística, qual é o percentual, digamos, de fistulização.
Acontece, mas não é uma coisa com muita frequência não, mas
acontece. Isso é uma complicação esperada, assim como em
uma cesárea é esperado infecções, mas felizmente a gente tem
índice de infecção baixo lá no hospital. É esperado atomia-
uterina, é esperado hemarrogia, choque hipovolêmico, que são
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complicações que podem ocorrer. Em cesárea muito mais do que


em parto normal, mas “felizmente” são complicações mas que
ocorrem com uma frequência pequena.
Procuradora da parte ré: Eu gostaria de esclarecimentos
se tendo ocorrido uma cesárea, é normal depois ter feito um parto
normal? Tem alguma associação?
Juiz: O senhor já recebeu isso.
Informante: Pode ter parto normal depois de uma cesárea.
Com duas cesáreas a gente tem indicação de fazer uma terceira
cesárea, mas com uma cesárea pode ter parto normal. Isso não
tem problema nenhum.
Procuradora da parte ré: Há quantos anos o doutor é
formado?
Informante: Eu sou formado em dezembro de 1986, vai
fazer 25 anos.
Procuradora da parte ré: Há quantos anos já trabalha no
hospital?
Informante: No municipal?
Procuradora da parte ré: No municipal.
Informante: Uns 21 anos mais ou menos. Com todas as
mudanças que houve nele né, antes a gente trabalhava sem
vínculo, depois passou para associação.
Procuradora da parte ré: Nada mais.
Juiz: Só para complementar: desde quando o senhor atua
nessa área?
Informante: Me formei em 1986 na graduação de Medicina.
Depois eu fiz 03 anos de residência na Federal Fluminense, no
Rio de Janeiro, e aí eu vim quando me formei em 1989 da
residência, e comecei a trabalhar aqui em Novo Hamburgo.
Juiz: Sempre nessa mesma especialidade?
Informante: É, sempre como ginecologista-obstetra.
Juiz: Dada a palavra à parte autora.
Procuradora da parte autora: Gostaria de saber se tem um
tamanho padrão para essa incisão da episiotomia?
Informante: Existe uma normalidade, digamos assim. Um
padrão usual. O que as vezes ocorre, a gente faz uma episio
normal e no período expulsivo, quando a criança sai, ocorre uma
laceração, ou seja, uma ampliação dessa incisão.
Procuradora da parte autora: Em que direção é feita essa
incisão? Sempre em direção ao ânus, ou pode ser em direção à
perna também?
Informante: Normalmente ela é médio-lateral. Normalmente
para o lado direito da gente, esquerdo da paciente. Isso é o mais
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usual. Pode ser usado para o lado esquerdo também, mas mais
usual é medio-lateral esquerdo da paciente e direito da gente.
Procuradora da parte autora: E no caso da Ana Paula não
sabe precisar direitinho de que maneira foi, pelo prontuário?
Informante: Pelo prontuário eu não sei te dizer, mas pela
minha prática foi médio lateral esquerdo. A episio é, digamos
assim, que a gente faz é que menos complicações ocorrem. Mas,
no período expulsivo quando a cabeça está saindo, essa episio
pode ser ampliada naturalmente, uma laceração que a gente
chama. E aí quando lacera, pode lacerar para qualquer lado.
Procuradora da parte autora: Haveria possibilidade de ter
atingido o intestino essa episio? No caso de laceração assim.
Informante: Laceração pode ocorrer. A episio a gente não
abre em direção ao reto, ao ânus, a gente abre lateral,
exatamente para evitar essa... quando a cabeça sai ela pode
rasgar em direção ao reto. Mas, pelo que está descrito aqui não
houve isso. Porque quando a gente faz o exame posterior, o
toque retal, eu coloquei aqui sem particularidades. Se houvesse
alguma lesão a gente teria que colocar aqui, descrever isso.
(...)

Do depoimento do médico, é possível concluir que o mesmo


afirma ter realizado a episiotomia na região médio-lateral e que
não atingida a região anal.

Após esclarecimentos médicos, foi ordenada a realização de


perícia médica. Frise-se, por oportuno, que o magistrado não está
obrigado a seguir estritamente o laudo pericial, caso haja
elementos científicos idôneos para desconsiderá-lo, dado o
princípio do livre convencimento do juiz. Todavia, para afastar-se
das conclusões estampadas na perícia, deve encontrar apoio em
razões sérias, ou seja, em fundamentos induvidosos de que a
opinião do perito colide contra princípios lógicos, científicos ou
máximas de experiência – e que existem no processo elementos
probatórios com grau de verossimilhança superior, em relação
aos fatos controvertidos.

Com efeito, o perito judicial, respondendo a quesitos


formulados pelas partes (fls. 133/139), respondeu que a incisão
foi realizada em direção ao ânus (3) e, como usado fórceps de
alívio, pouco provável que seu uso tenha atingido o canal de parto
(6). Salientou que a paciente deveria ter sido orientada quanto ao
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funcionamento intestinal e retornado em caso de anormalidade


(7). Informou que as complicações (ruptura do canal anal com
posterior formação de fístula retovaginal) se deu em decorrência
de complicações do parto (c e c.2). Por fim, referiu que somente
poderá ocorrer fístula retovaginal por ocasião do parto caso haja
lesão no canal do parto (h e i). Em resposta aos quesitos
formulado pelo Juízo, o expert foi categórico ao afirmar que “a
lesão não decorreu da eleição de parto normal, mas da
episiotomia direcionada ao ânus e não à região lateral da
vagina” (fls. 178-179).

Destarte, a análise das provas coligidas aponta no sentido


da caracterização de falha no atendimento prestado pelo médico
à paciente em virtude de sua imperícia no procedimento
realizado, bem como quanto à ausência de orientações em caso
de problemas intestinais (no caso, como houve constipação, a
requerida deveria imediatamente ter procurado o hospital), o que
seria facilmente diagnosticado e rapidamente tratado caso
houvesse sido efetuado os exames apontados pela melhor
técnica, adequados ao que determina os procedimentos da
medicina.

Dessa forma, delineados os pressupostos para a


responsabilidade civil do demandado, resta a verificação da
adequação do quantum, e, neste item, procede em parte os
valores postulados pela parte autora.

O dano moral dispensa prova concreta para a sua


caracterização, que origina o dever de indenizar. Suficiente a
prova da existência do ato ilícito, pois o dano moral existe in re
ipsa.

A indenização por dano moral deve representar para a


vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o
sofrimento impingido e de infligir ao causador sanção e alerta
para que não volte a repetir o ato. Com efeito, a eficácia da
contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal
satisfação em justa medida, de modo que não signifique um
enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto
bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo
atentado.

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Diante disso, entendo que a condição econômica das


partes, a repercussão do fato, a conduta do agente devem ser
perquiridos para a justa dosimetria do valor indenizatório.

No caso, a autora, litigando sob o pálio da assistência


judiciária gratuita (fl. 36), padeceu de severas dores, bem como
sofreu cirurgias decorrentes do vazamento de fezes pela local em
que efetuada a episiotomia, além do uso de bolsa de colostomia,
em razão da incorreção na condução do atendimento prestado
pelo demandado e dano estético representado pelas cicatrizes
deixadas (fl. 103).

Assim, ante as circunstâncias do presente caso, buscando a


reparação do prejuízo e atendendo a necessidade dissuasória
das condenações dessa natureza, arbitro o quantum indenizatório
em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por entender que esse valor
bem remunera a autora pela dor experimentada; reitero que a
presente atende ao caráter punitivo-pedagógico, a fim de que
fatos dessa natureza não tornem a ocorrer. Quanto aos danos
estéticos, pelos mesmos fundamentos e, especialmente,
considerando tratar-se de uma jovem mulher, nascida em 22-10-
1990, fixo os danos estéticos em R$ 10.000,00 (dez mil reais).

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM


ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO ENTRE CAMINHÃO E
MOTOCICLETA. IMPRUDÊNCIA DO CONDUTOR DO
CAMINHÃO AO EFETUAR CONVERSÃO. DANOS MORAIS E
ESTÉTICOS. 1. Evidenciada a culpa exclusiva do preposto da ré,
que foi imprudente ao efetuar manobra de conversão em via
pública, colidindo com a motocicleta conduzida pelo autor, e
estando presentes os demais elementos ensejadores do dever de
indenizar - dano e nexo causal, impõe-se a sua
responsabilização pela integralidade dos danos oriundos do
acidente, porque ficou demonstrada a inocorrência de culpa
concorrente. 2. Quantum indenizatório. A reparação de dano
moral e estético deve proporcionar a justa satisfação à vítima e,
em contrapartida, impor ao infrator impacto financeiro, a fim de
dissuadi-lo da prática de novo ilícito, porém de modo que não
signifique enriquecimento sem causa do ofendido. No caso em
tela, a verba indenizatória vai mantida no valor de R$ 20.000,00
para os danos morais e R$ 10.000,00 para os danos estéticos,
valor que se mostra adequado para compensar o dano sofrido e
que deve ser suportado na integralidade pela requerida, uma vez
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que foi afastada a ocorrência de culpa concorrente. 3. Não é


cabível a fixação de verba honorária na lide secundária, cuja
condenação deve ser excluída, pois a denunciada aceitou na
integralidade a denunciação. Deve ser mantida, no entanto, a
imposição à ré do pagamento de eventuais custas processuais na
lide secundária, em face do princípio da causalidade, uma vez
que nenhuma das partes litiga ao abrigo do benefício da AJG.
APELAÇÃO DO AUTOR PROVIDA. APELAÇÃO DA
DENUNCIADA DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO
PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70042277806,
Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Mário Crespo Brum, Julgado em 11/08/2011).
Os valores deverão ser corrigidos monetariamente pelo IGP-
M, a contar da presente data, e acrescidos de juros de mora de
1% ao mês a contar da data da citação.
(...)”

Dos danos morais e estéticos.


No que concerne a configuração e quantificação dos danos
morais e estéticos, como bem destacado pela sentença, não há dúvida de
que configurados, pois além de a autora ter suportado dores, teve de realizar
outra cirurgia para corrigir a falha ocorrida durante o procedimento do parto,
bem como restou com cicatriz prejudicial a sua estética.
Ocorre que o arbitramento judicial do dano moral e estético
deve respeitar critérios de prudência e eqüidade. Deve-se observar aos
padrões utilizados pela doutrina e jurisprudência, evitando-se com isso que
as ações indenizatórias se tornem mecanismos de extorsão ou de
enriquecimento ilícito, reprováveis e injustificáveis. Da mesma forma não se
pode esperar que um valor irrisório possa atender a esses requisitos.
Ainda no que concerne à fixação do quantum indenizatório,
deve-se ter sempre presente o ensinamento do Superior Tribunal de Justiça:
“é de repudiar-se a pretensão dos que postulam exorbitâncias inadmissíveis
com arrimo no dano moral, que não tem por escopo favorecer o
enriquecimento indevido” (AgReg. No Ag. 108.923, 4ªT. do STJ, Rel. Min.
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SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, ac. Um. De 24-9-1996, DJU, 29-10-


1996, p. 41.666).
Na mesma linha de pensamento, OLIVEIRA DEDA 1 nos ensina:
“Ao fixar o valor da indenização, não procederá o juiz como um fantasiador,
mas como um homem de responsabilidade e experiência, examinando as
circunstâncias particulares do caso e decidindo com fundamento e
moderação”.
Assim, entre outros, os seguintes critérios devem nortear o
exame do caso concreto, para a fixação do quantum indenizatório: o caráter
repressivo e educativo; o tempo de duração da ilicitude; a situação
econômico/financeira do ofensor e do ofendido; a repercussão do fato ilícito
na vida do ofendido; a existência de pedido administrativo do ofendido ao
ofensor para a regularização; o atendimento do pedido administrativo
formulado pelo ofendido, dentre outros.
Destaco, por oportuno, que se o consumidor está dispensado
de fazer a prova do dano, o que efetivamente admito, não está liberado de
demonstrar sua extensão, para que possa o julgador melhor aquilatar e
quantificar sua ocorrência, no caso concreto. Assim como o infrator, o
causador do dano, pode fazer prova de circunstâncias que minoram ou até
excluam a fixação de valores em favor do consumidor.
Então, pelo que consta dos autos e levando-se em
consideração os elementos acima apresentados para a quantificação da
condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais e
estéticos, mantenho o valor fixado pela sentença, porquanto reputo justo e
adequado ao caso concreto.
Ademais, diversamente do requerido pela demandada, os juros
moratórios de 1% ao mês devem permanecer incidindo desde a citação,
1
DEDA, Artur Oscar Oliveira. Dano Moral - Reparação, 2005 in Enciclopédia Saraiva de
Direito, vol. 22 p.290.
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conforme artigos 405 e 406 do Código Civil e 161, §1º, do Código Tributário
Nacional.

Dos honorários advocatícios sucumbenciais.


Com relação aos honorários advocatícios devidos ao
procurador da parte autora, tenho que o percentual fixado pela sentença de
15% sobre o valor da condenação do réu merece ser mantido, pois a justa
remuneração do advogado vem ao encontro da sua indispensabilidade à
administração da Justiça, conforme o art. 133 da CF e como tal há de ser
considerada.

Da assistência judiciária gratuita à pessoa jurídica. Filantropia.


Acerca do assunto, a jurisprudência vem assentada no sentido
de estender o beneplácito da Assistência Judiciária Gratuita às pessoas
jurídicas, desde que comprovadas nos autos as dificuldades financeiras
para arcar com as custas processuais, bem como com os honorários
advocatícios, sem que isso prejudique suas atividades.
Nos autos, inexiste qualquer documento (contábil e idôneo)
apontando às dificuldades financeiras capazes de justificar o deferimento,
pois a condição de entidade filantrópica, sem fins lucrativos, por si só, não é
suficiente à percepção do benefício, pois, como já mencionado, imperativa é
a demonstração da efetiva necessidade/dificuldade.
Não estando demonstrada a insuficiência econômica por parte
do recorrente, não há como deferir o pedido de Assistência Judiciária
Gratuita.
Sobre o tema, colaciono o seguinte precedente do STJ:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
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PESSOA JURÍDICA SEM FIM LUCRATIVO.


ENTIDADE FILANTRÓPICA.
NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA
HIPOSSUFICIÊNCIA.
1. O benefício da assistência judiciária gratuita
somente pode ser concedido à pessoa jurídica,
independentemente de ser ou não de fins
lucrativos, se esta comprovar que não tem
condições de arcar com as despesas do processo
sem o comprometimento da manutenção de suas
atividades. Nesse sentido: EREsp 1.015.372/SP,
Corte Especial, Relator o Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, DJe de 01/07/2009; AgRg nos
EREsp 949.511/MG, Corte Especial, Relator o
Ministro ARI PARGENDLER, DJe de 09/02/2009;
EREsp 321.997/MG, Corte Especial, Relator o
Ministro CESAR ASFOR ROCHA, DJ de
16/08/2004.
2. O Egrégio Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que "o benefício da gratuidade
pode ser concedido à pessoa jurídica apenas se
esta comprovar que dele necessita,
independentemente de ser ou não de fins
lucrativos", não bastando, para tanto, a simples
declaração de pobreza (AgRg no RE 192.715/SP,
2ª Turma, Relator o Ministro CELSO DE MELLO,
DJ de 09/02/2007).
3. É plenamente cabível a concessão do
benefício da assistência judiciária gratuita às
pessoas jurídicas, em observância ao princípio
constitucional da inafastabilidade da tutela
jurisdicional (CF/88, art. 5º, XXXV), desde que
comprovem insuficiência de recursos (CF/88, art.
5º, LXXIV). É que a elas não se estende a
presunção juris tantum prevista no art. 4º da Lei
1.060/1950.
4. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1064269/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe
22/09/2010)

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Ainda, colaciono as seguintes jurisprudências desta Corte:


AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE
JUDICIÁRIA. ENSINO PARTICULAR. PESSOA
JURÍDICA SEM FINS LUCRATIVOS. NECESSIDADE
DE COMPROVAÇÃO DA DIFICULDADE
FINANCEIRA. Conforme o estatuído na Lei 1.060/50,
a gratuidade judiciária somente deve ser deferida às
pessoas físicas, contudo, é admissível a concessão da
benesse à pessoa jurídica, desde que comprovada,
cabalmente, a dificuldade financeira que a
impossibilite de suportar as despesas do processo,
bastante para impossibilitar o acesso ao Poder
Judiciário e comprometer sua atividade. Ausente
demonstração da carência econômica é de ser
indeferido o benefício. Agravo de instrumento a que se
nega seguimento. (Agravo de Instrumento Nº
70026154021, Quinta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho,
Julgado em 03/09/2008)

AGRAVO INTERNO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


GRATUITA. PESSOA JURÍDICA E/OU FORMAL.
PROVA REQUISITOS. LEI 1060/50. Tratando-se de
pedido de gratuidade deduzido por pessoa jurídica
e/ou formal, necessária a produção de prova da
alegada insuficiência econômica, o que não restou
atendido. Indeferimento do pedido de concessão do
benefício da AJG. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. (Agravo Nº 70024396855, Décima
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Elaine Harzheim Macedo, Julgado em
26/06/2008)

Assim, inexistindo qualquer documento (apresentação de


balanços patrimoniais, disponibilidades em conta bancárias, débitos com
impostos e outros), não há como deferir o pedido de Assistência Judiciária
Gratuita.

Prequestionamento.

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O prequestionamento serve para que os Tribunais Superiores


possam manifestar-se sobre a matéria posta e apreciada no Tribunal a quo.
José Teophilo Fleury2, define prequestionamento nos seguintes
termos: "O prequestionamento significa que as questões federal e/ou
constitucional previamente invocadas pelas partes devem ser decididas pelo
Tribunal local. Pode ocorrer ainda, o prequestionamento, quando a questão federal
surja no próprio acórdão recorrido, sem que as partes dela tenham tratado.
Prequestionamento, no caso, é o questionamento prévio da questão jurídica
invocada nos recursos especial e/ou extraordinário, no acórdão recorrido".

Cumpre salientar que ao magistrado incumbe apreciar a


matéria; entretanto, não precisa esgotar exaustivamente todos os
argumentos e normas legais invocadas pelas partes.
Sendo assim, reconheço que foram apreciadas por este
Julgador todas as questões trazidas pelas partes, afastando-se, assim, a
necessidade de interposição de embargos de declaração com finalidade de
prequestionamento.

DISPOSITIVO
Diante do exposto, nego provimento aos apelos.
É o voto.

DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA (REVISORA) - De acordo com o(a)


Relator(a).

2
Fleury, José Theophilo. Do prequestionamento nos recursos especial e extraordinário Súmula 356
x Súmula 211 do STJ, IN: Aspectos Polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei
9756/98. 1ª Edição – São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

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DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (PRESIDENTE) - De acordo com


o(a) Relator(a).

DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO - Presidente - Apelação Cível nº


70047647755, Comarca de Novo Hamburgo: "À UNANIMIDADE, NEGARAM
PROVIMENTO AOS APELOS."

Julgador(a) de 1º Grau: CRISTIANE HOPPE

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