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Resumo
Existe no Brasil um número ainda desconhecido de cavernas em litologias ferruginosas, e
estas cavernas têm recebido pouca atenção no que se refere a estudos bioespeleológicos.
O presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento espeleológico em uma área
do Parque das Mangabeiras e caracterizar biologicamente as comunidades de artrópodes
associadas a duas cavidades. Estas cavernas se desenvolvem sob canga, típicas dos
campos ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero. Para a amostragem da fauna de artrópodes
foram realizadas coletas bimensais com uso de armadilhas tipo “Solo” além de coletas
manuais. Durante o estudo, foram capturados 215 indivíduos, pertencentes a 11 ordens e 47
morfoespécies. A caverna maior (GPMI) apresentou 31 espécies e a caverna menor
(GPMIII) 29 espécies. O índice de diversidade para a caverna GPMI foi 2,39 (H’) e 2,42 para
a caverna GPMIII. Os índices de similaridade entre essas duas cavernas foram 0,43
(Sorensen qualitativo) e 0,28 (Sorensen quantitativo). Apesar destas cavernas serem
relativamente pequenas, apresentaram alta diversidade e baixa similaridade faunística, o
que enfatiza seu valor biológico e a importância de serem preservadas.
1
Aluna concluinte do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário UNA, Faculdade
de Ciências Biológicas, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: katiamaciellima@yahoo.com.br
2
Mestre em Química. Email: luemfa@hotmail.com
3
Professor Doutor do Centro Universitário UNA. Email: evandro_gama@uol.com.br
2
Abstract
In Brazil, it is not yet how the number of caves in ferruginous outcrops, and these caves
there have been few biospeleological studies of such caves. This study aimed at conducting
a speleological survey in a area of Parque das Mangabeiras (Belo Horizonte, MG) and
describing the arthropod community living in two caves found. These caves developed in
ferruginous rocks ands are typical of the area known as Quadrilátero Ferrífero, in the Minas
Gerais. Samplings of the arthropod community were conducted every two months with the
aid of “Solo” traps, in addition to manual samplings. During the study period, 215 specimens
were captured. These specimens comprised 11 orders and 47 morphospecies. Thirty-one
morphospecies were found in the larger cave (GPMI), while 29 species were found in the
smaller cave (GPMIII). Shannon-Wiener diversity index for cave GPMI was 2,39 and e 2,42
for cave GPMIII. Similarity indexes between these two caves were 0.43 (Sorensen
qualitative) and 0.28 (Sorensen quantitative). Although these two caves are small, the
diversity within them was relatively high and the faunistic similarity between them was low.
These results highlight the biological value of these two caves and the need to preserve
them.
Key words: Arthropods. Canga (“ferruginous outcrops”). Caves. Communities. Parque das
Mangabeiras.
1
Aluna concluinte do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário UNA, Faculdade
de Ciências Biológicas, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: katiamaciellima@yahoo.com.br
2
Mestre em Química. Email: luemfa@hotmail.com
3
Professor Doutor do Centro Universitário UNA. Email: evandro_gama@uol.com.br
3
INTRODUÇÃO
Como conseqüência da evolução por seleção natural, as várias formas de vida que
existem no Planeta estão intimamente relacionadas ao ambiente em que vivem, e isto
acontece também nas cavernas.
Caverna ou cavidade natural subterrânea é definida pelo Decreto n° 99.556/90 – art.
1°- parágrafo único - como todo e qualquer espaço subterrâneo penetrável pelo homem,
com ou sem abertura identificada, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a
fauna e flora que a habita e o corpo rochoso onde estes se inserem, desde que sua
formação tenha ocorrido por processos naturais, independentemente de sua dimensão ou
de sua litologia. São conhecidas popularmente também como grutas, lapas, tocas, abismos,
furnas ou buracos, variando de acordo com cada região do Brasil.
As cavernas, em sua grande maioria, são componentes subterrâneos de uma
formação geológica que se desenvolve na superfície terrestre a partir da dissolução de
rochas carbonáticas (calcários e/ou dolomitos), conhecida como carste (Karmann & Sallun-
Filho, 2007). São espaços que geralmente possuem continuidade com o ambiente externo e
por isso susceptíveis à colonização por espécies pré-adaptadas (Gilbert et al., 1994).
Também existem numerosas cavernas em litologias diversas como arenito e quartzito.
Dentre o universo de rochas, o minério de ferro e seu produto de alteração, a canga -
uma deposição superficial de brecha abundante em hematita e cimentado por limonita -
nunca foram promissoras do ponto de vista espeleológico. A pequena dimensão das
cavernas nesta litologia, quando comparadas com suas congêneres em calcário, arenito ou
quartzito foi, sem dúvida, um dos motivos que levaram os espeleólogos a negligenciarem
estas cavidades (Simmons, 1963; Auler & Piló, 2005).
Existem no Brasil duas grandes regiões que concentram a quase totalidade das
cavernas reportadas em minério de ferro: o Quadrilátero Ferrífero, na porção centro-sul de
Minas Gerais e a Serra dos Carajás, a sudoeste do estado do Pará (Auler & Piló, 2005).
As cavernas em minério de ferro e em canga são importantes devido a diversos
aspectos como: a) os mecanismos envolvidos em sua formação, pois podem ser resultantes
de processos erosivos, dissolutivos, uma combinação destes fatores (Simmons, 1963) ou
ainda devido a atuação de agentes microbiológicos, como evocam os autores McFarlane &
Twidale (1987) citados por Piló & Auler (2009); b) sua ecologia e as formas de vida que as
habitam, que somente agora estão começando a ser estudadas (Auler & Piló, 2005).
O ambiente cavernícola é considerado um dos mais peculiares e estáveis na
biosfera. Não se verifica variações climáticas bruscas em relação ao ambiente externo,
proporcionando assim uma série de características próprias que condicionam a diversidade
4
de vida animal que se desenvolve em seu interior (Lino, 2001; Culver, 1982; Poulson &
White, 1969).
A principal característica desse ambiente é a completa ausência de luz nas zonas
mais profundas. Esse fato propicia a existência de uma fauna cavernícola especializada e,
por vezes, com significativas diferenças morfológicas, fisiológicas e comportamentais em
relação à fauna epígea, ou seja, externa à cavidade (Lino, 2001). A constante temperatura
do ar é outra característica, sendo geralmente igual à média anual das temperaturas
externas em cada região e depende, sobretudo, da localização da cavidade. A temperatura
e a circulação do ar influenciam a dinâmica de outro fator de grande importância ecológica:
a umidade relativa do ar. Salvo em algumas exceções, o grau de umidade na maioria das
cavernas é extremamente elevado, próximo de 100% (Lino, 2001). Em cavernas extensas, a
temperatura e a umidade variam pouco em locais mais distantes da entrada (Howarth,
1983).
A ausência permanente de luz inviabiliza a existência das plantas. Devido a isso,
predominam nesse ambiente os organismos detritívoros, que usam como alimento recursos
provenientes do meio epígeo (externo), os quais se tornam a base da cadeia trófica em
comunidades cavernícolas. A entrada destes recursos do meio epígeo para o meio hipógeo
(cavernícola) pode ocorrer por três vias principais: por água, pelo vento ou por animais
(Poulson & White, 1969; Culver, 1982; Ferreira & Martins, 2001; Prous, 2007).
Em algumas cavernas dos campos ferruginosos existe uma situação pouco
convencional. Uma vez que os recursos orgânicos são relativamente raros, há um tipo de
recurso bastante inusitado e pouquíssimo comum em cavernas brasileiras: raízes de plantas
da vegetação externa que se desenvolvem através dos interstícios da canga e alcançam a
galeria das cavidades. Tais recursos, embora incomuns neste ambiente, assumem papel
fundamental em certos sistemas subterrâneos (Ferreira, 2005).
A disponibilidade dos diferentes tipos de recursos alimentares, o modo como são
disseminados e sua distribuição espacial influenciam a composição da fauna cavernícola e
sua diversidade (Ferreira & Martins, 2001).
Em função das características do ambiente cavernícola, os organismos mantêm
diferentes níveis de relações ecológicas e evolutivas com este habitat, podendo ser
classificados em três categorias (Holsinger & Culver, 1988, baseado na classificação de
Schinner – Racovitza):
1) Troglóxenos - são encontrados no interior da caverna, mas necessariamente têm que
retornar ao meio epígeo para se alimentarem. Não são exclusivos desse ambiente e
nem conseguem desenvolver todo o seu ciclo vital nesse meio. Como exemplo, tem-se
os morcegos e aves.
5
2) Troglófilos - são os cavernícolas facultativos, passam pelo menos uma parte do seu ciclo
vital no interior da caverna, possuindo populações tanto subterrâneas quanto epígeas da
mesma espécie. Compreendem a maioria dos invertebrados encontrados em cavernas
brasileiras (Scatolini et al, 2007). Dentre estes organismos encontramos, por exemplo,
os aracnídeos e muitos insetos.
3) Troglóbios - já são restritos ao meio cavernícola e, somente podem ser encontrados
nestes locais. Eles nascem, reproduzem-se e morrem nas cavernas (Ferreira & Martins,
2001). Apresentam em geral modificações associadas ao isolamento neste ambiente,
denominadas troglomorfismos (Scatolini et al, 2007). Eles apresentam especializações
morfológicas evolutivas de caráter regressivo como atrofia e/ou ausência dos olhos,
despigmentação, adelgaçamento de cutícula, diminuição do tamanho das asas em
alguns insetos e por outro lado, a hipertrofia e aumento da complexidade de órgãos
sensoriais, como antenas e palpos. São também percebidas alterações fisiológicas, tais
como, diminuição da atividade metabólica. E exibem também comportamentos que
provavelmente evoluíram em resposta às pressões seletivas presentes em cavernas,
como escassez de alimentos, e/ou à ausência de pressões típicas do meio externo,
como a luz (Ferreira & Martins, 2001). Esta categoria engloba tanto animais vertebrados
como invertebrados.
A fauna cavernícola brasileira começou a ser mais estudada somente a partir da
década de 80 (Trajano e Moreira, 1991), porém tais estudos só foram intensos em poucas
cavernas, todas calcárias (Ferreira & Martins, 2001).
Cavernas associadas a campos ferruginosos foram, até pouco tempo, ignoradas
também em estudos bioespeleológicos. Embora se soubesse da existência de algumas
destas cavidades, suas dimensões reduzidas levavam à uma interpretação errônea de que
elas pudessem ser pouco ricas biologicamente. Porém recentes estudos desenvolvidos em
cavernas de minério de ferro têm revelado, ao contrário do que se poderia imaginar,
comunidades extremamente complexas vivendo sob condições bastante peculiares
(Ferreira, 2005).
A pouca importância dada no passado a este tipo de caverna, aliada à ausência de
legislação de proteção ao patrimônio espeleológico, certamente levou à perda de várias
cavernas no Quadrilátero Ferrífero, que se tornou atualmente uma região prioritária para a
conservação da biodiversidade de Minas Gerais (Drummond et al, 2005), pois os campos
ferruginosos onde se concentram as cavernas desenvolvidas sob canga estão entre os
ecossistemas mais ameaçados do país devido à intensa atividade mineradora.
O presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento espeleológico do
Parque das Mangabeiras e caracterizar biologicamente as comunidades de invertebrados
artrópodes associadas a duas cavidades na área de estudo. Mais especificamente, este
6
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi desenvolvido dentro dos limites do Parque das Mangabeiras (PM),
localizado na regional centro-sul de Belo Horizonte, Minas Gerais (Figura 1) e no limite norte
do Quadrilátero Ferrífero (19°56’S e 43°54’O) (Azevedo; Bahia et al, 2009). O Parque das
Mangabeiras é considerado como um dos maiores parques urbanos do Brasil, com uma
área de 337 hectares, abrangendo uma parte da Serra do Curral (Bahia et al., 2009), uma
extensa cadeia montanhosa com direção SW-NE, de aproximadamente 80km de extensão e
com altitudes variando entre 1.300 e 1.500 metros (Arenare & Costa, 2004). As formas de
relevo apresentam rochas características do Quadrilátero Ferrífero, como o itabirito, o
dolomito, o quartzito e o filito. O PM apresenta uma cobertura vegetal heterogênea com
Campos de Altitude, Cerrado, Mata Atlântica e Mata de Galeria (PBH, 2009) que serve como
refúgio para diversos animais.
Prospecção e Amostragens
Figura 2. (A) Armadilha “Solo” em ambiente epígeo e (B) em ambiente hipógeo - Caverna GPMI -
(Fotos EG Oliveira).
foram colocadas três armadilhas. A localização das armadilhas em cada caverna está sendo
mostrada nos Anexos 1 e 3.
As amostragens foram feitas em intervalos de aproximadamente sessenta dias, e em
cada período amostral as armadilhas permaneceram ativas por vinte e quatro horas em
cada caverna. Em cada amostragem, após a retirada das armadilhas, foi feita coleta manual
com uso de pinças durante cinco minutos. Esta prática permitiu a coleta de espécies não
capturadas nas armadilhas.
No total, foram feitas cinco amostragens, assim distribuídas no tempo:
novembro/2008, janeiro/2009, março/2009, maio/2009 e agosto/2009.
Os animais coletados foram armazenados em potes plásticos contendo formol a 10%
devidamente etiquetados com a data da coleta, o número da armadilha e o nome da
caverna. Em laboratório, foi feita a triagem dos espécimes, na qual os animais foram
separados por ordem e por morfoespécie em cada ordem, com auxílio de chaves de
identificação e conhecimento prévio sobre taxonomia de invertebrados artrópodes. Os
animais foram também caracterizados quanto a sua relação ecológica com o ambiente
cavernícola (se apresentavam ou não características troglomórficas), e mantidos em álcool
70% em frascos de plástico. Todos os espécimes que foram coletados estão armazenados
no Laboratório de Zoologia do Centro Universitário UNA.
As amostragens dos meses de março e maio não foram satisfatórias devido à ação
destrutiva das armadilhas por animais vertebrados não visualizados. Algumas armadilhas,
no dia de sua retirada das cavernas, foram encontradas tombadas, danificadas e sem a isca
e a haste que serve de suporte para a mesma. Imagina-se que tal ação tenha sido realizada
por quatis Nasua nasua (Linnaeus, 1766), muito comuns no PM ou pequenos roedores. No
total, nove armadilhas nas duas cavernas foram danificadas por ações de vertebrados nas
coletas de março e maio/2009 (março/2009: GPMI, armadilha 1; GPMIII, armadilhas 1 e 2;
maio/2009: GPMI, armadilhas 1, 3, 4 e 5; GPMIII, armadilhas 2 e 3).
Para solucionar este problema para as coletas subseqüentes, foram confeccionados
protetores individuais para as armadilhas. Estes foram feitos com arame e tela e mediam
50x50x25cm (Figura 3). A confecção destes protetores provocou um atraso na quinta
amostragem (agosto/2009), inicialmente prevista para julho/2009.
Em cada amostragem, a temperatura e a umidade relativa do ar foram medidas em
cada uma das cavernas (GPMI e GPMIII) no dia da montagem das armadilhas e no dia
seguinte (quando da remoção das armadilhas) tanto no interior como na entrada das
cavernas. Estas medidas foram obtidas com auxílio de um termo-higrômetro (Kestrel 3000).
É importante ressaltar que as amostragens compreenderam tanto o período de chuvas
(novembro, janeiro e março), quanto o período de seca (maio e agosto).
9
RESULTADOS
As cavidades encontradas são formadas sob canga laterítica, são típicas dos
campos ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero e estão localizadas em uma área do PM
caracterizada pela transição entre Cerrado e Mata de Galeria. Estas cavernas encontram-se
escondidas pela vegetação e próximas a um curso d’água, e assim como o parque de modo
geral, sofrem danos devido à ação antrópica, principalmente pelo descarte de lixo em seu
entorno.
11
Esta terceira caverna foi encontrada na borda sul do mesmo vale onde estão
localizadas as Cavernas GPMI e GPMII. Apresenta aproximadamente 9m de
desenvolvimento linear, uma única entrada e pequeno desnível. Dentre as três cavernas
estudadas, é a única na qual se pode permanecer em pé em seu interior.
Fatores abióticos
cada local da caverna (interior e entrada), uma no dia da instalação das armadilhas e outra
no dia seguinte (quando da remoção das armadilhas).
Figura 5. Médias de temperatura (C) e umidade relativa do ar (%) obtidas a partir de medidas
tomadas na entrada e no interior da caverna GPMI nos meses de chuva (janeiro e março) e seca
(maio e agosto) nas amostragens realizadas em 2009.
Figura 6. Médias de temperatura (C) e umidade relativa do ar (%) obtidas a partir de medidas
tomadas na entrada e no interior da caverna GPMIII nos meses de chuva (janeiro e março) e seca
(maio e agosto) nas amostragens realizadas em 2009.
100
Riqueza de espécies
10
1
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a
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Figura 7. Riqueza de morfoespécies de artrópodes nas diferentes ordens capturadas nas cavernas
GPMI e GPMIII entre novembro/2008 e agosto/2009. Dados das duas cavernas reunidos.
Riqueza de espécies
100 Caverna I
Caverna III
10
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Figura 8. Riqueza de morfoespécies de artrópodes nas diferentes ordens capturadas nas cavernas
GPMI e GPMIII entre novembro/2008 e agosto/2009. Dados das duas cavernas mostrados
separadamente.
100
Abundância de indivíduos (%)
35,3
27
15,3
10
7
4,7
4,7
1,4
1,4
1,4
1,4
1
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Figura 9. Abundância relativa (% do número total de indivíduos) das diversas ordens de invertebrados
artrópodes cavernícolas capturados entre novembro/2008 e agosto/2009. Dados das duas cavernas
reunidos.
62,4
100
Abundância de indivíduos (%) Caverna I
41
21,3
Caverna III
14,8
8,6
8,2
7,5
7,6
10
5,7
5,4
3,2
2,5
2,5
2,1
1,6
1,6
1,08
1,08
1,08
0
0
1
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Figura 10. Abundância relativa (% do número total de indivíduos) das diversas ordens de
invertebrados artrópodes cavernícolas capturados nas Cavernas GPMI e GPMIII entre
novembro/2008 e agosto/2009. Dados das duas cavernas mostrados separadamente.
Caverna I
100
N° morfoespécies
N° indivíduos
10
1
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Figura 11. Número total de morfoespécies e número total de indivíduos de cada ordem amostrados
na Caverna GPMI entre novembro/2008 e agosto/2009.
16
Caverna III
N° morfoespécies
100 N° indivíduos
10
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Figura 12. Número total de morfoespécies e número total de indivíduos de cada ordem amostrados
na Caverna GPMIII entre novembro/2008 e agosto/2009.
Enquanto na Caverna GPMI a ordem Orthoptera foi a que mostrou maior abundância
de indivíduos, na Caverna GPMIII foram os dípteros que apareceram em maior número.
O número de morfoespécies e de indivíduos nas diversas ordens (composição da
fauna) em cada estação (chuvosa e seca) estão sendo mostrados nas Figuras 13 (GPMI) e
14 (GPMIII). Os cálculos foram feitos a partir das amostragens realizadas em janeiro/2009 e
março/2009 (estação chuvosa) e maio/2009 e agosto/2009 (estação seca).
Na Caverna GPMI, na estação chuvosa, foram coletados 81 indivíduos, distribuídos
em 23 morfoespécies, pertencentes a 10 ordens de invertebrados artrópodes. Na estação
seca, foram coletados 24 indivíduos, distribuídos em sete morfoespécies, pertencentes a
cinco ordens de invertebrados artrópodes (Figura 13).
Na Caverna GPMIII, na estação chuvosa, foram coletados 60 indivíduos, distribuídos
em 18 morfoespécies, pertencentes a sete ordens de invertebrados artrópodes. Na estação
seca, foram coletados 31 indivíduos, distribuídos em 13 morfoespécies, pertencentes a sete
ordens de invertebrados artrópodes (Figura 14). Assim, tanto na GPMI quanto na GPMIII, a
abundância de indivíduos e a riqueza de espécies foram maiores na estação chuvosa.
17
100 N° morfoespécies
N° indivíduos
10
a
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100 N° morfoespécies
N° indivíduos
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Figura 13. Composição da fauna amostrada na Caverna GPMI na estação chuvosa (janeiro e
março/2009) e na estação seca (maio e agosto 2009).
100 N° morfoespécies
N° indivíduos
10
1
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N° morfoespécies
N° indivíduos
10
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Figura 14. Composição da fauna amostrada na Caverna GPMIII na estação chuvosa (janeiro e
maio/2009) e na estação seca (maio e agosto/2009).
18
Abundância
Riqueza Diversidade Shannon-
(Nº total de Equabilidade
Caverna de espécies (S) Wiener (H’)
indivíduos)
Caverna
87 28 16 12 1,81 2,10 0,62 0,85
GPMI
Caverna
58 28 10 14 1,31 2,25 0,57 0,85
GPMIII
Similaridade entre a fauna do interior e da entrada na caverna GPMI: Jaccard (qualitativo) = 0,217;
Sorensen (qualitativo) = 0,357; Sorensen (quantitativo) = 0,209; Morista-Horn (quantitativo) = 0,617.
Similaridade entre a fauna do interior e da entrada na caverna GPMIII: Jaccard (qualitativo) = 0,200;
Sorensen (qualitativo) = 0,333; Sorensen (quantitativo) = 0,220; Morista-Horn (quantitativo) = 0,188.
Figura 15. Abundância relativa das espécies encontradas nas cavernas GPMI e GPMIII durante todo
o período amostral (entre novembro/2008 e agosto/2009). Dados das duas cavernas reunidos.
19
N° de indivíduos de cada
morfoespécie
10
0,1
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
N° de morfoespécies
Figura 16. Abundância relativa das espécies encontradas na caverna GPMI durante todo o período
amostral (novembro/2008-agosto/2009).
10
0,1
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
N° de morfoespécies
Figura 17. Abundância relativa das espécies encontradas na caverna GPMIII durante todo o período
amostral (novembro/2008-agosto/2009).
Chuvosa Seca Total Chuvosa Seca Total Chuvosa Seca Total Chuvosa Seca Total Chuvosa Seca Total
Caverna
81 24 122 23 7 31 2,19 1,25 2,39 0,192 0,402 0,187 0,70 0,64 0,70
GPMI
Caverna
60 31 93 18 13 29 1,86 2,09 2,42 0,311 0,159 0,176 0,64 0,81 0,72
GPMIII
Similaridade entre as cavernas GPMI e GPMIII (para o total de indivíduos coletados): Jaccard
(qualitativo) = 0,277; Sorensen (qualitativo) = 0,433; Sorensen (quantitativo) = 0,279; Morista-Horn
(quantitativo) = 0,257.
Similaridade entre as estações na caverna GPMI: Jaccard (qualitativo) = 0,111; Sorensen (qualitativo)
= 0,200; Sorensen (quantitativo) = 0,324; Morista-Horn (quantitativo) = 0,719.
DISCUSSÃO
Este foi o primeiro trabalho bioespeleológico conduzido no Parque das Mangabeiras.
As cavernas encontradas são desenvolvidas sob canga, típicas do Quadrilátero Ferrífero, e
podem ser apenas uma fração do número total de cavernas que o PM abriga. Apesar de
possuírem dimensões reduzidas, estas cavernas merecem proteção especial, já que
apresentaram uma rica e diversa fauna de artrópodes.
Os táxons encontrados (Araneae, Opiliones, Orthoptera, Coleoptera, Collembola,
Diptera, Heteroptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Trichoptera e Blattodea) nas duas
cavernas estudadas (GPMI e GPMIII) foram basicamente os mais comuns em cavernas
ferruginosas.
Como em outros estudos realizados em cavernas de diferentes regiões do país, os
grupos mais diversos são representados por organismos que apresentam hábitos
alimentares detritívoros ou predadores generalistas, capazes de encontrar alimentos nestes
ambientes, com recursos escassos e pouco diversificados (Gnaspini & Trajano, 1994; Pinto-
da-Rocha, 1995; Trajano, 2004; Jordão-Silva, 2006; Souza-Silva, 2008; Zampaulo &
Ferreira, 2009). Além disso, tais táxons apresentam ampla ocorrência epígea, o que
favorece a colonização do meio subterrâneo (Zampaulo & Ferreira, 2009).
Os dípteros, em sua maioria mosquitos, e os grilos foram abundantes nas cavernas.
Os grilos do gênero Endecous são amplamente distribuídos nas cavernas brasileiras, não
sendo diferente do observado nestas cavernas do Parque das Mangabeiras.
Algumas espécies encontradas são troglófilas bem especializadas à vida
cavernícola, como Endecous sp. (Ensifera: Phalangopsidae) e Zelurus sp.
(Heteroptera:Reduviidae). Embora não tenha sido capturada nenhuma aranha-marrom
(Loxosceles sp), foram visualizados alguns indivíduos em ambas as cavernas durante a
realização do trabalho.
Este presente estudo evidenciou ainda a existência de artrópodes com
características troglomórficas (despigmentação e anoftalmia) nas duas cavernas estudadas
no Parque das Mangabeiras. Dentre estes, foram coletados espécimes pertencentes às
ordens Collembola e Diptera.
Alteração na umidade relativa do ar, no padrão de circulação do ar e na temperatura
no interior da caverna são aspectos determinantes para o declínio populacional de muitos
grupos (Trajano, 1986). A transição entre a estação chuvosa e a estação seca, na qual tanto
a umidade relativa do ar quanto a temperatura apresentaram valores mais baixos, parece ter
influenciado de forma diferente os táxons existentes nas duas cavidades estudadas.
De maneira geral, houve redução do número de indivíduos coletados na estação
seca em comparação com a estação chuvosa tanto na GPMI quanto na GPMIII. Na caverna
GPMI algumas populações sofreram variações bem evidentes, como a ausência de
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podem ter capturado espécies pertencentes tanto à fauna epígea quanto à fauna
cavernícola, enquanto as armadilhas instaladas no interior capturaram somente espécies
típicas do meio cavernícola.
As diferentes características geomorfológicas e bióticas entre cavernas podem
explicar diferenças na riqueza e diversidade de espécies. Outros fatores que podem
influenciar a estrutura da comunidade de invertebrados no ambiente cavernícola incluem
eventos naturais e as atividades antrópicas (Jordão-Silva, 2006). No presente estudo, a
caverna GPMI apresentou uma maior abundância de indivíduos e uma maior riqueza de
espécies, porém a diversidade foi menor (índices de Shannon-Wiener e Simpson). Uma
possível explicação para este resultado é o acesso mais fácil dos turistas à GPMI, quando
comparada à GPMIII (mais escondida dentro da mata), o que pode estar impactando
negativamente a fauna desta caverna.
As cavernas estudadas apresentaram uma baixa similaridade faunística. Esta baixa
similaridade entre duas cavernas tão próximas entre si (distância linear de aproximadamente
100 metros) leva a crer que a meta comunidade de artrópodes nas cavernas ferruginosas do
Quadrilátero Ferrífero é muito alta. Por exemplo, no estudo realizado por Ferreira (2005) em
cavernas dos complexos Capão Xavier e Rola-Moça foram observadas 334 morfoespécies
de invertebrados de diversas ordens como Coleoptera, Collembola, Diptera, Acarina,
Heteroptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Psocoptera, além de outras.
Vale ainda ressaltar que a grande maioria das espécies encontradas nestas duas
cavidades foi representada por apenas um (singletons) ou dois (doubletons) indivíduos
capturados (ver também Jordão-Silva, 2006). Este resultado aponta para a fragilidade do
ecossistema cavernícola, no qual muitas espécies (raras ou raríssimas) podem desaparecer
em virtude de impactos naturais e/ou humanos neste meio.
Enfim, estas cavidades apresentaram considerável riqueza e diversidade biológica, o
que reafirma a importância de serem preservadas.
CONCLUSÃO
interações determinando todas estas variáveis). Este maior conhecimento só poderá ocorrer
se estudos como este que foi feito nas cavernas do Parque das Mangabeiras tiverem
continuidade. As informações obtidas em tais estudos poderão servir como fundamento
teórico para a preservação destes ambientes únicos e altamente vulneráveis frente aos
impactos negativos da atividade mineradora e do turismo predatório.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Evandro Gama de Oliveira e ao meu co-orientador Luciano Emerich Faria
por despertar em mim o interesse pela pesquisa e pela ajuda constante; à Luana Silva pela
companhia no campo, no laboratório e pelo apoio em todas as etapas deste trabalho; ao
Fernando Apolinário e ao Alan Oliveira pela ajuda principalmente no campo; ao Emilson
Miranda, biólogo responsável pelo Parque das Mangabeiras, pela colaboração e apoio ao
projeto; à Fundação de Parques e Jardins da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte pela
parceria; ao Centro Universitário UNA pela concessão da bolsa de Iniciação Científica; e a
todos os amigos e familiares que direta ou indiretamente contribuíram para a realização
deste trabalho.
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