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COM STARTUPS
Cada vez mais grandes corporações têm que escolher entre inovar ou ficar para trás e virar história
Por: Isabela Borrelli
Não é de hoje que conforme novas tecnologias são lançadas, ideias com
pouco tempo de vida já se tornam obsoletas. E não é só isso: a velocidade
das inovações não tem previsão de parada ou de desaceleramento. Apesar
de na maioria das vezes isso remeter somente ao constante lançamento
de novos produtos, a realidade também atinge grandes corporações, que
têm a tendência a se acomodarem e, consequentemente, acabam ficando
para trás.
Gigantes como a Blockbuster, por exemplo, sucumbem diariamente
diante de empresas inovadoras, muitas delas startups, que conseguem
oferecer um novo olhar para o produto e que buscam permanentemente
se reinventar. Afinal, no mundo da Quarta Revolução Industrial, em que
ocorre a fusão de várias tecnologias com o objetivo de criar soluções
transformadoras, não há espaço para conformidade.
O Banco Original surgiu como uma solução para o modelo de bancos
atuais: sem agências, sem filas, tudo é digital. Segundo Guilherme Stocco,
head de estratégia e inovação, um dos empecilhos das grandes empresas
para inovar é sempre querer retorno financeiro rápido. “Em um primeiro
momento, investir em uma startup, por exemplo, não traz lucro. Mas isso
pode salvar a empresa, perpetuar ela. Não dá mais para não abraçar a
inovação”.
Isso já é perceptível até no tempo de vida útil de uma empresa: a queda
é inevitável. Chegar ao topo não é mais sinal de sucesso garantido, pelo
contrário, agora a luta é constante para manter o seu lugar no mercado e
não ser enterrado pela concorrência.
Sobre isso, Felipe Leal, head de corporate do StartSe, comenta: “As
startups são hoje a forma de empreendedorismo mais intensa, ágil,
escalável e de potencial impacto na vida das pessoas. Basta ver que, em
boa parte das nossas atividades cotidianas e profissionais, nós interagimos
com empresas e tecnologias que não existiam há poucos anos atrás”.
Além disso, a velocidade do desenvolvimento de uma startup está cada
vez mais intenso. Como startups são um negócio de crescimento rápido,
elas normalmente tem uma evolução planejada para ser superior à média.
Mas, com o avanço de tecnologias e inovações, elas estão alcançando
cada vez mais sucesso em pouco tempo.
Como exemplo, no mesmo período de tempo em que o Facebook
levou para alcançar 145 milhões de usuários ativos, o WhatsApp quase
quadruplicou o número, atingindo 419 milhões. Ou seja, o tempo é curto
para as empresas que desejam inovar e continuar na liderança. As startups
estão chegando com toda potência e velocidade, prometendo revolucionar
produtos, serviços e a forma como enxergamos o mundo.
Talvez o mais importante de tudo para corporações seja se
conscientizarem de que esses dados não são uma previsão: eles já são
uma realidade. As startups de fato são uma ameaça perigosíssima e alguns
casos famosos, como o da Blockbuster e Netflix são ótimos exemplos disso.
Aceleração de startups
Enquanto um Corporate Venture Capital (CVC) – um fundo de
investimento criado em grandes empresas – tem como ação principal e
quase exclusiva o investimento de capital em startups, os programas de
aceleração oferecem mais do que isso. Por sinal, segundo Tzahi Weisfeld,
gerente geral do programa de aceleradoras da Microsoft, a aceleração
chega a solucionar o problema, enfrentado por diversos CVCs, de
acrescentar mais valor às startups.
No caso, há vários modelos de programas de aceleração, mas, no
geral, as aceleradoras investem o que é conhecido como smart money, ou
seja, o dinheiro não vem sozinho, mas acompanhado de conhecimento.
Dessa forma, além de possivelmente receberem um apoio financeiro
para se desenvolverem, as startups que
são aceleradas têm acesso a mentorias,
consultorias, contato com um bom
networking e infraestrutura, entre outras
vantagens que o programa pode oferecer.
Um exemplo de programa de aceleração
é o Track, da Visa em parceria com o
GSVLabs, centro de inovação do Vale do
Silício. Com duração de 6 meses, as startups
que são selecionadas passam os dois primeiros sendo preparadas pela
equipe de ambas empresas para ficar um mês no Vale do Silício.
O objetivo da preparação é exatamente otimizar o tempo no Vale:
“É muito caro estar lá e várias startups acabam indo para ficar tentando
montar o modelo de negócio, sendo que isso poderia estar sendo feito no
Brasil”, afirma Erico Fileno, head de inovação na Visa.
Assim, quando estão mais sólidas e com um modelo de negócios bem
definido, elas são enviadas para passar um mês no Vale do Silício, visando
aumentar networking, trocar experiências e estar em contato com venture
capital, por exemplo. Por fim, as startups passam os últimos três meses no
Brasil, com mentoria da GSVLabs, e encerram o processo com um Demo
Day, no qual os empreendedores apresentarão pitches pra investidores.
Claro que com uma maior participação e mentoria, as startups que
entram em programas de aceleração têm menos liberdade do que as
que optam por um CVC, por exemplo. Ao mesmo tempo, a consultoria e
infraestrutura oferecidas podem ajudar startups a alcançarem um sucesso
mais certeiro.
Contratação de startups
Contratar uma startup é diferente de fazer CVC ou um programa de
aceleração, porque, além de não necessariamente existir um fundo de
capital, ela fornece um trabalho para a corporação em questão e não recebe
investimentos contínuos para criar uma tecnologia para ela, por exemplo.
Lívia Gandara Prado, head de inovação da Libbs, indústria farmacêutica
nacional, explica: “Uma das vantagens de trabalhar junto com uma startup
é que você acelera algumas etapas, por exemplo, a empresa está querendo
fazer um programa de carona solidária corporativa. Para fazer isso, a gente
teria que pensar no programa, na plataforma, como fazer, etc.. Quando já
existe uma startup que faz isso, o passo é muito mais rápido”.
Segundo o exemplo, a startup no caso vende essa tecnologia para a
corporação interessada. Dessa forma, por meio da contratação de uma
startup, além da corporação economizar capital, uma vez que não precisa
fazer alterações internas na empresa, ela também consegue ficar mais
veloz, já que não precisa criar a tecnologia, no caso.
Ao mesmo tempo que a contratação
de startups para acelerar a inovação de
corporações é vantajosa para ambos os
lados, também é preciso se atentar a
possíveis problemas. “No dia-a-dia, a gente
encontra dificuldades dos dois lados, por
exemplo, às vezes a startup não entende
a linguagem da grande empresa, porque
ela tem uma velocidade diferente. Isso
não acontece necessariamente porque
empresa é burocrática, é porque ela tem
um risco maior, então tem que dar passos
um pouco mais lentos”, afirma Prado.
Para ter um bom relacionamento
entre as empresas, é preciso que as duas
estejam dispostas a ceder. Por isso, definir os principais objetivos e alinhar
o máximo de detalhes possíveis é indispensável para ter uma colaboração
rica entre ambos os negócios.
Compra de startups
Muitas vezes, uma possível solução para inovar é comprando uma startup.
Geralmente, essa opção é mais viável para grandes empresas que tenham
mais recursos para gastar alguns milhões ou até bilhões para incorporar um
negócio que já despontou e promete crescer cada vez mais.
Claro que não precisa ser um valor milionário para comprar um negócio
inovador, muito menos é obrigatório comprar uma empresa que já ascendeu.
Pequenos negócios também valem a pena, principalmente se a companhia
consegue perceber uma possível ameaça, e podem agregar à empresa tanto
quanto os grandes, ou, quem sabe, até mais.
No entanto, quando startups começam a incomodar corporações que ou
não conseguiram competir com elas ou estão ficando para trás indiretamente
por não terem enxergado o potencial desse novo serviço, a compra pode ser
uma forma de acabar com o possível perigo... E o valor para uma compra igual
a essa pode ser exorbitante, assim como foi o da compra do YouTube pelo
Google.
Comprando a concorrência:
a venda do Youtube para o Google
Em 2006, o YouTube era uma startup de um ano e pouco que foi comprada
por US$ 1,65 bilhão pelo Google. Apesar de o negócio ter recebido críticas por
causa do valor pago, ele acabou valendo a pena e sendo uma das melhores
aquisições do mercado tech, segundo The Ringer.
Não só foi um bom negócio em termos de lucratividade: antes da compra,
tanto o YouTube queria achar um modelo viável de monetização, como também
o Google teve problemas ao criar um canal de vídeos próprio, de nome Google
Videos. No caso, a tentativa falhou e o canal não foi tão bem aceito como o
YouTube, que tinha mais opções para as redes sociais, por exemplo. Como
resultado, o Google comprou seu concorrente mais forte.
Não só o YouTube recebeu a bolada de mais de um bilhão de dólares, mas
também o Google transformou a antes startup em uma das maiores, senão
a maior, empresas do ramo. Com o modelo de monetização implantado pela
companhia, no ano de 2016, por exemplo, a receita de vendas de anúncios ficou
por volta de US$ 5,2 bilhões.
Outra questão é que o YouTube
se tornou uma peça chave para
a empresa, uma vez que hoje ele
também é uma das principais opções
do resultado da busca e, afinal de
contas, nada é melhor para o Google
do que levar o usuário de um serviço
Google para outro.
Investimento em startups
Como já abordado, um Corporate Venture Capital é o fundo de uma
empresa voltado para fazer investimentos em startups como uma forma
de, além de conseguir lucros, trazer inovações para a companhia. Os seus
benefícios são, segundo Josh Lerner, professor de investimento em Harvard,
ser uma opção mais barata, rápida e flexível de fazer a firma responder às
mudanças tecnológicas do que a tradicional P&D. Outras vantagens são que,
além de estimular a demanda por produtos internos, o CVC também pode
conseguir retornos atrativos e ainda se beneficiar de um meio que ajuda a
capturar ideias determinantes para o futuro da empresa.
No entanto, esse modelo é mais indicado para empresas mais experientes
no assunto. Segundo Felipe Leal, do StartSe: “Os CVCs são uma boa opção
para as grandes empresas que já têm um amadurecimento em relação a como
trabalhar e interagir com startups”. Dessa forma, para começar a inovar, outras
opções, como intraempreendedorismo e a contratação de startups podem
ser mais indicadas.
A importância de CVCs vem crescendo continuamente e a tendência é
que cada vez mais corporações adotem essa medida. Um exemplo sobre isso
é o gráfico abaixo, que revela um aumento no número de novos grupos de
CVC de aproximadamente 70%, entre 2010 e 2015.
Bases ou laboratórios
em polos de inovação
Outra opção para corporações que decidem estar conectadas às últimas
novidades é ter uma base ou laboratório em polos de inovação, como, por
exemplo, o Vale do Silício. O motivo é simples: estar no meio da criação de novas
tecnologias e do surgimento de ideias inovadoras é estar um passo a frente de
todas as novidades que estão por vir.
“A vantagem principal é a empresa estar perto dos locais onde a inovação
está sendo pensada, desenvolvida, testada primeiro. O Vale do Silício hoje é a
região mais inovadora do mundo e estar presente permite que a empresa beba
da fonte mais limpa da inovação mundial”, afirma Felipe Leal.
De fato, o Vale do Silício é considerado o polo de inovação mais conceituado
do mundo, lar de empresas como Apple, Netflix e Facebook, localizado na Baía
de São Francisco, Califórnia, EUA. Conhecido por ter tecnologia de ponta e ser o
berço das últimas novidades, a faísca inicial para transformar esse lugar no que é
hoje ocorreu na Guerra Fria.
Segundo Chris Haroun, parceiro na Artis Ventures e professor na Hult
International School of Business, como uma revanche pela conquista russa do
lançamento do Sputnik, a NASA foi criada e precisava das melhores cabeças
para por a primeira pessoa na Lua. Quem atendeu essa demanda foi a Fairchild
Semiconductor, empresa de tecnologia localizada no Vale do Silício, que de certa
forma influenciou a região com cultura inovadora e sem medo de riscos.
Quem vai para a região percebe a diferença logo de cara: o espírito
empreendedor e a colaboração entre profissionais são compartilhados pela
grande maioria da população. Recentemente, o Banco Original disponibilizou
sua plataforma API, não só como forma de divulgar o negócio, como também
para compartilhar a tecnologia e facilitar o trabalho para outras empresas que
precisem de um serviço igual. Em relação a isso, Guilherme Stocco é categórico:
“Empresas sem mentalidade de
compartilhar vão morrer!”.
Scott Robinson, da Plug and
Play, explica o porquê disso:
“Hoje, nenhuma corporação tem
que ser a primeira, mas olhar
pro lado, buscando colocar
toda indústria pra cima. Como
resultado da colaboração,
não é só uma empresa que é
bem sucedida, mas todas se
beneficiam!”.
PRINCIPAIS PONTOS PARA NÃO ESQUECER
l Inovação é uma necessidade urgente!
l Programas de aceleração dão smart money, mas exigem mais controle
l Corporate Venture Capital não é o mesmo que fundo de venture capital
l Contratar startups agiliza a inovação, mas é preciso alinhar os objetivos
l O olhar de fora sempre agrega para os negócios
l Colaboração é a chave para o futuro
l Não se contente, sempre vá atrás de mais novidades