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ORIENTADORES: JOAQUIM CESAR MOREIRA GAMA E TÂNIA CRISTINA DOS SANTOS BOY
SOROCABA- SP
2010
(In memorian)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Zacarias Barbosa de Souza e Valdinha Soares de Souza (in memorian), que
sempre me incentivaram e me encorajaram na carreira que decidi seguir. Com certeza,
aprovam tudo o que fiz e o que faço no decorrer desta.
A todas as crianças, adolescentes e adultos que “jogam” comigo todos os dias, apenas
confirmando o poder da sua prática e impulsionando a estes “jogadores”, vivenciarem o
processo criativo seja em que arte for.
Aos colegas de carona na trajetória deste curso em especial a amiga Aládia Cintra uma
verdadeira Brincante.
Lindy Barbosa.
RESUMO
British Council é a organização internacional oficial do Reino Unido para assuntos culturais
e educacionais, que fornece apoio e estímulo à apresentação da arte britânica no Brasil,
trazendo informações do cenário artístico britânico e promovendo a cooperação entre
artistas e profissionais britânicos e brasileiros.
Este festival tem como objetivo a montagem de textos de autores Ingleses e Nacionais.
Uma nova dramaturgia para jovens.
Entre os meses de Maio a outubro, os grupos participantes estarão imersos em seu trabalho
de construção do espetáculo, que será apresentado em Novembro, na Mostra Conexões de
teatro Jovem no teatro cultura inglesa em Pinheiros, SP. Durante o período de ensaio,
profissionais pedagogos de teatro estarão realizando visitas e supervisionando o trabalho
de cada um dos grupos. O texto não pode ser alterado, ou seja, a montagem é na integra.
Portanto o que vale é como cada grupo, mesmo montando o mesmo texto, pode chegar a
resultados tão diferentes.
Este é o processo de criação valorizado no festival, que não tem fins de competição e sim
de integração e socialização do teatro. No ano de 2007, fomos uns dos pioneiros no
Festival, que já está na sua quarta edição.
Apresentamos o espetáculo “Peça de Horror” da inglesa Judith Johnson, que escreve para
o público jovem no festival Conexões que acontece no Reino Unido já há 10 anos.
Por se tratar de um Projeto que visa à pedagogia aplicada a cada um dos procedimentos
de criação e construção de um espetáculo, e por ser uma experiência valorosa de
crescimento pessoal e profissional de todos os integrantes do grupo relato nosso trabalho,
que é uma boa fonte de pesquisa em Pedagogia do teatro.
Abstract
This article is about the mounting process of the play "Scary Play” by Judith Johnson,
which was part of the first edition of Connections of English Culture, in partnership with
the British Council. This festival aims at mounting British and National authors texts.
The groups enroll and go through a draw, the selected ones receive the texts and after
reading and studying them, they choose which one they want to mount, that is, the choice
is democratic. After this process, the groups go through an "immersion" where the "game"
is a great tool for understanding the text.
From May through October, participating groups will be immersed in their work of building
the play, which will be presented in November at the Exhibition Connections of Youth
Theatre at Culture InglesaTheatre in Pinheiros, SP. During the rehearsal period,
professional pedagogues will be doing visits and overseeing the work of each group.
The text cannot be changed, that means that the mounting is in full. So what matters is
how each group, even mounting the same text, can reach such different results. What is
valued at the festival is the process of creating, and it has no end of competition but of
integration and socialization of the theater.
In 2007, we were one of the pioneers in the Festival, which is already in its fourth edition.
We introduced the play "Scary Play" by Englishwoman Judith Johnson, who writes for the
young audience at the Connections that has taken place in the UK for 10 years.
Because it is a project that aims at applied pedagogy to each of the creation procedures
and building a play, and for being a valuable experience for personal and professional
growth of all members of the group, I report our work, which is a good source of research
in theatre Pedagogy.
PALAVRAS CHAVE: Drama in education, Young´s Theatre, Studant´s Festival, Create,
experiment,
INTRODUÇÃO
No ano de 2004, conheci a comunidade do jardim varginha através da ONG que prestava
serviços como Arte-Educadora em Teatro. A Brascri ministrava projetos extracurriculares
nas Escolas Estaduais para o ensino fundamental e Médio, sendo os cursos voltados para
conhecimentos artísticos, Teatro, Artes visuais, Novos autores, Canto Coral, Bateria de
escola de samba e de formação profissional, informática e telemarketing. Nesta
comunidade, a parceria entre a ONG Brascri e a E.E. David Zeiger dava certo, pois os
jovens não tinham outras alternativas a não ser este centro comunitário que a escola se
tornou.
Comecei a dar aulas de teatro em dois períodos, duas vezes por semana e cada aula tinha
3 horas de duração, ou seja, existia um tempo bom de trabalho e isso também contribuiu
para o andamento das atividades.
O período da manhã era direcionado aos alunos do fundamental e o período da tarde aos
alunos do Ensino médio e da oitava série do fundamental. Inicialmente as turmas eram
cheias, em média 30 a 35 alunos por período, mas a seleção natural era algo que eu previa
desde o planejamento do curso e antes mesmo do final do bimestre essa média já havia
sido reduzida e assim até o final do semestre. Ao reiniciarmos as aulas de teatro em
agosto a turma já estava em um numero atraente de 16 alunos e estes alunos foram o
embrião do Grupo Teatral Estrelas de David, hoje caracterizado como Grupo de Teatro
Jovem.
Esses alunos tinham um perfil particular de serem muito interessados nas artes em geral,
na música, na dança, em particular. As aulas de teatro eram o alimento que precisavam
para que a verve criativa desse vazão e fomentassem outros processos, todo este material
resultou em nosso primeiro espetáculo com dramaturgia desenvolvida por dois alunos
baseada em um conto de fadas trabalhado em improvisação com Jogo teatral aplicado. O
texto “Azulada de Neve e os quatro cabritinhos gaúchos”, foi montado a partir de jogos
que criavam as cenas. Foi o primeiro trabalho do grupo e foi apresentado na escola David
Zeiger e também em outras escolas estaduais próximas da região.
Outro Perfil dos adolescentes era que achavam chato a leitura de textos, eles gostavam do
jogo e das improvisações, ou seja, eu tinha um desafio a vencer com a turma que se
firmou, conquistá-los ao interesse e prazer com a dramaturgia teatral. Foi algo percebido,
porém não trabalhado de imediato e sim, com calma, pequenos textos, pesquisas, letras
de música e materiais que os estimulassem. Foi através da pesquisa que montamos o
segundo espetáculo do grupo, uma outra adaptação de um musical da Broadway,
“Grease – o Musical!
Neste espetáculo, tivemos como Modelo de Ação, o filme Grease- Nos tempos da
brilhantina, mas não realizamos cópia e sim, jogo e criação. Foi também um espetáculo de
sucesso do grupo que realizou apenas cinco apresentações.
DESENVOLVIMENTO
Dia 26- Imersão com os autores – 1.a parte: Leitura dramática\ dúvidas das cenas\
esclarecimentos gerais
2.a parte: Jogos e Improvisação – O tema gerador dos jogos aplicados era o
Aprofundamento do medo
Qual seria o nosso modelo de ação& Esse foi o nosso segundo passo
(Koudela, 1999)
(Koudela, 1999)
Filmes sugeridos:-
A escolha destes filmes foi de acordo com o entendimento do texto de buscar Conteúdos e
ações de medo e terror que envolvesse A casa misteriosa e o Personagem sinistro,
elementos presentes no filme Psicose. A busca pela Aventura e o desconhecido, assunto do
filme A Bruxa de Blair e o Personagem Cômico e terrorizante que aparece na Cena 07 do
texto, não apenas um, mas Muitos que são os palhaços assustadores e se encontra no filme
IT- O Palhaço Assassino.
Na peça, Kal é um menino de dez anos que comemora seu aniversário com uma festa do
pijama, para animar a festa começam a contar histórias, especificamente de terror, seu
amigo Mal, resolve dar uma idéia brilhante a turma, visitar a tal casa assombrada que Kal
narra na história e que tem um homem, um provável psicopata que tem um macaco de
estimação e usa este para aprisionar as crianças, assim se desenvolve a trama.
Após realizarmos essa pesquisa em vídeo, partimos para a segunda parte Desse processo
que foi selecionarmos cenas para serem trabalhadas com os Jogos teatrais que
colaborariam com o desenvolvimento do clima tenso e terror Que o texto solicitava,
considerando que os personagens são crianças entre oito e 11 anos.
O próximo passo foi o trabalho de Partitura Gestual, como não estava definido ainda, qual
ator faria tal personagem, este procedimento seria utilizado para a escolha deles. É claro
que os jovens, tinham em si as aspirações a este ou aquele personagem, porém,
respeitaram que os jogos auxiliassem ao grupo a melhor maneira de encontrar o
personagem ao qual cada um se adaptaria melhor. Nos jogos de partitura gestual, eu
instruía ao grupo, pesquisar o andar de cada personagem, o timbre de voz, os gostos
pessoais, as brincadeiras que as crianças fariam juntas, as músicas que gostariam de ouvir,
explorar ao máximo o universo das crianças de hoje e suas particularidades.
Encarei esse fato, como uma certa maturidade do grupo e como o momento exato de
definirmos os personagens, afinal, eles próprios haviam proposto na improvisação, quem
seria qual. Realizei o jogo da Máscara corpórea e após o termino defini em conjunto com o
grupo os personagens do espetáculo.
(figura 2) (figura 3)
O jogo Quem iniciou o movimento foi à base da construção da cena do medo da Mãe
morta, um processo muito natural e vivencial ao qual os jovens realmente se apropriaram
e dominaram. Foram cenas muito fortes do espetáculo, outra comprovação do poder do
jogo na energia da cena, seja ela qual for.
O medo do dentista foi trabalhado em improvisações, onde todo o grupo mostrava seu
desespero em extrair um dente, neste caso o QUEM, ou seja, o dentista era substituído
pela figura do macaco. A situação do improviso era, ir ao dentista e no momento da
extração, ao invés do médico dentista, aparecia o macaco como dentista.
É impossível negar o grau de comicidade que essa cena causou durante os improvisos e na
apresentação do espetáculo.
Os jogos foram importante ferramenta para adentrar a todo o universo solicitado no texto,
a infância, seus medos, seus dramas, suas brincadeiras e seus diálogos, para isso, era
necessário afinar a atuação dos jovens atores neste sentido.
O fato de o elenco ser em maioria feminino, não foi uma barreira, pois as jovens atrizes
que representavam os papéis masculinos, que eram também crianças, meninos da idade de
dez anos, trabalharam bem essa questão, que foi trabalhada em jogos de partitura
corporal. A observação foi o ponto de partida para a construção desses personagens. Eu
instruía as alunas a observarem sempre os meninos desta idade e sua forma de brincar,
nos ensaios, durante os jogos de aquecimento, a instrução era trabalhar o material
observado em improvisações das cenas do espetáculo.
(figura 5) (figura 6)
É óbvio que a criança (menino) mais fácil de criar um contexto é o Kal, por
ele ser o grande manipulador da história, é o que demonstra mais confiança e poder
sobre as crianças.
(Suevelin Cintia)
As instruções de trabalho ficam claro neste protocolo da aluna, a jovem atriz demonstra
que encontrar o subtexto para uma improvisação, não é tão fácil assim e que tem mais
elementos inseridos que é o fato do seu personagem ter dez anos de idade e ser um
menino. Algo que pode parecer complexo se torna simples quando estabelece- se uma
ação e uma situação. Quando ela diz que o fato de ser um manda chuva ajudou muito,
está deixando clara a ação do Kal, O QUE ele esta fazendo& esta manipulando! Então meu
personagem É, (QUEM) domina uma situação. Sua construção parte deste principio.
(figura 7 ) (figura 8)
Meu personagem exige muito medo não esta totalmente construído, mas já
tenho um corpo e voz para o personagem. O que dificulta é o fato do meu
personagem ter poucas falas, ele praticamente só faz perguntas.
No começo cheguei a pensar que não gostaria de fazê-lo, mas não o trocaria
por outro. Ele é tão medroso que chega a ser cômico.
A cada vez que estudo o texto mais próximo eu chego dele. Espero honrar o
personagem.
(Rosana Natália)
É interessante notar a conquista que se tem do personagem. A idéia que a maioria dos
atores demonstram no início ao montar um espetáculo. Muitas vezes parte-se da idéia do
personagem atraente, aquele que se quer fazer, porém ele pode apenas te conquistar,
pois o conhecimento a respeito dessa pessoa pode fazer com que simplesmente goste dela.
Fica clara essa idéia no protocolo da jovem atriz a respeito do seu estudo para a
construção do seu personagem.
(Koudela, 1999)
O teatro deve ser teatral& Além do real. Nas fantasias, contos de fadas,
musicais, óperas cômicas, dança, ficção científica, Shakespeare, no Story
Theatre de Paul Sills, o além do real é elaborado por meio de efeitos
especiais, iluminação, som figurino, música, roteiros. É um mundo onde
toda condição humana, rima ou visão pode ser explorada, um mundo
mágico, onde pode ser invocado para com ele conversarmos.
(Spolin, 1985)
O texto original sugeria que o cenário tivesse o quarto do Kal em primeiro plano, arbustos,
a velha casa e um patamar que dividia as cenas dentro e fora da casa. Os figurinos para as
crianças propostos eram pijamas e camisolas apropriadas às idades das crianças, camisetas
do time de futebol preferido para os meninos.
Por se tratar de uma produção de um grupo de estudantes, não poderia pensar em uma
grande produção, nem em termos de cenários como também de figurinos. Mesmo assim
realizamos uma pesquisa de construção dos figurinos e adereços o que foi criado
coletivamente com o grupo.
Optei por utilizar a iluminação como o cenário. O quarto e a casa eram delimitados de
acordo com o desenho da luz , bem como o caminho realizado pelas crianças, que eram
corredores escuros e sombrios e a cena dos medos era trabalhada em cores quentes e
fundo azul como um código de estabelecimento do imaginário infantil.
Para definir os personagens infantis dos personagens de terror, criamos máscaras para
cada cena. Os palhaços tiveram um tipo de máscara, os Vampiros outra e os Zumbis outra.
As máscaras foram definidas em exercícios de partitura corporal que criavam a expressão
de cada personagem de terror.
A maquiagem teatral também foi um recurso na pesquisa pelas expressões das máscaras
de cada personagem.
Depois de todo esse trabalho, realizamos um ensaio geral com todos os figurinos e
adereços e o desfile dos personagens se tornou um jogo interessante de descobertas e
possibilidades cênicas de todos os personagens.
Tivemos um ensaio no teatro Cultura Inglesa na unidade de Pinheiros. Este ensaio seria
importante para afinarmos as cenas de acordo com o espaço e verificar se o mapa de luz
estava de acordo com as possibilidades técnicas do teatro. Estava tudo de acordo e pouca
coisa foi alterada.
Realizamos apresentações em outros espaços durante os anos de 2008 e 2009. Foi uma
ótima experiência.
CONCLUSÃO
Projetos como o Conexões, possibilitam que se conheça também o que esta sendo
realizado nas escolas e nas comunidades. Mostra o valor do jovem e toda a sua vontade
transformadora, pois o coloca como protagonista de uma ação que ganha a sua valoração
através da experiência.
Por ser um projeto Britânico ele denota características específicas, pois no Reino Unido já
é uma práxis a aplicação do jogo desde a infância. O que acontece também na América de
onde deriva os Jogos Teatrais de Viola Spolin.
A importância da tradução das obras de Viola Spolin e o acesso ao que acontece em outros
países em termos de pesquisa em teatro e educação, possibilita que o profissional
brasileiro crie e amplie suas ações pedagógicas através do teatro, do jogo. Os Festivais
Estudantis acontecem, mas ainda são poucos em relação a demanda que existe. Quando
acontece, parte muitas vezes de iniciativas privadas, onde as condições para a
participação dos grupos se tornam precárias, em outras palavras, o grupo precisa arcar
com todas as despesas para mostrar sua produção artística, que esta intrisicamente ligado
a sua experiência vivencial em todo o processo.
Jogar, torna-se portanto, necessário. Segundo Larrosa a experiência é o que nos passa, o
que nos acontece, o que nos toca e uma vez que passamos por ela, faz sentido querer
outra vez, desde que, passemos por algo diferente. A experiência do jogo, irá possibilitar
um novo encontro com uma nova experiência. Mas é necessário também que se pare,
reflita, pense.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Texto e Jogo. Uma didática Brechtiana. SP: FAPESP\
Perspectiva, 1999
SPOLIN Viola. O jogo Teatral no livro do diretor; tradução Ingrid Dormien Koudela e
Eduardo Amos- SP: Ed. Perspectiva, 2008.
Inovação!
Olá Pessoas queridas, em breve, este blog será reavivado e reativado!!!
Brecht e Boal!!!
1. Título
“Caleidoscópio cênico – Brecht e Boal : uma possibilidade de encontro por um teatro social
“
2. Resumo
3. Introdução
No livro “Jogos para atores e não atores” o teórico Augusto Boal diz “o nosso desejo é o de
melhor conhecer o mundo que habitamos, para melhor transformá-lo da melhor maneira. O
Teatro
é uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de transformar a sociedade”.
Esta é a citação de um artista convicto de sua crença, que não teve medo de percorrer pelo
exílio,
Buscando os discípulos de sua mesma fé. Estes por sua vez, perceberam que fé é antes de
tudo
mas questionar esse outro diante de sua condição como ser social.
O trabalho de Boal expandiu-se, assim como ele procura, através de sua metodologia,
expandir
as mentes de seus espect atores e espect atrizes que aderem a proposta de trabalho do seu
teatro.
Em décadas anteriores ao trabalho de Boal, e em outro território que não a América- latina ,
Existiu uma época. A época Brecht. Tumultuada por rebeldia e protesto. Refletem-se em suas
humanidade.
cujo tema é apresentar os acontecimentos sociais ao mesmo tempo como ciência e como arte.
A alienação do homem para Brecht não se manifesta como produto da intuição artística.
Brecht
ocupa-se dela de maneira consciente e proposital. Mas não basta compreendê-la e focaliza-
la. O
essencial não é a alienação em si, mas o esforço histórico para a desalienação do homem,
podemos então dizer que as técnicas utilizadas pelo Teatro do Oprimido, que incluem o
teatro
O papel do autor dramático não se reduz a reproduzir em sua obra, a sociedade de seu
tempo. O
principal objetivo, quer pelo conteúdo, quer pela forma, é exercer uma função
transformadora, que
Brecht diz: “Não nos podemos esquecer que somos filhos de uma era científica. A ciência e a
arte
têm em comum o fato de que ambas existem para simplificar a vida do homem: uma
ocupada
com a subsistência material e a outra em proporcionar uma agradável diversão. Tal como
O que Boal propõe em seu teatro, é justamente essa oportunidade de expressão, que leva a
Dentro do meu trabalho como Professora de Teatro e orientadora de grupos, faço-me valer
desta
metodologia, que enriqueceu o meu trabalho e daqueles que o vivenciaram, pois como o
próprio
Boal cita: “O teatro é isso: a arte de nos vermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!”
4. Justificativa
Quando decidimos por uma carreira acadêmica, demoramos por vezes a encontrar o nosso
real
objeto de pesquisa. Como Atriz e Arte-educadora, vivi o conflito de me encontrar lado a lado
com
esse objeto, mas não conseguir enxergar as partes, pois sempre via o todo, sem
fragmentações.
O título desse projeto, não é ao acaso, pois foi necessário quebrar esse objeto e lançar-lhe em
um
de se fazer teatro, e a compreensão de sua linguagem poderosa, que traz um primeiro facho
de
luz a quem se predispõe a uma reflexão, e através desta se propõe a uma transformação.
suas partes, provocar uma junção bem compactada destas experiências, que poderá servir de
apoio a muitos outros que como eu, são multiplicadores. Conscientes e dedicados no
processo de
7. Bibliografia
- Boal, Augusto,( 1931 ) Jogos para atores e não atores, - 4.a edição revisada e ampliada –
Rio de
- Boal, Augusto, (1931) Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas, Rio de Janeiro,
-Boal, Augusto, (1931) O arco-íris do desejo, Rio de Janeiro, Civilização brasileira, 1996.
- Spolin, Viola, Improvisação para o teatro, Ed. Perspectiva, 4ed, SP, 2001
- Coelho, Raquel, Teatro – No caminho das artes, Formato editorial, BH ( MG), 1999.
- Saiani, Cláudio, Jung e a educação: uma análise do professor aluno- 3 ed. – Escrituras
- Silva, Armando Sérgio da, (0rg.), Diálogos sobre teatro ( J. Guinsburg ), 2ed. Revisada e
ampliada – SP – Ed. Da USP, 2002, pp277 ã 286, Rubens José Souza Brito e J. Guinsburg.
Introdução
No caso de Camille nos perguntamos como uma jovem vivaz, com enorme capacidade
criativa, cultura elevada, inteligente, perspicaz, uma artista de renome que marcou sua
época, pode ser internada e mantida até a morte trinta anos mais tarde ?
Camille foi uma mulher que decidiu quebrar os laços com sua classe social, com a moral e
com normas de conduta não aceitas em sua época.
Não sabemos porque, uma certa “intelectualidade” sente prazer irresistível pela tragédia
moral e exalta, como ponto de virtude o sofrimento da artista. Ao que compreendo quanto
mais estilhaços melhor, quanto mais dolorido, mais doce, quando o que deveria importar
num momento em que se faz revisão de sua obra, seria destacar o seu alto valor estético,
sua ruptura com uma manifestação escultural adormecida e que já era, depois de um
certo tempo construção oficial das formas em Rodin. Isto sim deveria ser exaltado , não
sua desgraça. É claro, que não podemos negar o gênio a Rodin, mas devemos questionar o
quanto de preconceito e de sua postura como inverso de mestre prejudicaram um talento
manifesto, que não era apenas florescente, mas exigia ar e aparecimento, como qualquer
artista, e que poderia ser mais do que ele, e isso lhe era insuportável.
Era pouco conhecida do público. O reconhecimento de seu talento ficava restrito a outros
artistas e intelectuais, mas mesmo entre eles o seu comportamento incomum, era tido
como desvarios. Sua família era rica, mas a adolescente apaixonada por esculturas não se
deixava ficar na condição de mulher passiva e obediente, à espera de um marido bem
aquinhoado e cordato. Desde menina fugia para extrair barro para as suas esculturas, a
mãe se opunha a sua ambição, assim como a sociedade francesa preconceituosa e
machista, também colocava muros à sua frente. Ela tentou passar por todos eles, mas
talvez tenha sido demais a sua condição: Mulher, Artista, Amante, Não reconhecida, Sem
apoio, Sem amigos. O fracasso o álcool, o descrédito total somado à todas as outras
decepções, fizeram-na indignar-se à tal ponto, que em dado momento, destrói as peças
que havia criado
Camille
Ela esteve no mar, depois , na praia descoberta, e no final do túnel – vão da escada
Inigualável Horror
( Anônimo )
Aos doze anos já lia com avidez Goethe, Shakespeare e Victor Hugo, estimulando também
o irmão. Mais tarde ambos freqüentariam as reuniões na casa do poeta Mallarmé.
Destacava-se pela beleza, intensos olhos azuis, corpo sensual e harmonioso e presença
atraente e marcante, um ligeiro defeito numa perna faria mancar de leve, o que não
impedia as andanças e passeios com o irmão.
Em 1881 o pai é nomeado para outra cidade decidindo instalar-se em Paris. Camille tinha
então dezessete anos, e imenso desejo de aperfeiçoar-se freqüentando então a Academia
Colarossi e alugando seu primeiro ateliê com outras três colegas inglesas, uma delas Jessie
, seria uma das poucas que a visitaria no Asilo posteriormente. Desta época duas
esculturas já prenunciavam a obra da maturidade: Paul Claudel com treze anos e Retrato
da Velha.
Auguste Rodin
Apoiado por escritores e críticos de vanguarda, fez grande sucesso entre os pintores
impressionistas em 1880, apesar de permanecer sempre independente.
Rodin.
A obra de ambos floresceu. Camille estimulava Rodin, levava-o para os salões onde
freqüentavam os intelectuais, discutiam projetos. Este abriu-se ao lirismo e a
sensualidade, não cansando de desenha-la. Ele via em Camille uma inteligência aguda e
pouco convencional, que eram grande fonte de inspiração. Surgindo assim as Obras: Eva, O
beijo, A eterna primavera, O eterno ídolo, As Sereias, A Danaide ( Onde Camille foi a
Modelo ) Fugit Amor, Paolo e Francesca, O Pensamento, A Aurora, São Jorge.
Camille afirmava e fixava seu estilo, onde aprende muito de técnica com o mestre, porém
sem perder sua personalidade. Concluiu obras como, Paul Claudel aos 16 anos, Busto de
Rodin, Giganti, Torso de mulher, e o busto da irmã Louise em bronze.
Em 1888, Camille sai da casa dos pais e vai para o novo ateliê que Rodin escolhera para
ficarem juntos, amantes públicos. Entre os anos de 1887 à 1890, a fama de Rodin se
afirma, assim como sua relação no meio intelectual de livres pensadores.
Em 1893, Camille rompe com Rodin, devido a um provável aborto, onde a perturbação,
insegurança e solidão se tornam transparentes. Passa então a viver no Boulevard Italie,
afastando-se de Rodin, mas não em rompimento definitivo, começa então as pressões, as
crises nervosas, sentia-se usada como mulher e como artista. O significado da ruptura é
simbolizado nas esculturas. Em Rodin com A Convalescente, O adeus, A aurora, Orfeu e
Orfeu e Eurídice. Em Camille com A pequena castelã, A valsa e O clotho.
Verlaine
Com trinta e quatro anos, cortou de vez o vínculo com Rodin e passou a viver
solitariamente, sem freqüentar as pessoas. Seriam anos totalmente dedicados à sua obra.
Em 1894, apresentou um estudo em gesso de O Deus que voou, e uma variante , A
Implorante, parte do grupo, A Idade Madura, terminado posteriormente. Essa escultura
pode ser interpretada como uma alegoria da separação, mostrando o abandono.
Quando expôs o bronze, ele foi elogiado, mas também criticado pela crueza com que
retratava a decadência e o sofrimento. Conseguiria uma encomenda depois retirada e
ressentiu-se pois Rodin nada fez para intervir ao seu favor.
Em 1895, expôs o gesso As Faladeiras, que depois seria feito em Ônix. Obra muito
elogiada, considerada nitidamente distinta das obras de Rodin pelo estilo e pelo tema,
pois se baseava em fatos da vida cotidiana e sua simplicidade.
Sua capacidade de realização estava em franca evolução; criava cada vez mais um estilo
próprio, inspirando-se em seus sentimentos, sua história, relatos míticos e observação do
cotidiano, da rua, das pessoas ao seu redor. Valorizava sutilezas, nuances, evitando o nu
exposto rodiniano, realçando drapeados, ondas de harmonia.
Nesse anos seu caráter arisco acentuou-se; sem nunca ter sido muito sociável, fugia do
contato social. O que também prejudicava-a profissionalmente.
Atingiu uma obra plena e madura, afastando-se do estilo de Rodin, com tendências mais
clássicas, talvez prestes a uma maior aceitação pública, se não tivesse interrompido a sua
carreira. Apesar das dificuldades, e de pouco reconhecimento, sua reputação havia
crescido. Apresentou obras a quase cada ano, realizando obras importantes, poucas para
vinte anos de produção, mais heróicas por outro lado.
Aos quarenta anos sua aparência era de cinquenta. Os efeitos do álcool, de mágoas,
ressentimentos, aliados ao mau trato de si mesma e sua vida miserável, eram reflexos, de
uma artista incompreendida, que resolveu calar.
Verlaine.
A idéia delirante do roubo de sua obra por Rodin, colocava Camille no seguinte dilema:
Que boa parte de sua genialidade fora retida por ele.
É difícil avaliar o grau de responsabilidade de Rodin. Se existiu uma dose de egoísmo e de
uso, ampliada destrutivamente pelo ambiente e pelos conflitos interiores, aguçados com a
estimulação inconsciente da criatividade.
Muitas esculturas de Rodin, produzidas após 1893, traziam temas que repetiam aqueles em
que Camille tinha trabalhado. Ao ver nas exposições, e com colecionadores, estas obras
modificadas, um sentimento compreensível de revolta devia apoderar-se dela.
Em uma carta destinada a Paul em 1909, ela traça um paralelo, do quanto ganham os
fundidores, os moldadores e os marchands, a cada vez que ela coloca uma obra em
circulação, e que para ela é sempre 0+0 = 0. A carta já mostra traços de sua obssessão de
que todos ganhavam com ela, especialmente Rodin. Não é difícil perceber os sentimentos
da mulher rejeitada condensando essas idéias.
Em 1902, chegara a recusar um convite para Praga porque não queria ver sua obra exposta
perto da de Rodin, orgulho ao qual Camille não deveria ter.
Aos quarenta e um anos, oito antes de sua internação, suas inquietações e angústias
transformaram-se em idéias fixas, instalando-se a psicose.
Nos anos que antecederam sua internação, Camille rodeava-se de pessoas desconhecidas,
que, passavam as noites no ateliê bebendo, nessas ocasiões, vestia-se com roupas
extravagantes, enfeitando os cabelos com fitas de cores berrantes. Esses excessos
contrastavam com momentos de terror, onde sentia medo e perturbada dizia que os
modelos de Rodin, forçavam as venezianas para entrar e matá-la.
Verlaine
Após a morte do pai, a pedido do irmão que arrumou uma certidão médica, foi pega à
força por dois enfermeiros que arrombaram seus aposentos, onde no meio da sujeira,
haviam gessos ressecados e na parede recorte das quatorze cenas da Via Sacra. Era o
momento da concretização das idéias de perseguição.
Um ano depois foi transferida para Montdevergues, um lugar infame, onde as pessoas eram
despejadas, esperando a morte.
Desde a internação, insistia em fazer apelos comoventes para ser liberada, todos sem
sucesso.
Continuou acreditando que todos tinham um complô contra ela. Fortunas se acumulavam
com suas obras sendo que nada para ela, por isso, mandaram prende-la, para que não
fosse uma ameaça.
Diagnóstico
O quadro clínico de C.C. foi corretamente diagnosticado como psicose paranóide, que é
caracterizada pelo delírio dito sistematizado, pois se desenvolve na ordem e na clareza. O
paciente manifesta uma convicção dogmática que se constrói logicamente a partir de
elementos falsos ou ilusórios, se conduz e pensa em função de sua concepção delirante,
em vez de seguir a realidade comum.
A Psicose paranóide era considerada sem cura até a década de 1960, quando estudos sobre
efeitos de medicação específica cresceram consideravelmente. O que dificulta a cura,
tornando-a quase impossível é o tipo de paciente: desconfiados, sem estabelacer vínculo
com o terapeuta, séria alteração do seu sistema psíquico. Mas há casos de cura
surpreendentes.
Infelizmente C.C. viveu em uma época com poucos recursos por parte da Medicina e da
Farmacologia. O sinistro de seu quadro é que o doente mental era visto como vergonhoso
e portador de uma doença imoral, por atingir a psique. As famílias queriam ver-se livres
deles e não se interessavam em tratá-los, ou talvez acreditassem que não fosse possível.
Nos anos que passou no Asilo, C.C. não produziu nada. Várias foram as tentativas de
entregar-lhe argila para que pudesse esculpir, todas sem sucesso.
C.C. manteve-se sempre distante. Não criou vínculos, mas manteve-se informada e sua
cultura não se perdeu. Sabia o que estava acontecendo no mundo. Sentia-se feliz quando
recebia visitas de seus sobrinhos e em suas cartas a pergunta sempre era “quando você
vem me visitar”?...... Seja para quem escrevesse.
Conclusão
O que a conteceria se C.C. tivesse casado com Rodin, o filho tivesse nascido, juntos
tivessem construído uma carreira?
Teria C.C. vencido a barreira da sua relação mal resolvida com a mãe e a irmã?
Teria vencido a culpa por trair os princípios que seu Pai acreditava e que seu irmão
também?
São apenas pensamentos, pois uma história não é feita de “Se”, mas da evidências dos
fatos tais como são, e C.C. não é apenas uma vítima de toda uma época, e sim vítima de
seus próprios preceitos, tais como o orgulho e a descrença.
A loucura existe, sim, mas é o resultado de toda uma série de desequilíbrios, ao qual sua
cultura e inteligência não foram capazes de detectar, pois estava presa as suas raízes, que
são os Claudel, e estes eram diferentes dos demais.
Poderia C.C. ter uma história diferente? Sim, poderia. Se encontrasse dentro de suas
próprias obras um motivo para viver bem com elas. Não pelo trabalho obssessivo, em
busca de títulos, ou para provar que se é melhor, pois tudo é uma consequência.
Ao analisar sua biografia, penso se realmente existia amor em seu trabalho. Diria que até
um determinado período sim, porém fica evidente sua ânsia de ser melhor, de se destacar
mais, e a obssessividade criativa, que com certeza levaram-na a frustação, perdendo o fio
e entregando-se totalmente aos desvios e perturbações, que levam muitos artistas a
criarem, no seu caso ela conseguiu destruir.
É sem dúvida, uma grande artista. Difícil não se apaixonar por sua história. Difícil não
imaginar o quanto ela e Rodin embelezariam o mundo juntos, pois mesmo separados,
Sentimos a beleza e o amor ( não esculpido ) que ambos sentiam um pelo outro.
Bibliografia
Wahba, Lilian Liliano; Camille Claudel- Criação e Loucura; Ed. Rosa dos Tempos.
In: www.psiconeam.hpg.ig.com.br/2002/09
www.google.com.br/2002/09
Disciplina: Tópicos especiais em Artes Corporais – AT- 302