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O Discurso e o Poder - Boaventura Souza Santos
O Discurso e o Poder - Boaventura Souza Santos
Uma das ideias centrais deste livro é que, no estado de direito da sociedade
capitalista, o estado não é só de direito e o direito não é só do estado. No caso aqui
analisado, o direito de Pasárgada, a retórica jurídica é exercida pelo operariado
industrial e por uma fração do que, muito inadequadamente, tem sido chamado de
pequena-burguesia-favelada, fora do âmbito do direito estatal e no seio de uma
organização comunitária, a associação dos moradores mais ou menos autônoma.
Apesar de toda sua precariedade, o direito de Pasárgada representa a prática de
uma legalidade alternativa e, como tal, o exercício alternativo de poder político,
ainda que muito embriônico.
Vale registar, ainda, que o autor amplia o foco sobre as demais ordens
jurídicas existentes, pois ele aponta outros cinco espaços estruturais, além da
associação de moradores:
O espaço doméstico;
O espaço de produção;
O espaço do mercado;
O espaço da comunidade;
O espaço da cidadania.
Boaventura sintetiza o que chama de pluralismo crítico, em contraposição à
concepção moderna do direito. No âmbito latino-americano, o pluralismo jurídico
crítico começou por ser o resultado da realização de estudos empíricos que visaram
demonstrar a existência do pluralismo jurídico em sociedades pós-coloniais, ao
contrário do que a dogmática jurídica e a sociologia do direito convencional
pretendiam
A pesquisa foi realizada no início dos anos 70. O autor descobre em Pasárgada’
um Direito paralelo ao Direito oficial. Lá, a associação de moradores local funciona
como um fórum jurídico, na medida em que ratifica relações jurídicas referentes a
contratos de compra e venda de terrenos e propriedades ilegalmente ocupadas e
soluciona litígios ou disputas decorrentes destas relações. A resolução de tais
disputas envolve, segundo Boaventura, um uso muito mais intenso da retórica
jurídica do que as resoluções de disputas travadas no âmbito do Direito oficial.
Passando em revista os principais indicadores da existência deste espaço retórico
mais amplo no Direito paralelo, o autor explica essa maior amplitude pelo baixo grau
de institucionalização e de acesso a recursos coercitivos do Direito paralelo, se
comparado ao Direito oficial.
Quanto à retórica do objeto, o autor afirma que esta seria o objeto do conflito
realizado pelo fórum jurídico. O objeto do conflito é apresentado pelas partes no
início do processo, ponto de partida de intervenção do presidente que pode ser
orientada por dois fatores que são considerados como extrínsecos ou intrínsecos
relevantes ou irrelevantes Compete ao presidente concordar, discordar ou alterar o
contexto do conflito podendo inclusive oferecer outro terreno ou objeto para
resolução do conflito, podendo não coincidir com o interesse de nenhuma das
partes.
Vale registar, ainda, que o autor amplia o foco sobre as demais ordens
jurídicas existentes, além da associação de moradores. Com efeito, aponta
Boaventura seis espaços estruturais além da associação de moradores, e com isto o
autor sintetiza o que chama de pluralismo crítico, em contraposição à concepção
moderna do Direito.