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UMA ANÁLISE SOBRE A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO

Amanda Kunze Marques Barros1

RESUMO:
Essa análise pretende se debruçar sobre as causas da evasão escolar no ensino médio. O assunto
será problematizado a partir de referenciais teóricos acerca do tema, assim como dados
estatísticos disponibilizados pelo MEC e pelo IBGE. De acordo com a literatura já existente,
as causas para a evasão escolar são diversas, como: a necessidade de trabalhar, falta de interesse
pela escola, entre outros motivos. Considerando que no ensino médio a evasão escolar torna-
se maior do que nas outras fases do ensino básico. Pensar sobre os motivos pelos quais os
jovens decidem parar de estudar é o primeiro passo para formulação de respostas desse
problema atual da educação brasileira.

Palavras-chave: Educação brasileira, evasão escolar, ensino médio.

1 INTRODUÇÃO

A educação básica brasileira, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação (LDB – 9.394/96), compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
médio. Observando os indicadores desta etapa da formação acadêmica, é possível identificar a
ocorrência do fenômeno da evasão escolar.
De acordo com a Emenda Constitucional nº. 59, de 11/11/2009 a
obrigatoriedade da educação básica compreende a faixa de 4 a 17 anos de idade. Ou seja, todos
que estejam nessa faixa etária devem estar matriculados e frequentando uma instituição regular
de ensino.
Contudo, os dados do Censo Escolar de 2015 mostraram que 3 milhões de
crianças e adolescentes entre 4 a 17 anos estão fora da escola. Ainda de acordo com os dados
do Censo de 2015, a idade mais crítica são os 17 anos, desses 932 mil adolescentes deixaram
de estudar. A pré-escola, que compreende as crianças de 4 e 5 anos, também é responsável por


1 Bacharel em Serviço Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. E-mail:
amandakunze@yahoo.com.br

um número considerável de alunos evadidos, pois teve uma redução de 1% das matrículas de
2014 para 2015. De acordo com o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação, Daniel Cara: “Temos 1% das crianças fora da escola, não pode sobrar ninguém. Para
aquele 1%, a educação é definitiva para várias possibilidades na vida. Educação não pode ser
secundarizada, tem que ver as opções orçamentárias que o Brasil faz”. (TOKARNIA, 2016).
Essa evasão escolar não é um fenômeno novo, e vários pesquisadores
contribuíram para sua compreensão nas últimas décadas, como a autora Lucileide Domingos
Queiroz em seu estudo realizado sobre o tema em 2001.
A evasão escolar está dentre os temas que historicamente faz parte dos debates
e reflexões no âmbito da educação pública brasileira e que infelizmente, ainda
ocupa até os dias atuais, espaço de relevância no cenário das políticas públicas
e da educação em particular.” (QUEIROZ, 2001).

A autora analisou os motivos para a evasão escolar a partir de duas perspectivas:


a dos fatores externos e internos à escola.

De maneira geral, os estudos analisam o fracasso escolar, a partir de duas


diferentes abordagens: a primeira, que busca explicações a partir dos fatores
externos à escola, e a segunda, a partir de fatores internos. Dentre os fatores
externos relacionados à questão do fracasso escolar são apontados o trabalho,
as desigualdades sociais, a criança e a família. E dentre os fatores
intraescolares são apontados à própria escola, a linguagem e o professor.
(QUEIROZ, 2001).

Outro autor que contribuiu para a análise acerca da evasão escolar foi Marcelo
Neri, em 2009, através da pesquisa Motivos da Evasão Escolar. Nesse trabalho o autor buscou
a compreensão desse fenômeno a partir dos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD).

É preciso que se informe a população sobre a importância da educação. (…)


Buscamos, aqui, entender as motivações relatadas diretamente pelas pessoas
para não estarem na escola. (…) Os suplementos de educação da PNAD
permitem enxergar as motivações daqueles que estão fora da escola até os 17
anos de idade, e assim, podem aprimorar o foco e o desenho das políticas a
partir das necessidades e percepções de quem toma a decisão de ir, ou não, à
escola. (NERI, 2009).

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Dessa forma, pode-se afirmar que a evasão escolar é um problema que perdura
há algum tempo na educação brasileira. Isso significa que crianças e adolescentes em idade
escolar, por motivos diversos, não estão recebendo o ensino regular e obrigatório.
Apesar desse fracasso escolar também ser relevante em outras fases da educação
básica, esse estudo implicará apenas na análise da evasão dos alunos das turmas do ensino
médio. Para isso será realizado pesquisa bibliográfica sobre o tema, e também uma pesquisa
empírica em duas escolas (uma da rede pública e uma da rede particular) que contenham o
ensino fundamental e o ensino médio. Nessas escolas será feita uma análise dos documentos
relativos aos alunos concluintes do ensino fundamental e dos alunos que ingressaram e
concluíram o ensino médio. Também será realizada uma entrevista quantitativa e qualitativa
com 1 profissional da educação de cada escola, ambas as escolas situadas no município de
Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro.
Após a conclusão da pesquisa empírica, será possível fazer uma comparação
entre os dados coletados nos documentos, assim como entre as respostas dos profissionais da
educação da rede pública e da rede privada, buscando pontos convergentes e divergentes entre
eles acerca da compreensão do abandono escolar. O intuito de ampliar a pesquisa empírica para
uma escola da rede privada é de justamente acrescentar à discussão do tema um caráter
socioeconômico, ou seja, descobrir se o problema da evasão escolar é comum entre a rede
pública e a rede privada.

2 DADOS DA EVASÃO NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO

A faixa etária padrão que compreende o ensino médio é dos 15 aos 17 anos de
idade. Contudo, muitos dos alunos que estão nessa faixa ainda não alcançaram essa etapa do
ensino. Esse atraso escolar é devido as inúmeras reprovações e ao abandono da escola “Entre
os 10 milhões que têm entre 15 a 17 anos, só a metade está no Ensino Médio. A outra metade,
1,8 milhão de alunos, desistiu de estudar e 3,5 milhões continuam presos pelos obstáculos do
Ensino Fundamental.” (de ABREU, 2011).
De acordo com os indicadores publicados na PNAD de 2014, nos últimos anos,
o número de jovens na faixa etária de 15 a 17 anos que frequentam o ensino médio teve um
acréscimo, já que subiu de 44,2% para 55,2% de 2004 a 2013. E, em virtude desse aumento,
ocorreu uma queda do número de jovens dessa faixa etária frequentando o ensino fundamental,

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esse reduziu de 34,7% em 2004 para 26,7% em 2013. Porém, é importante observar dois
pontos: o primeiro, é a pouca redução do número de jovens que não frequentam a escola, em
2004 eram 18,1% e em 2013 foram 15,7%, ou seja, uma redução de apenas 2,4%; e o segundo
ponto a ser considerado, é que apesar desse significativo aumento de jovens cursando o ensino
médio na faixa etária adequada, muito precisa ser feito, pois ainda restam 42,4% de jovens de
15 a 17 anos que não conseguiram alcançar o ensino médio ou que não estão frequentando uma
instituição de ensino. A seguir o gráfico da PNAD de 2014 que apresenta esses indicadores
(gráfico 1).

Gráfico 1: Proporção das pessoas de 15 a 17 anos que frequentam o ensino médio,


fundamental regular ou que não frequentam instituição de ensino – Brasil – 2004 / 2013.

Uma pergunta importante a ser feita é porque o ensino médio não está sendo
atrativo para uma parcela dos alunos concluintes do ensino fundamental. De acordo com os
dados do censo escolar brasileiro, o número de alunos concluintes do ensino fundamental é
superior ao número de alunos concluintes do ensino médio, conforme evidencia o gráfico 2 que
segue abaixo:

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Gráfico 2 – Ensino Regular – Evolução do Número de Concluintes por Etapa de Ensino –
Brasil – 2007 - 2012

Outro indicador importante é a taxa de evasão do ensino médio. Essa é a mais


alta de todo ensino básico e reflete a atual ineficiência da política de educação na formação
acadêmica dos jovens.

De acordo com o censo escolar de 2007 do Instituto Nacional de Estudos e


Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), a evasão escolar entre
jovens é alarmante. Dos 3,6 milhões de jovens que se matriculam no Ensino
Médio, apenas 1,8 milhão concluem esse grau. A taxa de evasão é de 13,3%
no Ensino Médio contra 6,7% de 5ª a 8ª série e 3,2% de 1ª a 4ª série. (de
ABREU, 2011).

Segundo alguns autores que se debruçaram sobre esse tema, os motivos para os
jovens desistirem de estudar são variados, os autores de Abreu et al (2011) no artigo Evasão
Escolar no Ensino Médio: Velhos ou Novos Dilemas? Citou algumas das causas para essa
evasão.

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Esta situação é vinculada a muitos obstáculos, considerados, na maioria das
vezes, intransponíveis para milhares de jovens que se afastam da escola e não
concluem a educação básica. Dentre tais óbices, destacamos a necessidade de
trabalhar para ajudar a família e, também, para seu próprio sustento; o
ingresso na criminalidade e na violência; o convívio familiar conflituoso; a
má qualidade do ensino, todos considerados fatores comuns de evasão
escolar. É válido dizer que a evasão está relacionada não apenas à escola, mas
também à família, às políticas de governo e ao próprio aluno. Todo esse
contexto faz com que o estudante do Ensino Médio deixe de acreditar que a
escola contribuirá para um futuro melhor, já que a educação que recebe é
precária em relação ao conteúdo, à formação de valores e ao preparo para o
mundo do trabalho. (de ABREU, 2011).

A taxa de retenção no ensino médio continua sendo uma das maiores “O ensino
médio, que já reduzia as matrículas pelo menos desde 2010, teve, desde então, a maior queda,
entre 2014 e 2015, de 2,7%. O número de estudantes passou de 8,3 milhões para 8,1 milhões.”
(TOKARNIA, 2016). Na apresentação do Censo Escolar de 2015, o Ministério da Educação
mostrou os indicadores da PNAD que comprovam essa redução no número de matrículas do
ensino médio. Outra questão observada nesses indicadores, é a considerável diferença entre o
número total da população de 15 a 17 anos de idade e o número de matrículas do ensino médio,
ou seja, um número expressivo de jovens que não estão matriculados nessa etapa do ensino
(tabela 1 e gráfico 3 do Censo Escolar de 2015).

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Tabela 1 – Número de matrículas no ensino médio e população residente de 15 a 17 anos de
idade – Brasil – 2010 – 2015

Gráfico 3 – Ensino Regular – Evolução do número de matrículas no ensino médio Brasil –


2010 – 2015

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Portanto, os indicadores que foram apresentados evidenciam a necessidade de


se pensar sobre as causas para evasão escolar no ensino médio. Um dos possíveis motivos para
o jovem desistir de cursar essa fase do ensino pode ser o seu próprio atraso escolar. Conforme
os indicadores mostraram, um percentual significativo de adolescentes que deveriam cursar o
ensino médio, encontram-se ainda fazendo o ensino fundamental “Diversos estudos indicam
que o atraso escolar é um dos grandes motivadores da evasão definitiva. Logo, a regularização
do fluxo escolar é considerada um importante mecanismo de redução do abandono escolar.”
(RIBEIRO, 1991). Esse atraso escolar acaba sendo uma fonte geradora para a vontade de não
concluir a educação básica. Assim sendo, as inúmeras reprovações dos alunos do ensino
fundamental é um tema importante para ser trabalhado pela política de educação brasileira.

3 CONHECENDO AS ESCOLAS

Como foi mencionadona introdução, este artigo abrangerá uma pesquisa


empírica em duas escolas (uma da rede pública e uma da rede privada) localizadas no município
de Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro. A escolha dessas escolas foi aleatória e ambas as
escolas estão localizadas em um mesmo bairro do município.
A escola particular escolhida foi a CEDUC – Cooperativa Educacional
Capacitar, essa escola existe há 35 anos e possui turmas desde a educação infantil até o ensino
médio. A profissional que concedeu a entrevista foi a diretora pedagógica e secretária escolar
e será identificada pelo codinome fictício Rosa.
A escola da rede pública escolhida foi a Escola Estadual CELAMM – CE
Leopoldo Américo Miguez de Mello, essa escola existe há 38 anos e possui turmas do ensino
fundamental (anos finais) e ensino médio. A profissional que participou da entrevista foi a
secretária escolar e será identificada pelo codinome fictício Beta.
Cabe mencionar que as duas profissionais da educação atenderam a solicitação
de participar desta pesquisa prontamente. As entrevistas ocorreram dentro da secretaria de cada
escola e foi na modalidade entrevista guiada por um questionário pré-determinado (apêndice
A).
Embora não seja o objeto da pesquisa deste artigo, é imprescindível destacar as
diferenças estruturais e físicas existentes entre as escolas. Tais diferenças são potencializadas

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devido ao sucateamento do ensino público, que foi agravado pela forte crise econômica que o
estado do Rio de Janeiro está sofrendo. Em sua fala Beta mencionou a falta de investimento na
instituição. Segundo ela, até o ano de 2006 a empresa Petrobras destinava recursos financeiros
para escola, ou seja, pagava professores que o Estado não fornecia, serventes para limpeza e
mantinha uma creche. Beta destacou que até 2006 a escola detinha um bom padrão de qualidade
e era considerada uma “escola particular pela comunidade”.
A primeira pergunta, acerca do tema, questionava a opinião de cada uma sobre
a temática da evasão escolar. Rosa entende o fenômeno como um dado triste e fez algumas
ponderações sobre possíveis causas, como por exemplo: a falta de motivação do professor, a
dificuldade de trabalhar o aluno em sala de aula e a ausência dos pais que “jogam a
responsabilidade para a escola”. Beta respondeu que a evasão é fruto de um sistema falido, que
não valoriza a escola.
A segunda pergunta questionava se a profissional concordava que a incidência
da evasão escolar era maior no ensino médio. Rosa relatou que na escola não observa a
existência da problemática da evasão, mas concordou que o problema existe na educação
brasileira. Beta relatou que na escola a evasão é maior no ensino médio. Ela justificou que até
o ensino fundamental o aluno tem o apoio da família, e quando chega ao ensino médio não tem
mais esse apoio familiar. Ela também relatou a necessidade dos alunos do ensino médio terem
de trabalhar e relacionou a evasão escolar a um grave problema social.
A terceira pergunta indagava os principais motivos para os alunos não
frequentarem a escola. Segundo Rosa, o principal motivo para os alunos da escola faltarem as
aulas e sentirem desmotivados a continuar é a dificuldade de acompanhar as aulas. Disse que
especialmente os alunos advindos da rede pública de ensino sentem muitas dificuldades em
acompanharem o restante da turma. Beta marcou três motivos para os alunos não frequentarem
a escola: o primeiro seria a falta de professor ou greve, o segundo seria a necessidade de
trabalhar ou de procurar trabalho e o terceiro seria a desmotivação dos alunos em acompanhar
as aulas. Ela justifica esse desinteresse pela falta de incentivo aos profissionais e aos materiais
disponíveis em sala de aula, o que produz aulas pouco atrativas para os alunos “- …aulas com
giz como se dava há 30 anos atrás. Isso não é atrativo… muito desestimulante já que eles têm
internet, têm tudo. Hoje você tem uma aula super maneira no youtube.”
A quarta pergunta se referia ao percentual de alunos concluintes do ensino
fundamental no ano de 2015 que ingressaram no ensino médio no ano de 2016. De acordo com

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Rosa, 17 alunos concluíram o 9º ano do ensino fundamental no ano de 2015 e 23 alunos estão
matriculados na 1º série do ensino médio, ou seja, um aumento aproximado de 35% dos alunos.
Rosa mencionou que todas as séries do ensino médio tiveram um aumento expressivo do
número de alunos. Ela relacionou esse aumento das turmas à greve dos professores das escolas
públicas da região. Beta respondeu que apenas 90% dos alunos que concluíram o ensino
fundamental ingressaram na 1º série do ensino médio. Segundo ela, o ensino fundamental na
escola tem uma média histórica de taxa de reprovação que varia entre 10% a 15%.
A quinta pergunta questionava o percentual de alunos concluintes do ensino
médio no ano de 2015. Rosa respondeu que apenas um aluno foi reprovado no 3º ano do ensino
médio no ano de 2015. A turma teria 14 alunos e 13 concluíram o ensino médio. Beta respondeu
que a maior dificuldade para os alunos do ensino médio é a 1ª série. Segundo ela, habitualmente
30% dos alunos são reprovados no 1º ano do ensino médio, e desses 30% um pouco mais da
metade desistem de estudar e abandonam a escola.
A sexta questão é sobre o índice de reprovação do ensino fundamental. De
acordo com Rosa, esse índice é muito baixo na escola. No ano de 2015, a escola detinha um
total de 300 alunos matriculados nos anos finais do ensino fundamental, que compreende do 6º
ao 9º ano. E desse total apenas 10 alunos foram reprovados. Ou seja, um índice de reprovação
de 3% das séries finais do ensino fundamental. Ela mencionou que esses 10 alunos que foram
reprovados, todos continuaram matriculados na escola. E segundo Rosa ainda, a taxa de
reprovação do ensino fundamental é maior do que a do ensino médio. Beta conforme tinha
respondido anteriormente, reafirmou que o índice de reprovação do ensino fundamental varia
entre 10% a 15%.
A última pergunta do questionário indagava se a escola realizava algum trabalho
preventivo e/ou algum trabalho de resgate do aluno que para de frequentar as aulas. Rosa
respondeu que a escola faz controle de frequência diário e liga para residência do aluno quando
esse falta sem justificativa ou chega atrasado para as aulas. Disse também, que para os alunos
que apresentam dificuldade de acompanhar as disciplinas, é feito orientação aos pais com
intuito desses buscarem um reforço escolar. Beta respondeu que existe na escola um grupo de
visitadores que pesquisam as causas da evasão escolar. Porém, esse grupo atualmente apenas
consegue dimensionar o tamanho da evasão escolar. O intuito desse grupo seria de buscar o
reingresso desse aluno evadido, através de diversas formas de contato, como por exemplo:
contato telefônico, envio de correspondência e por último visita domiciliar a esses alunos. Mas

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devido a grave crise financeira do Estado do Rio de Janeiro, ultimamente o grupo apenas fazia
o contato telefônico. Segundo Beta:
para a realização dessa atividade de busca ativa, a escola necessitaria de mais
recursos humanos e também de recursos materiais. Outra questão que
dificulta a eficácia desse grupo, é a demora para o controle de frequência dos
alunos chegar até esse grupo de visitadores. Esse controle só é passado para
o grupo após as realizações dos conselhos de classe, que acontecem
bimestralmente, ou as vezes, semestralmente como é o caso desse ano de
2016. De acordo com ela, esse grupo de visitadores existe: “ - apenas no papel
para inglês ver!”.

É importante mencionar um dado relevante que foi citado diversas vezes na fala
da secretária escolar da Escola Estadual CELAMM. Beta falou sobre a evasão escolar enquanto
consequência do movimento de ocupação da escola realizado pelos estudantes nesse ano de
2016. Segundo ela, em 27/04 desse ano a escola foi ocupada por um grupo de estudantes, e
durante o período de ocupação os professores e os outros alunos foram impedidos de
adentrarem na escola. Esse movimento estudantil tinha o intuito de protestar contra a crise na
educação, assim como buscar melhoria para a educação pública. Em uma entrevista o secretário
estadual de educação do Rio de Janeiro, Antônio José Vieira Neto, falou sobre a legitimidades
das ocupações estudantis:

Todo movimento de jovens, de estudantes, é sempre legítimo. Se o jovem se


propõe a colocar uma questão, ele tem legitimidade nisso. Até porque me
alinho com os jovens quando fazem crítica ao modelo do Ensino Médio. Eu
trabalho na criação de uma base nacional comum de um novo Ensino Médio
que dê ao jovem a centralidade da escola. Isto é um valor enorme.
( BARREIRA, 2016).

Contudo, o que se mostrou relevante para essa pesquisa acadêmica, foi o fato de
antes da ocupação estudantil a escola pesquisada ter 730 alunos matriculados no ensino
fundamental e médio, e após o término do movimento (no mês de junho) ter apenas 210 alunos
matriculados. Desses 520 alunos que deixaram a escola Beta não soube mensurar quantos não
estão matriculados em nenhuma instituição de ensino. De acordo com ela ainda, a escola antes
da ocupação tinha turmas de 40 a 45 alunos e atualmente possui algumas turmas de apenas 5
alunos. A profissional da educação se mostrou bastante preocupada com esses dados e com o
desmembramento da escola, uma vez que profissionais estão sendo transferidos em virtude do
fim de algumas turmas.

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4 CONCLUSÃO

A pesquisa empírica realizada nas duas escolas confirmou alguns dados retratos
nos indicadores da educação brasileira. A ocorrência da evasão escolar no ensino médio ficou
comprovada na escola da rede pública, e também a 1ª série do ensino médio se confirmou como
a maior responsável pela reprovação dos alunos nessa fase do ensino. O índice de reprovação
na 1ª série do ensino médio foi de 30%, um número maior do que foi encontrado m outras
pesquisas.
1º ano do Ensino Médio é o que apresenta o maior número de desistências
(mais de 20%), por nele haver alunos com 15 anos que já têm autonomia para
avaliar se querem enfrentar mais três anos de escola. Este é o ano de alto
índice de repetência: 15%. Um dos motivos é a transferência do Ensino
Fundamental para o Ensino Médio, que é uma novidade na cabeça do jovem.
É como se ele estivesse entrando em outro mundo, pois deixa de ser tratado
como criança e agora tem “autonomia” de fazer as próprias escolhas. (de
ABREU, 2011).

Na escola da rede particular de ensino, o fenômeno da evasão não foi


encontrado. Outro dado bastante divergente da escola da rede privada para a escola da rede
pública é a taxa de reprovação. Na rede privada a taxa de reprovação escolar é maior no ensino
fundamental (uma média de 3%), e na rede pública é maior no ensino médio (alcançando 30%).
Um ponto que merece destaque e pode ser considerado como uma das
justificativas para a não incidência da evasão na escola particular, é o trabalho de busca ativa
e/ou resgate dos alunos faltosos ou desestimulados. A escola consegue fazer um controle diário
da frequência escolar, mantendo inclusive informações sobre horários de entrada e saída dos
alunos. Isso permite que imediatamente a coordenação escolar entre em contato com os pais
com intuito de sanar as faltas injustificadas, assim como trabalhar os seus motivos. Na escola
da rede pública esse trabalho de resgate do aluno não consegue ser tão eficaz. De acordo com
as informações obtidas, o controle da frequência escolar demora alguns meses até chegar ao
grupo responsável por fazer a busca ativa dos alunos faltosos e/ou desistentes. Esse grupo
também encontra dificuldades na realização dessa tarefa por não contar com recursos materiais
e humanos suficientes.
Uma divergência observada nas respostas das profissionais das duas escolas
pesquisadas com os dados da PNAD de 2004 foi sobre os principais motivos para os alunos
não frequentarem a escola. A escola pesquisada da rede privada citou como principal motivo a

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dificuldade dos alunos de acompanharem as aulas, resposta diferente do resultado da PNAD
que aponta o motivo doença como a principal causa de falta nos alunos da rede privada. E a
escola da rede pública citou três motivos principais, que foram: 1) falta de professor ou greve,
2) necessidade do aluno de trabalhar e 3) desmotivação em acompanhar as aulas. De acordo
com o resultado da PNAD de 2004 os 3 principais motivos dos alunos da rede pública faltarem
foram: 1) doença, 2) não quis comparecer e 3) outro motivo. O motivo doença que, de acordo
com a PNAD (tabela abaixo), foi a principal causa de falta escolar nas duas redes de ensino
não foi citado em nenhuma das duas escolas pesquisadas.

Esse trabalho acadêmico conclui que o enfrentamento da evasão escolar do


ensino médio pela rede pública de ensino é bastante ineficaz. A educação brasileira encontra-
se partida, e apresenta padrões de qualidade diferentes de acordo com as redes de ensino. A
política de educação é a mesma para ambas as redes de ensino, mas as realidades vivenciadas

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pelos alunos são muito diferentes. Enquanto uma rede de ensino desconhece o problema da
evasão escolar e mantém taxas de reprovação abaixo dos indicadores nacionais, a outra rede
vivencia diariamente esse fenômeno e não detém de ferramentas para enfrentar o problema.
Em um país partido pelas desigualdades sociais e regionais, observamos uma educação também
partida dentro de um mesmo bairro.

5 BIBLIOGRAFIA

BARREIRA, Gabriel. “Ocupação de escolas é legítima, diz secretário de educação do


RJ.” Disponível em < http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/04/ocupacao-de-
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Anísio Teixeira – INEP. Disponível em < http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em
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BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de


1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília : MEC, 1996.

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GUERREIRO, Carmem. “Ensino médio reprovado.” Revista Escola Pública. Edição 47


(OUT/NOV 2015). Disponível em <http://revistaescolapublica.com.br/textos/28/ensino-
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RIBEIRO, Sérgio da Costa. “A pedagogia da repetência”. Estudos Avançados, São Paulo,


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