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tomo ao investimento, criticando, desse modo, para outro - o dos trabalhadores. Assim, toma-
aquela teoria como super-racional e sugerindo se problemático admitir a idéia de que a
que outros objetivos podem ser pelo menos tão condição de racionalidade em uma organização
importantes como o do lucro". reside no estabelecimento de objetivos fixos e
A abordagem weberiana não é específica, além claramente definidos se, como estamos vendo, o
disso, em termos dos objetivos de quem devem as estabelecimento desses objetivos é algo pro-
normas ser aplicadas para que a burocracia efeti- blemático.
vamente opere. As normas burocráticas, segundo As normas, pois, na discussão da burocracia,
Weber, possibilitam a predição do bom desem- parecem ter sido concebidas como se elas fossem
penho da organização pela restrição das amizades instrumentos de uma vontade abstratamente con-
ou das inimizades pessoais no processo de recru- siderada e não sofressem, no seu processo de for-
tamento e seleção do candidato ao cargo, con- mação, a interferência dos múltiplos grupos de
tribuindo assim para a organização como um to- interesse, cada um investido de certo poder e ten-
do. Mas, em termos de quem seriam as normas tando na verdade impor sua vontade e propósitos
um recurso racional? Indicar, como faz Weber, as dentro da organização.
contribuições que as normas trazem para a orga- Não concebido, em sua forma pura, como um
nização como um todo, não diz nada a respeito de sistema político, o tipo burocrático de organização
se elas seriam veículos igualmente eficientes para não permite o confronto de propósitos porque
a realização dos objetivos de todos os estratos da pressupõe que os empregados são conscientes de
organização. Como bem exemplifica Gardner", ao que não têm direito formal de disputar os fins da
se referir à mobilidade dos operários de uma in- organização e são motivados para alcançar aque-
dústria, "os canais de ascensão não são claros, o como les objetivos eficientemente e de acordo com as
e o quando do avanço não são definidos. Quando per- normas. Os funcionários são, assim, comprometi-
guntam ao patrão como podem progredir, ele pode ape- dos primordialmente com o alcance eficiente e
nas dizer que se trabalharem, fizerem um bom serviço, efetivo de sua missão, missão esta imposta por
lhes será dada eventualmente uma oportunidade de outros, já que os objetivos últimos não são um
melhores trabalhos. Ele não pode dizer que se fizerem produto de sua interação.
tal ou qual coisas serão promovidos no fim de alguns Por não estarem todos os indivíduos e grupos
meses ...
I/. efetivamente engajados na formação dos objetivos
Ao visualizar os propósitos de uma organiza- da organização como um todo, é muito comum a
ção como algo resultante de uma ação racional e presença constante, na organização burocrática,
planejada, essa perspectiva não contempla o fato de reações adversas dos vários grupos no sentido
de que nenhuma organização pode ser de tal de não se acatarem as decisões tomadas e, até
maneira estruturada que possa prever cada con- mesmo, rejeitá-las, o que vai tomar difícil a imple-
tingência. Ainda que a organização tente ser mentação desses mesmos objetivos.
racional, ela se compõe de indivíduos com va- Organizações que se aproximam desse tipo,
lores e desejos que podem alterar o que acontece tomam-se entidades monolíticas que, com o
na organização, levando certa incerteza no que decorrer dos anos, se convertem em instrumentos
diz respeito à pré-fixação de objetivos. Tal difi- de difícil atuação no meio que as cerca. Ao supor
culdade sugere que os fins de uma organização que os objetivos estabelecidos pelos segmentos de
só existem, como diz Couldner", em sentido maior poder coincidem com os objetivos de todos
metafórico, e podem variar, pão sendo, pois, ne- os estratos, a organização burocrática se toma an-
cessariamente idênticos para todos os que nela
trabalham. A superioridade técnica que Weber 18. CYERT, Richard & MARCH, [ames G. A Behau-
atribui ao tipo puro de administração burocráti- ioral Theory of the Firm. Englewood Cliffs, New Jersey,
Prentice-Hall,1963.
ca envolve, além disso, tal precisão que se torna
necessário especificar os objetivos de diferentes 19. GARDNER, Burleigh G. Human Relations in In-
pessoas ou dos diferentes estratos na organiza- dustry. Chicago, Richard D. Irwin, Inc., 1946, p. 174.
ção. Do mesmo modo que uma certa norma
20. GOULDNER, Alvin W. "Organizational Analy-
pode ser considerada como racional ou vantajosa SiS". In: MERTON, Robert K.;BROOM, L. & COTTRELL
para a obtenção dos fins de um estrato - o dos C. (orgs.) Sociology Today. New York, Basic Books, 1959,
supervisores, por exemplo - pode não o ser pp. 400-428.
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ti-democrática, pois as constantes imposições de nização seja encarada como uma estrutura adap-
objetivos no local de trabalho são, em geral, inter- tativa que opera num ambiente em constante mu-
pretadas como abusos a serem coibidos e geram, dança" já que não é sem tensões que o equilíbrio
por isso mesmo, oposições burocráticas", é obtido. De um modo geral, as organizações, se-
Por tudo isso, a perspectiva racional mostrou- gundo os funcionalistas, devem preencher função
se inadequada para a análise das organizações adaptativa, de integração, de administração de
porque somente parece levar em consideração os tensões, e de manutenção.
objetivos "formais", não incorporando o que os É preciso enfatizar que a organização, assim
membros e grupos específicos em interação ex- considerada, é orientada em direção a objetivos,
plicitam sobre o que pensam que sejam os obje- mas há o reconhecimento de que as necessidades
tivos da organização da qual são membros. da organização, principalmente a de sobrevivên-
Encarando os objetivos como algo não pro-
blemático e não sujeito às incertezas, a perspecti- 21. Para uma boa discussão sobre as oposições buro-
va racional é, além disso, estática, não tomando cráticas, consulte WEINSTEIN, Deena. Bureaucratic Op-
position (Challenging Abuses at the Workplace). New York,
em consideração as repercussões das mudanças Pergamon Press, 1979.
do ambiente em que as organizações operam. A
fixação de objetivos de uma organização pode ser 22. São inúmeras as contribuições ao desenvolvi-
bastante limitada pela atuação dos que vivem fo- mento da perspectiva funcionalista nas análises organi-
zacionais. Destacamos os trabalhos pioneiros de Par-
ra dela e pelo que, por exemplo, eles possam ser sons, Selznick e Merton, principalmente. Consultar, res-
convencidos a aceitar como legítimo. Na verdade, pectivamente, PARSONS, Talcott."Sugestão para um
os membros de uma organização têm uma liber- Tratado Sociológico da Teoria de Organização". In: ET-
dade relativamente restrita para fixar os objetivos ZIONI, Amitai. Organizações Complexas - Um Estudo das
Organizações em Face dos Problemas Sociais. São Paulo,
da organização a que pertencem. O problema da Editora Atlas, 1976; SELZNICK, Philip. "Fundamentos
fixação de objetivos é, pois, uma questão também da Teoria de Organização". In: ETZIONI, Amitai. Orga-
do que a sociedade, representada por seus vários nizações Complexas - Um Estudo das Organizações em Face
dos Problemas Sociais. Op. cit., pp.30-43; e MERTON,
segmentos, está disposta a apoiar. Robert K. "Estrutura Burocrática e Personalidade". In:
ETZIONI, Amitai. Organizações Complexas - Um Estudo
A PERSPECTIVA FUNCIONALISTA das Organizações em Face dos Problemas Sociais. Op. cit.,
pp.57-69.
A discussão que alguns teóricos funcionalistas" 23. Interessado nos estudos de integração social,
fizeram das possíveis disfunções" na organização Merton considera como "funções" aquelas "conseqüên-
burocrática tem importantes implicações para se cias observadas que favorecem a adaptação ou ajuste
entender a questão dos objetivos nas organiza- do sistema" e as "disfunções" como sendo as "conse-
qüências observadas que reduzem a adaptação ou
ções. ajuste do sistema". Consulte MERTON, Robert K.
Do ponto de vista dessa análise, a questão dos "Funciones Manifiestas y Latentes". In: MERTON,
objetivos se liga a uma outra, mais geral e funda- Robert K. Teoria y Estructura Sociales. México, Fondo de
mental, que é a da auto-sustentação da organiza- Cultura Económica, 1965,p. 61.
ção, sendo a organização tratada como um "sis- 24. Os funcionalistas chamam de "partes" de uma
tema" de partes inter-relacionadas e interdepen- organização as suas estruturas de grupos ou de papéis,
dentes". O conceito de sistema é, pois, central à e aos indivíduos que, na qualidade de membros, são
teoria funcionalista das organizações e, de acordo socializados como tais. Parsons, por exemplo, distingue
três partes ou subsistemas, cada um com funções a
com essa linha de raciocínio, o sistema e cada serem desempenhadas numa organização: o técnico, ao
parte, ou subsistema, têm suas próprias necessi- qual cabe realizar atividades técnicas que contribuem
dades ou requisitos funcionais a serem preenchi- diretamente para o desempenho dos objetivos; o ad-
dos, podendo cada parte contribuir ou não para a ministrativo, que cuida dos negócios internos da orga-
nização e media entre o subsistema técnico e o seu am-
satisfação das necessidades do sistema. Se con- biente imediato ao assegurar os recursos necessários e
tribui, há uma função; se não, há uma disfunção. os clientes para os produtos ou bens organizacionais; e,
O problema reside, então, na obtenção do equi- finalmente, o subsistema institucional que opera como
líbrio entre o conjunto de funções e o de dis- um elo entre os subsistemas técnico e administrativo e
a sociedade.
funções no sistema. Essa busca em direção ao
equilíbrio e que se transforma no principal objeti- 25. SELZNICK, Philip. A Liderança na Administração.
vo organizacional, exige, além disso, que a orga- Rio de Janeiro, FGV,1972.
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cia, constituem uma força tão importante como a servadorismo burocrático nos partidos socialistas
dos objetivos formais. A satisfação das necessi- alemães foi inevitável, levando-os a servirem ca-
dades, principalmente a de sobrevivência, resulta da vez mais aos interesses dos líderes e, cada vez
em relegar os demais objetivos a uma posição se- menos, aos interesses daqueles a quem as elites
cundária, de tal maneira, que a auto-sustentação estariam supostamente representando, ou seja,
se torna o foco de análise dos funcionalistas. daqueles que, paradoxalmente, lhes deram apoio
Nesse enfoque, porém, a sobrevivência da or- e sustentação.
ganização burocrática não se deveria apenas às Uma das conseqüências de tratar a organização
conseqüências previstas. como um sistema é que ela é encarada não como
Merton, em sua famosa e conhecida análise da um instrumento racional destinado a realizar al-
burocracia", faz questão de enfatizar a importân- go, mas, como um organismo adaptativo que con-
cia das conseqüências imprevistas na questão da fronta permanentemente situações externas às
sobrevivência da organização burocrática. Assim, quais ela responde criando mudanças que resul-
o autor argumenta que, se por um lado, as nor- tam em novas necessidades.
mas podem constituir um recurso racional e fa- A distinção entre organização e instituição
vorecer a predição do comportamento do buro- sugerida por Selznick" é muito relevante nesse
crata, também podem ser responsáveis pela falta contexto por mostrar precisamente que uma orga-
de flexibilidade, obstaculizando muitas vezes a nização é muito mais do que uma simples estru-
consecução dos objetivos propostos. Seguindo o tura formal de atividades em que as pessoas
seu raciocínio, se uma organização existe para al- tomam decisões com base em operações técnicas e
cançar certos objetivos, uma pessoa pode ser de- especializadas. Para Selznick, "se uma organização
mandada a comportar-se de acordo com as nor- é meramente um instrumento, será prontamente alte-
mas pois somente por esses meios pode a precisão rada ou posta de lado quando aparecer outro de maior
e a predição serem desfrutadas. Mas, argumenta eiiciência">. Por isso é que para se automanter e
ele, a insistência do modelo burocrático no adquirir certa durabilidade, ela tem que ser encar-
cumprimento das normas pode induzir os indiví- ada como uma "comunidade natural" em que a
duos a internalizá-las a tal extremo que eles ação organizada não pode escapar ao envolvi-
próprios talvez esqueçam que as normas existem, mento informal dos seus membros.
afinal de contas, para facilitar o atingimento Na medida em que essas estruturas informais
daqueles objetivos. Desse modo, ao invés de sim- se estabelecem, a organização amadurece, adquire
ples meios, os procedimentos normativos se tor- seu caráter, sua identidade, e é transformada em
nam fins em si mesmos, deixando de ser recursos uma instituição valorada por seus membros como
racionais para se tornarem obstáculos ao atingi- um fim em si mesma. Segundo esse autor, tratar
mento dos objetivos. organizações como instrumentos é levá-las à dis-
A formulação de Merton, a nível teórico, do torção de seus objetivos. Os que assim o fazem
deslocamento de objetivos encontra apoio em- deixam simplesmente de entender e antecipar as
pírico na análise antes feita por Michels" da mudanças que exigem sua adaptação.
política interna dos partidos socialistas na Ale- Vários processos adaptativos têm sido estu-
manha. Naquela análise, Michels sugere que dados dentro dessa perspectiva, mas Selznick
aqueles partidos organizados supostamente sob pôs grande ênfase na cooptação, ou seja, no "pro-
princípios revolucionários se tornaram organiza- cesso de absorção de novos elementos da liderança
ções consistentemente conservadoras, na medida ou estrutura de determinação das políticas como um
em que os comportamentos de seus líderes, ao meio de prevenir ameaças à sua estabilidade ou
longo dos anos, se orientou por uma lógica de
auto-interesse. Desse modo, interessados na 26. MERTON, Robert. "Estrutura Burocrática e Per-
preservação e estabilidade de "sua" organização sonalidade". Op. cit.
e liderança, eles passaram a adotar políticas que 27. MICHELS, Robert. Sociologia dos Partidos Políticos.
reforçavam mais e mais a sua permanência no Brasília, Distrito Federal, Universidade Nacional de
poder, ainda quando essas políticas vinham a se Brasília, 1982.
configurar como políticas contrárias aos interes-
28. SELZNICK, Philip. Op. cit., pp. 5-19.
ses da organização como um todo. Daí que a
substituição dos ideais revolucionários pelo con- 29. Idem, ibidem, p. 16.
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existência':" ao estudar o comportamento dos novos objetivos que limitam tanto as decisões, co-
membros da Tennessee Valley Authority (TVA)3\ mo a maneira em que os objetivos nominais dos
Atuando em um ambiente hostil, a TVA utilizou a grupos possam ser perseguidos.
cooptação informal dos grupos que lhe faziam A tentativa de definir organizações como "sis-
oposição introduzindo, desse modo, alguns dos temas" tem importantes implicações para se com-
membros desses grupos na estrutura de liderança preender a natureza dos objetivos. A ênfase na in-
da TVA, dando origem, em conseqüência, a re- terdependência das partes entre si e sua integração
visões fundamentais nas políticas oficiais ante- com o sistema como um todo leva os teóricos
riormente estabelecidas. dessa perspectiva a esquecerem de explorar sis-
A contribuição de Selznick, através da análise tematicamente as variações dessa interdependên-
da TVA, foi por isso notável, pois, não se limita cia em termos de graus, deixando de considerar
apenas a enumerar quantitativamente os aspectos também aquilo que Couldner" chamou de "au-
estruturais, suas funções e disfunções. Identifica tonomia funcional" das diversas partes. Em outras
concretamente um processo adaptativo - coop- palavras, nenhuma atenção é posta na possibili-
tação - pelo qual uma organização busca atender dade de que qualquer parte venha a ter apenas
a sua necessidade de sobrevivência. uma pequena necessidade das outras. Na medida,
A abordagem sistêmica de Selznick, além disso, portanto, em que as partes possam vir a ter relati-
agrega novos elementos à análise dos objetivos va autonomia funcional, espera-se que elas
das organizações, mostrando que estes não são busquem mantê-la, gerando, assim, tensões no sis-
"dados"; pelo contrário, eles são o resultado das tema.
interações da organização com o seu ambiente e Do ponto de vista da análise dos objetivos, é
um produto muito mais de pontos de vista confli- preciso ter em conta que a autonomia de um de-
tivos e contraditórios do que dos consensuais e partamento em relação aos demais em uma orga-
não contraditórios, como implica a visão radical nização pode impedi-lo de comprometer-se com
dos modelos clássicos de organização. Outro de- os objetivos dos outros por entender que tal com-
senvolvimento significativo da perspectiva fun- promisso possa representar uma ameaça à sua au-
cionalista sobre a interdependência das organiza- tonomia, ou mesmo, por não concordar com aque-
ções complexas com a sociedade mais ampla e as les objetivos. Podem estabelecer-se, assim, confli-
conseqüências dessa interdependência para o esta- tos de objetivos e oposições entre eles.
belecimento dos objetivos de uma organização foi Assim, se a definição de organização como sis-
o esquema classificatório de Thompson e tema permite que a mesma seja concebida como
Mclíwen". Enfatizaram a redefinição e a transfor- não tendo apenas um, mas, múltiplos objetivos,
mação de objetivos como resultado de várias es- por outro lado, impede de observar o fato de que a
tratégias, a saber - a barganha, a cooptação, a estrutura de uma organização composta de suas
coalizão e a competição - que são adotadas por várias partes não é algo homogêneo, e, sim,
organizações para lidar com os seus ambientes. moldada por relações de desigualdade.
De um modo geral, a abordagem funcionalista
deu um avanço significativo à análise dos obje- 30. SELZNICK, Philip. TVA and the Grass Roots. New
tivos. Uma das suas mais importantes con- York, Harper Torchbooks Edition, 1966, p. 13.
tribuições foi a de demonstrar os aspectos não
racionais, espontâneos e não planejados do com- 31. Agência criada pelo governo federal dos Estados
Unidos, em 1933, para fornecer energia elétrica barata,
portamento dos indivíduos que surge dentro da controlar as inundações, irrigação etc. através do desen-
organização burocrática, organização racional- volvimento da bacia do rio Tennessee, especialmente
mente planejada. A organização burocrática deixa pela construção de reservatórios de água e açudes.
de ser um mero arranjo formal de atividades,
32. THOMPSON, J. D. e McEWEN, William J. "Obje-
conscientemente coordenadas, para ser vista como tivos Organizacionais e Ambiente". In: ETZIONI, Arni-
um sistema social parcialmente estruturado por tai. Organizações Complexas - Um Estudo das Organizações
propósitos e parcialmente estruturado por forças em Face dos Problemas Sociais. Op. cit., pp. 177-187.
que emergem da interação dos indivíduos entre si
33. GOULDNER, Alvin. "Reciprocity and Autono-
e com o ambiente. my in Functional Theory". In: DEMERATH, N. J. & PE-
Concebidas como fins em si mesmas e possuin- TERSON, R. A.(orgs.) System, Change and Conflict. New
do suas próprias necessidades, tendem a gerar York, Free Press, 1967, pp. 141-170.
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Para concluir, alguns críticos" assinalam que a baixo, ou em qualquer nível intermediário da
posição funcionalista é uma reafirmação de fé no hierarquia.
paradigma racional, a despeito de seu intento de O importante é, como diz Perrow, que se enten-
analisar os objetivos de uma organização em re- da que os objetivos operacionais não se refiram a
lação ao conceito de sistema e deixa, além disso, um conjunto abstrato de fins organizacionais. Eles
muitas questões sem respostas. Assim, por proporcionam, na verdade, o conteúdo específico
exemplo, se se admite que uma organização dos objetivos oficiais ainda que possam até sub-
pode ter variados outputs, como essa abordagem vertê-los. Assim, afirma Perrow, "onde obter lucro é
parece acreditar, fica por ser especificado, pelo o objetivo declarado, os objetivos operativos especifi-
menos em certo momento, que outputs devem carão se' a qualidade ou a quantidade é o que deve ser
ser considerados objetivos, ficando a decisão de enfatizado, seja a curto prazo e com riscos, ou a longo
defini-los, mais uma vez, ao sabor de julgamen- prazo e estdoel''".
tos subjetivos. Perrow reconhece que os objetivos operativos
de uma organização não são fáceis de discernir
A PERSPECTIVA TECNOLÓGICA como à primeira vista parecem ser, mas argumen-
ta que se tivermos conhecimento do que sejam as
Embora os estudiosos que se notabilizaram principais tarefas de uma organização e as carac-
nessa abordagem tenham sido muitos, Perrow é o terísticas da elite que as controla, é possível predi-
que mais tem se preocupado, nos seus trabalhos zer os seus objetivos em termos gerais. Quatro
teóricos e empíricos", com a questão dos objetivos grandes tarefas constituem, em geral, a operação
organizacionais. de uma organização:
Procurando evitar as complicações inerentes 1. capital para se estabelecer e se expandir;
aos modelos convencionais, que pressupõem que 2. a busca da legitimidade;
os objetivos podem ser facilmente identificados 3. o domínio de habilidades;
ao se observar o que é explicitamente declarado 4. a coordenação das atividades dos seus mem-
ou o que eles aparentam ser, Perrow utiliza a dis- bros e das organizações com outras organizações,
tinção entre o que chama de objetivos "opera- clientes e consumidores.
cionais" e objetivos "oficiais". Por objetivos ofi- Essas tarefas não são igualmente importantes
ciais, ele entende os "propósitos gerais da organiza- em um determinado tempo, argumenta ele, e a
ção tal como existem nos relatórios anuais, declarações ênfase numa ou noutra varia de acordo com a na-
públicas feitas por seus dirigentes e nos pronuncia- tureza do trabalho que a organização faz, a sua
mentos das autoridades" da organização, enquanto
que os objetivos operacionais são aqueles que 34. GEORGIU, Petro. "The Goal Paradigm and
"dizem o que a organização está tentando realmente Notes Towards a Counter Paradigm". In: ZEY-FERREL,
Mary & AIKEN, Michael. Complex Organizations: Criti-
fazer, independentemente do que é oficialmente cai Perspectives. Glenview, Illinois, Scott, Foresman and
declarado como sendo os seus fins"36. Company, 1981.
Ao introduzir o conceito de objetivos opera-
cionais na análise, Perrow está preocupado com a 35. PERROW, Charles. "The Analysis of Goals in
Complex Organizations". In: American Socíological Re-
frágil relação entre os chamados objetivos da or- view, 26, dezembro, 1961, pp. 854-866; PERROW,
ganização e as atividades dos membros organiza- Charles. "A Framework for the Compara tive Analysis
cionais, preocupação não incorporada à visão su- of Organizations". In: American Socíological Review, 32,
per-racionalista. Enquanto essa última visão su- 1967, pp. 194-208; PERROW, Charles. "Hospitals: Tech-
nology, Structure and Goals". In: MARCH, [ames G.
gere que os objetivos racionais se situam dentro (org.) Handbook of Organizations. Chicago, Rand McNal-
do estrato da gerência de uma organização e vê o ly & Co., 1965; PERROW, Charles. Complex Organiza-
trabalhador como governado por orientações iions: A Criticai Essay. New York, Scott, Foresman & Co.,
tradicionalistas e não racionais, Perrow, tal como 1972; PERROW, Charles. "Organizational Goals".In:
SILLS, David L. (org.) lnternatíonal Encyclopedía of the
na perspectiva anteriormente analisada, argu- Social Scíences, New York, The MacMillan Company
menta que as orientações não racionais existem and The Free Press, vol. 11, 1968.
em todos os estratos, inclusive, na elite. Os obje-
tivos operacionais referem-se, assim, aos fins de 36. PERROW, Charles. "The analysis of Goals in
Complex Organizations". Op. cit., p.855.
grupos específicos dentro da organização, este-
jam eles em que posições estiverem, no alto, em- 37. Idem, ibidem, idem.
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para o fato de que nem todos os objetivos são exemplo, o de "desacelerar a produção" e, depois,
igualmente buscados. É necessário entender, em do outro, por exemplo, o de "satisfazer o cliente".
sua visão, por que alguns objetivos e não outros Utilizando o conceito de slack" ou, como eles
são selecionados. Apesar de Simon usar quase querem, excesso de recursos (equipamentos, pes-
sempre a expressão "objetivos da organização", soal, fundos etc.), esses autores buscam explicar
ele cuidadosamente observa que tais objetivos são como as organizações podem satisfazer seus obje-
produtos das interações entre os membros da tivos simultaneamente. Um exemplo disso acon-
mesma. tece quando agências de fomento à pesquisa, pos-
Avançando essa perspectiva, seus colabo- suindo excesso de fundos, financiam projetos em
radores Cyert e March", em um fascinante traba- áreas que, em épocas de escassez, não receberiam
lho sobre organizações econômicas, expressam nenhum apoio. Quando a quantidade de verbas
sua rejeição tanto à idéia da Gerência Científica diminui, porém, e a alocação de recursos a certas
de que os objetivos de uma organização são idên- áreas significa prejuízo para áreas "prioritárias",
ticos aos dos altos escalões, como também à idéia os objetivos conflitam e sua resolução emerge do
de que eles sejam formados pelo consenso, tal co- processo de barganha entre as coalizões cujas de-
mo está implícito nas teorias sistêmicas de insti- mandas estão em competição.
tuições políticas que incorporam a noção de "in- Cyert e March, porém, não descrevem a for-
teresse público" e a de "bem estar social". Partin- mação dos objetivos apenas em termos de barga-
do da idéia de que o conflito é um aspecto ine- nhas entre as coalizões. Assim vistos, eles teriam
vitável e permanente da vida organizacional e de um caráter bastante instável. Claro que muitos
que para construir uma teoria do processo de- apresentam alta instabilidade, mas, os autores vi-
cisório é necessário abandonar a idéia de que os sualizam certos mecanismos estabilizadores. Os
objetivos são produtos de uma consistência nas precedentes da organização e seu orçamento, por
organizações, esses autores descrevem os obje- exemplo, atuam afetando o contexto no qual os
tivos como resultado da barganha entre os diver- objetivos se formam. De acordo com Cyert e
sos grupos em coalizões. Tanto é assim que os March, o orçamento é um importante indicador
objetivos de uma organização mudam na medida dos objetivos das organizações, pois reflete como
em que novos membros entram ou antigos mem- os seus recursos são alocados, enquanto a atuação
bros deixam a coalizão. Argumentam, além disso, dos precedentes se dá, por exemplo, sobre os
que os objetivos nascem de problemas que as or- membros das coalizões, de modo a descartar acor-
ganizaçpes enfrentam e que os objetivos opera- dos, decisões e comprometimentos que poderiam
cionais de uma particular decisão são os da ser renegociados, se a organização não fosse
unidade que toma essa decisão. provida de uma memória. Por conta dos prece-
De acordo com essa visão, as organizações não dentes de uma organização, os objetivos apresen-
são orientadas, como pretendiam as teorias clássi- tam uma estabilidade maior do que a que carac-
cas, para um objetivo específico. Elas perseguem, terizaria uma situação de negociação pura.
pelo contrário, objetivos múltiplos que estão, em Em suma, a abordagem da teoria do processo
geral, em conflito. Cyert e March afirmam, por
exemplo, que não é possível ao dirigente de uma 43. CYERT,Richard M. & MARCH, [ames G. Op. cit.
organização estabelecer uma ordem de preferên-
cia de objetivos, isso porque as organizações são 44. Por slack, Cyert e March entendem a "dispari-
coalizões de indivíduos que definem os objetivos dade entre os recursos disponíveis à organização e as
despesas requeridas para manter a coalizão". (CYERT,
das mesmas através de um processo conflitivo Richard M. & MARCH, James G. Op. cit. p. 36.) Con-
que resulta das demandas de cada coalizão den- siste, portanto, daquelas recompensas feitas aos mem-
tro da organização. bros da coalizão num montante além do que é requeri-
Contrária às teorias clássicas, a perspectiva de do para manter uma organização. Cyert e March desta-
cam muitos tipos de slack, tais como, salários além da
Cyert-March é de que os objetivos conflitivos po- quantidade necessária para manter de forma remunera-
dem, porém, ser satisfeitos. As organizações re- da uma certa mão-de-obra, o fornecimento de serviços
solvem os conflitos entre seus diversos objetivos públicos em volume superior ao requerido, serviços e
de modo seqüencial, ou mesmo, simultâneo. A regalias recebidas por executivos acima do necessário
para mantê-los na organização, e assim por diante. O
resolução é empreendida de modo seqüencial, termo foi mantido no original por falta de tradução
quando se tenta cuidar primeiro de um deles, por adequada.
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decisório é de tal maneira concebida que sua ja que seja feito. Qualquer mudança, na organi-
análise do processo de formação dos objetivos nas zação ou na sociedade, afeta as relações entre
organizações explica-os como produtos de coa- ambas, e requer, portanto, revisão. Em um ambi-
lizões de indivíduos através de um processo con- ente constantemente em mudança, a organização
flitivo resultante das demandas de cada coalizão é demandada a reavaliar continuamente os seus
dentro da organização. Os objetivos são, de acor- objetivos.
do com essa visão, múltiplos, conflitivos e quase Destacando quatro formas de interação em que
nunca completamente resolvidos. a organização se engaja quando em contato com o
Como se vê, a descentralização do processo de- seu ambiente - a concorrência, a barganha, a
cisório, a atenção seqüencial dada aos objetivos e cooptação e a coalisão -, Thompson e McEwen
o ajustamento ao slack organizacional são impor- buscam mostrar como a escolha dos objetivos or-
tantes ingredientes de que dispõem as coalizões ganizacionais pode ser afetada pela forma de in-
da organização para tomar decisões em face de teração em que a organização se envolve com ou-
objetivos inconsistentes e até mesmo contra- tras no ambiente que as cerca. Assim, se a forma
ditórios. de interação é a concorrência com outras organi-
O modelo de organização como coalizão de zações, serão bem-sucedidas aquelas organiza-
grupos, subjacente à concepção de Cyert e March ções que adotem objetivos que a sociedade deseja
do processo de formação dos objetivos parece, aceitar. Tenderão, assim, a serem eliminadas
pelo menos quando aplicada às organizações aquelas cujos objetivos não correspondem aos ob-
econômicas, proporcionar uma melhor expli- jetivos que a sociedade legitima. Afinal de contas,
cação às questões colocadas na introdução deste afirmam Thompson e McEwen, as organizações
artigo. Apresenta, porém, limitações, pois, se é necessitam de apoio da sociedade, pois, é dela
bem verdade que os objetivos impõem restrições que retira os recursos para sua sobrevivência. A
às ações e são, além disso, o resultado da con- barganha entre a organização e o ambiente que a
tribuição de múltiplos fatores - os objetivos e rodeia poderá significar um estreito acordo entre
desempenhos anteriores, a composição da coa- os principais atores do ambiente e da organiza-
lizão, a divisão do trabalho no processo decisório ção, de tal modo que, a participação dos atores ex-
etc.- eles não podem ser explicados apenas por ternos no processo decisório da organização se
fatores internos à organização. É necessário exa- converte em uma realidade. A cooptação, que os
minar a sociedade na qual a organização atua, e, atores definem seguindo Selznick, ou seja, aquele
além disso, a conexão entre ambas. Tal perspecti- mecanismo pelo qual são absorvidos novos ele-
va de sistema aberto vem sendo desenvolvida mentos na liderança ou na estrutura de formação
nos trabalhos do francês Lucien Karpík" e de al- da política de uma organização como um meio de
guns sociólogos americanos" e será examinado a evitar ameaças à sua estabilidade e existência,
seguir. possibilita à organização controlar aqueles que se
supõem controlarem-na. Se um membro de um
A ABORDAGEM DA ECONOMIA POLÍTICA grupo, por exemplo, é hostil à organização, ele
A abordagem da economia política das organi- 45. KARPIK, Lucien. Op. cit., KARPIK, Lucien. "Les
zações é um grande avanço sobre as perspectivas Politiques et les Logiques d' Action de la Grande En-
anteriores e tem se desenvolvido a partir da idéia treprise Industrielle". In: Sociologiedu Travail. Paris, vol.
1, 1972, pp. 82-105; KARPIK, Lucien (org.) Organization
de que a organização é um sistema aberto e, como and Environment: Theory, Issues and Realíty. Beverly
tal, interage com a sociedade mais ampla. Hills, Califórnia, Sage Publícations, 1978.
A análise antes referida de Thompson e
Mclíwen", por exemplo, se centra nas transações 46. THOMPSON, J. D. & McEWEN, William J. Op.
cit.; ZALD, Mayer N. "Political Economy: A Frame-
da organização - foco de análise - com outras work for Comparative Analysís". In: ZALD, Mayer, N.
organizações e no impacto que essas transações (org.) Power in Organizations. Nashville, Tennessee, Van-
têm na formação dos objetivos. O que eles procu- derbilt University Press, 1970; ZALD, Mayer N. Organi-
zational Change: The Polítical Economy of the YMCA.
ram mostrar é que a questão dos objetivos está Chicago, University of Chicago Press, 1970.
essencialmente em determinar as relações dese-
jadas entre a organização e a sociedade que, por 47. THOMPSON, J. D. & McEWEN, William J. Op.
sua vez, é uma questão do que a sociedade dese- cit.
16
RAE
pode ser incorporado à mesma através de sua in- A abordagem da economia política, propria-
dicação para uma posição de poder dentro da or- mente dita, desenvolve-se a partir da idéia de que
ganização, reduzindo-se, assim, sua hostilidade. as organizações não podem ser analisadas iso-
Na medida em que participa na estrutura de ladamente do seu ambiente histórico, econômico
poder, seu ponto de vista tende a se tornar mais e político.
semelhante aos dos que exerceram a cooptação. A Zald" tenta captar a essência dessa perspectiva,
forma final de interação descrita pelos autores é a ao elaborar um sistema conceitual-teórico que re-
coalizão que consiste na combinação de duas ou flete a economia interna (divisão do trabalho, tec-
mais organizações com propósitos semelhantes. A nologias, mecanismos e critérios para a alocação
coalizão pode afetar também a autonomia de de- de recursos etc.), a economia externa (característi-
cisão da organização que poderá se tornar uma cas dos mercados, fornecedores de matérias pri-
sócia comprometida com uma unidade maior, mas, clientelas etc.), a política interna (dis-
perdendo, assim, a capacidade de formular seus tribuição de poder, os processos de resolução de
próprios objetivos, de forma relativamente inde- conflito, sistemas e processos de sucessão etc.) e a
pendente. As coalizões põem limites às organiza- política externa (os agentes reguladores, as re-
ções envolvidas, já que elas não podem estabele- lações com organizações similares etc.) das orga-
cer objetivos unilateralmente. nizações; e põe atenção, além disso, na compreen-
A análise empírica de como operam essas qua- são histórica das origens e desenvolvimento da
tro estratégias mostra como a identificação dos economia e da política das organizações. Também
objetivos oficiais como meio de conhecer as Benson" utiliza a perspectiva da economia políti-
transações que a organização, foco de análise, tem ca em sua análise da importância de recursos, tais
com as outras, afasta-a, por definição, desses mes- como as finanças e a autoridade nas redes interor-
mos objetivos oficiais. ganizacionais, mas seu trabalho não é direta-
Thompson e McEwen concebem essas transa- mente aplicável ao estudo dos objetivos organiza-
ções da organização com o ambiente como um cionais.
contínuo, cuja variação vai desde uma organiza- A contribuição de Zald é mais palpável à com-
ção que domina suas relações ambientais e a so- preensão e análise dos objetivos e resulta do seu
ciedade que a cerca, àquela completamente domi- interesse na inter-relação dos processos políticos
nada pelo seu ambiente. Apesar disso, sua análise de formação dos objetivos com os processos
tende a dar mais ênfase ao controle da organiza- econômicos de alocação de recursos. Seu estudo
ção pelo ambiente, controle esse que vai permitir de caso sobre a transformação de uma organiza-
aos agentes externos a ela, as condições suficientes ção evangélica (A Associação Cristã de Homens
para limitar o seu processo decisório interno. jovens)" em agência secular nos Estados Unidos
De acordo com essa perspectiva, as organiza- mostra como o deslocamento dos objetivos inici-
ções são concebidas em relação ao seu ambiente; ais daquela associação não decorreu, como argu-
sua ênfase, porém, é muito mais no impacto do mentariam os funcionalistas, da necessidade de
ambiente nas organizações faltando, na visão sobrevivência, mas resultou principalmente da
desses autores, o importante reconhecimento de busca de novos espaços no ambiente, como res-
que as organizações são atores políticos e podem, posta a maiores demandas por serviços no merca-
por isso mesmo, ser concebidas como agentes de do urbano-industrial.
mudança social, de controle social na sociedade e A análise empírica de Zald é um avanço em re-
de dominação de amplos setores em benefício de lação às análises convencionais, pois deixa de la-
grupos com interesses próprios. do o estrito modelo de adaptação dos funcionalis-
Sendo um esquema mais classifica tório do que
uma análise, propriamente dita, a abordagem de
Thompson e McEwen não se mostra muito útil 48. ZALD, Mayer N. "Political Economy: a Frame-
work for Comparative Analysis". Op. cit.
para examinar a política daquelas grandes organi-
zações que têm ampla autonomia em relação aos 49. BENSON, J. Kenneth. "The interorganizational
limites econômicos impostos pelo mercado. Por Network as a Political Economy". In: Administrative Sei-
seu demasiado apego aos pressupostos sístêmi- ence Quarter/y, Ithaca, voI. 20, 1975, pp. 229-249.
cos, seria mais adequado considerar esse esquema 50. ZALD, Mayer N. Organizationa/ Change: The Po/it-
como uma contribuição funcionalista. ica/ Economy of the YMCA. Op. cito
17
o ARTIGO
tas, por exemplo, para tornar-se um modelo meios usados para obtê-los; do ponto de vista do
dinâmico em que a organização é concebida como observador, é possível identificar as preferências
ator que participa ativamente da sua própria reais e implementadas do ator, distinguindo-as
transformação. Mas, como afirma Mcbleil", essa também dos meios que ele usa para obter os fins.
análise necessita ser complementada por um Esses dois níveis de análise e a distinção entre os
modelo da dinâmica do controle político. Avalian- meios e os fins são as bases para a distinção con-
do porrnenorizadamente o trabalho de Zald, Me- ceitual entre objetivos, estratégias, logiques
Neil salienta que ele teria sido mais bem-sucedido d'action e políticas.
se tivesse tratado mais explicitamente com a Karpik define os objetivos como as intenções e
dinâmica de mercado do capitalismo industrial, futuros estados desejados dos atores individuais
colocando, por exemplo, as seguintes questões: ou das coalizões de atores em circunstâncias nas
Que tipos de dinâmicas operavam na oferta e de- quais a coletividade estabelece um acordo em re-
manda do mercado de serviços sociais? De que lação aos fins desejados. As estratégias são os
modo o isolamento do setor de serviços volun- métodos usados pelas coalizões ou atores organi-
tários pelo Estado facilitou o padrão de investi- zacionais na obtenção dos fins desejados. O con-
mento do tipo encontrado por Zald naquela Asso- ceito de logiques d' action é definido em termos das
ciação? racionalidades dos atores individuais ou coalizões
Respostas a questões como essas poderiam ter organizacionais observadas pelo pesquisador.
trazido à tona importantes fatores que teriam in- Esse conceito é a ferramenta analítica que Karpik
fluído no padrão de formação dos objetivos da usa para distinguir entre os objetivos privados
Associação Cristã de Homens Jovens. McNeil afir- dos atores - por eles definidos - e as preferên-
ma, por exemplo, que a falta de recursos em cias dos membros da organização - que o
quantidade suficiente, por parte do governo, para pesquisador observa no comportamento concreto
atender as demandas por serviços sociais nas dos atores. Finalmente, a política é definida como
cidades, pode ter muito bem encorajado as asso- os resultados da ação coletiva e representa a im-
ciações privadas a proporcionarem esses serviços, plementação das atividades da coalizão em di-
ficando o governo fora de tal empreendimento. reção aos objetivos, tal como entende o obser-
Mesmo assim, a análise de Zald contribui para vador.
mostrar que as tensões situadas dentro das orga-
nizações, mas criadas por forças societais podem 51. McNEIL, Kenneth. "Ünderstanding Organiza-
induzir a constantes transformações das estru- tional Power: Building on the Weberian Legacy". In:
turas e dos objetivos organizacionais. ZEY-FERREL,Mary & AIKEN, Michael. Op. cit.
Somente a partir do esquema teórico do soció-
52. O esquema teórico de Lucien Karpik para a
logo francês Lucien Karpik é que a perspectiva da análise dos objetivos organizacionais origina-se das
economia política no estudo dos objetivos organi- suas reflexões a nível macrossociológico sobre organi-
zacionais adquire mesmo maior vigor. Seus estu- zações incluindo sua reconstrução das formas de capi-
dos, sobretudo a respeito das corporações multi- talismo. O que ele concebe como loqiques d' action - fer-
ramenta analítica que permite ao observador recons-
nacionais", representam um esforço de análise in- truir as racionalidades e os princípios de ação que de-
tegrada das dimensões política e econômica, pro- terminam as preferências dos atores da organização e
priamente ditas, das organizações complexas e da as preferências que serão dominantes - é, a nível mi-
crossocíológíco, um reflexo da sua análise dos proces-
relação entre elas, o sistema de poder e o ambi- sos societais a nível macrossociológico. As racionali-
ente. dades e princípios de ação que determinam as prefe-
A principal contribuição de Karpik ao dilema rências em torno das quais se organizam os objetivos
de como estudar os objetivos está na sua visão dos atores da organização, são, segundo Karpik, deter-
minadas em parte pelas formas de capitalismo em que
plural do processo que envolve a formação e a elas se desenvolvem. (Consultar, para melhor entender
implementação dos objetivos organizacionais. o esquema teórico de Lucien Karpik, as obras do autor,
Para aquele autor, essa questão pode ser estu- bem como dois ensaios interpretativos, um dos quais
dada sob o ponto de vista do ator e do obser- escrito por RENAUD, Marc; DEL RIO, Alfredo &
AIKEN, Michael. "An Interpretative Summary", s.n.t.
vador, distinguindo-se em cada um deles os fins mimeografado; o outro é de autoria de WEISS, Joseph
e os meios para se obterem os fins. W. "The Historical and Political Perspectives on Orga-
Do ponto de vista do ator, é possível identificar nizations of Lucien Karpik". In: ZEY-FERREL,Mary &
e distinguir os fins declarados e intencionais, dos AIKEN, Michael. Op. cit.)
18
RAE
A vantagem do conceito logiques d' action está do de sistemas sociais, econômicos e políticos que
em que permite ao pesquisador distinguir entre também afetam a organização.
os objetivos intencionais dos atores da organiza- Desse esquema resulta urna perspectiva que in-
ção e os fins privados que eles impõem à organi- corpora em um único quadro analítico o ambiente
zação; e entre os meios intencionais do ator para e as atividades dos atores no processo de for-
alcançar seus objetivos (estratégias) e os resulta- mação dos objetivos, sendo estes o resultado, da
dos em relação às políticas observadas. Tais dis- mesma forma que na análise de Cyert e March, da
tinções capacitam ao pesquisador identificar a barganha que se reflete nas decisões tornadas pela
coalizão dominante em urna organização e os coalizão dominante na organização. Os objetivos
seus fins privados, bem corno permitem com- representam, em resumo, limites impostos à orga-
preender que os "objetivos" da organização são, nização através dos processos de negociação e
de fato, os fins privados da coalizão, que controla comprometimento entre os membros da coalizão.
os recursos da organização. A abordagem teórica de Karpik não é inteira-
O esquema teórico de Karpik para a análise da mente nova, já que algumas de suas idéias, corno,
questão dos objetivos está inserido numa con- por exemplo, a da organização corno arena políti-
cepção de organização muito semelhante à de Cy- ca e a de logiques d' action, podem não somente ser
ert e March, ou seja, a de um sistema político em encontradas nos trabalhos de Cyert e March, mas,
que os indivíduos, motivados por interesses pri- também, na chamada teoria da "ordem negocia-
vados, formam coalizões que negociam e com- da"53segundo a qual os objetivos são o resultado
petem entre si por poder e posição para impor do processo de negociação, e outras perspec-
seus próprios fins à organização. As organizações tivas", Entretanto, ultrapassa todas elas ao sugerir
consistem, pois, de centros múltiplos de poder, novos caminhos à análise dos objetivos organiza-
mas, diferentemente do que pensam aqueles au-
tores, o escopo de atividades onde os objetivos or- 53. A teoria da "ordem negociada", que trata da
ganizacionais se formam é ampliado, não se res- questão da ordem e de como ela é mantida e transforma-
da, tem suas origens mais remotas no interacionismo sim-
tringindo apenas aos setores de vendas, estoques, bólico embora tenham sido analistas e profissionais da
produção, mercado e lucro, todos de cunho ex- área de saúde os que formularam as bases sistemáticas da
clusivamente econômico. teoria. Um dos estudos mais conhecidos tenta descrever
As logiques d' action, segundo o próprio Karpik, um modelo para estudar hospitais com base em uma
pesquisa realizada em dois hospitais psiquiátricos, su-
representam um amplo conjunto de racionali- gerindo que o modelo poderia ser igualmente ampliado a
dades econômicas, sociais e políticas (logiques outras organizações como universidades, corporações,
d'aciion adaptativa, de prestígio, de poder, de lu- agências de governo etc. Os pressupostos dessa teoria são:
1) a estrutura organizacional está constantemente
cro etc.) através dos quais os atores estabelecem emergindo através das interações, em processo de nego-
os objetivos em organizações. ciação, dos participantes nos encontros diários;
A questão dos objetivos, diferentemente do 2) as estruturas estabelecidas por essas ações são rara-
que as análises convencionais sugerem, está liga- mente estáveis e os atores estão constantemente renego-
ciando suas circunstâncias nas organizações. Consultar:
da à situação interacional dos membros da orga- STRAUSS, Anselm et alii. "The Hospital and its Negoti-
nização em suas atividades para fixar os obje- ated Order". In: FREIDSON, E. (org.) The Hospital in
tivos, isso se dando em diversos subconjuntos, ou Modem Society. New York, Free Press, 1963; DAY,R. A. &
seja, nos grupos ocupacionais, que, por sua vez, DAY, J. V. "A Review of the Current State of Negotiated
Order Theory", In: The Sociological Quarterly, Columbia,
integram um estabelecimento, que faz parte de Mo., vol. 18, 1977, pp. 126-142; STRAUSS, Anselm.
um grupo de organizações semelhantes, que, por "Summary, Implications and Debate". In: STRAUSS,
seu lado, integram um setor industrial (por exem- Anselm. Negotiations: Varieties, Contexts, Processes and So-
plo, a indústria metalúrgica); estas, juntamente cial Order. São Francisco, [essey-Bass, 1978.
com outros setores, constituem a economia na- 54. Consultar PETTIGREW, Andrew. The Politics of
cional, por sua vez inserida em urna economia Organizational Decision-Making. Londres, Tavistock, 1973.
Na sua análise da política e das decisões, Pettigrew adota
continental que, por fim, é parte da economia in- uma visão de organizações como coalizões e a idéia de
ternacional. Por outro lado, as atividades dos que o conflito é um permanente e essencial aspecto das
atores não são vistas corno irracionais ou disfun- relações de poder em organizações em virtude da diver-
cionais corno, por exemplo, em alguns esquemas sificação dos objetivos e da resultante ação das coalizões.
São também importantes aspectos da sua análise, estraté-
antes discutidos. Do mesmo modo, os atores indi- gias como a barganha e a formação de coalizões no pro-
viduais estão ligados a um conjunto interconecta- cesso político organizacional.
19
o ARTIGO
cionais, incorporando, diferentemente dessas pers- Por conta disso, o estudo dos objetivos organiza-
pectivas, o político, o histórico e o econômico em cionais, se é que se pode usar essa expressão, re-
um único esquema macrossociológico. Requer, quer a utilização de esquemas que afastem de uma
porém, uma combinação de vários procedimentos vez por todas a possibilidade de reificação e que
metodológicos e interdisciplinares, tais como o de evidenciem a conexão entre os níveis micro e
reconstrução histórica, a observação participante, macrossociológicos. Tratar, portanto, a organização
as entrevistas etc., o que toma sua aplicação muito como coalizões de indivíduos que interagem entre
difícil na análise organizacional. Apesar disso, é si tentanto impor, cada uma, seus próprios interes-
um dos mais significativos paradigmas teóricos na ses e, além disso, como entidades que só existem
explicação do comportamento das organizações, quando consideradas em relação à sociedade mais
pelo menos, econômicas. ampla, são idéias básicas na identificação e estudo
No contexto dos países em vias de desenvolvi- dos objetivos, embora nem sempre presentes simul-
mento, tais como o Brasil, pode ser bastante útil taneamente nos esquemas de análise mais dinâmi-
para clarificar muitas questões relacionando orga- cos. Assim é que Cyert e March enfatizaram, como
nizações, sociedade e política que os paradigmas foi visto, a concepção de organização como uma
convencionais não teriam condições de fazer. coalizão de grupos que perseguem seus próprios
objetivos, embora não tenham conseguido incorpo-
CONSIDERAÇÕES FINAIS rar à análise a relação da organização com a so-
Uma avaliação das cinco perspectivas teóricas ciedade, aspecto tão importante na formação dos
revela que cada uma delas apresenta certas difi- objetivos e só posteriormente desenvolvido por
culdades na abordagem do que se costuma cha- Karpik e Zald. Seu esquema também limita as
mar de objetivos organizacionais. A maioria des- ações nas organizações aos atores que formulam
sas dificuldades ainda resulta, como foi possível objetivos econômicos, um outro aspecto corrigido
perceber da discussão até agora, da problemática por Karpik, quando este admite a existência de
mais geral prevalecente na teoria sociológica - a racionalidades em vários outros domínios.
da reificação. Foi possível perceber, principal- A distinção de Karpik entre os objetivos dos
mente nas perspectivas racional e funcionalista, atores, ou seja, as definições das suas intenções e as
que a organização é tratada como se fosse uma en- logiques d'action, isto é, as racionalidades atribuídas
tidade concreta, e ao mesmo tempo, como se fosse aos atores pelo que um observador de fora interpre-
independente dos indivíduos e grupos que a cons- ta de seus comportamentos concretos e não apenas
tituem, quando se sabe que ela é produto da inte- pelo que eles expressam em palavras, ajuda a en-
ração dos indivíduos e grupos que atuam em di- tender que os "objetivos" da organização são, em
reção à satisfação de seus interesses reais. realidade, os fins privados da coalizão que a contro-
Por isso é que indivíduos, não organizações per la. Na lógica dessa distinção, está a concepção de
se, têm objetivos. Não significa que a análise tenha que a organização não existe desligada da ação
de enfocar os objetivos individuais pois isso pres- concreta de seus membros; conseqüentemente, é
suporia que não haveria nenhum sentido em orga- uma lógica que também rejeita a reificação.
nizar-se. Considerar que indivíduos e grupos têm Por outro lado, a idéia de que o comportamento
objetivos e que estes são importantes na formação organizacional resulta da interação de vários sub-
dos objetivos da organização significa apenas um conjuntos (os indivíduos, o grupo ocupacional, a
alerta, no sentido de tratá-los como aspectos organização, o setor, a economia regional, a econo-
dinâmicos e atentando para o fato de que eles se mia nacional, a economia internacional) evidencia
modificam no constante processo de interação dos a conexão entre os níveis micro e macrossocíológí-
indivíduos e no contato que a organização tem cos, uma estratégia que alguns sociólogos soube-
com o mundo externo. ram tão bem estimular" e que, como vimos, esteve
Em suma, a não ser que se defina uma organi- tão presente no estudo de Zald.
zação de forma bastante cuidadosa, não é possível Da mesma maneira, a análise de Perrow sus-
afirmar que ela, como tal, tem objetivos. Estes, co-
mo resultado da interação de indivíduos e grupos 55. Consultar, por exemplo, CROZIER, Michel. "The
Relationship Between Micro and MacroSociology, A
e sendo múltiplos e variados, não representam, Study of Organizational Systems as an Empirical Ap-
além disso, propósitos necessariamente comuns proach to Problems of MacroSociology". In: Human Re-
de todos aqueles da organização. lations, Londres, vol, 25, 1972, pp. 239-251.
20
RAE
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tenta a idéia de que os objetivos de uma organiza- Zald" viu que uma maior alocação de recursos
ção devem ser convertidos em diretrizes específi- era destinada aos aspectos de custódia e a outros
cas para o seu funcionamento real; tanto que sua mais tradicionais e não a despesas de pessoal
distinção entre objetivos "oficiais" e "opera- profissionalmente habilitado para realizar cuida-
cionais" tenta resgatar as ações concretas dos in- dos terapêuticos, apesar de ser a reabilitação o ob-
divíduos e grupos na formação dos objetivos das jetivo oficialmente declarado.
organizações, não sendo uma distinção apenas As abordagens de Cyert eMarch, bem como as
teórica. A distinção feita por Perrow é empirica- de Perrow, de Zald e de Karpik não só tentam evi-
mente observada também e ajuda a entender, por tar o problema da reificação, mas, reforçam a
exemplo, de que forma duas universidades com idéia de que é muito difícil definir o que sejam os
os mesmos objetivos oficiais - ensino, pesquisa e objetivos de uma organização, uma vez que dife-
prestação de serviços à comunidade etc. - po- rentes membros e grupos os definem de maneiras
dem diferir radicalmente na ênfase que cada uma as mais variadas e até conflitivas.
põe neles, mesmo quando oficialmente esses obje- Convém lembrar aqui a contribuição da "teoria
tivos são. igualmente enfatizados. O ensino, a da ordem negociada" quando afirma que os obje-
pesquisa e a prestação de serviços à comunidade tivos - símbolos da ordem e meios de obtê-la
são, além disso, objetivos tão vagos, contêm tan- através do controle que sua implementação per-
tas incertezas, que dificilmente poderiam servir mite - são elementos-chave de toda a nego-
como guias para a análise organizacional, sendo ciação. Isso significa que num hospital, por exem-
muito difícil captar o que cada universidade en- plo, os objetivos não podem ser identificados sem
tende por bom ensino, boa pesquisa etc. que se observem os vários tipos de pessoal nele
O estudo dos objetivos exige, em primeiro lu- envolvidos. Assim, o objetivo oficial de saúde e
gar, que os mesmos sejam identificados, reco- bem-estar dos pacientes que serve para orientar
nhecidos, necessitando, pois, do emprego de uma os médicos, o pessoal de escritório, os técnicos de
variedade de métodos de coleta de dados e de laboratório, os auxiliares, os serventes etc. pode
múltiplos indicadores. Como bem afirma Hall=,
se o pesquisador utiliza entrevistas, haverá uma 56. HALL, Richard. Op. cit.
tendência para que os entrevistados repitam os
57. ZALD, Mayer N. "Organizational Control Struc-
objetivos oficialmente declarados. Em um estudo tures. Five Correctional Institutions". In: The American
sobre reformatórios de jovens, por exemplo, Journal of Sociology. Chicago, vol. 68, 1972, pp. 335-345.
21
o ARTIGO
ser mais problemático do que aparenta ser. Dife- mento das metas depende do desenvolvimento
renças no treinamento e na socialização profis- de novas técnicas, novos produtos e invenções.
sional bem como na experiência e antecedentes, Seria extremamente inadequado considerar uma
de um lado, e nas posições hierárquicas, de outro, organização ineficaz por não terem suas equipes
geram ideologias e práticas a respeito de como o científicas obtido resultados positivos, apesar de
cuidado com o paciente é concebido, de como ele terem trabalhado durante anos e anos sem que
é realizado, de quem o realizará, enfim, de como a tenham conseguido desenvolver aquilo a que se
divisão do trabalho será estruturada. Conseqüen- haviam proposto.
temente, diferenças de opinião na política e nos Assim entendidas, organizações não podem ser
objetivos vão naturalmente surgir. Supondo, en- definidas em termos de seus objetivos, sem que se
tretanto, que o consenso a respeito dos objetivos atente para as questões aqui colocadas. Mesmo
oficiais pudesse ser alcançado, os objetivos opera- quando os objetivos são identificados com certa
cionais - aqueles que dizem respeito à imple- precisão, não se pode afirmar que a estrutura es-
mentação e distribuição das tarefas para alcançá- teja automaticamente dada. Objetivos e estrutura
los (os objetivos) - seriam, segundo essa teoria, organizacionais devem ser vistos como resultados
resultados, mesmo assim, de uma constante nego- da construção social da realidade". Objetivos,
ciação. quaisquer que sejam, mudam constantemente e,
A teoria da ordem negociada traz, portanto, por isso, são redefinidos na prática, sendo difícil
importantes elementos à análise organizacional, para os que se dedicam ao estudo das organiza-
pois agrega a relevante dimensão psicossocial ao ções ter, no momento, um modelo que seja capaz
estudo dos objetivos, mas a natureza particula- de compreender essa dinâmica. Mas, esperamos
rista de cada ordem negociada, que alguns dos que a discussão empreendida neste artigo tenha
seus teóricos insistem em assinalar, e a tendência contribuído para mostrar, de forma sistemática, os
a examinar restritos setores da realidade dificul- elementos teóricos necessários para a elaboração
tam o exame das relações de poder e da política e futura de um modelo de análise que sirva para es-
a influência que exercem sobre a negociação. tudar mais adequadamente os objetivos nas orga-
Como resultado de todas essas contribuições, nizações .•
qualquer análise dos objetivos deve levar em con-
ta o caráter dinâmico dos mesmos. Eles não de-
vem ser tratados como abstrações porque são re- ABSTRACT: The aim of this article is to discuss
sultados da ação e interação dos membros na or- the nature of what is known as organizational goals,
ganização e podem até mesmo ser deslocados, co- that is, what they are, which factors determine them
mo no caso da tendência que as universidades and what impact they may have on organizations and
têm para organizar seus objetivos em torno de society. The discussion of these questions is done with-
atividades facilmente quantificadas, contando, in each of five broad theoretical perspectives.
por exemplo, publicações, ao invés de avaliar a The limitations and the advances of each perspective
qualidade dessas publicações, examinando a are pointed out as an attempt to sistematize the debate
quantidade produzida por um profissional ao in- and to contribute for the building of a model of analy-
vés de examinar a dedicação, a lealdade, a res- sis in the future. It is expected that the theoretical ele-
ponsabilidade, o interesse etc. ments of the debate on this legitima te area of research
De tudo isso, depreende-se que não é tão sim- may be also useful for the understanding of the inter-
ples estudar os objetivos de uma organização, co- nai dynamic of organizations and the relationships be-
mo à primeira vista parece. A idéia tão arraigada tween these and society.
nos modelos clássicos, de que a organização exis-
te para alcançar metas declaradas, conduz quase KEY TERMS: Coais in organizations, setting of
que obrigatoriamente ao problema de tentar organizational politics, guidelines for action in organi-
avaliar a organização em termos de eficácia na zations, theory of organizations.
obtenção dos objetivos. É especialmente difícil en-
tender os problemas organizacionais tomando 58. BERGER, Peter & LUCKMANN, Thomas. The
por base o fato de ter ela alcançado ou não suas Social Construction of Reality. A Treatise in the Sociology of
metas, no caso de certas organizações que lidam, Knowledge. New York, Garden Cíty, Doubleday & Co.,
por exemplo, com a pesquisa, em que o atingi- Inc., 1967.
22