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- Sistema bicarbonato-CO2: principal sistema tampão do meio interno, com objetivo de manter o pH plasmático constante
- HCO3 é a base e o CO2 o ácido
- O aumento da concentração plasmática de bicarbonato eleva o pH, ou seja, alcaliniza o sangue
- O aumento da concentração plasmática de CO2 reduz o pH, ou seja, acidifica o sangue
- Na gasometria, outros parâmetros são calculados, como o HCO3 padrão (standard HCO3), o buffer base (BB) e o base
excesso (BE)
- HCO3 padrão ou standard: é o HCO3 do sangue após a correção da PCO2 para 40 mmHg (normal)
Sempre que ocorre um distúrbio da PCO2 (distúrbios respiratórios), o HCO3 real sofre uma alteração imediata. Se
a PCO2 estiver alta, o HCO3 real ficará mais alto; se estiver baixa, o HCO3 real ficará mais baixo. O HCO3 standard
não sofre essa influência. Este parâmetro só estará alterado quando houver um excesso ou déficit real de
bicarbonato no sangue, significando um distúrbio metabólico primário ou compensatório
- Buffer Base (BB): é o total de bases presente no fluido extracelular do paciente. O bicarbonato é a principal, mas não é
a única base deste compartimento. Serve para o cálculo do base excesso. Normal = 45 – 51 mEq/L.
- Base excess (BE): é a diferença entre o buffer base do paciente e o buffer base normal (48 mEq/L)
Se o BE for positivo e maior que +3,0 significa que existe um aumento do total de bases, isto é, o organismo está
retendo bases, devido a um distúrbio metabólico primário (alcalose metabólica) ou compensatório (retenção
renal de HCO3 para compensar o aumento da PCO2 de uma acidose respiratória crônica). Se o BE for negativo,
mais que -3,0, significa que houve uma redução do total de bases, ou seja, o organismo perdeu bases devido a um
distúrbio metabólico primário (acidose metabólica) ou compensatório (excreção renal de HCO3 para compensar a
diminuição da PCO2 de uma alcalose respiratória)
Olhar para o pH – está normal, ácido ou alcalino? Se estiver ácido, existe uma acidose;
1º passo se estiver básico, existe uma alcalose; se estiver normal, ou não há distúrbio ou há dois
que se contrabalançam (distúrbio misto)
Qual distúrbio justifica esse pH? < 7,35 pode ser justificado pelo aumento da PCO3
(acidose respiratória) ou pela redução do HCO3 (acidose metabólica). pH > 7,45 pode
2º passo
ser justificado pelo aumento de HCO3 (alcalose metabólica) ou diminuição da PCO2
(alcalose respiratória)
Exemplos:
Gaso 1: pH = 7,52 / PCO2 = 20 / HCO3 = 16 pH alto = Alcalose. PCO2 baixo = alcalose respiratória
Gaso 2: pH = 7,30 / PCO2 = 27 / HCO3 = 13 pH baixo = Acidose. HCO3 baixo = acidose metabólica
Gaso 3: pH = 7,33 / PCO2 = 60 / HCO3 = 31 pH baixo = Acidose. PCO2 alto = acidose respiratória
Gaso 4: pH = 7,47 / PCO2 = 44 / HCO3 = 31 pH alto = Alcalose. HCO3 alto = alcalose metabólica
5. Distúrbios mistos: a alteração inicial sempre determina a ocorrência de uma alteração compensatória, e toda
vez que analisarmos uma gasometria arterial devemos verificar se a resposta compensatória ocorreu ou não
conforme o esperado.
Gaso 6: pH = 7,05 / PCO2 = 55 / HCO3 = 15 Se pH está ácido, é porque existe acidose. Existe tanto
uma acidose respiratória (PCO2 alta) como uma
Na acidose mista
acidose metabólica (HCO3 baixo). Por isso o pH está
e alcalose mista,
MUITO baixo. Trata-se de uma acidose mista.
o pH costuma
Gaso 7: pH = 7,80 / PCO2 = 20 / HCO3 = 30 Se pH está alcalino, é porque existe alcalose. Existe
estar bastante
tanto uma alcalose respiratória (PCO2 baixa) como
alterado!
uma metabólica (HCO3 alto). Por isso o pH está
MUITO alto. Trata-se de uma alcalose mista.
Gaso 8: pH = 7,42 / PCO2 = 19 / HCO3 = 12 pH normal. PCO2 e HCO3 bastante alterados. Existem Quando estamos
dois distúrbios que se “equilibram”. Trata-se de uma diante de um pH
alcalose respiratória (PCO2 baixa) associada a uma normal e ao
acidose metabólica (HCO3 baixo). Não poderia ser mesmo tempo
uma resposta compensatória porque o pH está ampla variações
normal e PCO2 muito abaixo do “esperado” de PCO2 e HCO3
Gaso 9: pH = 7,42 / PCO2 = 60 / HCO3 = 38 pH normal, apesar de grande alteração da PCO2 e do com certeza
HCO3. Os dois distúrbios se equilibram. Trata-se de existe um
uma acidose respiratória (PCO2 alta) associada a uma distúrbio misto!
alcalose metabólica (HCO3 alto)
Gaso 10: pH = 7,11 / PCO2 = 32 / HCO3 = 10 Como está o pH? Baixo. HCO3 baixo também = acidose
metabólica. Porém, a resposta compensatória foi
aquém do esperado. Em uma acidose metabólica
grave como essa, era para o PCO2 ter caído mais – por
volta de 23. Portanto, existe um segundo distúrbio
que aumentou a PCO2 de 23 para 32 – uma acidose
respiratória. Trata-se, portanto, de um distúrbio
misto
Gaso 11: pH = 7,18 / PCO2 = 80 / HCO3 real = 29 Veja que existe aumento do HCO3 real, mas o standard e o
HCO3 standard = 24 / BE = 0,0 BE estão normais. O que acontece é que o aumento do HCO3
real é decorrente apenas do aumento do CO2. Como não
houve tempo de os rins reterem BIC, o HCO3 standard
encontra-se normal e o BE não se modificou. Trata-se então
de uma acidose respiratória aguda.
Gaso 12: pH = 7,34 / PCO2 = 80 / HCO3 real = 42 Nesta acidose respiratória, o HCO3 está aumentado e o BE
HCO3 standard = 37 / BE = + 5,0 mostra retenção de bases. Neste caso, houve tempo para os
rins acumularem BIC necessário para uma boa resposta
compensatória. Trata-se de uma acidose respiratória
crônica.
Sistemas tampão:
- Como já foi dito, o principal sistema tampão do meio extracelular é o sistema bicarbonato-dióxido de carbono;
- A eficácia desse sistema é limitada. Após 2-3h, as células e os ossos passam a contribuir para o tamponamento
nos distúrbios acidobásicos;
- As células e os ossos podem captar ou liberar H+. Para isso, o H+ é trocado por outros íons, como o Na e K
- Dentro das células, as proteínas e o fosfato são as principais substancias com poder tampão. Nos ossos, a
captação continua de H se dá à custa da degradação progressiva de fosfato de cálcio, levando a desmineralização
óssea, com suas possíveis consequências clínicas: raquitismo e osteomalácia
Resposta compensatória:
- Como se dá a resposta compensatória nos distúrbios metabólicos: Tem início quase que imediato. A redução
do pH nas acidoses agudas estimula o centro respiratório, levando à hiperventilação (respiração de Kussmaul).
Isso elimina mais CO2, reduzindo a PCO2. O aumento do pH na alcalose inibe o centro respiratório.
- Como se dá a resposta compensatória nos distúrbios respiratórios: Mais lenta, demorando 3-5 dias. Depende
dos rins. O pH nas células tubulares acompanha o pH plasmático. Na acidose respiratória crônica, o pH encontra-
se baixo, estimulando a excreção renal de H e a retenção de HCO3 (Ex: DPOC – retentor de CO2). Na alcalose
respiratória crônica, o pH das células está alto, reduzindo a excreção renal de H e promovendo perda de HCO3
O que é ânion gap? Para que equilíbrio eletroquímico do plasma seja mantido, o total de cátions tem que ser
igual ao total de ânions. O principal cátion do plasma é o Na e os principais ânions são Cl e HCO3. Porém, a
quantidade de sódio é maior que a soma dos dois ânions. O equilíbrio é então mantido pela existência de outros
ânions plasmáticos. O somatório de todos esses ânions corresponde ao ânion gap. Entre os ânions considerados
“não medidos” a albumina é o principal, mas também tem o fosfato, sulfato, lactato e os cetoânions.
Na = Cl + HCO3 + ânion gap → Ânion gap = Na – (Cl + HCO3) (VR: 8-12 mEq/L)
Cuidado! Um paciente com hipoalbuminemia pode falsear a análise do AG. Uma redução
em 1 g de albumina gera uma redução de 2,5 no AG. Assim, um paciente cirrótico com
albumina de 2,5 e AG = 12 pode ter acidose lática, pois o AG corrigido é de 17 (AG corrigido
= AG calculado + 2,5 (4 - albumina))
OBS: AG urinário: reflete o quanto de amônio está sendo excretado na urina. A forma do organismo liberar o
excesso de ácido é combinando o H+ com a amônia, formando amônio. As acidoses tubulares renais são incapazes
de excretar H+. Nessas, o AGU estará reduzido, logo o resultado será positivo. Se for negativo, a acidose é devido
a perdas do TGI
AGU = (Nau + Ku) – Clu
- O aumento do AG compensa a redução de HCO3 neste tipo de acidose metabólica. Portanto, o cloreto costuma
estar na faixa normal – acidoses normoclorêmicas. (Ex: acidose lática, cetoacidose, uremia, intoxicação por
salicilatos, por metanol, por etilenoglicol, sepse, choque, PCR)
- Tratamento:
1. Nas que cursam com depleção de volume e cloreto: repor volemia, repor K e corrigir Cl → SF 0,9% associado
à reposição (oral ou venosa) de KCl
2. Paciente hipervolêmicos e alcaloses não responsivas ao cloreto: acetazolamida ou infundir ácidos minerais
(HCl ou monoidrocloreto de arginina. Cloreto de amônio também pode ser tentado, porém é contraindicado em
hepatopatas pelo risco de encefalopatia hepática)
3. Pacientes com hiperaldosteronismo ou hipercortisolismo: repor K e uso de diuréticos poupadores de potássio
- Tratamento: voltado à causa base. O uso de bolsas coletoras de ar é necessário nos casos refratários. Se estiver
em ventilação mecânica, podemos aumentar o espaço morto (reduzindo a FR ou PIP)