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CRIMINOLOGIA

EVOLUÇÃO DA CRIMINOLOGIA
        Embora o delito seja um aspecto
indissociável da sociedade – há muito faz
sentido a expressão "onde há sociedade
há crime" - os conhecimentos carreados
por essa ciência ao longo dos tempos
traz-nos não só a certeza de sua
indispensabilidade, como a perspectiva de
que é através dela que podemos
encontrar muitas das soluções para o
árduo problema do fenômeno criminal
             Não é difícil perceber isso. Ainda
mais com o advento da modernidade e
dos recursos tecnológicos, cujos avanços
têm sido significativos.
             Por outro lado, olhando para trás,
vemos que a Criminologia passou por
fases instigantes e, muitas vezes,
conflitivas na busca do entendimento
criminológico.
 Em termos quantitativos, foi apenas no
final do século XIX que se chegou a uma
sistematização da ciência criminológica.
 Newton Fernandes e Valter Fernandes
mostram o desenrolar histórico dessa
ciência, segundo um critério didático-
pedagógico , dividindo-a em:
 1) Período da Antigüidade aos
Precursores da Antropologia Criminal;

  2) Período de Antropologia Criminal;

  3) Período da Sociologia Criminal; e

 4) Período de Política Criminal.


Criminologia na Antiguidade
             Os antigos, assim considerados desde os
viventes dos mais remotos tempos até o nascimento de
Cristo, demonstravam não desconhecer a Criminologia.
             Pelo contrário, passando pelas leis de Moisés
(século XVI a.C.), por Confúcio (551-478 a.C.), Sócrates
(570-399 a.C.), Platão (427-347 a.C.), Aristóteles (384-
322 a.C.), até Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.), considerado um
grande criminólogo e que via na ira o fundamento para a
presença de todo delito na sociedade, nota-se que os
estudiosos daqueles tempos também procuravam
entender o fenômeno criminal e suas conseqüências,
além de realizarem pesquisas de natureza biopsíquica.
 Mais à frente, já na Idade Média, não
havia maiores preocupações quanto à
questão da criminalidade, que parecia
adormecida, até que São Tomás de
Aquino (1226-1274) criou a "Justiça
Distributiva", pela qual cada um deve
receber aquilo que é seu, segundo um
critério de igualdade.
             Posteriormente, durante os
séculos XIV a XVI, tiveram destaque
algumas "ciências ocultas", como a
astrologia (com base nas constelações), a
oftalmoscopia (através das linhas da
palma da mão), a fisiognomonia
(conhecimento do caráter pelos traços
físicos e conformação craniana) etc.
 Por fim, antes de Lombroso e da
Antropologia Criminal, existiram alguns
precursores da Criminologia de ordens
distintas, tais como filósofos, pensadores,
fisiognomonistas, médicos, psiquiatras,
economistas etc, cada qual vendo a
questão criminológica sob sua
especialidade.
 Aqui, criticava-se a pena de morte
(Thomas Moro: 1478-1535); creditava-se
a criminalidade aos fenômenos
socioeconômicos (Francis Bacon: 1561-
1626 e Descartes: 1596-1650); e
classificava-se os delitos segundo o bem
jurídico ofendido (Montesquieu: 1689-
1755), dentre outras questões.
Era Antropológica-criminal
 O período antropológico de estudo da
criminalidade foi aberto pelo italiano
Cesare Lombroso, numa época em que a
preocupação nesse campo deixava a
abstração da Escola Clássica e passava
para as verificações objetivas, concretas,
sobre o delito e o criminoso, sendo este o
maior de seus méritos.
LOMBROSO
      Lombroso investigou durante cinco
anos - entre 1871 a 1876 - os
delinqüentes encarcerados em seu país.
Após publicou o resultado de seus
estudos concluindo (falsamente, como se
comprovou depois) que o verdadeiro
criminoso ou criminoso nato possuía
sinais característicos, tanto físicos como
psíquicos, que o distinguia dos demais
indivíduos.
 Tais individualidades seriam: crueldade,
leviandade, aversão ao trabalho,
instabilidade, vaidade, tendência,
superstição, precocidade sexual,
sensibilidade dolorosa diminuída (razão
das  tatuagens).
Seguindo esse raciocínio, ele classificou os
criminosos em três tipos:

      1. o criminoso nato

     2. o falso criminoso ou


delinqüente ocasional

      3. o criminalóide (era "meio


delinqüente")
 Para Lombroso, os indivíduos
denominados criminosos natos seriam
aqueles que permaneceram atrasados em
relação aos demais durante a evolução da
espécie, e ainda não perderam a
agressividade.
 Por outro lado, tentando defender suas
pesquisas, dizia que não era todo
criminoso que seria nato, mas que os
verdadeiros criminosos seriam natos.
Estes seriam indivíduos propensos ao
crime devido às taras ancestrais.
             Pouco depois, Enrico Ferri, embora
integrante da Escola Antropológica Criminal,
fundou a Sociologia criminal com a divisão dos
delinqüentes em sua "Sociologia Criminal", de
1914, classificando-o em cinco tipos distintos :
              1.o nato, dito por Lombroso, sem
qualquer senso moral
              2.o louco (incluídos os semi-
loucos)
              3.o ocasional
 4.o habitual (reincidente)
              5.o passional (levado ao crime
pelo abatimento, pelo ímpeto).
             Por outro lado, quanto às causas dos
delitos, Ferri classificou-as em três categorias :
             a) Biológica (relacionadas à
herança, à constituição orgânica, aos
aspectos psicológicos etc.);
              b) Físicas (relacionadas ao meio
ambiente, ao clima, à umidade etc.);
              c) sociais (relacionadas ao meio
social, às desigualdades, às injustiças,
ao jogo de azar, à prostituição etc.).
 Essa última classificação foi mais tarde
agrupada pela escola alemã de Naecker
em duas categorias:
             a)causas endógenas
(relacionadas às causas
biológicas);
              b)causas exógenas
(abrangendo as causas físicas e
sociais).
Sociologia Criminal
             Para compreendermos esse novo
período da Criminologia é fundamental a
lição do grande mestre Roberto Lyra , que
dizia serem as causas da criminalidade –
e não do crime – sempre sociais. Afirmava
isso referindo-se às causas externas que
influíam na prática delituosa, não nas
internas, hereditárias, inerentes ao
indivíduo.
 Podemos assim perceber que essa nova fase
criminológica contestava, senão plenamente, ao
menos em parte, a teoria lombrosiana do
criminoso nato.
  Segundo observa Orlando Soares, a Escola
Francesa, ou sociológica, ao contrário da
italiana, de Lombroso, busca nos fatores
exógenos, ambientais, a resposta para a
conduta delituosa do indivíduo, em
determinadas circunstâncias.
Por outro lado, podem as teorias desse
período ser classificadas em três grupos :
             1) teorias antropossociais :
buscam relacionar os princípios de
Lombroso com os sociais então sob
enfoque. Assim, o delinqüente dito nato
sofreria influência do meio social, que o
predisporia a cometer delitos; negando a
teoria do delinqüente nato, prefere o
termo "predisposto". Seus defensores
maiores foram Manouvrier e Lacassagne;
 2) teorias sociais propriamente
ditas : elas enfatizam tão somente os
fatores exógenos, deixando de lado
qualquer fator endógeno. Seus principais
defensores foram Gabriel Tarde e
Vaccaro;
 3) teorias socialistas : defendendo a
influência dos fatores sociais, atribuem
maior influência ao econômico. Menos
aceita, destacaram-se Turati e Colajanni.
Política Criminal
             Trata-se de uma época de trégua
nas discussões entre as teorias italiana e
francesa, sobre os estudos de Lombroso
             Surgiram três escolas distintas :
             1) a Terza Scuola : fundada em três
postulados, dizia que: a) o Direito Penal deve ser tido
como ciência independente e não parte da Criminologia,
como queria Lombroso; b) o delito é causado por vários
fatores, inclusive influências do meio ambiente; c) os
penalistas e os sociólogos devem promover reformas
sociais, no intuito de modificar para melhor as condições
de vida da população.
             Assim, percebe-se nítida conotação sócio-
político-econômica em tais concepções, restando, nesse
ponto, exatamente a relação entre a Criminologia e a
Política Criminal. No mais, seria através desta que as
propostas da Criminologia seriam programadas e
executadas administrativamente.
 2) a Escola Espiritualista: retorna aos
postulados da Escola Clássica do Direito
Penal. Aceita a preponderância do
conceito de livre arbítrio. Dessa forma,
cada indivíduo deve responder pelos atos
criminais que eventualmente pratique, já
que os realizou de forma livre.
             3) a Escola de Política
Criminal: ligada fortemente com a
Criminologia, em busca dos objetivos da
Terza Escola.
Atuais tendências em
Criminologia
 No tempo presente, consoante
ensinamento de Orlando Soares , existem
duas concepções ou tendências em
Criminologia:
Criminologia Tradicional ou
Clássica
 Aceita que os comportamentos humanos ilícitos são
puníveis tão somente pelo fato de existirem normas
postas em aplicação pelo consenso da sociedade
quanto à sua necessidade, segundo as concepções da
democracia burguesa, do liberalismo político-econômico.
 Preocupa-se mais com os fatores que levam o indivíduo
à pratica do delito, sem mostrar soluções para o
problema do fenômeno criminal.
             Nesse mesmo sentido, considera fundamental as
estatísticas em que se fundam as investigações,
estudando apenas os fatos típicos criminais.
Criminologia Radical ou Crítica
 Com número crescente de adeptos, procura
criticar o Direito Penal, as leis e as instituições
envolvidas no problema criminal, vendo-o sob
diversos aspectos.
 O autor lembra das palavras de Lola
Aniyar de Castro, segundo as quais falam que a
meta de Criminologia Crítica ou Radical não é
modificar o delinqüente, mas a lei, o sistema
total do qual a lei é instrumento mais poderoso e
efetivo.
             Buscando a resposta sob o ângulo
de uma problemática maior, crê ainda que
não há outra solução para o problema
criminal senão a construção de uma nova
sociedade, mais justa, igualitária e
fraterna; menos explorativa e sujeita às
vicissitudes dos poderosos.

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