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Sumário
1
Paul Mattick. “Marx and Keynes” In: Western Socialist, Boston, USA, November-December 1955.
http://www.marxists.org/archive/mattick-paul/1955/keynes.htm [acessado em 16/out/2010]
2
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith [acessado em 16/out/2010]
A antropóloga Margaret Mead expressou isto da seguinte forma:
“A natureza humana é potencialmente agressiva e destrutiva, e potencialmente ordeira e
construtiva.” 3
Podemos então perguntar: Por que existe uma predominância do egoísmo em relação ao altruísmo, tanto
nas teorias desses famosos economistas quanto em nossa sociedade atual?
2. O livre arbítrio humano
O filósofo social Prabhat Ranjan Sarkar [1921-1990] explica que devido à mente altamente
desenvolvida dos seres humanos, eles possuem a capacidade de não serem guiados ou motivados
diretamente por seus instintos ou emoções. Eles conseguem discriminar entre duas ou mais possibilidades
de ação, e em certa medida antecipar os resultados de cada linha de ação e avaliar os aspectos positivos e
negativos envolvidos em adotar-se cada ação. Podem então escolher entre não agir ou agir segundo uma
dessas possibilidades, de acordo com a avaliação de se os respectivos resultados são desejáveis ou não.
Quando a escolha da ação está relacionada com um objetivo benevolente, esse processo pode ser
propriamente denominado – ainda segundo Sarkar – de racionalidade, e em especial quando o objetivo
visado é o do bem-estar de todos os seres. Este último é, conforme Sarkar, o ponto culminante da
racionalidade.4
Sarkar explica ainda que, devido a essa mente altamente desenvolvida dos seres humanos, emerge
uma característica singular dos seres humanos. Como ele diz, “Há no ser humano uma sede pelo
infinito.”5 Entretanto, devido ao seu livre arbítrio, os seres humanos podem adotar tanto um caminho
positivo de expansão mental e continuidade de evolução, quanto um caminho negativo de degradação e
embrutecimento mental. O primeiro caminho faz com que
aproximem-se da entidade mais sutil do universo, que é a
consciência cósmica. O segundo caminho faz com que aproximem-
se da matéria – a qual, segundo a filosofia de Sarkar, é a
manifestação mais grosseira ou densa da mesma consciência
cósmica.
3
Margaret Mead. And keep your powder dry: an anthropologist looks at America. Berghahn Books, 2000
(1965). p.134.
4
Prabhat Ranjan Sarkar. Neo-humanismo – Ecologia, Espiritualidade e Expansão Mental. SP: Ananda Marga
Publicações, 2001.
5
Prabhat Ranjan Sarkar. “What is Dharma?” (1955). In: Prout in a Nutshell Part 11.
6
Entrevista de Amit Goswami. “A ponte entre a Ciência e a Religião”. Programa “Roda Viva”, TV
Cultura, 12/março/2001. http://www.saindodamatrix.com.br/archives/goswami.htm [acessado em
16/out/2010]
3. A dinâmica social humana
7
Sohail Inayatullah, Jennifer Fitzgerald. Transcending Boundaries - Prabhat Ranjan Sarkar’s Theories of
Individual and Social Transformation. (Part 1: Macrohistory). Maleny: Gurukula Press, 1999.
8
Ibidem.
9
Prabhat Ranjan Sarkar. Human Society. Tiljala: Ananda Marga Publications, 1999. 2a ed.
10
Dada Maheshvarananda. Após o Capitalismo - A Visão de PROUT para um Novo Mundo. Belo Horizonte:
Proutista Universal, 2003.
Vale mencionar que cada uma dessas quatro mentalidades básicas (chamadas de varnas em
sânscrito) possui tanto aspectos positivos quanto negativos. Cada ser humano possui cada uma delas pelo
menos em estado latente dentro de si, ainda que ordinariamente cada pessoa acabe especializando-se em
uma delas, deixando as outras em estado latente ou sub-desenvolvido. As quatro varnas já haviam sido
reconhecidas na antiguidade, no oriente. Entretanto, um uso distorcido desse reconhecimento foi na forma
do sistema de castas, que apregoa que cada pessoa nasce e tem de viver dentro de uma certa casta ou sub-
casta. Esse sistema desumano foi criado pela mentalidade intelectual, vipra, como forma de os brâmanes
(intelectuais religiosos da Índia) manterem seu status social indefinidamente. É óbvio que, no sistema de
castas, os brâmanes ocupam o posto mais elevado na hierarquia social.
Entretanto, Sarkar mostrou que na história cada uma dessas quatro mentalidades básicas ocupa
uma posição dominante em um grupo, povo ou civilização – ou seja, em qualquer coletivo ou
agrupamento social – por um certo período de tempo mais ou menos limitado. Portanto, a dominância
social de cada varna é limitada, e elas sucedem-se e seguem um padrão cíclico.
Exemplificando essa sucessão dentro da história da chamada civilização ocidental: em um certo
período da Idade Média européia, houve a dominância dos vipras ou intelectuais na forma da Igreja
Católica. Essa organização de intelectuais religiosos surgiu no lugar do império romano, em que havia a
dominância da mentalidade guerreira, e depois deu lugar ao período histórico caracterizado pelo
feudalismo, no qual a mentalidade aquisidora passou a ser dominante. Entretanto, a fragmentação da
organização social e econômica na forma dos feudos implicou no fim do domínio dos intelectuais
religiosos sobre a sociedade européia. Sem dúvida eles continuaram tendo uma certa influência e a Igreja
Católica continuou a existir, mas a psicologia coletiva da sociedade mudou de acordo com a mentalidade
aquisidora, que passou a ter maior influência.
Desde então, nos séculos que se passaram até aqui, o ciclo social já passou por uma rotação inteira
e na maior parte do mundo deparamo-nos novamente com a predominância da mentalidade aquisidora na
sociedade. O sistema sócio-econômico moldado pela influência de tal mentalidade é chamado de
capitalismo.
A teoria dos ciclos sociais explica que a psicologia coletiva da sociedade é influenciada de forma
decisiva pela psicologia individual das pessoas cuja mentalidade é dominante naquela sociedade, em uma
dada época. Assim, quando a mentalidade dominante muda, a psicologia coletiva também mudará de
acordo. Mas isto não significa que a psicologia individual de toda e cada pessoa dessa sociedade será
controlada pela psicologia individual das pessoas cuja mentalidade é dominante naquela sociedade, e sim
que a psicologia da maioria das pessoas ajusta-se – até certo ponto – à psicologia dominante na sociedade;
isto é, das suas lideranças atuais. É claro que outros fatores são igualmente importantes em controlar a
psicologia individual das pessoas. Quando se fala de psicologia coletiva, isto quer dizer que as pessoas
tendem a pensar, em linhas gerais, da mesma forma como as lideranças na sociedade – e isto se deve à
influência dessas lideranças sobre o sistema social, econômico, político etc.
Vamos falar de nossa sociedade atual, que está dominada por pessoas de mentalidade aquisidora.
Pode ser um pouco difícil identificar isto, justamente porque, segundo Sarkar, o domínio dessa
mentalidade na sociedade caracteriza-se por uma certa descentralização do poder, diferentemente do
domínio da mentalidade guerreira, em que a liderança é tipicamente concentrada na mão de indivíduos
com personalidades vigorosas, que governam com mão forte, centralizando o poder em si. Isto significa
que os líderes aparentes de nossa sociedade, como as lideranças políticas (presidentes, primeiros-
ministros etc.), não são realmente ou necessariamente quem domina a psicologia coletiva da sociedade.
Como já dito antes, cada varna pode apresentar aspectos e contribuições tanto positivos quanto
negativos para a sociedade. O que estou indicando acima é a situação em que uma mentalidade – no caso
a mentalidade aquisidora - chega a um ponto muito negativo de grande exploração da sociedade, levando
à sua degeneração, bem como também a uma grande destruição ambiental – devido tanto à extrema
exploração de recursos naturais quanto ao acelerado ritmo dos processos econômicos e produtivos e aos
efeitos dos mesmos sobre o ambiente, como poluição, lixo etc.
Como explica Sarkar, quando a mentalidade capitalista atinge essa fase exploradora no ciclo
social, há uma tendência a que todas as pessoas, fora as lideranças aquisidoras, assumam a mentalidade
shúdra. Por exemplo: professores e professoras, que normalmente seriam pessoas com mentalidade
intelectual, ou vipras, tendem a assumir a mentalidade shúdra. Como ? Devido a uma tendência geral de
explorar economicamente as pessoas, todas as profissões sentem isto, na forma de redução de salários,
piora de condições de trabalho etc. As pessoas que estão cooperando de forma mais próxima com este
sistema tendem a ter condições de vida melhores, devido à sua proximidade dos líderes capitalistas. Mas
há a tendência de que a maior parte das pessoas sejam colocadas em
um padrão de vida mais baixo, ou mesmo insuportável. A
insegurança gerada por essa escassez artificial de recursos materiais
estimula nas pessoas a mentalidade de luta pela sobrevivência,
competição pelos recursos materiais escassos, individualismo etc. As
pessoas em geral ficam excessivamente preocupadas e ocupadas em
como conseguir alimentar-se, pagar aluguel, pagar as contas etc., e
desta forma não têm mais tranquilidade mental para reconhecer a
origem dos seus problemas em uma exploração econômica deliberada
da sociedade, e muito menos para fazerem algo a respeito. Este é o
efeito geral da mentalidade aquisidora sobre a psicologia coletiva da
sociedade, quando ela chega à sua fase exploradora.
O consumismo é estimulado entre todas as pessoas, mesmo aquelas que não têm um padrão de
vida mínimo para uma vida digna. Por isto vemos que muitas pessoas têm TV em suas casas, mesmo
vivendo em condições precárias, como numa favela, com falta de comida etc. Através da TV e da
comunicação de massa, a propaganda atua em suas mentes, estimulando-as a querer comprar, a ter um
padrão de vida melhor para poderem comprar e participar dos sonhos de consumo apregoados por esses
meios de comunicação. Nem todas as pessoas deixam-se seduzir por essa propaganda, mas essas são antes
exceções do que o caso geral. Uma mensagem subliminar importante que é espalhada com essa
propaganda é a de que todos esses produtos e serviços existem e podem ser comprados, mesmo que não
se tenha dinheiro para isto. Esta é uma forma de dizer, subliminarmente, que esse sistema dá a todas as
pessoas a mesma oportunidade de consumirem esses produtos, e o direito de escolherem o que querem
comprar. Obviamente não garante a todas as pessoas as condições para colocarem esse direito em prática
– e, na verdade, isso não é sequer a intenção desse sistema, ou melhor, das suas lideranças efetivas.
O ambiente e a educação têm em geral forte influência sobre a psicologia individual das pessoas.
Criando escassez material na sociedade na forma de desigualdades econômicas (poucos ricos de um lado,
muitos pobres de outro) e cuidando para que essa escassez artificial seja mantida, as pessoas de
mentalidade aquisidora conseguem controlar a psicologia coletiva da sociedade, mas não a psicologia
individual de cada pessoa. Entretanto, como já dito, há uma tendência a que a maioria das pessoas
assumam a mentalidade shúdra. Isto significa que a existência humana e a vida coletiva começam a
assemelhar-se mais e mais com o modo de existência ou de vida dos animais.
Por exemplo, numa família humana equilibrada, a comida é dividida entre as pessoas de modo que
cada uma tenha uma porção razoável; e se há escassez de comida, então pessoas que têm maior
necessidade de cuidado, como crianças, idosos e pessoas doentes, têm prioridade em receber comida. É
assim que o senso humanitário, que visa o bem-estar de todas as pessoas, manifesta-se numa família. Mas
entre os animais, há uma tendência geral de que os indivíduos mais fracos, velhos ou doentes sejam
deixados de lado e eliminados do grupo. E isto é o que se verifica atualmente em nossa sociedade.
Chama-se a isto de exclusão social, marginalização etc. Pessoas mais pobres tendem a ser afastadas da
vida social das pessoas que conseguem manter um padrão de vida mais elevado. Acaba acontecendo que
não há um padrão de vida mínimo digno, comum a toda a sociedade, por causa da tendência aquisidora –
que permeia a psicologia coletiva. Essa tendência, andando de mãos dadas com um certo individualismo,
egoísmo ou ausência de simpatia, empatia ou compaixão pelas demais pessoas, contribui para que o
padrão de vida de uma pessoa ou família possa aumentar mais e mais, sem que essas pessoas importem-se
de como está o padrão de vida geral da sociedade, ou se outras famílias vivem em condições precárias, ou
indignas, ou estejam mesmo sujeitas à morte por falta de satisfação de suas necessidades básicas.
Assim, há uma correlação estreita entre a tendência aquisidora e a negligência dos demais
membros da sociedade – ou também a sua utilização como meios ou instrumentos para os aquisidores
aumentarem suas aquisições. (Só que nesse segundo caso não há apenas uma simples indiferença com o
bem-estar ou sofrimento alheio, mas também um interesse particular a serviço do qual são colocadas
outras vidas, e ao qual o interesse coletivo é ativamente subordinado. Em outras palavras: introduz-se um
sistema de exploração na sociedade. E por que as pessoas exploradas ou motivadas pelo bem-estar
coletivo não se revoltam ou agem para mudar essa situação? Isso é explicado em parte pelo que Sarkar
denominou de exploração psíquica: o sistema de exploração é de certo modo internalizado e tornado
aceitável para as demais pessoas, inclusive por meio de complexos de inferioridade, dogmas etc.)
A vida social é fortemente influenciada ou controlada pelas lideranças cuja mentalidade é
dominante em cada fase do ciclo social. E atualmente, temos as lideranças de pessoas com tendência
aquisidora. Esta é a razão fundamental pela qual o egoísmo é tão disseminado em nossa sociedade:
porque a sua psicologia coletiva é controlada por pessoas que estão elas próprias dominadas pelo
egoísmo. Sarkar apontou isto claramente, e explicou que essas pessoas sofrem de uma doença mental: a
doença do egoísmo extremo.
No fundo, não há maneira pela qual o padrão material de vida de uma pessoa aumente
indefinidamente, porque a capacidade de uma pessoa desfrutar de riquezas materiais ou de conforto é
limitada. Algo semelhante a isto acontece também no âmbito intelectual: uma pessoa pode acumular mais
e mais conhecimentos, mas a capacidade dela fazer uso de seus conhecimentos, e portanto de obter
satisfação com os mesmos, é limitada. E assim como a concentração excessiva da mente em uma emoção
ou propensão mental implica no desequilíbrio mental e negligência das demais, também a concentração
excessiva na atividade intelectual leva a pessoa a uma vida sedentária, com detrimento da saúde física.
Para remediar esse tipo de situação insalubre, Sarkar propôs a teoria da utilização progressiva
(PROUT), que apresenta princípios e medidas para que haja um desenvolvimento equilibrado do
indivíduo, da sociedade e do ambiente, em todos os âmbitos da existência: físico, mental e espiritual.11
Podemos perguntar: Como é possível fazer com que o egoísmo diminua sua influência sobre a sociedade,
e como é possível fazer com que as tendências benevolentes das pessoas, como o altruísmo, tornem-se
mais manifestas na sociedade ?
“Os seres humanos não devem ser pessimistas, sob nenhuma circunstância. Eu sou um
otimista incorrigível, pois eu sei que otimismo é vida.” 12
Assim, dentro de sua teoria do ciclo social, Sarkar introduziu o conceito de sadvipra. Sadvipra
significa “intelectual estabelecido no que é eterno”. Não se trata de uma quinta varna ou mentalidade
básica, mas trata-se do fundamento da aceleração do ciclo social. Sarkar explicou que, para evitar ou
minimizar os aspectos negativos de cada mentalidade que domina a sociedade em certa época, é
necessário que haja dinamismo apropriado no ciclo social. Uma analogia para isto é a fusão das diversas
cores do arco-íris, manifestando-se como a cor branca - ou seja, um processo de síntese. Na psicologia
individual, o mesmo acontece.
Sarkar introduziu uma nova ciência chamada de biopsicologia, onde explica que há na psicologia
humana 50 tendências mentais básicas, ou vrttis.13 Estas tendências encontram seu fundamento fisiológico
no funcionamento do sistema endócrino humano. Assim, a secreção dos diversos hormônios das
glândulas endócrinas está relacionada com as diversas emoções ou sentimentos, que então são refletidas
na mente humana.
Algumas dessas tendências mentais podem ser consideradas negativas, e outras como positivas,
mas todas fazem parte da psicologia humana, e o caráter realmente negativo ou positivo de cada uma
depende da forma como elas estão relacionadas dinamicamente, e também de acordo com as
circunstâncias. Entre essas tendências estão o medo, o ciúme, a raiva, a ganância, a timidez, a compaixão,
o sentimento de ego, o discernimento, a luxúria, o desejo físico, o desejo espiritual, etc. O medo, por
exemplo, pode ser considerado como uma tendência negativa, mas pode ter um papel positivo
dependendo de sua intensidade e das circunstâncias. Se o medo for exagerado, pode levar uma pessoa a
ficar paralisada perante uma situação considerada ameaçadora. Assim, um controle apropriado e um
equilíbrio dinâmico entre as diversas tendências deve ser mantido.
No caso do ciclo social, algo semelhante deve acontecer, para que o movimento do ciclo social
possibilite a aproximação ao bem-estar de todas as pessoas e, levando-se em conta o ambiente, ao bem-
estar de todos os seres. Sarkar explica que a tendência exploradora ou negativa de cada varna manifesta-
se com a estagnação do ciclo social, ou seja, quando permite-se que essa mentalidade domine a psicologia
coletiva por um tempo excessivo.
Sadvipras podem evitar essa estagnação e a consequente exploração na sociedade ao manterem o
dinamismo apropriado do ciclo social - buscando a síntese social. Entretanto, vários fatores são
necessários para isto, como apontou Sarkar. Um primeiro fator óbvio é que devem existir tais sadvipras, e
isto não é algo garantido de forma alguma.
O que exatamente são esses sadvipras ? Como podem ser reconhecidos ? Como uma pessoa pode
tornar-se sadvipra ?
O significado literal dessa palavra em sânscrito já foi indicado acima. Pode-se dizer que são
lideranças apropriadas para a sociedade, ou então, pessoas que trabalham com determinação para o bem-
estar de todos os seres. Entretanto, o processo de formação de tais lideranças não é simples. Como já
11
Ibidem.
12
Prabhat Ranjan Sarkar. “Dynamicity and Staticity” (1979). In: A Few Problems Solved Part 3.
13
Shrii Shrii Anandamurti. Psicologia do Yoga. Brasília: Editora Ananda Marga Yoga e Meditação, 2007.
sugerido implicitamente a respeito da biopsicologia, requer-se uma transformação interna profunda em
uma pessoa, para que ela chegue a tal condição. Ou seja, a busca por um equilíbrio dinâmico apropriado
na sociedade só poderá ser orientada por pessoas que já praticam, ou que já estabeleceram esse equilíbrio
dinâmico dentro de si mesmas. Pessoas dominadas pela ganância, pela vaidade, orgulho, etc. nunca
poderão promover uma sociedade para o bem-estar de todos. Por outro lado, com o funcionamento
biopsicológico individual harmonizado, e orientado para o bem-estar de todos os seres, uma pessoa pode
prestar muito serviço benevolente para os seres ao seu alcance.
Esta posição individual pode resultar do reconhecimento de que nenhuma transformação externa
pode trazer melhorias duradouras na vida individual ou coletiva - e portanto, que a única posição externa
compatível com o progresso individual é a posição de servir a todos os seres, visando o bem-estar deles
(inclusive do próprio indivíduo que realiza esse serviço). Nenhuma aquisição externa e nenhum
conhecimento intelectual têm importância duradoura, no máximo uma importância circunstancial.
Entretanto, a manutenção da existência física é condição básica para o progresso individual, mas esse
progresso é interno, não externo. Mesmo assim, ele é manifestado externamente na forma de serviço a
todos. Isto significa, claramente, que sadvipras nunca poderão ser hipócritas, e poderão ser reconhecidos
pela sua competência em promover o bem-estar geral - de humanos, animais, vegetais, etc. Mesmo o
cuidado adequado dos seres inanimados é importante para o progresso coletivo.
Para sadvipras, o valor existencial de qualquer ser está acima do valor utilitário. Na base disto,
está o entendimento vivencial, ou a prática de pensar e sentir que a consciência cósmica está manifesta na
forma dos diferentes seres deste universo, e que a evolução do universo é uma jornada de expressão cada
vez mais plena dessa consciência, culminando nos seres humanos.
Portanto, acima de tudo, a formação de sadvipras depende do contato individual com o que é
eterno e imutável, e que ao mesmo tempo é a origem e fonte de toda a vida, de todas as manifestações, de
todos os seres. A consciência cósmica pode parecer distante e estática a algumas pessoas, mas de acordo
com o entendimento acima, ela é o fundamento de todo o dinamismo deste universo. Assim, ao entrarem
mais e mais em contato com essa Entidade Suprema, as pessoas que aspiram a ser sadvipras também irão
gradualmente adquirir a qualidade de dinamismo, de ajuste contínuo das circunstâncias, e às
circunstâncias, para o bem-estar de todos os seres. Sadvipras não irão tolerar passivamente a exploração
na sociedade (ou em qualquer situação), mas vão procurar alertar as pessoas sobre isto, fazendo com que
entendam a situação, e incentivando para que façam algo a respeito. Cuidarão para que as pessoas
organizem-se, de forma que a exploração seja gradualmente eliminada e que o bem-estar coletivo, de
todos os indivíduos, fique cada vez mais manifesto. A desorganização, o individualismo e o egoísmo
convêm aos propósitos estreitos de certos exploradores, mas sadvipras farão todo o esforço para que as
pessoas organizem-se e desenvolvam um espírito verdadeiramente coletivo, uma união inabalável,
formando enfim uma única e verdadeira sociedade humana, onde todas as pessoas tenham condições
dignas de vida e de progredirem espiritualmente. Em particular, circunstâncias deverão ser criadas para
que lideranças imorais sejam tiradas de posições de responsabilidade social, ou seja, para que não tenham
mais chance de explorar a sociedade, e para que pessoas com tendências anti-sociais possam corrigir-se.
É importante notar que o reconhecimento geral de tendências anti-sociais ou exploradoras requer
que a pessoa esteja estabelecida em promover o bem-estar de todos os seres. Caso contrário, as limitações
no comprometimento com o bem-estar acabarão resultando em divisões sociais, exploração de um grupo
por outro e assim por diante, conforme o tipo de limitação envolvida.
Sadvipras organizados ocuparão enfim o núcleo do ciclo social, fazendo com que a sociedade seja
centrada e gire em torno da consciência cósmica, e não mais em torno do umbigo de lideranças egoístas e
exploradoras. Essa, na teoria de Sarkar, é a condição para que a sociedade possa livrar-se definitivamente
da exploração. A consciência cósmica - Deus - não quer explorar ninguém e nem quer que ninguém sofra
desnecessariamente, mas quer o bem-estar de todos, e quer que todos tenham a liberdade de encontrarem-
se com Ele. Entretanto, isto não acontecerá espontaneamente - dependerá decisivamente da determinação
e do esforço de cada pessoa. Enquanto vivem uma existência humana, as pessoas não podem escapar de
seu livre arbítrio - que é uma condição tanto para poderem embrutecer-se e degradar-se, como para
poderem acelerar seu progresso rumo à entidade mais sutil deste universo.
* * *
Mahesh
Grupo de Estudos e Práticas de PROUT e Neo-humanismo
Florianópolis – SC