Os falsos mestres de Colossos não negavam a importância de Jesus
Cristo. Antes, eles o desentronizavam, dando-lhe proeminência, mas
não preeminência. De acordo com sua filosofia, Jesus Cristo era apenas uma das muitas "emanações" provenientes de Deus, por meio das quais os seres humanos poderiam alcançar o Ser divino. É justamente essa idéia que Paulo refuta. Os falsos mestres mostravam-se extremamente confusos quanto à Criação. Ensinavam que a matéria, inclusive o corpo humano, era má. Também ensinavam que Jesus Cristo não teve um corpo de verdade, uma vez que isso o teria colocado em contato com essa matéria perniciosa. Os resultados desses falsos ensinamentos foram trágicos: em um extremo, o asceticismo radical e, no outro, o pecado desenfreado. Afinal, se o corpo é pecaminoso, só nos resta tentar escravizá-lo ou desfrutá-lo ao máximo. Durante séculos, os filósofos gregos ensinaram que todas as coisas precisavam de uma causa primária, uma causa instrumental e uma causa final. A causa primária é o plano, a causa instrumental é o poder e a causa final é o propósito. Tratando-se da criação, Jesus Cristo é a causa primária (foi ele quem a planejou), a causa instrumental (foi ele quem a realizou) e a causa final (ele a fez para o próprio prazer). Se todas as coisas na criação existem para ele, nenhuma delas pode ser má em si mesma (com exceção de Satanás e dos anjos caídos; mas até eles são usados por Deus para realizar sua vontade). Os preceitos dos gnósticos acerca da criação não passam de tolices (Cl 2.20-23). Segue-se, também, que, mesmo estando sob a escravidão do pecado (Rm 8.22), a criação de Deus pode ser usada para a glória de Deus e desfrutada pelo povo de Deus (1 Tm 6.17). As criaturas visíveis são aquelas vistas como sendo as da terra; as invisíveis como sendo as do céu. Paulo está pensando especialmente em tronos ou domínios ou prin- cipados ou autoridades. Os falsos mestres estavam constantemente se referindo a esses seres angélicos. O apóstolo não nega a existência deles (Ef 1.21,22). Nem rejeita a idéia de que são capazes de exercer influência para o bem, se não forem os caídos, ou para o mal, se forem os caídos (Ef 6.12). A idéia do apóstolo é a seguinte: os anjos não têm poder fora de Cristo. Aliás, eles nem mesmo podem existir sem ele. São criaturas e nada mais. Por si mesmos não podem contribuir em nada para a salvação ou aperfeiçoamento dos colossenses. Podem apenas prestar serviço, e isso sempre em sujeição a Cristo pelo seu poder. Os anjos bons não podem acrescentar nada à plenitude das riquezas e recursos que os crentes possuem em Cristo. Os anjos maus não podem separá-los do seu amor (Rm 8.35-39). De fato, por meio de sua morte, esses poderes sinistros foram basicamente vencidos (Cl 2.15). A enumeração: “tronos, domínios, principados e autoridades” não significa necessariamente uma classificação dos anjos em quatro grupos distintos, tanto em escala ascendente como descendente de eminência, como se estas fossem classes distintamente diferenciadas. É possível, entretanto, que os tronos e domínios devam ser encarados como tronos de espíritos, isto é, que tais espíritos habitem na vizinhança imediata do trono de Deus (cf. o querubim, Ap 4.6). Assim presumindo-se, os principados e autoridades geralmente mencionados juntos (Cl 1.16; 2.10,15; Ef 1.21; 3.10; 1 Co 15.24) podem ser espíritos de uma casta mais baixa. Mas, seja qual for, o que Paulo está dizendo é: “Esses seres angélicos dos quais os falsos mestres tanto se ocupam, chamem- nos do que quiserem (Ef 1.21; Fp 2.9,10), são meras criaturas, e tendo sido criados por intermédio e para Cristo, estão sujeitas a ele”. Naturalmente, a inferência é essa: que para a salvação vocês devem esperar tudo dele, e somente dele, e não dele e dos anjos.
Alguns dos mestres gnósticos reconheciam a autoridade de Cristo
como se ele fosse o «deus» desta terra, porquanto esta seria a sua esfera, por ele Criada; mas haveria muitos deuses, em muitas esferas da criação. Paulo destaca essas verdades acerca da supremacia de Cristo sobre a criação com o objetivo de enfraquecer o ensino dos falsos mestres que ameaçavam a igreja de Colossos.