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Profissional Documentos
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daEducação
Profissional
em
Saúde
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Presidente
Paulo Ernani Gadelha Vieira
Diretor
André Malhão
2.ed.rev.ampl.
Todos os direitos desta edição reservados à Escola Politécnica
de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz
Revisão e copidesque
Maria Cecília G. B. Moreira (1ª edição)
Itamar José de Oliveira (2ª edição)
Revisão Técnica:
Isabel Brasil Pereira
Júlio César França Lima
Projeto Gráfico, Capa
Carlota Rios
Editoração
Marcelo Paixão
Catalogação na fonte
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
Biblioteca Emília Bustamante
P436d Pereira, Isabel Brasil
Dicionário da educação profissional em saúde / Isabel Brasil Pereira
e Júlio César França Lima. – 2.ed. rev. ampl. - Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.
478 p.
ISBN: 978-85-987-36-6
CDD 370.3
AUTORES
Alcindo Antônio Ferla – Médico, doutor André Silva Martins – Doutor em Edu-
em Educação pela Universidade Fede- cação pela Universidade Federal
ral do Rio Grande do Sul (UFRS), Fluminense (UFF), professor adjunto
Consultor da Hospital Nossa Senhora da Universidade Federal de Juiz de Fora
da Conceição S/A, professor visitan- (UFJF), professor do Programa de
te/colaborador da Universidade do Pós-Graduação em Educação da UFJF,
Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pro- pesquisador do Coletivo de Estudos
fessor adjunto da Universidade de sobre Política Educacional da Escola
Caxias do Sul. Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/
Ana Margarida de Mello Barreto Campello
Fiocruz) e do Núcleo Educação, Tra-
– Pedagoga, doutora em Educação pela
balho e Tecnologia da UFJF.
Universidade Federal Fluminense (UFF)
e pesquisadora do Laboratório de Tra- Angélica Ferreira Fonseca – Psicóloga-sa-
balho e Educação Profissional em Saú- nitarista, mestre em Saúde Pública pela
de da Escola Politécnica de Saúde Joa- Escola Nacional de Saúde Pública Sér-
quim Venâncio da Fundação Oswaldo gio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz
Cruz (EPSJV/Fiocruz) (Ensp/Fiocruz), professora e pesquisa-
dora da Escola Politécnica de Saúde Jo-
André Mota – Historiador, doutor em
aquim Venâncio da Fundação Oswaldo
História pela Universidade de São Pau-
Cruz (EPSJV/Fiocruz)
lo (USP) e pós-doutorando bolsista
Fapesp em História da Medicina e Saú- Aparecida de Fátima Tiradentes dos Santos
de Pública paulistas junto ao Depto de – Pedagoga, doutora em Educação pela
Medicina Preventiva da Faculdade de Universidade Federal do Rio de Janei-
Medicina da USP. ro (UFRJ), professora e pesquisadora
da Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz
(EPSJV/Fiocruz).
Arlinda Moreno – Psicóloga, doutora em Denise Elvira Pires – Enfermeira-sanita-
Saúde Coletiva pelo Instituto de Me- rista, pós-doutorado em Ciências Soci-
dicina Social da Universidade do ais pela University of Amsterdam, pro-
Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), fessora do Departamento de Enferma-
professora e pesquisadora do Labora- gem e do Programa de Pós-Graduação
tório de Educação Profissional em In- em Enfermagem, do Centro de Ciênci-
formações e Registros em Saúde da as da Saúde (CCS) da Universidade Fe-
Escola Politécnica de Saúde Joaquim deral de Santa Catarina (UFSC).
Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz
Domingos Leite Lima Filho – Engenhei-
(EPSJV/Fiocruz).
ro elétrico, doutor em Educação pela
Carlos Batistella – Odontólogo, especia- Universidade Federal de Santa Catarina
lista em Educação Profissional em Saú- (UFSC) e professor do Programa de
de pela Fundação Oswaldo Cruz e pro- Pós-Graduação da Universidade
fessor-pesquisador do Laboratório de Tecnológica Federal do Paraná
Educação Profissional em Vigilância em (UTFPR).
Saúde da Escola Politécnica de Saúde
Eduardo Henrique Passos Pereira – Psicó-
Joaquim Venâncio da Fundação
logo, doutor em Psicologia pela Universi-
Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz)
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
Carmen Sylvia Vidigal Moraes – Psicólo- professor da Universidade Federal
ga, pós-doutorado pela Laboratoire Fluminense (UFF).
Travail et Mobilités e professora da Fa-
Eduardo Navarro Stotz – Sociólogo, dou-
culdade de Educação da Universidade de
tor em Saúde Pública, pesquisador e
São Paulo (USP).
professor da Escola Nacional de Saú-
Claudia Medina Coeli – Médica, doutora de Pública Sérgio Arouca da Funda-
em Saúde Coletiva pelo Instituto de ção Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz).
Medicina Social da Universidade do
Emerson Elias Merhy – Médico-sanitarista,
Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj),
doutor em Saúde Coletiva pela Universi-
docente do Departamento de Medici-
dade Estadual de Campinas (Unicamp) e
na Preventiva da Faculdade de Medi-
professor do Curso de Pós-Graduação
cina e do Instituto de Estudos em Saú-
em Clínica Médica da linha: Micropolítica
de Coletiva da Universidade Federal do
do Trabalho e Cuidado em Saúde.
Rio de Janeiro (Iesc/UFRJ).
Francisco Javier Uribe Rivera – Médico- Gustavo Corrêa Matta – Psicólogo, dou-
sanitarista, doutor em Saúde Pública, tor em Medicina Social pela Universi-
pesquisador titular do Departamento dade do Estado do Rio de Janeiro
de Administração e Planejamento de (Uerj), pesquisador do Laboratório de
Saúde da Escola Nacional de Saúde Educação Profissional em Atenção à
Pública Sérgio Arouca da Fundação Saúde da Escola Politécnica de Saúde
Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz). Joaquim Venâncio da Fundação
Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz)
Gastão Wagner de Sousa Campos – Médi-
co, doutor em Saúde Coletiva pela Hillegonda Maria Dutilh Novaes – Médi-
Universidade Estadual de Campinas ca pediatra, doutora em Medicina Pre-
(Unicamp), professor titular da Univer- ventiva pela Universidade de São Paulo
sidade Estadual de Campinas, membro (USP), professora do Departamento de
de corpo editorial da Trabalho, Edu- Medicina Preventiva da Faculdade de
cação e Saúde e da Revista Ciência & Medicina da USP, coordenadora do Nú-
Saúde Coletiva. cleo de Informações em Saúde/NIS do
Hospital das Clínicas da FM-USP.
Gaudêncio Frigotto – Filósofo e educador,
doutor em Ciências Humanas (Educa- Inesita Soares de Araújo – Comunicóloga,
ção) pela Pontifícia Universidade Cató- doutora em Comunicação e Cultura
lica de São Paulo, professor titular do pela Escola de Comunicação da Uni-
Programa Interdisciplinar de Pós-Gra- versidade Federal do Rio de Janeiro
duação em Políticas Públicas e Forma- (UFRJ), pesquisadora do Laboratório
ção Humana na Faculdade de Educação de Pesquisa em Comunicação e Saúde
da Universidade do Estado do Rio de do Instituto de Comunicação e Infor-
Janeiro (Uerj) e membro do Comitê mação Científica e Tecnológica em
Diretivo do Conselho Latino-America- Saúde da Fundação Oswaldo Cruz
no de Ciências Sociais (Clacso). (Icict/Fiocruz).
Grácia Maria Gondin – Arquiteta e Ur- Isabel Brasil Pereira (Coordenadora) –
banista, mestre em Saneamento Bióloga, doutora em Educação pela
Ambiental e doutoranda em Saúde Pú- Pontifícia Universidade Católica de São
blica pela Escola Nacional de Saúde Paulo (PUC-SP), vice-diretora de Pes-
Pública Sérgio Arouca da Fundação quisa e Desenvolvimento Tecnológico
Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), e pes- da Escola Politécnica de Saúde Joa-
quisadora do Laboratório de Vigilância quim Venâncio da Fundação Oswaldo
em Saúde da Escola Politécnica de Saú- Cruz (EPSJV/Fiocruz) e professora
de Joaquim Venâncio da Fundação adjunta da Universidade Estadual do
Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz). Rio de Janeiro (FEBF/Uerj).
Janine Miranda Cardoso – Cientista soci- Jussara Cruz de Brito – Engenheira, pós-
al, doutoranda em Comunicação e doutorado em Ergologia pela Université
Cultura pela Escola de Comunicação de Provence Aix Marseille I e coorde-
da Universidade Federal do Rio de Ja- nadora do Grupo de Pesquisas e Inter-
neiro (UFRJ), tecnologista do Labora- venção em Atividade de Trabalho, Saú-
tório de Pesquisa em Comunicação e de e Relações de Gênero (Pistas) do
Saúde do Instituto de Comunicação e Centro de Estudos da Saúde do Traba-
Informação Científica e Tecnológica lhador e Ecologia Humana (CESTEH/
em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz Ensp/Fiocruz).
(Icict/Fiocruz).
Justino de Souza Junior – Professor, dou-
José Rodrigues – Professor, doutor em tor em Educação pela Universidade
Educação pela Universidade Esta- Federal de Minas Gerais (UFMG), pro-
dual de Campinas (Unicamp), pro- fessor da Faculdade de Educação da
fessor adjunto da Universidade Fe- Universidade Federal de Minas Gerais
deral Fluminense (UFF), vice-coor- (FaE/UFMG).
denador do Núcleo de Estudos, Do-
Ligia Bahia – Médica-sanitarista, dou-
cumentação e Dados sobre Traba-
tora em Saúde Pública pela Fundação
lho e Educação (NEDDATE-UFF),
Oswaldo Cruz (Fiocruz), professora
membro de Conselho Editorial das
adjunta da Faculdade de Medicina e
revistas Trabalho, Educação e Saúde (da
do Núcleo de Estudos de Saúde Co-
Fundação Oswaldo Cruz) e Traba-
letiva da Universidade Federal do Rio
lho Necessário (NEDDATE-UFF) e
de Janeiro (UFRJ).
assessor da Faperj.
Lilia Blima Schraiber – Médica-sanitaris-
Júlio César França Lima (Coordenador)
ta, doutora em Medicina Preventiva
– Enfermeiro-sanitarista, mestre em
pela Universidade de São Paulo (USP)
Educação pelo Instituto de Estudos
e professora do Departamento de
Avançados em Educação da Fundação
Medicina Preventiva da Faculdade de
Getúlio Vargas (FGV), doutorando do
Medicina da USP.
Programa de Pós-Graduação em Políti-
cas Públicas e Formação Humana da Lílian de Aragão Bastos do Valle –
Universidade do Estado do Rio de Ja- Pedagoga, pós-doutorado em Educação
neiro (Uerj), pesquisador do Laborató- pela École des Hautes Etudes en
rio de Trabalho e Educação Profissional Sciences Sociales (EHESS) e coordena-
em Saúde da Escola Politécnica de Saú- dora do Programa de Pós-Graduação
de Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). em Políticas Públicas e Formação Hu-
mana (PPFH) da Faculdade de Educa-
ção da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (Uerj).
Lúcia Maria Wanderley Neves – Educa- Márcia Valéria Guimarães Morosini – Psi-
dora, doutora em Educação pela Univer- cóloga, especialista em Saúde Pública
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pela Escola Nacional de Saúde Pública e
professora (aposentada) da Universida- pesquisadora do Laboratório de Educa-
de Federal de Pernambuco (UFPE), pro- ção Profissional em Atenção à Saúde da
fessora participante do Programa de Pós- Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Graduação em Educação da Universida- Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz
de Federal Fluminense (UFF) e pesqui- (EPSJV/Fiocruz).
sadora da Escola Politécnica de Saúde
Maria Ciavatta – Filósofa, doutora em
Joaquim Venâncio da Fundação
Educação pela Pontifícia Universida-
Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz).
de Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Madel Therezinha Luz – Filósofa, pós- RJ), professora associada ao Progra-
doutorado em Saúde Coletiva pelo ma de Pós-graduação em Educação -
Institut National des Recherches Mestrado e Doutorado da Universida-
Médicales (Inserm), professora titular da de Federal Fluminense (UFF), e pro-
Universidade do Estado do Rio de Ja- fessora visitante na Faculdade de Ser-
neiro (Uerj), assessora do Conselho Na- viço Social da Universidade do Estado
cional de Desenvolvimento Científico e do Rio de Janeiro (Uerj).
Tecnológico (CNPq), vice-presidente da
Maria Helena Machado – Socióloga,
Associação Brasileira de Pós-Graduação
doutora em Sociologia pela Universi-
em Saúde Coletiva (Abrasco).
dade Federal de Minas Gerais
Marcela Alejandra Pronko – Professora, (UFMG), pesquisadora titular da Es-
doutora em História pela Universida- cola Nacional de Saúde Pública Sér-
de Federal Fluminense (UFF), profes- gio Arouca da Fundação Oswaldo
sora colaboradora da Universidad Na- Cruz (Ensp/Fiocruz) e diretora do
cional de Luján (Argentina), professo- Departamento de Gestão e da
ra-pesquisadora da Faculdade Latino- Regulação do Trabalho em Saúde do
Americana de Ciências Sociais Ministério da Saúde (SGTES/MS).
(FLACSO) sede acadêmica Brasil e
Maria Lúcia Frizon Rizzotto – Enfer-
bolsista da Escola Politécnica de Saú-
meira, doutora em Saúde Coletiva
de Joaquim Venâncio da Fundação
pela Universidade Estadual de Cam-
Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz).
pinas (Unicamp) e professora da
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (Unioeste).
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
10
A
11
Suzana Lanna Burnier Coelho – Pedagoga, Zulmira Maria de Araújo Hartz – Pes-
doutora em Educação pela Pontifícia quisadora titular do Departamento de
Universidade Católica do Rio de Janeiro Epidemiologia da Escola Nacional de
(PUC-RJ), professora adjunta e diretora Saúde Pública Sérgio Arouca da Fun-
de Ensino da Graduação do Centro Fe- dação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz)
deral de Educação Tecnológica de Mi- (aposentada), pesquisadora visitante
nas Gerais (Cefet-MG) do Grupo de Gestão e Avaliação em
Saúde (GEAS) do Instituto de Medi-
Túlio Batista Franco – Psicólogo, doutor em
cina Integral Professor Fernando Fi-
Saúde Coletiva pela Universidade Estadu-
gueira da Fundação Oswaldo Cruz
al de Campinas (Unicamp) e professor da
(IMIP/Fiocruz), consultora do Minis-
Universidade Federal Fluminense (UFF).
tério da Saúde.
SUMÁRIO 1
A
Atenção à Saúde 39
Atenção Primária à Saúde 44
Avaliação em Saúde 50
Avaliação por Competências 55
C
Capital Cultural 61
Capital Humano 66
Capital Intelectual 72
Capital Social 78
Certificação de Competências 83
Certificação Profissional 87
Comunicação em Saúde 94
Controle Social 104
Cuidado em Saúde 110
Currículo Integrado 114
Currículo por Competências 119
D
Divisão Social do Trabalho 125
Divisão Técnica do Trabalho em Saúde 130
Dualidade Educacional 136
E
Educação 143
Educação Corporativa 151
Educação em Saúde 155
Educação Permanente em Saúde 162
Educação Politécnica 168
Educação Profissional 175
Educação Profissional em Saúde 182
Educação Tecnológica 190
Empregabilidade 197
Eqüidade em Saúde 202
Exclusão Social 211
F
Focalização em Saúde 221
G
Gestão do Trabalho em Saúde 227
Gestão em Saúde 231
Globalização 236
H
Humanização 243
I
Informação em Saúde 249
Integralidade em Saúde 255
Interdisciplinaridade 263
Itinerários Formativos 269
N
Neoliberalismo e Saúde 275
O
Ocupação 281
Omnilateralidade 284
P
Participação Social 293
Pedagogia das Competências 299
Pedagogia de Problemas 305
Planejamento de Saúde 312
Precarização do Trabalho em Saúde 317
Processo de Trabalho em Saúde 320
Profissão 328
Q
Qualificação como Relação Social 335
R
Recursos Humanos em Saúde 343
Reestruturação Produtiva em Saúde 348
S
Saúde 353
Sistema Único de Saúde 357
Sociabilidade Neoliberal 364
Sociedade Civil 370
T
Tecnologia 377
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
16
A
C
TRABALHO, EDUCAÇÃO E SAÚDE:
referências e conceitos D
H
O ano de 2008 é particularmente significativo para o lançamento
da segunda edição do Dicionário da Educação Profissional em Saúde, I
pois neste momento se completam vinte anos da inscrição do Sistema
Único de Saúde (SUS) no texto constitucional. Uma conquista demo- N
crática capitaneada por um amplo movimento social organizado em tor-
no da Reforma Sanitária brasileira, marco do desenvolvimento de uma O
nova forma de pensar e fazer saúde no país, assim como da formação
profissional dos trabalhadores técnicos de saúde. P
17
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
18
A
19
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
20
A
cia destas áreas com a redução dos investimentos nas mesmas e apelos à C
iniciativa privada e ONGs. O discurso neoliberal atribuiu de forma sis-
temática que uma das principais causas das desigualdades sociais era a D
incompetência e a ineficácia governamentais, buscando com isto for-
mar um consenso sobre a qualidade da iniciativa privada, com a finalida-
E
de de promover mudanças de comportamento no indivíduo e na socie-
F
dade a favor da privatização e seu corolário, o financiamento pelo Esta-
do de ações que seriam executadas pelo setor privado. Nessas condi-
G
ções, o próprio gestor público passa a agir sob a lógica da gerência pri-
vada, mudando assim a relação entre a instituição e o usuário. Ele deixa H
de ser um cidadão investido de direitos e passa a ser um cliente da insti-
tuição, o que traduz uma visão privatista da relação do cidadão com o I
Estado, ao mesmo tempo em que desqualifica a noção de serviço públi-
co coletivo e solidário. N
No outro lado do espectro político, o funcionamento da aparelhagem O
sindical também foi remodelado para adequação e conformação ao
neoliberalismo: procedimentos de ‘reengenharia’ interna; demissão de fun- P
cionários; busca de eficiência e eficácia econômica (rentabilidade);
agenciamento de serviços, como a venda de seguros diversos – contribuin- Q
do para desmantelar a luta pelos direitos universais; a oferta de cursos pa-
gos; preparação e adequação de mão-de-obra para a ‘empregabilidade’. É R
um processo que formata uma nova modalidade de subalternização dos
trabalhadores no Brasil, empreendida pelos grandes empresários com a S
difusão e apoio do ‘sindicalismo de resultados’, atado a uma dinâmica estri-
tamente corporativa e de cunho imediatista, tornando os sindicatos parcei- T
ros dos patrões na ‘gerência dos conflitos’.
U
Nesse contexto, segundo Fontes (2008), o próprio sentido do ter-
mo ‘democracia’, revestido de conteúdos socializantes na década de 1980,
V
foi ressignificado como ‘capacidade gerencial’. Isso é, toda e qualquer
A
tentativa de organização dos trabalhadores como classe social deveria
ser desmembrada e abordada de maneira segmentada: admitia-se o con-
A
flito, mas este deveria limitar-se ao razoável e ao gerenciável, devendo
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
1
O art. 199 da Constituição define que a assistência à saúde é livre à iniciativa privada, podendo participar de
forma complementar do SUS, segundo diretrizes deste e mediante contrato de direito público ou convênio,
tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
22
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A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
Para esta nova edição foi realizada uma revisão de alguns con-
ceitos e agregados 23 (vinte e três) novos. São eles: Avaliação em
Saúde, Capital Intelectual, Comunicação e Saúde, Dualidade Educa-
cional, Educação Corporativa, Educação em Saúde, Eqüidade, Ex-
clusão Social, Gestão do Trabalho em Saúde, Gestão em Saúde,
Globalização, Infor mação em Saúde, Interdisciplinaridade,
Omnilateralidade, Participação Social, Planejamento em Saúde, So-
ciabilidade Neoliberal, Sociedade Civil, Territorialização em Saúde,
Trabalho como Princípio Educativo, Trabalho Imaterial, Trabalho
Produtivo e Trabalho Improdutivo, e Universalidade.
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A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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A
Bibliografia: C
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
30
A
C
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO
D
H
O Brasil possui um sistema de saúde ‘robusto’, apesar de ter pro-
blemas, como por exemplo, a questão estrutural do financiamento, o I
valor da remuneração dos serviços e procedimentos, bem como os de-
safios colocados pela responsabilidade sanitária nos diversos níveis da N
gestão. Seus profissionais necessitam de uma formação qualificada para
que possam exercer atividades a que são chamados a responder no pro- O
cesso de trabalho que desenvolvem nos serviços, principalmente a par-
tir da reorientação do modelo assistencial brasileiro. Assim, as iniciati- P
vas de cunho educacional, como este Dicionário, que contribuem para a
realização e aperfeiçoamento das ações desenvolvidas no processo de
Q
trabalho em saúde, têm contribuições imediatas e estratégicas para a
R
consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS).
31
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
Paulo M. Buss
Presidente da Fundação Oswaldo Cruz
32
A
C
APRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA EDIÇÃO
D
H
O trabalho industrial na nossa sociedade tem experimentado mu-
danças importantes configurando socialmente o fenômeno denomina- I
do de ‘crise do trabalho assalariado’, resultado da incorporação cada vez
maior de tecnologias materiais e de novas formas de organização do N
trabalho que, ao mesmo tempo, aumenta a produtividade, exige cada
vez menos trabalhadores e, conseqüentemente, vem acompanhada do O
crescente desemprego. Desde a década de 1990, muitos estudos e pes-
quisas são unânimes em apontar que esse fenômeno está intimamente P
associado ao processo de globalização ou de mundialização do capital, o
qual se assenta, principalmente, na difusão da doutrina neoliberal e na Q
emergência de um novo paradigma produtivo denominado produção
flexível, que surge com o esgotamento do fordismo e com as novas R
formas de gestão dos processos de trabalho.
S
O trabalho em serviços também tem enfrentado mudanças, decor-
rentes da necessidade do capital financeiro em controlar e colocar os T
grandes excedentes de capital nas áreas que antes estavam nas mãos dos
Estados nacionais, e que, na área de saúde, em particular, propugnam U
pela organização de um sistema de saúde baseado em seguros médicos.
Essa ofensiva neoliberal que busca sedimentar a crença nas virtudes do V
mercado cujas ‘graças’ são alcançadas pela interferência mínima do Es-
tado, pelo controle dos gastos estatais e da inflação, pela privatização
A
das empresas estatais e pela abertura completa da economia, trata o
suposto gigantismo do Estado com sua intervenção na economia, bem
A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
como os privilégios que esse tipo de atuação tinha conferido aos traba-
lhadores ao longo dos ‘trinta anos gloriosos’ (1945-1975), nos países
capitalistas centrais, como as causas maiores da crise que se observa a
partir da segunda metade dos anos 1970. Sendo assim, ao mesmo tem-
po que vai impondo derrotas às conquistas do Welfare State construído
nesses países como uma resposta histórica ao processo de vulnerabilidade
social, a ofensiva neoliberal busca recuperar os serviços sociais para as
empresas privadas, propondo a remercantilização de tais serviços. Isso
constitui um dos móveis principais da crítica que atualmente se faz ao
Estado do Bem-estar Social em todo o mundo, motivado pelo interesse
em controlar o fundo público destinado ao setor saúde.
34
A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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A
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A
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A D
E
ATENÇÃO À SAÚDE
F
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Atenção à Saúde A
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Atenção à Saúde A
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Atenção Primária à Saúde A
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Atenção Primária à Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
e 60 para outras regiões do país, mas tre estados e municípios, custeadas por
represada de um lado pela expansão recursos transferidos diretamente da
do modelo médico-privatista, e de ou- previdência social, visando à atenção in-
tro, pelas dificuldades de capilarização tegral e universal dos cidadãos.
local de um órgão do governo federal, Essas experiências somadas à
como é o caso do Sesp (Mendes, 2002). constituição do SUS (Brasil, 1988) e sua
Nos anos 70, surge o Programa regulamentação (Brasil, 1990) possibi-
de Interiorização das Ações de Saú- litaram a construção de uma política
de e Saneamento do Nordeste (Piass) de ABS que visasse à reorientação do
cujo objetivo era fazer chegar à po- modelo assistencial, tornando-se o
pulação historicamente excluída de contato prioritário da população com
qualquer acesso à saúde um conjun- o sistema de saúde. Assim, a concep-
to de ações médicas simplificadas, ca- ção da ABS desenvolveu-se a partir dos
racterizando-se como uma política princípios do SUS, principalmente a
focalizada e de baixa resolutividade, universalidade, a descentralização, a
sem capacidade para fornecer uma integralidade e a participação popular,
atenção integral à população. como pode ser visto na portaria que
institui a Política Nacional de Atenção
Com o movimento sanitário, as
Básica, definindo a ABS como:
concepções da APS foram incorpora-
das ao ideário reformista, compreen- um conjunto de ações de saúde no
dendo a necessidade de reorientação do âmbito individual e coletivo que
abrangem a promoção e proteção
modelo assistencial, rompendo com o da saúde, prevenção de agravos, di-
modelo médico-privatista vigente até o agnóstico, tratamento, reabilitação
início dos anos 80. Nesse período, du- e manutenção da saúde. É desen-
rante a crise do modelo médico- volvida através do exercício de prá-
ticas gerenciais e sanitárias demo-
previdenciário representado pela cráticas e participativas, sob forma
centralidade do Instituto Nacional de de trabalho em equipe, dirigidas a
Assistência Médica da Previdência populações de territórios bem deli-
Social (Inamps), surgiram as Ações mitados, pelas quais assume a
responsabilidade sanitária, conside-
Integradas de Saúde (AIS), que visavam
rando a dinamicidade existente no
ao fortalecimento de um sistema uni- território em que vivem essas
ficado e descentralizado de saúde vol- populações. Utiliza tecnologias de
tado para as ações integrais. Nesse sen- elevada complexidade e baixa den-
sidade, que devem resolver os
tido, as AIS surgiram de convênios en-
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Atenção Primária à Saúde A
49
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
AVALIAÇÃO EM SAÚDE
Apesar de se reconhecer que exis- paz de ser traduzido em ação. Este julga-
tem inúmeras definições de Avaliação, mento pode ser o resultado da aplicação de
seus contornos no campo da saúde se critérios e normas - avaliação normativa - ou,
delimitam no âmbito das políticas e ser elaborado a partir de um procedimento
programas sociais, consistindo funda- científico - pesquisa avaliativa
mentalmente em aplicar um julgamento de (Contandriopoulos, 2006). Sendo uma
valor a uma intervenção, através de um dis- atividade formalmente utilizada na
positivo capaz de fornecer informações cienti- China há quatro mil anos para recru-
ficamente válidas e socialmente legítimas so- tar seus ‘funcionários’, no ocidente tem
bre ela ou qualquer um dos seus componen- apenas dois séculos e, do século XIX
tes, permitindo aos diferentes atores envolvi- até 1930 (1a geração), se limitava aos
dos, que podem ter campos de julgamento di- problemas de ‘medidas’ e às aplicações
ferentes, se posicionarem e construírem (indi- do método experimental (Dubois et al,
vidual ou coletivamente) um julgamento ca- 2008).
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Avaliação em Saúde A
51
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Avaliação em Saúde A
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Avaliação por Competências A
Q
AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS
R
T
A ‘avaliação por competências’ é ma, normalmente, está associada a um
um processo pelo qual se compilam curso ou programa e costuma ocorrer U
evidências de desempenho e conheci- em etapas, cujos resultados compõem
mentos de um indivíduo em relação a um grau final. Neste caso, a aprovação V
competências profissionais requeridas. das pessoas ocorre com base em uma
É comum perguntar em que se escala de pontos que, por sua vez, pos- A
difere uma ‘avaliação por competên- sibilita comparações estatísticas. Quan-
cia’ da avaliação tradicional. Esta últi- to aos aspectos avaliados, normalmente
A
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Avaliação por Competências A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Avaliação por Competências A
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A
C
C D
CAPITAL CULTURAL E
F
Lúcia Maria Wanderley Neves
Marcela Alejandra Pronko
Sônia Regina de Mendonça
G
H
S egundo o sociólogo francês são dele desprovidos. Ademais, ao ins-
Pierre Bourdieu, pioneiro na sistemati- taurar uma cesura entre alunos de gran- I
zação do conceito, a segunda mais im- des escolas e alunos das faculdades, a
portante expressão do capital, à qual instituição escolar, geradora do ‘capi- N
precede apenas o capital econômico tal cultural’, institui fronteiras sociais
portado pelos agentes sociais. Engloba análogas às que separam o que O
prioritariamente, a variável educacional, Bourdieu denomina “nobreza” e “sim-
embora não se limite apenas a ela. ples plebeus”. Essas separações mate- P
Para o autor, a educação/’capital rializam-se, dentre outras, em
cultural’ consiste num princípio de di- diferenças de natureza marcada pelo di- Q
ferenciação quase tão poderoso como reito de os alunos portarem um nome,
o do capital econômico, uma vez que um título, numa espécie de operação R
toda uma nova lógica da luta política mágica, gerada pelo sentido simbólico
só pode ser compreendida tendo-se em inerente a semelhantes atos de classi- S
mente suas formas de distribuição e ficação. Logo, o ‘capital cultural’/sis-
evolução. Isto porque, o sistema esco- tema escolar resulta de atos de T
lar realiza a operação de seleção man- ordenação que, por um lado, institu-
tendo a ordem social preexistente, isto em uma relação de ordem – onde os U
é, separando alunos dotados de quan- ‘eleitos’ são marcados por sua traje-
tidades desiguais – ou tipos distintos – tória de vida e sua pertinência escolar
V
de ‘capital cultural’. Mediante tais ope- – e uma relação de hierarquia – onde
A
rações de seleção, o sistema escolar se- esses mesmos ‘eleitos’ transmutam-se
para, por exemplo, os detentores de em ‘nobreza de escola’ ou ‘nobreza de
A
‘capital cultural’ herdado daqueles que Estado’.
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Capital Cultural A
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Capital Cultural A
mos internacionais e pelos governos tural’, segundo esta formulação, pode de- C
nacionais como elemento definidor das sempenhar uma função integradora, atra-
políticas sociais, com vistas a aliviar a ente e concreta para os jovens que se D
pobreza e fortalecer a coesão social. O encontram fora do mercado de trabalho
conceito de ‘capital cultural’, nessa nova e do sistema educacional.
E
versão, vem sendo difundido na região A noção de ‘capital cultural’ visa,
F
pelos trabalhos de Bernardo Kliksberg, portanto, conservar as relações sociais
assessor de diversos organismos inter- capitalistas, construindo uma nova so-
G
nacionais (ONU, OEA, BID, Unesco) ciabilidade a partir da redefinição da
e diretor do Projeto da Organização das relação entre Estado e sociedade civil, H
Nações Unidas para a América Latina apontando para uma ‘ação integrada’
de Modernização do Estado e Gerên- entre essas duas esferas. I
cia Social. Segundo seus formuladores, o ‘ca-
O ‘capital cultural’, conceito em pital cultural’ contribui, assim, para a N
construção, é o conjunto de elemen- formação da ética da responsabilidade
tos da cultura popular utilizados como coletiva, para o fortalecimento da sub- O
ingredientes da política social para for- jetividade, e consubstancia-se em uma
talecer a autoconfiança dos despos- estratégia de recomposição da cidada- P
suídos, desenvolver valores de uma nia perdida pelo aumento da desigual-
nova cultura cívica baseada na colabo- dade, a partir de práticas democráticas Q
ração de classes e na ética da respon- baseadas no voluntariado, na ajuda
sabilidade coletiva, contribuir para o mútua e na concertação social. R
desenvolvimento econômico e a coe- O desenvolvimento de políticas
são social. Desta perspectiva, a sociais na América Latina e no Brasil S
revalorização da cultura dos pobres nos anos 2000, inspiradas na utiliza-
passa a se constituir em importante ção combinada dos conceitos de capi- T
instrumento de construção de práticas tal social e de ‘capital cultural’ nessa
democráticas baseadas no associa- nova versão, vem-se configurando U
tivismo comunitário, potencializando como instrumento de apassivamento
energia social criativa. Assim, a despeito dos movimentos sociais, pela conver-
V
da pobreza material, os pobres latino- são da sociedade civil de espaço de con-
A
americanos se transmutariam em ricos fronto a espaço de colaboração. As po-
de espírito, constituindo-se em reserva- líticas sociais que têm nesses concei-
A
tório da cultura nacional. O ‘capital cul- tos sua diretriz teórica são executadas
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1997.
CAPITAL HUMANO
Gaudêncio Frigotto
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Capital Humano A
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tamento face à sua perplexidade ante Por essa via, Schultz pretendeu ti-
os fatos de que os conceitos por ele rar da economia neoclássica o enigma
utilizados para avaliar capital e traba- que não conseguia explicar o agrava-
lho estavam se revelando inadequados mento da desigualdade entre nações e
para explicar os acréscimos que vi- entre indivíduos e grupos sociais. Es-
nham ocorrendo na produção. Em tava oferecendo, pois, aos intelectuais
contrapartida, sinaliza Schultz, perce- pesquisadores e à classe burguesa no
bia que muitas pessoas nos Estados seu conjunto, um novo ‘fator’, que,
Unidos estavam investindo fortemen- somado aos demais representaria a
te em si mesmas, que estes investimen- solução do enigma do maior ou me-
tos tinham significativa influência so- nor desenvolvimento entre nações e
bre o crescimento econômico, que o maior ou menor mobilidade social en-
investimento básico em si mesmas era tre indivíduos. A concessão do prêmio
um ‘capital humano’ e que aquilo que Nobel de Economia em 1979 pela ela-
constituía basicamente este capital era boração deste conceito, a despeito das
o investimento na educação. O outro polêmicas internas dos economistas
elemento constitutivo do ‘capital hu- burgueses, é um claro reconhecimen-
mano’ é o investimento em saúde. to de que o mesmo expressa a visão
Foi a partir dessas observações legítima de classe para explicar a desi-
que Schultz se dedicou à elaboração gualdade econômica e social entre pa-
mais sistemática deste conceito ex- íses e entre indivíduos.
pondo-a na obra cujo título é Capital O fator H (capital humano) pas-
Humano (Schultz, 1973). Partindo do sou a compor a função de produção
pressuposto de que o componente da da teoria econômica marginalista para
produção que decorre da instrução explicar os diferenciais de desenvolvi-
é um investimento em habilidades e mento entre países e entre indivíduos.
conhecimentos que aumenta as ren- Assim, a variação de desenvolvimento
das futuras semelhante a qualquer maior ou menor entre países ou a mo-
outro investimento em bens de pro- bilidade social dos indivíduos que dan-
dução, Schultz define o ‘capital hu- tes eram explicados por A (nível de
mano’ como o montante de investi- tecnologia), K (insumos de capital) e
mento que uma nação ou indivíduos L (insumos de mão-de-obra) agora re-
fazem na expectativa de retornos cebia um novo fator H como
adicionais futuros. potenciador do fator L. Países que in-
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Capital Humano A
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CAPITAL INTELECTUAL
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Capital Intelectual
A
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CAPITAL SOCIAL
O conceito de ‘capital social’ conta tis, por exemplo, sem que isso impli-
com diversas acepções, segundo que desconhecer as formas culturais
filiações teórico-metodológicas distin- (capital cultural) ou sociais (capital so-
tas. A difusão do termo no meio acadê- cial) de sua aplicação.
mico é algo recente, tendo adquirido Bourdieu (1998, p. 67 – grifos do
expressão a partir da década de 1980, autor) define o ‘capital social’ como
face à sua larga utilização por parte de
sociólogos, antropólogos, economistas, o conjunto dos recursos reais ou
cientistas políticos e planejadores. Seu potenciais que estão ligados à pos-
se de uma rede durável de relações mais
destaque provém tanto de sua ou menos institucionalizadas de in-
vinculação a conceitos derivados da te- terconhecimento e de inter-reco-
oria social quanto de sua associação a nhecimento mútuos, ou, em outros
disciplinas como a economia, que tem termos, à vinculação a um grupo, como
o conjunto de agentes que não so-
como cerne a idéia de capital. mente são dotados de propriedades
Tanto ‘capital social’ como capi- comuns (passíveis de serem perce-
tal cultural devem-se imbricar ao mar- bidas pelo observador, pelos outros
co geral proposto por Pierre Bourdieu, e por eles mesmos), mas também
que são unidos por ligações perma-
sociólogo francês pioneiro na sistema-
nentes e úteis.
tização do conceito. Dentro desse mar-
co, o conceito de capital, em todas a Como ele próprio assinala, essas li-
suas manifestações, constitui a chave gações não se reduzem às relações obje-
para dar conta da estrutura, funciona- tivas de proximidade no espaço geográ-
mento e classificação do mundo soci- fico ou mesmo no espaço econômico e
al. Assim, o capital pode ser conside- social, posto serem, inseparavelmente,
rado em sua forma econômica (‘capi- fundadas em trocas materiais e simbóli-
tal econômico’) – quando o campo de cas e cuja prática supõe o reconhecimen-
sua aplicação for o das trocas mercan- to dessa proximidade.
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Capital Social A
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Capital Social A
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A
C
CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
D
Marise Nogueira Ramos
E
A ‘certificação de competências’ com a chamada ‘empregabilidade’ pelo
é um aperfeiçoamento da certificação fato de se referir a competências de F
ocupacional, que surge como um pro- base ampla, normalizadas em sistemas
jeto do Centro Interamericano de In- que facilitem a transferibilidade dos tra-
G
vestigação e Documentação sobre For- balhadores entre diferentes contextos
mação Profissional da Organização In- ocupacionais. Admite-se, também, sob
H
ternacional do Trabalho (Cinterfor/ a égide da formação continuada e per-
I
OIT), seguido por diversas iniciativas manente, que o certificado tenha vali-
levadas a cabo em vários países, como dade limitada, de modo que o traba-
N
resultado do deslocamento do concei- lhador deva atualizá-lo permanente-
to de qualificação para a noção de com- mente em face do avanço científico- O
petência. A idéia central em ambos os tecnológico. O certificado de compe-
casos é distanciar a certificação da con- tência é expedido com base em nor- P
cepção acadêmica de creden-cial, ob- mas de competência (ver verbete Ava-
tida ao concluir estudos com êxito de- liação por Competências). Por se refe- Q
monstrado por meio de provas, e rirem a funções produtivas reais, os
aproximá-la da descrição de certificados podem abranger unidades R
capacidades profissionais reais do tra- de competências diferentes, de modo
balhador, independentemente da for- que o trabalhador acumule certificados S
ma como ele as tenha adquirido. As- de sucessivas unidades de competên-
sim, a ‘certificação de competências’ cia nas quais tenha demonstrado do- T
profissionais pode ser realizada pela mínio. Acredita-se que, assim, ele pode
instituição de formação profissional incrementar suas possibilidades de pro- U
em que se tenha cursado programas de moção e de mobilidade profissional.
formação profissional ou por um or- Dependendo da configuração do sis- V
ganismo criado especialmente para cer- tema, um conjunto de certificados que
tificar essas competências. corresponda à totalidade das unidades A
A ‘certificação de competências’ de competência, correspondente, por
passa a adquirir um valor relacionado sua vez, a uma função, pode receber A
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Certificação de Competências A
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A
C
CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL
D
Carmen Sylvia Vidigal Moraes
E
A reestruturação capitalista das marginalistas das teorias do ‘capital
últimas décadas introduziu mudanças humano’ passam a ser dominantes nas F
que atingiram o conjunto da vida soci- recomendações dos organismos inter-
al. As inovações tecnológicas, as nacionais e nas agendas governamen- G
novas formas de organização do tais, as quais difundem programas de
trabalho e a flexibilização levaram à formação que visam garantir
H
rede-finição das qualificações, das iden- ‘empregabilidade’, isto é, possibilitar,
I
tidades profissionais, individuais e co- a cada um, o acréscimo individual de
letivas. Ao mesmo tempo, o aumento capital humano para sua adaptação às
N
persistente do desemprego e do em- novas condições de trabalho e/ou para
prego informal, da precarização/ o sucesso da empresa. Nessas circuns-
O
informalização do trabalho aprofun- tâncias, a promoção do desenvolvi-
daram a exclusão social. mento das ‘competências’ no trabalho P
Nessa conjuntura, a educação e a e na formação, assim como sua
formação profissional constituem al- certificação, constituem elementos- Q
gumas das principais medidas destina- chave da ‘modernização’ econômica e
das, em um primeiro momento, a com- terão amplas implicações na definição R
bater as desigualdades entre empresas, e organização das políticas nacionais
produzidas pela competiti-vidade eco- de educação e formação, no reconhe- S
nômica, por meio da adaptação dos tra- cimento e certificação das atividades
balhadores às mudanças técnicas e às profissionais, na oferta dos serviços de T
condições de trabalho; e, em momen- formação.
to posterior, ao atendimento de cate- Como indicam documentos da U
gorias e grupos de trabalhadores ame- Organização Internacional do Traba-
açados pela desqualifi-cação profissio- lho (OIT), até os anos 70 do século V
nal e pelo desemprego. XX, a certificação de conhecimentos
Estratégias de ‘adequação forma- aparecia associada à formação, isto é, A
ção-emprego’, defendidas pelas abor- era expedida no final de um processo
dagens econômicas neoclássicas, de ensino sistemático, após o aluno ter A
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Certificação profissional A
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Comunicação e Saúde A
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CONTROLE SOCIAL
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Controle Social A
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Roseni Pinheiro
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Cuidado em Saúde A
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Cuidado em Saúde A
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CURRÍCULO INTEGRADO
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Currículo Integrado A
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Currículo Integrado A
volvimento da ciência com finalidades assim como o sentido objetivo dos fa- C
produtivas. Em razão disto, no ‘currí- tos. Isto dá a direção para a definição
culo integrado’ nenhum conhecimen- de componentes curriculares. D
to é só geral, posto que estrutura O método histórico-dialético de-
objetivos de produção, nem somente fine que é a partir do conhecimento
E
específico, pois nenhum conceito apro- na sua forma mais contemporânea que
F
priado produtivamente pode ser for- se pode compreender a realidade e a
mulado ou compreendido desarticula- própria ciência na sua historicidade. Os
G
damente das ciências e das linguagens. processos de trabalho e as tecnologias
O currículo formal exige a sele- correspondem a momentos da evolu- H
ção e a organização desses conheci- ção das forças materiais de produção
mentos em componentes curriculares, e podem ser tomados como um pon- I
sejam eles em forma de disciplinas, to de partida histórico e dialético para
módulos, projetos etc., mas a o processo pedagógico. Histórico por- N
integração pressupõe o reestabeleci- que o trabalho pedagógico fecundo
mento da relação entre os conhecimen- ocupa-se em evidenciar, juntamente O
tos selecionados. Como o currículo não aos conceitos, as razões, os problemas,
pode compreender a totalidade, a sele- as necessidades e as dúvidas que cons- P
ção é orientada pela possibilidade de tituem o contexto de produção de um
proporcionar a maior aproximação do conhecimento. A apreensão de conhe- Q
real, por expressar as relações funda- cimentos na sua forma mais elaborada
mentais que definem a realidade. Se- permite compreender os fundamentos R
gundo Kosik (1978), cada fato ou con- prévios que levaram ao estágio atual de
junto de fatos, na sua essência, reflete compreensão do fenômeno estudado. S
toda a realidade com maior ou menor Dialético porque a razão de estudar um
riqueza ou completude. Por esta razão, processo de trabalho não está na sua T
é possível que um fato deponha mais estrutura formal e procedimental apa-
que um outro na explicação do real. rente, mas na tentativa de captar os U
Assim, a possibilidade de conhecer a conceitos que o fundamentam e as re-
totalidade a partir das partes é dada pela lações que o constituem. Estes podem
V
possibilidade de identificar os fatos ou estar em conflito ou ser questionados
A
conjunto de fatos que deponham mais por outros conceitos.
sobre a essência do real; e, ainda, de O ‘currículo integrado’ organiza o
A
distinguir o essencial do assessório, conhecimento e desenvolve o processo
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A
C
CURRÍCULO POR COMPETÊNCIAS
D
Marise Nogueira Ramos
E
O ‘currículo por competências’ mente na medida das necessidades
é o meio pelo qual a pedagogia das exigidas pelo desenvolvimento dessas
F
competências se institucionaliza na es- competências.
cola, com o objetivo de promover o Do ponto de vista da hierar-
G
encontro entre formação e emprego. quização do saber, o discurso sobre as
H
O fundamento do ‘currículo por com- competências pode ser compreendido
petências’ é a redefinição do sentido como uma tentativa de substituir uma
I
dos conteúdos de ensino, de modo a representação hierárquica estabelecida
atribuir sentido prático aos saberes es- entre os saberes e as práticas, N
colares, abandonando a preeminência notadamente aquela que se estabelece
dos saberes disciplinares para se centrar entre o ‘puro’ e o ‘aplicado’, entre o O
em competências supostamente ‘teórico’ e o ‘prático’ ou entre o ‘geral’ e
verificáveis em situações e tarefas es- o ‘técnico’ por uma representação da P
pecíficas. Essas competências devem diferenciação que seria essencialmente
ser definidas com referência às situa- horizontal e não mais vertical. Q
ções que os alunos deverão ser capa- Ao discutir a elaboração de ‘cur-
zes de compreender e dominar. So- rículos por competências’ no ensino R
mente após essas definições é que se profissionalizante, Jiménez (1995)
selecionam os conteúdos de ensino. compreende que as competências de- S
Em síntese, em vez de partir de um finidas como referências para o currí-
corpo de conteúdos disciplinares culo correspondem a unidades para as T
existentes, com base no qual se efetu- quais convergiriam e se entrecruzariam
am escolhas para cobrir os conheci- um conjunto de elementos que as U
mentos considerados mais importan- estruturam (conhecimentos, habilida-
tes, a elaboração do ‘currículo por com- des e valores). Considerar a competên- V
petências’ parte da análise de cia como unidade e ponto de conver-
situações concretas e da definição de gência entre conhecimentos, habilida- A
competências requeridas por essas si- des e valores congrega a idéia de que a
tuações, recorrendo às disciplinas so- competência constitui uma unidade e
A
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Currículo por Competências A
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Currículo por Competências A
base em objetivos de ensino e de apren- humana que está em jogo na sua reali- C
dizagem, diferindo muito pouco da ló- zação. Concluímos, então, que a possi-
gica que orientou sua própria gênese: a bilidade virtuosa de relacionar as ativi- D
adequação da educação aos princípios dades pedagógicas às situações de tra-
da eficiência social. balho e à prática social em geral está
E
Deluiz (2001) discute a possibili- no horizonte e, ao mesmo tempo, no
F
dade de construção de uma matriz crí- limite em que essas relações possam se
tico-emancipatória, cujos fundamentos constituir em referências para a forma-
G
teóricos estariam no pensamento crí- ção plena dos trabalhadores, orientadas
tico-dialético, pretendendo não só pela ampliação de seus conhecimentos, H
ressignificar a noção de competência, capacidades e atividades intelectuais.
atribuindo-lhe um sentido que atenda I
aos interesses dos trabalhadores, mas
também apontar princípios orienta- Para saber mais: N
dores para a investigação dos proces-
sos de trabalho. Em convergência com DELUIZ, N. O modelo das O
esta proposição, Ramos (2005) apresen- competências profissionais no mundo
do trabalho e na educação: implicações
tou como princípio epistemológico do
para o currículo. Boletim Técnico do Senac,
P
currículo a compreensão totalizante dos mar., 2001 (Número especial)
processos de trabalho, incorporando na Q
JIMÉNEZ, M. del C. El punto de vista
análise, além da dimensão científico- pedagógico. In: ARGÜELLES, A. (Org.)
tecnológica, as dimensões ético-políti- Competencia Laboral y Educación Basada en R
cas, sócio-históricas, ambientais, cultu- Normas de Competencia. México: Editorial
rais e relacionais do trabalho. Limusa, 1995. S
Ocorre, entretanto, que essa pers- MALGLAIVE, G. Competência e
pectiva, por se tratar de uma concep- engenharia de formação. In: PARLIER, T
M. & WITTE, S. (Orgs.) La Competénce:
ção teórico-metodológica e ético-polí-
tica da formação de trabalhadores, não
mythe, construction ou realité? Paris: U
L´Harmattan, 1994.
é redutível a metodologias de análises
de processo de trabalho. Ademais, a
MERTENS, L. Sistemas de Competência V
Laboral: surgimiento y modelos. México:
descrição precisa, definitiva, exaustiva, Cinterfor/OIT, 1996. (Resumo
Executivo)
A
de qualquer processo de trabalho, não
capta suas múltiplas determinações e, RAMOS, M. Possibilidades e desafios na A
menos ainda, a complexidade da ação organização do currículo integrado. In:
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A
C
D D
DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E
F
Denise Elvira Pires
G
O termo divisão do trabalho é Divisão social do trabalho
H
encontrado em estudos oriundos de
diversas áreas do conhecimento, como A expressão ‘divisão social do tra-
I
a economia, a sociologia, a antropo- balho’ tem sido usada no sentido cu-
logia, a história, a saúde, a educação, nhado por Karl Marx (1818-1883) e N
dentre outras, e tem sido utilizado também referendada por autores como
com diversas variações. Em termos Braverman (1981) e Marglin (1980) O
genéricos refere-se às diferentes for- para designar a especialização das ati-
mas que os seres humanos, ao vive- vidades presentes em todas as socie- P
rem em sociedades históricas, produ- dades complexas, independente dos
zem e reproduzem a vida. As varia- produtos do trabalho circularem como Q
ções encontradas no termo divisão do mercadoria ou não. Designa a divisão
trabalho podem ser organizadas em do trabalho social em atividades pro- R
quatro grupos, cada uma referindo- dutivas, ou ramos de atividades neces-
se a diferentes fenômenos sociais re- sárias para a reprodução da vida. Marx, S
lativos às formas de produzir bens e em O Capital (1982), diz que a ‘divisão
serviços necessários à vida: 1) ‘divi- social do trabalho’ diz respeito ao ca- T
são social do trabalho ou divisão do ráter específico do trabalho humano.
trabalho social’; 2) ‘divisão capitalista Um animal faz coisas de acordo com U
do trabalho, ou divisão parcelar ou o padrão e necessidade da espécie a que
pormenorizada do trabalho, ou divi- pertence, enquanto a aranha é capaz V
são manufatureira do trabalho, ou di- de tecer e o urso de pescar, um indiví-
visão técnica do trabalho’; 3) ‘divisão duo da espécie humana pode ser, “si-
A
sexual do trabalho’; 4) ‘divisão inter- multaneamente, tecelão, pescador,
nacional do trabalho’. construtor e mil outras coisas combi-
A
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Divisão Social do Trabalho A
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Divisão Social do Trabalho A
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DIVISÃO TÉCNICA DO TRABALHO EM SAÚDE
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Divisão Técnica do Trabalho em Saúde A
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Divisão Técnica do Trabalho em Saúde A
dia, na Europa – aquele trabalho de- processo de trabalho de modo que têm C
senvolvido nas corporações de artífi- menos instrumental tanto para inter-
ces por produtores que tinham con- vir na concepção do trabalho quanto D
trole sobre o seu processo de traba- para intervir criativamente no agir co-
lho, controlavam o ritmo, eram pro- tidiano. Assim, distanciam-se do enten-
E
prietários dos instrumentos, tinham dimento da finalidade do seu trabalho
F
controle sobre o produto, bem como, e ficam mais submetidos às decisões
da produção e reprodução dos conhe- gerenciais. Quanto maior o controle
G
cimentos relativos ao seu trabalho sobre o processo de trabalho mais pró-
(Braverman, 1981; Marglin, 1980; ximo da divisão social do trabalho; e H
Marx, 1982; Machado, 1995). quanto menor o domínio sobre o pro-
Neste sentido, a divisão de ativi- cesso de trabalho maior aproximação I
dades entre os diferentes profissionais com a divisão técnica ou parcelar do
de saúde assemelha-se à ‘divisão social trabalho. N
do trabalho’ (ver o verbete Divisão Em algumas profissões da saúde,
Social do Trabalho), por envolver ações como, por exemplo, enfermagem, fisi- O
assistenciais realizadas por grupos de oterapia, farmácia, nutrição e, também,
trabalhadores especializados, ou seja, certas práticas da odontologia, o tra- P
que dominam os conhecimentos e téc- balho é desenvolvido por trabalhado-
nicas especiais, para assistir indivíduos res com graus diferenciados de esco- Q
ou grupos populacionais com proble- laridade. A coordenação do trabalho,
mas de saúde ou com risco de adoe- dentro do gr upo profissional, é R
cer, desenvolvendo atividades de cu- exercida pelos profissionais de nível
nho investigativo, preventivo, curativo, superior que concebem o trabalho e S
de cuidado, de conforto ou com o ob- delegam atividades parcelares aos de-
jetivo de reabilitação, quando os indi- mais participantes da equipe. Majori- T
víduos ou grupos sociais não podem tariamente, a organização do trabalho
fazer por si mesmos ou sem essa ajuda reproduz a fragmentação taylorista, U
profissional. O ‘trabalho coletivo em mas é possível encontrar diferencia-
saúde’ aproxima-se da ‘divisão técnica ções, com maior ou menor aproxima-
V
do trabalho’ quando os participantes ção com um trabalho cooperativo, mais
A
da equipe de saúde distanciam-se do criativo e menos alienado.
entendimento do seu objeto de traba- Pires, Gelbcke e Matos (2004)
A
lho, têm menor domínio sobre o seu identificam, no trabalho da enferma-
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Divisão Técnica do Trabalho em Saúde A
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DUALIDADE EDUCACIONAL
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Dualidade Educacional A
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Dualidade Educacional A
leceu a equivalência entre o ensino se- educar de forma conjunta para as ati- C
cundário, atual ensino médio, e o ensi- vidades intelectuais e manuais, e pro-
no técnico, para fins de prosseguimen- piciar uma orientação múltipla em re- D
to dos estudos. lação às futuras atividades profissio-
Ao fazer a crítica do caráter de nais, sem predeterminar escolhas
E
classe da escola burguesa, a proposta (Manacorda, 1990).
F
escolar de Gramsci afirma a concep- É possível superar a dualidade da
ção de politecnia na construção de uma educação na sociedade capitalista, ou
G
escola unitária: a “unitariedade inscreve-se no campo
da utopia a ser construída através da H
Escola única inicial de cultura ge- superação do capitalismo”? (Kuenzer,
ral, humanista, formativa, que equi-
libre equanimente o desenvolvi-
2004, p. 90). I
mento da capacidade de trabalhar É preciso, ao reconhecer que a
manualmente (tecnicamente, indus- escola contribui para a reprodução das N
trialmente) e o desenvolvimento das classes sociais, ressaltar a contradição
capacidades de trabalho intelectu-
al. Deste tipo de escola única, atra-
como aspecto fundamental do dina- O
vés de repetidas experiências de ori- mismo histórico. Se por um lado a es-
entação profissional, passar-se-á a cola reproduz (os valores dominantes P
uma das escolas especializadas ou da exploração e do poder), por outro
ao trabalho produtivo (Gramsci, alimenta o movimento de superação do Q
1995, p. 118).
estado de coisas existente. A esse res-
Para Gramsci, o surgimento da peito, afirma Frigotto (1989, p. 24): R
escola unitária não se restringe aos li-
mites da educação escolar, mas diz res- A escola ao explorar (...) as contra- S
peito a toda a vida cultural e social. O dições inerentes à sociedade capi-
advento da escola unitária significa o
talista é ou pode ser um instrumen- T
to de mediação na negação dessas
início de novas relações entre trabalho relações sociais de produção. Mais
intelectual e trabalho manual, não ape- que isto, pode ser um instrumento
U
nas na escola, mas em toda a vida so- eficaz na formulação das condições
cial. O princípio unitário, por isso, re- concretas da superação dessas rela- V
ções sociais que determinam uma
fletir-se-á em todos os organismos de separação entre capital e trabalho, A
cultura, transformando-os e empres- trabalho manual e trabalho intelec-
tando-lhes um novo conteúdo. A es- tual, mundo da escola e mundo do
trabalho.
A
cola unitária elementar e média deve
139
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
140
Dualidade Educacional A
141
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
142
A
C
E D
EDUCAÇÃO E
F
Lílian de Aragão Bastos do Valle
G
Em sua designação mais genéri- afasta muito da simples adaptação ani-
H
ca, chama-se de ‘educação’ uma ativi- mal – com a ressalva de que, no caso
dade social tão antiga quanto a pró- humano, trata-se de conservar ‘o modo
I
pria instituição de uma sociedade mi- de ser singular’ de uma sociedade, de
nimamente organizada: assim, como forma que essa sobrevivência jamais
N
considera Werner Jaeger, “todo povo segue um cânone prees-tabelecido e
que atinge certo grau de desenvolvi- comum a todos os indivíduos da espé- O
mento inclina-se naturalmente à práti- cie, como acontece com os demais vi-
ca da educação” (Jaeger, 1995, p. 3). ventes. Por isso, mesmo nesse nível P
Como se pode, portanto, facil- mais elementar, a simples exigência de
mente perceber, nessa primeira conservação e reprodução da identida- Q
acepção – bastante corrente, sobretu- de social implica processos altamente
do no domínio da sociologia –, a ‘edu- complexos de preservação da cultura, R
cação’ corresponderia a uma ‘prática dos hábitos, valores, comportamentos
espontânea e irrefletida’ que, em reali- – enfim, do ‘mundo próprio’ que a so- S
dade, responde pelas necessidades mais ciedade criou e organizou para si, emi-
elementares de conservação e de auto- nentemente, como ‘sentido’. T
reprodução que a sociedade, tal como É claro, no entanto, que essa defi-
qualquer ser vivo, não deixa de mani- nição mais abrangente é bastante in- U
festar (Castoriadis, 1997, p. 15). E como suficiente e que se pode e se deve for-
essas necessidades referem-se, de for- necer ao conceito de ‘educação’ um sig- V
ma imediata, à produção das condições nificado mais preciso, sobretudo se o
‘materiais’ de sobrevivência físico-bi- que está interessando não é apenas essa A
ológica, estar-se-ia designando como prática muda, ainda que profunda em
‘educação’ um processo que não se sua significação ontológica e antropo-
A
143
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
144
Educação A
aquele que deve ser meramente alimen- somente nela é possível viver inteira- C
tado e cuidado (que é dito trephô), como mente segundo o lógos. Mas é preciso
qualquer animal (Cassin, 2004, p. 200- atentar para o fato de que o termo lógos, D
201): somente ao filhote de homem se correntemente traduzido por ‘razão’,
aplica a exigência de um desenvolvimen- acaba, na atualidade, por ser contami-
E
to que vai bem além dos cuidados com nado pelos sentidos que desde a
F
o bem-estar físico e com a aptidão bio- Modernidade este termo vem receben-
lógica à adaptação. do. Para os gregos, o lógos é razão
G
A paideia está sempre, portanto, discursiva (Cassin, 1999) e deliberativa
associada ao ‘artifício’ que institui a (Castoriadis, 1997), pública H
vida humana e que somente a ele é (Aristóteles, Metafísica, 4) e comum
devida: para a tradição filosófica grega (Heráclito, fragmento 2). Este é o sen- I
– para Platão tanto quanto para tido da afirmação de que o homem é
Aristóteles – a paideia é o instrumento um animal político – literalmente, um N
para a plena realização daquilo que, no ‘animal da pólis’: como a razão não se
humano, lhe é próprio e o distingue de desenvolve espontaneamente no hu- O
todos os viventes: o lógos. E isso por- mano, é na pólis democrática que, fa-
que, diz Aristóteles, “ninguém possui zendo uso de sua razão, ele pode reali- P
o lógos desde o início, totalmente e de zar a plenitude sua humanidade, vivi-
uma vez por todas”: é preciso da no seio de uma comunidade de ação Q
desenvolvê-lo, e é esse o espaço deixa- e de deliberação. Mas o lógos também
do à ação humana. No entanto, para o supõe a dimensão ética inescapável: R
filósofo, a artificialidade do lógos nada enquanto os animais, vivendo ou não
tem de antinatural, mas é, ao contrá- em ‘sociedade’, respondem de forma S
rio, a própria “finalidade da natureza” instintiva às exigências do estrato na-
humana (Aristóteles, 1997, VII, 13, tural de sua existência – às necessida- T
1334 b 15). des funcionais de sobrevivência e de
Desenvolver o lógos é arrematar o reprodução, que levam tudo o que vive U
trabalho que a natureza, por si só, não a buscar o prazer e a fugir do sofri-
é capaz de levar a cabo. Eis porque a mento –, o humano, e somente ele
V
pólis democrática deve ser dita paideusis entre os viventes, tem a capacidade de
A
– não só educadora, mas constituin- deliberar sobre o que é ‘útil ou preju-
do-se, ela própria, a educação de que dicial’. Assim, o bem e o mal são obje-
A
necessitam os cidadãos: porque nela e to, não de apreensão imediata, mas de
145
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
146
Educação A
depende do fato de que cada indiví- mação pública do fórum político para C
duo possa atingir “toda a perfeição de o âmbito dos especialistas. Do ponto
que seja capaz” (Kant, 1996): são es- de vista teórico, tratava-se, segundo D
sas as bases sobre as quais se apóia o parece, de libertar a reflexão educacio-
estabelecimento de um sistema de ‘edu- nal do duvidoso terreno ‘metafísico’,
E
cação’ pública caracterizado por forte para, já sob a denominação de ‘peda-
F
diferenciação, tal como apenas Platão gogia’, confiá-la aos cuidados da ciên-
havia ousado sugerir, e relacionado ao cia nascente, supostamente autônoma
G
projeto de uma sociedade altamente e antidogmática (Cambi, 1999).
hierarquizada (Rancière, 2002). “Não Do ponto de vista prático, a insti- H
podemos, nem devemos”, diz-nos tuição da escola pública seguiu, em
Durkheim, “nos dedicar, todos, ao muitos países, como no caso do Bra- I
mesmo gênero de vida; temos, segun- sil, as características do modelo origi-
do nossas aptidões, diferentes funções nal francês: centralismo estatal, criação N
a preencher, e será preciso que nos de corpo especializado de profissionais,
coloquemos em harmonia com o tra- crescente ênfase na diferenciação dos O
balho, que nos incumbe” (Durkheim, objetivos e níveis de ensino. Essas ca-
1952, p. 29). racterísticas acabariam por implicar em P
O argumento organicista serve, uma drástica atenuação da dimensão
desse modo, a duas definições comple- política que, no projeto original da es- Q
mentares da ‘educação’. Na versão con- cola pública, fora a principal dimen-
servadora, ela é descrita como traba- são reconhecida à ‘educação’ comum. R
lho espontâneo de transmissão, de ge- Estabelecido pelo projeto de domínio
ração em geração, da cultura instituí- sobre as disposições naturais, sobre S
da; na versão ‘moderna’, mais propria- seus sentidos, psicologia e paixões, o
mente adaptada aos projetos liberais, sujeito cognoscente adquire, por força T
ela ganha porém o status de tarefa du- do culto à racionalidade, a dignidade
plamente e, cada vez mais, especializa- de conceito abstrato e, não obstante, U
da: porque visa a produzir e a legiti- de tipo antropológico central na edu-
mar as diferenciações sociais e cação: e, em que pese a aparente valo-
V
ocupacionais sob as quais o desenvol- rização do substrato empírico da inte-
A
vimento capitalista se apóia e porque, ligência humana, por parte de tantas
para fazê-lo, desloca a formulação, o teorias em voga durante os séculos XIX
A
debate e a execução das ações de for- e XX, é dessa forma que ele se impõe,
147
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
não apenas na figura do aluno a ser for- as exigências de construção das socie-
mado, mas também do professor capaz dades modernas, que levam à criação
de fazê-lo. Mas esse modelo que a da escola e à sua adoção como modelo
Modernidade legou ao campo educaci- universal da prática de ‘educação’ pú-
onal não é obra solitária de teóricos: é blica e, por outro, a sistemática racio-
produto de um mundo que não apenas nalização dos sujeitos da ação escolar,
se quer desencantado, mas inteiramen- aos poucos inteiramente reduzidos à
te voltado para o progresso material, em sua dimensão cognitiva.
nome do qual os indivíduos são cha- Em primeiro lugar, essa relação
mados a abdicar da vida pública – da pode ser justificada pelo fato de que,
‘liberdade dos antigos’. chamada para monopolizar o grosso
Arendt (1987) analisou as conse- das iniciativas educacionais modernas,
qüências do desaparecimento, no mun- a escola pública é uma das primeiras
do moderno, das esferas privada e pú- manifestações da Modernidade, fazen-
blica, anteriormente constitutivas da do-se, pois, legitimamente tributária
existência humana: o estabelecimento, das expectativas, dos projetos, dos mi-
por um lado, de uma ‘privaticidade’ tos e das obsessões que passam a mar-
esvaziada e muda e, por outro, de uma car o período. Porém, é preciso convir
prática social que, não mais permitin- que na medida em que realiza a con-
do a experiência da política da versão da complexa tarefa de forma-
pluralidade e da singularização, se re- ção humana à sua expressão objetiva e
duz a comportamento estereotipado. racionalizável, propondo os termos a
Nessa perspectiva, caberia ainda as- partir dos quais os objetivos da ‘edu-
sociar a construção do sujeito moder- cação’ finalmente podem ser, como se
no à emergência do ideal ‘político’ de diria mais tarde, opera-cionalizáveis, a
uniformização das condutas, pronta- redução cognitivista se torna a verda-
mente retraduzido em termos educa- deira conditio per quam da escola moder-
cionais na tarefa de modelagem das na. Ela é, assim, instrumento essencial
subjetividades modernas, que coube, para a legitimação da atividade dos es-
desde os primeiros tempos, a essa pecialistas, que, por meio da adminis-
outra criação da Modernidade – a es- tração racional, tanto quanto da
cola pública. teorização da ‘educação’, pretendem
Pode-se, assim, estabelecer uma legislar (de cima e de fora) sobre a prá-
relação nada casual entre, por um lado, tica escolar, convertendo-a, e aos tipos
148
Educação A
149
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
150
A
C
EDUCAÇÃO CORPORATIVA
D
Aparecida de Fátima Tiradentes dos Santos
Nayla Cristine Ferreira Ribeiro
E
F
A Educação Corporativa consis- em sistemas interligados, e de assumir
a responsabilidade no grupo de traba-
G
te em um projeto de formação desen-
volvido pelas empresas, que tem como lho” (Markert 2000, apud Quartiero e
H
objetivo “institucionalizar uma cultu- Cerny, 2005, p. 28).
ra de aprendizagem contínua, propor- A Educação Corporativa se justi-
I
cionando a aquisição de novas com- fica, segundo a literatura, pela ‘incapa-
petências vinculadas às estratégias em- cidade’ do Estado em fornecer para o N
presariais” (Quartiero e Cerny, 2005, mercado mão-de-obra adequada. Des-
p. 24). sa forma, as organizações chamam para O
Segundo Jeanne Meister (1999), a si essa responsabilidade, defendendo
Educação Corporativa é um “guarda- o deslocamento do papel do Estado P
chuva estratégico para desenvolver e para o empresariado na direção de pro-
educar funcionários, clientes, fornece- jetos educacionais – Teoria do Capital Q
dores e comunidade, a fim de cumprir Intelectual. “As empresas (...) ao invés
as estratégias da organização” (p. 35). de esperarem que as escolas tornem R
Este fenômeno em crescente ex- seus currículos mais relevantes para a
pansão tem como sustentação a cha- realidade empresarial, resolveram per- S
mada ‘sociedade do conhecimento’, correr o caminho inverso e trouxeram
“cujo paradigma é a capacidade de a escola para dentro da empresa” T
transformação (...) do indivíduo social (Meister, 1999, p. 23).
por meio do conhecimento” Esse modelo educativo oferecido U
(Managão, 2003, p. 9). Um ‘novo tra- pelas empresas abrange várias modali-
balhador’ é exigido nesse contexto, que dades de ensino, tais como: cursos téc- V
enfatiza as ‘competências’ segundo um nicos (inglês, informática, etc.), educa-
“comportamento independente na so- ção básica (ensinos fundamental e mé- A
lução de problemas, a capacidade de dio), pós-graduação lato sensu, entre
outros. Ele emerge na década de 1950
A
trabalhar em grupo, de pensar e agir
151
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
152
Educação Corporativa A
153
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
154
Educação em Saúde A
EDUCAÇÃO EM SAÚDE G
H
Márcia Valéria Morosini
Angélica Ferreira Fonseca I
Isabel Brasil Pereira
N
Inicialmente, deve-se localizar a Neste verbete, educação, saúde e
O
temática da educação em saúde como trabalho são compreendidos como
um campo de disputas de projetos práticas sociais que fazem parte do P
de sociedade e visões de mundo que modo de produção da existência hu-
se atualizam nas formas de conceber mana, precisando ser abordados his- Q
e organizar os discursos e as práticas toricamente como fenômenos consti-
relativas à educação no campo da tuintes - produtores, reprodutores ou R
saúde. Como nos lembra Cardoso de transformadores - das relações sociais.
Melo (2007), para se compreender as Nas sociedades ocidentais, tem S
concepções de educação em saúde é predominado a compreensão da edu-
necessário buscar entender as con- cação como um ato normativo, no qual T
cepções de educação, saúde e socie- a prescrição e a instrumentalização são
dade a elas subjacentes. De nossa as práticas dominantes. Essa forma de U
parte, acrescentamos, também, a ne- conceber a educação, baseada numa
cessidade de se compreender essas pretensa objetividade e neutralidade do V
concepções na interface com as con- conhecimento, produzido pela razão
cepções a respeito do trabalho em cientificamente fundada, guarda cor- A
saúde e suas relações com os sujei- respondência com uma compreensão
tos do trabalho educativo. da saúde como fenômeno objetivo e A
155
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
156
Educação em Saúde A
157
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
158
Educação em Saúde A
H
Quadro 1
I
S
Fonte: Stotz, 1993. T
159
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
160
Educação em Saúde A
lece uma relação de continuidade e Nesse sentido, não cabem relações ver- C
complementaridade entre a teoria e a ticais entre educador e educando, ou a
prática, compreendendo o conheci- transferência de conhecimentos e a
D
mento e as técnicas como uma pro- normatização de hábitos, que marca-
dução social, historicamente constitu-
E
ram o pensamento hegemônico da
ídos e implicados entre si, não-neu- educação sanitária no século passado
F
tros, isto é, orientados por um proje- e que ainda hoje estão presentes nas
to societário transformador. Nesse práticas educativas em saúde.
G
sentido, os sujeitos da ação-reflexão
não são redutíveis a objeto e não são Como campo de disputas, a edu- H
considerados senão nas suas várias di- cação em saúde é permeada por essas
mensões, como sujeitos históricos, várias concepções que se enfrentam, I
políticos, sociais. ainda hoje, nas práticas dos diversos
O potencial da educação como trabalhadores da saúde que realizam o N
processo emancipatório, na interface SUS. Em certa medida, cumpre refor-
com os movimentos sociais, tem na ca- çar que não são somente perspectivas O
tegoria de práxis social, criadora/ ou correntes educacionais ou sanitári-
transformadora da realidade, um aspec- as que se defrontam, mas formas de con- P
to central que está presente nas teses ceber os homens, a relação entre estes,
que permeiam o pensamento de Paulo as formas de organizar a sociedade e Q
Freire. Esse pensador exerceu forte in- partilhar os bens por ela produzidos.
fluência no Movimento da Educação R
Popular em Saúde, na América Latina
e, particularmente, no Brasil. S
São marcas da pedagogia freireana
a concepção de processo ensino-apren- Para saber mais: T
dizagem como uma troca, como um
processo dialógico entre educador e AROUCA, S. O Dilema Preventivista. U
Contribuição para a compreensão e crítica
educando, que se dá numa realidade
vivida. O conhecimento advém da re-
da medicina pr eventiva. São Paulo: V
Editora Unesp; Rio de Janeiro: Editora
flexão crítica sobre essa realidade, cons- Fiocruz, 2003.
A
truindo-se, ao mesmo tempo em que
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório
o homem vai se constituindo e se da VIII Conferência Nacional de Saúde. A
posicionando como um ser histórico. Brasília, 1986.
161
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
162
Educação Permanente em Saúde A
163
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
para a formação e o desenvolvimento está errado, quer dizer que, para haver en-
de trabalhadores para a saúde. sino-aprendizagem, temos de entrar em
Essa política afirma: 1) a articula- um estado ativo de ‘perguntação’, cons-
ção entre ensino, trabalho e cidadania; tituindo uma espécie de tensão entre o
2) a vinculação entre formação, gestão que já se sabe e o que há por saber.
setorial, atenção à saúde e participação Uma condição indispensável para
social; 3) a construção da rede do SUS um aluno, trabalhador de saúde, gestor
como espaço de educação profissional; ou usuário do sistema de saúde mudar
4) o reconhecimento de bases ou incorporar novos elementos à sua
locorregionais como unidades políti- prática e aos seus conceitos é o des-
co-territoriais onde estruturas de en- conforto com a realidade naquilo que
sino e de serviços devem se encon- ela deixa a desejar de integralidade e
trar em ‘cooperação’ para a formula- de implicação com os usuários. A ne-
ção de estratégias para o ensino, cessidade de mudança, transformação
assim como para o crescimento da ges- ou crescimento vem da percepção de
tão setorial, a qualificação da organiza- que a maneira vigente de fazer ou de
ção da atenção em linhas de cuidado, o pensar alguma coisa está insatisfatória
fortalecimento do controle social e o in- ou insuficiente em dar conta dos desa-
vestimento na interse-torialidade. O eixo fios do trabalho em saúde. Esse des-
para formular, implementar e avaliar a conforto funciona como um
‘educação permanente em saúde’ deve ‘estranhamento’ da realidade, sentindo
ser o da integralidade e o da implicação que algo está em desacordo com as ne-
com os usuários. cessidades vividas ou percebidas pes-
Para a ‘educação permanente em soalmente, coletivamente ou
saúde’, não existe a educação de um institucionalmente.
ser que sabe para um ser que não sabe, Uma instituição se faz de pesso-
o que existe, como em qualquer edu- as, pessoas se fazem em coletivos e
cação crítica e transformadora, é a tro- ambos fazem a instituição. Todos e
ca e o intercâmbio, mas deve ocorrer cada um dos profissionais de saúde tra-
também o ‘estranhamento’ de saberes balhando no SUS, na atenção e na ges-
e a ‘desacomodação’ com os saberes e tão do sistema, têm idéias, conceitos e
as práticas que estejam vigentes em concepções acerca da saúde e da sua
cada lugar. Isto não quer dizer que produção; do sistema de saúde, de sua
aquilo que já sabemos ou já fazemos operação e do papel que cada profis-
164
Educação Permanente em Saúde A
165
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
o trabalho, o sistema de saúde e a par- des não são dadas. Assim como as in-
ticipação social. É o debate e a proble- formações, as realidades são produzi-
matização que transformam a informa- das por nós mesmos, por nossa sensi-
ção em aprendizagem, e é a ‘educação bilidade diante dos dados e por nossa
permanente em saúde’ que operação com os dados de que dispo-
torna grupos de trabalho em coletivos mos ou de que vamos em busca. O
organizados de desenvolvimento de si segundo passo é organizar espaços in-
e de seus entornos de trabalho e atua- clusivos de debate e proble-matização
ção na saúde. das realidades, isto é, cotejar informa-
Para a ‘educação permanente em ções, cruzá-las, usá-las em interroga-
saúde’, a informação necessária é aque- ção umas às outras e não segregar e
la que se propõe como ocasião para excluir a priori ou ensimesmar-se em
aprendizagem, mas que também bus- territórios estreitos e inertes. O tercei-
ca ocasião de maior sensibilidade di- ro passo é organizar redes de intercâm-
ante de si, do trabalho, das pessoas, do bio para que informações nos cheguem
mundo e das realidades. Então, a me- e sejam transferidas, ou seja, estabele-
lhor informação não está no seu con- cer interface, intercessão e democracia
teúdo formal, mas naquilo de que é forte. O quarto passo é produzir as in-
portadora em potencial. Por exemplo: formações de valor local num valor
a nova informação gera inquietação, inventivo que não se furte às exigênci-
interroga a forma como estamos tra- as do trabalho em que estamos inseri-
balhando, coloca em dúvida a capaci- dos e à máxima interação afetiva com
dade de resposta coletiva da nossa uni- nossos usuários de ações de saúde.
dade de serviço? Se uma informação O ‘quadrilátero’ da ‘educação per-
nos impede de continuarmos a ser o manente em saúde’ é simples: análise e
mesmo que éramos, nos impede de ação relativa simultaneamente à forma-
deixar tudo apenas como está e ção, à atenção, à gestão e à participa-
tensiona nossas implicações com os ção para que o trabalho em saúde seja
usuários de nossas ações, ela desenca- lugar de atuação crítica, reflexiva,
deou ‘educação permanente em saúde’. propositiva, compromissada e tecnica-
A ‘educação permanente em saú- mente competente. Diferentemente
de’ pode ser um processo cada vez mais das noções programáticas de
coletivo e desafiador das realidades. O implementação de práticas previamen-
primeiro passo é aceitar que as realida- te selecionadas em que as informações
166
Educação Permanente em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
EDUCAÇÃO POLITÉCNICA
José Rodrigues
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Educação Politécnica A
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Educação Politécnica A
171
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
172
Educação Politécnica A
173
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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174
Educação Profissional A
175
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
176
Educação Profissional A
fissional seja relegado a um plano se- ra de encarar o trabalho que não fosse C
cundário. De um lado, o encargo dos intelectual.
trabalhos pesados dado inicialmente No entanto, a velha concepção D
aos índios e aos escravos; de outro, a destinando esse tipo de ensino aos
espécie de educação que os jesuítas deserdados da fortuna persiste mesmo
E
ofereciam criou, no Brasil, uma men- depois da instauração da República.
F
talidade que levou ao desprezo pelo Quando Nilo Peçanha, em 1909, cria
ensino de ofícios. Essa mentalidade as escolas de aprendizes artífices (De-
G
imperou ao longo de nossa história, da creto n. 7.566/09), destina essas esco-
descoberta até quase a República. las aos ‘deserdados da fortuna’. A cri- H
Durante esse período, a aprendi- ação dessa rede de escolas é, segundo
zagem profissional era destinada aos Ciavatta (1990, p. 330), a expressão I
órfãos e desvalidos, não fazendo parte histórica, naquele momento, “da ques-
das ações desenvolvidas nas escolas; tão social manifesta no desamparo N
não era entendida como ação afeta à dos trabalhadores e de seus filhos e
instrução pública, mas como ação de na ausência de uma política efetiva de O
caridade. Mais tarde, o ensino profis- educação primária”.
sional é incluído no conjunto geral da O contexto da industrialização e P
instrução, mas entendido como neces- da revolução de 1930 destaca a relação
sariamente de grau elementar, continu- entre trabalho e educação como pro- Q
ando a ser considerado como depri- blema fundamental. A Constituição de
mente e desmoralizante. 1937, entretanto, ainda explicita clara- R
Os liceus de artes e ofícios, cria- mente o dualismo escolar e a
dos em 1858, traziam em seus progra- destinação do ensino profissional aos S
mas uma nova filosofia, uma outra menos favorecidos:
maneira de encarar o ensino técnico- T
O ensino pré-vocacional e profissi-
profissional, que deixava de ser mera- onal destinado às classes menos fa-
mente assistencial e elementar. A mul- vorecidas é, em matéria de educa- U
tiplicação de liceus de artes e ofícios ção, o primeiro dever do Estado.
em várias províncias parece indicar que
Cumpre-lhe dar execução a esse V
dever, fundando institutos de ensi-
em todo o país surgiam novas idéias no profissional e subsidiando os de A
com relação ao ensino necessário à in- iniciativa dos Estados, dos Municí-
dústria. A abolição da escravatura tam- pios e dos indivíduos ou associa-
ções particulares e profissionais.
A
bém contribuiu para uma nova manei-
177
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Educação Profissional A
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Educação Profissional A
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Educação Profissional em Saúde A
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Educação Profissional em Saúde A
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Educação Profissional em Saúde A
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Educação Profissional em Saúde A
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EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
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Educação Tecnológica A
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Educação Tecnológica A
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194
Educação Tecnológica A
tecnológica, em 1978. Estas institui- deiro capital e exigindo, por sua vez, C
ções, constituídas a partir da transfor- uma renovação da escola, para que
mação das escolas técnicas federais, ori-
se assuma seu papel de transforma- D
dora da realidade econômica e so-
ginárias das escolas de aprendizes artí- cial do país. (Brasil, 1991, p. 57)
fices criadas no início do século XX, e
E
De acordo com Garcia e Lima
que se tornaram referência na oferta
Filho (2004), este momento pode ser F
de educação profissional de nível mé-
considerado como um dos primeiros
dio, passaram a ofertar, além daquela
em que aparece, no âmbito das discus- G
modalidade histórica, uma formação
sões e propostas governamentais para
de nível superior em cursos de curta H
a educação brasileira, o conceito de
duração, inicialmente de engenharia de
‘educação tecnológica’.
operação, depois engenharia industri-
Este conceito, entretanto, difere, I
al e, posteriormente, os cursos supe-
na sua concepção, do conceito de
riores de tecnologia.
‘educação tecnológica’ de origem
N
No âmbito das políticas educa-
marxiano, o mesmo que foi trabalha-
cionais de caráter neoliberal que pre- O
do no debate em torno da LDB, e que,
dominaram na política educacional bra-
sinonimicamente substituiu o concei-
sileira a partir dos anos de 90, ocorre P
to de educação politécnica na propos-
um processo de ressignificação
conceitual que marcará o sentido atri-
ta da sociedade civil brasileira e no de- Q
bate parlamentar dos anos de 80-90.
buído à ‘educação tecnológica’. Em
1992, é criada a Secretaria Nacional de
Portanto, os significados atribuídos ao R
termo ‘educação tecnológica’ pela so-
Educação Tecnológica (Senete) do
Ministério da Educação, decorrente,
ciedade civil e pelo Ministério da Edu- S
cação são distintos. Por um lado, o
conforme o discurso governamental,
debate parlamentar em sua relação T
da ‘necessária’ reestruturação do apa-
com a sociedade civil, interpreta-o
relho de Estado, visando sua moder-
como uma alternativa para a educa- U
nização. Conforme a concepção do
ção politécnica, mantendo o conteú-
Ministério da Educação, V
do desta. Por outro, na proposta go-
a educação tecnológica guarda com- vernamental, ‘educação tecnológica’
promisso prioritário com o futuro, não se vincula a uma concepção pe- A
no qual o conhecimento vem se
transformando no principal recur- dagógica, mas a uma estratégia de ca-
so gerador de riquezas, seu verda- ráter econômico. A
195
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
196
Empregabilidade A
S
EMPREGABILIDADE T
U
Ramon de Oliveira
V
Para Nassin Mehedeff, ex-secre- Henrique Cardoso, período no qual foi
tário de formação e desenvolvimento desencadeada, talvez, a maior ação pú- A
profissional do Ministério do Traba- blica brasileira de qualificação profis-
lho, durante a gestão Fernando sional, o conceito de ‘empregabilidade’ A
197
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Empregabilidade A
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Empregabilidade A
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Sarah Escorel
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Eqüidade em Saúde A
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Eqüidade em Saúde A
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Eqüidade em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Eqüidade em Saúde A
dades de saúde obriga a agir numa políticas eqüitativas serão sempre im- C
ampla variedade de campos: em prescindíveis.
primeiro lugar, devem ser estabele- D
cidos os valores; a seguir, há que se
descrever e analisar as causas; de-
E
pois, devem ser erradicadas as cau- Para saber mais:
sas profundas das iniqüidades; e,
por último, devem-se reduzir as F
BARATA, R. B.; BARRETO, M. L.;
conseqüências negativas das más
ALMEIDA FILHO, N.; VERAS, R. P.
condições de saúde” (Whitehead et
Eqüidade e Saúde: contribuições da G
al, 2002).
Epidemiologia. Rio de Janeiro: Fiocruz/
Políticas eqüitativas constituem Abrasco, 1997. H
um meio para se alcançar a igualdade. BUARQUE de HOLANDA, A. Novo
Numa perspectiva relativamente utó- Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. I
Positivo Informática, s/d.
pica podemos pensar que ações desse
tipo integrariam uma fase intermediá- CARR-HILL, R.; CHALMERS- N
D I XO N, P. T h e P u b l i c H e a l t h
ria, transitória, visando a atingir a igual-
dade de condições, de oportunidades
Obser vatory Handbook of Health O
Inequalities Measurement. South
sociopolíticas. Ou seja, fazendo uma East Public Health Obser vator y.
Oxford, 2005. P
distribuição desigual para pessoas e
grupos sociais desiguais (mais para DIDERICHSEN, F.; EVANS, T.;
WHITEHEAD, M. Bases sociales de las Q
quem tem menos) atingiríamos (hipo-
disparidades en salud. In: EVANS, T.;
teticamente) uma situação de igualda- WHITEHEAD, M.; DIDERICHSEN, R
de, em que todos teriam acesso às mes- F.; BHUIVA, A.; WIRTH, M. (Ed.)
mas coisas, fossem elas bens e servi- Desafío a la falta de Equidad en la Salud: de S
ços ou oportunidades. Mas, uma vez la ética a la acción. Fundación Rockefeller:
Organización Panamericana de la Salud.
atingido esse patamar de igualdade de Publicación Científica y Técnica n. 585, T
condições as políticas eqüitativas ain- 2002.
da seriam necessárias, pois não se pode ESCOREL, S. Os dilemas da eqüidade U
prescindir dos critérios de justiça. E, em saúde: aspectos conceituais. http://
sobretudo no campo da saúde, em que www.opas.org.br/servico/Arquivos/ V
as necessidades são sempre diferentes, Sala3310.pdf. Acesso em: ago. 2008.
em que cada caso é um caso, a igualda- EVANS, T.; WHITEHEAD, M.; A
DIDERICHSEN, F.; BHUIVA, A.;
de de condições parece algo impossí-
vel (e indesejável) de ser atingido e
WIRTH, M. (Ed.) Desafío a la falta de A
Equidad en la Salud: de la ética a la acción.
209
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
210
Exclusão Social A
C
EXCLUSÃO SOCIAL
D
Sarah Escorel
E
A origem mais contemporânea sem suscitar polêmicas ou debates. Até
F
do termo exclusão social é atribuída ao então essas análises referiam-se à
título do livro de René Lenoir, Les underclass, e, posteriormente, à
G
exclus: un français sur dix (‘Os excluídos: marginalidade. A noção de underclass foi
um em cada dez franceses’), publicado utilizada para classificar moradores dos H
em 1974, ainda que o trabalho não con- guetos norte-americanos, com forte
tivesse qualquer elaboração teórica do carga preconceituosa e estigmatizante I
conceito de exclusão social. A preocu- que parecia estabelecer quase um ‘des-
pação do então Secretário de Ação tino’ de gravidez precoce, desempre- N
Social do governo gaullista de Jacques go, alcoolismo, família desestruturada
Chirac concentrava-se nos e criminalidade. Numa direção teórica O
‘inadaptados sociais’, nos pobres que oposta, com forte influência do mar-
precisavam ser amparados por ações xismo, na década de 1960, P
governamentais, representando gastos marginalidade era um conceito inte-
sociais crescentes. O título foi confe- grante da teoria que buscava entender Q
rido pelo editor baseado no sucesso a inserção marginal no processo pro-
dos trabalhos de Foucault, principal- dutivo capitalista nas economias de- R
mente em sua história sobre a loucura pendentes da América Latina.
(Didier, 1996). No momento da publi- Em 1976, na França, o processo S
cação do livro de Lenoir, quando a si- de pauperização começou a atingir não
tuação de pobreza na França parecia apenas os grupos populacionais ‘tra- T
ser residual e superável, a noção de dicionalmente marginalizados’ (imi-
exclusão estava relacionada à sua di- grantes e moradores das periferias),
U
mensão subjetiva e não à sua dimen- mas também os que até então pareci-
V
são objetiva, econômico-ocupacional. am inseridos socialmente e usufruin-
Antes de ganhar o destaque no do, mesmo que nas margens do siste-
A
título do livro, referências à exclusão e ma capitalista, dos benefícios do de-
excluídos eram utilizadas nos trabalhos senvolvimento econômico e da prote-
A
sobre pobreza e desigualdades sociais ção social. A partir de meados dos anos
211
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Exclusão Social A
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Exclusão Social A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
deve garantir: o acesso aos serviços eli- perfil dos grupos e indivíduos vulne-
minando qualquer tipo de barreira; a ráveis a processos de exclusão nos sis-
segurança financeira dos domicílios; e a temas de saúde é, em sua maioria, de
atenção com qualidade e dignidade. pobres, idosos, mulheres, crianças,
A exclusão social em saúde tende grupos étnicos, trabalhadores infor-
a ser maior em sistemas de saúde que mais, desempregados e subemprega-
apresentam uma ou mais de quatro dos e população rural, indicando que
características: segmentação ou coexis- a exclusão em saúde reitera os pro-
tência de subsistemas com diferentes cessos excludentes que estão vigen-
arranjos de financiamento, filiação e tes na sociedade.
prestações que segmentam a popula- Um enfoque diferenciado das re-
ção segundo seu nível de renda ou ca- lações entre exclusão social e iniqüida-
pacidade de contribuição; fragmenta- des em saúde veio à luz com a consti-
ção ou existência de múltiplas entida- tuição da Comissão de Determinantes
des não integradas dentro de um mes- Sociais em Saúde da Organização
mo subsistema que aumentam a inefi- Mundial de Saúde (OMS), que estimu-
ciência dos recursos; predomínio do lou a composição de nove redes de
pagamento direto dos serviços ou um conhecimento entre as quais a Rede de
alto gasto individual; e a frágil reitoria Conhecimentos sobre Exclusão Soci-
manifesta na ausência de regras justas al. Em seu Relatório Final, o grupo de
nas relações entre usuários e pesquisadores (Popay et al, 2008) res-
prestadores (OPS, 2002 apud salta a importância da abordagem pro-
Hernández et al, 2008). cessual da exclusão social em
Pesquisas realizadas pela OPS contraposição ao que vem sendo feito
(2003) identificaram, na região das correntemente por órgãos e unidades
Américas, que a exclusão em saúde está de combate à exclusão social que con-
fortemente associada com a pobreza, centram suas preocupações e ações em
a marginalidade, a discriminação racial grupos excluídos, em situações extre-
e outras formas de exclusão relaciona- mas, desconsiderando os processos
das a: características culturais, precari- causais e, preconizando políticas foca-
edade do emprego, subemprego e de- lizadas minoram as conseqüências mas
semprego, isolamento geográfico, fal- não atingem as causas dos processos
ta de acesso aos serviços públicos e excludentes que continuam a produzir
baixo nível educacional das pessoas. O grupos de excluídos.
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Exclusão Social A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Exclusão Social A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
220
A
C
F D
FOCALIZAÇÃO EM SAÚDE E
F
Maria Lúcia Frizon Rizzotto
G
Focalização tem sido traduzida Tais projetos teriam como objetivo
como a ação de concentrar os recur- explícito combater a pobreza, satisfa-
H
sos financeiros disponíveis em uma zendo as necessidades básicas, o que
população definida. Em última instân- deveria propiciar um mínimo de digni-
I
cia, trata-se de uma decisão orientada dade a esse segmento populacional.
N
por razões de caráter econômico. Nas Nesse sentido, a discussão da
últimas décadas do século XX, no ‘focalização’ está diretamente relaciona-
O
âmbito das políticas sociais em geral e da com a temática da pobreza.
das políticas de saúde em particular, o Pode-se afirmar que o interesse P
termo ‘focalização’ assume status de dos Organismos Internacionais pela
categoria com ampla utilização em pobreza ocorreu, de forma mais enfá- Q
documentos de Organismos Interna- tica, em dois momentos distintos. Pri-
cionais, como o Banco Mundial, o Fun- meiro, no final da década de 1960, iní- R
do Monetário Internacional (FMI), a cio da era McNamara na presidência
Organização Pan-Americana da Saú- do Banco Mundial, quando se consta- S
de (Opas), a Organização das Nações tou que o crescimento econômico
Unidas para a Educação, a Ciência e a ocorrido nos países periféricos, nas T
Cultura (Unesco), entre outros, que décadas anteriores, não resultou de
passaram a difundir a idéia de que o forma mecânica e imediata em desen- U
alívio da pobreza e a redução das enor- volvimento social, em na redução das
mes desigualdades sociais existentes desigualdades sociais existentes. O V
nos países dependentes iriam ocorrer crescimento econômico experimenta-
a partir da implementação de projetos do não melhorou a situação de vida das A
e programas sociais dirigidos às popu- pessoas marginalizadas nessas socieda-
lações pobres e grupos vulneráveis. des, ao contrário, reverteu em maior A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Focalização em Saúde A
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Focalização em Saúde A
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226
A
C
G D
GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE E
F
Maria Helena Machado
G
Pode-se afirmar que as décadas logia das políticas de Recursos Huma-
de 1980 e de 1990 foram décadas nos, com destaque para três momen-
H
paradigmáticas para a saúde pública do tos distintos, assim descritos.
Brasil. A criação do Sistema Único de I
Saúde (SUS) na década de 1980 repre- O primeiro (1967-1974), caracteri-
zado por incentivo à formação pro-
sentou para os gestores, trabalhadores
fissional especialmente de nível su- N
e usuários do sistema uma nova forma perior; estratégia de expansão dos
de pensar, estruturar, se desenvolver e empregos privados a partir do fi- O
produzir serviços e assistência em saú- nanciamento público; incremento
da contratação de médicos e aten-
de, uma vez que os princípios da uni-
dentes de enfermagem, reforçando
P
versalidade de acesso, da integralidade a bipolaridade ‘médico/atendentes’;
da atenção à saúde, da eqüidade, da e incentivo à hospitalização/espe- Q
participação da comunidade, da auto- cialização. O segundo momento
nomia das pessoas e da (1975-1986) se caracteriza, na pri- R
meira fase (1975-1984), pelo surgi-
descentralização tornaram a ser
mento de dispositivos institucionais
paradigmas do SUS. O sistema de saú- para reverter o quadro existente. Já S
de passou a ser, de fato, um sistema na segunda fase (1984-1986), pela
nacional com foco municipal, o que se sua implementação com resultados, T
ou seja, aumento da participação do
denomina ‘municipalização’ (Machado,
2005). A gestão do trabalho e da edu-
setor público na oferta de serviços
U
ambulatoriais e hospitalares; au-
cação, nessa perspectiva, ganhou rele- mento da formação do pessoal téc-
vância nacional e tornou-se elemento nico e sua incorporação nas equi- V
pes de saúde; e aumento do pesso-
crucial para a implementação e conso-
lidação do SUS.
al que atua na rede ambulatorial. O A
terceiro momento (de 1987 em di-
Para melhor compreender a pro- ante) é caracterizado pelas mudan-
ças estruturais rumo à Reforma Sa-
A
blemática é preciso conhecer a crono-
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
228
Gestão do Trabalho em Saúde A
229
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
230
Gestão em Saúde A
MACHADO, M. H. Trabalhadores da C
saúde e sua trajetória na Reforma
Sanitária. In: LIMA, N. T. et AL. (Orgs.). D
Saúde e democracia: histórias e perspectivas do
SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
p. 257-281, 2005.
E
F
GESTÃO EM SAÚDE G
H
Gastão Wagner de Sousa Campos
Rosana Teresa Onocko Campos
I
N
Um campo aplicado de era a capacidade de fazer a gestão de-
conhecimento mocrática das cidades estado.
O
Vale a pena ressaltar essa rela-
Em vários dicionários, gestão ção entre gestão e política porque a
P
e administração aparecem como sinô- constituição da administração e da ges-
nimos. O Houaiss – Dicionário da Lín- tão, como um campo estruturado e sis- Q
gua Portuguesa – assim define esses temático de conhecimento, pretendeu,
termos: “Ato ou efeito de administrar; ação exatamente, produzir uma ruptura ou R
de governar ou gerir empresa, órgão público uma descontinuidade entre a política e
.... Exercer mando, ter poder de decisão (so- gestão. No princípio do século XX, o S
bre), dirigir, gerir” (Houaiss, 2001, grifos engenheiro norte-americano Frederick
nossos). Os termos gestão e adminis- Winslow Taylor publicou o livro ‘Prin- T
tração referem-se ao ato de governar cípios da Administração Científica’,
pessoas, organizações e instituições. considerado como marco zero de um U
Política, portanto. Gestão diz respeito novo campo de conhecimento. Taylor
à capacidade de dirigir, isto é, confun- pretendeu apresentar uma metodologia V
de-se com o exercício do poder. Em que permitisse a existência de uma ges-
sua origem, na Grécia clássica, o ter- tão técnica, com base em evidências, e A
mo ‘política’ tinha exatamente esse sig- não orientada por disputas políticas
nificado. ‘Polis’ era a cidade, e a política entre interesses e valores distintos. Tra-
A
231
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
ta-se de uma obra clássica do pensa- balho e investimento sobre o afeto das
mento administrativo. Clássica e fun- pessoas para condicioná-las aos obje-
dadora de um estilo de governar que, tivos da empresa. A Teoria de Siste-
em seus princípios gerais, não foi ain- mas, o Desenvolvimento
da superada. Ainda que o campo da Organizacional, a Qualidade Total e
gestão tenha se ampliado desde 1911, congêneres enriqueceram a visão so-
a disciplina e o controle continuam bre a organização, chegando a prome-
sendo o eixo central dos métodos de ter maior autonomia e melhor
gestão. A centralização do poder nos integração do empregado ao projeto
gestores (dirigentes) é a pedra de to- geral da empresa. Gestão matricial,
que das múltiplas variedades de méto- achatamento do organograma, delega-
dos de gestão ainda hoje existentes. ção de poder para planejar e decidir aos
Tanto o ‘segundo princípio’ da teoria trabalhadores da base. No entanto, o
taylorista (separação entre trabalho in- âmbito dessas mudanças tem sido
telectual, o momento da concepção muito restrito, admite-se liberdade tão-
daquele de execução) quanto o ‘quar- somente para que todos trabalhem
to princípio’ (centralização do poder melhor segundo o interesse e a visão
de planejar e de decidir na direção da da direção geral. Autonomia e
empresa), buscam limitar a autonomia integração para inventar novos modos
e iniciativa do trabalhador. para resolver problemas internos, sem-
Essa obsessão em retirar poder pre no sentido de aumentar a produti-
do trabalhador é um dado concreto, vidade e não no de enfrentar questões
evidenciado pelo fato das distintas es- atinentes aos próprios trabalhadores.
colas ainda não haverem elaborado No fundo, a Qualidade Total e outros
uma crítica sistemática à função con- métodos de reengenharia ou de desen-
trole. Nos anos trinta, a escola das Re- volvimento organizacional operam
lações Humanas criticou a concepção com a idéia de abrir a empresa à con-
taylorista do homem, valorizando fa- corrência, como se fosse instituído um
tores subjetivos no funcionamento micro mercado dentro dos muros da
concreto da empresa. Entretanto, essa Organização. Matar ou morrer, uma
nova percepção apenas ampliou os re- exacerbação da concorrência entre as
cursos técnicos empregados para con- equipes e as pessoas, uma nova lei.
trolar. Além do estímulo econômico Tudo isso, não favorece a democracia
direto, melhoria das condições de tra- ou a convivência solidária. Ao contrá-
232
Gestão em Saúde A
233
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
234
Gestão em Saúde A
V
Para saber mais:
235
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
GLOBALIZAÇÃO
236
Globalização A
237
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
238
Globalização A
PIB mundial anual. Nos EE.UU., 1% comércio; hoje, estas duas esferas es- C
dos mega-ricos que em 1975 controla- tão subordinadas às decisões da esfera
vam 5% da riqueza nacional controla- financeira, cuja autonomização é uma D
va, em 2005, nada menos que 20% realidade, extrapolada ou absolutizada,
desta riqueza. Os dados da ONU so- justamente, pela ideologia da
E
bre a pobreza mundial demonstram globalização.
F
claramente que a globalização A esfera financeira relativamen-
neoliberal é o paraíso dos poderosos e te autonomizada opera como uma for-
G
o inferno das maiorias deserdadas. ça centrífuga em prol da
Essa realidade, negada no discur- desnacionalização das sociedades pe- H
so oficial, constitui um dos fenômenos los grandes inversores que operam nos
sociais mais importantes da mercados globalizados, ampliados pe- I
modernidade neoliberal. O capital am- los programas de liberalização, de
plia continuamente seu poder sobre o desregulamentação e de privatização N
trabalho, reorganizando e aumentando das economias dependentes e
o potencial de produção e, com ele, o endividadas, aplicadas por Governos O
volume absoluto e relativo do valor ex- conservadores ou social-liberais, de-
cedente apropriado pelos seus diversos mocraticamente eleitos com as mais P
agentes (fabricantes, comerciantes, ban- modernas técnicas de marketing.
queiros e rentistas com diferentes As moedas estabilizadas (no sen- Q
titulações). Banalizando a desigualdade, tido de dolarizadas ou ‘euroizadas’), os
o desamparo, a miséria e a exploração, orçamentos públicos rigidamente ajus- R
a globalização capitalista universaliza a tados (no sentido de subordinados à
insegurança e a violência. política financeira global, delegada aos S
Os políticos e expertos em ciên- Bancos Centrais neocolonizados) às
cias sociais, de filiação neoliberal, atu- exigências dos investidores T
am como autênticos terapeutas da eco- globalizados, junto com a
nomia, quando se limitam a descrever desregulamentação plena dos merca- U
o existente como realidade ‘natural’ e dos, são os símbolos principais de ade-
única, fechada a qualquer alternativa. são confiável à nova ordem mundial
V
A globalização neoliberal negli- sob o comando financeiro.
A
gencia o fato de que o capital financei- Os mercados financeiros são
ro deixou de ser a contraface ou o com- instituições sui generis que funcionam
A
plemento necessário da produção e do como a principal conexão entre a or-
239
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
240
Globalização A
241
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
242
A
C
H D
HUMANIZAÇÃO E
F
Eduardo Henrique Passos Pereira
Regina Duarte Benevides de Barros
G
H
No campo das políticas públi- Orientada pelos princípios da
cas de saúde ‘humanização’ diz res- transversalidade e da indissociabilidade
I
peito à transformação dos modelos de entre atenção e gestão, a ‘humanização’
atenção e de gestão nos serviços e sis- se expressa a partir de 2003 como Polí- N
temas de saúde, indicando a necessá- tica Nacional de Humanização (PNH)
ria construção de novas relações en- (Brasil/Ministério da Saúde, 2004). O
tre usuários e trabalhadores e destes Como tal, compromete-se com a cons-
entre si. trução de uma nova relação seja entre P
A ‘humanização’ em saúde volta- as demais políticas e programas de saú-
se para as práticas concretas compro- de, seja entre as instâncias de efetuação Q
metidas com a produção de saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS), seja
produção de sujeitos (Campos, 2000) entre os diferentes atores que constitu- R
de tal modo que atender melhor o usu- em o processo de trabalho em saúde.
ário se dá em sintonia com melhores O aumento do grau de comunicação em S
condições de trabalho e de participa- cada grupo e entre os grupos (princí-
ção dos diferentes sujeitos implicados pio da transver-salidade) e o aumento T
no processo de produção de saúde do grau de democracia institucional por
(princípio da indissociabilidade entre meio de processos co-gestivos da pro- U
atenção e gestão). Este voltar-se para dução de saúde e do grau de co-respon-
as experiências concretas se dá por sabilidade no cuidado são decisivos para V
considerar o humano em sua capaci- a mudança que se pretende.
dade criadora e singular inseparável, Transformar práticas de saúde A
entretanto, dos movimentos coletivos exige mudanças no processo de cons-
que o constituem. trução dos sujeitos dessas práticas. So-
A
243
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
244
Humanização A
245
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Humanização A
247
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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A
C
I D
INFORMAÇÃO EM SAÚDE E
G
Arlinda B. Moreno
Claudia Medina Coeli
Sergio Munck H
249
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Informação em Saúde A
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Informação em Saúde A
253
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
254
Integralidade em Saúde A
Roseni Pinheiro
N
O
Integralidade como princí- Mattos (2005a) sistematizou três
pio do direito à saúde conjuntos de sentidos sobre a P
‘integralidade’ que têm por base a gêne-
A ‘integralidade’ é um dos prin- se desses movimentos, quais sejam: a Q
cípios doutrinários da política do Es- ‘integralidade’ como traço da boa me-
tado brasileiro para a saúde – o Siste- dicina, a ‘integralidade’ como modo de R
ma Único de Saúde (SUS) –, que se organizar as práticas e a ‘integralidade’
destina a conjugar as ações como respostas governamentais a pro- S
direcionadas à materialização da saúde blemas específicos de saúde.
como direito e como serviço. Suas ori- No primeiro conjunto de sentidos, T
gens remontam à própria história do a ‘integralidade’, um valor a ser susten-
Movimento de Reforma Sanitária bra- tado, um traço de uma boa medicina, U
sileira, que, durante as décadas de 1970 consistiria em uma resposta ao sofri-
e 1980, abarcou diferentes movimen- mento do paciente que procura o ser- V
tos de luta por melhores condições de viço de saúde e em um cuidado para
que essa resposta não seja a redução A
vida, de trabalho na saúde e pela for-
mulação de políticas específicas de ao aparelho ou sistema biológico des-
te, pois tal redução cria silenciamentos.
A
atenção aos usuários.
255
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
256
Integralidade em Saúde A
saúde, em particular dos modelos tudo, fazer daquilo que não somos, mas C
tecnoassistenciais. A busca pela im- poderíamos ser, parte integrante de
plantação de políticas públicas mais nosso mundo. A experiência é mais vi- D
justas no país por esses atores tem-se dente que evidente, criadora que
destacado pela sua ‘ação criativa’, como reprodutora.
E
sujeitos em ação que, na luta pela cons- É a partir da experiência que te-
F
trução de um sistema de saúde uni- mos as bases de uma ética particular e
versal, democrático, acessível e de qua- concreta, em que a obra e vida se nu-
G
lidade, vêm possibilitando o trem sem se reduzirem uma a outra. A
surgimento de inúmeras inovações partir dela a ética seria o desdobramen- H
institucionais, seja na organização dos to da politização dos sujeitos em suas
serviços de saúde, seja na incorpora- lutas e conquistas no presente, no I
ção e/ou desenvolvimento de novas mundo que vivemos.
tecnologias assistenciais de atenção As experiências de ‘integralidade’ N
aos usuários do SUS. identificam que conceitos, definições
Essas experiências, fruto de ini- e noções vêm sendo repensados, O
ciativas municipais e estaduais, têm reconstruídos, formando um verdadei-
implicado o repensar dos aspectos ro amálgama dos demais princípios P
mais importantes do processo de tra- norteadores do SUS. Pensar o cuida-
balho, da gestão, do planejamento e, do em saúde como uma tecnologia, por Q
sobretudo, da construção de novos exemplo, e não somente como objeto
saberes e práticas em saúde, resultan- de práticas de saúde realizadas em de- R
do em transformações no cotidiano terminado nível de atenção, e sim nos
das pessoas que buscam e dos profis- demais níveis de atenção especializa- S
sionais e gestores que oferecem cui- da, nos quais a complexidade não seja
dado de saúde. dada pelo grau de hierarquização dos T
Entende-se que a experiência não espaços e procedimentos por ela defi-
é apreendida para ser repetida simples- nidos, mas pelos recursos cognitivos, U
mente e passivamente transmitida, materiais e financeiros que reúnem.
ela acontece para migrar, recriar, Na experiência a ‘integralidade’
V
potencializar outras vivências, outras ganha o sentido mais ampliado de sua
A
diferenças. Há uma constante negoci- definição legal, ou seja, pode ser con-
ação para que ela exista e não se isole. cebida como uma ação social que re-
A
Aprender com a experiência é, sobre- sulta da interação democrática entre os
257
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Integralidade em Saúde A
259
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260
Integralidade em Saúde A
resolutiva, reconhecendo que, sem aco- admitir, aceitar, dar crédito, levar em C
lher e vincular, não há produção dessa consideração”. Já vínculo é definido
responsabilização. como “aquilo que ata, liga ou aperta: D
Merhy (1997) propõe refletir que estabelece um relacionamento ló-
como têm sido nossas práticas nos di- gico ou de dependência, que impõe
E
ferentes momentos de relação com os uma restrição ou condição”. É interes-
F
usuários. O autor afirma que uma das sante notar que os sentidos atribuídos
traduções de acolhimento é a relação às palavras não se correlacionam dire-
G
humanizada, acolhedora, que os traba- tamente às questões de saúde, mas
lhadores e o serviço, como um todo, podemos identificar alguns de seus sig- H
têm de estabelecer com os diferentes nificados, como: “atenção, considera-
tipos de usuários. Em nossa busca pré- ção, abrigo, receber, atender, dar cré- I
via pelos conceitos atribuídos aos ter- dito a, dar ouvidos a, admitir, aceitar,
mos acolhimento e vínculo, recorre- tomar em consideração, oferecer refú- N
mos a alguns dicionários de língua por- gio, proteção ou conforto físico, ter ou
tuguesa, a fim de verificar concordân- receber alguém junto a si”, atributos O
cia, além de observar o nexo lexical. de atenção integral à saúde, enfim, da
No Dicionário Aurélio de Língua Por- ‘integralidade’. P
tuguesa, o termo acolhimento está rela- Os valores implícitos nessas pala-
cionado ao “ato ou efeito de acolher; vras nos permitem realizar diferentes Q
recepção, atenção, consideração, refú- aproximações com as distintas produ-
gio, abrigo, agasalho”. E acolher signi- ções sobre ‘integralidade’ no cuidado, R
fica: “dar acolhida ou agasalho a; hos- que se refere sobretudo, na definição
pedar, receber; atender; dar crédito a; de responsabilidades entre serviços e S
dar ouvidos a; admitir, aceitar; tomar em população, à humanização das práticas
consideração; atender a”. Já vínculo é da saúde, ao estabelecimento de um T
“tudo o que ata, liga ou aperta; ligação vínculo entre profissionais de
moral; gravame, ônus, restrições; rela- saúde e a população, ao estímulo à or- U
ção, subordinação; nexo, sentido”. ganização da comunidade para o exer-
No Dicionário Houaiss, o termo cício do controle social e ao reconhe-
V
acolhimento não existe, porém acolher cimento da saúde como direito de
A
significa “oferecer ou obter refúgio, cidadania.
proteção ou conforto físico. Ter ou A construção da ‘integralidade’
A
receber (alguém) junto a si. Receber, como fim na produção da cidadania do
261
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
262
Interdisciplinaridade A
C
INTERDISCIPLINARIDADE
D
Isabel Brasil Pereira
E
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
Embora dito e redito que a ciên- da, no início do século XX. Nesse ca-
cia moderna tem como inerente à sua minho, outros conceitos ganham for-
própria instituição os métodos analíti- ça, dentre eles a transdisciplinaridade.
cos de Galileu e Descartes, é sempre Para Piaget (1981, p. 52), a
bom lembrar que no pensamento des- interdisciplinaridade pode ser entendi-
te último está presente o desejo de da como o “intercâmbio mútuo e
reconstituição da totalidade e a neces- integração recíproca entre várias ciên-
sidade das conecções entre as ciências cias”. A interdisciplinaridade, para o
(Pombo, 1994). autor, é uma interação entre as ciênci-
Ainda que compreendamos as di- as, que deveria conduzir à
versas tentativas do homem conhecer transdisciplinaridade, sendo esta últi-
como intrínsecas ao trabalho humano, ma, concepção que se traduz em não
à produção cultural e à necessidade de haver mais fronteiras entre as discipli-
autoconhecimento e sobrevivência, o nas. Piaget aposta na
fato é que a busca por saberes tão di- transdisciplinaridade, entendida como
versos perderam-se nos desvãos da integração global das ciências, afirman-
ideologia e serviram a mestres menos do ser esta uma etapa posterior e mais
nobres. Não à toa as especializações, integradora que a interdisciplinaridade,
sob a égide do capitalismo, apresenta- visto que, segundo o autor, alcançaria
ram características cada vez mais as interações entre investigações
reducionistas, perdendo-se de vista a especializadas, no interior de um siste-
possibilidade da totalidade do conhe- ma total, sem fronteiras estáveis entre
cimento, e mesmo as conecções mais as disciplinas.
profundas entre as ciências. Atualmente, a interdisciplinari-
No final do século XIX, as ciên- dade continua seu caminho pela
cias haviam se dividido em muitas dis- (re)construção do conhecimento uni-
ciplinas e a busca pela interação entre tário e totalizante do mundo frente à
estas disciplinas ecoa forte no sentido fragmentação do saber. Na escola, essa
de promover um diálogo entre elas. Na noção é materializada em práticas e
Educação, a preocupação com formas reflexões como a integração de con-
e maneiras de atender ao apelo a uma teúdos e a interação entre ensino e
integração e interação entre as ciênci- pesquisa.
as, sob as quais essa prática social se Do ponto de vista da diretriz de
constrói, ocorre de maneira mais níti- política governamental, o Ministério da
264
Interdisciplinaridade A
265
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
do conhecimento, é sempre bom avi- se estar atento para que formas de or-
sar que: há que se não confundir a crí- ganização do trabalho em saúde, que
tica à especialização, com uma não primam pela integralidade, possam
especificidade necessária, como o acentuar a fragmentação do conheci-
enfoque do conhecimento, devido ao mento escolar.
seu acúmulo ao longo da existência O termo interdisciplinaridade é
humana como síntese dos saberes também aplicado com base em um
construídos histórico-socialmente, que deslocamento de sentido e/ou apro-
levam em conta a totalidade no pró- priação deste conceito por correntes
prio campo da ciência e na sociedade. hegemônicas da educação profissional
Deve ainda a interdisciplinaridade a favor do capital. Hoje, há processo
estar atenta para a relação forma e con- de formação profissional que adere a
teúdo dentro de uma mesma discipli- uma concepção da totalidade como
na no que tange aos níveis de comple- soma das partes, e visa a uma forma-
xidade do conhecimento, de grande ção polivalente do trabalhador. A qua-
importância para a prática educativa. lificação profissional pautada pela
A interdisciplinaridade pode se polivalência justapõe conhecimentos
materializar nas metodologias de ensi- técnicos, de modo a garantir a organi-
no, no currículo e na prática docente. zação do trabalho em que o mesmo
Na educação profissional em saúde ela trabalhador possa desempenhar vári-
tem se traduzido em tentativas, por as funções outrora realizadas por mais
vezes bem sucedidas, de projetos e trabalhadores. Nessa história, recente e atu-
concepções diversos, mas que parti- al, é demandado aos sistemas educacionais um
lham a necessidade de perseguir, de ajuste às novas maneiras que o capital encon-
acordo com o que pensam ser isto, o tra para administrar as suas crises, no caso a
saber unitário. Indo além, nesse cami- produção de um trabalhador polivalente, com
nho coloca-se a necessidade da capacidades, ‘conhecimentos’, valores e atri-
interação entre escola e serviço de saú- butos, destreza e capacidade de resolver pro-
de, entre escola e as demandas de saú- blemas, compatíveis com o mundo do traba-
de da população urbana e do campo. lho em mutação (Pereira, 2002).
A partir do olhar histórico que Trata-se assim de perceber que a
desvela que o processo de fragmenta- característica central do capitalismo,
ção do saber se acentua com o proces- lembrando aqui Marx (1999), é estar
so de fragmentação do trabalho, deve- em constante expansão, buscando no-
266
Interdisciplinaridade A
267
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
docente, assim como a forma de orga- ção do saber escolar. Ou seja, trocar o
nização do trabalho na escola e na vida currículo por disciplina por outra for-
social em geral constituem barreiras, ma de organização curricular, por si só
por vezes intransponíveis, para o tra- nada significa para um avanço do tra-
balho interdisciplinar. balho interdisciplinar. Mais importan-
A ação docente pautada na sua te é a escola estar atenta aos limites e
concepção de ciência, política, cultura possibilidades do conhecimento esco-
e postura ética são os esteios centrais lar no processo de mudança de
sob os quais podem ser delineadas, paradigma das ciências e da transfor-
com êxito ou não, as práticas mação do mundo do trabalho, perce-
interdisciplinares. A ber neste processo para qual projeto
interdisciplinaridade é entendida por de sociedade irá contribuir, e abrir es-
Fazenda (1999) como ação, enfatiza paço a toda ação visando à
que depende de uma atitude, de uma interdisciplinaridade - que não confun-
mudança de postura em relação ao da integração e articulação com justa-
conhecimento, uma substituição da posição e que não caia em um
concepção fragmentária para a unida- relativismo que nada institui – valori-
de do ser humano. Diante disso, é bas- zando os pequenos avanços do traba-
tante evidente a ênfase dada ao sujei- lho escolar neste processo que requer
to, para que se promova uma transfor- para sua validação ser sempre consi-
mação no conhecimento, o que coloca derado inacabado.
a formação docente e as condições
objetivas do trabalho docente como
eixos centrais da promoção do traba- Para saber mais:
lho interdisciplinar na escola.
Por último, há que se compreen- BERNSTEIN, B. Class, codes and
der que a interdisciplinaridade na edu- contr o l. Londr e s : Routledg e and
cação do trabalhador não pode ser Kehgan Paul, 1980.
construída a partir de premissas que BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares
percam de vista a totalidade das ques- Nacionais. Brasília: MEC/SENEB,
tões que ela tem a enfrentar. Como 1999.
exemplo, é no mínimo ingênuo pensar FAZENDA, I (Or g.). Práticas
que abolir o currículo por disciplina é Interdisci-plinares na Escola. 6. ed. São
a solução para acabar com a fragmenta- Paulo: Cortez, 1999.
268
Itinerários Formativos A
R
A expressão ‘itinerário formativo’, em coerência com a organização e as
no nível macro, refere-se à estrutura de normas dos sistemas de ensino e de S
formação escolar de cada país, com di- formação profissional.
ferenças marcadas, nacionalmente, a O princípio da continuidade é T
partir da história do sistema escolar, do próprio do currículo. Ele significa que
modo como se organizaram os sistemas a estruturação dos sistemas de ensino U
de formação profissional ou do modo e a programação das atividades educa-
de acesso à profissão. As bases cionais devem garantir o progressivo V
organizativas dos currículos, se contí- avanço do aluno no seu processo de
nuas ou modulares, definirão, em parte, aprendizagem e escolarização, evitan- A
os tipos de ‘itinerários formativos’ que do-se interrupções e repetições de con-
podem ser seguidos pelos estudantes, teúdos e de experiências. Significa tam- A
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Itinerários Formativos A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Itinerários Formativos A
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A
C
N D
NEOLIBERALISMO E SAÚDE E
F
Maria Lúcia Frizon Rizzotto
G
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Neoliberalismo e Saúde A
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Neoliberalismo e Saúde A
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A
C
O D
OCUPAÇÃO E
F
Naira Lisboa Franzoi
G
Dentre as diversas acepções do atacando aquilo que lhe pode causar
H
termo, este verbete trata da atividade ameaça e, para isso, diferenciando o
laboral desempenhada por um indiví- que seria uma política para a assistên-
I
duo, não se detendo na distinção entre cia de uma política para o trabalho.
‘ocupação’ e profissão (para essa dis- É possível identificar, nos meados
N
cussão ver: profissão). Pode-se enten- do século XIV, uma espantosa conver-
der como ‘ocupação’ o lugar de um gência de iniciativas dos poderes cen- O
indivíduo na divisão social e técnica do trais, ou de poderes locais, em diferen-
trabalho. Tal divisão classifica e tes países da Europa, para regulamen- P
hierarquiza os indivíduos, o que envol- tar e limitar a mobilidade profissional
ve aspectos subjetivos e identitários. e geográfica dos trabalhadores braçais. Q
Nesse sentido, se está falando de cate- De maneira geral, todas essas regula-
gorias ocupacionais. Os indivíduos se mentações tinham o mesmo tom do R
reconhecem e são reconhecidos por Estatuto dos Trabalhadores de 1349,
grupos que desempenham as mesmas promulgado por Eduardo III, rei da S
atividades e organizam-se a partir des- Inglaterra, que obrigava a todos a per-
se reconhecimento. Prévia a esta manecerem fixos em seu local de tra- T
categorização é aquela que classifica os balho e a contentar-se com sua condi-
indivíduos em dois grandes agregados: ção e com a retribuição dela advinda. U
os que têm ou não algum lugar nessa Pouco tempo depois, Ricardo II acres-
hierarquia fundada no trabalho. centa a tal decreto a obrigação, para os V
Historicamente, as tentativas de empregados que deixam seu posto, de
estabelecer tal demarcação estão for- portar um atestado emitido pela auto- A
temente associadas à necessidade de ridade local, sem o qual seriam deti-
uma sociedade assegurar sua coesão, dos. Ao mesmo tempo, decreta que
A
281
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
quem tivesse trabalho agrícola não ociosa dos que procuravam trabalho e
poderia escolher outro trabalho braçal de traçar uma linha divisória entre os
(Castel, 1998). da alçada da ‘polícia dos pobres’ e das
Tal convergência de regulamenta- políticas de trabalho. A vagabundagem,
ções pode ser explicada pelo contexto na sociedade pré-industrial, embora ex-
da época. A sociedade européia vive um presse uma questão social, oculta-a por-
abalo das instituições feudais, dado pelo que a desloca para a margem extrema da
desequilíbrio das estruturas agrárias até sociedade, até fazer dela quase uma ques-
então vigentes, expulsando para as cida- tão de polícia (Castel, 1998).
des aqueles que não podem mais viver Contemporaneamente, as demar-
da terra. No entanto, as cidades não têm cações e mensurações das populações
mais a capacidade de acolhimento de um ocupadas e não ocupadas têm objeti-
período anterior, de maior expansão do vos correlatos. O Estado de Bem-Es-
artesanato e do comércio. O rigoroso tar Social baseou-se claramente em tal
sistema de hierarquias, em que estão ins- demarcação para estabelecer suas po-
critas as corporações de ofício, não tem líticas de seguridade social, diferencia-
lugar para essa nova figura representada das para cada uma dessas populações
por uma mão-de-obra flutuante que – afetas, assim, à esfera do trabalho ou
ameaça a coesão social. da assistência.
Surge, pois, um novo perfil do ‘va- Não por acaso, a preocupação
gabundo’ (de ‘vaguear’, ‘peram-bular’), com a classificação e construção de
que perambula em busca de um lugar parâmetros internacionais para as es-
para si: sem trabalho e sem reconheci- tatísticas de emprego surgem no âm-
mento, porque sem perten-cimento bito da Organização Internacional do
comunitário. Mais tarde, em 1701, na Trabalho (OIT), na década de 1920,
França, decreta-se que são “vagabun- objetivando estabelecer medidas para
dos aqueles que não têm profissão, o desemprego. No pós-guerra, em
nem ofício, nem domicílio certo, nem 1947, o tema ressurge com ênfase no
lugar para subsistir”, ao que o Decreto “desemprego enquanto principal pro-
Real de 1764 acrescenta à cláusula “to- blema social para o emprego, como
dos aqueles que não têm profissão nem objetivo central do planejamento eco-
ofício” o quantificativo “há mais de seis nômico” (ILO apud Hoffmann &
meses” (Castel, 1998, p. 121). Tratava- Brandão, 1996, p. 5). As orientações
se de distinguir os adeptos de uma vida da OIT vão dar origem às mensurações
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Ocupação A
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Omnilateralidade A
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Omnilateralidade A
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288
Omnilateralidade A
com a propriedade, com o outro, com cadas pelo cotidiano da vida social ali- C
as crianças, com as artes, com o saber, enada e estranhada. É nesse cotidiano
por intermédio de relações éticas de que atua a formação politécnica, po- D
novo tipo, etc. Porém, de maneira ple- tencialmente capaz de elevar as classes
na, como ruptura ampla e radical, a trabalhadoras a um patamar superior
E
omnilateralidade só se realiza como de compreensão de sua própria condi-
F
práxis social, coletiva e livre, pois de- ção social e histórica. Aí atua a práxis
pende da universalização das relações revolucionária, principal ação político-
G
não-alienadas entre os indivíduos, no pedagógica da formação do proletari-
intercâmbio com a natureza e no in- ado como sujeito social transformador. H
tercâmbio social em geral. Nesse processo são gestados elemen-
Já a politecnia é claramente uma tos que deverão ser consolidados - e I
proposta que toma como ponto de que só podem ser consolidados com a
partida a contribuição dos socialis- superação da alienação e do N
tas utópicos e a observação do pró- estranhamento – no interior das no-
prio movimento material da produ- vas relações não-estranhadas. Somen- O
ção capitalista, que avança com a te a partir dessas relações é possível a
grande indústria. formação omnilateral. P
A politecnia é proposta para se Portanto, politecnia e omnilaterali-
realizar no presente da opressão a que dade se complementam no processo Q
estão submetidos os trabalhadores desde a formação do sujeito social re-
com o propósito de a eles responder. volucionário até a consolidação do Ser R
A politecnia não almeja alcançar a for- social emancipado. Se a omnilate-
mação plena do homem livre, mas a ralidade como formação plena é im- S
formação técnica e política, prática e possível – senão de forma germinal -
teórica dos trabalhadores no sentido no seio das relações estranhadas da T
de elevá-los na busca da sua realidade do trabalho abstrato, é preci-
autotransformação em classe-para-si. samente neste momento que a U
Portanto, a politecnia não tem como politecnia aparece como proposta de
condição para sua realização a ruptura educação de grande importância, até
V
ou superação das determinações his- que se consolidem as condições histó-
A
tóricas da sociedade do capital. ricas de possibilidade de realização ple-
Entre politecnia e omnilatera- na da omnilateralidade. A politecnia é
A
lidade há complexas mediações colo- a formação dos trabalhadores no âm-
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
290
Omnilateralidade A
‘fazer’ e do ‘saber’ que não necessaria- gostos, dos prazeres, das aptidões, das C
mente rompem com a sociabilidade habilidades, dos valores etc., que serão
estranhada. O indivíduo alienado/es- propriedades da formação humana em D
tranhado pode alcançar tudo isso a que geral, desenvolvidas socialmente, por-
Manacorda se refere mesmo sem atin- tanto, não correspondem à genialidade
E
gir o ponto mais elevado da condição de um indivíduo desenvolvido num
F
do homem livre que se reconhece no determinado sentido especial ou ainda
seu trabalho e na ampla coletividade que seja em sentidos diversos.
G
livre. Na consideração de Manacorda o
Os comentários elogiosos de conceito de omnilateralidade represen- H
Marx a indivíduos dotados de talento ta uma formação mais ampla, mais
criativo especial muitas vezes são to- avançada, mas não antagônica ao me- I
mados como referência de modelos de tabolismo do capital, por isto, talvez,
formação, por exemplo, quando Marx não haja necessidade da consideração N
enaltece o relojoeiro Watt, o barbeiro das premissas materiais da construção
Arkwright e o artífice de ourivesaria do homem omnilateral - a criação de O
Fulton por terem descoberto, respec- novas bases sociais que permitam o li-
tivamente, a máquina a vapor, o tear e vre desenvolvimento das P
o navio a vapor (Marx, 1989, p. 559). potencialidades humanas.
Esse reconhecimento da capacidade Q
inventiva acima da média ou ao talen-
to especial está longe de caracterizar R
uma formação omnilateral.
Para saber mais
Esse tipo de capacidade criativa S
MANACORDA, M. A. Marx e a
individual sempre existiu na história da Pedagogia Moderna. São Paulo: Cortez,
humanidade. Em todas as épocas hou- 1991. T
ve homens e mulheres cuja competên- MARX, K. O Capital - Para a Crítica da
cia inventiva ultrapassava a média de Economia Política. 13 a ed. Rio de U
seu tempo, mas não é a isto que se re- Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, 6 vols.
fere o conceito de omnilateralidade de ________. Grundrisse 1857-1858. In: V
MARX e ENGELS. Obras fundamentales.
Marx, ele remete ao campo vasto, com- México - DF: Fondo de Cultura A
plexo e variado das dimensões huma- económica, 1985, vols. 6-7.
nas: ética, afetiva, moral, estética, sen- MARX e ENGELS. Escritos de
juventud. In: MARX e ENGELS Obras
A
sorial, intelectual, prática; no plano dos
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292
A
C
P D
PARTICIPAÇÃO SOCIAL E
F
Eduardo Navarro Stotz
G
Conceito genérico usado na So- nifica democratização ou participação
ciologia com o sentido de: a) ampla dos cidadãos nos processos H
integração, para indicar a natureza e o decisórios em uma dada sociedade.
grau da incorporação do indivíduo ao Representa a consolidação, no pensa- I
grupo, e b) norma ou valor pelo qual mento social, de um longo processo
se avaliam tipos de organização de na- histórico. Para os atenienses do século N
tureza social, econômica, política, etc. V a.c. a participação na pólis (cidade)
(Rios, 1987). era uma exigência da democracia (go- O
O primeiro é o sentido amplo do verno do povo, demos), independente-
termo e assinala a importância da ade- mente do saber de cada um dos cida- P
são dos indivíduos na organização da dãos sobre os assuntos de governo. Os
sociedade. Do ponto de vista socioló- homens livres que se abstinham de Q
gico, participação é um conceito participar eram idiótes (idiotas), pois
relacional e polissêmico, pois remete preferiam recolher-se à vida privada. R
tanto à coesão social como à mudança Uma participação apática também era
social. A participação implica compor- incompatível com o ideal de comuni- S
tamentos e atitudes passivos e ativos, dade cidadã (Finley, 1988). Não por
estimulados ou não. Na medida em que acaso o filósofo Aristóteles afirmou ser T
a ação mobiliza o sujeito do ponto de o homem um animal político – zoom
vista emocional, intuitivo e racional, a politkon; esta concepção, apesar de ex- U
participação pode ser entendida como cluir a história, declara a
um princípio diretor do conhecimen- indissociabilidade de indivíduo, natu-
V
to, variável segundo os tipos de socie- reza e sociedade, e recusa, portanto, a
A
dade em cada época histórica. idéia do indivíduo no estado de natu-
No segundo sentido, mais estrito reza, este ser abstrato, livre e racional
A
e de caráter político, participação sig- pressuposto pela teoria do contrato
293
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Participação Social A
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Participação Social A
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Pedagogia das Competências A
C
PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS
D
Marise Nogueira Ramos
E
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Pedagogia das Competências A
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Pedagogia das Competências A
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304
Pedagogia de Problemas A
PEDAGOGIA DE PROBLEMAS N
O
Suzana Lanna Burnier Coelho
P
A idéia da utilização pedagógica No Brasil, apesar do impacto das Q
de problemas sobre algum assunto a pedagogias progressistas em torno das
ser resolvido pelos aprendizes não é décadas de 1950 e 1960 pouco se efe- R
nova. Stanic e Kilpatrick (1989) recu- tivou em termos de desenvolvimento
peram coleções de problemas tanto de de propostas e práticas curriculares S
manuscritos egípcios de 1650 a.C. baseadas em resolução de problemas
quanto de documentos chineses de nos termos propostos por Dewey. T
1000 a.C. No âmbito da escola moder- A partir dos anos 90, entretanto, di-
na, na virada do século XIX para o versas instituições de ensino superior U
século XX, principalmente a partir das vêm resgatando tal proposta, além de
idéias de John Dewey, que tal propos- autores diversos nas áreas de didáticas V
ta começa a ser sistematizada e implan- específicas (de matemática, de quími-
tada. Entretanto, sofre certo ca, de física etc). Esse movimento dos A
arrefecimento sendo retomada a par- anos 90 iniciou-se no exterior, nas es-
tir dos anos 80 do século XX. colas médicas de McMaster, no Cana- A
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Pedagogia de Problemas A
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Pedagogia de Problemas A
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Pedagogia de Problemas A
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PLANEJAMENTO DE SAÚDE
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Planejamento de Saúde A
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Planejamento de Saúde A
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Precarização do Trabalho em Saúde A
P
Denise Elvira Pires
Q
Este termo tem sido utilizado balhadores e direitos trabalhistas, no R
para designar perdas nos direitos tra- contexto do processo de ruptura do
balhistas ocorridas no contexto das modelo de desenvolvimento fordista S
transformações do mundo do traba- e de emergência de um novo padrão
lho e de retorno às idéias liberais de produtivo (Mattoso, 1995). T
defesa do estado mínimo, que vêm sur- No final dos anos 60 do último
gindo, especialmente, nos países capi- século o modelo fordista de desenvol- U
talistas desenvolvidos a partir da ter- vimento entra em crise: cresce a insa-
ceira década do século passado. Em tisfação dos operários com a organi- V
termos genéricos refere-se a um con- zação taylorista-fordista de execução de
junto amplo e variado de mudanças em tarefas maçantes e repetitivas, ainda A
relação ao mercado de trabalho, con- que bem pagas; explodem movimen-
dições de trabalho, qualificação dos tra- tos sociais, sindicais e extra-sindicais; A
317
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Precarização do Trabalho em Saúde A
contratados para realizar atividades es- em 2000, como fruto de negociação sin- C
peciais (plantonistas em hospitais, por dical. Os trabalhadores podem optar
exemplo); flexibilização na contratação pelo regime part-time; nestes casos, a re- D
de agentes comunitários de saúde e equi- muneração corresponde às horas tra-
pes de saúde da família pelo governo balhadas, mas não ocorre perda de di-
E
brasileiro; e o trabalho temporário pre- reitos trabalhistas (Pires, 2004).
F
visto no Programa de Interiorização do O Ministério da Saúde do Brasil
Trabalho em Saúde. reconhece a existência de múltiplas for-
G
Como nos demais setores da pro- mas de trabalho precário em saúde e ela-
dução, a terceirização também cresce bora, através da Secretaria de Gestão do H
na saúde e tem sido utilizada pelos em- Trabalho e da Educação em Saúde, um
pregadores tanto do setor público “Programa Nacional de Desprecarização I
quanto do privado, para diminuir os do Trabalho no SUS” com estratégias
custos com a remuneração da força de definidas para a reversão do quadro. N
trabalho e para fugir das conquistas ‘Precarização’ é um termo amplo que se
salariais e direitos trabalhistas dos tra- unifica pelo sentido de perda de direi- O
balhadores efetivos da empresa-mãe tos. Para o Conselho Nacional de Secre-
(instituição-original) (Dieese, 1993; Pi- tários de Saúde (Conass) e o Conselho P
res, 1998; Pires, Gelbcke & Matos, Nacional dos Secretários Municipais de
2004). No entanto, é importante con- Saúde (Conasems), o trabalho precário Q
siderar que a flexibilização nas formas está relacionado aos vínculos de traba-
de contratação, bem como a tercei- lho no Sistema Único de Saúde (SUS) R
rização, não é sempre sinônimo de que não garantem os direitos traba-
‘precarização’, apesar de, no caso bra- lhistas e previdenciários consagrados S
sileiro, majoritariamente, essas inicia- em lei. Para as entidades sindicais que
tivas terem o sentido de redução dos representam os trabalhadores que T
custos com a força de trabalho e de atuam no SUS, trabalho precário está
‘precarização’. Dependendo do contex- caracterizado não apenas como au- U
to institucional e histórico em que os sência de direitos trabalhistas e pre-
tipos de contratação ocorrem, flexi- vi-denciários consagrados em lei, mas
V
bilizar pode não ser sinônimo de também como ausência de concurso
A
precarizar. Na Holanda, por exemplo, público ou processo seletivo público
o trabalho part-time é um direito dos tra- para cargo permanente ou emprego
A
balhadores que foi conquistado em lei, público no SUS.
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
Marina Peduzzi
Lília Blima Schraiber
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Processo de Trabalho em Saúde A
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Processo de Trabalho em Saúde A
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trabalho médico desde o início dos saber como o recurso que põe em
anos 80, passa a ser utilizado para o movimento os demais componentes
estudo de processos de trabalho espe- do processo de trabalho. Será, pois,
cíficos de outras áreas profissionais em saber operante ou tecnológico – saber
saúde. Dentre estes, destaca-se a área que tem sua origem ‘no’ e ‘através do’
de enfermagem que inicia a análise do processo de trabalho, fundamentando
processo de trabalho de enfermagem intervenção em saúde (Mendes Gon-
com a tese de Doutorado de Maria çalves, 1994; Schraiber, 1996; Peduzzi,
Cecília Puntel de Almeida, de 1984 1998).
(Almeida & Rocha, 1986), seguida de Um último aspecto a ser desenvol-
várias outras pesquisas com esta abor- vido por Mendes Gonçalves e que terá
dagem até a atualidade. muitas repercussões no campo da saú-
Embora Mendes Gonçalves tenha de, refere-se aos aspectos dinâmicos e
apontado para a categoria ‘necessida- relacionais do ‘processo de trabalho em
des’ e a categoria ‘saber’ como elemen- saúde’. Se os primeiros estudos buscam,
tos do processo de trabalho desde sua na referência da sociabilidade e
formulação original, ao longo do de- historicidade do trabalho em saúde, suas
senvolvimento do conceito, este mes- articulações na estrutura social, a arti-
mo autor retoma estas categorias. Em culação do estudo do ‘processo de tra-
seu texto de 1992, analisa a balho em saúde’ com abordagens teó-
consubstancialidade entre trabalho e ricas, como Canguilhem (1982), Heller
necessidades humanas, de modo que (1991) e a escola de Frankfurt
os processos de trabalho são também (Habermas, 1994, 2001), permitirá, no
‘re-produção’ das necessidades, ou seja, dizer de José Ricardo Ayres (2002), tra-
tanto reiteram as necessidades de saú- tar mais positiva e produtivamente os
de e o modo como os serviços se or- aspectos relacionais do trabalho em saú-
ganizam para atendê-las quanto podem de, necessários para pensá-lo não ape-
criar novas necessidades e respectivos nas como estrutura de sociabilidade,
processos de trabalho e modelos de mas como prática social.
organização de serviços. Já na catego- Ao introduzir a análise da
ria ‘saber’, o autor mostra que, ao ex- micropolítica do trabalho vivo em ato
pressar a intermediação entre ciência e na saúde e a tipologia das tecnologias
trabalho, remete à dimensão em saúde (leve, leve-dura e dura),
tecnológica deste. Formula, então, o Emerson Elias Merhy (Merhy, 1997,
324
Processo de Trabalho em Saúde A
2002; Merhy & Chakhour, 1997) parte origem e continua representando im- C
das contribuições de Mendes Gonçal- portante abordagem teórico-conceitual
ves e de autores como Cornelius para as questões sobre recursos huma- D
Castoriades, Felix Guatarri e Gilles nos em saúde. Segundo Nogueira
Delleuze, da escola de análise (2002), a noção clássica de trabalho e
E
institucional. Recuperando de Marx a de processo de trabalho constitui rele-
F
concepção de trabalho vivo e trabalho vante categoria interpretativa nos estu-
morto, define este último como todos dos sobre recursos humanos em saúde.
G
os produtos-meio que estão envolvi- Nesse sentido, destaca-se o Projeto
dos no processo de trabalho e que são Capacitação em Desenvolvimento de H
resultado de um trabalho anteriormen- Recursos Humanos de Saúde –
te realizado, e aquele outro como tra- CADRHU –, implantado em 1987, que, I
balho instituinte, buscando compreen- em sua primeira unidade didática, pre-
der a potencialidade de esse trabalho via a caracterização da problemática de N
vivo em ato questionar, no próprio recursos humanos de saúde como par-
processo de trabalho, a te do processo produtivo do setor saú- O
intencionalidade e a finalidade do tra- de, em especial, como processo de tra-
balho em saúde e de seus modos de balho (Santana & Castro, 1999). P
operar os modelos tecno-assistencias. A partir dos anos 90, um conjun-
A dimensão processual e transfor- to de questões novas estabelece um Q
madora do trabalho vivo em ato na divisor de águas para a reflexão e pes-
saúde é atribuída à característica desse quisa sobre o ‘processo de trabalho em R
trabalho que tem a sua essencialidade saúde’: por um lado, aparecem ques-
na ação. E como tal será fonte de tões relacionadas às novas formas de S
tecnologias, na medida em que o tra- trabalho flexível e/ou informal e da
balho em ato pode abrir linhas de fuga regulação realizada pelo Estado, com T
no já instituído. foco nos mecanismos institucionais de
gestão do trabalho; por outro, as ques- U
tões da integralidade do cuidado e da
V
Emprego do conceito na autonomia dos sujeitos, cujo foco de
área da saúde na atualidade análise se desloca para o plano da
A
interação envolvendo a relação profis-
sional - usuário ou as relações entre os
O estudo do ‘processo de traba- A
lho em saúde’ representou desde sua profissionais (Nogueira, 2002). No que
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Processo de Trabalho em Saúde A
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PROFISSÃO
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Profissão A
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Profissão A
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Profissão A
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A
C
Q D
QUALIFICAÇÃO COMO RELAÇÃO SOCIAL E
F
Nadya de Araújo Guimarães
G
É amplo (e antigo) o debate A partir dos anos 70, esse debate
H
intelectual em torno da questão da ganhou novo colorido e intensidade.
‘qualificação’. Têm-se discutido Eles foram os anos da chamada
I
intensamente tanto a sua natureza ou ‘bravermania’, para tomar de emprés-
mudanças no tempo, como as fontes e timo a expressão ironicamente cunha-
N
formas de produzi-la, com crescente da por Littler e Salaman (1982).
interesse pelo nexo entre experiência e Braverman (1974) sustentou as suas O
conhecimentos obtidos e aperfeiçoados idéias numa releitura da concepção
no cotidiano de trabalho face àqueles marxiana. Com efeito, Marx entendia P
desenvolvidos na vida fora do trabalho. que o trabalho – enquanto não aliena-
Nos anos 60, a produção acadêmi- do – expressaria e desenvolveria a Q
ca foi pródiga em formulações relativas criatividade e a habilidade do homem
ao tema face aos sinais de uma nova re- por ser um processo de transforma- R
volução tecnológica. A controvérsia an- ção da natureza cujo resultado estaria
tepôs, por um lado, hipóteses sobre a previamente figurado pelo sujeito que, S
desumanização do trabalho, parcela- usando instrumentos, transformava
rizado em face de uma tecnologia seu objeto. Entretanto, diria ele, quan- T
alienante (Friedman & Naville, 1966) e, do a força de trabalho se constituiu
por outro, as expectativas sobre a emer- como mercadoria, o trabalhador (um U
gência de novas qualificações, passíveis proletário, juridicamente livre, mas pri-
de menor alienação e maior controle vado dos meios de produção) tornou- V
sobre o trabalho, em especial na nova se impotente por depender completa-
classe operária, afluente e potencialmente mente do capitalista para forjar a sua A
aristocrática (Mallet, 1963; Blauner, sobrevivência. A subordinação tecida
1964). pelas relações mercantis se consolida-
A
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Qualificação como Relação Social A
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Qualificação como Relação Social A
com que essas regras são aplicadas, seja a temática da ‘qualificação’ das operá- C
no recrutamento, seja na supervisão. rias, chamaram a atenção para o fato
Ademais, nem sempre os sistemas de de que suas posições geralmente infe- D
classificação que norteiam o acesso e a riores nas hierarquias organizacionais
permanência nos postos de trabalho não resultavam de uma ‘qualificação’
E
estão fundados em critérios baseados precária ou inadequada, ou da ausên-
F
em características de tipo aquisitivo, cia de motivação individual para obtê-
como o grau de escolariza-ção ou a la e credenciar-se à ascensão funcio-
G
experiência profissional. Não raro, eles nal. Embora as competências e habili-
refletem o peso de características que dades dessas mulheres parecessem ade- H
os sociólogos denominam ‘adscritas’ quadas à execução de suas tarefas, elas
(como o sexo biológico ou a cor da não representavam uma ‘qualificação’. I
pele), as quais também fundamentam Isso porque tais qualidades não havi-
formas de classificação social com efei- am sido obtidas através dos canais so- N
tos de inclusão ou de exclusão cialmente reconhecidos de formação
(Kergoat, 1982; Hirata, 2002). Diante da mão-de-obra, mas através da expe- O
desse fenômeno, cabe ter em conta tan- riência de trabalho nas esferas ditas
to o que inicialmente se denominara ‘reprodutivas’. Isso tornava P
como a ‘qualificação do posto de traba- ‘desqualificadas’ as suas portadoras, já
lho’ quanto uma outra dimensão igual- que sua habilitação era considerada Q
mente relevante, qual seja a ‘qualifica- como ‘inata’. Mais ainda, e com fre-
ção do trabalhador’. Esta última reme- qüência, nem mesmo as próprias tra- R
te a atenção do analista para a forma- balhadoras se reconheciam como qua-
ção e a experiência mobilizadas pelo in- lificadas (Kergoat, 1982). Isso nos re- S
divíduo no momento de executar uma mete ao tema da chamada ‘qualifica-
tarefa. ‘Qualificação do posto de traba- ção tácita’ (Wood & Jones, 1984), fru- T
lho’ e ‘qualificação do trabalhador’ têm to da vivência concreta de um indiví-
fontes distintas e, a depender do reco- duo trabalhador. Baseada na experiên- U
nhecimento social que lhes seja confe- cia adquirida numa situação específi-
rido, podem (ou não) credenciar quem ca, ela é de difícil transmissão através
V
as possua. da linguagem formalizada sendo, ao
A
Assim, por exemplo, os estudos mesmo tempo, insubstituível, mesmo
sobre relações sociais de gênero nos quando as novas tecnologias informa-
A
cotidianos de trabalho, ao enfocarem tizadas buscaram internalizar no equi-
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Qualificação como Relação Social A
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A
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R D
RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE E
F
Monica Vieira
G
O conceito de ‘recursos huma- O processo de conforma- H
nos’ é próprio da área de administra-
ção da área de Recursos
ção e remete à racionalidade gerencial I
hegemônica que reduz o trabalhador à Humanos em Saúde
condição de recurso, restringindo-o a N
uma dimensão funcional. No entanto, A noção de RHS pode ser, ini-
na área da saúde, a questão dos ‘recur- cialmente, associada à década de O
sos humanos’ envolve tudo que se re- 1950, com análises sobre a forma-
fere aos trabalhadores da saúde em sua ção médica estimuladas pela Orga- P
relação com o processo histórico de nização Pan-Americana da Saúde
(Opas). Nos anos 60 iniciaram-se Q
construção do Sistema Único de Saú-
de (SUS – Mendes Gonçalves, 1993), estudos para identificar a força de
R
configurando, assim, um dos seus trabalho no setor e apenas na segun-
da metade da década seguinte teve
subsistemas. Nesse sentido, esse é tan- S
to um campo de estudo como de in- início o progressivo processo de
tervenção. A área de ‘Recursos Huma- institucionalização da área. Nos anos T
nos em Saúde’ (RHS) abarca múltiplas 70 destaca-se o Programa de Prepa-
dimensões: composição e distribuição ração Estratégica de Pessoal de Saú- U
da força de trabalho, formação, quali- de (PPREPS), que teve como pro-
ficação profissional, mercado de tra- pósitos centrais capacitar pessoal de V
balho, organização do trabalho, nível médio e elementar e apoiar a
regulação do exercício profissional, criação de sistemas de desenvolvi- A
relações de trabalho, além da tradicio- mento de recursos humanos para a
nal administração de pessoal. saúde nos estados (Paim, 1994).
A
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Recursos Humanos em Saúde A
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Recursos Humanos em Saúde A
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Reestruturação Produtiva em Saúde A
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Reestruturação Produtiva em Saúde A
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A
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S D
SAÚDE E
F
Madel Therezinha Luz
G
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
portante a salientar aqui é que ‘saúde’, mais Assim, nasce a ‘saúde pública’, com a
que um estado ‘natural’, é uma definição dupla missão de combater e prevenir
construída social e culturalmente. E nos- doenças coletivas, ou mesmo individu-
sa definição atual está muito longe de sua ais, que, por contágio ou transmissão,
origem etimológica, tendo caminhado em ameacem a organização social e a or-
sentido restritivo, senão oposto, ao longo dem pública.
dos últimos dois séculos. A medicina, de arte ou saber prá-
tico, associa-se aos saberes científicos
ligados à matéria, em contínua revolu-
Definições e concepções de ção, transformando-se progressiva-
saúde e doença na mente, ela também, em ciência, em
modernidade ocidental conhecimento das doenças, tornando-
se seu centro de pesquisa as patologi-
A preocupação social com a do- as em sua origem ou causalidade, seja
ença das populações, primeiramente, no meio ambiente físico ou biológico,
em função das pestes e guerras no exterior ou interior da denominada
(freqüentemente implicadas nas epide- ‘máquina’ humana. Neste contexto, a
mias) que dizimam a Europa no alvo- terapêutica, como arte milenar da cura
recer da idade moderna, nos séculos de seres humanos, sofre um progres-
XIV a XVII, e posteriormente dos in- sivo deslocamento do olhar epistemo-
divíduos, durante os séculos XVIII e lógico, tanto no plano da produção de
XIX, prenuncia a relação peculiar da evidências (saber) como no da inter-
modernidade entre vida humana e po- venção clínica (prática), tornando-se
lítica, que o filósofo Michel Foucault secundária diante da ciência
(2003) designou de biopoder. Pois ser diagnóstica. Combater as doenças não
a partir de políticas de ‘saúde’, isto é, será mais necessariamente sinônimo de
de medidas de ‘combate’ (mais tarde, curar doentes. A clínica moderna,
durante o século XX, de ‘prevenção’) como assinala Foucault, será uma tra-
às doenças coletivas e individuais, que jetória de busca à morte, ou do que pode
instituições médicas, investidas do po- matar, no interior do corpo humano. E
der de Estado (polícia médica), como a cultura incorpora, com o passar do sé-
assinalou George Rosen (1994), defi- culo XX e as “vitórias da ciência, como
nirão o estatuto do viver e suas nor- define a imprensa, a visão de ‘saúde’
mas no plano individual e coletivo. como ausência relativa ou total de do-
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Saúde A
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Sistema Único de Saúde A
C
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
D
Lígia Bahia
E
F
A expressão ‘Sistema Único de nal de Assistência Médica da Previdên-
Saúde’ (SUS) alude em ter mos cia Social (Inamps) pelo Ministério da G
conceituais ao formato e aos proces- Saúde e na universalização do acesso a
sos jurídico-institucionais e administra- todas ações e cuidados da rede H
tivos compatíveis com a univer- assistencial pública e privada contrata-
salização do direito à saúde e em da e ao comando único em cada esfera I
termos pragmáticos à rede de institui- de governo. ‘Saúde’ compreendida
ções – serviços e ações – responsável como resultante e condicionante de N
pela garantia do acesso aos cuidados e condições de vida, trabalho e acesso a
atenção à saúde. Os termos que com- bens e serviços e, portanto, componen- O
põem a expressão ‘SUS’, espelham po- te essencial da cidadania e democracia
sitivamente críticas à organização pre- e não apenas como ausência de doen- P
térita da assistência médico-hospitalar ça e objeto de intervenção da medici-
brasileira. ‘Sistema’, entendido como o na; a saúde, tomada como medida de Q
conjunto de ações e instituições, que determinações sociais e perspectiva de
de forma ordenada e articulada con- conquista da igualdade, contrapõe-se R
tribuem para uma finalidade comum, ao estatuto de mercadoria assistencial
qual seja, a perspectiva de ruptura com que lhe é conferido pela ótica S
os esquemas assistenciais direcionados economicista, tal como definida na
a segmentos populacionais específicos, VIII Conferência Nacional de Saúde é
T
quer recortados segundo critérios “a resultante das condições de alimen-
socioeconômicos, quer definidos a par- tação, habitação, renda, meio ambien-
U
tir de fundamentos nosológicos. ‘Úni- te, trabalho, transporte, emprego, lazer,
V
co’ referido à unificação de dois siste- liberdade, acesso e posse da terra e
mas: o previdenciário e o do Ministé- acesso aos serviços de saúde”.
A
rio da Saúde e secretarias estaduais e
municipais de saúde, consubstanciada A
na incorporação do Instituto Nacio-
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Sistema Único de Saúde A
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Sistema Único de Saúde A
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Sistema Único de Saúde A
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SOCIABILIDADE NEOLIBERAL
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Sociabilidade Neoliberal A
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Sociabilidade Neoliberal A
devendo ser vir de base para o essenciais que deveriam ser difundidos C
ordenamento das sociedades e das con- nos processos educativos escolares e
dutas humanas. Isso possibilitaria que não-escolares: o individualismo como D
uma sociedade evitasse o massacre e o valor moral radical, o empreendedorismo
tolhimento do ser humano, permitin- e a competitividade.
E
do, assim, a expansão de todas as Embora essas idéias ainda
F
potencialidades do ser. permeiem o mundo de hoje, são as
Argumentava também que o in- formulações de Anthony Giddens
G
dividualismo não seria sinônimo de (1938 a ...), em seu esforço para siste-
egoísmo e desconsideração com o ou- matizar o projeto da ‘nova social-de- H
tro. Em sua visão, o egoísmo seria uma mocracia’ em nível mundial, que me-
qualidade humana ligada à própria di- lhor traduzem a sociabilidade I
mensão da razão. Considerando que os neoliberal no século XXI.
indivíduos teriam uma capacidade li- Considerando que a atual fase do N
mitada de absorver intelectualmente capitalismo privilegia a ‘libertação psi-
um conjunto de problemas, demandas cológica’ dos indivíduos das pressões O
e necessidades presentes no mundo, ou exercidas pelo mundo polarizado do
ainda de compreendê-los como uma passado e dos antagonismos entre ca- P
totalidade, Hayek acreditava que não pital-trabalho, o autor argumenta que
restaria outra opção a não ser valori- o individualismo configura-se como Q
zar a qualidade natural sem um estilo de vida sem retorno e deve
artificialismos. Nessa linha, os homens ser tomado como referência para re- R
se organizariam em pequenos grupos cuperar a coesão cívica que teria en-
para defender os interesses específicos trado em crise com as políticas S
e limitados, e nunca por interesses co- neoliberais de viés hayekiano.
letivos que pudessem representar mu- A grande tarefa para educar a so- T
danças substantivas na política e na ciabilidade no século XXI seria a eli-
economia. Na lógica hayekiana, os or- minação ou resignificação dos símbo- U
ganismos sindicais e partidários de los do passado, recriando, assim, a tra-
massa deveriam ser abolidos ou dição. Para Giddens, o mundo conti-
V
redefinidos, abandonando as bandei- nua reivindicando indivíduos empre-
A
ras de lutas mais gerais. endedores e competitivos, mas neces-
A sociabilidade neoliberal propos- sitaria também de indivíduos ‘colabo-
A
ta por Hayek abrangeria três aspectos radores’. Considerando que o Estado
367
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
368
Sociabilidade Neoliberal A
corrente do seu esforço (de sua capa- ________. A terceira via: reflexões sobre C
cidade empreendedora e competitiva) o impasse político atual e o futuro da social-
e que é possível promover o bem-co-
democracia. 4. ed. Rio de Janeiro: D
Record, 2001.
mum com ações voluntárias, indepen-
dentemente das condições KONDER, L. Os sofrimentos do homem E
burguês. São Paulo: Senac, 2000.
socioeconômicas e das relações de
MARTINS, A. S. Burguesia e a nova F
poder existentes.
sociabilidade: estratégias para educar o
consenso no Brasil contemporâneo. Tese de G
Doutorado. (Doutorado em
Para saber mais: Educação). Niterói: Universidade H
Federal Fluminense, 2007.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia I
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Pensadores). São Paulo: Abril, 1978. Castro e Costa. Introdução de Jacob N
HAYEK, F. von A. O caminho da servidão. Gorender. São Paulo: Moraes, 1984.
Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.
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PAULANI, L. Modernidade e discurso O
econômico. São Paulo: Boitempo, 2005.
GRAMSCI, A. Cader nos do cárcere.
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369
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SOCIEDADE CIVIL
Virgínia Fontes
370
Sociedade Civil A
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Sociedade Civil A
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Sociedade Civil A
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A
C
T D
TECNOLOGIA E
F
Gaudêncio Frigotto
G
Mais do que tratar da compre- ter-se tornado, nas atuais condições do
ensão etimológica ou do senso comum capitalismo, cada vez mais privatizada
H
do termo ‘tecnologia’, torna-se crucial, pelo capital e, conseqüentemente, mais
no atual contexto histórico do capita- excludente e destrutiva.
I
lismo, entendê-la como uma prática Vamos tratar, inicialmente, das di-
N
social cujo sentido e significado eco- ferentes acepções que assume o termo
nômico, político, social, cultural e edu- ‘tecnologia’ e a não necessária lineari-
O
cacional se definem dentro das relações dade entre ciência, técnica e ‘tec-
de poder entre as classes sociais. Isto nologia’. Em seguida, abordaremos a du- P
nos permite compreender porque a pla dimensão da ‘tecnologia’: sua
promessa iluminista do poder da ciên- dominante negatividade dentro do capi- Q
cia, técnica e ‘tecnologia’ – para liber- talismo hoje existente e sua virtualidade
tar o gênero humano da fome, do so- se liberada de sua concepção e uso como R
frimento e da miséria – não se cum- propriedade do capital.
priu para grande parte da humanidade Numa extensa obra sobre o con- S
e, no mesmo sentido, nos permite ceito de ‘tecnologia’ o filósofo brasi-
compreender o caráter mistificador e leiro Álvaro Vieira Pinto (2005) nos T
falso do determinismo tecnológico tão elucida a complexidade do tema e o
em voga atualmente na propalada so- desafio de apreender as diferentes me- U
ciedade globalizada e do conhecimen- diações e significados. Destaca, este
to. Da mesma forma, entender a autor, quatro sentidos mais usuais do V
‘tecnologia’ como uma prática social conceito de ‘tecnologia’. O primeiro e
nos permite, também, não cair no sen- mais geral é seu sentido etimológico: A
tido oposto mediante uma visão de ‘tecnologia’ como o ‘logos’ ou tratado
pura negatividade da ‘tecnologia’ por da técnica. Estariam englobados, nesta A
377
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
378
Tecnologia A
379
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
380
Tecnologia A
381
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
TECNOLOGIAS EM SAÚDE
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Tecnologias em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Tecnologias em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Tecnologias em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
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Tecnologias em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
390
Tecnologias em Saúde A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE
392
Territorizalização em Saúde A
393
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
394
Territorizalização em Saúde A
395
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
396
Territorizalização em Saúde A
397
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
398
Trabalho A
P
Q
TRABALHO
R
Gaudêncio Frigotto
S
T
Com a afirmação de que o traba- ria ao ser humano em qualquer tempo
lho é uma categoria ‘antidiluviana’, fa- histórico; e o trabalho assume formas U
zendo referência ao conto bíblico da históricas específicas nos diferentes
construção da arca de Noé, Marx nos modos de produção da existência hu- V
permite fazer, ao mesmo tempo, três mana. Estas distinções nos permitem
distinções em relação ao trabalho hu- tanto superar o senso comum e a i- A
mano: por ele, diferenciamo-nos do deologia que reduzem o trabalho hu-
reino animal; é uma condição necessá- mano à forma histórica que assume
A
399
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
400
Trabalho A
bém está implícito o sentido de pro- rica. O trabalho humano, como insiste C
priedade – intercâmbio material entre Kosik, não se separa da esfera da ne-
o ser humano e a natureza, para poder cessidade, mas, “ao mesmo tempo a D
manter a vida humana. Propriedade, no supera e cria nela os reais pressupos-
seu sentido ontológico, é o direito do tos da liberdade (...) A relação entre
E
ser humano, em relação e acordo soli- necessidade e liberdade é uma relação
F
dário com outros seres humanos, de historicamente condicionada e variá-
apropriar-se, transformar, criar e recriar vel” (Kosik, 1986, p. 188). É a partir
G
pelo trabalho – mediado pelo conheci- desta elementar constatação que per-
mento, ciência e tecnologia – a nature- cebemos a centralidade do trabalho H
za para produzir e reproduzir a sua exis- como práxis que possibilita criar e re-
tência em todas as dimensões anterior- criar, não apenas os meios de vida I
mente assinaladas. imediatos e imperativos, mas o mun-
Estas diferentes dimensões cir- do da arte e da cultura, linguagem e N
cunscrevem o trabalho humano na es- símbolos, o mundo humano como
fera da necessidade e da liberdade, sen- resposta às suas múltiplas e históri- O
do ambas inseparáveis. A primeira diz cas necessidades.
respeito a um quanto de dispêndio de O que acabamos de realçar nos P
tempo e de energia física e mental do permite demonstrar que as teses so-
ser humano, mediado por seu poder bre o fim do trabalho e uma vida Q
inventivo de novas técnicas e saltos dedicada puramente ao ócio não têm
qualitativos tecnológicos, para respon- o menor fundamento. É a mesma coi- R
der às necessidades básicas de sua re- sa que afirmar que a vida humana de-
produção biológica e preservação da sapareceu da face da Terra ou que to- S
vida num determinado tempo históri- dos os seres humanos se meta-
co. A segunda é definida pelo trabalho morfosearam em anjos e já não preci- T
na sua dimensão de possibilidade de sarão mais mover-se e buscar seus
dilatar as capacidades e qualidades mais meios de vida. Outra coisa é o desapa- U
especificamente humanas com o fim em recimento de formas históricas de
si mesmas (Manacorda, 1964, 1991). como o trabalho se efetiva nos dife-
V
Tempo livre de efetiva escolha, rentes modos sociais de produção da
A
gozo, fruição e criação, que não se con- existência humana.
funde com férias ou descanso de fim Tomado o trabalho humano em
A
de semana, mas uma conquista histó- concepção ontocriativa o mesmo se
401
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
402
Trabalho A
casa, carro, terra etc. –, da propriedade Uma mercadoria especial que os pro- C
privada, que é um capital utilizado para prietários dos meios e instrumentos
incorporar trabalhadores assalariados de produção (capitalistas) compram
D
que produzam para quem tem este ca- e gerenciam de tal sorte que o dis-
pital. A acumulação e o lucro, no capi-
E
pêndio da mesma pelo trabalhador,
talismo, como assinalamos anterior- no processo produtivo, pague o seu
F
mente, advém de uma relação valor de mercado (em forma de salá-
contratual da compra e venda da força rio ou meios de subsistência) e, além
G
de trabalho entre forças desiguais: disso, produza um valor excedente ou
quem detém capital e quem detém ape- mais-valia que é apropriado pelo H
nas sua força de trabalho. Estar de um comprador. O capital apropria-se
lado ou de outro não é uma questão priva-damente também da ciência I
de escolha, mas resultado de um pro- e da tecnologia e as incorpora ao
cesso histórico que precisa ser apreen- processo produtivo como traba- N
dido. A dificuldade de perceber a ex- lho objetivado (trabalho vivo do
ploração reside no fato de que o capi- trabalhador transformado em tra- O
tal compra o tempo de trabalho dos balho morto) com o fim de am-
trabalhadores numa transação e con- pliar o lucro como veremos no P
trato sob o pressuposto da igualdade e verbete ‘tecnologia’.
liberdade das partes. Na realidade, tra- Q
ta-se apenas de uma igualdade e liber- No plano da ideologia, a repre-
dade formal e aparente. Mesmo que sentação que se constrói é a de que R
venha sob os auspícios da legalidade o trabalhador ganha o que é justo
de um contrato, pela assimetria de po- pela sua produção, pois parte do S
der entre o capitalista e o trabalhador, pressuposto de que os capitalistas
constrangido a vender sua força-de-tra- (detentores de capital) e os trabalha- T
balho, materializa-se um processo de dores que vendem sua força de tra-
alienação – vale dizer, uma apropria- balho o fazem numa situação de
U
ção indevida, um roubo legalizado. igualdade e por livre escolha. Apa-
Com efeito, no modo de produ-
V
ga-se, portanto, o processo históri-
ção capitalista, o trabalho daqueles des- co que até o presente mantém o gê-
A
providos de propriedade de meios e nero humano cindido em classes de-
instrumentos de produção é reduzido siguais e que permite a exploração de
A
à sua dimensão de força-de-trabalho. uns sobre outros.
403
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
TRABALHO ABSTRATO E TRABALHO CONCRETO
404
Trabalho Abstrato e Trabalho Concreto A
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DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
406
Trabalho Abstrato e Trabalho Concreto A
407
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
Maria Ciavatta
408
Trabalho como Princípio Educativo A
contratado que é apropriado pelo dono mais elevada atividade humana e o nas- C
do capital. cimento das fábricas; ou a partir do
Historicamente, o ser humano século XVIII, se considerarmos o D
utiliza-se dos bens da natureza por in- industrialismo e a Revolução Industri-
termédio do trabalho e, assim, produz al nos seus primórdios na Inglaterra
E
os meios de sobrevivência e conheci- (De Decca, op. cit.; Iglesias, 1982).
F
mento. Posto a serviço de outrem, no Marx (1980) vai realizar o mais com-
entanto, nas formas sociais de domi- pleto estudo dos economistas que o
G
nação, o trabalho ganha um sentido precederam e a mais aguda crítica ao
ambivalente. É o caso das sociedades modo de produção capitalista e às con- H
antigas e suas formas ser vis e tradições implícitas nas relações entre
escravistas, e das sociedades modernas o trabalho e o capital. I
e contemporâneas capitalistas. As pa- Desenvolve os conceitos de va-
lavras trabalho, labor (inglês), travail (fran- lor de uso e de valor de troca presen- N
cês), arbeit (alemão), ponos (grego) têm tes na mercadoria. Os valores de uso
a mesma raiz de fadiga, pena, sofrimen- são os objetos produzidos para a sa- O
to, pobreza que ganham materialidade tisfação das necessidades humanas,
nas fábricas-conventos, fábricas-pri- como bens de subsistência e de con- P
sões, fábricas sem salário. A transfor- sumo pessoal e familiar. Definem-se
mação moderna do significado da pa- pela qualidade, são as diversas formas Q
lavra deu-lhe o sentido de positividade, de usar as coisas, de transformar os
como argumenta John Locke que des- objetos da natureza, gerando cultura R
cobre o trabalho como fonte de pro- e sociabilidade.
priedade; Adam Smith que o defende Mas os mesmos objetos, as mes- S
como fonte de toda a riqueza; e Karl mas mercadorias que têm uma existên-
Marx para quem o trabalho é fonte de cia histórica milenar, quando se tornam T
toda a produtividade e expressão da objeto de troca, quantidades que se
humanidade do ser humano (De equivalem a outras, tempo de trabalho U
Decca, 1985). que tem um equivalente em salário, in-
Em termos cronológicos, essa serem-se em relações sociais de outra
V
ambivalência do termo ganha forma a natureza. Criam-se vínculos de submis-
A
partir do século XVI, se considerarmos são e exploração do produtor e de do-
o Renascimento e a transformação do minação por parte de quem se apro-
A
sentido da palavra trabalho como a pria do produto e do tempo de traba-
409
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
lho excedente. Esse gera uma certa vação e sofrimento dos trabalhadores
quantidade de valor que vai propiciar e de seus filhos nos primórdios da Re-
a acumulação e a reprodução do capi- volução Industrial. Ainda hoje, em
tal investido inicialmente pelo capita- todo o mundo, milhões de trabalhado-
lista (Marx, op. cit., 1º. cap.). res são submetidos a salários de fome,
O fetiche da mercadoria, o seu ca- insuficientes para uma vida digna para
ráter misterioso, como diz Marx, pro- eles e suas famílias.
vém da própria forma de produzir va- No Brasil, diante da penúria e
lor. “A igualdade dos trabalhos huma- das más condições de vida e de traba-
nos fica disfarçada sob a forma da lho de operários e de trabalhadores do
igualdade dos produtos do trabalho campo, ao final da Ditadura civil-mili-
como valores; a medida, por meio da tar, nos anos 1980, foram muito dis-
duração, do dispêndio da força huma- cutidas as propostas da educação na
na do trabalho toma a forma de quan- Constituinte de 1988 e os termos da
tidade de valor dos produtos do traba- nova Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
lho; finalmente, as relações entre os cação (LDB). Os pesquisadores e edu-
produtores, nas quais se afirma o cará- cadores da área trabalho e educação
ter social de seus trabalhos, assumem tiveram de enfrentar uma questão fun-
a forma de relação social entre os pro- damental: se o trabalho pode ser
dutos do trabalho” (ibid., p. 80). alienante e embrutecedor, como pode
Essa separação do trabalhador ser princípio educativo, humanizador,
de seu próprio fazer é o que Marx de formação humana?
(2004) chamou de alienação (ou No entanto, desde o início do
estranhamento, dependendo da interpre- século XX, com a criação das Escolas
tação do tradutor do original alemão). de Aprendizes e Artífices em 1909,
O conceito veio a ser desenvolvido havia a evidência histórica da introdu-
posteriormente por autores marxistas ção do trabalho (das oficinas, do arte-
(dos quais citamos Meszáros, 1981; sanato, dos trabalhos manuais) em ins-
Antunes, 2004; Kohan, 2004; Lessa, tituições educacionais. E existia a ex-
2002). O fenômeno da alienação do periência socialista do início do mes-
trabalho e do trabalhador da riqueza mo século, introduzindo a educação
social que ele produz foi expresso e politécnica com o objetivo de forma-
criticado de forma contundente por ção humana em todos os seus aspec-
Marx ao analisar as condições de pri- tos, físico, mental, intelectual, prático,
410
Trabalho como Princípio Educativo A
laboral, estético, político, combinan- cívico”. Mas Marx faz dura crítica à C
do estudo e trabalho. burguesia por não assumir de forma
Vários autores se debruçaram radical e conseqüente a união instru- D
sobre o tema porque tratava-se de de- ção-trabalho (p.296).
fender uma educação que não tivesse O Manifesto Comunista (Marx,
E
apenas fins assistenciais, moralizantes, 1998) é claro quando recomenda: “edu-
F
como aquelas primeiras escolas. Tam- cação pública e gratuita para todas as
bém que não se limitasse a preparar crianças. Abolição do trabalho infantil
G
para o trabalho nas fábricas, a exem- nas fábricas na sua forma atual. Com-
plo da iniciativa do Sistema Nacional binação da educação com a produção H
de Aprendizagem Industrial (Senai), material etc.” (p. 31). Em O Capital,
criado no governo de Getúlio Vargas, Marx (1980), explicita a idéia de edu- I
em 1943. Criticava-se, ainda, o cação politécnica ou tecnológica: “Do
tecnicismo voltado ao mercado de tra- sistema fabril, como expõe N
balho, a adoção do industrialismo pelo pormenorizadamente Robert Owen,
sistema das Escolas Técnicas Federais, brotou o germe da educação do futu- O
criado no mesmo período Vargas. ro que combinará o trabalho produti-
De outra parte, a idéia de edu- vo de todos os meninos além de uma P
cação politécnica sofria ataques por sua certa idade com o ensino e a ginástica,
inspiração socialista, implantada pelo constituindo-se em método de elevar Q
regime comunista da Revolução Russa a produção social e de único meio de
de 1917 que, tendo por base a obra de produzir seres humanos plenamente R
Marx, buscava a combinação da ins- desenvolvidos” (p. 554).
trução e do trabalho. Segundo Assim sendo, a discussão sobre S
Manacorda (1989), o marxismo reco- o trabalho como princípio educativo
nhece a “função civilizadora do capi- esteve associada à discussão sobre a T
tal”; não rejeita, antes aceita “as con- politecnia e sua viabilidade social e
quistas ideais e práticas da burguesia política no país. Historicamente, como U
no campo da instrução ...: universali- demonstra a análise de Fonseca (1986),
dade, laicidade, estatalidade, gratuidade, sempre predominou o conser-
V
renovação cultural, assunção da vadorismo das elites, reservando para
A
temática do trabalho, como também a si a formação literária e científica. Para
compreensão dos aspectos literário, os trabalhadores prevaleceu a oferta de
A
intelectual, moral, físico, industrial e educação elementar e não univer-
411
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
412
Trabalho como Princípio Educativo A
413
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
414
Trabalho Complexo A
O
TRABALHO COMPLEXO
P
S
Conceito formulado por Karl lho simples, caracteriza-se por ser de
Marx, no volume 1 de O Capital, em natureza especializada, ou seja, que re- T
1867, como par do conceito trabalho quer maior dispêndio de tempo de for-
simples. Ambos os conceitos se refe- mação. U
rem à divisão social do trabalho que Na forma particular que assume
existe em qualquer sociedade, mudan- o processo de trabalho e de produção V
do de caráter de acordo com os países no capitalismo, o ‘trabalho complexo’
e os estágios de civilização e, portanto, é ao mesmo tempo produção de valor A
historicamente determinado. O ‘traba- de uso e produção de valor. Como pro-
lho complexo’, ao contrário do traba- dutor de valor de uso, o ‘trabalho A
415
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
416
Trabalho Complexo A
417
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
las técnicas de nível médio. Por sua vez, lares, essa formação, seguindo a ten-
a formação científica passa a ser ofe- dência geral, também se diversificou
recida em instituições de ensino horizontal e verticalmente. Hoje, com
superior que progressivamente se as mudanças técnicas e ético-políticas
diversificam tanto horizontal quanto na organização do trabalho em saúde,
verticalmente. A diversificação hori- cria-se uma formação tecnológica de
zontal corresponde ao aumento de nível superior (tecnólogos em saúde),
cursos e de especialidades. A diversifi- de curta duração, que vem-se expan-
cação vertical se refere à hierarquização dindo, de forma acelerada, majoritari-
em graus dos cursos superiores. amente na rede privada de ensino.
Hoje, sob a direção do capital, rea-
lizam-se mudanças qualitativas na forma-
ção do ‘trabalho complexo’ com vistas a Para saber mais:
adequar suas instituições formadoras aos
requisitos da nova base técnica do traba- ALMEIDA, M. C. P. de. O Saber de
Enfermagem e sua Dimensão Prática. São
lho, das novas demandas do processo de
Paulo: Cortez, 1986.
acumulação capitalista e da
CAMPELLO, A. M. For mação de
inserção do país na nova divisão inter-
Tecnólogos em Saúde no Brasil: situação
nacional do trabalho. Essas mudanças atual e tendências. Rio de Janeiro:
tendem, de um lado, à homogeneização Fundação Oswaldo Cr uz/EPSJV,
do patamar mínimo de escolarização para 2006 (Mimeo – Relatório parcial de
pesquisa)
o ‘trabalho complexo’ no nível superior
de ensino e, de outro lado, ao surgimento MARX, K. O Capital: crítica da economia
política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
de cursos de mais curta 1988. (Livro Primeiro, v. 1)
duração (cursos seqüenciais para a for-
NAVILLE, P. Essai sur la Qualification
mação científica e cursos de tecnólogos du Travail. Paris: Librairie Marcel
para a formação tecnológica). Rivière et Cie., 1956.
A formação do ‘trabalho comple- NEVES, L. M. W. A Hora e a Vez da
xo’ na área de saúde no Brasil já vinha- Escola Pública? Um Estudo sobr e os
se desenvolvendo no nível superior de Determinantes da Política Educacional do
ensino desde os anos 20 do século pas- Brasil de hoje, 1991. Tese de Doutorado,
Rio de Janeiro: Faculdade de
sado. Com o desenvolvimento da ur- Educação/Centro de Filosofia e
banização, da industrialização e da ex- Ciências Humanas/Universidade
pansão dos serviços médicos hospita- Federal do Rio de Janeiro.
418
Trabalho em Equipe A
F
Ver: Trabalho Abstrato e Trabalho Concreto.
G
###########################################
H
TRABALHO EM EQUIPE
I
Marina Peduzzi
N
O
Gênese do conceito finalidade do trabalho e introdução de
novos instrumentos e tecnologias. P
No campo da saúde o ‘trabalho No processo de emergência da
em equipe’ emerge em um contexto medicina preventiva, nos anos 50, nos Q
formado por três vertentes: 1) A no- EUA, propõe-se um projeto de mu-
ção de integração, que constitui um danças da prática médica, com uma R
conceito estratégico do movimento da redefinição radical do papel do médi-
medicina preventiva nos anos 50, da co, incorporando, pela primeira vez, em S
medicina comunitária nos anos 60 e propostas curriculares de ensino de
dos programas de extensão de cober- graduação, a idéia de trabalho em equi- T
tura implantados no Brasil nos anos pe multiprofissional liderada pelo mé-
70; 2) As mudanças da abordagem de dico (Arouca, 2003; Silva, 2003). Além U
saúde e de doença que transitam entre da integração da medicina preventiva
as concepções da unicausalidade e da às demais especialidades, este movi- V
multicausalidade; 3) As conseqüentes mento adota um novo conceito de saú-
alterações nos processos de trabalho de e doença, no qual a saúde é um es- A
com base na busca de ampliação dos tado relativo e dinâmico de equilíbrio
objetos de intervenção, redefinição da e a doença é um processo de interação A
419
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
420
Trabalho em Equipe A
ção quantitativa dos serviços com a in- lhor relação custo-benefício do traba- C
corporação crescente da população. lho médico e ampliar o acesso e a co-
A medicina comunitária emerge e bertura da população atendida, mas D
se difunde como parte do processo de também responde à necessidade de
extensão da prática médica e de con- integração das disciplinas e das pro-
E
trole dos custos e configura como ob- fissões entendida como imprescin-
F
jeto de intervenção as categorias soci- dível para o desenvolvimento das
ais até então excluídas da atenção à saú- práticas de saúde a partir da nova
G
de, “a pobreza constitui, por excelên- concepção biopsicossocial do pro-
cia, o objeto atribuído à medicina atra- cesso saúde-doença. H
vés desse novo projeto” (Donnangelo
& Pereira, 1976, p. 72). Por outro lado, I
essa extensão requer uma nova Seu desenvolvimento
estruturação dos elementos que com- histórico N
põem a prática médica, sobretudo uma
forma distinta de utilização do traba- As mudanças nas políticas de saú- O
lho médico, o que se fará através da de, nos modelos assistências e nas po-
incorporação do trabalho auxiliar de líticas de recursos humanos em saúde P
outras categorias profissionais, confi- influenciaram o desenvolvimento da
gurando uma prática complementar e concepção de ‘trabalho em equipe’. Q
interdependente entre os distintos tra- Desde meados dos anos 70, o de-
balhadores de saúde. O processo de bate em torno das políticas de saúde e R
divisão de trabalho por meio do qual se de recursos humanos, considerando o
dá essa distribuição de tarefas ocorre no perfil de necessidade de saúde da po- S
interior de um processo social de mu- pulação brasileira, apontava a crítica à
danças da concepção de saúde e doen- formação especializada e curativa dos T
ça, já referido anteriormente, que é acom- profissionais de saúde e a necessidade
panhado de alterações introduzidas nos de incentivar a utilização de métodos U
processos de trabalho e no modelo que estimulassem a atuação
assistencial. multiprofissional. Também assinala-
V
Portanto, o ‘trabalho em equipe’ vam o problema da predominância de
A
não tem na sua origem apenas o cará- pessoal de nível superior, em particu-
ter de racionalização da assistência lar de médicos, e de pessoal sem quali-
A
médica, no sentido de garantir a me- ficação técnica formal, configurando a
421
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
422
Trabalho em Equipe A
423
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
424
Trabalho em Equipe A
425
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
426
Trabalho em Saúde A
C
TRABALHO EM SAÚDE
D
Emerson Elias Merhy
Túlio Batista Franco E
F
O trabalho ato do trabalho funciona como uma
escola: mexe com a nossa forma de pen- G
Toda atividade humana é um ato sar e de agir no mundo. Formamo-nos,
produtivo, modifica alguma coisa e basicamente, no trabalho. H
produz algo novo. Os homens e mu- Há autores, como Karl Marx, que
lheres, durante toda a sua história, dizem que o trabalho é a essência da I
através dos tempos, estiveram ligados, humanidade dos homens, ou como
de um modo ou outro, a atos produ- Paulo Freire, que afirmam que a cultu- N
tivos, mudando a natureza. Quando ra é dada pela forma como trabalhamos
eles tiram um fruto de uma árvore, o mundo, para que possa fazer sentido O
ou caçam um animal, estão fazendo para nós. Quando caçávamos animais,
um ato produtivo e transformando a estávamos dizendo que os animais es- P
natureza. O fruto fora da árvore ou o tavam aí para serem nossos alimentos,
animal caçado só existem, agora, pelo dávamos este sentido de existência para Q
ato produtivo desses homens e mu- eles. Hoje, é assim também. Quando
lheres. Isso é uma transformação da tiramos árvores para fazer madeira, R
natureza pelo trabalho humano. estamos dizendo que as árvores são
Homens e mulheres vivem em importantes por serem fontes de ma- S
sociedade, sempre em coletivos, juntos. téria-prima: o carvão para fazer fogo,
Os seus trabalhos também se realizam a madeira para fazer casa ou móveis,
T
em conjunto; são atividades organiza- entre outros.
U
das uma com as outras. O trabalho de Mas, ainda bem, que estes senti-
um se organiza junto ao do outro. E, o dos não são fixos. Variam conforme a
V
modo como o trabalho se organiza e sociedade, as necessidades e os inte-
para que ele serve é importante para resses que nós construímos em cada
A
entendermos a sociedade que vivemos. época. Interesses que são muito varia-
Ao trabalharmos, todos nós, modifica- dos e que, muitas vezes, brigam entre A
mos a natureza e nos modificamos. O si. Por exemplo, muitos de nós defen-
427
DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE
dem que árvores, hoje, não são fonte que outro trabalhador produziu. Ago-
de madeira, mas seres vivos importan- ra, o que aparece é o seu ‘valor de tro-
tes que contribuem de modo funda- ca’. Nas sociedades, o modo como es-
mental para manter a vida em geral, na tes dois componentes se comportam
Terra. As sociedades e as formas de varia.
organização do trabalho, portanto, têm Nas sociedades capitalistas, o pro-
história. Variam no tempo, modificam- duto do trabalho do trabalhador é do
se assim como nós. patrão ou da empresa que o emprega.
A sociedade em que vivemos, Ele só recebe um salário por trabalhar
hoje, a capitalista, existe de alguns sé- e não pelos produtos que produz. A
culos para cá. Antes dela, outras for- riqueza da sociedade, se medida pela
mas de organização social e de traba- quantidade de trabalho e de produtos
lho existiram, como, por exemplo, as que o trabalho produz, é desigualmente
sociedades de senhores e escravos, as distribuída. Quem trabalha, como re-
dos reis e dos servos, entre outras. O gra, é quem menos recebe da riqueza
modo como o trabalho é realizado e o produzida. Assim, o trabalho do tra-
que se faz com seus produtos variam balhador serve para produzir produ-
conforme a sociedade que estamos tos que tenham ‘valores de troca’ para
analisando. Nas sociedades de caça e o patrão.
coleta, o trabalho é propriedade de cada Há sociedades modernas, como
um, e o produto do trabalho pertence as socialistas, que defendem que a ri-
a quem o faz. Nas sociedades de se- queza é de toda a sociedade e que a
nhores e escravos, o trabalho do es- sua distribuição deve ser feita de acor-
cravo pertence ao senhor. do com o trabalho e a necessidade de
Dizemos que o trabalho é produ- cada um.
tor de ‘valores de uso’ e de ‘valores de
troca’. Conforme a necessidade que
procura satisfazer, o trabalho produz O trabalho e alguns
um produto que carrega um certo ‘va- de seus detalhes nos
lor de uso’, por exemplo, a caça serve microprocessos
para alimentar satisfazendo esta neces-
sidade; por outro lado, se caço para tro- O objeto do trabalho – o animal
car por uma fruta, a utilidade dele ago- a ser caçado, a planta a ser colhida, o
ra é de ser trocado por outro produto aço a ser trabalhado – vai adquirir sen-
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Trabalho em Saúde A
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Trabalho em Saúde A
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Trabalho Imaterial A
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TRABALHO IMATERIAL
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Sérgio Lessa
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Trabalho Imaterial A
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Trabalho Imaterial A
cia imutável e cotidiano mutável, his- ções postas no mundo pela atividade C
tórico, resultou, sem qualquer exceção, humana. A matéria do ser social se dis-
na justificativa da exploração do ho- tingue da matéria natural não porque D
mem pelo homem. Foi assim com não seja material, mas porque
Aristóteles, com Agostinho e São To- consubstancia uma matéria cuja repro-
E
más, com os modernos (de Hobbes aos dução requer a mediação da consciên-
F
Iluministas) e até mesmo em Hegel. cia, cuja continuidade tem na consci-
Romper com tal dualidade, por- ência seu ‘médium’ e seu ‘órgão’, no
G
tanto, é fundamental para Marx argu- dizer de Lukács (1981, p. 184, 351, 59-
mentar sua proposta revolucionária. O 60 entre muitas outras passagens). H
que requer, por sua vez, a elaboração A consciência humana para Marx,
de uma nova concepção materialista Engels e Lukács nada mais é do que a I
que articula todos os fenômenos, do forma mais tardia e desenvolvida da
inorgânico ao ser social, passando pela matéria: do desenvolvimento da maté- N
vida, em um mesmo estatuto ria inorgânica temos o salto ontológico
ontológico. É assim que, para Marx, que marca o surgimento da vida, isto O
todo o existente são formas distintas é, uma nova organização da matéria
da matéria. O ‘imaterial’ é rigorosamen- que possui como essência a reprodu- P
te o inexistente. O pensamento do in- ção biológica; analogamente, o desen-
divíduo, a pedra assim como a casa feita volvimento da vida possibilita o salto Q
desta pedra, tudo para Marx é matéria. ontológico para a sociabilidade, uma
O que não é matéria é inexistente. Ou, nova forma de matéria fundada pelo R
se quiserem, o inexistente é imaterial. trabalho. Por isso, o trabalho ao fazer
Novamente a descoberta do tra- a mediação entre o homem e nature- S
balho como categoria fundante do ser za, é fundante do ser social: é nele que
social joga aqui um papel decisivo na a essência da nova esfera de ser se T
elaboração de Marx dessa nova con- manifesta por completo originariamen-
cepção ontológica: é o trabalho que, te, isto é, se manifesta pela primeira vez U
ao mediar entre a matéria natural (o ser a capacidade de ao transformar a na-
orgânico e inorgânico) e o ser social, tureza transformar-se também a natu-
V
possibilita que os humanos desenvol- reza dos humanos.
A
vam ao longo do tempo uma nova es- Trabalho, como categoria
fera ontológica. Isso é, uma nova esfe- fundante, concepção unitária do ser
A
ra material que é composta por cria- (rompimento com a dualidade espíri-
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Trabalho Imaterial A
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TRABALHO PRESCRITO
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Trabalho Prescrito A
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Trabalho Prescrito A
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Trabalho Produtivo e Improdutivo A
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Sérgio Lessa
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No início do período moderno, como cobrar os juros e os preços. To-
a burguesia nascente sabia como ‘fa- davia, não conseguia ainda entender A
zer negócios’, isto é, como retirar lu- muitas das ‘leis do mercado’; não com-
cro de suas trocas mercantis; sabia preendia, acima de tudo, de onde pro- A
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capital pela exploração de alguns ser- outro: não houve a produção de ne-
viços (nem todos os serviços, eviden- nhum novo quantum de riqueza, nem
temente). O exemplo de Marx é o do o capital social total se ampliou.
professor em uma escola privada Houve, apenas, a conversão da rique-
(Marx, 1985). Outros muitos exemplos za que já existia sob a forma de di-
podem ser dados, inclusive os dos pro- nheiro no bolso dos pais dos alunos
fissionais da saúde que trabalham nos na riqueza sob a forma de capital no
planos de saúde e hospitais privados. cofre do burguês. Esse é o exemplo
Nessa esfera, temos a geração da mais- clássico da geração de mais-valia sem
valia ao o capital vender o serviço por a ‘produção’ do capital.
um valor maior do que o valor da for- De onde, todavia, se originou esse
ça de trabalho empregada: o preço da dinheiro que estava no bolso dos pais
aula que os pais pagam é muito supe- dos alunos? Sempre do trabalho pro-
rior ao valor da hora-aula do salário do letariado, o que varia apenas é a me-
professor, etc. Nisso, as coisas são aná- diação. Se o pai do aluno for um bur-
logas ao que encontramos no trabalho guês que expropria diretamente os ope-
proletário. A distinção fundamental rários, veio da riqueza produzida por
está na função social que exercem tais estes últimos. Se ele for um burguês
trabalhadores produtivos não operári- do comércio e dos bancos, veio da
os: eles geram mais-valia, eles ‘valori- mais-valia produzida pelos operários,
zam’ o capital e, todavia, não ‘produ- como veremos logo abaixo. Se ele for
zem’ capital. O montante de mensali- um assalariado não-proletário da indús-
dades que os pais pagam ao burguês tria, ou um assalariado dos bancos ou
dono da “fábrica de ensinar” (Marx, do comércio, a riqueza que é converti-
1983, p.106) é idêntico à soma da mais- da em seu salário também advém da
valia apropriada pelo patrão acrescida riqueza produzida pelos proletários. O
dos salários e dos custos de manuten- mesmo ocorre com o funcionário pú-
ção da escola (incluindo as propinas blico, pela mediação dos impostos.
aos funcionários públicos, etc.). O di- Portanto, a origem de toda a riqueza
nheiro (isto é, a riqueza empregada para sob a forma de dinheiro presente na
as despesas pessoais) dos pais dos alu- sociedade é o trabalho proletário.
nos se transfere para o cofre do bur- O trabalho produtivo de mais-va-
guês. O que os pais dos alunos perde- lia exerce, portanto, duas funções so-
ram de um lado, o burguês ganhou de ciais distintas: o trabalho proletário
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Trabalho Real A
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Como uma primeira definição de que lhe(s) foram prescritos. A parte
‘trabalho real’ (‘atividade’), pode-se di- obser vável da atividade (o S
zer que é aquilo que é posto em jogo comportamental) é apenas um de seus
pelo(s) trabalhador(es) para realizar o aspectos, pois os processos que geram T
trabalho prescrito (tarefa). Logo, tra- a produção deste comportamento não
ta-se de uma resposta às imposições são diretamente observáveis. U
determinadas externamente, que são, O esforço conceitual sinalizado na
ao mesmo tempo, apreendidas e mo- expressão ‘trabalho real’ está vincula- V
dificadas pela ação do próprio traba- do ao pressuposto de que as prescri-
lhador. Desenvolve-se em função ções são recursos incompletos, isto é, A
dos objetivos fixados pelo(s) que desde a sua concepção elas não são
trabalhador(es) a partir dos objetivos capazes de contemplar todas as situa- A
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TRABALHO SIMPLES
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UNIVERSALIDADE E
F
Gustavo Corrêa Matta
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A universalidade tem sido consi- Estado liberal nas constituições ingle-
derada na ciência política como uma sa e francesa no século XVIII. Os prin-
H
noção relacionada ao campo do direi- cipais filósofos a defender direitos que
I
to, mais especificamente ao campo dos não dependem da cidadania, da fé ou
direitos humanos. Ou seja, os direitos da ação do Estado, ou seja, como di-
N
que são comuns a todas as pessoas, reito natural, foram Thomas Hobbes,
como um direito positivo que visa à John Locke e Jean-Jacques Rousseau e O
manutenção da vida individual e social seus trabalhos sobre o chamado ‘con-
no mundo moderno. Na saúde, a uni- trato social’. Essa discussão parte da P
versalidade tem sido uma bandeira das necessidade de rever as relações políti-
lutas populares que a reivindicam como cas na Europa, até então dominadas Q
um direito humano e um dever do pela monarquia e pelo clero, e pela ex-
Estado na sua efetivação. Constitui-se pansão européia no continente ameri- R
como um dos princípios fundamentais cano, enfocando uma concepção libe-
do Sistema Único de Saúde (SUS) e está ral das relações sociais e do direito à S
inscrita na Constituição Federal brasi- propriedade (Bobbio et al., 2004).
leira desde 1988. A defesa do direito às liberdades T
A discussão em torno da univer- individuais, políticas e econômicas fo-
salidade como um conjunto de direi- ram fundamentais para a expansão e U
tos inerentes a todas as pessoas, seja consolidação do capitalismo na Euro-
no interior do aparelho estatal nacio- pa que, desta forma, eram concebidas V
nal ou comum a todos os seres huma- como naturais e protegidas pelo cha-
nos independente de nacionalidade, mado Estado de direito, principalmen- A
apesar de remontar à filosofia política te durante o século XIX. A tensão en-
do século XVII, tornou-se pauta do tre liberdade e intervenção do Estado A
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Universalidade A
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VIGILÂNCIA EM SAÚDE E
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Maurício Monken
Carlos Batistella
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Vigilância em Saúde A
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