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UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS
COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM
PUBLICIDADE E PROPAGANDA
Salvador
Dezembro de 2013
Salvador
Dezembro de 2013
________________________________________
Vanessa Brasil Campos Rodríguez (Orientadora) - UNIFACS
_________________________________________
Paula Corrêa Menezes Leitão - UNIFACS
_________________________________________
Ederval Marques Miranda - UNIFACS
Ao acaso,
Pelo suor e pela sorte.
AGRADECIMENTOS
Oriente
Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração
Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação
Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do Sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão
Gilberto Gil
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
F. 1
..................................................................................................................................
81
F. 2
..................................................................................................................................
81
F. 3
..................................................................................................................................
81
F. 4
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82
F. 5
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F. 6
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83
F. 7
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83
F. 8
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83
F. 9
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84
F. 10
...............................................................................................................................
86
F. 11
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86
F. 12
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88
F. 13
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88
F. 14
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88
F. 15
...............................................................................................................................
89
F. 16
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92
F. 17
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93
F. 18
...............................................................................................................................
93
F. 19
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95
F. 20 – Detalhe da mão
................................................................................................
95
F. 21
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96
F. 22
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97
F. 23
...............................................................................................................................
97
F. 24
...............................................................................................................................
98
F. 25
...............................................................................................................................
98
F. 26
.............................................................................................................................
101
F. 27
.............................................................................................................................
102
F. 28
.............................................................................................................................
102
F. 29
.............................................................................................................................
103
F. 30
.............................................................................................................................
103
F. 31
.............................................................................................................................
105
F. 32
.............................................................................................................................
107
F. 33
.............................................................................................................................
107
F. 34
.............................................................................................................................
109
F. 35
.............................................................................................................................
109
F. 36
.............................................................................................................................
110
F. 37
.............................................................................................................................
110
F. 38
.............................................................................................................................
110
F. 39
.............................................................................................................................
111
F. 40
.............................................................................................................................
111
F. 41
.............................................................................................................................
112
F. 42
.............................................................................................................................
112
F. 43
.............................................................................................................................
113
F. 44
.............................................................................................................................
113
F. 45
.............................................................................................................................
113
F. 46
.............................................................................................................................
114
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 16
3 ESCAPISMO. ............................................................................................ 23
4.9 Tudo o que você queria saber sobre sexo (...) ............................. 55
1 INTRODUÇÃO
1
Cineasta inglês (1899-1980) conhecido por Psicose (Psycho, 1960) e A Janela Indiscreta
(Rear Window, 1954) entre outros.
Um olho que clama por ver cada vez mais, que penetra lugares
nunca antes penetrados, que vai além do visível, descobre-se no
umbral do sexo e da morte. Imagens pornográficas, sexo explícito e
corpos em putrefação sobre a mesa são oferecidos aos olhos
ávidos dos sujeitos diante das telas. (RODRÍGUEZ, 2003, p.65)
3 ESCAPISMO.
“Não podemos pular para fora deste mundo” (FREUD, 1996, p.74). Em
seu livro O Mal estar na civilização (Das Unbehagen in der Kultur, 1930),
Freud aponta que esta afirmação trata de “um sentimento de um vínculo
indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um todo” (FREUD, 1996,
p.76). Este mundo exterior é percebido através, inicialmente, do seio da mãe
que só reaparece por meio do choro, e posteriormente, pelas “frequentes,
múltiplas e inevitáveis sensações de sofrimento e desprazer, cujo
afastamento e cuja fuga são impostos pelo princípio do prazer2, no exercício
de seu irrestrito domínio.” (FREUD, 1996, p.76). A busca pelo prazer tende a
isolar o ego das possíveis fontes de desprazer, consolidando a ideia de um
exterior estranho e ameaçador. Porém, o autor afirma que “certos sofrimentos
que se procura extirpar, mostram-se inseparáveis do ego por causa de sua
origem interna.” (FREUD, 1996, p.76). Portanto, Freud afirma que primeiro o
ego “inclui” tudo para depois separar de si o mundo externo.
Freud, ao citar Theodor Fontane3, escreve
(FREUD, 1996, p.83), dando o exemplo de Voltaire que apontava dois tipos
derivativos: a cultivação de um jardim próprio e a atividade científica. As
satisfações substitutivas, diminuem a desgraça. Elas são “oferecidas pela
arte, são ilusões em contraste com a realidade.” (FREUD, 1996, p.83), como
se a fantasia assumisse a vida real. Por fim, as substâncias tóxicas que
“influenciam nosso corpo e alteram a sua química.” (FREUD, 1996, p.83).
3.2.1 Terra
Tuan (1998) discorre que “escapismo” é uma palavra que tem uma
conotação negativa em muitas sociedades e indica uma incapacidade de lidar
com fatos do mundo real. Uma maneira de ilustrar essa tendência do ser
humano de escapar em comparação com o mundo animal é a inclinação do
mesmo de fechar os olhos diante do perigo esperando que este passe, ao
invés de manter seus olhos bem abertos e músculos tencionados para um
possível embate. Este escape, baseado no pensamento positivo, é único e
cabível somente à humanidade e é também um argumento fundamental para
a definição de cultura dada pelo autor. Para ele, cultura é a união dos hábitos
adquiridos com o tempo, da criação e o uso de ferramentas, do mundo dos
pensamentos, das crenças e dos costumes, todos vinculados à tendência dos
humanos de não conseguirem encarar os fatos. Ele aprofunda seu
argumento ao definir o ser humano como “um animal congenitamente
indisposto a aceitar a realidade tal como ela é.” (Tuan, 1998, p.6, tradução
nossa), cabendo a ele a habilidade de se transformar de acordo com um
plano preconcebido, o que lhe dá capacidade de ver aquilo que quer alcançar
antes mesmo de sua execução. Para Tuan, este ato de “ver” o que não está
desta vez, o escape – “de volta para a natureza” (TUAN, 1998, p.17,
Tradução nossa)
tudo aquilo que faz parte de uma construção mental, cabendo a essa
edificação tudo aquilo que é percebido e significado, enquanto que à
natureza resta somente aquilo que é completamente desconhecido. A partir
desta percepção, pode-se afirmar que cultura está em toda a parte. Contudo,
distante de se sentir triunfante, os homens e mulheres da atualidade se
sentem órfãos. Uma realidade que é apenas um mundo (em inglês, no
original, World, derivado da palavra wer, do inglês antigo, que significa
homem) aparenta ser irreal. A partir deste pensamento, o autor encontra-se
em uma encruzilhada: enquanto argumenta que o real é aquilo que causa
impacto, que não tem definição e que é natural, ele aponta que o oposto
aparenta ser ainda mais real. O que é cultural aparenta ser mais do que algo
feito pelos homens, é como fruto de um ato divino, transformando, assim, a
cidade em algo mais real que a floresta, o poema mais real que o sentimento
e o ritual mais real do que o cotidiano. Isso ocorre, de tal forma, que essas
construções passam a ser indícios de uma lucidez. Sendo assim, aquilo que
se analisa sobre algo ocorrido aparenta ser mais real do que a experiência
em si e através dessa racionalização se escapa para o real. Shakespeare
apud Tuan ratifica em Como gostais (As you like it, 1623) “sopros e brisas [de
vento] sobre meu corpo... comoventemente induzem-me ao que sou”.
3.2.2 Animalidade
4
Grifo do autor
como filtro. Ao mesmo tempo que pode ser visto como algo que dá sentido à
vida, também pode ser uma assombração que obscurece uma vida inteira.
5
Expressão latina que significa algo como "Lembre-se de que você é mortal".
dores agonizantes, uma pessoa pode querer escapar para a morte, sendo o
fim da vida um alivio. Também é possível ter a percepção de que a morte é
uma forma de agregar um valor infinito à vida, levando em consideração que
viver uma eternidade inteira seria enfadonho. Por fim ele argumenta que a
morte traz a certeza que nenhuma pessoa maléfica viverá para sempre.
Talvez, pondera Tuan (1998), o maior medo entre os humanos seja a
da inexistência. Onde a morte não é nenhuma forma de sonho, mas sim a
não existência completa. Levando ao extremo do pensamento, argumenta-se
que é melhor viver em dor do que não existir. Uma forma de escape desta
aniquilação se manifesta no conceito de céu e inferno. A existência de um
lugar após a morte é um trabalho de imaginação que não encontra uma
definição absoluta, porém sempre se relaciona com o mundo terreno que se
vive. O autor cita o Alcorão6 como exemplo: “Os benditos reclinar-se-ão em
sofás macios, serão servidos em cálices abastecidos em fontes... e sentar-
se-ão com tímidas virgens de olhos castanhos”(TUAN, 1998, p.72, Tradução
nossa).
Os avanços tecnológicos, segundo Tuan (1998) e as tentativas de
estender a longevidade dos indivíduos configuram, não só uma tentativa de
escape da morte pela imortalidade, mas também busca encontrar um escape
biológico que nega as dores e os odores animais que acompanham e
condicionam a vida humana.
3.2.3 Pessoas
6
Livro sagrado islâmico.
3.2.3.2.1 A guerra
3.2.3.2.2 A identificação
3.2.4 Inferno
em inglês) dando a entender que muito da vida seria a busca por bens
materiais. Porém, questiona o autor, o indivíduo, por mais que esteja imerso
em abundâncias, se está isolado, está vulnerável. Portanto, a segurança
pode ser encontrada a partir da participação em um grupo onde a ajuda é
mútua e o indivíduo se mantém anônimo ou pelo caminho oposto, onde
através do poder e do prestígio, alcança o apoio de um grupo, que por
acreditar que ele é importante, garante sua segurança. “O prestígio é medido
em o quanto acima (da vida animal) uma pessoa consegue alcançar.” (TUAN,
1998, p.114, Tradução nossa).
3.2.4.2 Os monstros
3.2.4.3 Crueldade
Tuan (1998) aponta toda criatura viva como destrutiva por natureza, já
que, para se manter vivo, precisa ingerir algo. Porém, os seres humanos
levam a destruição um pouco além. Suas habilidades permitem transformar
um ovo em uma omelete, uma floresta em livros, terra em edifícios e muito
mais. Todavia, existe uma atração pela destruição que vai além do prazer de
ver algo se transformar. Existe uma sedutora afirmação de poder. O autor
ressalta que a crueldade não está entre os sete pecados capitais, o que para
os tempos atuais, é aparentemente uma grande omissão. Porém, ele
argumenta que o cruel é resultado de uma falta de refinamento, falta de algo
que tire a essência “crua” da ação de crueldade. Ele aponta as ações de
crianças como exemplo desta falta de refinamento, onde não há intenção de
crueldade quando se enfia o anzol em uma minhoca e a joga na água para
usá-la como isca. Mas, já que comer é preciso, mesmo alcançando o
refinamento com o tempo, ainda sim é necessário sacrificar as minhocas de
forma cruel para que se adquira comida.
Porém uma criança que, ao invés de usar uma minhoca como isca,
brinca arrancando as pernas de um gafanhoto, é comparada pelo autor
(TUAN, 1998) como alguém que busca a afirmação de poder. Esta afirmação
de poder, que existe em todas as sociedades, tanto entre os seus membros
3.2.4.4 Submissão
8
Entre os anos 1500 e 1700 os anões eram usados em dúzias como bichos de estimação.
Eles eram bem alimentados, vestidos e passados de colo em colo para a diversão de seus
donos.
3.2.5 Céu
9
Cineasta, ator, produtor e roteirista. Dirigiu Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) dentre
outros. (1915-1985)
reducionismo da ciência, onde, para entender algo, se exclui tudo aquilo que
não é relevante, por exemplo, a afirmação de que uma mesa nada mais é do
que um amontoado de átomos, como uma maneira de acabar com os
mistérios dos detalhes da vida.
12
Filósofo da Grécia Antiga, o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. (624 a.C –
546 a.C)
13
Os Tráicos foram um povo indo-europeu, habitante da Trácia.
Colombani (2010) conta que O nome “Allen” foi escolhido por ser a
forma mais comum de se escrever Allan e “Woody” foi decidido de forma
arbitrária. Lax (2010) explica que o estudante fazia todos os dias uma viagem
ao centro de Manhattan para escrever piadas por três horas ganhando o
equivalente a 20 dólares (o que na época era bom). Colombani (2010)
complementa que Allan chegou a estudar na Universidade de Nova York,
mas em menos de dois anos desistiu, para o descontentamento de seus pais.
Nesse período, um grande evento aconteceu em sua vida: Seu primeiro
“encontro” com diretor Ingmar Bergman14, ao ver o filme Monika e o desejo
(Sommaren med Monika, 1953). Para Allen, o filme era uma obra prima e se
mostrava muito mais maduro que o cinema americano por ter uma estrutura
confrontante e adulta.
Aos 19 anos, afirma Colombani (2010), foi contratado pela NBC para
participar de seu programa de treinamento de novos roteiristas e logo foi
enviado para Hollywood para trabalhar no programa Colgate Comedy Hour,
um show popular com grandes nomes da comédia onde ele escreveu por
poucos meses até o cancelamento do programa. Lá, casou-se com a sua
namorada de 17 anos de idade, Harlene Rosen. Aos 22, novamente em Nova
York, passou a escrever para o comediante Sid Caesar, um conhecido judeu
nova-iorquino que tinha grande interesse em agregar novos talentos para o
seu time de roteiristas. Em parceria com Larry Gelbart, um comediante mais
experiente que mais tarde veio a criar as series antimilitares MASH, escreveu
sketches para o Sid Caesar’s Chevy Show que acabou ganhando um
14
Dramaturgo e cineasta sueco. Diretor de “O sétimo selo” e “Gritos e sussurros”. 1918 -
2007
17
Ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e
músico britânico. (1889-1977)
18
Comediante famoso pela combinação de seus óculos, bigode volumoso e charuto.
Considerado um dos mestres do humor e grande influência para Woody. (1890-1977)
19
Revista norte americana sobre artes e política, fundada em 1957.
20
Diretor e roteirista Italiano, autor de Depois daquele beijo (1966), dentre outros 1912-2007
21
Diretor e roteirista Italiano, autor de A doce vida (La Doce Vita 1966), dentre outros 1920-
1993
Truffaut ainda argumenta que “um filme é uma etapa na vida do diretor
e como o reflexo de suas preocupações no momento”. (TRUFFAUT, 2010,
p.17) O que é uma constante característica na filmografia de Allen. Torres
(2012) aponta que os franceses Truffaut22, Bazin23 e Rivette24 defendem a
ideia de que no cinema existe uma estética da expressão pessoal do diretor e
que as obras devem ser reconhecidas assim como são para romancistas,
poetas e pintores. Cabendo ao diretor mostrar a película não como um
resultado de um trabalho coletivo, mas como a expressão de uma
subjetividade poderosa.
4.10 O dorminhoco
22
Diretor e roteirista francês e um dos fundadores do movimento cinematográfico Nuvelle
Vague. 1932-1984
23
Renomado e influente crítico de cinema e teórico do cinema. 1918-1958
24
Realizador de cinema francês, parte do grupo de críticos da revista Cahiers du Cinéma.
1928 -
proposta era a de elaborar um roteiro bem amarrado, com uma história clara,
ao invés de ser uma apenas uma narrativa preenchida e sustentada por
piadas. Woody interpreta Miles Monroe, um homem que ao tomar uma
anestesia em 1973, acorda em 2173 em um Estados Unidos ditatorial. Neste
mundo futurístico, Miles conhece Luna (Diane Keaton) e juntos se unem à
resistência para tentar derrubar o ditador. O longa se inspirou na estética dos
filmes Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451, 1966) de François Truffaut e 2001 -
Uma odisseia no espaço (2001: Space odyssey, 1968) de Stanley Kubrick25.
Assim como suas comédias anteriores, esta também foi um sucesso.
Sua vontade de parar de “brincar por aí” e fazer algo mais complexo
chegou ao ponto de levá-lo a um divisor de águas chamado Noivo neurótico e
noiva nervosa (Annie Hall, 1977), afirma Colombani (2010).
Diane Keaton é um nome artístico. Seu nome verdadeiro é Diane Hall
e seu apelido, Annie Hall. Ela e Woody viveram um relacionamento breve
porém inspirador, conta Colombani (2010). Com uma essência
profundamente autobiográfica, o filme, estrelado pelo próprio casal Alvy
(Woody) e Annie (Diane Keaton), conta a história de como foi o inicio e fim do
relacionamento dos dois, mantendo algumas semelhanças com a vida real.
No caso de Annie, o gosto pela fotografia, o sonho de ser cantora e sua
vontade de ir para Hollywood e no caso de Alvy, os mais de 15 anos de
psicanálise e duas ex-mulheres. Embora Marshall Brickman tenha sido
coautor do roteiro, é evidente a relação entre o roteiro e a história real de
Keaton e Allen. Esta similaridade é o que dá ao filme uma irresistível
impressão de que já conhecemos os personagens. A produção se tornou
marcante por sua liberdade de tom e estrutura flexível. No filme os
personagens falam com a câmera, os subtítulos revelam os pensamentos
secretos dos atores, pode-se viajar no tempo para um reencontro com a
família de Woody, o faz o filme a ter uma leveza dentro de sua seriedade.
Filmado por dez meses com o diretor de fotografia Gordon Willis, de O
poderoso chefão (The godfather, 1972) e editado por Ralph Rosenblum, o
mesmo de Bananas, O dorminhoco e A última noite de Boris Grushenko, o
filme foi um sucesso imediato. Foi considerado pela imprensa americana
como uma pequena pérola, revelando um grande diretor. O sucesso do filme
rendeu quatro Oscars: o de melhor atriz, melhor roteiro, melhor diretor e
melhor filme. Woody não foi à cerimônia, pois tinha o compromisso com sua
banda, como em toda segunda-feira, de tocar o jazz de Nova Orleans no
Michael’s Pub. Allen, começou a se afastar de entrevistas e dos holofotes.
Quando foi perguntado sobre a importância dos prêmios, o diretor respondeu:
(...) os prêmios são feitos para juntar poeira; eles não mudam a sua
vida não afetam sua saúde, de forma positiva, nem sua
longevidade ou a sua felicidade emocional. Os lugares que você
quer consertar na sua vida, ou ajudar, o ajuste e o conforto que
você precisa, não são tocados pelas grandes honras do mundo.
(LAX, 2010, p.164)
4.13 Interiores
Seu próximo projeto, aponta Colombani (2010), foi talvez um dos que
requereu mais coragem. Diante de seu maior sucesso, Woody quis seguir
suas aspirações artísticas e fazer um drama, completamente diferente de
tudo que ele havia feito até então. Influenciado pela peça As três irmãs (Три
сeстры, 1900) composta pelo escritor Russo Anton Tcheckov e pelo filme
Gritos e sussurros (Viskningar och rop, 1972) de Bergman, nasce Interiores
(Interiors, 1978). Allen chegou a dar uma entrevista para o The New York
Times, antes de começar a filmar, afirmando que seus próximos passos
seriam dados “no tato”. Com um roteiro autoral, o filme trata sobre o divórcio
dos país de três filhas adultas onde a mãe ocupa um lugar dominante e seu
suicídio, embora triste, leva a família a uma forma de alívio. A figura da mãe e
de uma das irmãs foram inspirados na história de vida de sua segunda
mulher. Este foi o primeiro de seus filmes em que Allen não atuou e o
primeiro que foi um fracasso de bilheteria.
Colombani (2010) narra que ao mesmo tempo em que seu filme não
foi bem aceito, sua distribuidora, a United Artists, vivia uma crise interna e
seu maior apoiador dentro da empresa acabou fundando a distribuidora
chamada Orion. Diante dos fatos, Woody viu a possibilidade de perder sua
liberdade artística, mas contratualmente ainda tinha três filmes a serem feitos
antes de uma possível mudança. Foi no meio desta crise que nasceu seu o
projeto: Manhattan (Manhattan, 1979).
4.14 Manhattan
daquela que ele vivia fora da tela. Levando em consideração que Woody
estava vivendo momentos financeiros de fartura e nos filmes era sempre
alguém com pouco ou não muito dinheiro.
4.15 Memórias
4.17 Zelig
Zelig (Zelig, 1983) foi o segundo roteiro que Allen apresentou para a
Orion Pictures, narra Colombani (2010). Uma proposta audaciosa e criativa
de um falso documentário sobre um homem camaleão. Trata-se de um ser
humano que, por querer ser aceito, muda sua personalidade para que ele
possa ser parte do grupo, podendo mudar também sua aparência de homem
26
Poeta e dramaturgo inglês, considerado um dos maiores do mundo. 1564-1616
branco judeu para índio, quando rodeado de índios, para gordo, quando
rodeado de gordos... É o primeiro filme em que ele tratou, de alguma forma,
de sua identidade judaica com mais profundidade, onde sua busca por ser
aceito serve como uma metáfora do Judeu Errante27. Outra grande marca do
filme foi sua complexidade técnica no qual se fez uma mistura de imagens de
arquivo, entrevistas com personalidades como Susan Sontang 28 e Bruno
Bettelheim29, cenas fictícias convincentes (fazendo jus ao conceito de falso
documentário) e até filmagem com uma câmera de 1920 foram recursos
utilizados para atingir a autenticidade estética.
27
Um personagem mítico da tradição oral cristã amaldiçoado a vagar pelo mundo sem nunca
morrer.
28
Escritora e crítica de arte. 1933-2004
29
Psicólogo Judeu e escritor, autor de Psicanálise dos Contos de Fadas. 1903-1990
e sua relação apaixonada pelo cinema que era produzido durante a grande
depressão americana. O filme foi um sucesso entre os críticos, mas não
chamou a atenção do público estadunidense, ao contrário do público europeu
que o recebeu muito bem. Woody comentou que “A minha percepção é que
você é forçado a escolher a realidade em vez da fantasia, e que a realidade
acaba por machucar a gente, e que a fantasia não passa de loucura.” (LAX,
2010, p.143).
4.22 Setembro
4.23 A outra
uma mulher fria que não queria encarar nada de ruim em sua vida,
ou não queria ouvir nada de ruim, e evitava tudo até chegar, enfim,
a um ponto onde não conseguia mais evitar isso e começava a
ouvir tudo o que vinha da parede (LAX, 2010, p.455)
31
Existencialismo é um termo filosófico que abrange a ideia que o indivíduo é o único
responsável em dar significado à sua vida e em vivê-la de maneira sincera e apaixonada.
4.25 Alice
32
CRIMES e pecados. Direção: Woody Allen. [S.l.]: Orion Pictures, 1989. 1 DVD (104 min),
NTSC, color. Título original: Crimes and misdmeanors
33
Romancista, poeta e matemático britânico, autor de Alice no País das Maravilhas. (1832-
1898)
olhar para questões além de sua integridade física, através da qual ela
redireciona sua vida para uma que de fato a deixasse satisfeita.
Logo antes de seu turbulento divórcio com Mia Farrow, que tomou
proporções midiáticas equivalentes ao escândalo sexual do presidente
americano, Bill Clinton e sua estagiária, Monica Lewinski, por estar se
relacionando com a filha adotiva de Mia, Soon-Yi de dezoito anos, escreve
Colombani (2010), Woody já estava filmando Maridos e esposas (Husbunds
and Wives, 1992) que havia sido escrito dois anos antes do escândalo. Nele,
34
Escritor tcheco, autor de “Metamorfose”. (1883-1924)
Conheço gente que acha que o filme é sobre mim, e acho isso
engraçado, porque o filme não é nem de longe sobre mim. (...) Não
sou eu, não é o jeito como eu trabalho, nunca fiquei travado, nunca
sequestrei o meu filho, não teria coragem de agir assim, não fico
sentado em casa bebendo nem recebo prostitutas em casa toda
noite. (LAX, 2010, p.82)
4.32 Celebridades
4.34 Trapaceiros
Para Allen apud Lax, o filme foi uma brincadeira bonitinha que não foi um
grande sucesso, mas que também não deixou a produtora com prejuízo.
Woody comentou “Eu me diverti fazendo o filme, mas, pensando bem, eu
teria gostado de fazer um filme só com a parte séria. Exatamente a mesma
sensação que tive depois de ver Crimes e pecados” (ALLEN apud LAX, 2010,
p.91).
Depois de quase meia década de filmes que não foram tão bem
recebidos, discorre Colombani (2010), Woody embarcou para Inglaterra,
financiado pela BBC e realizou o que ficou marcado como o seu grande
retorno: Ponto final - Match point (Match point, 2005). Contando a história de
Chris (Jonathan Rhys Meyers), um irlandês sem dinheiro que decide ir à
Londres para tentar alcançar o sucesso. Ele acaba seduzindo Chloe (Emily
Mortimer), a filha de um homem muito rico e entrando na alta sociedade ao
se casar com ela. Porém ao se deixar ser seduzido por Nola (Scarlet
Johansson), a namorada de seu cunhado, quase perde tudo, mas acaba se
safando ao cometer o crime perfeito. A amoralidade deste filme é facilmente
comparável com a de Crimes e pecados.
4.40 Scoop
Allen apud Lax (2010) assumiu que não há razões para que ele tenha
feito grandes filmes, pois em todos os seus anos de carta branca, essa nunca
foi sua intenção. Nunca quis ir para os extremos da terra, trabalhando noites
a fio. Em um comentário debochado Woody afirma “Eu gostaria de fazer um
grande filme, desde que isso não atrapalhe a minha reserva para o jantar.“
(ALLEN apud LAX, 2010, p.329). Lax (2010) descreve que a motivação de
Allen é de fazer filmes que expressam os seus sentimentos pessoais sobre a
falta de sentido da vida e o horror da existência. O diretor segundo Lax afirma
que não é nem artista nem comercial o suficiente. Dependendo do público, a
percepção sobre seus filmes acaba variando entre esses dois pólos. Para
uma pessoa mediana, seus filmes parecem mais artísticos, mas para uma
pessoa que conhece arte, não. Então de certa forma suas produções
permanecem em um estranho limbo, onde alguns deles, por acidente, são
considerados bons e até conseguem ser rentáveis. Em uma autoanálise
crítica, Woody apud Lax se questionou em como foi capaz de durar tanto
tempo, principalmente com todos seus defeitos e limitações, tanto artísticas
como pessoais, com suas fobias, idiossincrasias, pretensões e exigências
artísticas absolutas em uma indústria venal tendo apenas um talento menor.
Ele acredita que só foi capaz de tudo isso, pois quando era criança, adorava
mágica, o que resultou no desenvolvimento de uma capacidade sutil de
subterfúgios, habilidades manuais, dissimulações e talento cênico que o
permitiram produzir uma brilhante ilusão que já dura quase cinquenta anos.
5.1 Apresentação
F. 1
F. 2
F. 3
F. 4
F. 5
F. 6
F. 7
F. 8
F. 9
F. 10
Uma das relações famosas entre sombra e morte pode ser encontrada
na história de Peter Pan. No filme, o menino da Terra do Nunca é capaz de
se desvencilhar de sua sombra ao mesmo tempo em que é incapaz de
envelhecer. (F.11)
F. 11
F. 12
F. 13
5.4 A cidade
F. 14
F. 15
5.6 A morte
F. 16
F. 17
F. 18
Woody Allen deixa claro sua visão sobre o ato de estar morrendo. Até
aqueles que não conhecem sua biografia38 podem chegar a esta conclusão
38
Woody
Allen é conhecido por sua hipocondria e sua vontade de não morrer. No filme
Memórias, em uma de suas falas autobiográficas, ele afirma que abriria mão de seu Oscar
por um segundo a mais de vida. Em Hannah e suas irmãs, após descobrir que não tinha um
sem grande esforço ao assistirem este filme. Isso, pois existe um elemento
que exemplifica com clareza toda a agonia que o diretor enxerga neste
fatídico momento. Na cena em que Kleinman conversa com o médico, vemos
um laboratório com alguns cadáveres cobertos. Entre eles, existe um que
desvela uma parte de seu corpo. De todas as partes possíveis para serem
mostradas, um olho arregalado, uma cara contorcida, que podem ser
atribuídos a uma pessoa, ou partes mais inassimiláveis como órgãos vitais
explícitos, Woody escolheu uma parte que pode ser assimiladas por todos
como própria: a mão. A tão expressiva e universal mão, contorcida ao
máximo numa expressão de desespero, agonia e dor. (F.19)
F. 19
F. 20 – Detalhe da mão
câncer, ele comemora por pouco tempo ao constatar que ele só não vai morrer agora, mas
sim um dia.
mensagem que o vivo pode mandar antes de falecer. Neste caso, a última
expressão de um homem antes da morte é de que esta experiência é o
cúmulo do sofrimento.
Ao longo do filme, ocorrem quatro mortes: duas visíveis e duas
assinaladas. Elas todas podem ser relacionadas à dor exprimida pela mão
contorcida do cadáver coberto.
F. 21
F. 22
F. 23
defender sua vida, corre por entre as ruas escuras e repletas de neblina,
desnorteado, até ser encurralado. Ele não foi capaz de evitar a morte por
meio da razão. Morreu gritando “não”, contrariado por estar com medo e por
ser vítima de seu objeto de estudo.
F. 24
F. 25
Seu abandono é fatal. Por mais que ela tenha recebido alguma ajuda,
sua condição marginal é tão intensa que não há subsídio que salve sua
exclusão da sociedade e consequentemente sua exclusão da vida. Tuan
ressalta que um indivíduo sem grupo, além de se sentir insignificante e
5.7 O plano
5.7.1 Polícia
5.7.2 Facções
F. 26
planos são superficiais e não tratam com objetividade aquilo que se está
sendo combatido. Ou seja, frente à morte, tentar capturá-la não surte efeito.
Com ela se lida, se evita, mas não se combate.
5.7.3 Clarividente
F. 27
F. 28
da seca. Ou seja, é melhor acreditar que o clarividente está certo, pois assim,
momentaneamente, se sente que o assassino/morte foi detido.
De acordo com a definição do dicionário Houaiss, um clarividente é
aquele que “vê com clareza” ou então aquele que é “capaz de prever
acontecimentos”. A partir destes esclarecimentos, é possível destacar que
diante do cenário nebuloso em que se passa o filme, aquele que vê com
clareza é aquele que é capaz de prever a morte. Sendo assim, pode-se
também categorizá-lo como um mensageiro da morte. Sua aparência similar
a da morte (Careca, rígido, sombrio) apenas fortalece este laço entre os dois
personagens e serve como uma anunciação do encontro inevitável de
Kleinman com o Assassino/morte.
5.8 O universitário
F. 29
F. 30
Não é dito o que ele estuda, nem onde, nem há quanto tempo. O
universitário ocupa o papel de um jovem rapaz crítico, deprimido e
apaixonado (F.28). Ele é a representação do indivíduo em formação, ainda
no processo de aculturamento. Sua primeira aparição ocorre no prostíbulo
após uma partida de pôquer na qual ele ganhou 700 dólares. Ele entra como
quem já é da casa e se apaixona justamente pela Irmy (Mia Farrow), que está
lá só para passar a noite em segurança. A moça reluta quanto a se prostituir,
mas ao serem oferecidos insistentemente os 700 dólares, ela acaba
cedendo. As cenas subsequentes são de sua extrema satisfação com Irmy,
sem nenhum arrependimento pelo dinheiro gasto, seu estado contemplativo
pós coito, enquanto sozinho no bar (F.29). Por fim, volta ao prostíbulo para
contemplar seu ceticismo.
Esta maneira impulsiva de se portar transparece uma animalidade
típica daquele que não está completamente formado por uma cultura. Sendo
ele uma metáfora para o ser em formação, sua atitude completa o quadro
que evidencia a distinção entre o culto do aculturado. Ele, por não ser
formado, expressa sua opinião com paixão e vive de acordo com seus
instintos. Parte de seu discurso demonstra tanto o medo da liberdade, a
vontade de se matar quanto o desejo intenso de querer seguir vivendo. Uma
de suas frases mais marcantes é “Eu sempre escuto o meu sangue” e uma
afirmação quanto a sua predileção por estar no bordel ao invés de na
universidade, por achar o ambiente mais estimulante. Neste espaço, ele é
livre para tratar de tabus, como perversão, prazer, impulsos, quando
argumenta o quanto a lógica é deprimente. Esta satisfação, que ele sente
neste ambiente, pode ser lida através do pensamento de Tuan, que afirma
que o prazer intelectual é muito menos intenso do que os prazeres instintivos.
5.9 O circo
F. 31
F. 32
F. 33
fosse dar norte para a vida deles e oferecer a estrutura necessária para uma
vida equilibrada.
Portanto, Kleinman ao pensar em estar escapando para o fantástico,
ele está de fato alternando realidades. Ele agora fará parte de uma outra
sociedade que terá sua própria densidade, suas próprias regras, seus
próprios problemas e seus próprios costumes cabíveis à uma estrutura
artística/nômade.
5.10 A mágica
F. 34
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F. 39
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é válido para a morte (sendo também inescapável). Esta cena permite que
interpretemos que a morte se deixou ser capturada pois Kleinman havia
alcançado com êxito seu escape para uma nova dinâmica de vida.
F. 46
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS TEÓRICAS
TRUFFAUT, F. O Prazer dos Olhos: escritos sobre cinema. Rio de Janeiro: Ed.
Jorge Zahar, 2005.