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O que é comunica¢ao? Reauma: Este artigo é uma transcrgto de ums das paleteas £6 Aula Naga de ReferéneiaIterprogramas e abertrs do Seminirio Quinta Essencal realizado exs 2016.0 texto parte o prinipio de que a perguntaorienadora do Seminiio,"O ‘que € Comuniagior io cancee spenss aos interesidos ‘em Bpistemologin, mas a toder 0» peequsndores ds Ares A (guest ¢desmemsbraa em tte nes O primeio, epistemo= Togicao segundo, teorico-metodadgico;oercizo,ttica, alavea-cheve- Epstemologs, metodologa pesqus 2Que ela comunicaisn? Resumen: Este atculo es una transcripcién dels cas inaugu- ral dela 6 Clase Inaugural Interprogramae y Abertura del Se- ‘minario Quintesencial, que tuo gat es 2016. texto asume ‘que la pregunta gula de smninario, "Qué es la comunicai= Gn" na se efi silo est interesado ela epistemelogi, sina 4 todos los snvestgadores de Is Area. La pregunta cenit ex ivdida en tres nieles. Lo primero epistemoligico se refere estudio de lo fundameatos del conocmiento siguiente nivel erica y metodogico.Eltercer nivel, tic, Palabras clave: Fpsteolops, metodo, investigation What communication? This text isa traneription of one ofthe 6 nterprogramss Keynote Lecture, and also the opening of the Quintessential Serinay in 2016.1 proposes that che Seminay’s thems, What {a Communication? doesnot concerns only epistemology ex ers but to everyone in Coramuniction Reseach trthre levels to sneer level Second, the theoretical and the tactic evel Keywords pisemology methods, rsech José Luiz Braga Doutor em Comumicago pela Université de Paris It (nsttus Prangais de Prese) Docent titular ne Programa de Pée-graduasao ‘emi Comunicasio da Universidade Federal ddo Vale dos Sinos (Unisines) E-mail: braga@unisinos br Sobre o tema desta aula—“o que é comuni- eu gostaria de assinalar que respon- der a essa pergunta, na verdade, nao incumbe a grupos especificos de pesquisadores, como se apenas epistemdlogos efildsofos, geradores de teorias, pudessem se exprimir a respeito. Essa questio incumbe a absolutamente todos nds, professores, pesquisadores, mestrandos, doutorandos da area, em nossa diversidade. Estamos todos trabalhando igualmente nes- sa questo, Minha fala pretende ser uma de- monstragao de que ndo s6 incumbe a todos nds, mas de uma forma geral, estamos mesmo tentando responder a essa pergunta. Com relagao & segunda parte do titu- lo desta mesa de debate, «trajetérias epis- temolégicas», devo dizer que nao tenho a sensagao de trilhar um percurso pessoal den- tro do campo de estudos. Observo, mais que um percurso, um ponto de vista (as vezes flutuante) em que me situo ¢ diante do qual, por todo o meu periodo de pesquisador na rea, vejo passar vertiginosamente uma di- versidade extraordinéria de questdes. Percebo no nosso trabalho, de pesquisa dores da comunicagao, trés niveis principais LBERO- sso Paulo ~v. 19,0, 38, p 15-20 jul/dez de 2016 José Luiz Braga ~O que € corvanicacio? 18 16 que se confundem em nossas ages. A cada decisdo de pesquisa, a cada pergunta de in- vestigasao, a cada aspecto tedrico, metodol6- ico, pratico, apesar de poderem ser abstratamente distin- guidos. Primeiro, temos um nivel epistemo- Togico, o mais alto da questao. Nele, vamos encontrar reflexdes sobre 0 conhecimento produzido, sobre seus fundamentos. £ 0 ni- vel das visadas programaticas ¢ dos sistemas, de pensamento. es trés niveis se confundem, Se permanecemos estrita- mente dentro do modelo que corresponde as éreas tedricas da oferta, nto conseguimos contribuir ‘para 0 avanco do conhe- cimento comunicacional Depois, num segundo nivel, que pode- mos chamar de tedrico-metodolégico, te- mos as estratégias de conhecimento em uma grande area de estudos. No nosso caso, a érea das ciéncias humanas e sociais. E af sto feitas as reflexdes teéricas, a produgio de conjec- turas, Eo nfvel das posigdes assumidas sobre teoria e pesquisa. Finalmente, temos um nivel tético, que é propriamente o nivel da abordagem mate- rial, do exercicio de técnicas de observacao, da obtengao de dados, que implicam desde uma construgio do problema até a busca de indicadores ¢ o trabalho de interpreta- sao. E 0 nivel de tomadas de decisao de or- dem pritica, em cada pesquisa singular que desenvolvemos, Quando fazemos um trabalho de pesqui- sa, esses trés niveis oferecem e cobram agoes, mutuamente, O nivel epistemolégico oferece sistemas e grandes metas para os outros dois niveis; ¢ cobra destes uma sistematizagao se- gundo essa proposigao de sistemas. © nivel metodologico oferece caracte- risticas ¢ descobertas sobre o fenémeno em estudo, para serem articuladas a0 nivel epistemolégico. Por outro lado, cobra uma fundamentagio articuladora. Para 0 nivel titico, oferece questdes de horizonte, oferece objetivos e légicas abrangentes; ¢ cobra, por sua ver, perguntas e objetivos especificos. nivel tatico e investigativo, do trabalho pratico da pesquisa, oferece situagdes inde terminadas, oferece perspectivas préticas, pistas, indices, dados de observasao. Cobra padroes ¢ protocolos. Isso nfo aparece em nossas pesquisas de um modo sequenciado, como se devéssemos seguir uma lista de ages; mas na forma de ‘uma ida e volta intensiva entre os trés niveis © que € possivel perceber quando coteja- mos uma disciplina em vias de constituicao, como a comunicagao; com disciplinas consti- tuidas, como a sociologia, alinguistica, a psico- logia, a histéria? Quando estudamos questoes, epistemolégicas, tesricas € metodol6gicas, nas Adisciplinas estabelecidas, tendemos a organizar pesquisa a partir de uma linha epistemol6gica bastante definida. Em uma disciplina em viasde constituisao, como € o caso da Comunicacao, as articulagoes e os tensionamentos sobre esses trés niveis sio diferenciados. Aqui passo a referir uma experiéncia pes- soal, no que se refere a decisdes metodol6gi- cas. Tanto no mestrado como no doutorado, tive o que poderia chamar de uma formagao tedrico-metodolégica candnica, com énfase em teoria, e em uma metodologia tedrica dependente de um corpo de conhecimentos bem estabelecido e sistematizado, na pers- pectiva da aprendizagem. E por isso, inclu- sive, que tenho a tendéncia, ao organizar um quadro como este referido, em trés niveis de organizagao da pesquisa, de apresentar pri- meiro o nivel epistemolégico, depois o nivel tedrico-metodolégico, e finalmente o nfvel tatico, material, Durante essa formagao, no entanto, € mesmo depois dela, tive alguns momentos de perplexidade metodoligica, em decorréncia dessa sequéncia. LUBERO — Sao Paulo—v. 19,1. 38, p. 15-20, jul/dea, de 2016 José Lui Braga —O que € comunicagio? No doutorado, quando estudei o“Pasquim. € 05 anos 70”, percebi a necessidade de mon- tagem metodologica ad hoc para poder tra- balhar com tudo 0 que o 0 objeto me trazia. ‘Tratando da histéria de um jornal dos anos 1970, com suas caracteristicas politicas, eu tinha questées tedricas e portanto metodo- ogicas no nivel de teoria da noticia: ¢ tam- bém pelo angulo da politica, em pelo menos tés Ambitos diferentes: da politica do pats, & época, das politicas de imprensa de interesse geral, e da situagao de uma imprensa alterna- tiva. Tinha, naturalmente, questoes de conhe- cimento histérico; questdes hermenéuticas de interpretagao de texto; questées metodo- logicas referentes a estudos de caso; e ainda outras, adicionais, em perspectiva econdmica, artistica, psicolégica, Constatei que nao havia a menor possibilidade de costurar abstrata- mente uma abordagem tedrico-metodolégica previamente estruturada para esse conjunto, A metodologia foi se desenvolvendo con- trariamente aquela formagao candnica que tinha recebido no mestrado e que se repetia no préprio doutorado, pela qual eu chegaria a0 objeto a partir de um sistema de conhe- cimento bem fundamentado, que daria o direcionamento abstrato para a montagem de uma metodologia tedrica fornecedora das questdes de horizonte, com as quais eu che- garia entao a meu objeto. Foi necessério improvisar decisoes meto- dologicas, sempre fazendo referencias a te- orias diversas — selecionando nelas aspectos que me aproximassem de meu objeto; mas sobretudo partindo da realidade deste para fazer perguntas (¢ ter dtividas) que organi- zassem os angulos de observacio e descrigio. ‘Ao mesmo tempo, 0 préprio esforso des- critivo gerava perguntas. O resultado disso (que procurei deixar expresso ao redigir a tese), € que 0 capitulo metodolégico ¢ 0 ca- pitulo final do texto. Em vez da formulacao mais habitual — ¢ tive a sorte de contar com um orientador que aceitou esse proceso de discussao, 0 professor Maurice Mouillaud — decidi apresentar 0 capitulo metodolégico ao final, para evidenciar que ele se elaborou no andamento das observagdes empiricas € das primeiras inferéncias. A tese comeca pela indicagao de um problema, mas nao falo ai, absolutamente, da metodologia abs- trata para enfrentar esse problema. Trabalho © Pasquim por varios angulos e, aos poucos, vou montando a pesquisa, de tal forma que seria falso apresentar os encaminhamentos a0 inicio, como se eles tivessem direcionado os passos da pesquisa - quando na verdade a metodologia é a descrigao dos passos dados. A metodologia foi antes um resultado da pesquisa que seu eixo direcionador. O verda- deiro eixo era o problema empirico. Quando colegas do Programa de Mestrado da UnB me ofereceram a disciplina de Metodologia de Pesquisa, em 1987, uma segunda perplexidade me apareceu, como consequéncia da extraordinéria variedade de projetos empfricos dos estudantes ¢ de cam- pos tedricos relacionados. Eu jé tinha ficado perplexo com 0 conjunto de teorias de que eu precisava para trabalhar o meu objeto, ¢ agora passava a ter 10 a 15 projetos difer tes com os quais deveria interagir. Continuei dando essa disciplina tanto na UnB quanto na Unisinos, onde estou agora, e calculo que de entio até hoje devo ter trabalhado com cer- ca de 400 projetos de pesquisa diferentes. A sensag2o que eu tive, no infcio, era de ter que voltar universidade para fazer graduagdes em antropologia, sociologia, ciéncia politica, histéria, economia, inguistica e filosofia Na comunicacdo, por ainda nao termos um quadro sélido de fundamentasao, de sis- tematizagao das grandes ideias da area, pe- dimos de empréstimo referéncias, intensiva- mente, a todas essas disciplinas. Uma adoga0 extensiva das ofertas epistemoldgicas e te6ri- co-metodolégicas de todas as ciéncias huma- nas e sociais é 0 que leva a impressto — que considero equivocada— de que somos estru- turalmente uma ciéncia interdisciplinar. Nao sou contra essa importasao, que na verdade é necesséria ¢ pode ser produtiva. Mas devemos trabalhar as _ teorizasoes LBERO- sso Paulo ~v. 19,0, 38, p 15-20 jul/dez de 2016 José Luiz Braga ~O que € corvanicacio? 7

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