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PHARM ACOPEIA
GERAL
PARA O REINO, E DOMÍNIOS
D E

PORTUGAL»
PUBLICADA POR ORDEM
O A

RAINHA FIDELÍSSIMA
D. MARIA 1.

TOMO I.

ELEMENTOS DE PH AR MJ Cl A.

LISBOA
^A REGIA OFFICINA TYPOGRAFICA.
ANNü HL DCq. XGIV.
) r
'

>

I
:aj
\
HIBTOKicai. i

MC» CAU l
'
,

U A RAINHA Faço faber


aos que eile Alvará virem :
Que
fendo-me prefente a defordem
d com que nas Boticas de Meus
Reinos ,
e Dominios fe fazem as prepa-

rações, e compoíiçóes ,
por falta de hu-
ma Pharmacopeia ,
que íirva para regular
a neceífaria uniformidade das ditas prepa-
rações, e compofiçóes ;
fendo certo, que
fem que haja eíta uniformidade ,
he im-
poifivel que a Medicina fe pratique fem
rifcos da vida ,
e faude de Meus Fieis
Vaífallos ,
deixando-fe á vontade ,
e ca-
pricho de cada hum dos Boticários ado-
ptar diíferentes methodos de compor ,
e
preparar os remedios de toda, e qualquer
Pharmacopeia ,
ou elía feja de Univeríi-
dades ,
Collegios Médicos ,
ou de Pef-
foas particulares : Fui fervida Mandar fa-

zer, e publicar a Pharmacopeia Geral pa-


ra o Reino ,
e Domínios de Portugal,
para fervir de Regra aos Boticários ,
e
Determinar a eíte refpeito o feguinte.
I. Que efta mefma Pharmacopeia
feja para inítruççáo de todos os que apren-
de-
,

derem a Arte Pharmaceutica ,


dos quaes
nenhum poderá examinar-fe , depois do
tempo competente de prática , fem que
feja fegundo os Elementos de Pharmacia
e fegundo o methodo de preparar ,
e
compor cada hum dos Medicamentos con-
teúdos na dita Pharmacopeia Geral, mof-
trando hum perfeito conhecimento de hu-
ma , e outra coufa ,
alTim como dos fim-

pies, pelo modo, que nella fedeferevem*


II. Todos os Boticários feráo obri-
gados a ter hum Exemplar da Pharmaco-
peia Geral ,
o qual deveráó aprefentar tan-
to nas Viíitas Geraes ,
como nas Particu-
lares ,
debaixo das penas ,
que em outro
lugar Sou fervida declarar ;
e elle Exem-
plar para ter validade ,
ferá allignado pe-

lo Primeiro Medico da Minha Real Ca-


mara com a declaraçáo do nome do Bo-
,

ticário, a quem pertença, Terra, e Co^

marca da fua habitação ;


havendo-fe por
nullos todos os Exemplares, que fem ef-

tas declarações forem achados. E Deter-


mino ,
que feja efíe fempre hum dos im-
preteriveis Artigos de Viíita ,
que confta-

,

rá fempre por Certidão da fmmediata an-


tecedente.
III. Depois da publicação deíla Phar-

macopeia ,
prohibo não fomente que os
Boticários preparem ,
e componhao Me-
dicamentos por outra alguma Pharmaco-
peia ;
mas também que nenhum Medico
ou Cirurgião poífa receitar qualquer pre-
paração ,
ou compoíição debaixo de ti tu-

los geraes ,
que nella fe não contenhao.
E fendo cafo ,
que tanto fiem de alguma
formula de Medicamento de outra Phar-
macopeia ,
ou de algum Author particu-
lar ,
que delia efperem a felicidade da
cura, a receitarão por extenfo, e não de-
baixo do titulo ,
que neífe Author ,
ou
Pharmacopeia tiver ;
nem os* Boticários

aviarão femelhantes receitas ,


que aílim
lhes não forem mandadas por extenfo, tu-

do debaixo de penas ,
que em feu lugar
Fui fervida Determinar.
Pelo que : Mando á Meza do Def-
embargo do Paço ;
Tribunaes ,
c Juíliças
de Meus Reinos ,
que aílim o fação cum-
prir, guardar, e executar. E valerã como
• .

Car-
:

Carta paíTada pela Chancellaria pofto


,

que por ella não paíTe ,


e que o feu effei-
to haja de durar mais de hum ou muitos
,

annos ?
fem embargo das Ordenações que
,

o contrario determinao. Dado no Palacio


de NoíTa Senhora da Ajuda cm fete de
Janeiro de mil fetecentos noventa e qua-
tro.

príncipe

de Seabra da Silva.

 Lvard ,
por que FoJJa Magejlade ha por
bem Determinar a Pharmacopeia Geral
para o Reino }
e Domínios de Portugal ?
na
forma ajfmia declarada .

Para VoíTa Mageítade ver.


Joaquim Guilherme da Cojla Pojfer o fez.

Regiítado neíta Secretaria deEftado


dos Negocios do Reino no Livro VIII.
das Cartas ,
Alvarás ,
e Patentes a foi.

158. verf. NoíTa Senhora da Ajuda em


16 de Janeiro de 1794.

Domingos Xavier de Andrade.


•* ' *
r\

*
/

P JlYf
CONHECIMENTOS
PRELIMINARES.
DEFINIÇÃO OBJ EC TO, ,

E FINS DA PHARMACIA .

D
çao ,
ÀS
ca
Eleição
,
d i verías
aquella que íe

ou RepoSçao dos medicamentos


Colheita
partes

,
da
emprega na
Chy mi-

Goníerva-
7

na lua preparação ,
miftura ,
ou com-
poíiçao ,
he a que fe chama Pharmacia ,
ou Arte Pharmaceutica* Houve tempo ,
em que íe dividio em Galenica , e Chy-
anica ,
íegundo a maior , ou menor fa-
cilidade da preparação ,
e compoíição
dos remedios : mas feja ella qual for ,

eíta preparação ,
ou compoíição he toda
Chymica ,
á excepçao daquellas ,
que são
puramente mechanicas ,
como adiante ve-
remos.
Tom. L A Os
)

( *
Os conhecimentos da Hiíloria natu-
ral ,
e da Chymica sáo os fundamentos
defta Arte ;
e os produ£los da Natureza y
.

coníiderados como medicamentos ,


o fcu
ob jeífo. Eííes produ&os ou são limplices ,

ou preparados, e compoilos para ufo Me-


dico •
Officinaes ,
ifto he ,
preparados ,
ou
compoftos ,
que fe confervão nas Boticas,,
para delles fe fazer ufo j
ou Magiftraes r
iífo he
?
medicamentos ,
que fe preparao ,,
ou compõem ,
fegundo a perfcripção ,
e
ordem do Medico dos diverfos íimplices ,

ou preparados, que são OíEcinaes.


A Eleição pois, Collecção, ou Arre-
cadação ,
Preparação ,
e Compolição dos
medicamentos são as partes ,
em que fe
divide a Pharmacia. As tres ultimas de-
mandao o conhecimento dos neceflarios-

inftrumentos ,
e dos pezos ,
e medidas,,

de que fe faz hum ufo coítumado,.

I
,

Vafos ,
e injirumenlos Phârmaceuücos.

S vafos ,
e inílrumentos ufados oa
Pharmacia diífercm em razão do of-
ficio, e em razão da matéria, de que são
feitos, e da forma, que fe lhes dá. Pelo
oíEcio huns são aftivos ,
e outros palll-
vos. Os aftivos são o Fogo ,
e o Ar : dos
paílívos huns fervem á confervaçao ,
ou-
tros á preparação dos remedios. A maté-
ria he diífererite ,
qual he a pedra ,
páo
terra ,
vidro ,
metaes ,
marfim ,
couro ,

panno de lã, e de linho ,


&c, á qual fe

dá huma determinada fónna ,


como pede
o ofiicio, e permitte a matéria.

A diverildade da matéria influe mui-


to fobre o aíleio ,
e bondade dos medi-
camentos. Por tanto os inílrumentos ,
e
vafos de vidro preferem a todos os ou-
tros ,
pela fua limpeza ,
e formofura : os
de barro podem fubftituir os de vidro ;

mas devem evitar-fe os de barro vidrado


nas preparações de remedios ácidos, que
facilmente atacão o chumbo ,
de que o
A ii
r

( 4 )

vidro he feito ,
e que he notoriamente-
havido,como nocivo ao corpo humano.
Pela mefma razão os iníhumentos e va- ,

fos de latão, e cobre, ainda que eftanha-


do ,
ferá bom que não fe ufem para pre-
parar medicamentos para uíb interno ,
e
particularmente fendo ácidos. Os de pra-
ta ,
vidro, barro, porcellana, &c. são os
melhores. De todos ,
os que fe precisão»
para as Boticas são iacluidos no catalo-
,

go feguinte ^

Alambiques de cobre efíanhado ,


de
eftanho ,
de barro ,
de vidro.
Almofarizes de bronze ,
de ferro r do
pedra, de vidro, de marfim, e
de chumbo, com fuas mãos dà
mefma matéria ,
e de pão forte..

Aludeis de vidro, de barro, de eíta-

nho-
Balanças de differentes tamanhos..
Cadinhos de barro vidrados ,, e nao vi-
drados ,
e de molybdena.
Caixas de pão ,
ou bocetas,.
Coa
)

( s
Coadores de la ,
linho ,
e papel pardo.
Colheres de páo, vidro, e metaes.

Cucurbitas de cobre eítanhado , de vi-


dro ,
e de barro vidrado ,
e não
vidrado.
Efcumadeiras .
Efpatulas de vidro ,
páo , marfim ,
la-

tão, e ferro.
Fornos ,
ou fornalhas de varias caílas ,

e fobre todos o de Baumé.


Funis de varias caílas ,
os de vidro
com preferencia.

Garrafas de diíferentes grandezas , e


qualidades.
Jmprevfa.
Limas de diverfa groíTura.
Lutos .
Fanelias de ferro ,
barro ,
cobre eíta-
nhado , e de folha de Flan-
dres.
Eeneiros ,
mais , e menos finos ,
de
feda, e de cabello.
Pedra de preparar , e fua moleta.
Retortas ,
fim pies, e eom tubo.
Ta-
,

<5
( )

Tachos de varias grandezas ,


e de
matéria diverfa.
TigelÕes ,
e tigellas de barro ,
de vi-

dro, e metaes.
Vafos para banho da areia ,
e para

banho de Maria.
E outros.

Os Lutos mais ufados são : i.° dc


0
bexiga, ou tripas molhadas : 2. cal viva
0
com clara d’ovo : 3. goma de trigo, ou
farinha em maífa pofta em tiras de pan-
0
no, ou papel : 4. huma parte de barro,
e tres de carváo moido, e amaíTados com
agua :
5° tres partes de barro commum
vermelho com huma de zarcão : 6 .° huma
parte de zarcão, duas de barro, e huma
de areia em pó miíturados com agua :

0
7. -dez partes de barro em pó, e penei-

rado ,
duas de fezes d’ouro unidas com
cabello miudamente cortado, e fangue de
boi : os últimos quatro Lutos fe usão
quando a operação requer hum calor

mais forte ,
e para iífo fe defendem in-

tei-
,

( 7 )

teiramente os vafos ,
que tem de o fup-
portar.

Pezos ,
e Medidas , e fetts fmaes .

Onforme os medicamentos são ou


foi idos ,
ou fluidos ,
aflim para de-

terminar as fuas quantidades fe faz ufo de


pezos ,
ou medidas : começando pelos
pezos ,
e progreflivamente dos minimos
aos maiores, temos
O Grão ,
que fe reputa igual ao pe-
zo que tem hum grão de trigo ,
ou de
cevada. Mas a diverfa gravidade ,
que
cada hum deftes grãos póde ter ,
faz in-
determinado o pezo, por iflò fedeve ufar
dos grãos de metal ,
como usão os Ourives.
Dos grãos fe formão os Efcropulos.
Eftes diverfiíicão no numero de grãos, fe-
gundo os diverfos Paizes; porque pará os
do Norte he o efcropulo de vinte grãos ;

em quanto os Francezes ,
os Hefpanhoes
e os Portuguezes tem o feu efcropulo de
vinte e quatro grãos.

Ef-
( 8 )

tila differença fe faz mais attendi-


vel na Oitava ,
e nos pezos feguintes.

Tendo a oitava tres efcropulos ?


faz a oi-
tava Portugueza a refpeito das oitavas do
Norte o pezo de mais doze graos ,
ou
meio efcropulo : differença attcndivel pa-

ra as preparações ,
e compoíiçòes dos me-
dicamentos mais fortes. Nós ufamos da
oitava de fetenta e dous graos ,
ou tres

eferopuios de vinte e quatro grãos cada


hum.
A Onça coníla de oito oitavas.

A Libra Medicinal coníla de doze


onças. Differe da Mercantil ,
ou Civil ,

porque eíla he de dezefeis onças.


O Manipulo fe chama quanto pode
apanhar-fe dentro da mão. Reputa-fe pe-
zar tres oitavas ,
ou igualar tres pugillos.

Também fe denomina mancheia ,


ou mão
cheia.

Pugillo he medido pelo que fe pòde


comprehender entre os dedos pollegar,
indice ,
e maior. He igual ao pezo de
huma oitava ?
e ferve (da mefma fôrma
que
( 9 )

que o manipulo) para determinar a quan-


tidade de hervas, e ílores.
Alguns confundirão com o manipulo
o Fafcicnlo ,
ou molhada , que hoje fe não
ufa ;
mas he bom faber, que por elle ter-

mo fe entende quanto póde caber debai-


xo do braço.
As medidas dos liquidos são : i.° a

Canada , medida de quatro libras.

2.° A Libra ,
ou Quartilho também,
de doze onças a Medicinal ,
e de deze-
- * -
feis a Civil.

3.
0
A Onça igual a oito oitavas.

4.
0
A Gotta ,
que equivale ao grão
ponderai.
0
5. Colher reputa-fe por meia onça.
Todos os pezos ,
e medidas tem
ametades : e aíHm fe determinão ,
v. g.

meia libra ,
meia oitava ,
&c. As medidas
tem fomente ufo nos liquidos ,
cuja gra-
vidade efpecifíca em pouco, ou nada dif-

fere ,
como são aguas ,
cozimentos ,
infu-

sões ,
&c. porque os oleos ,
efpiritos ,
e
xaropes fe deyem pçzar ,
e não medir.
Tom. I. B Ain-
±

(
10 )

Ainda que no tempo prefente raras

vezes fe ufa das abbreviaturas ,


que índi-
cao as quantidades dos medicamentos ,
e
os modos ,
por que fe deve fazer o que
fe determina nas receitas ;
com tudo- para

a inteliigencia dos Authores ,


que ainda
as ufárao ,
7-
fe dcclarao na fe^uinte
ei
Taboa i

Lb. í. ij
,
ifto he ,
huma ,
ou duas libras*.

Lb. /3 r ou fs. meia libra.

g; huma onça.
g/3 meia onça.
gi. . . - huma oitava.
- - - meia
g/3 oitava.

hum efcropulo..

3 3 - - - meio efcropulo.
Gr.j hum grão.

Man. - - - manipulo..
Pug. - - - pugillo.

N.° i. ir.&el - numero hum, dous, Scc*.


a â ana - - de cada coufa..
r

P. e - - - partes iguaes..
C^S. - - - quantidade fuiEciente,.
S. A. » E. A. - fesundo
Ü a Arte ',
Ex Arte
,

( 11 )

B. M. - - - Banho de Maria.
B. V. - - - Banho de Vapor.
B. A. - - - Banho de Areia.
R. J^. Rec. 2^. - Recipe.
M. - - - - Miíture.
F. - - - - Faça-fe.

S. - - - - Signa tura.

Além deltas abbreviaturas mais ufuaes

ha- outras, de que uíarão os Chymicos ,


e
fem cujo conhecimento fe não podem en-
tender as obras delles. Poremos efta liíta

no fim delta obra.

Debaixo de hum fò titulo fe com*


prehendiao, e difpenfavão ém outro tem-
po muitos fimplices ;
como v. g. Quatro
hervas emolhentes ,
Quatro hervas Carminan-
tes ,
ou Carminativas , Sinco Capillares , &c.
dos quaes apenas hoje fe faz memória das
quatro fomentes frias maiores ,
e das fin-

co raizes aperientes maiores. As fementes


sao de Melancia ,
Pepino ,
Cabaço ,
e Melão .

As raizes são de Aipo ,


Efpargo ,
Funcho ,

Salfa hortenfe j
e Gilharbeira. O melhor , e
B ii o
(' 11 )

o mais ordinário he receitar-fe cada hunia.


das coufas feparadamente.

PRIMEIRA PARTE.
Da Eleição, Colheita ,
Repolição, e Dur-
ração dos Sim pl ices..

CAPITULO UN1CO.
Regras geraes relativas d collecçao ,
e arr e-

cadaçao dos Simplkes.-

O
proveitofos.
S medicamentos tirados dos tres
Reinos da Natureza demandao hu-
ma particular
Nos Vegetacs
attençao

,
para fcr
que forne-
cem a maior parte da matéria Pharmaceu-
tica
,
he que fe deve ter efcrupulofa at-
tençao fobre o lugar nativo proprio a ca-
da hum '

y
. fendo certo ,
que a diveriidade

do terreno faz nao fómente variar as vir-


tudes ,
e muitas vezes trocallas y
mas até
no habito, e fru&ifícaçao diveriificao de tal

maneira y
que he diíHcultofo conhecer as
: ,;,

r
( 3 )

plantas aílim tranfplantadas. He por iíTo

que fe deve feguir a regra eltabelecida

„ Que na colheita das plantas fe deve dar


preferencia áquellas, que efpontaneam en-
te nafcem n’hüma dada qualidade de ter-

reno ,
em que a obfervação tem moftra-
do ,
que confervao lem mudança as quali-

dades, que lhes são particulares; deixan-


do as que são cultivadas ,
como menos
medicamentofas ,
ou inertes ,
ou] k de vir-

tude já differente. >>

Em geral pode dar-fe alguma noti-

cia dos diíferentes lugares, em que humas


plantas vegetão á preferencia d’outros ;

porque ,
nao obílante achar-fe no mefmo
terreno plantas de diveríiílima virtude ,

tem todavia moifrado a obfervação

i.° Que as plantas aromaticas, ricas

em oleo eífencial nafcidas em terreno fec-


co ,
diíferem muito das fuas femelhantes
que vegetão nos íitios húmidos ,
e lhes
devem preferir. As plantas verticilladas
cheirofas ,
as arvores reíinofas firvão dc
exemplo ;
bem como í)s plantas umbelli-
i . fe-
( 14 )

feras, que são aromaticas ,


e de uíb Me-
dico nafcidas em fitio fecco ,
fendo alias ou
venenofas, ou fufpeitas, nafeendo em lu-

gares húmidos ,
exceptuando muito poucas.
0
2. Que as plantas Eílrelladas ,
Af-
perifolias, Columniferas ,
Siliquofas ,
Bul-
bofas venenofas ,
e innocentes ,
Chicora-
ceas ,
e La&efcentes amargas ,
Gramas,
e Cereaes fe devem colher nos terrenos
humofos, aonde melhor fe dáo.

3.
0
Que da mefma maneira ha plan-
tas ,
cujo lugar nativo he em montes ele-

vados ,
rios, aguas eíbignad as ,
mar, lu-

gares areentos ,
pedregofos ,
fombrios ,

& c. os quaes conílaráò pela defcripçao


hiltorica de cada huma.
0
4. Que as plantas paraíitas, ou que
fe crião ,
e vegetao fobre outras ,
prefe-
rem ás fuas femelhantes ,
fegundo a di-

verfidade das que as fuftentão.


$.° Que os frutos do eftio sao me-
lhores ,
os que sao de arvores nem já ve-
lhas, nem ainda pouco formadas, planta-
das em íitio fecco, c ar livre.
Nem
( )

Nem todas as plantas fe devem fec-

car para fe guardar ,


pois que pela exfic-

caçao fe fazem inertes : em quanto outras


não fomente não perdem a virtude por
leccas ,
mas parece ,
que ella fe lhes au-

gmenta. Devem feccar-fe (fegundo as re-

gras abaixo mencionadas) as aromaticas,

as bulbofas yenenofas ,
as íiliquofas ,
as

eílrelladas, e as paraíitas. Devem empre-


gar-fe recentes as que vem nos íitios hu-
mofos, as que fe crião nas aguas, e mui-
to particularmente as cruciformes chama-
das antifcorbuticas ,
as quaes todas por
meio da exficcação ficão deftituidas de
toda a fua virtude medicinal.
He da mefma forma que fe devem
procurar os produ&os animaes ,
efcolhen-
do ,
e preferindo aquelles
,
que vivem no
feu paiz proprio ,
e natural ,
do que os
que forão mudados para diíferente região.
Tornando ás plantas ,
he certo que
cada huma delias ,
e cada huma de íuas
partes tem fua madureza ,
ou elhido de
perfeição. Se por motivo particular ou a
plan-
,

( *<)
planta inteira ,
ou alguma de fuas partes

íe nao requer imperfeita ,


e não fazonada
deve fempre fer colhida no feu eítado de
perfeita madureza. Eíte eílado não fe de-

termina pelo tempo ,


e eftaçao do anno,
ou pelo numero dos dias ;
mas pelos íi-

naes de grandeza ,
figura ,
cor ,
cheiro ,
e
fabor ,
havendo attenção ao lugar de feu
nafeimento. Iíto nas plantas do noífo paiz ,

porque nas exóticas fó nos póde guiar a


fiel defcripçao dos Authores ,
que as ave-
riguarão ,
confrontada com o produélo da
Natureza ,
que queremos indagar ,
e co-
nhecer.
Por eita mefma razão fe não póde
determinar o tempo da colheita das RAI-
ZES, geralmente fallando. Muitas delias
no tempo da Primavera tem demaziada
humidade ,
menos principios a&ivos ,
que
perdem em grande parte pela exíiccação*
e são fujeitas a fer roidas pelos bichos.
Outras fe fazem lenhofas em chegando o
Outono ,
e por tanto inúteis. Conhecido
porém o tempo , e modo da vegetação ,
e

- fio-
( *7 )

fioreícencia ,
nada importa que fe apa-
nhem nefta, ou naquella eftação do anno ,

ou havendo já acabado a frutificação ,


ou
nao bem defcnvolvidas as folhas da plan-
ta. Entáo sáo óptimas ,
quando eítáo em
tal confiftencia ,
que nem fcjáo molles ,
e
húmidas, nem lenhofas, e duras, conten-
do tudo aquillo ,
que as faz uteis na or-
dem dos medicamentos. As bulbofas em
todo o tempo fe podem colher.
Como as raizes fe nao podem con-
fervar fenao feccas ,
he«precifo primeiro
difpollas ,
e preparadas para fe feccarem >

fegundo a fua groílura, ou tenuidade. La-


vadas primeiramente as raizes da terra ,
e
fubilancias eftranhas
,
que lhes fejáo adhe-
rentes ,
fe lhes devem feparar as fibrazi-

nhas corruptas, earidas, tirar-lhes o mio-


lo lenhofo ,
fe o tem ,
e confervar a fua
cafca. As que sao tenues ,
devem feccar-fe

inteiras: as de groílura de huma pollega-


da ,
ou pouco menos ,
partidas ao meiò
pelo feu comprimento : fe forem mais grof-
fas ,
cortadas tranfverfalmente em rodas
Tom.L C de
(
i8 )

de tres, ou quatro linhas degroflura; mas.


fendo raizes aromaticas ,
ainda que fejáo
groíias ,
hao de feccar-fe inteiras. Todas
fe devem feccar moderada ,
e lentamente ,

fufpendidas n’hum fio em lugar ventilado,


e á fombra
r
: e íeccas fe guardao mais ,,

ou menos cuidadoíamente ,
conforme fo-
rem ou inodoras ,
ou aromaticas. As rai-

zes delgadas devem renovar-fe em cada.


hum anno : as mais groíias durão tres an-
nos.
As HERAfiAS devem fer colhidas no
tempo do Efiio quando as fuas folhas tem
chegado á fua jufta grandeza ,. cor ,
e chei-
ro ,
antes de apparecerem as flores j
em
dia fereno ,
e ao meio dia ,
quando já dif-

íipado pelo Sol o orvalho da manha. As.


que junto ao tempo de florecer fe tornao
duras ,
e fem fucco , como as Chicoriaceas ,

e outras ,
não devem efperar efíe tempo..
Todas as que pertencem á familia dos
Fetos ,
e as aíflm chamadas Capillares,,
como sao a Avença, Douradinha, Lingua
Cervina ,
e femelhantes ,
efião capazes do
fer
) ,

( ’?

fer colhidas ,
quando as fuas folhas tem
adquirido o maior vigor, e natural tama-
nho. As fummidades porém ,
cimas ,
ou
pontas das plantas colher-fe-hão, eftando
ainda as folhas implicadas.
As hervas feccão-fe do mefmo mo-
do, e com asmefmas cautelas, que as rai-
zes ;
exceptuando a lavagem ,
e o fer cor-
tadas : ou polias fobre pannos fufpenfos
para dar livre paílagem ao ar ,
mudando-
fe-lhes frequentes vezes a fuperficie ,
fe

exponháo ao calor do Sol ,


ou de eftufa

em diverfo gráo de calor, fegundo a pro-


porção de princípios voláteis ,
que ellas

tiverem. Precifa-fe cautela em evitar toda

a humidade, ou feja da chuva, ou por fc

demorarem ao fereno da noite.

O linal de eílarem as hervas compe-


tentemente feccas ,
he a confervação pof-

iivel da fua cor natural. Aífim feccas ,


fe

confervaráó ou em caixas de páo forradas


interiormente de papel ,
em alfaias de
ou
vidro defendidas do ar. PaíTado hum anno
devem renovar-fe ,
pois que tem ordina-
C ii ria-
>

(
t

riamente perdido muito de ílias virtu-

des.

Colher-fe-hão as FLORES mediana-


mente abertas ,
em tempo fereno , e fecco y

antes de meio dia ,


para que o maior ca-
lor do Sol as nao deípoje de fua fragran-
cia ,
e virtudes ;
as flores de rofa porém
devem fcr apanhadas antes de abertas..

Seecao-fe como as hervas y e como ella3

fe confervão ,
e rcnovao todos os annos..
Mas as flores labiadas y
cujo cheiro lhes.

provém dos calyces devem apanhar-fe


d’outra maneira y
porque ou tão fomente
fe aproveitao os calyces ,
ou promifcua-
mente fe colhem as fummidades floridas.

Durão o mefmo tempo que as outras flo-

res.

As SEMENTES fc devem apanhar


maduras ,
começadas a feccar na mefrna
planta ,
e antes que por fl mefmas eaião. Li-
vres de fubílancias eílranhas, e levemem-
te feccas ,
fe hão de confervar em lugar
fecco, e não quente ,
ou fejão as femeiv
tes oleofas ,
ou farinhofas ,
ou feccas irv-
\

tei-
( )

teiramente. Para evitar os damnos ,


que
refultao da alteração das fuas qualidades
de cheiro ,
e fabor ,
fazendo-fe pulveru-
lentas ,
e bichofas ,
he preciíb que fe re-

novem em cada hum dos annos.


Os FRUTOS carnofos (dos quaes tam-
bém fe aprovei tão fementes) perfeitamen-
te maduros, em tempo fecco, duas horas

depois de meio dia ,


quando o calor do
Sol já tem diífipado parte da fuperflua hu-
midade ,
que podia obíiar á boa exíicca-
çao ,
he que devem fer colhidos. Seccos
ao Sol ,
com as devidas cautelas indicadas

para as raizes em moderado calor de


,
ou
forno, fe confervão por hum anno em lu-
gar fecco ,
e não quente. Os frutos ad-
ílringentes ,
como são Marmelos ,
Nefpe-
ras, Sorvas, Murtinhos, &c. ,
devem-fe
apanhar ainda verdes.
Os LENHOS ,
que tem ufo na Medi-
cina ,
devem fer tirados do tronco da arvo-
re, refinofos, folidos, pezados de manei-
ra ,
que vão ao fundo d’agua. Os do nof-
fo paiz fejão colhidos no Inverno ,
e fe
con-

\
;

conferváo tempo indeterminado. As fuas

cafcas tem diverfo tempo de colheita. As


cafcas reíinofas apanhão-fe na Primavera

as que não são reíinofas ,


no Outono. Se
tem leye adherencia ao páo ,
he melhor
debulhallas com a mão ;
ufar de ferro,
quando são mais apegadas ,
e refiftcntes
e rafpallas ,
quando sao delgadas ,
e mem-
branofas. PaíTado hum anno ,
devem fer

renovadas. As cafcas ,
que dos frutos fe

confervão ,
tem precisão de fer feccas ao
Sol ,
para fe poderem confervar hum an-
no ,
e não mais ,
em lugar fecco ,
e não

quente.
Os ANIMAES, eMINERAES de-
vem fer em toda a fua perfeição e em ; ,

quanto não tem corrupção, podem ufar-fe


fem tempo definido.
(
J3 )

SEGUNDA PARTE.
Das Preparações Pharmaceuticas.

CAPITULO I.

Da Pulverização >
e Pós compojlos Officinaes.

A Pulverização
verdadeiramente mechanica
la
he huma operação

qual diverfas íubíhncias fe re-


duzem a partículas menores, que chama-
,
pe-

mos Pó. Executa-fe ou pela íimples contu-


são y ou por porplyrização ou por huma , •

e outra ,
fegundo a tenacidade dos cor-
pos ,
que fe querem reduzir a pó, e a te-
nuidade ,
e fubtileza ,
que nelle fe requer.

Os corpos feccos ,
quebradiços ,
e não
muito duros pizao-fe ,
fem outro algum
apparato mais ,
do que almofariz ,
e fua
mao , ou piftillo ;
porém os mais duros,
como são os mineraes, precisão da contu-
são ,
da limadura ,
e de ferem extin&os
ifagua fahindo do fogo &c. e fujei*
, ,

tar-fe depois á porphyrização.


, ,

( H )

Tratando primeiramente da Contusão,


como ella recahe fobre íubitancias de di-
veríiíEma tenacidade ,
são também preci-
fos diverfos modos para fe executar com
facilidade ,
e utilidade ;
e por iíTo
1 ° As grandes raizes ,
pãos ,
oíTos
2.
pontas ,
e unhas de animaes ,
frutos du-

ros ,
caroços, e femelhantes, hão de pre-
viamente fer rafpados á lima ,
ou groza
antes que fe pizem no almofariz.
° As raizes fibrofas fe farão em
pó , rafpando-lhes primeiramente a cuticu-

la ,
partindo-as em bocadinhos ,
fendo
bem feccas ,
e limpas de fubítancias ef~

tranhas. Da Ipecacuanha, ou raiz de Ci-


pó, he melhor aproveitar fomente acafca,
e rejeitar o miolo lenhofo ,
e branco ;
o
que fuccede facilmente logo depois das
primeiras pizaduras ,
que feparão as duas
fubftancias. Se fe mandão pizar folhas de
Senne, he neceílario rejeitar os folliculos,

e páoszinhos, que tem miílurados, antes


de entrar no almofariz.
0
3. Havendo de pizar-fe hervas ,
fe

lhes .
,

(
1S )

lhes tirem os talos ,


e os pészinhos das fo-

lhas o pó, que mais facil, e prompta-


:

mente fe obtem , he o que fe aproveita ;


os refiduos lanção-fe fóra.
0
4. Antes que fe pizem as flores de-

licadas ,
e fummidades das plantas ,
que
facilmente amollecem ao ar livre ,
fequem-
fe ao fogo entre papéis ,
para poder re-
duzir-fe a pó. O mcfmo fe pratique com
o Açafrão,
0
5. As fementes farinhofas não re-
querem entremeio para fe pizarem j
mas
as oleofas emulílvas ,
havendo de reduzir-fe
a pó ,
fe pizaráó em companhia de fub-
ílancias feccas ,
pois que d’outro modo fe
tornão em paíla : o mais commum he a-

juntar-fe-lhes aífucar.
6 .° Para fe pizarem ,
e fazer em pó
as gomas-relinas ,
he neceíTario que ad-
quirão primeiramente hum gráo de feccu-
ra ,
que as faça capazes de fe reduzir a

pó. Efta obtem-fe, expondo-as ao calor de


banho de Maria ,
em vafo fecco ,
ou ao
fogo nú. Pizão-fc melhor em tempo frio

D e
(
*6 )

e fecco ,
e nao fe devem contundir ,
ou
batercom a mão do almofariz mas re- ,

moendo e agitando-a em roda , a que


,

chamáo Triturar ,
Trituração ;
e ifto fo-

mente ,
quando fe quizerem pôr ein ufo ,

porque d*outro modo tornão a unir-fe co-


r
mo d antes. Também fe não deve, como
alguns aconfelhárão huma, ainda ,
ajuntar
que leviílíma porção de oleo porque em- ,

baraça a reducção a pò. A Myrrha e a ,

Goma graxa fe pizao tão facilmente co-


mo as demais fubíhmcias taceis de que-
brar..

7.
0
Em tempo fecco ,
e aquecendo
primeiramente o fundo do almofariz ,
e
fu a mão ao fogo, he que fe devem pizar
as verdadeiras Gomas , como a Arabica,,
e a Alcatira,, &e*
8.° Para pulverizar as refinas feccas r
e quebradiças ,
baila a trituração.. Deve
evitar-fe a miltura de oleo ,
que alguns-
aconfelhárão, e evitar também que fe ba-
tão com o piíHllo ;
porque fe pegão ao
fundo do almofariz, e á mão y
e refiítem

te-
,

( *7 )

tenacÜHmamente. À Camphora fe faz cm


pó, ajuntando-fe-lhe algumas gottas deeí-
pirito de vinho retificado.

5?.° As fubílancias animaes ,


como v.

g. o Caítoreo , para fe reduzirem a pó , ne-


10.
ceflltão fer feccas banho de em Maria,
como difíemos das gomas-refinas.
° As fubftancias acres, como são
as Cantharides, Euphorbio, e femelhan-
tes ,
exigem cautela , para não damnificar
2.
a quem as piza. Além de fe cubrir o al-

11. com
mofariz hum couro ,
que fique froxo
e atado ao meio do piUillo ,
he precifo
defender a boca ,
tapando-a com hum pan-
no ,
e metter nos narizes algodão molha-
do em oleo de amêndoas.
° Para feparar o pó fubtil do feu
refiduo ,
fe mctte n’huma peneira fina de
feda, a que também nas Oificinas fe cha-
ma Tcmiis. Separado o refiduo ,
fe confer-

va o pó fino cm vidro tapado ,


fe tem de
fe guardar.

1 ° Os pós ophtalmicos ,
ou colly-
rio fecco ,
aílim chamados , porque fervem
D ii pa-
)

( *s
I

para deitar nos olhos, devem-fe trabalhar


de maneira ,
que fiquem fubtiliílimos ,
e
porifíb he melhor fervir da porphyrizaçao.
Deve haver todo o cuidado em
1 3.
0

que nao haja coufa eílranha mifturada com


as fubítancias ,
que fe querem fazer em
pó, e que neítas nada feja -corrupto ,
co-
mido de bichos, ou carunchofo.
A Porpbyrizaçao ,
em que já temos
fallado ,
faz-fe n’huma pedra rija ,
hori-
zontal ,
e liza ,
por meio d’outra igual-
mente rija ,
a que chamao Moleta. Prece-
dendo a contusão ,
fe lançao os pós fobre
a pedra ;
e para facilidade ,
e brevidade

da operação fe lhes millura agua pura,


ou outro licor ,
que fe prefcreva apropria-

do, e fe trabalha ,
até que o pó fe torne

impalpavcl. A maífa ainda molle fe faz


paflfar pelo canudo de huma penna grof-
fa ,
ou por hum funil delgado ,
ou por ou-
tra femelhante coufa ,
e com hum pãozi-
nho fe faz repartir em pequenas porções ,

que vem a ficar n’huma figura conrca ,


em
fima de papel pardo ,
ou fobre pratos de
por*
(
29 )

porcellana ,
ou dc barro ;
e em eítando
perfeitamente feccas, fe guardão debaixo
do titulo de Preparadas. Se as fubfíancias

porém que fe querem porphyrizadas ,


ou
preparadas , sao de natureza tal, que pof-
são alterar-fe com a addição da agua, fe
prepararáò a fecco : taes sao os cornos , e
oífos dos animaes calcinados ,
que pela
addição de liquido empaítão, e adquirem
nova coníiftencia.

Quando nem pizando, nem porphy-


rizando feconfegue fazer hum pó tão im-
palpável ,
e fubtil ,
como fe pertende ;
fe

a matéria ,
que fe quer em pó , não he fo-
luvel n’agua ,
nem efpecificamente mais
leve do que ella ,
para obter o pó aíliin

impalpável ufamos do proceífo, que cha-


mão Elutriação. A fubítancia reduzida a

pó pela contusão ,
fe moe na pedra, ou
deixa de moer-fe ,
fe o pó íimplesmente
pizado he baftantemente fino ;
depois em
vafo grande fe miítura com agua em gran-
de quantidade ,
e fe mexe muitas vezes,
de maneira que ella fe faça turva ,
em ra-

zão
,

( 30 )

zão do pó mais fino, que.nella fe fufpen-

de. O
pó entáo mais grofib , e pezado
vai aflentando no fundo do vafo ;
o liqui-

do turvo fc decanta ,
iíto he ,
fe muda do
antigo vafo para outro novo ,
aonde em
focego fe deixa alfentar o pó finiífimo ,

que o perturbava : e em tendo aífentado


fe decanta o liquido claro ;
e o pó aíliin

obtido ,
fe livra da humidade rcítante ou
expoíto ao Sol ,
ou ao calor de forno ,
e
fe conferva em lugar fecco.
Deites pós fimples miíturados fe fa-

zem os diíferentes pós compoltos Oifici-

naes ,
ou Magiítraes ;
mas nem por ilfo fe

devem pizar as diverfas fubítancias pro-


mifcuamente ,
e fem a devida attençao á

fua varia tenacidade ,


e natureza. Cada
-huma deve fer pulverizada feparadamen-
te ,
fegundo as regras dadas ,
e miíturar-fe

huinas com outras em almofariz ,


por meio
de leve, e continuada trituração ,
para fe
unirem j e miíturarem o mais intimamen-
te que poífivel feja.

CA-
( 3 1 )

CAPITULO II.

Da EJprefsaOy Çumos ,
e Oleos efpremidos „

E as hervas frefcas fe pizao, e os fru-


S tos, ou fementes, para que o feu çu-
mo fe poífa facilmente obter por meio da
comprefsao ,
chama-fe efta operação me-
chanica Efprefsao. As fubítancias vege-
taes ,
que fe hao de efpremer, primeira-
mente fe alimparáo de tudo o que lhes
for eílranho: mais, ou menos fortemente,
fegundo a dilferente tenacidade delias ,
fe

pizem em almofariz de pedra com mao


de páo ,
até que fe tornem nao em polpa ,
mas em paíta. Eíbi paíla depois fe inclue

nlium facco de panno ,


ou de clina de te-
cido forte : o facco ata-fe ,
e fe mette n’hu-
ma imprenfa entre duas rodas de páo*
Pouco e pouco fe vai apertando o para-
fufo até fe lhe pôr a ultima força ,
para
que o çumo comece a fahir lentamente.
Defaperta-fe então o parafufo : move-fe o
conteúdo no facco fem fedefatar, e fe fu-

jei-
,

( 3* )

jeita a nova efprefsão, em quanto appare-


ce çumo ,
e finalmente deixa de fahir.

E porque os çumos dos vegetacs ou


sao Aquofos, ou Mucilaginofos ,
ouOleo-
fos ,
requerem por iflb diveríò preparo pa-

ra a fua feparaçao.

i.° Para efpremer facilmente os çu-


mos aquofos dos talos, e folhas das plan-

tas ,
além de fer precifo que fejao recen-
tes ,
devem colher-fe antes do nafcer do
Sol ,
lavar-fe ,
e limpar-fe da terra ,
e cou-

fas eftranhas ,
que pofsao ter.
0
2. Para fe efpremerem os çumos
mucilaginofos de plantas não cheirofas
fe lhes deve ajuntar huma pequena por-
ção d’agua ,
e dcixallas em maceração por
algumas horas ,
e depois metter-fe-hão na

imprenfa : fem efta cautela pode romper-


fe o facco ,
e pervcrter-fe a operação : em
quanto a addição da agua ,
unindo-fe á mu-

cilagem ,
a faz mais fluida ,
e facil de ef-

premer-fe.
0
3. Faz-fe a mefma addição de agua
para os fuccos mucilaginofos das plantas
aro-
C 33 )

aromaticas; mas logo que fe humedecem,


devem efpremer-fe ,
fem preceder a ma-
ceração ,
porque ella dá occaíião á fer-

mentação ,
e efta á perda dos princípios
voláteis,

4.
0
O que he dito das folhas ,
e ta-
los das plantas mucilaginofas fe entende
das raizes femelhantes ,
as quaes algumas
vezes fe devem primeiramente rafpar.
5\° O çumo de flores fe obtem da
mefma maneira,
6,° Os frutos de cafca groíTa ,
e de

carne fuccofa fe hão-de debulhar primei-


ramente : os que tem a carne hum pouco
mais dura ,
e não muito çumarenta ,
fe

efmiuçaráo em ralo ,
antes de fe metter no
facco : e os que tem pelle fina ,
e caroço
duro, fe lhes tira efte, e fe fujeitão á ef-

prefsao com a mefma pelle ,


que nada
embaraça. Para os primeiros firva de ex-
emplo o çumo de laranja ,
cuja polpa ef-

magada com as mãos ,


em mace-
fe deixa
ração por hum ,
ou dous dias em lugar
frio ,
e depois fe miílura com palhas bem
Tom.I. E la-
( 34 )

lavadas ,
e eortadas miudamente ,
met*
tem-fe no facco ,
e fe efpremem fem pe-
rigo ,
de que com o çumo fala o paren-
chyma ., porque as palhas o embaraçao.
As maçans, para melhor darem o çumo,
ralão-fe ,
e ás ameixas ,
ou femelhantes
bafta tirar-lhes o caroço. Todos eíles dif-

ferentes frutos fe devem colher antes de


perfeitamente maduros, porque então são
menos mucilaginofos ,
e menos fujeitos á

fermentação ,
e á corrupção. Por ilfo mef-
mo he que, fe tem grã, ou fementes, fc:

devem tirar, e lançar fora ,


antes que os;
frutos fe efpremão.
0
7. Havendo de efprcmer-fe os çu~
mos de diíferentcs heryas ,
folhas, £0 res,
frutos, e raizes, as quaes fejão de dife-

rente tenacidade ,
he conveniente ajuntar-

as mais feccas ,
e vifeofas com as que
abundão cm principio aquofo ,
e pizallas

aflim mifhiradas ,
para fe poderem efpre-
mer melhor. Iíto porém fomente no cafe
de que fenão queirão determinadas quan-
tidades de cada hum dos çumos ,
ainda
que
,

( 3? )

que fe determine ao depois ?


que fe miítu-

rem.
8.° Para a oonfervação dos íuccos fe

deve evitar ,
que lhes chegue o ar. He
por iífo, que fe mandão guardar em vafo
de vidro, lançando-lhes em fima tanto de
-azeite commum ,
que tenha altura de
dous dedos.
<?.° Antes de fe arrecadarem, fe hão
de fervir para ufo interno ,
depurao-fe
como fe dirá no Capitulo feguinte ;
mas,
fendo fomente dellinados para ufo exte-
rior, e para entrar em compolição de em-
plaftros, unguentos, ou femelhantes for-
mulas, não he precifa a depuração.
io.° Durão ,
quando muito ,
dous
annos ;
mas he da prudência renovallos *

todos os annos.
Nos frutos, fementes ,
cafcas, e ca-

roços dos vegetaes fe contém também


hum fucco oleofo ,
que fe tira igualmente
pela efprefsao. Eíle fucco ou he pingue ,

untofo ,
ou ejjencial : hum ,
e outro fe no-
mea nas oíHcinas com a addição de feito
E ii por
( 3<5 )

por efprefsao ,
para livrar da confusão ,
que
podia haver deites com os oleos feitos
por cozimento ,
e os eífenciaes deltilla-

dos, de que nos feus lugares trataremos.


Os oleos pingues contidos nas cellu-
ks ,
e fubftancia pulpofa dos frutos ,
e
fuas fementes ,
e amêndoas ,
fegundo cf-

tas fubltancias são mais ,


ou menos fazo-
eadas ,
aílim diveríificão muito, tanto na
copia ,
e bondade do oleo ,
como na fa-

cilidade ou dilficuldade de fe efpremer-


Ha fementes tão oleofas ,
e tão fáceis em
largar o oleo ,
que com o fimples aperto
dos dedos elle apparece j
taes são as fe-

mentes chamadas emuljivas . Outras tem


tão forte contextura ,
que além de fer pi-

zadas ,
ainda precisão de fer expoltas ao
calor d’agua fervendo, para facilitar a ef-
prefsão : e outras final mente tem neceíli-

dade de que por meio de huma leve tor-


refacção fe lhes attenue a intima vifcoíl-
dade, que embaraçaria a efprefsão ;
e fe
lhes diillpe a humidade fuperflua. Se o
tempo não tem induzido acrimonia em-
,:

C 37 )

pyreumatica neftes olcos pingues , tanto


importa que fejão de fubilancias doces,
como de amargofas ;
porque o oleo he da
mefrna natureza ,
por exemplo nas amên-
doas doces , ou amargofas o qual afUm mef- :

mo he univoco com outros oleos pingues


que não feja o de Rícino ,
ou Mamona ,
que he purgante ;
ou o das plantas um-
belliferas ,
pela miíhira infeparavel, que
tem ,
de oleo eífencial. .

As fementes emulfivas ,
que tem fa-

cilidade de largar o feu oleo ,


fe hão de
efcolher maduras bem creadas , bem fec-
,

cas não antigas


,
nem rançofas , carun-
,

chofas ou por qualquer modo alteradas.


,

Pizão-fe em almofariz e mettidas em ;

facco de panno forte de linho ,


fe efpre-

mem fem calor ;


e o oleo ,
que fahe pela
acção da imprenfa., fe conferva em lugar
frio.

As de fubftancia forte ,
e dura ,
moí-
das em almofariz ,
ou moinho ,
fe expo-
rão fobre peneiros de tecido fino ao va-
por de agua fervendo j
e depois de fe ter
di-
,

( 38 )

diminuído a humidade pelo tempo, então


fe mettao na imprenfa, e fe efpremao.
Para ufo Medico pouco , ou nada
nos fervimos dos oleos daquellas fubílan-
cias ,
que para o largarem ,
precisão de
torradas ,
á excepção da Manteiga de Cacdo.
Eíte aíTimcomo a Noz mofcada e a Ba- ,

ga de Louro também dão facilmente ofeu


oleo, fe, fendo pizadas ,
fe ferverem em
agua ,
aonde o feu oleo fobrenada ,
e fe
tira com colher de prata.
Os oleos efíenciaes ,
que fegregados
eftão dcpoítos nas pequenas cellulas, que
tem na cafca amarella as laranjas ,
limões
cidras ,
e bergamotas ,
fe tirão optima-
mente pela efprefsão. Faz-fe, ou apertan-

do as cafcas já fcparadas nos dedos con-


tra hum vidro polido ,
e que efteja verti-
calmente pofto, algum tanto inclinado, e
fobre hum vafo ,
que haja de receber o
oleo : ou rafpando levemente as mefmas
cafcas com huma máquina cheia de pon-
tas agudas ,
femelhante a hum fedeiro
na qual ha hum rego ,
por ond^vai cor-
rer
( 39 )

rer o oleo ,
que fahe das cellulas rotas,
para hum vafo para eíTe fim difpoho. Os
bocadinhos da cafca ,
femelhantes então
a huma polpa, incluídos n’hum facco, fe

efpremem na imprenfa ,
entre duas lami-
nas de vidro defendidas com as rodas de
pao já ditas ,
e aílim hum e outro
,
oleo
eifencial miíturado he de hum cheiro era-
tifiimo , menos fiuido do que os deíHlla-
dos em razão de mucilagem ,
que encer-
ra ;
e por ifib de menor duração , do que
elles.

CAPITULO III.

Da Depuração ,
ou Purijicação das fubftan-
das liquidas ,
e fitas diferentes efpedes.

D
que
Ebaixo do nome Depuração , ou Pu-
rificação

fe pòem em
entendemos aquelles meios,
prática para feparar as
partes eftranhas ,
heterogeneas ,
ou mais
groflas daquillo ,
que he mais liquido ,
e fe

quer depurado. A diverfidade de liqui-

dos exige diverfidade de proceífo ;


põr
iífo defcreveremos os que fe usão.

FIL-
,

( 4° )

FILTRAÇÃO ,
ou COADURA:
faz-fe dc differentes modos ,
conforme a
matéria ,
que fe' ha-de coar. i.° Os liquidos
aquofos, cozimentos, infusões, foro, e
oleos coao-fe por coadores de vários fei-
tios ,
e ordinariamente por panno de la,
ou linho, fem mais diíferença : o melhor he
ufar da chamada manga de Hippocrates , ou
facco de panno de linho, ou de lã, termi-
nando cm ponta aguda ,
e fegura mente co-

zido. 2.° Eftes mefmos liquidos, para fe tor-

narem ainda mais tenues ,


e puros ,
fe filtrão

por papel pardo, ou íimples ,


ou dobra-
do poíto em fima de panno, ou de funil,
cuja boca eíleja guarnecida de huma rede
de junco, ou hum panno, ou fedaço, pa-
ra fuílcntar o papel ,
que não fe rompa.
3.
0
O Mercúrio, ou Azougue vivo, para,
depurar-fe ,
- fe obriga a paífar por hum
couro flexivel ,
que fe ate em forma de
0
facco ,
efpremendo-o. 4. As fubftancias
pulpofas ,
ou polpas, e as mucilaginofas
que não pafsão pelos coadores ordinários,
coão-fe por fedaço ,
obrigando-as da par-
,

( 4i )

te fuperior. ç.° Os efpiritos ácidos corro-

fivos, que deílroem o papel, e o panno,


coao-fe por funil de vidro ,
cujo bico fe
enche de areia fina ,
de pò de pedernei-
ra, ou de vidro moído.
DECANTAÇÃO : faz-fe, quando
pela fimples inclinação do vafo fe fepara

o liquido tranfparente ,
e claro do fedi-

mento ,
que fica depolitado no fundo.
Tem lugar ,
quando por neceífaria brevi-

dade fe não póde efperar pela coadura


ou filtração demorada :
quando ha perigo ,

de que o fedimento pela fua mefma te-

nuidade poífa paífar com o liquido ,


que
o contém : e final mente quando fe quer
feparar os efpiritos corroíivos das fubítan-
cias metallicas, e de outros precipitados.
DESPUMAÇAO : faz-fe, expondo
o liquido ao calor até que ferva : as im-
puridades eílranhas ,
que clle contém ,
ap-
parecem na fuperfície em fórma de efcti-

ma ,
e ella fe fepara com huma colhér fii-

rada com muitos buracos ,


chamada pro-
priamente Efeumadeira e depois fe coa ;
,

Tom. I. F ou
( 42 )

ou coa-fe fomente ,
e fe aproveita o li-

quido claro*
CLARIFICAÇÃO : pratica-fe nos

mefinos liquidos coados, e nos que ainda


fe hão de coar ,
para ficarem mais puros*
Faz-fe, ajuntando-lhes, e miílur ando-lhes
fubíhmcias glutinofas ,
fervendo-fe tudo
depois* As impurezas , que o liquido tem ,
fe prendem com as fubíhmcias glutinofas,.
que pelo calor fe coalhão ,
e fícao aílim

capazes de feparar-fe pela coadura. As-


fubíhmcias ufadas para eíte fim são a cla-
ra de ovo, e o grude de peixe. Na clari-

ficação dos çumos de plantas ,


dos cozi-
mentos ,
do foro de leite ,
e do aíTucar

desfeito em agua fervimo-nos da clara


d’ovo : na clarificação de liquores ácidos
ufamos do grude de peixe desfeito em
vinagre ,
ou em agua. Para cada duas li-

bras de liquido he precifa huma clara

d’ovo, que fe desfaz primeiramente ifhu-


ma pequena porção do liquido frio por
meio de huns poucos de páoszinhos em
forma de vailbura ,
ou por meio de hum
ro-
,

( 43 )

rodízio expreíla mente feito para femelhan-


tes ufos: e batida, de modo que faça ef-

cuma, fe miítura ao reílo do liquido, que


fe quer clarificar ,
poe-fe ao fogo ;
e paf-
íadas algumas fervuras ,
feparada a efcu-
ma , como fica dito ,
coa-fe.

A DESTILLAÇÃO ferve á purifica-

ção dos princípios efpirituofos dos vege-


taes •
aífim como a CRYSTALLIZAÇÃO
á depuraçao dos faes. Cada huma deitas Ope-

rações ferá tratada em lugares competentes.

Aonde ha perigo de que pela clari-


ficação fe perca ,
ou tranítorne a virtude
do liquido ,
he neceíTario contentar com
a decantação ,
ou com a fim pies coadura.

Seja por exemplo o cozimento das pa-


poilas brancas ,
que não fe deve clarificar

quando fe quer fazer o Xarope de Diaco-


dio ,
pois que ou perde ,
ou fe diminue
muito a fua virtude.

A LAVAÇÀO ferve para purificar


as fubítancias folidas, e neíta conta entra
a depuração das enxúndias ,
e gorduras,
e febo dos animaes ,
& c. &c.
F ii CA-
,

( 44 )

CAPITULO IV.

Da Evaporação ,
Çumos efpejjos ,
ou condenfi-
dos y
e Polpas

Brigar por meio da applicação de


calor a que as partes mais fluidas ,

e voláteis dos liquidos fe tornem em fu-


mo ,
ou vapores ,
he o que fe entende por
evaporar 5 e a operação, que para efíe ef~

feito fe pratica ,
fe chama Evaporação,
Quanto mais extenfa he a fuperficie do
liquido expoíla ao toque do ar, conforme
for mais forte ,
ou rcmiííò o gráo de ca-
lor, a evaporação ferá mais prompta , ou
menos expedita. Em confequencia os va-
fos ,
em que deve fazer-fe ,
fejão largos T

e baixos y e o calor uniforme ,


de tal mo-
do ,
que a fua maior fortaleza não faça
adquirir empyreuma ,
ifto he ,
cheiro ingra-
to a queimado. Prefere-fe por efta razão
ao fogo nú o banho de Maria ,
ou o de
areia ;
e ,
fe fe requer que o liquido fe ha-
ja deefpefíar, fe agita continuamente com
ef~
,

( 4? )

efpatula ,
para evitar o pegar-fe ,
e eftur-
rar-fe. Todas as fubfiancias ,
ou fejão çu-

mos de vegetaes ,
foluçoes ,
extracçòes
ou geleias de animaes reduzidas a huma
coníifiencia mais efpefla, dizem-fe EfpeJJa-
das ;
e particularmente os çumos ,
para
diíferença dos extra£los verdadeiros ,
de
que em feu lugar trataremos ,
fe chamao
nas oíHcmas Cimos efpcjjados. Difíerem em
razão da coníiftencia ,
que fe lhes dá : os
que tem perdido a maior fluidez pela eva-
poraçáo ,
e tem a coníiftencia de mel des-
feito, fe chamao Arrobes , que fendo mif-
turados com alguma porção de aflucar,
ou mel ,
fe chamavao antigamente Arrobes
compojios. Os que tem huma coníifiencia
mais firme são indevidamente chamados
extra cios.

As polpas ,
que fe querem dos fru-

tos ,
ou raizes ,
são ou cruas ,
ou obtidas
pela evaporação. As primeiras fazem-fe
pela fimples pizadura dos frutos recentes,
e pela coadura por fedaço, para fe fepa-
rarem as cafcas ,
e fementes. As que fe

fa-
,:

C 4á )

fazem por evaporaçáo ,


e aqui pertencem
por iílb a eílc Capitulo ,
fe confeguem
pelo methodo feguinte: Os frutos carno-

fos verdes ,
maduros ,
ou feccos ,
tirada a
cafca ,
e cortados em pedaços ,
fe cozem
em pouca agua ,
até que amolleçao bem
efpremao-fe em íima de fedaço ,
e a pol-
pa ,
que por elle paífa, a fogo brando fe

faça evaporar até á conliílencia de mel,


mexendo-fe continuadamcnte com a efpa-

tuia, para que fe nao queime.

1
CAPITULO V.

Da DiJJblução dos corpos por diverfos menf-

truos ,
e das operaçoes a ejla fubfidiarias.

N
mada
Ào

pelos
tratamos neíte Capitulo da DiJJh-
liiçao radical

Chymicos
dos corpos aTim cha-

,
porque por ella

fe refolvem nos feus principios conftituti-

vos. Eita he feita quaíi fempre pelo fo-


go, e por iífo lhe chamão também DiJJb-

hição por via fecca. Tratamos da DiJJblução

fuperjicial por meio de menjlruos ,


illo he
por
( 47 )

por meio de líquidos taes ?


que appiicados
a fubíbmcias folidas ,
as desfaça todas,
ou em parte •
de maneira, que deita união
refulte hum liquido apparentemente ho-
mogêneo ,
do qual fomente pela exhala-
ção, ou pela precipitação fe poifa feparar

a fubítancia folida diíTolvida. Efta Diífo-


lução fe chama por via húmida. Como to-

dos os meníhuos não tem huma acção


igual fobre os corpos, a que são appiica-
dos ,
outras operações fervem de difpoíl-
çao ,
e fubíidio á DiíTolução. São eflas

particularmente a Pulverização de que já


,

tratámos ,
a Digejlão ,
a Maceração , e a
Circulação. A Digejião entende-fe pela de-
mora ,
que diverfas fubíbmcias folidas ,
e
em vafo fechado, (dei-
fluidas mifturadas

xado fempre hum pequeno buraco) tem


n’hum calor brando ,
e igual por determi-
nado tempo ,
para fe poder obter a fua
intima ,
e reciproca combinação. A Mace-
ração não diífere da Digeflão fenão em fe
fazer fem intervenção de calor. Por Cir-
culação fe entende a operação ,
pela qual
obri-
( 48 ')
obrigando o liquido contido n’hum vaíb
a exhalar por acção do fogo ,
e eíh exha-
lação nao podendo ter lugar por emba-
raço expreífamente poíto ,
torna o liquido
huma ,
e muitas vezes a cahir no mefmo
vafo ,
donde havia exhalado. Faz-fe efta

opera çao ,
empregando ou fimplesmente
huma cucurbita alta, ou o inftrumento , ti
que chamao os Chymicos Pelicano , ou
dous matrazes applicados hum contra ou-
tro. De qualquer deftes modos com pou-
ca differença fe confegue o mefmo effeito.

Os menllruos ,
que fervem á DiíTolu-
çao Medicinal das fubftancias foi idas, são
a Agua , os Efpiritos ardentes ,
os Olcos ,
os
Liquores ácidos ,
e alcalinos • e cada hum
delles diífolve fubftancias difterentes, que
lhe são como peculiares.

De todos os menftruos a Agua he


tão poderofa ,
que fe póde reputar como
hum menftruo univerfal. Conforme a fua

maior ,
ou menor pureza ,
e conforme o
grão de calor diíferente he também mais,
ou menos extenfo o feu poder : de modo
que
,

C 49 )

que he neceíTario de antemão faber ,


que
as Diífoluçòes na agua por meio de calor
applicado, ainda que fejao mais facilmen-
te feitas ,
e ao parecer mais carregadas y

cm fe refrigerando largão de fi a maior


parte daquillo ,
que o calor ajudou a dif-

folver ,
retendo fomente huma porção de
fubíhutcia diifolvida ,
igual á que diífolve-
ria a mefma quantidade de agua fria por
hum proceífo mais tardo ?
qual he a ma-
ceração» .

A agua nao fomente he o menítruo


proprio dos faes ,
gomas vegetaes ,
e ge-
leias dos animaes, mas até chega a rece-

ber em íi
,
ainda que em menor perfei-

ção ,
as gomas-reíinas ,
e partes de metaes
e femimetaes. Carrega-fe também dos
principios do cheiro proprio dos vegetaes ?
e goza finalmente das virtudes das fubítan-
cias, que diifolveo.

Attendida a advertência ha pouco


feita relativa á differente força diífolmite
da agua ,
fegundo o feu diverfo grão de
calor fobre os diíferentes corpos
?
he bom
Tom. I. G no-
) ,

( ?°
notar a refpeifo da folubilidade dos facs
que eJfta também pende muito da fua fec-

cura ,
perfeição ,
e pureza ,
e que a mefma
quantidade de agua já faturada de hum
determinado fàl ,
iíto he, havendo já dif-

foivido tal porção delíe ,


que nao diífolva
mais ,
deixando-o no fundo do vafo fcm
dcrreter-fe,. eíla mefma agua nao fomente
desfaz hum differente fal , e mefmo ter-
ceiro, que fe lhe ajunte; mas torna a dif-

folver parte do primeiro que já nao po-


dia diíTolver ,
fem com tudo largar de íi

os que de novo continha.. Ajuntaremos no.


fim huma taboa das diiferentes porçóes
de faes, que a agua diílblve em determi-
nado gráo de calor. Pela humidade do ar
fe fazem algumas diííbluçoes de corpos,
feccos ,
que lentamente a attrahem ,
e
vem a cahir (
fegundo a frafe Chymica )

em deliquio ; e porque oíferecem ao ta-


fto ,
e á viíta hum tanto de fubítancia pin-
gue ,
e untofa ,
lhes tem dado o nome de
Oleos por delíquio. São exp oitos a liquidar-

fe por eíte modo osfaes alcalinos .fixos ,


e
OS;
,

5-1
( )

os neutros feitos deftes, e dos ácidos ve-


getacs ?
c alguns dos neutros metalli-
cos ,
&c.
Os Efpiritos ardentes ,
ou Efpiritos dc
'rvinho de qualquer qualidade que íejao,
são. menilruos dos oleos eífenciaes ,
das
refinas ,
gomas-refinas ,
balfamos, e can-
tora. DiíTolvem o ambar ;
não diíTolvem
os bitumes ;
e não diífolvendo os oleos
pingues ,
nem os faes alcalinos fixos ,
dif-

folvem os faboes ,
que delles sao feitos.

Por acção do calor diíTolvem os faes al-

calinos voláteis ,
e os neutros de alca-
lino fixo vegetal ,
e do acido igualmente
vegetal. Miílurão-fe com os ácidos, e os
dulciiicão ,
como fe dirá ,
tratando da
Deftillação.
Ou os Oleos íejao dos pingues mi-
tofos ,
ou dos eífenciaes ,
sao menftruo
das refinas ,
balfamos ,
cera ,
canfora
gorduras dos animaes, enxofre ,
e de al-
gumas fubíhncias metallicasr ,
particular-

mente do chumbo. Podem adquirir hum


maior gráo de calor ,
do que os demais
G ii men-
( n )

mcnfiruos ,
fcm fe alterarem ,
e por iííb

podem também diílolver maior quantida-


de daquelles corpos ,
que alguns dos ou-
tros diílblvem em menor porção.
Os Ácidos sao vegctaes ou minc- ,

raes. Huns c outros com diíFercnte força


,

de acção diílblvem faes alcalinos ,


terras

alcalinas, e fubílancias metallicas. Deílas


diflbluçoes fahem pela Cryílallização dií-
ferentes faes médios ,
ou neutros ,
que no
Capitulo feguinte veremos ,
e alguns íi-

cao cm fôrma liquida ,


aílim fe usao ,
e
aqui pertencem. Os ácidos vegetaes tem
acçao fobre varias fubílancias metallicas,
e diílblvem Zinco ,
Ferro ,
Cobre , Eítanho,
Chumbo , (
e eíle ainda melhor , fendo cal-

cinado ) e a parte metallica ,


ou regulina
do Antimonio. Dos ácidos mineraes o
Marino pelo methodo ordinário das DiíTo-
luçoes desfaz o Zinco, o Ferro, e o Co-
bre ;
pordm para fe unir aos outros me-
taes ,
particularmente ao Mercúrio he ,

precifo ,
que por meio dlium vehemente
gráo de calor fe lhe una em forma de
va-
,
,,

- ( *3 )

vapor. O Nitrofo á excepçao do Ouro ,


e
do Regulo de Antimonio , diflblve todos
os outros metaes mas mifturado com o ;

acido Marino ,
diíTolve o Ouro , e Regulo.

. O Vitriolico com diíEculdade diíTolve os


metaes ,
fendo concentrado ,
e fem ajuda
de grande calor ; mas miíturado com agua,
então diíTolve-os mais facilmente ,
e en-
tre todos melhor o Zinco ,
e o Ferro.
Para fegurança do Operador he precifo
advertir, que eftas diíToluçòes dos metaes
pelos ácidos mineraes são acompanhadas
de eíFervefcencia ,
e vapores, a que Te dá
o nome de Gaz , ou Ar inflammaruel ,
cujos
effeitos he neceífario evitar na refpiração
e em fe lhe não aproximar luz acceza
principalmente fe fe fazem em vafo de
boca ehreita ,
pelo perigo de pegar fogo
e arrebentar.

Os liquidos alcalinos diífolvem os


oleos ,
as refinas ,
e o enxofre : e pela
addiçao da cal viva fe fazem muito mais
a&ivos ,
e delles fe vem a fazer vários
faboes folidos ,
molles ,
fluidos ,
fixos,

vo-
,,

( Í4 )

voláteis ,
e femivolateis : alguns balíamos
efpiritos ,
&c.

CAPITULO VI.

Da Cryjlallização ,
e dos Sacs.

O
por
S faes
fua antiga figura

efieito
diílol vidos

da operação
,
n’agua

,
que
tornão
e cryftaes proprios

fe chama
á

Cryjlallização. Efta fe pratica por cílc

modo : a diíToluçao do fal filtrada fe eva-


pora, fegundo as leis da evaporação, em
vafo largo ,
e pouco fundo ,
até que co-
mecem a apparcccr na fuperficie do liqui-

do eftrellinhas falinas ,
ou huma como pel-
lezinha ,
a qual então começa a apparecer
quando diminuida huma certa quantidade

da agua pela evaporaçao ,


falta a que he
neceifaria para entreter a diíToluçáo. Nef-
tes termos fe fepara do fogo, e em lugar
náo muito frio fe deixa cuberto levemen-
te o vafo por vinte e quatro horas em
quietação. NeíTe meio tempo os Cryftaes
fe váo formando no fundo, e pelas pare-
des
( 55 )

des do vafo ;
e formados ,
fe decanta o
liquido reftante ,
que fe exporá a fegun-
da ,
e mais evaporações ,
fendo neceffa-
rio ;
e os cryítaes tirados com cautela ,
e
poílos fobre papel pardo ,
fe feccaráo a

hum calor muito brando.

He precifo com tudo obfervar algu-


mas coufas mais para o bom fucceífo def-
ta operação :

Que expondo-fe a diífoluçao


i.°

evaporada a hum frio repentino fe per- ,

turba a ordem e modo da cryílallização.


,
0
» 2. Que a evaporação não deve fer
apreífada ,
obrigando o -liquido a ferver:
mas que fe deve fazer lentamente em ba-
nho de Maria ,
ou de areia.
0
3. Que fenão deve exa&amente ef-

perar a formação da pellicula *


não fo-
mente para que nao embarace a continua-

ção da evaporação ,
mas também para que
não defmanche a fôrma devida dos cryf-
taes ,
precipitando-fe fobre elles.
0
4. Que por iífo em tanto fe deve
continuar a evaporação, até que algumas
ga-
,

( i6 )

gotas do liquido lançadas em vidro ,


ou
prato frio, e expoílas ao ar ,
comecem a

moítrar huns como fios cryítallinos.


0
Que fendo os faes diverfamcnte
5.

difibluveis em differente quantidade d’a-

gua e cryítallizando-fe em confequencia


,

huns primeiro do que outros ,


de forte

que os que precisão para fe diífolver ma-


ior porção d’agua ,
são os primeiros a
cryftallizar-fe ;
he conveniente obfervar os
tres grãos de evaporação notados por
Mr. Rouelle ,
pois que a Cryítallização
fe não faz fomente para reftituir hum fal

a feus cryílaes livres de qualquer impure-

za ;
mas ,
e muito particularmente ,
para
feparar huns de outros faes ,
e tiraJlos de
outros produétos da natureza. Eítes tres
grãos são : o primeiro infenfivel ,
que fe

faz pelo calor do Sol ,


ou femelhante : o
fegundo medio ,
do calor do Sol até fenfi-

vel apparecimento de vapores : e o ter-

ceiro forte ,
defde o calor jã moleíto ao ta-
£k> até á fervura do liquido. Em cada hum
deites grãos fe cryítallizao diferentes faes.
6.° Que

1
( Í7 )

6° Que fomente os faes neutros fc

reduzem a cryítaes ,
e que dos alcalinos
fomente a barriiha.
0
7. Que além da evaporação necefli-
tao os faes metallicos para maior facili-
dade da cryftallização de fe ajuntar pou-
co a pouco ao liquido evaporado liuma
porção de efpirito de vinho ,
pela qual
addição os cryítaes fe formão por preci-
pitação.

CAPITULO m
Da Precipitação »

Juntando ás diíToluçÔcs dos corpos


huma terceira fubfiancia ,
que ,
tendo
maior aíKnidade ou com o liquido diíTol-
vente, ou com o corpo diíTolvido, facili-
ta a feparaçao delles
,
fe faz a operação,
a que chamamos Precipitação ,
e á fubítan-
cia ,
que fe precipita ,
derão o nome de
Precipitado ,
Magijicrio ,
e Enxofre. Ainda
que do que fica dito fe vê bem quam facil
lie efta operação ,
he precifo com tudo
Tom. I. H no-
)

( ys

notar, que a fubftancia precipitante fe não


deve ajuntar toda junta d’huma vez ,
mas
pouco a pouco ,
e fd em quanto dura a

precipitação. A matéria precipitada fe la-

vará depois repetidas vezes em agua ,


ate

que fe faça fem fabor ,


no cafo que aílim

feja da intenção Medica : e a efta fegunda


operação chamão adoçar ,
edulcorar. Efta
obtida ,
nem por íftb fe rejeita o fluido
reftante ;
mas, como elle ordinariamente
contem diverfas fubftancias falinas ,
que
refultão da addiçao do precipitante fobre
o menftruo, e fua união, fe procura pela
cryftallização haver eftes facs ,
que po-
dem ter ufo nas oifleinas.
\
i

CAPITULO VIII.
'

Da Extracção ,
e das diverfas efpecies

de extraã os.

A Extracçao he a operação
intervindo menftruo appropriado
feparao dos corpos y
em que
,

ella
pela qual

fe faz ?
,
fe
,

as fubftancias ,
que são diífoluveis no
menfl-
( S9 )

mcnílruo npplicado ,
com o qual mefnio
unidas ,
ou delle feparadas ,
são de ufo
na Medicina. Daqui bem fe ve ,
que fe

podem coníiderar duas ordens de Extra-


61o s ,
Liquidos ,
e Solidos ,
e que os primei-
ros nao diíFerem das foluçóes ,
aílim co-
mo os fegundos diíFerem em muito dos
çumos efpeíTados.
Os Extra&os liquidos sáo : i.° as
0
InfusGes ,
2 .° os Cozimentos , 3. as Tintu-
ras ,
EJJeucias ,
e Elixires . Differem entre
íi fomente em j^izao da diveríidade do
menítruo, e do diverfo gráo de calor, que
requerem. Os Extra 6los folidos fe repar-
tem fegundo os menítruos ,
com que fe

fazem , em I. Aqnofos ,
Mucilaginofos ,
ou
Gomofos , II. em Efpirittwfos ,
ou Refmofos ,

e III. em Aqueo-efpirituofos ,
ou Gomofo-re-
fmofos.

H 11 SE-
(
6o )

SECÇÃO I.

Das Infusões ,
e fitas àiverfas efpecies .
r

A
foluçao
Digcílao
dêmos
,
,
e

noticia
maceração

não tendo difFerença alguma da


,

no Capitulo da Dif-
de que já

Infusão ,
feja qual for o menftruo ,
em
que fe fação ,
he com tudo fomente ufa-
do o nome de Infusão em Pharmacia ,

para deíignar as extracções liquidas ,


que
fe fazem por digeítão ,
ou maceração em
agua ,
vinho ,
vinagre ,
ou oleo : deixando
o nome de Tinturas ,
Eífencias ,
e Elixi-
res para as que fe fazem em efpiritos ar-

dentes ,
ainda que feitas pelo mefino mo-
do, que as mais infusões. Segundo elles

diverfos menftruos faremos pois a divi-

são das infusões.

AR-
,,

(
6i )

ARTIGO I.

Infusões dos 'vegetaes em agua .

Omo a agua havida ,


como já difle-

mos ,
por hum menftruo univerfal
fcja mais ,
ou menos a£Hva ,
fegundo for

maior, ou menor o calor damefma agua,


e ainda o da atmosfera ,
claro fica ,
que
ella he o proprio liquido, em que fe po-
1.
dem extrahir as mais eificazes ,
as mais fub-
tis, e mais copiofas partes dos vegetaes,
que fe lhe infundem. Ainda que parece
2. operação demaziadamente fimples
ler eíta

demanda todavia particulares advertên-


cias, para fe executar como convem.
a
Se a infusão não for expreífamen-
te mandada fazer das partes dos vegetaes
recentes ,
deve-fe fazer delias moderada-
mente feccas, e não antigas ;
porque ef-

tas dão ao liquido maior virtude.


a
Se a infusão fe pede fria ,
deve
fazer-fe pela maceração ;
fe íimplesmente
fe pede pelo nome de infusão ,
ou chã ,
ou
,;

( 6* )

ou infusão theijorme ,
he ncceiraria a di-

gefião.
1
3. Conforme he a diíferente denfi-

dade ,
e natureza das fubltancias ,
que fe

mandáo infundir ,
aílim também a infusão
deve durar mais ;
ou menos tempo. Os
páos ,
cafcqs ,
raizes ,
e frutos carnofos fc
cortao ,
fe machucao ,
e fe pizão ,
e fe
macerao ,
ou digerem ;
particularmcnte ,

fe ainda depois tem de fervir a cozimen-


tos. As folhas ,
e as flores infundem-fe
inteiras ,
fem outra preparação antece-
dente.
4.* Pela mefma razão ,
e conforme
for a natureza fixa ,
ou volátil dos corpos
ou necelfaria a maior, ou menor brevida-
de do medicamento ;
e aílim também a
maior ,
ou menor abundancia de princi-
pios a&ivos delle ,
fe faz a infusão em
vafo fechado ,
ou aberto }
em agua fria

ou quente.
f.* Conhece-fe bem feita a infusão,

ou feja por digeftão ,


ou por maceração,
quando o liquido fe tem carregado de
ma-
,

( «3 )

maneira ,
que fe lhe hajão communicado

as qualidades feníiveis de íabor, e cheiro


da fubftancia infundida. E também nas
infusões frias, quando facolejado o vafo,
em que sao feitas, e efperando que a fub-
ftancia infundida aífente ,
nem por iífo o
liquido fe fez mais corado, do que antes
eftava : e nas que sao feitas em agua fer-

vendo ,
quando toda a fubftancia infundi-

da fe depòe no fundo do vafo, deixando


o liquido tranlparente.
6.* Porque he da natureza da infu-
são, que he bem feita ,
o fer tranfparen-
te ,
também he claro ,
que fe não deve
coar ;
e que havendo de coar-fe, nao fo-

mente fe nao deve efpremer no coador,


mas deve fer filtrada por papel ,
para não
perder a fua tranfparencia. Naquellas in-

fusões ,
em que he necefiaria a coadura
previne-fe efta, incluindo a fubftancia em

i

,
ou ligadura de panno de linho não
muito tapado ,
com a cautela ,
de que fe

nao encha fe não até á quarta parte ,


fi-

cando algum tanto froxo o faquinho, pa-


ra
,
,

(<4 )

ra evitar,
7. que não eftoure em a fubflancia

embebendo o liquido ,
em que fe infunde.
® Seja qual for o modo de feparar
a infusão feita da fubftancia ,
de que fe

8. precifo attender, que efta fepara-


fez, he
çao fe náo faça antes de esfriar o liqui-
do, fe a fubftancia infundida tiver princí-

pios voláteis.
*
Como as mais das vezes fe pe-
dem as infusões fem mais clareza do que
v. g. Infusão de flor de Sabugueiro ,
recei-

tando a quantidade da infusão já feita

fem determinar a quantidade de flor ne-


ceífaria para a quantidade receitada ,
feria

bom ,
que fe pudeflem dar regras íbbre a
proporção ,
que deve haver entre o liqui-

do, e a matéria infundida. Mas como não


fomente as condições fyíicas do medica-
mento ,
que fe infunde em quanto á fua
volatilidade ,
efpeífura ,
facilidade ,
ou
dificuldade de largar na infusão a fua vir-
tude ,
porém o diverfo ufo ,
e intenções
Medicas na fua applicação fazem variar
infinitamente efla proporção ,
apenas em
)

( 6f
geral fe pode dizer, que para fubítancias

mais crafías deve fer mais liquido ,


mais
calor, e mais tempo; e que para as mais
tenues, e voláteis pelo contrario. Daquel^
las ordinariamente são receitadas as quan-
tidades determinadas, e deitas commum-
mente fe deixao ao arbitrio do Boticário ;

o qual em fendo infusão aílím receitada


de folhas, ou flores, ou de ambas, para
cada hum pugillo delias ajuntará quatro
onças de agua fervendo.
9-
a
A mefma matéria ,
que já fervio
á primeira infusão ,
pode ainda fervir á
fegunda ,
e terceira ,
para dar toda a fua
virtude ,
diminuindo a proporção do li-

quido em cada huma das vezes ;


v. g. fo-

jão na primeira quatro onças ,


ferao duas

na fegunda ,
e huma na terceira. A infu-

são em tanto he aéliva ,


em quanto fe en-

carrega do fabor, e cheiro, como já dif-


femos.
a
io. Eftas infusões fe fazem mais
carregadas ,
ou ajuntando pouco e pouco
nova quantidade da fubítancia que fe
,
v
Xom.L I man-
( 66 )

manda infundir; ou infundindo-a em agua


já delfillada da mcfma fubílancia em vez
da agua íimples ;
ou, fendo aflim conve-
niente, animando, c fazendo mais aftiva
a mcfma agua com a addiçao de algum
liquido efpirituofo em pequena quantida-
de ,
para que fc diífolva maior porção da-
quelles principias ,
que a fimples agua nao
póde dilfolver.

ARTIGO IL
Infusões cm vinagre , ou Vinagres medicinaes-

P Ara
naes ,
fe fazerem
he precifo que
os Vinagres mediei-
feja o vinagre*
em que fe faz a infusão ,
puro ,
feito de
vinho, e não deftiílado. Nelfe menílruo y
e em vafo de vidro fe infundem as fub-

ftancias ,
cuja virtude fe lhe quer commu-
nicar ;
e para eíle effeito ferao cuidadofa-
mente limpas de toda a impureza, corta-
das miudamente ,
machucadas ,
ou piza-
das ;
e fe forem vegetáveis, ferão mode-
radamente feccas 3
para que não alterem
a
( 67 )

o vinagre com a humidade fuperflua. De-


ve tapar-fe o vafo ,
e ou pôr-fe em digef-
tão a fogo muito brando, ou ao Sol, ou
finalmente deve ficar em longa ,
e aturada

inaceraçao ,
fegundo for mais ,
ou menos
forte a contextura da matéria infundida.
Conhecida a perfeição deita infusão pelo
modo ,
que fica dito no Artigo antece-
dente ,
e havendo de confervar-fe ,
he
precifo precaver toda a alteração ,
e de-
pofito de fezes ,
ajuntando a qualquer de-
terminada quantidade huma duodécima
parte de agua ardente ,
v. g. para huma

libra de vinagre huma onça de agua ar-

dente.

ARTIGO III. %

Infusões feitas em vinho , ou Vinhos medicinaes.

D E dous modos
medicinaes

medicamentos no tempo
,
ou
fe fazem os Vinhos
ajuntando-lhes
em que os
os
vi-
,

nhos devem fermentar, ou pelo modo or-

dinário das infusões ,


de que temos até
I ii aqui
,

(
<8 )

aqui tratado. O primeiro mcthodo (além


da alteração, que pela fermentação pade-
ce o vinho y
e a matéria infundida )
náo
he uíado em Pharmacia ,
e por iílb trata-

remos fomente das circumftancias ,


que
demandao particular attençao neíta opera-

ção ,
que em nada diífere ,
em quanto d
cífencia, das duas antecedentes.
O vinho reune as propriedades de
meníliruo aquofo, efpirituofo, e acido ,
e
he por tanto capaz de fe encarregar da-
quel-les princípios dos medicamentos ,
que
fe dilTolvem em cada hum dos menítruos y

cujas propriedades tem. Eftas proprieda-


des podem variar ,
e com effeito variao,

fegundo a qualidade dos vinhos ,


que ex-
cedem huns a outros nos princípios aquo-
fo, efpirituofo, ou acido; e por iífo para
diverfas preparações fe requer algumas
vezes diverfo vinho. Porém o mais ordi-
nário he efcolher-fe ,
e preferir o vinho
generofo a todo qualquer outro.
Conforme he o deílino defta infusão

ou para fe confervar y
ou para fe dar prom-
pta-
,

(
6? )

ptamente ,
ailim fe faz a infusão ou por
maceração, ou em banho de Maria. Efte
fegundo modo ferve fomente, quando he
pequena a quantidade de infusão vinhofa
e fe faz ,
como he fabido ,
mettendo o
vafo ,
em que fe faz a infusão ,
dentro
d’outro ,
que tenha agua fervendo ,
para
que mais facilmente fe faça a extracção

dos princípios do medicamento infundi-


do ,
e fe não altere o vinho por hum ca-

lor maior ,
do que póde fer o do banho.
A maceração porém fe deve fazer em va-
fo tapado exaftamente ,
e em lugar frio
confervar-fe a infusão por oito ,
dez ,
ou
mais dias ,
conforme a facilidade ,
que
houver da parte do medicamento para
communicar ao menftruo a fua virtude.
Eftes medicamentos devem fer perfeita-
mente feccos ,
exceptuando as plantas cha-
madas antifcorbuticas ,
as quaes fe infun-

dirão colhidas frefcas. As infusões vinho-


fas ofíicinaes fe guardarão em garrafas de
vidro bem tapadas ;
e para evitar a fer-
mentação ,
fe lhes deve ajuntar a cada
vin-
( 7° )

vinte partes huma de agua ardente ,


ten-
do lido primeiramente coadas por coador
fino, e melhor ainda por papel pardo.

ARTIGO IV.
Infusões em azeite ,
ou Oleos por infusão.

S infusões feitas cm azeite nada


tem de particular, porque do mef-
mo modo, que os outros menfiruos ,
elle

fe encarrega dos principios dosvegetaes,


em que coníifte o feu cheiro, cor, e vir-

tudes. As únicas advertências, que ha pa-


ra fazer ,
sáo ,
que os vegetaes ,
que fe in-

fundem ,
fejao bem feccos ;
e que depois
de huma aturada digefião em calor fum-
mamente brando , ou feita ao Sol ,
quan-
do pelo cheiro ,
cor ,
ou fabor confiar,
que fe lhe tem communicado a virtude

da fubfiancia infundida ,
então fe coe ,
ef-

premendff fortemente ;
fe deixe em def-

canço ,
para que algumas fezes ,
ou hu-
midade aíTentem no fundo ;
e fe decante

o que efiá claro ,


e fe guarde em vafo
bem tapado.
SE-
:

( 71 )

S E C Ç Ã O II.

D:js Cozimentos.

O Cozimento ,
ou Apozema não
da infusão, fenão pelo diverfo giáo
de calor, que precifa ;
porque fe
diifere

não faz
pela íimples maceração ,
ou digeMo ,

mas pela ebulliçao ,


ou fervura.
A ma teria ,
que ferve para os Cozi-
mentos ,
he, igualmente que para as in-

fusões ,
tirada dos tres Reinos da Natu-
reza : e o menítruo póde fer diverfo tam-
bém •
mas o ordinário he a agua ,
porque
tem a vantajem de fe não alterar pela
fervura ,
como fuccede aos outros menf-
truos. Por iífo, quando fem determinação
de menítruo particular fe manda fazer
hum cozimento de certas fubíhmcias ,
fe
deve fazer em agua commum.
No modo de praticar eíta operação
he neceífario attender as feguintes leis

i.
a
Que o menJftruo feja appropriado
á fubílancia ,
cuja virtude fe requer ;
e que
fe não póde obter com a mefma commo-
di-
,
,

( 72 )

didade ,
e brevidade pela maceração ,
ou
digeílão ,
como fe obtem pela fervura : e

não he de natureza tal


,
que fe perverta

diífipe ,
ou mude pelo Cozimento ;
porque
femelhantes fubílancias fervem para as in-
fusões ,
como v. g. as partes de vegetá-
veis recentes, e tenras, as aromaticas vo-
láteis ,
os mais dos purgantes ,
&c.
2/ Por cila razão he miller averi-
guar a confiílencia ,
ou textura do medi-
camento ,
que fe ha de cozer ;
porque
fendo mais dura ,
fe fujeita primeiramente
á maceração ;
fendo menos dura ,
aífini

xnefmo pede mais ,


ou menos tempo de
Cozimento ou íinalmente fe infunde no
;

mefmo Cozimento de outras fubílancias


para fe ter na mefma operação os princi-
pios fixos diurnas ,
e os voláteis das ou-

tras

y
ou também aquelles ,
que pelo Cozi-
mento fe mudão, ainda fendo fixos ,
co-
mo fuccede na raiz de Alcaçuz ,
que
communicando ao Cozimento hum fabor
doce, fendo infundida, o faz amargo, e
naufeofo, fe por algum tempo ferve.

3
-‘ Se '
( 73 )

3.
a
Semelhantemente hc precifo at-

tender, fe a matéria, que feha de cozer,


he recente ,
ou antiga ,
verde ,
ou fecca ,

para fe determinar o modo ,


ordem ,
tem-
po ,
e proporção dos medicamentos ,
que
entrão no Cozimento. Eltes tres artigos

tem ufo ,
quando nas receitas fe póe em
geral, v. g. de raiz de Chicória ,
Ceva-
da ,
flor de Sabugueiro de cada huma
quanto bajle ,
para fazer Cozimento S. A»
e fe deixa ao arbitrio do Boticário a quan-
tidade de cada hum dos íimplices ,
e a
ordem, em que fe devem cozer, e o tem-

po. Para evitar toda a equivocação fobre


a quantidade do medicamento relativa-

mente ao liquido, em que fe deve cozer,


quando fe receita na generalidade dita ,

attendida a natureza delle, geralmente fe


póde eftabelecer
,
que para huma libra de
agua he neceífaria huma onça de medica-
mento ,
ou efta feja de hum fó medica-
mento, ou feita de outros mais, que en-
trem na compoíição do cozimento.
a
4* Pelo que refpeita á ordem, com
Tom. I. K que
( 74 )

que fe devem fucceder as diverfas fub-


ítancias, que entrão nos Cozimentos com-
p oitos ,
he natural conceber, que primei-
ramente fe começarão a cozer aquellas
fubílancias, que por duras náo podem dar
a fua virtude ,
fenao fendo longo tempo
fervidas ;
apôs delias as que dão a fua

virtude em menos tempo ;


depois as que
requerem brcviílima fervura ;
e ultimamen-
te aquellas ,
a que baila a infusão. E af-

fim I. alguns mineraes; cornos de animaes


velhos ,
oífos ,
c carnes ;
pãos ,
raizes ,
e
cafcas mais duras dos vegetaes ,
feccas ?

fem cheiro ,
e reíinofas ,
requerem ,
e foi-

frem Cozimento por quatro ,


feis ,
e mais
horas ;
e até ,
para darem nelle tempo a
fua virtude ,
precisão ás vezes de mace-
rar-fe antecedentemente. II. Os páos ,

cafcas ,
e raizes menos compaftas ,
mas
igualmente fem cheiro ;
as adílringentes y

faponaceas, amargas; os legumes; as car-


nes de animaes novos em duas horas fe
cozem de maneira ,
que dem a fua virtu-
de. III. As raizes mais alguma coufa ten-
,

( 75 )

ras, nao aromaticas dosvegetaes, adftrin-


gentes ,
e as chamadas aperientes, e di-
uréticas ;
os frutos polpofos doces ,
aze-
dos ,
aufteros ,
não fe cozem além de trcs

quartos de hora, ou de huma hora. IV. Ás


hervas inteiras ,
ou ás folhas das plantas
emoliientes, adflringentes ,
aperientes; ás
lem entes nao aromaticas ,
nem mucilagi-
nofas ;
nos páos ,
raizes ,
e cafcas, que
tem abundante principio aromatico ,
po-
rém mais fixo ,
haíla meia hora de fervu-
ra. V. As hervas ,
ou partes de vegetaes
muito tenues ,
as folhas aromaticas, flores

muito cheirofas ;
frutos ,
cafcas ,
e fomen-
tes femelhantes ;
alguns purgantes ;
a raiz

do Alcaçuz; as raizes, e fementes muci-


laginofas ,
ou fe fervem fomente por hum
quarto de hora ,
e ainda menos : ou he
melhor ,
que . fe infundao no Cozimento
ainda fervente, mas já apartado do fogo.
5\
a
De tudo o que fica dito fe tira

também a neceífldade
,
que ha de diver-
fosvafos, para fe fazerem os Cozimentos,
conforme nelles entrao fubftancias mais
K ii ou
t 7& )

ou menos voláteis ,
e acres :
para aílim fe-
rem os vafos mais, ou menos altos; def-
ta ,
cu d a que 11a matéria ;
tapados ,
ou dcí-
cubertos ,
&c. Quando fe quer das fub-
ftancias ,
que fe mandão cozer , os priu-

cipios fixos, e os voláteis, que ellas con-


tenhao ,
fe faz efta operação no alambi-
que ;
o que defbilla volatrl ,
fe recolhe ;
e ,

acabado o Cozimento, coado, c esfriado,


fe lhe ajunta.

6 O grão de fogo ,
e o modo de
fe applicar pende do conhecimento da
diverfa textura ,
e mais propriedades do
medicamento ,
que fe coze ,
e que fe tem
até aqui mencionado. Para fulientar a

igualdade do calor ,
e para livrar o Cozi-
mento de matérias eíhanhas, que poraca-
fo lhe pofsao cahir dentro ,
fe faz ordi-

nariamente em vafo tapado.


7.* Se os Cozimentos fe não pedem
turvos ,
ou fe mandão clarificar ,
fe coão
por decantação ,
ou pela íimples coadura.
Aos Cozimentos pertencem também
os Óleos chamados por Cozimento , ou Óleos
co -
,

( 77 )

cozidos . Em outro tempo fe mandarão co-

zer fervendo no azeite as fubftancias ,


até

que fe confumiífe a humidade •


o que fe

conhece ,
lançando no fogo huma gotta
do oleo: fe ella arde fem eílalar, eprom-
ptamente , eítá a humidade confumida ,
e

o oleo fe coa ,
e guarda. Porétn ,
como o
azeite adquire para ferver hum gráo de
calor muito fuperior ao de agua fervendo
e fe faz empyreumatico ,
e altera aflim a

virtude do medicamento ,
fe faz agora ef-
te Cozimento em calor muito brando. Ten-
do primeiramente lançado no azeite as
plantas recentes levemente machucadas
em almofariz de pedra ,
fe poe o vafo
em cinzas quentes ,
para que fe evapore
parte da humidade. Coa-fe depois com
efprefsão forte ;
e depois de aífentarem
algumas fezes mais ,
fe livra delias ,
e da
humidade, que ainda pode ter, por meio
-
da decantação. Já hoje são de tão pouco
ufo , que a exemplo das Pharmacopeias
melhores da Europa ,
julgámos neceífario
fupprimir as fórmulas dos oleos cozidos.
SE-
( 78 )

SECÇÃO III.

Das Tinturas ,
EJJencias ,
Elixires ,
Balfamos
cheirofos liqiiidos.

D Ebaixo defte mefmo


prehendem os extra&os
varias fubítancias feitos em
titulo

liquidos
menftruo efpi-
fe coin-

dc

rituoíb por infusão, digeítão, ou macera-


ção. A diíFerença dos nomes tanto nao
conftitue huma diífcrença real que ,
hoje
fe comprehendem todas as Tinturas ,
Ef-
fencias ,
Elixires ,
e Balfamos na limples
denominação de Tintura ;
e antigamente
a unica diíFerença era ,
que a Tintura he
mais tenue ,
diafana ,
e de cor mais agra-
davel, do que as EíFencias, &c.
Se fe náo pedem os vegetaes recen-
tes ,
para fe fazer as Tinturas, elles de-

•vem fer feccos ,


nao de muito tempo ,
e
devem-fe cortar ,
e machucar antes que
fe infundão.

A todos os efpiritos ardentes deve


preferir o efpirito de vinho ,
fe de outra
fór-
,

( 79 )

fórma fc não determinar : e ,


fe não fe de-
clara a quantidade relativa á matéria, que
fe infunde ,
he a regra ,
que fe lance tan-

to efpirito ,
que lhe fobrenade tres ,
ou
quatro dedos de altura.
Algumas miíluras fe mandão fazer

ao efpirito com tenção de o fazer mais


a&ivo ;
mas os faes alcalinos fixos ,
que
muitos aconfelhárao ,
ainda que a ugm en-
tão a cor da Tintura ,
e a fazem mais ef-

cura ,
nem por iífo augmentao a extrac-

ção ;
antes pelo contrario mudão as quali-

dades da matéria infundida ,


fendo além
difto incombinaveis com o efpirito de vi-

nho. Os faes alcalinos voláteis porém po-


dem augmentar a acção do efpirito, epor
ifíb fe podem ajuntar. Se fe mandão ajun-

tar ácidos ao efpirito de vinho, devem-fe


combinar primeiramente pela deftillação
como no feu lugar fe verá.
As Tinturas devem fer feitas por ma-
ceração. Porém fendo tal a confiftencia da.

fubftancía infundida ,
que precife maior
calor ,
ou fe aíEm o pedir ncceílária b re-
vi-
(
8° )

vidade ,
pòde-fe fazer por digeilão em
banho de Maria. Então he precifo cuida-
do em moderar o calor , devendo fer bran-
diíTimo em todo o tempo ,
deixando-fe
por fim augmentar até huma leviífima fer-

vura.
Os vafos ,
em que fe devem fazer as
Tinturas ,
são os vafos circulatórios ,
ou
garrafas de gargalo alto ;
e eílas fe de-

vem primeiramente aquecer ,


antes que fe
tapem ,
para que a dilatação ,
que adquire
o efpirito de vinho pela acção do calor,
não as faça eítalar.

Se fepertende fazer Tintura de algu-


ma refina ,
ou goma-reíina ,
e fe não tem
proporcionado a quantidade do meníiruo
á da refina de maneira ,
que feja facil a
diífolução delia ,
fem que fe una em pafta

no fundo do vafo ,
he de razão ajuntar d

fubftancia refino fa feita em pò huma ter-

ça parte ,
ou alguma coufa mais de areia
fina ,
e lavada ,
e mifturalla de modo que ,

feja facil ao efpirito de vinho interpôr-fe,


e efpalhar-fe por toda a refina, ou goma-
re-
( 8-i
)

Teima ,
e diüolver toda quanta for poíTiveh

Para facilitar ainda mais a diífolução ,


os
yafos, em que fe faz a Tintura, fe devem
frequentes vezes facolejar ,
ou a Tintura
fe faça por digeílao, ou por maceração.
As Tinturas aÜlm feitas , e que não
£cão tranfparentes nem fe podem obter ,

puras pela limples decantação, fe devem


coar ,
e filtrar por papel pardo ,
e guar-
dar-fe em vafos de vidro com rolhas de
vidro ,
cubrindo-as além diífo com hum
pedaço de bexiga ,
ou de pellica bem li-

gado.

SECÇÃO IV.

Dos ExtraSlos folidos.

ARTIGO I.

Dos Exlrattos aqiiofos ,


ou gomofos ,
mucilagi«
nofos ,
e geleias das rnúmaes.

17 Eita a infusão
,
ou cozimento das
fubílancias vegetaes do modo ,
que
dito fica
, fe pela continuação do calor fe
Tom. I, L eya-
( íi )

evapora o menftruo, e os principios, que


nelle eftavao dilTolvidos ,
fe reduzem a.

hum a maíTa mais ,


ou menos folida ,
a ef-

ta maíía fe dá o nome de Extra ff o gGmo-


Jo ,
ou mucilaginofo ,
ou aquofo em razao
do menftruo empregado na difíbluçao ;
e
da mcfma fórma fe chama Geleia ,
ou Ex-
ir aóf o gelaünofo ,
fe a operação he feita
em fubftancias animaes. Eftes Extra&os
fomente diffcrem das infusões ,
e cozi-
mentos ,
que lhes fervem de fundamento y
em razao da falta do liquido ,
que fez a
difíbluçao ;
mas differem em muito dos
çumos efpeflbs dos vegetaes, porque nos-

Extra&os , de que agora tratamos ,


nao ha
outra coufa ,
que nao íeja fubftancia go-
mofa ,
e falina ,
capaz de diífolvcr-fe na
agua y
e alguma pouquiífima- porção de
1

Outras fubftancias ,
que a beneficio deftas

fe fufpendao no menftruo, que as nao dif-

folve : em quanto nos çumos efpeífos po-


dem haver ,
e -ha taes principies ,
que
nao fejao diíToluveis nkgua ,
e que por

confequencia lhes fazem variar a natureza.


Ha-
: ,

( )

Havendo em viíta tudo quanto fe


1. das infusões, cozimentos,
diíTejá e eva-

poração ,
reíta tão fomente advertir
° Que lie maisfacil fazer eftes Ex-

tratos ,
fe fe empregao os vegetaes mo-
deradamente
2. feccos ;
porque fendo recen-
tes ,
a humidade natural ,
que confervão
embaraça a acção da agua fobre os prin-
cipios ,
que deve diífolver.

° Que os cozimentos ,
de que fe

hao de vir a fazer os Extratos gomofos


fe não devem coar, mas fe devem deixar
em defcanço ,
até que aífentem as fezes,

e ,
aífim depoftas ,
o liquido tranfparente
deve decantar-fe. O liquido decantado ha
de novo ferver-fe, pôr-fe em defcanço, e
decantar-fe depois de frio ,
para que aíEm
fe feparem aquellas fubítancias ,
que fo-
mente fe confervão apparentemente dif-
folvidas n’agua em quanto dura o calor.
0
3. Que a fubílancia vegetal, de que
fe faz o cozimento ,
dentro de faquinho
de panno de linho fe efprema na impren-
fa, ajuntando-lhe no fim da efprefsap agua
L ii fria
( 84 )

fria cm pouca quantidade. Efta efprefsao


deve continuar ,
até que o liquido cfpre-
mido ,
nem pelo fabor ,
nem pelo cheiro ,
nem pela cor de indicios da fubftancia r

donde fahe : o que prova ,


que fe tem dif-

folvido ,
e obtido tudo o que fe queria.
Efte liquido fe póe também em defcan-
ço ,
e fe deixa aífentar ;
então coa-fe ,
e fe-

miftura ao cozimento depurado ,


de que
falíamos aífimuv
0
4. Que a evaporação defte liquido,
fegundo as regras da Arte, fe ha de con-
tinuar até á conílftencia de xarope em fo-
go brando. Chegado a efte ponto ba* em
nho de Maria, mechendo fempre com ef*
patula de pão-, fe reduz a conílftencia de
mel efpeífo, ou fe diftribue em pratos de
barro ,
ou de eftanho ,
e ao calor muito
brando de forno aberto, fe deixa endure-
cer. Os Extraftos, que ficao na conílften-
cia de mel ,
chamao-fe nas officinas Ex-
tratos molles : aos outros dão o nome de
duros. Pelo fegundo modo fe faz a evapo-
ração mais promptamçnte ;
mas com peri-
go*
'

( >
go ,
de que o extra&o faia empyreumati’-
co, a pezar de toda a cautela : e he por
iífo, que he melhor continuar a evapora-
ção em banho de Maria até á jufta con-
fiftencia de Extra&o duro»
y.° Que a confiftencia dos Extratos
he boa , quando de alguma fôrma refiftem
á imprefsao do dedo ,
fem que fe peguem
á fua ponta r e por tanto a coníiftencia
mais firme ,
e mais para quebradiça ,
do
que para molle ,
he a melhor de todas.
A cor dos extra&os ha de fer louraou ,

fufca, ou hum pouco mais denigrida, fem


que com tudo elles careçao das outras
propriedades ditas»
6.° Que para haver Extra&os das
plantas aromaticas ,
que pela evaporação
perdem os princípios voláteis ,
cujos Ex-
tra&os porém poífuão todas as fuas virtu-
des ,
feito o Extraélo ,
fe lhe ajunta eE
palhando pela fua fuperficie huma porção
do oleo eftencial da mefma planta aroma-
tica : e efta addição concorre para melhor
confervação do Extraélo ,
pois não hume-
de~
,

(80
dece ao ar tão facilmente. Pela mefma ra-

zão, e com o mefmo fim fe lhe ajunta do


modo dito efpirito de vinho retificado
e fe conferva em bexiga humedecida com
oleo de amêndoas por exemplo ,
e bem
ligada ;
ou em vafos de vidro cuidadofa-
mente tapados ,
para que não humedeça
com o toque do ar, e fe corrompa.
0
7. Que as Mucilagens das femen-
tes ,
e raizes dos vegetaes fe extrahem
ajuntando-lhes huma pouca de agua ,
e fe
lhes dá a verdadeira coníiftencia de huma
fubftancia branca, e tremula, expondo-fe
a hum calor brandiílímo para evaporar a
agua ,
que houver de mais ,
e que emba-
raça elia coníiftencia.
8.° Que das carnes, oífos, unhas, e
cornos de animaes ,
principalmente dos
de menor idade ,
fe extrahem as Geleias
por meio de aturado cozimento ,
e evapo-
ração ,
até á confiftencia de hum liquido

tremulo ,
e pegajofo. Em eftando quaíi

frio ,
fe lhe ajunta huma pequena porção
de vinho generofo ,
e alguma fubftancia
aro-,
*

( 87 )

aromatica ,
e fe faz aíllm mais agradavel

ao gofto, e facilita a confervaçao da Ge-


leia ,
nao obftante fazer-fe para fervir im-
mediatamente depois de feita.

Entre os Extraéfos gomofosvfe conta


o de Opio . O célebre Baumé trabalhou
muito para livrar o Opio da fua parte re-
Cnofa ,
e daquella porção de fubítancia
virofa ,
nas quaes fe perfuadia exiílir a
virtude eílimulante , e a narcótica delle

e para iífo diífolvendo o Opio n’huma juf-

ta quantidade de agua ,
fervendo-o duas
rezes, e efpremendo-o fortemente outras
tantas vezes ,
em vafo conveniente ,
em
banho de areia ,
e em calor proximo ao de
'agua a ferver, e fempre igual, conferva-
va a diíToluçao poir tres mezes ,
continu-
ando fem interrupção de noite ,
e de dia
a evaporação 7
ou por feis mezes ,
fe a
operação era tão fomente feita de dia,
accrefcentando novas quantidades de agua
,
í medida que a antecedente fe hia evapo-
rando. PaíTado efte tempo , o liquido ref-
tante coado e efpeíTado até confiJftenda
,

de-
:

< 88 )

devida ,
he chamado por Bcuimé Extravio
de Opto por longa digefiao.

He muito mais breve ,


e mais fegura
nas fuas virtudes a preparação de Bucqmt
para faaer o ExtraSlo goniofo de Opio
fem tanta defpeza ,
até de paciência ,
e
de tempo. Por eíte methodo , que adop-
tamos , fe tritura o Opio em gral de pe-
dra, lançando-lhe em lima agua fria
,
por
tanto tempo ,
c por tantas vezes ,
até que
a agua já não faia tinta da côr do Opio
depois evapora-fe até á devida conílften-
cia. Parece differir pouco deite methodo
o de JoJJe ,
porque em vez da agua fria

fe emprega a agua moderadamente tépi-


da ,
malaxando por tanto tempo nella o
Opio , até que não tinja a agua ;
mas eíte

mefmo pouco calor póde fazer incerta ef-

ta preparação ,
facilitando a miltura de
algum outro principio ,
que não feja a
pura goma.
Pertencem aos Extraftos folidos go-
tnofos os extraftos chamados Saes eíTen-

ciaes do Conde de la Garaje, A fubítancia


( 8? )

vegetal, (por exemplo) a Quina, reduzida


a pó ,
fe lança n’hum vafo grande, e fo-
bre cila tanta agua fria
,
que encha duas
terças partes do vafo. Dentro do liquido
fe introduz hum rodizio femelhante aos
de bater chocolate ,
correfpondente á

grandeza do vafo, e por meio de corda,


ou de outro modo fe move com movi-
mento igual por doze horas contínuas,
Palfado eftc tempo ,
fe coa o liquido por
panno dobrado ,
póe-fe em quietação ,

decanta-fe depois de eftar aífente ,


e fil-

tra -fe por baeta ,


ou manga de Hippocra-
tcs. Sobre o pó rdfante fe lança nova
agua; efeito o mefmo proceífo dito, mif-
turados os liquidos ,
fe repartem em dif*

ferentes pratos de louça ;


e eíles nadando
n’hum vafo grande cheio de agua ,
fc

póem a fogo brando ,


e fe deixao evapo-
rar até ficar huma maíTa fecca como efea-

mas. Eíle longo trabalho não faz melho-


rar o extra £fo ,
entretanto que fe póde
fazer fem tanta defpeza ,
e com mais bre-
vidade, e utilidade.
Tom.I. M AR-
.

( 9° )

ARTIGO II.

Dos ExtraSios efpirituofos ,


ou refinofos

S tinturas evaporadas dáo os Extra-


Dos refinofos ,
ou Refinas ; e por tan-
to para fe fazerem eftes ,
he neceífario ter
pofio em prática quanto das tinturas em
feu lugar fica dito. A evaporação porem
nao fe deve fazer nos vafos e/aporatorios
ordinários ,
e defeubertos ,
para nao fe
perder todo o efpirito de vinho ;
mas fe

deve fazer em alambique até fe dcfiillar

huma certa quantidade ,


como nas fórmu-
las fe verá. Se o que fedefiilla traz com-
figo algum cheiro ,
ou cór da fubílancia r
que teve em diífoluçao ,
fe conferva para
femelhante ufo. No que reíla na cucurbi-
ta do alambique fe lança agua fria para
precipitar a refina ainda diífolvida ,
a qual

feparada de todo o liquido, fe deixa fec-


ear ,
ou fe reduz á feccura por meio de
evaporação ordinaria»

AR»
O >

ARTIGO III.

Dos Extrattos aqiieo-efpirituofos ,


ou gotnofo-

refmofos.

Stes Extratos, que participao da na-


tureza das duas efpecies anteceden-
tes ,
fazem-fe por dous modos. O primei-
ro he fazendo a infusão da fubílancia ,
cu-
jo Extrato gomofo-refmofo fe quer ,
em
agua ardente ordmaria, ou em igual quan-
tidade de efpirito de vinho retificado ,
e
de agua da fonte ,
fegundo as regras das
Tinturas. O fegundo modo he fazendo
primeiramente a tintura em efpirito de

vinho retificado ;
e feparada efta da ma-
téria ,
que fica no fundo do vafo por de-
cantação ,
fe lança fobre a matéria dita
huma porção de agua pura. Evapora-fe
então huma ,
e outra folução ;
e por fim

em quanto os Extratos eftão molles ,


fe

mifturão ,
e fe continua a evaporação até
feccura. .

Como fe podem julgar femelhantes


M ii em

I
( 91 )

em natureza as mais das gomas ,


não fal-

ta quem aeonfclhe ajuntar á refina, extra-


hida do modo dito no Artigo antecedem
te huma igual quantidade de goma ara-
,

bia em eftado de mucilagem , e depois


evaporar-fe huma e outra coufa até á ,

devida confiítencia.. He de advertir ,


que
as refinas puras fomente fe obtem por meio
do Ether y
e que tanto os Extraélos go-
mofos y
como os refinofos participao al-

guma coufa huns dos outros y


principal-
mente fe os gomofos são feitos em agua
quente y
e os refinofos em efpirito menos
reítiíicado..

CAPITULO IX..

Da DeJüllaçãOi.
-
} : f »

C Hama-fe

folidos, ou mais propriamente de


Deflillaçaa

ção, pela qual os vapores de corpos


áquella operai

fiuidos.,.

elevados por acção do fogo ,


e recolhi-»
dos em inftrumento conveniente ,
e redur
zidos a fôrma liquida condenfando-fe 5

cor-

t
,

( 93 )

eorrem em gottas ,
ou fio para hum rech-
piente.
Faz-fe a deflillação para feparar dos
corpos folidos os liquidos ,
que nelles fe

contém :
para feparar liquidos de diverfa
gravidade efpecifica huns dos outros ;
e
para unir mais intimamente fluidos da mef-
ma gravidade. A Ahjlracção , Dejiegmação 7

e Retificação ,
ainda que são fynonymos da
Deflillação, he com tudo bom faber a ra-

zão de diveríidade que podem ter ,


entre
li. He pois a Abflracção a deflillação ,
pe-
la qual fe feparão os principios mais vo-
láteis dos corpos ,
que a ella fe. fujeitao.

A Dejiegmação he quando fe fepara pela


deflillação repetida a agua fuperflua ,
que
sl fubftancia já deftlllada contém. A Retir
ficação pouco differe da deflegmação ,
mas
entende-fe quando pelas repetidas deftilr
laçóes os, efpiritos principalmente fe le-
vão á maior pureza pollivel..

Os Chymicos notao tres efpecies de


Deflillaçao, fegundo o modo, porque he
feita., i.* A que fe. faz por afe enfio ,
ou r£-
,,

C 94 )
Sta ,
quando os vapores elevados do li-

quido fervente na cucurbita ,


e colhidos

no alambique ,
pafsao em gottas pelo bi-
co delle. 2/ A obliqua ,
ou de lado ,
ou
fecca ,
que he a que fe faz em retortas : e
a
3- a que chamao por defeenfo ,
quando o
fogo fe applica pela parte fuperior ,
e
obriga o liquido ,
que deve deílillar-fe a

gotejar, cm vafo ,
que o receba. As duas
primeiras efpecies p»ouco diiferem ,
a ter-

ceira eílá em inteiro efquecimento. O


ufo determinado para differentes objcêtos
que a Dcílillaçao tem na Pharmacia ,
fe

vê dos Artigos feguintes.

A R T I G O I.

Das Aguas dejlilladas fimplkes ,


e compojlas

C Hamao Agua
aquella
bre quaefquer fubítancias
,
dejlillada

que tendo íido lançada fo-


nas oíKcinas

fe faz deítillar*
,

para que por meio delia fepofsáo obter as


partes voláteis ,
e aêhvas das fubílancias
ditas ,
e em que reiidáo as fuas virtudes.

D ou-
,

-
( 95 )

Donde bem fe vê, que as aguas deftilla-

das de fubftancias ,
que carecem deftes
princípios ,
sao inúteis ,
e não tem mais
virtude do que a agua commum ,
ainda
que pareçao diíFerir delia. Determina a
denominação de Simples ,
ou de Compqfla
ter fido deítillada de hurna fó iubílancia,
ou de mais.
Tanto as aguas deílilladas ílmplices,,

como as compoílas fe faraó pelas, regras


feguintes.
'
I. ,

\

As plantas devem fer verdes , colhi-


das de manha, e ainda orvalhadas, por-
que eíla mefma humidade do orvalho fa-
cilita a fahida das partes voláteis, que fe
querem ,
e por iífo nao fe deve efperar , que
a continuaçao do calor do dia as tenha dif*
iipado ,
ou diminuido.. As plantas feccas
que tem perdido o volátil ,
que fe procu-
ra ,
fómente fe empregarão ,
quando haja
de fe fazer a defillaçao em tempo ,
que
nao haja plantas frefcas.

IX.
,:

( 96 )

II.

Lance-fe a agua commum fobre as

plantas hum pouco machucadas ,


e cm tal

quantidade ,
que fe evite queimarem-fe
ou fazer-fe empyreumatica a agua deílil-

lada ;
ou ,
o que he o mefmo ,
adquirir
hum cheiro ingrato a eilurro ,
ou fumo.
Para as plantas recentes baila tresdobrada
agua :
para as feccas he precifa maior

porção, e além diílb a maceração.


III.

As plantas ,
que contém em abun-
dancia hum oleo mais tenue ,
e mais vo-
látil devem deílillar-fe promptamente
,

áquellas porém cujo oleo he mais fixo,


,

ajuntando-lhes hum pouco de fermento de


pão na mefma agua, fe lhes deixe come-
çar huma leve, e imperfeita fermentação;
e começada ella ,
fe deflillem. A fermen-
tação facilita a atenuação do oleo mais
fixo ,
e faria perder os princípios volati-
liílimos das plantas ,
cujo oleo he tenuif-
fimo.

IV.
( 97 )

IV.
A’ cucurbita encha- fe tão fomente até
duas terças partes, para dar lugar no ref-

to vazio á fervura ,
fem que o liquido fer-

vendo chegue ao alambique ,


e faia elle
meímo em vez de íãhirem os vapores.
Sobre a cucurbita fe ponha o alambique,
que tenha refrigeratorio ,
c as junturas de
ambos os inftrumentos fe lutem ,
deixan-
do-lhes fempre hum buraquinho ,
que fe
poda abrir de vez em quando , para dar
fahida aos vapores elaíHcos ,
que podem
deítruir a operação ,
rompendo os vafos.

No refrigeratorio haja fempre agua ,


e
efta fe conferve fempre tépida }
porque
fria retarda a operação, e muito quente a
precipita, e deítroe.

Y.
Não havendo precedido maceração,
comece a applicação do fogo por hum
gráo muito moderado, que pouco a pou-
co vá augmentando ,
até que o liquido
ferva ;
o que fe conhece pelo eftrepitó,
que dentro da cucurbita fe fente ;
e pelo

Tom. I. N ca-
( J8 )

calor, que a agua contida no refrigerato-


rio começa a ter. Neíle tempo principia
logo a fahir o liquido deíliilado.
VI.
Se com o liquido fahem vapores y
que denotao huma fervura maior, do quç
he conveniente ,,
deve diminuir-fe a força

do fogo ,
com pannos molhados em agua
e

fria, applicados fobre a cucurbita mode- ,

ra r-fe a força ,
e tumultuofa perturbação
da fervura.
VIL
Em quanto a agua fahe com fabor*
ou cheiro ,
ou com huma ,
e outra coufa

da- planta, que fedeílilla, deve continuar


a deftillação ,
e nao mais. Muitos aconfe-
lhão ,
que fomente fe deíHlle ametade da
agua ,
que fe ajuntou. Com efta cautela
fe podem evitar os máos êxitos da ope-
ração imprudentemente continuada ;
mas
o Operador prudente pode fazer o que
allima diífemos com igual fegurança. Para
evitar todo o perigo ,
he melhor fazer a
deftillaçao em banho de Maria ,
fegundo
o rnethodo de Baumé. As
( 99 )

VIII.
- , * è

As plantas ,
que contém princípios
ácidos ,
nao fe deltillem cm alambiques
de eíhnho , chumbo ,
ou cobre ,
ou mef-
mo neftes eftanhados. Devem dcílillar-fe

cm alambiques de vidro.
IX.
Sobrenadando algumas gotas de oleo
eííencial, tirem-fe com cautela primeiro 5

do que fe arrecade a agua deítillada.

X.
Para melhor coníervação das aguas
defbilladas fe lhes ajunte a vigeíima parte

de efpirito de vinho, e fe mettao em gar-


rafas tapadas com rolha de cortiça ou de ,

vidro. Aílim mefmo nao durão ordinaria-


mente mais do que hum anno ,
fem ad-
quirirem hum cheiro ingrato, e de mofo.
Eíte evita-fe de algum modo, tornando a
dellillar a mefma agua fobre novas plan-
tas recentes* mas o melhor he rejeitalla.

N ii AR-

I
(
too )

ARTIGO II.

Dos Efpiritos injianmmveis ,


c chcirofos lircc-

àos por âejlillação.

Endo a deílillaçao dos liquidos uní-


S Yoca, alguma coufa particular tem os
Efpiritos inflammaveis ,
ardentes ,
ou vinho-

fos > c os Efpiritos re ti ores y


ou que con-
tém os princípios do cheiro proprio dos
vegetaes ;
pois que (
além de que os pri-
meiros sao menílruo e vehiculo proprio
das partes odoríferas dos vegetaes as
quaes por feu meio mais facilmente fe
obtem) demandao peculiar cuidado, pelo
que refpeita ao gráo de calor ,
vafos ,
e
modo da deftillação ,
o que coníhtue algu-
mas addiçdes ,
ou excepçoes ao que fica

dito no Artigo antecedente.


A mefma natureza de efpiritos infiam-
maveis faz conhecer, que em muito infe-

rior gráo de calor elles fe levantão em


vapores, do que a agua commum, ainda
que feja puriífima.

Por
:

( I°I )

Por cita razão fe deve eícolher o


alambique ,
no qual fe ha de fazer feme-
lhante deítillaçao. O alambique ,
que or-
dinariamente ferve para a deítillaçao das
aguas ,
também póde fervir para a dos ef-
piritos ;
mas he neceífario hum grande
cuidado no devido grdo de calor; porque
em razão da maior diítancia da cucurbita
ao capitel deve o calor fer maior :
porém
de tal forma manejado ,
que nao facilite

a evaporação da agua ,
e a fua miítura
com o efpirito ;
o que he fumma mente
diílicultofo. E fuccedendo eíta miítura ,

he indifpenfavel nova deítillaçao ,


ou re-
étificaçao para fe obter o efpirito como
he precifo. Muitos tem aconfelhado ,
e
usão a applicação do Serpentino ao bico
do alambique ,
e eíte mefmo ferpentino
mettido n’hum vafo ,
ou tina de agua fria 5

com tenção de obter aílim os efpiritos


mais puros ,
e que não careção de reétifí-

cação. Eíte methodo tem inconvenientes


primeiro ;
porque o ar frio contido no tu-
bo ferpentino adquire humidade ,
que fe
:

C 101 ')

condenfa nas paredes do tubo ,


e efta fe

miítura com o efpirito na fua paíTagem


fcgundo ;
porque ,
para que a deltillaçao
proceda regularmente, fe preciía de pro-
mover, e entreter hum maior gráo de ca-

lor ,
a fim de que o efpirito ,
que fe le-

vanta ,
poífa vencer a refiftencia ,
que lhe
faz a columna de ar frio ,
que no Serpen-
tino fe contém ,
o que pode damnificar a
operação. E ainda que eíte inconveniente
fe pòde remediar ,
fendo o tubo de hum
diâmetro maior do ordinário ,
eíte remé-
dio facilita a fahida de vapores fem fe

haverem condenfado ,
e affim a perda do
efpirito. Os tubos mais eftreitos ,
nao dan-
do fahida aos vapores ,
que em razão do
maior calor applicado neceífariamente fe
hão de levantar em tumulto ,
dão occafião
a que o alambique poífa arrebentar com
perigo do Operário. He pois o melhor
methodo fazer a deíhllação em alambi-
ques de tal altura ,
que em brandiílímo
calor de banho de Maria dê lugar á fubi-

da do efpirito em vapor até ao capitel


dei-
(
I0 3 )

cfelles ,
íem que os vapores aquofos lá

pofsáo chegar ,
ou mefmo fe nao levan-
tem. Aílim he que fem receio dos incom-
modos ditos ,
e feguindo a natureza das
coufas ,
fe podem obter os efpiritos na
maior pureza poílivel ;
e re£tificar-fe ,
quan-
do aíTim pareça juíto 7
e neceífario.

He de notar ,
que o Efpirito de vi-
nho ,
podo que extrahido feja da miílura
de plantas aromaticas huma ,
e mais ve-

zes ,
fahe com tudo pela deítillação ou
puro ,
ou pouco carregado do cheiro da
planta miíhirada; e particularmente fe os
feus principios cheirofos fe náo podem
levantar em vapor no mefmo gráo de ca-
lor que o efpirito. Por iífo he mais fá-

cil haver eífes principios cheirofos


,
em-
pregando a agua commum para femelhan-
te deílillação ,
com a differença de ficar a
agua aílim deítillada de huma cor alva-
centa ,
em quanto os efpiritos ficao fem
cór diíferente, e na maior pureza.

t: j

,
•. •
,
; yjCJ ,
_ :: j. {

AR-
(-104 )

ARTIGO % *.
III.

Das Aguas dejiilladas efpirituofas.

D
tura
Â-fe o
pirituofa áquella,

de efpirito
nome de Agua

de vinho
que
,
e
dejhllada

fe tira

ametade agua
da mif-
cf-

ou da agua ardente muito branda ,


em que
fe tenhão infundido fubíbmcias capazes
de communicar a efte liquido princípios,

de que elle feja menftruo ,


e que pofsão
deftillar com elle. Além das regras dadas
para a deítillaçao no Artigo primeiro def-
te Capitulo ,
he necelfario obfervar tam-
bém as feguintes:

I.

As plantas ,
de que fe ha de fazer
a deítillaçao ,
fejão moderadamente fec-

cas ,
fe nao fe pedirem recentes. A humi-
dade natural pode embaraçar a acção do
efpirito ,
e a diífoluçao dos principios ,
de
que elle fe póde encarregar.
II.

Eítejao algum tempo em maceração


no
,,

(
IO)' )

no efpirito de vinho ;
e ,
não fendo ella

feita em agua ardente muito branda ,


fe

lhe ajunte no fim tanta água ,


quanta baf-
te para precaver o empyrewna.

III.

Tanto o primeiro licor, que deftilla

tranfparente ,
a que chamão efpirito ,
co-
mo o fegundo ,
que fahe esbranquiçado
e mefmo fem fer depurado ,
fe mifturem
para que haja o liquido deftillado todas
as virtudes da planta.

IV.
Deftillem-fe eftas aguas efpirituofas
em banho de Maria ,
e nunca a fogo nú

e fe confervem em lugar frio em vafos


muito bem tapados com rolhas de cortiça.

Para evitar que eftas aguas faiao mui-


to alvacentas ,
he neceíTario fazer a def-
tillaçao lentamente ,
e fem precipitação
cm calor muito moderado. Muitas da-
quellas ,
que ,
não obftante a cautela re-

commendada ,
deftillão turvas
,
pela con-
tinuação do tempo ,
e pela quietação fe
fazem depois claras. Sahem mais perfei-
- Tom. L O tas
( 'cá )

tas aquellas ,
cm que na maceração da
fubítancia infundida fc empregou o efpi-
rito de vinho reflificado ,
ao qual ao de-
pois fe ajuntou agua ,
do que aquellas
aguas ,
que são deítilladas depois da ma-
ceração cm agua ardente branda.
Effas aguas efpirituofas algumas ve-
zes parecem não ter couía alguma do chei-
ro efpcciíico da planta infundida logo dc-

p>ois de deítilladas; mas eite parecido de-


feito fe emenda pelo progrcíTo do tem-
po ,
e fe aviva promptamente ,
mettendo
garrafas de quartilho cheias de qualquer
agua efpirituofa em huma miílura de ge-
lo, ou neve, e fal marinho porefpaço de
feis até oito horas. Huma ,
e outra couía

(iíto he, a demora por alguns mezes ,


ou
o frio aílim applicado) facilita a intima
união do efpirito ccm os principios chei-
rofos, de que he menítruo, e a igualdade
da diftribuição delles ao depois por todo.
o liquido. Daqui vem ,
que eítas aguas
devem fer guardadas tempo antes com
toda a cautela ,
para poderem fer dif-

pen-

\
/
C I0 7 )

penfadas com utilidade ,


quando fe pe-
dem.

ARTIGO IV.

Dos Oleos ejjenciaes dcjlillados.

Ste liquido oleofo tirado dos vege-


taes odoríferos ,
e balfamicos com o
mefmo cheiro da íubltancia ,
donde são
extrahidos; de fabor forte, acre, e pican-
te ;
volátil no calor de agua fervendo j

diííbluvel cm efpirito de vinho, e chama-


do Oleo ejjln:ial , he contido nos vegetaes
ou em efeado de compofiçao ,
e mijiura ,
ou
em eíiado de fecreçao em cellulas próprias.

Nem por iífo com tudo fe fegue ,


que o
Oleo eífencial de qualquer vegetal eltá

igualmente diítribuido por todo elle, ain-


da que eíteja em eíiado de compofiçao ;
nem
também, que havendo-o cm toda a plan-
ta, não tenhão humas partes delia prefe-

rencia a outras na quantidade ,


e perfei-
ção do Oleo eífencial ;
porque ora a raiz

ora o páo cafcas folhas flores ou ou-


, , , ,

O ii tras
(
io8 )

tras partes da planta encerrao maior quan-


tidade de Oleo eílencial, e em maior pu-
reza. O lugar nativo ,
tempo ,
e efíação

do anno ,
idade da planta ,
e feu citado

recente ,
ou fecco ,
e mefmo o modo da
operação para extrahir o Oleo eíTenciaF,
também concorrem para a fua abund arr-
eia ,
ou falta, perfeição, ou imperfeição.
E por cfta razão fe devem praticar as re-
gras dadas na Parte primeira, Capitulo tini-
co da Eleição , Colheita , &c. que ahi fe po-

dem ver ;
e para poupar trabalho fem fru-

to aos Boticários ,
que quizerem fazer a
deílillação dos Oleos eflenciaes > damos a
feguinte Taboa das differentes partes das

plantas, das quaes fe tira mais, e melhor


Oleo elTencial ,
ou nas quaes unicamente
refide.

Na Raiz Caryophillata.
Alho. Enula Campana*
Angélica. Galanga.
Çalamo aromatleo. Gingibre.
Carlina. Imperatoria.
Le-
(
r °9 )

Leviftico. Efpica de Nardo.


Zedoaria. Rofa.
Na Herua Nos Calyces.

Alecrim. Alfazema.
Arruda. Nas Sementes .

Endros. Aipo.
Camedrios. AlcoroYia.
Cochlearia. Cardamomo.
Herva Cidreira. Endros.
Hortelã. Funcho.
HyíTopo. Moftarda.
Manjericão. Nigella.
Manjerona. Salfa das hortas.
Maro. No Fruto.

Matricaria. Amorno.
Alillefolio. Cravo da índia.
Poejos. Cúbebas,.
Sabina. Loureiro.
Segurelha. Noz mofcada.
Serpao. Pimenta.
Squenanto. Na Cafca.
Tomilho. Bergamota.
Nas F/ores Canella branca,
Camonuila. Canella fina.
:

( ”0 )

Cafcarilha. Peruviano.
Cidra. Terebinthina.
Laranja. Gomas-refmas.

Lima. Almecega do Brazil.

Limão. Aílafetida.

SaíTafraz. Benjoim.
Na cubertnra daí fo- Galbano.
mentes. Myrrha.
Anis eftrellado. Sagapcno.
Flor de noz mofcada. Nos ejiatnes da for.
Balfamos naturaes. Açafrão.
Copaíba.

Tudo quanto fica dito nos Artigos


antecedentes relativamente á deílillação

das aguas delHIladas llmplices ,


e cfpiri-

tuofas ,
fe pôe em execução do mefmo
modo para a deílillação dos Oleos eíTen-
ciaes ,
obfervando além diíTo as regras
feguintes
I.

Porque o Oleo eíTencial em qualquer


planta ,
ou fuas partes he fempre diminu-
to á proporção da quantidade da fubílan-
cia
;

C ”i )

cia vegetal, donde fe ha de deítíllar, fe-

ja maior a porção deite vegetal, e inclui-


da n’huma cucurbka maior ,
do que hc
ordinário. Expoíta a cucürbita ao calor de
fogo nú, fe lhe ponha o alambique de bi-

co comprido; e, applicado o recipiente,


e lutadas as juntas ,
fe deixe deítillar.

II.

A maceração ,
geralmente fallando,
deve continuar, até que amolleção os cor-
pos infundidos ,
prevenindo que a fermen-
tação não principie : fallando porém o
mais particularmente que he poífivel ,
at-

tendida a confiltencia dos mefmos corpos,


ella deve variar. De modo ,
que os cor-
pos hum pouco mais denfos fe macerarão
por tres dias ;
os vifeofos por tres fema-
nas ;
os lenhofos por tres mezes ;
e as
raizes fegundo a fua confiltencia. He pre-
cifo cortar, machucar, rafpar, ou pulveri-
zar cada huina das fubltancias ,
conforme
pede elta mefma confiltencia ,
ou dureza
e ajuntar-lhe a agua também proporcio-
nal ,
a qual em geral fe pode determi-
nar
)

( II*

nar tanta ,
que baile para precaver o em-
pyrctmm.
III.

Para facilitar em menos tempo a ma-


cera çao ,
ajudando a acçáo da agua fobre
os corpos mais duros ;
para augmentar a
gravidade efpecifica da agua ,
que deve
fup portar hum calor maior ;
e para evitar

a fermentação ,
fe póde ajuntar á mefma
agua por cada libra meia onça de Sal
commum ,
de Tartaro cru ,
ou de Nitro.
Os faes alcalinos ,
unindo-fe facilmente
pelo calor com os Oleos ,
que devião def-
tillar
,
embaraçao a operação ,
e a deílroem.
IV.
A agua ,
que fe ajunta ,
deve fer agua
commum ;
mas havendo-a deftillada do
mefmo vegetal ,
cujo Oleo eífencial fe
quer, fe fará nella a maceraçao, e deílil-

lação; e para femelhantes ufos fe guarde

a que deílilla com o Oleo.


V.
A maceraçao ,
e deilillaçao feita por

meio do efpirito de vinho ,


dá Oleo em
mui-
' ,

( ”3 )

muito menor quantidade ,


porque fe conir

binão mutuamente ;
mas o que apparece
lie muito mais tenue ,
e em toda a per-
feição.

VI.
O calor applicado feja de maneira
que feja fuperior ao que fe precifa ,
para
que a agua ferva •
e continue aíHm ,
para
que a deftillaçao fe entretenha correndo
pelo bico para o recipiente em fio. He
neceífario ,
que fe ajuntem os vapores da
agua em tanta abundancia ,
que pofsao
trazer comfigo o Oleo eífencial ;
e por

iífo procedendo a deftillaçao gota a gota


e vagarofamente ,
lie facil que o Oleo
paífe em vapores ,
e fe nao aproveite.
Nem por ifib fe deve fazer tumultuaria a
deftillaçao ,
mas confervar-fe fempre re->-

guiar, como dito he; e para efte fim haja


cuidado na agua do refrigeratorio ,
por-
que em começando a aquecer ,
fe deve
tirar, e fu bfti tu ir-lhe agua fria.

VII.
t
!

A deftillaçao deve continuar ,


até

~*Tom. I. P que
,,

( lr 4 )

que tenhao fahido duas terças partes do


liquido contida na cucuibita. Também
pòde fervir de terma a cor do liquido
que deílilja ;
porque em deixanda de def-
tillar o liquido alvacento ,
e cor de leite

e começando a apparecer femcôr, e tranf-


parente ,
deve acabar a deítillaçao ,
para
que fe evite o empyreuma. Efte também
fe poderá evitar, fe ,
comparando a quan-

tidade do liquido deílillado com aquelle y


que deve ainda eílar na cucuibita ,
e ha-
vendo attençao á quantidade da fubftan-
cia ,
da qual íe procura o Oleo elTcncial
7
fe lhe ajunta nova quantidade de agua
fervendo por hum buraco, que a cucurbi-
ta deve ter, feito politivamente para eífe

£m ,
e para dar lugar á fihida de vapo^
res, quando feja neceíTario*
VIII.
Porque alguns dos Oleos efíenciaeâ
tem facilidade em fe coalhar por acção
do frio , fe não deve fazer a defiillação
por bexiga ‘ iílo he ,
havendo agua fria,

contida em vafo ,
por onde paífe o bico
da
( uy )

do alambique ,
antes de chegar ao reci-
piente.
IX.
Acabada a deílillaçao, fe feparará o
recipiente ,
no qual fe achará o Oleo ou
fobrenadando na agua, ou no fundo ,
con-
forme for a fua gravidade efpecifica. Nef-
te mefmo recipiente fe ha de facolejar o
liquido ,
para que o Oleo, que eítá con-
tido na agua ,
e a faz alvacenta ,
fe una
com aquelle ,
que eftá feparado ;
o que
mais feguramente fe obtem ,
ficando em
defeanço por efpaço de dous dias ,
antes
que fe fepare o Oleo.
X.
A feparaçao faz-fe por diverfos mo-
dos : i.° Applicando huma torcida de al-

godão por huma das extremidades no


Oleo ,
e ficando a outra dentro do vafo,
para onde fe ha de mudar. Aflim vai pou-
co ,
e pouco feparando-fe )
mas efte modo
he incommodo ,
e dá lugar a defperdí-
0
çar-fe o Oleo. 2. Lançando o liquido
n’hum funil de vidro ,
ao qual fe applica

P ii hum .
,:

( )

húm dedo fobre o bico para o tapar. O


Oleo ,
que he mais pezado ,
e fe ajunta
no bico ,
fe deixa paífar ,
tirando o dedo
com o qual novamente fe impedirá a paf-
fagem da agua : e ao Oleo y que he mais
.

leve ,
fe faz pelo contrario ,
impedindo-
lhe a fahida ,
depois que toda a agua ti-
0
ver paliado. 3. Se o Oleo he mais leve
do que a agua ,
e em muita quantidade ^
fe pode tirar com huma eolhér oti com
0
huma feringa de vidro. 4. Os Oleos ef-

fenciaes mais pezados do que a agua ,


fe

tirão bem do fundo por meio de hum ca-

nudo de vidro ,
em cujo meio haja hum
globo. Eíte canudo mergulha-fe, até que
a ponta toque no Oleo : chupa-fe o ar pe-
la outra extremidade ,
e fe continua a chu-

par ,
para ,que o Oleo fuba até ao globo
tapa-fe então com o dedo a extremidade
fuperior ,
e fe tira affim para fóra do li-

quido; e depois de mettida a ponta infe-


rior no vafo y em que fe ha de confervar
o Oleo , fe deixa entrar o ar ,
defviando
o dedo ,
que tapa a outra ponta ,
e affim
fahe o Oleo para o vafo. XL
,

( 11 7 )'

O vafo deve fer de vidro ,


com ro-
lha de vidro, e pôr-fe-lhe ainda por íima
hum bocado de couro ,
ou bexiga ,
e li-

gar- fe bem feja qual ,


for o Oleo eífen-
cial ,
que fe quer guardar. As rolhas de

cortiça ,
ou de outra matéria sao atacadas
pelos Oleos eífenciaes dão lugar á per- ,
e

da dos feus principios mais voláteis , e


alteração delles pelo toque do ar.

Diíferem os Oleos eífenciaes entre


íi : i.° porque huns sao mais leves ,
outros
0
mais pezados do que a agua.: 2. porque
huns fe coalhao com o frio, e outros nao;
0
e 3. pela diverfa cor ,
è fluidez. Eítas
diflerenças ,
principalmente a.. ultima pen-
de da variedade do terreno, em que nafce
a planta ,
da eftaçao do anno ,
fua idade

e modo da colheita ,
e muito particular-
mente do grão de fogo ,
dos vafos ,
em
que fe guardao os Oleos ,
e do acceífo
do ar. Todas eftas caufas juntas ,
ou fe-

paradas dao occaíião a que os Oleos ef-


fenciaes, ainda havendo fido bem prepa-
ra- >
( ”8 )

rados, adquirão diverfidade de cheiro, fa-

bor, e coníiítencia , e necelUtem por iflb

de fer retificados.

Eíta retificação pratica-fe de dous


modos: ou i.° mettendo o Oleo alterado
n’huma retorta ,
e em moderado calor de
banho dc areia ,
fazendo-o deftillar ,
em
quanto o Oleo fahe tranfparente ;
pondo
fim á deítillação ,
logo que começa a fa-'

hir carregado na cor. Aproveita-fe o pri-


meiro ,
e rejeita-fe o refiduo na retorta.
Ou 2.° os Oleos efienciaes antigos, e al-
terados ,
ou corruptos fe ajuntão a nova
deítillação de femelhante fubítancia ,
da
que haviao fido tirados ,
e fe defiillao af-
fim retificados. Elte fegundo methodo
he o que deve preferir.

Como a maior quantidade de Oleos


eíTenciaes não he mefmos Bo-
feita pelos

ticários, mas he comprada aosChymicos,


e Droguiítas, e eítes pela maior parte os
diítribuem adulterados ,
he neceífario co-
nhecellos ,
para fe não empregarem fe não
os bons ,
e legítimos. O mais feguro he
que
,
;

(
ll 9 )

que fcjão feitos pelo mefmo Boticário;


havendo porém neceíEdade de fervir-fe
1.
dos que são de alheia manufatura , fe

diílinguiráò pelos feguintes modos.


2.
° Os que sao adulterados com ef-

pirito de vinho lançados em agua pura,


lhe dão logo cor alvacenta.
° Se sao mifturados com outro Oleo
eífcncial ,
menos bom ,
mas da mefma
planta ,
he diíKcil conhecer a miltura ,
e
o engano ;
e fomente o conhecimento da
confidencia ,
cor, e cheiro devido compa-
rado com femelhantes qualidades do Oleo
que fe vende, he que poderá dar lugar a
defcubrir, fe he, ou não falfificado.
0
3. Se a fallilicação he feita por mif-
tura de Oleo de Terebinthina ,
como as
mais das vezes acontece ,
baila molhar
no Oleo hum pedaço de panno de linho,
do fogo, ao do Sol, e
e expollo ao calor

mefmo deixallo ao ar por algum tempo


porque perdendo o aroma proprio do ve-
getal ,
que fe dizia ,
fica durando o que
he proprio da Terebinthina. Porém fe ef-
ta
,

'( lio )

ta mifturá he feita no tempo da deítilla-

çao ?
he fummamente diíHcultofo conhecer
o engano.
0
4. Efta mefma falfificaçao com Oleo
de Terebinthina fe defcobre ,
ajuntando
partes iguaes do Oleo ,
que fe examina ,

e de efpirito' de vinho re&ificado ;


por-
que fendo os Oleos eífenciaes puros mais
diíToluveis no efpirito de vinho ,
do que
o Oleo de Terebinthina ,
feparao-fe def-
te ,
combinando-fe com o efpirito ,
e
communicando-lhe o cheiro proprio ,
em
quanto o Oleo ,
que menos fe diífolve

declara o proprio cheiro da Terebinthina.


Falfificao-fe também os Oleos ef-
com os unguinofos , e particular-
fenciaes
mente com o Oleo de Been, que náo tem
cheiro algum daquelle ,
que he proprio aos
Oleos untofos. Efta falfificaçao fe conhe-
ce ,
mettendo no Oleo chamado cífencial

hum pedaço de papel ,


e expondo-o ao
calor de fogo brando. Então o que he
verdadeiro Oleo elfencial evapora-fe •
mas
o Oleo pingue fica
,
deixando a nodoa no
pa-

1
( 1 ** )

papel ,
que he bem conhecida ,
e fem ref-

tos de cheiro algum.


6 .° Também fe conhece a adultera-
ção dita ,
esfregando o Oleo entre as
mãos. Evaporado o aroma, fente-fe algu-
ma coufa de untofo nas mãos. A deítilla-

ção, feparando o aromatico do Oleo pin-


gue, defeobre eíla fraude ;
mas fomente
fe pòde fazer em quantidades maiores.
0
Se ao Oleo
7. eífencial adulterado
com Oleo untofo fe ajunta efpirito de vi-

nho reftificadiílimo ,
ou efpirito de nitro
doce ,
ou efpirito de fal ammoniacp, ou
licor anodyno mineral ,
e fe digerirem em
calor brandiflimo ,
ficará o Oleo pingue
no fundo fem fe diífolver.

8.° Se o Oleo he miUurado com oU-


tro, ehanelles differçnte gravidade efpe-
cifica
,
conhece-fe, lançando-fe-lhes agua
em fim a ,
e facolejando o vafo ;
porque
em ficando em defeanço ,
fe feparão hum
para o fundo ,
outro para a fuperficie da
agua.
°
9 Os Oleos eífenciaes ,
que são
Tom. I. mif-
-

( 111 )

mifturados ,
mas que fendo da mefma gra-
vidade efpecifica, huns sao recentes, ou-
tros antigos ,
e alterados ;
huns de mais
preço ,
e outros de muito inferior ,
exa-
minão-fe ou esfregando-os entre as mãos ,
ou molhando nelles huma tira de panno
de linho, para que feita a evaporação do
que he melhor, e mais volátil, appareça
o cheiro do que he menos bom.
io.° Se a miflura he de Oleos eífen-
ciaes ,
dos quaes hum he coagulavel pelo
frio ,
e outro não ,
defeobre-fe a miftura
pela applicação do frio natural
,
ou arti-

ficial.

ARTIGO V.

Vos Efpiritos ,
e Saes alcalinos Tolateis ,
e da
combinação deftes com os Efpiritos bifam
maveis , Oleos effenciaes ,
c refinas

por meio da def illaçao .

A
volátil, fe
Os liquidos aquofos, fubtis, mais,
ou menos pejados
dá nas oificinas
de fal

o nome Efpiri-
alcalino

tos
2

1
( 3 )

tos alcalinos ,
c cíles mefrnos puros ou im-
,

puros , fegundo elles contém íimplesmen-


te fal volátil alcalino, ou além diíTo algu-
mas outras fubílancias eílranhas. Do Reino
Animal he que mais principalmente fe ex-

trahem, e também do Reino Vegetal ,


das
plantas ,
que tem apodrecido ,
e das cru -
ciformes recentes ,
e aíEm mefmo em dif-

ferente quantidade ,
força ,
e pureza.
A deítillação deve fazer-fe a fogo
defcuberto ,
ou em banho de areia ,
ou
em fogo de reverberio ,
ora mais brando,
ora mais intenfo ,
conforme for a deníida-

de ,
e coníiílencia dos corpos fujeitados á
v
deftillação. -

Se as fubílancias vegetaes ,
ou ani-

maes são hum pouco mais liquidas ,


pri-

meiro do que fe mettão em cucurbitaã


pouco altas ,
fe devem efpeíTar algum tan-
to pela evaporação, para depois fe deílil-

larem : fendo porém duras ,


e feccas ,
fe

cortarão, rafparáó, e machucarão, pára fe


exporem á deíHllação em retortas íimples^
ou nas de ferro ,
barro ,
ou vidro forradas de
luto. Q^ii Ef-
;

(
i*4 )

Eílas fobítancias duras ,


e feccas af-
fim raípadas ,
ou cortadas occupao grande
efpaço ;
porém algumas fe limitão a me-
nor ,
em fe expondo ao fogo. Taes sao
os lenhos, unhas ,
oífos ,
cornos dos ani-
maes ,
&c. e por iífo fe deve encher a re-
torta até ao colo delia. Outras fubhancias
pelo contrario pela acção do calor inehao ,

e levantao muita efeuma : eílas, mifluran-

do-íhes areia ,
cinzas peneiradas ,
ou bar-
ro em pó ,
não devem occupar na retorta
mais lugar, do que o de huma terça par-
te do feu bojo.
Ou a deíHlIaçao fe faça em alambi-
que, ou em retorta, fegundo a fubftancia
for ou liquida ,
ou falida ,
o recipiente ha
de fer efpaçofo ,
e além diíTo tubulado ,

para dar lugar de vez em quando á fahi-


da dos vapores elaíhcos ,
que o podem
fazer arrebentar. Asjun&uras do recipiente
com o vafodeílillatorio devem fer lutadas

e depois de fecco aíEm eíle luto ,


como
também o da retorta ,
( fe com elle for

forrada ,
e defendida ,) fe applique o fogo
,

( )

nú ,
ou em banho de areia ,
ou ,
melhor
que outro qualquer , o de reverberio , ha-
vendo todo o cuidado em que fe vá gra-
dual ,
e fucceíTivamente augmentando ,
e

cm dar fahida aos vapores, como dito he.

A primeira coufa ,
que começa a def-
tillar, he huma agua, ou fiegma infipida.

Eíla pouco ,
e pouco entra a apparecer
fenílvelmente mais carregada de fal volá-

til urinoíb, que o cheiro declara •


de hu-
ma cor as mais das vezes avermelhada,
e de hum cheiro ingratiíHmo ,
antes de
fer rettificada ,
a qual fe intitula nas oifí-

cinas Efpirito alcalino volátil.


O Sal volátil alcalino ,
que nao pode
vir diüolvido nella agua ,
e he obrigado
pelo calor a fubir ,
yem fublimar-fe em
fórma fecca no collo da retorta ,
e nas
paredes do recipiente ,
depois de ter con-r

tinuado a deftillação do efpirito por al-


gum tempo , e fe ter aífim roubado a agua
que o podia ter em diífoluçao.

O Efpirito alcalino volátil para fe

reftificar, fe fujeita a huma nova deílilla-

çao 3
,,

(
Ilá )

çao, como já diflemos, definindo a reti-

ficação. Deve-fe fazer em alambique, ou


retorta de vidro ,
e a fogo moderado : e
o Efpirito aífim retificado ,
fe guardará
em vafos de vidro ,
que levem pouca por-
ção ,
e tapados com rolha de vidro. Os
faes guardáo-fe da mefina maneira.
Como os Efpiritos alcalinos voláteis
nao sao mais do que huma diflbluçao do
fal na fleuma com elle defiillada ,
claro fi-

ca ,
que para fe tornarem mais ativos
nao precisão de nenhuma outra prepara-
çáo ,
que nao feja a addiçao de tanto fal

volátil alcalino ,
quanto fe pofla diflfolver

no chamado Efpirito enfraquecido.


O Efpirito acido, e fal de Alambre
deftilla-fe do mefmo modo, que dito he,
dos Efpiritos alcalinos ;
e igualmente fc

faz mais forte hum pela miftura do outro.


A combinaçáo dos Efpiritos alcali-

nos voláteis com os Efpiritos inflamma-


veis ,
Oleos efíenciaes ,
ou refinas ,
fe faz

ajuntando cada huma deftas fubílancias

áquella ,
de que fe hão de deílillar os Ef-
Pi-
C 1*7 )

piritos alcalinos ;
ou fe ajunta ao Efpirito

já deftillado ,
e fe faz a deftillação a fogo
muito brando ,
ou em banho de Maria
por alambique de vidro de altura propor-
cionada á volatilidade de femelhantes fub-
ftancias, e do modo que fica aconfelhado
no Artigo fegundo deite Capitulo. Efte
fegundo methodo he o melhor ,
e mais
praticado.

ARTIGO VI.
\ i

Vos Oleos empyreimuiticos deJUllados.

C Ontinuada
tigo antecedente, fe

empyreumáticos. Dá-fe
a deftillaçao dita

eíte
obtem os
nome
no Ar-

aos Oleos
Oleos

ou eífenciaes, ou untofos, que depois da


abítracçâo dos efpiritos ,
e faes apparecem
mais, ou menos queimados, de tal fórma
mudados em quanto á fua natureza ,
que
sao de cheiro ingrato ,
e mefmo fétido;
de fabor acre ,
amargofo ,
naufeofo ,
e
nrente : de cor fufca ,
ou vermelha muito
carregada : de confiitencia efpeífa ,
e al-

gu~
) ,

gamas vezes como pez. Todos os vege-


taes, e animaes dáo pela deftillaçao eftes
Óleos empyreumaticos ;
e o dáo também
algumas fubftancias mineraes j
fem que
haja maior differença entre os que sáo do
mefmo Reino da Natureza ,
do que fer

hum mais ,
do que o outro de cheiro ,
e
fabor mais ingrato, e de mais, ou menos
efpeíTa confiffencia. Effa differença ainda
he menor naquelles ,
que já sáo retifica-
dos ,
e que muitos tem aconfelhado para
uíb interno. Por . . .
iffo
«
he de neceífidade
i • . * .
fa-

ber como fe faz effa retificação


,
que paf-
famos a deferever.
Feita a feparaçáo dos Oleos empy-
reumáticos dos efpiritos ,
a cuja deffilla-

çáo fe feguíráo ,
( ou por funil de vidro
como diffemos dos Oleos effenciaes ,
ou
por papel pardo molhado primeiramente
em agua ,
e fuftentado em funil ,
como
diffemos da filtraçao, deixando aílim paf-
far o efpirito ,
e ficando o Oleo fobre o
papel,) femetteráo em retorta, que tenha

primeiramente fido lavada com huma li-

xi-
,

,
r
(
I2 9 )

xivia alcalina ,
a que fe tenha mifturado
cal viva, eftando a lixívia fervendo, e la-

vada fegunda vez com agua pura ,


e cui-
dadofamente enxuta de toda a humidade
por meio de panno mettido dentro ,
em-
brulhado em páo delgado ,
e dobradiço.
Depois fe expòe ao calor de banho dc
areia, e fe deixa deítillar tanto Oleo, que
fique na retorta a oitava parte ,
pouco
mais, ou menos, que fe lançará fora ;
e
efta deftilíação fe repetirá quatro
,
ou fin-

co vezes ,
precedendo fempre a lavaçao
da retorta como dito fica
, ,
e feguindo-fe
o- lançar fora huma oitava parte do Oleo
que deve deixar-fe na retorta ,
relativa á

quantidade, que de cada huma das vezes


fe fujeita á deftillaçáo.

D efta maneira fe chega a obter hum


Oleo de fabor grato, doce, e aromatico,
de huma confiftencia tenue ,
e de cheiro
fragrantifiimo ,
conhecido vulgarmente pe-
lo nome de Oleo animal de Dipelio ,
de que
hoje fe nao faz ufo. Pcrfuadidos de que
efte he o melhor methodo de re&ificar fi>

Tom. I. R me-
(
1
3 o )

iriclhantes Oleos ,
deixamos de apontar*
c defcrever os outros methodos por meio
dc agua ,
por meio de terras ,
por meio
d’huma, e outra coufa ,
e finaimente pela

continuada deítillação do Oleo empyreu-


matico fo por íi
,
fem feparaçáo daquclla
porção ,
que deixamos recommendada que
ficafie na retorta ,
e iê rejeitaíTe ;
e repe-

tida a deílillação ,
até que o Oleo adqui-
ra as qualidades ditas..

Ainda depois de retificados eíles

Oleos ,
tornao a fazer-fe empyreumaticos ?

fe não tem havido hum eferapuloíb cui-


dado na feparaçao das ultimas gotas cm
cada huma das vezes ,
e fe na fua confer-
yação* e arrecadação fenão evita o toque
do ar *
eílando em vafos menos cheios *
menos bem tapados ,
e que ,
fendo fre-
quentemente abertos, o collo delles, e a.

rolha fe não alimpem muito bem. Do que


fica dito bem fe vê ,
que para impedir a
facilidade deita degeneração a primeira
cautela deverá fer a da feparação conve*
niente da parte ,
que deve ficar na retoi>
Í - ... ta y
,

1 3 1
( 3

ta ,
e que fc em pequenos
guarde o Oleo
valos, que levem fomente cada hum dei-
les huma oitava de pezo ,
fendo cuberta
a rolha com couro ,
e algum emplaítro s
ou pez.
ARTIGO VIL
Dos Efpiritos adãos .

O
neral
S tres Reinos da Natureza
particularmente o Vegetal

,
dão pela deítillaçao os Efpiritos
,
,

e
mas
Mi-

ácidos ,
de que fe faz ufo na Medicina;
diverfos entre íl pelo pezo ,
acrimonia
volatilidade ,
e diverfa indole de cada
hum; e que por iííb mefmo requerem di-

verfo proceífo particular ,


principalmente
para fe obter os ácidos mineraes, que os
Vitriolos, Nitro, e Sal commum dao pe-
la deílillaçao
,
o qual nas formulas vai
declarado ,
em quanto aqui fomente po-*

mos as leis, que são communs a todos.

i.
a
Devem os vafos fer de vidro, ou
de terra muito bem lutados ,
fortes ,
e
grandes,
R ii 2.
s
A
(
r 3> )

2.
a
A deftillação deve fazer-fe a íb^
go nú ? ou em banho de areia.

3-
a
O fogo deve fucceíliva ,
e gra-
dualmente ir crefcendo ,
até á maior vio-

lência ,
conforme he diverfa a gravidade
do acido y
que fe quer deílillar ‘

r por iífo

ferá mais forte o fogo para a deftillação

do acido Vítriolico ?
e allim diminuindo
para os outros.. ^

a
4. As retortas não íejao de bojo
muito avultado ,
nem o feu collo faça
hum grande arco ;
e aquellas ,
que houve-
rem de fervir á deftillação fobre o banho,
de areia ,
fejão foterradas até ao meio,
fendo mais ?
ou menos mettidas na areia
á proporção da qualidade 7 e pezo do
acido.
Os ácidos perdem a fua força pela
abundancia de agua ,
que contenhão ,
e
com a qual tem eftreitifíima afinidade y

particularmente o acido Vitriolico y


que
tem mais precisão de fer reéfificado y
do
que o Nitrofo y
e o Marino ;
os quaes
fendo feitos ?
como fe requer y
fahçm con-
ceti'

i
r
( 33 ?
centrados. Eíta retificação fe faz ou pela
fimples evaporação ,
ou pelas repetidas
deítillaçôes : e os ácidos retificados, ou
concentrados fe guardao em vafos de vi-

dro ,
com tapadoura de vidro em rofeas,

para fe confcr varem livres do ar ,


da hu-
midade ,
e de corpos efixanhos ,
que os
privem de fua pureza. Os vafos ,
e fuas

cubertas de outra matéria feriáo atacados


pelos ácidos.

ARTIGO VIII.

Dos Efpiritos ácidos adoçados.


* '
• •
,

O
mente
Ccultar, ou mudar
e acrimonia dos ácidos,
dos mineraes,) pela combinação
a antiga

(principal-
indole,

com o efpirito de vinho ,


de modo que
delia refulte hum mixto de fabor grato,
ou infipido ,
he o que fe chama dulcijica-

çao de ácidos. Não he tão fimples ,


como
parece, cila combinação, que não deman-
de particular attenção não fomente para
o bem feito delia ,
mas para cautela do
Operador. E aífim: i.° Co-
1. r
C 34 )

° Como efta miftura dos ácidos


mineraes excita huma violentiíUma effer-
vefccncia ,
e não he indiíFerente lançar o
efpirito de vinho no acido, ou pelo con-
trario o acido fobre o efpirito de vinho,
haja a cautela de ir lançando fobre o cf-
pirito de vinho o acido em pequenas por-
ções ;
e nao as repetir, fem ter acabado

a effervefcencia ,
que logo fe excita
,
e fem
mecher o liquido ,
movendo o vafo ,
para
que de todo fe acabe. Seja qual for o aci-
2.
do ,
ou Vitriolico, ou Nitrofo, ou Ma ri-
no ,
que fe queira adoçar ,
he neceíTario
que aíHm fe faça a miftura ;
porque fendo
feita ,
lançando o efpirito de vinho fobre
o acido ,
a effervefcencia he muito mais
violenta ,
e arrifcada a fazer effalar os va-

fos, em que fe faz.


° Depois de mifturados aílim am-
bos os liquidos ,
dcixa-fe o vafo em def-
eanço por algumas horas, para mais per-
feita miílura.

3.
0
A deffillaçao ha de fazer- fe em
retorta ,
a cujo bico fe adapte hum reci-

1
-* pi- ;
( 13 ? )

pientc grande unido com luto leviífimo,

a foço muito brando, e igual, ou em ba-


nho de Maria.
0
4. Se a deítillação fe faz competen-
temente, nada importa ,
qual deva fer a
proporção do acido ,
e do efpirito entre

fi
;
porque fe he maior a quantidade do
acido ,
eíte fica na retorta ,
e fe torna a

miíturar com outra porção de efpirito de


vinho ,
para fe proceder a nova deítilla-

çao.

He de notar ,
que o efpirito de Vi-
triolo adoçado ,
fe levanta em fórma de
vapores tenues ,
e fubtis ,
os quaes con-
denfados ,
apparecem no recipiente em
fios reftos ,
e tranfparentes. Além diíto

he bom faber ,
que fegundo a obfervaçao
de Baiimé , na deílillaçao vão apparecendo
eltes diíferentes produ&os na feguinte or-

dem. i.° O efpirito de vinho fem altera-


0
ção. 2. Efpirito de vinho aroma tico T e
já alterado com o acido vitriolico. .3.
0
O
ether. 4. 0 Huma fieuma azedinha. 5'.
0
O
primeiro acido fulfureo volátil. 6
°
Hum
Oleo
(
I3á )

Oleo doce fobreriadando nos produ£lo$


do num. 4. e ç. 7.
0
Hum Oleo cor de li-

mão mais pezado ,


e que fe precipita no
fundo. 8.° Hum fegundo acido fulfureo.

p.° Oleo de vitriolo, negro, efpeiTo , chei-


rando também a enxofre. io.° Enxofre fu-

blimado. n.° Bitume no fundo do vafo.


Os Efpiritos adoçados fe devem guar-
dar em vafos de vidro ,
com rolhas do
nicfmo vidro..

A deftillação tem lugar também na


purificação do Azougue ,
e na faftura da
Manteiga de Antimonio .

,
ou Canjlico antimo-

nial ,
praticando-fe do modo, que he in-

dicado nas Formulas em feu competente


lugar.

CAPITULO X.
* •
Da Sublimação.
- . 1
'
• s. . .
• ‘

TE tão analoga efta operação á de


t que tratámos no Capitulo antece-
dente ,
que muitos Authores derão á Su-
blimação 0 nome de Deítillaçao fecca. A
••
... dif-‘
, ,

1
( 37 )

diíferença na verdade he tão pequena ,

que fomente pelos effeitos da operação fe

pódc conhecer ;
pois que na deítillação fe
feparão as partes voláteis ,
que fe procu-
rao ,
em fórma liquida •
e na Sublimação
fe obtem em fórma fecca : e conforme a
fubítancia fublimada tem maior ,
ou mc*
nor denfidade ,
afiim he diverfo o nome,
que lhe dão. Chamão Flores quando em
fórma de frocos ,
de agulhas tenuiííimas
ou de lã fe ajuntão no vafo fublimatorio >

e chamão Sublimado , quando as fubítancias

fublimadas temhuma notavel.confiítencía,


deníidade ,
e mefmo dureza.
Tem ufo a Sublimação para depurar
fubítancias ,
que são capazes de fe fubli-

mar ;
para feparar partes voláteis das fi-

xas ,
a que eítejao unidas ;
para unir as
mefmas voláteis com outras de igual vo-
latilidade ;
e até para unir fubítancias fi-

xas com outras voláteis’ ,


de que fe acha-
rão os exemplos nas Formulas dos Medi-
camentos. Daqui vem ,
que os fublima-
dos em qualquer fórma
,
que appareção,
Tom. I, S hu-
humas ve2es sao eduSíos ,
iílo hc ,
princí-

pios dos corpos ,


ou fubílancias ,
que feni
mudança da fua natureza ,
e coníervanda
a mcfma ,
que antes tinhao na compoíi-
çao ,
ou na mifíuvu ,
apparecem feparados ,

e puros pela Sublimação : outras vezes ef-

tes íublimados sao produSlos , ifto he r ef-


fcitos da união das diverfas fubftancias
no tempo da operação. Pelas meímas ra-
zoes huns íublimados são Jimplices ,
e ou-
tros compojlos *

Bem que cada huma das fübítancks,.


que fe expóe á Sublimação ,
poíía reque-

rer particular cuidado ,


e manejo ,
como
adiante fe póde ver ,
ha todavia algumas
coufas geraes ,
que notar ,
e que são com-
muns no modo da operação. Pelo que
pertence aos vafos ,
elles sao ou cucurbi-
tas de divería grandeza cubertas com ca-
pitel fem bico, ou com bico: ou retortas
de vidro, ou de barro, ílmplices, tubu-
ladas ,
nuas ,
ou forradas de luto conve-
niente: ou panellas ordinárias, pondo hu-
mas fobre outras unidas pelas bocas ,
ou
cu-
>
( 3? )

cubertas na boca com hum papel dobrado


de forma ,
que faça liuma pyramide côn-
cava : ou finalmente Ahtcleis ,
iíto he, pa-
nellas ou fem fundo ,
ou com hum buraco
grande no íitio delle ,
e poítas humas fo-

bre outras de maneira ,


que o fundo diu-
rna entre pela boca da que lhe fica fupe~
rior, e fendo a ultima de todas de fundo
inteiro. A diverfa denfidade ?
e efpecifica

gravidade dos corpos ?


que fe querem fu-

blimar ,
como também a diverfa volatili-

dade de feus principios ,


requerem hum
fogo mais forte ,
ou mais brando ;
por
gráos ,
ou logo applicado na maior vio-
lência y e a&ividade ;
e finalmente fogo
mi ? ou em banho de areia.

>
CAPITULO XI.

Da Calema cao.
> l y,i/j y,i\j

Uando por acçáo do fogo

Q
tal modo
dos menifruos
fe aparta
huma
de feu antigo eftado,
fubítancia
,
ou pela
de

e confiítencia ,
que fe reduz a pó ,
o.u a
S ii hu-
(
» 4° )

huma fubíhncia fummamente quebradiça,-


chama- fe efta operação Calcinação. Divi-
de-fe em aSiual , ou feita pelohm pies fo-
go ;
e em potencial ,
por meio de menF
truos ;
cu cm fecca ,
e húmida. Chama-fe
perfeita ,
ou completa aquella ,
de que re-
fulta propriamente cal ,
e imperfeita todos
os outros modos ,
pelos quaes o corpo
vem a adquirir a mudança ,
e conílítencia
ditas ,
fem fer pela íímples trituração ,
e
aos quaes fe dao os nomes feguintes.
A TORREFAÇÃO ferve nas fub-
ftancias vegetaes ,
e animaes ,
e lhes con-

cilia diverfo íàbor, cheiro ,


cor, e virtu-
des, Faz-fe ,
reduzindo primeira mente a
pó groflb, ou a miúdos pedaços o corpo,
que fe pó, ou
ha de torrar, e pondo eíte

pedacinhos fobre hum prato de ferro , ou


de barro vidrado ,
e a fogo brando me-
chendo continuadamente com huma efpa-
tula de ferro ,
e tanto tempo até que che-
gue a adquirir huma cor fufca ,
ou feme-
lhante á do café; o que fuccede, quando

já não fe levanta fumo da fubítancia, que

fe torra* US-
( i4i )

USTÁO ,
ou COMBUSTÃO ferve
também paia aquellas fubítancias
,
que fe

não calcinão perfeitamente ,


mas que fe

querem reduzidas á maior fragilidade ;

confervando todavia a figura ,


e união de
partes ,
bem que leviífima. Se a Uítão fe

faz em vafos tapados ,


eítes fe devem con-
fervar no fogo até que as fubítancias ,
que
contém ,
fe reduzao a carvão ;
e fe fe faz
em vafos defcubertos ,
devem ellas confer-

var-fe até que adquirão cor branca ,


fein
que fe desfação por li mefmas ,
confer-
vando a figura como dito he,
INCINERAÇÃO he hum grão tão
adiantado da Uítão, que por ella os cor*
pos fe reduzem a cinzas.

DECREPITAÇÃO he própria do
Sal commum ,
ou marino ,
quando expoíto
ao calor do fogo em vafo deítapado ,
fe

vem a reduzir a pó , eítalando dentro do


mefmo vafo cada hum dos cryítaes delle,
e perdendo aííim o ar, e agua dafua cryf-
tallização ;
que ferião nocivos nas opera-
çÓes ,
para as quaes ferve o Sal depois
de decrepitado. A
,

( 14 * )l

A DETONAÇÃO do Nitro ,
que
fe faz miíturando-o com fubífancias in-

flammaveis, e lançando a mifiura por ve-


zes n’hum cadinho grande ,
e já abrazia-
do, ao que fe fegue eftrondo, c luz for-
te ,
e fica no cadinho liuma matéria que-
bradiça, e facillima de reduzir a pó.
A Calcinação immerjlva ,
ou húmida
em nada diífere da DiíToluçao por diver-
fos menftruos :
porém a Calcinação vaporo-

fa ,
ou Filofofica ,
também em
diífcrindo
pouco ,
diífere com tudo no modo , por
que fe faz. Os corpos ,
que aífim fe defe-

jáo calcinados ,
fe cxpóem ao vapor, ou
fumo de menítruo corrofivo ,
ou de outro
capaz de defmanchar a união dos ditos
corpos, atacando o principio, que une as
fuas partes conífitutivas ;
e ifio fe execu-
ta ou ao mefmo ar livre ,
ou íufpcndendo
os corpos fó por li
,
ou dentro em facco
de panno de linho dentro da cucurbita
d’hum alambique ;
ou ao vapor de agua
fervendo ,
fe elles sáo de natureza tal

que facilmente fejáo atacados pelos vapo-


res
( M3 )

res da agua, como são os oíTos, e cornos


dos animaes.
A verdadeira ,
perfeita ^
e completa
Calcinação, que fc emprega lobre as fub-

íhncias mineraes ,
deflroe-lhes pela acção

do fogo fecco, e violento o principio ma-


terial de fua união ,
ou feja o fogo fó,
ou ajudado de fubílancias falinas, e fulfu-

reas. Faz-fe em cadinhos defcubertos ,


e
quando muito tapados com hum tello de
barro ;
e também fe faz pelo efpelho uf*
torio, e fogo do Sol.

~
CAPITULO XII.

Da Fusão ,
e Vitrificaçao.

E corpos folidos e principalmente


S os metaes ,
,

por acção de fogo fe re-

duzem a hum eílado liquido ,


eíta diífo-

hiçao pelo fogo fe chama Fusão ,


ou Fun-
dição y
da palavra própria Fundir. Eíla ope-
ração fomente tem ufo na compoíição da
Pedra infernal ,
Caujiico Lunar ,
ou Nitro
de prata ,
e no feu lugar fe dirá.

Os
( 144 )

Os corpos aliás fixos ,


e tenazes ,

mas já derretidos por acçao de fogo vio-


lentiíUmo ,
fó por íi
,
ou por meio de al-

guma addiçáo vem a fazer-fe mais ,


ou
menos diafanos ,
luzidios ,
quebradiços,
refiftentes ao fogo, pouco, ou nada folu-
veis em menftruos ,
e fcmclhantes ao vi-

dro, cujo nome tomao, e por iífo fe cha-


ma efta operaçao Vitrificaçao. Delia fo-
mente temos exemplar no Vidro de Anti -

tnonio.

TERCEIRA PARTE.
Da Mijlura ,
ou Compofiçao dos medica-
mentos.

A
D uniáo de diverfos medicamentos
íimplices
aqui fe tem dito
ção de medicamentos já compoílos
,
preparados

,
ou da combina-
como

,
reful-
até

ta a Compqfiçao ,
e Mijlura delles: e da di-
verfa coníiftencia de todos vem a differen-

ça de fórma liquida ,
molle ,
e dura ,
ou fec-
ca.
( 143 )

ca. Elh diftribuiçao ,


que muitos adoptá-
rao ,
deixamos nós ,
perfuadidos de que a
ordem eítabelecida dc começar pelos arti-

gos mais ÍImplices ,


e deites paílar aos
mais dilficeis ,
complicados, e dependen-
tes por iíTo dos fáceis conhecimentos an-
tecedentes ,
he mais natural ,
e proveito-
fa. Nao he precifo advertir, que entre as
preparações OíHcinaes ,
cujas regras geraes

forão dadas na Segunda Farte ,


e cujas

formulas ,
e exemplos fe acharáò no Se-
gundo Tomo ,
ha muitas ,
ds quaes por
juílo titulo pode competir o nome de
CompofiçÕes ,
ou Mj/luras ;
porém eíta de-
nominação tem fido propriamente refer-
vada para aqucllas combinações, quepre-
iuppõem preparações antecedentes ,
ou
fimplesmente mecanicas ,
ou ChymicaSy
das quaes combinações refulta hum medi-
camento compojlo . He poriífo, que fe ajun-
tou eíte titulo a todas aquellas formulas

de medicamentos preparados ,
nas quaes
ha mais fubítancias do que aquella ,
que
conítitue a bafe
,
que lhes dá o primeiro
Tom. L T no-
( ná)
nome. Das compoílçócs Pharmaceuticas,
a que proximamente fe chega á razão de
Preparação Chymica he acompofição dos
diíferentcs Sabões ,
e por tanto começa-
remos a tratar delles.

CAPITULO L
Dos Sabões*

T
ou
Oda
com
volátil •
a

fal
combinação de qualquer olea
alcalino ,

de hum a confiílencia mais


ou acido ;
fixo y

,
ou
menos fecca ,
molle, ou liquida ;
a qual

combinação feita ,
fe una com os oleos,
e com a agua ,
e faça unir eílas duas fub-
ftancias ,
fendo também diífoluvel em ef-

pirito de vinho, eis-aqui a que fechama


Sabão : bem advertido, que efte nome fo-
mente fe dava antigamente á combinação
do fal alcalino com os oleos pingues.
Sendo pois agora mais extenfa a de-
nominação de Sabão , não he baílante fa-
ber, que ha Sabões duros ,
c molles : mas
para defignar a fua natureza fe lhes dá o
( 147 )

titulo de alcalino r ,
ou ácidos ; fixos , ou vo-
láteis , ou femimlateis , fegundo a natureza
das fubílancias ,
que entrao neíla compo-
íição : chamando-fe ácidos ,
ou alcalinos

aquelles ,
que são feitos com femelhantes
íaes ;
fixos aquelles ,
cujos ingredientes
tem tal natureza; voláteis
,
quando aflim o
oleo ,
como o fal são voláteis ;
femivola-
teis ,
fe hum fó delles he volátil, e o ouJ
tro he fixo.

Foi muito demaziadamente recom-


mendado o Sabão Tartareo ,
Chymico ,• ou
de Starkey , aílim chamado pelo nome do
feu Inventor. Eíta combinacao
o
de hum
oleo eífencial com hum fal alcalino fixo
deferipta dilferentemente em varias Phar-

macopeias. ,
e fummamente diificil de fe

confeguir ,
tem confumido o tempo ,
e il-

ludido quafi fempre as efperanças ,


paci-
ência, e habilidade dos melhores Chymi-
cos. Porém a dificuldade ,
e incerteza
defta operação ,
e a facilidade ,
e prom-
ptidão ,
com que ella huma vez feita

muda de virtudes ,
(o que he fácil de
T ii pre-
( >48 )

prefumir pela mudança da cor ,


cheiro,
coníiítencia ,
e pela cryítallização de hum
íal na fua fupcrficie ,
&c. quando fe guar-
da por algum tempo,) não tendo a expe-
riência confirmado aqucllas, que parecem
haver-lhe fido gratuitamente attribuidas ,

tem feito com que hoje não appareça nas


Pharmacopeias mais depuradas. Proxima-
mente fe começou a averiguação de virtu-
des de outro Sabão também muito diíficil

de fe fazer ,
qual he o Sabão acido ;
o qual
ainda não tem fido incluído nas formulas
Oíficinaes de alguma outra Pharmacooeia ,

fenão deita ,
e cuja formula fe achará no
feu lugar competente. Efperamos ,
que
as repetidas experiencias feitas com as
cautelas ,
que são neceíTarias , e que fe

podem ver annunciadas nas Memórias da


9
Sociedade Real de Medicina de Parts do anno
de 1 779 ,
eno Diccionario de Chymica de
Mac quer ,
e nos lugares, a que eíte fe re-
fere ,
lhe grangearáò o credito ,
que os
bons annuncios promettem.
Como nem todos os Boticários fe

:
pro-
,;

( *49 )

propóem fazer as compofíçóes neceffarias


e comprao muitas já feitas , fendo o Sa-
b ao vulgar , ou alcalino huma delias , he
precifo que fe apontem as qualidades ,

que o devem fazer recommendavel. i.


a
O
fer branco ,
facil de cortar ,
femelhante
a
ao de Veneza : 2. de confiílencia de fe-

bo de bode, e efcorregadio : 3/ de facil

diíTolução em agua para ,


ou deflillada
ficando a foluçao diafana ,
e pouco alva-
centa : 4.* que depois de diífolvido nao
apparcça fobrenadando na agua nada oleo-
fo: 5.* que nao humedeça ,
fendo expof-
to ao ar ,
ainda eítando eíte algum tanto
húmido :
6.* fem fabor decidido de fal

alcalino ,
mas pingue ,
e alguma coufa
falgado :
7/ de nenhum cheiro ,
ou pou-
co ingrato. Aquelles Artiltas porém ,
que
quizerem fazer eíte Sabão deítinado para
o ufo Medicinal ,
acharáò a formula no
feu competente lugar.

CA-
( u° )

CAPITULO II.

Das Efpecies.

E
outra
Sta qualidade de medicamento
temporâneo
coufa mais
,
ou Magiftral
do que a miftura
,
não he
ex-

de
,

muitos fimplices ,
cortados ,
e machuca-
dos ,
para delles fe fazerem infusões ,
ou
cozimentos. São eiles fimplices do Reino
Vegetal ordinariamente ,
poucas vezes do
Reino Animal , e pouquiílimas do Mineral.
Tempo houve ,
em que fe deo elle nome
ás compofiçóes ,
a que agora fe dá o ver-
dadeiro nome de Pós compoftos. Quando
fe receitao determinadas plantas, ou fuas
partes ,
e fe conclue a receita ,
ajuntando
Façao-fe Efpecies S. A. ,
he neceflario : i.®

que as hervas feccas ,


e limpas de tudo
o que lhes he eftranho, fe cortem miuda-
0
mente : 2. que as fiores fe deixem ir in-
0
teiras : 3. que as raizes groílas fe ma-
chuquem ,
fe cortem em talhadas ,
e eílas
0
ainda em pedaços menores : 4. que as
fub-
( U* )

fubílancias mais duras fe rafpcm :


5”.° que
asgommas, e refinas fe machuquem tam-
bém 6.° que
: antes de fe miílurarem os
fimplices ,
fe facudao fobre fedaço ,
e fe
peneirem ,
para fe lhes feparar o pó : e
0
7. que afiam preparados ,
fe miíturem
igualmente entre fi.

CAPITULO III.

Do Xarope ,
Mel, e Oxymel , e Looch.

O Xarope he
que
cozimentos com aíTucar
fe faz
hum medicamento
dos çumos, infusões, ou

,
para fe uíar
fluido,

por fi, ou miflurado a outros medicamen-


tos, aos quaes dá confiflencia ,
e duração,

ou faz mais gratos. Os Antigos, que não


conhecerão o aíTucar ,
derão o nome de
Xarope a efla compofiçao feita com mel •

mas depois da invenção do aíTucar, fe dá


o nome de Xarope aos que com elle são ,

leitos e o de Mel medicinal ao Xarope


;

dos Antigos. Se a efie mel fe ajunta vi-


nagre ,
chama-fe Qxymel.
Da
,,

( »f* )

Da definição dada bem fe vc ,


que
havendo de fazer-fe qualquer Xarope de
çumos ,
infusões ,
ou cozimentos ,
fe de-
vem ter eítas preparações ,
fegundo as
leis dadas nos feus competentes lugares
antes de fe lhes miíturar o aíTucar. Seja
aífucar ,
ou mel o que deve fervir ,
efte

ha de fer o mais purificado ,


que poflivel

feja ,
ou o Xarope fe faça ao fogo ,
ou
nao. A razão he, porque nao fendo qual-
quer das duas fubítancias muito purifica-
da ,
ellas são muito expoftas a fermentar
em fe ajuntando com as partes extrafHvas

dos çumos, infusões, ou cozimentos ,


e

aílim vem a alterar-fe ,


e perder a fua pri-
meira natureza, e virtudes. Na falta po-
rém de aífucar aflim purificado, depura-fe

o aífucar commum pelo methodo feguinte.


Desfeito o aífucar em proporcionada
quantidade de agua commum fe clarifi-
,

que com a clara de ovo ,


como he dito

no Capitulo III. da Segunda Parte ,


pag.

42 ,
e fe ferva depois até. ficar na confif-
tencia própria de Xarope. Efta fervura
ou
( *S) )

cu cozimento tem feus grios ,


e feus fi-

rmes ,
que os diílingão entre íi. i.° Co-
ze-fe o aíTucar afiim desfeito ,
e clarifica-
do, até que lançando-fe huma gotta fobre
pedra fria
,
e limpa ,
ou fobre hum prato
de louça ,
ou de eítanho ,
fique pegada ,

e com a inclinação do prato não mude


de lugar, correndo por eile. O aíTucar af-

fim cozido he o que fe chama Xarope fwi-


ples. 2.° Coze-le o aflucar ainda mais ,

para fe confumir grande parte da humi-


dade ,
ou quafi toda ,
até o ponto ,
que
chamão de cabello ,
ou de ciibrir. Eíle co-
nhece-fe tomando huma pequena porção
da calda do afilicar n*huma efpatula ,
e

hiclinando-a ,
para que fe entorne : íè o
que cahe fe reduz a fios ,
que voão ,
ou
como a frocos de neve, eftá o aíTucar per-
feitamente cozido ;
e quanto maiores ,
e

mais largos forem eítes frocos ,


mais bem
cozido eítá o aíTucar, e menos contém da
humidade fuperfiua.

He melhor ,
e mais expedito fazer

os Xaropes fem fer ao fogo ou elles fe


,

' Tom. I. V
( )

fação de fubílancias ,
cujos principios são
fixos ,
ou das que os poíTuem voláteis. À
quantidade do aílucar para o liquido ain-
da que gcralmente fe tenha eíhbelecido
dobrada ,
tem todavia eíta regra fuas ex-
cepçócs. Tacs sao as feguintes. I. Para
dezefete onças de qualquer infusão ,
co-
zimento ,
ou çumo aquoíb ,
não havendo
de fe evaporar coufa alguma ,
fe toma-
rão duas libras civis de aílucar purificado ,

e fecco. II. Para dezefeis onças de çumos


azedos ,
de liquidos falinos ,
ou aromáti-
cos deftillados fe tomarão vinte e oito
onças do mefmo aífucar. III. Em geral
diífolva-fe em qualquer liquido que feja
liuma quantidade do aílucar dito igual á
do liquido , de que fe quer fazer o Xaro-
pe ,
e depois fe lhe vá ajuntando pouco
a pouco mais aífucar em pó ,
mechendo
fempre com efpatula ,
até que fe ache no
lundo do vafo fem eftar derretido, a pe-
zaj* da agitação da efpatula :
ponha-fe em
fim tudo em banho de Maria ,
para fe dif-
folver o aífucar com ajuda do calor. Não
he
) ,,

(
iyí

he prcciío advertir, que os Xaropes, que


fe querem de çumos azedos ,
ou dos fru-

tos fubacidos ,
fe não fação em vafos dc
cobre nem mefmo nos que sao ellanha-
,
1

dos, nem em vafos de barro vidrados, fc-


gundo fica notado a pag. 3,^4.
Quem quer fazer os Xaropes ao fo-
go, ou cozidos ,
a não ferem feitos com
aílucar puriífimo ,
depois de efie fer der-

retido no çumo ,
infusão ,
ou cozimento
fe deve clarificar tudo; menos que o Xa-
rope feja de M.econio ,
Diacodio ,
ou Papoi-
las. brancas ,
o qual nunca fe deve clarifi-

car ;
e para evitar qualquer defeuido ,
fe

deve fazer pela forma ,


que em feu lugar
diremos. A confiítencia devida dos Xaro-
pes cozidos fe averigua ,
havendo conti-

nuado huma leve fervura depois da clari-

ficação ;
e tomando n’huma colher huma
pequena quantidade ,
e inclinando-a ,
para
que o Xarope caia : fe fe forma na mar-
gem da colher huma lagrima ,
tem o pon-
to neceífario. Também efte fe conhece
afibprando fobre huma quantidade peque-
V ii na
:

(
! 56 )

na do mefmo Xarope em recebida vaíb


frio, fe vai apparecendo huma como pel-
lezinha feníivelmente enrugada. Ultima-
mente, fe deixando cahir da colher o Xa-
rope gotta a gotta ,
cada huma delias pa-

rece fugir ,
e encolher-fe para ao bordo
da colher. Eíl e peuto , e coníiílencia devi-
da he muito precifo fer bem examinado,
para que o Xarope fe conferve liquido ,
e
fe nao crydallize.
Para fe fazer o Mel medicinal o pro-
eeíTo he o mefmo ,
que para os Xaropes
fó com differença no modo de examinar
o ponto ,
porque efte fe examina de duas
maneiras: i.° lançando huma pequena por-
ção do Mel ,
que íe eftá cozendo ,
n’hum
prato frio ,
e fe deixa em defeanço até
que arrefeça ,
e depois de esfriado fe di-

vide ao meio : fe as porçoes divididas fe


confervarem por algum tempo neíla fepa-
ração ,
fem tornar a unir-fe logo ,
eltá o
0
Mel na fua devida coníiílencia : ou 2. fe
lançando-o d’altura de hum palmo ,
ou
dous ,
ficar pegado ao prato como huma
maf-
,

(
i57 )

mafía molle ,
fem que falte em pequenas
gottas, como fazem as fubftancias mais li-

quidas. Não ter o Mel chegado a efte

ponto por meio do cozimento ,


em que
perde a demaziada humidade ,
tem o pe-
rigo de fe alterar ,
e deílruir pela fermen-
tação ,
a que eftá fugeito : fe he cozido
ainda além deíle termo, cryílalliza-fe de-
pois de frio, mas conferva a virtude me-
dicinal.

Pelo que pertence á confervação def-


tas compofiçoes he mifter faber ,
que fe
não devem arrecadar fem que eítejão per-
feitamente frias
,
porque os vapores ,
que
fe levantão em quanto eítão quentes ,
re-

cahindo em gottas fobre o Xarope ,


dão
lugar á fermentação, ou ao menos ao chei-
ro de mofò ,
que adquirem. Aíhm frios

os Xaropes, que fe fizerem por cozimen-


to ,
fe arrecadarão em garrafas de barro
ou ,
melhor ,
de vidro ,
tapadas com ro-
lhas de cortiça ,
e eílarão em lugar frio,
para que nao fermentem. Será bom que
efies vafos não levem cada hum mais de
hu-
,

(
iy« )

huma libra, para evitar, que o toque do


ar nas repetidas aberturas ,
que do vaíb
fc fizerem ,
fendo maior a quantidade do
Xarope ,
e mais fiequente o feu ufo ,

lugar á fua fermentação, e alteração. Ke
por mefma razão, que, fe o Xarope
efta

for menos ufado , deve o vafo fer mais


pequeno ainda do que de huma libra. O
,

tempo ,
que podem confervar-fe ellas com-
poíiçôes fem alteração, pouco pòdc exce-
der de hum anno ,
e por iífo fe hão de
renovar todos os annos ao menos.
Da miílura dos diíferentes Xaropes

e ajuntando-fe-lhes algumas vezes fubílan-


cias mucilaginofas ,
oleos pingues efprc-
midos de pouco tempo ,
gema d’ovo e ,

femelhantes ,
refulta huma compofiçao dc
confiftencia entre xarope ,
e ele&uario, a

que os Árabes chamarão Looch ,


e Looh ,

ou na noífa linguagem Lambetiw ,


ou Lam~
bedor ,
porque fe ufa lambendo-fe. Eíta
compofiçao he verdadeiramente Magiílral
e extemporânea ;
mas porque no modo de
manipular-fe ha algumas coufas ,
que fe
dei-
,

I 5'9
( )

deixão á intelligencia ,
e arbítrio do Bo-
ticário ,
debaixo da íimples palavra mijiu-
re-fe ,
ou fem determinar a quantidade do
aíTucar ,
fe receita deite quanto bajie ,
e F.

S. A. ,
he preciíb advertir: i.° Que ,
fe fe

hão de mifturar oleos com alguma agua,


fe lhes deve ajuntar ametade ,
ou igual
porção de gema de ovo e triturar-íe tu- ,

do fortemente em almofariz de vidro, ou


de marfim, até que fe unao. i.° Se amif-
tura he de oleo com xarope ,
fe ajunta

áquelle huma pequena porção de aífucar

fecco primeiramente antes do xarope ,


e
fe triturao, como dito he : e fendo v. g.

duas onças de xarope ,


e huma de oleo,
ha de fer huma oitava de aífucar refinado.
0
3. Também ferve de entremeio huma pe-
0
quena porção de Sabão de Veneza. 4. Não
havendo hum determinado grão de con-
fiítencia ,
além do que he já dito entre a
confiítencia de xarope ,
e a de eleétua^
rio, bem fe vê, que a efpeífura maior fe

emenda com a addição de alguma agua


ou xarope 5
e a tenuidade com a addição
de

/
( lio)
;

de aíTucar refinado em pó ,
e alguns pós
de Alcatira ,
ou Goma Arabia : bem en-
tendido ,
que antes o Looch feja mais ef-

peílb do que tenue ,


para que não feja fá-
cil fepararem-fe as fubítancias olcofas das
aquofas.

• , * j í
CAPITULO
i i . . i
IV.
• r

Da Emulsão .

D Á-fe o
lidade de
fo-aquofo, cor de leite, feito de fubítan-
nome de Emulsão
medicamento liquido, oleo-
áquella qua-

cia pingue füfpenfa no meníhuo aquofo


por entremeio de huma mucilagem ,
ou
de outra fubftancia capaz diífo. São con-
feguintemente duas as efpecies de Emul-
sões. A Emulsão verdadeira he feita das
fementes ,
e frutos prenhes de oleo pin-
gue ,
taes ,
como sao as fementes frias
maiores ,
as amêndoas ,
e femelhantes. A
Emulsão efpuria ,
e impropriamente cha-
mada Emulsão ,
he feita daquellas fub-

ftancias ,
que fendo oleofas ,
são muito
dif-
C 161 )

difficcls .de fufpender-íe rfagua : v. g. oâ


bailamos líquidos, ou folidos, as gomas-
reiinas ,
a Canfora. Também eíta compo-
iiçao 1.
entra na ordem das Magiítraes, cu-
jas regras, para bem fe fazer, sáo as fe-
euintes.
O
*
As fementes, 011 frutos, de que
fe ha 2.de fazer a Emulsão, fejão bem fec-

cos ,
e deípidos das fuas cafcas ,
c que
não tenhão adquirido fabor acre ,
fendo
alteradas pelo tempo ,
ou pelo máo modo
da fua colheita ,
e çonfervação.
3. a
O menítruo da Emulsão deve fer

a agua fmples pura ;


a deítillada de plan-
tas ;
as infusões ;
e cozimentos aquofos.
Qualquer deites líquidos nem pelo fabor,
nem pela efpeíTura feja defagradavel ;
e

por iífo quanto mais íimples for ,


melhor
he.
"
Se nem a matéria, de que fe ha
de fazer a Emulsão ,
nem o liquido pro-
porcional he determinado pelo Medico,
e fe receita fomente Emulsão f. S. A.
,
he
precifo faber que ha trcs diverfos grãos
,

Tom. I. X de
( )

de conMenda de Emulsões, Uquiâijfima $

media ,
e alguma coufa efpejjd. A média he
a recomniendavel : ncíla para huma libra

de rnenítruo he devida onça e meia de


fe mentes emulíivas. Para a liquidijjhna sao
precifas de doze até vinte partes de menf-
truo para huma das fementes ,
ou futos.
A Emulsão algum tanto mais efpejfa faz-fe

ajuntando a huma parte de fementes tres

áté feis do mcnílruo, que fe quer.


a
4. Sc fe determina ajuntar-fe d Emul-
são alguma fubílancia acre ,
amarga ,
ou
aromática ,
fem que fe declare a quanti-
dade, e fe deixe eíla ao arbitrio do Boti-
cário na generalidade de quanto bafie , ajun-
te-fe tao ldmente a porção, que feja baf-

tante para dar bom cheiro, ou fabor hum


pouco mais grato.
4.* He neceífario advertir ,
que as.

fubílaricias acidas decompòem a Emulsão,,


e que confeguintemente fe nao devem
ajuntar para melhor fabor delia.

As fementes ,
ou caroços limpos;
de fuas cafcas, e pelles fe pizem em gral

de
( i8j )

de marfim', ou de pedra com mão de mar*


fim, ou de páo muito rijo, até que fe fa-
ção em paira. Aílim pizados ,
fe lhes vão
miílurando pequenas porçòes do menftruo
determinado ,
para fe fazer mais. igual a
paíta ;
e por fim fe miílure toda a quanti-

dade competente do dito menílrúo. Mif-


turado tudo ,
fe coe por panno de linho
6.
limpo ,
efpremendo muito leve mente ;
e
ao liquido coado fe ajunte então o mais-,
que fe manda na receita ,
mechendo tudo
dentro do mefmo gral com a fua mao-,
ou pijiillo. i
'•
. >

*
Havendo de adoçar-fe a Emul-
7.
são com aífucar, eile fe lhe mifturará de-
pois de coada, fendo purificado; mas feiv

do de outro modo ,
então ajunte-fe a quan-
tidade- determinada no mefmo teifipo ,
em
que fe pizao as fementes emulílvas ;
mif-
ture-fe o liquido ,
e fe coe ,
como dito
he ,
porque no coador ficaráô: as impure-
zas do aífucar. .:<•;? *

a
Quando nas Emulsões verdadei-
ras fe manda ajuntar alguma fubilancia.it>-

X ii dif-
(
1 *>4 )

diííbluvel na agua ,
fem fe declarar o en--
tremeio ,
pelo qual fe polia íufpender ,
v.

g. o Alcanfor, ou alguma refina, ou bal-

famo ,
o Boticário ajuntará a efias fubítan-

cias. hum pouco de gema d’ovo ,


de goma
Arabia , ou de Sabão de Veneza ,
ou de
Hefpanha ;
e depois de bem triturados,,

miíturará a Emulsão.
a
8. Deita mefma maneira fe faráo as

Emulsões efpurias ,
quando as fubítancias

reíinofas ,
ou goraofo-refmofas fe mandão
miiturar com líquidos aquofos , fem fer

em companhia de outra Emulsão verdar


deira ;
contundindo-fe primeiro com os;

entremeios nomeados, e coando-fe, con-


forme fica dito.

CAPITULO V.
Das Mifturas *

A
>
Simples combinação de medicamen-
tos fluidos deftinados para ufo in-
terno fe dá o geral nome de Mifittra. A
diverfa cor y diverfa quantidade y e
a maior
/ . eL
( iés )

éJEcacia em diminuta porção fez antigar


mente dar nomes de
á Miítura os diverfos

Julepo Mijiura coutraâfa , e Bebida Ainda


,
.

que tao fomente adoptamos o nome de


Miítura ,
fempre julgamos precifo darhu-
ma idea deites nomes para fua intelligen-

cia.

He pois o Julepo huma Miítura de


medicamentos iluidos muito diafana ,
e
tranfparente ,
de fabor grato ;
de cheiro
fuave, ou nenhum ;
e de cor avermelhada
com preferencia a outra qualquer. A fua
quantidade prefereve-fe para tres, ou mais
dofes. A Mijiura propriamente aílim cha-
mada nao tem as propriedades do Jule-
po ,
porque he menòs liquida ,
menos
tranfparente ,
menos agradavel ao fabor y
á viíta, e ao cheiro ;
para fe tomar tam-
bém de huma y
ou de mais dofes. Se he
para huma fó vez ,
chama- fe Bebida •
e fe

a fua efficacia he tanta ,


que em minima
dofe produz o feu elfeito ,
fendo os feus
ingredientes efpirituofos ,
ou femelhantes ,
tem o nome de Mjflura * -m
coutrafta ,
*
e mef-
mo
(*«)'
mo fe lhe tem dado o de Goltas ,
em ra-

zão do modo, por que he applicada.


As Miíturas ,
fendo de fubítancias ,

que admittem mutua combinação fem en-


tremeio ,
eílão feitas ,
mal fe ajuntão os

liquidos, e com elles os faes ,


ou gomas,
&c. Sc porém eftas fubftancías precisão
de entremeios ,
ajuntem-fe eítes ,
e por

trituração fe fação miíturar com os liqui-

dos ,
que fazem a bafe da formula ,
do
modo que diílemos fallando da Emulsão. ,

E como os Julepos de ordinário são de


fabor acido não fe fação em vafos de
,

cobre ,
mas nos de pedra ,
ou de vidro,
como para maior aífeio ,
e fegurança fe

devem fazer quaefquer Miíhiras.

! CAPITULO VL
Das Confervas.
*
• * • *•» • .

hum a compoíição
C Onferva he
vegetaes recentes
cortados machucados
,
muito miudamen-
e miíturados
feita de

,te , ,

com tanto aifucar, que fique n’huma pafta


c mol-
,

C í^7 }
fnolle da confíftencia de Cm pies eletua-
rio. Efta fórma de medicamento tem ufa
para fe poder no Inverno ter as plantas

que vegetao nas efta ço es do anno antece-


dente ,
com to.da a fua virtude ,
de que
perderião grande parte ,
ou toda ,
fendo
feccas j
também ferve para fazellas mais
gratas ao paladar dos enfermos; e ultrina- 1

mente para bafe, oumiftura de outros re-

médios.
Para fe confeguirem utilmente os der
fejados fins ,
e boa manufatura das Con-
fervas, he neceíTario advertir: :

i.° Que as folhas ,


e fiores recentes

fe alimpem dos feus peciolos, pészinhos,

c calyces ,
para que na Conferva não ap-
pareção fios.
0
2. Que oaftucar feja refinado, bran-
co, fecco ,
reduzido a pó fino, e penei-
rado. A proporção da quantidade de aífu-

car para a da planta he em geral o do-

bro ;
mas fe cila tiver muito çumo além
do ordinário ,
então pode cada parte da
planta admittir tres de aiTucar. ,>

3*° Qtie

t
,

( i88 5
0
3. Que a planta ,
ou fuas partes

miudamente cortadas fe pizem em gral


de pedra com mão de páo ,
ajuntando a
quantidade determinada do afíucar pouco
a pouco ,
até que tudo fe faça em paíta

igual, e uniforme.
0
Que as plantas menos çumaren-
4.

tas , c hum pouco mais feccas fe podem

humedecer com huma pequena porção


d’agua no tempo em que fe pizao e mif- ,

turão com o aífucar.


5\° Que as fubítancias vegetaes que ,

a pezar da contusão fe não reduzem a


maífa igual ,
como são as cafcas de laran-
ja ,
fe rafpem ,
e miíturadas com o aífu-

çar ,
fe guardem por efpaço de algumas
femanas em vafo tapado, para fe pizarem
depois de repaífadas do aífucar ,
e fe fa-

zer por eíte modo a maífa mais uniforme.


6.° Que a confiítencia deita maífa
feja tal ,
que nem por muito molle ou ,

quafi liquida fique expolta á fermentação

é corrupção j
nem por dura venha a fec-

car-fe totalmente.
0
rr

7. Que
( 'b )

y.° Que fendo curta a duração das


Confervas, o Boticário faça pequena por-
ção ,
mas mais repetidas vezes da que for
daquellas plantas, que póde haver recen-
tes em todo o tempo do anno porque ;
as
Confervas antigas ou são defpojadas da
fua virtude ,
ou ao menos não são as me-
lhores.

8.° Que feitas como convem ,


fe guar-

dem em vafos de barro ,


ou de vidro cy-
lindricos ,
de boca larga ,
e em lugar
frefco.

Ainda com todas eítas cautelas sao


pouquiílimas as Confervas ,
que chegao a
durar hum anno fem perda ,
ou grande
diminuição de virtudes ,
e fem que tenhão
entrado em fermentação ;
porque muitas
vezes ella começa dentro em poucos dias >

e lhes altera ,
e deítroe inteiramente a
natureza. Tem-fe aconfelhado para evitar

eíte incommodo ,
que fe mechao de novo
com efpatula cada femana ,
para fe miíhir
rarem de novo, ainda quando a fermenta-
ção já tem começado ;
o que fe conhece
Tom. I. Y pe-
,
,

(
' 7° )

pela elevação da fuperficie da Conferva


por alguma efeuma, ou bolhas de ar, que
nella apparecem ,
e por hum começa de-
cheiro azedo. Mas bem facil he de crer
que nefte eítado ferá cuítofo reprimir, on
fuffocar a fermentação, e confeguintemen-
te he melhor feguir ,
e pôr em prática o>

mcthodo de Banmé de fazer as Con fer-


vas ,
que a razao ,
e a- experiencia autho-
rizáor principalmente fc a conferva fe ha
de fazer de plantas ,
ou fuas partes ,
cuja

virtude fe nao perde pela exficcaçao ;


por-
que nao tem lugar nas Conferva s das plan-
tas ,
que sáo medicamentofas fomente em
razao do feu çumo ,
e em quanto recen-
tes ,
como são as chamadas antifeorbuti-
cas. Por efte methodo a planta ,
ou fuas
partes, das quaes fe quer a Conferva ,
fe

feccão ,
em pó , e fe guardaa
fe fazem
em vafos de vidro bem tapados. Deite
pó fe faz a Conferva no mefmo tempa ,

que fe pede ajuntando a cada parte da


,

pezo delle quaíi tres ,


ou quatro partes de
aíTucar refinado, triturando tudo cuidado^

fa-
( '7i )

famentc ,
e reduzindo a pafta da coníiftcn-

cia já dita pela addiçao de quantidade


fuiEciente de agua pura, ou deítillada da
mefma planta ,
de cujo pó fe faz a Con-
ferva. Pode muito bem confervar-fe o pó
já miílurado com o aífucar do modo ,
e
na proporção, que diíTemos, e ajuntar-fe-
lhe a agua táo fomente na occaíiao oppor-
tuna. Delia maneira fe confegue haver
Confervas frefeas com a mefma virtude,
que terião ,
fendo feitas da planta recen-
te ,
e fem o perigo de fe alterarem pelo
tempo. Eíta forma porém he mais ferne-

lhante aos Ele&uarios ,


de que vamos tra-

tar.

CAPITULO VII.

Do EkcUtario ,
e fitas efpecies.

A Miítura de differentes pós


outros medicamentos
ou mel, que fique em confiftencia
,

com xarope,
ou de

molle,
e femelhante a terebinthina hum poucò
mais efpeíTa ,
he o que fe chama EleSlua-

Y ii rio :
( J 7* )

rio : e porque efla confidencia admitte


grãos diíFerentes, e a virtude dos ingredi-
entes, e reputação da extensão delias tem
tido hum grande poder na imaginação
dos homens ,
daqui vierao os diíFerentes
nomes ,
que fehuma mefma
tem dado a

coufa. Aos Ele&uarios de huma cGníiften-


cia mais firme chamarão Confeição \ e ,
en-
trando na compofição o Opio ,
chamarão
Opiata. Os nomes de Antídoto ,
Mithrida-
do y e. Theriaga refervárão-fe para algumas
compoíiçòes ,
que fe acreditarão capazes
de vencer os venenos y
ou embaraçar a
fua acção : e como ede medicamento fe

determina em forma fecca muitas vezes,


fe fe reparte em dofes huma das
,
cada
quaes íe pode commodamente receber
dentro da boca ,
e fer engulida inteira y *

chama-fe então Bolo.

A matéria própria do Ele&uario são


quaefquer medicamentos accommcdados
para receber pela fua midura y e compoíl-

çao a confidencia mencionada ;


e aílim os
pós ,
polpas ,
extra&os ,
çumos eípelFa-

dos ^

/
,

( *73 )

dos oleos ,
arrobes ,
xaropes ,
confer-
,

vas efpiritos ,
e tinturas sao a íua ma-
,

téria : fendo preferidas aquellas fubftan-


cias fimples ,
ou já preparadas ,
e com-
polias, que não fejão de fabor, cheiro, e
cor defagradavel ;
nem que facilmente fe
derretão com a humidade do ar, e capa-
zes de entrar em fermentação, e corrom-
per-fe.

Como pois nella compofição entrão


matérias já preparadas, ecompoílas, cla-
ro eílá ,
que tudo quanto até aqui fe tem
dito de cada huma das preparações ,
ou
compofições ,
que no Eleéluario deverem
entrar, fe ha de aqui entender, como di-

to he ,
com poucas excepções ,
ou addi-
ções.
Se no Eleéluario entrão polpas ,
ef-

tas fe efpeífaráõ ,
fazendo-fe-lhes evapo-
rar a humidade fuperflua ,
ou fe cozeráõ
no mel ,
no xarope ,
ou no cozimento
que fe prefcrever ,
até ficarem na devida

confiílencia. E fe houverem gomas, faes,


ou çumos efpelTados para fe miílurarem
na
,

( 174 )

na compofição, eftcs fe dilfolverád primei-


ramente em liquido tépido, para fe fazer
igual diítribuiçao delles pela maífa toda.
Neíte liquido mais ,
ou menos efpeífo fe

fará depois pouco a pouco a addição das


fubíbincias ,
que fe tem reduzido a pó
movendo tudo ao mefmo tempo contínua
e fortemente com efpatula de páo , até
que fique a maífa igual, uniforme, e fem
grumos : bem advertido, que as fubítan-
cias cheirofas ,
as quaes pelo calor perdem
efta propriedade ,
fe devem ajuntar ,
ef-

tando frio o Elefruario.


A diverfa confiílencia das fubflancias ,

de que fe fazem os Elefhiarios ,


( tanto
das feccas ,
como das liquidas ,
que as
háo de embeber,) faz quaíi indetermina-

vel a proporção ,
que entre humas ,
e ou-

tras fe poderia guardar ,


fallando geral-

mente. Mas como as mais das vezes a


-quantidade do liquido ,
que ha de rece-
ber em íi as fubílancias feccas ,
fe deixa
ao arbítrio do Artiíta Pharmaceutico ,
pe-
las palavras de quanto bajle
,
ou fufficiente
quan-
( m )

quantidade ,
he miíter advertir ,
que n ao
fomente fe ha de attender ao volume ,
e
natureza das fubítancias feccas, e reduzi-
das a pó ,
mas também á tenuidade ,
ou
efpeífura maior do liquido ,
em que fe

hão de miíturar ,
e formar cm Eleftuarioi

Por iífo fendo os pós de igual volume, e


natureza ,
e o liquido tenue ,
pouca por-
ção deite he precifa para lhes dar a con-
íiítencia própria ,
diítribuindo-fe por todos

igualmente. Se a quántidade dos pós he


diminuta, he bom que o liquido feja mais
efpeífo ;
e fe he a quantidade maior, he
mais commodo ,
que o liquido feja mais
folto, e muito tenue. Demos v. g. que fe
receita huma onça de pós, e para formar
delles Eleítuario ,
fe prefcreve hum liqui-

do mais efpeífo : deixando-fe a arbitrio a


fua quantidade ,
deverá fer eíta oito on-

ças ;
fe o liquido for menos efpeífo ,
tres

onças ;
e fe for tenue, quaíí como agua,
duas onças.
Os liquidos ,
que commummente fer-

vem para os Ele&uarios ,


são o aífucar em.
cal-
i7<í )
(

calda, ou xarope, e o mel cozido, def-


pumado, e na coníiílencia ,
que diflemos
no Capitulo terceiro. Ainda depois de fei-

ta a miílura de todos os íimplices ,


de
que conítão os Eleftoarios , alguns ha que
tem precisão de fermentarem ;
o que fe

lhes deve promover , e accelerar ,


mechen-
do-os por efpaço de hum quarto d’hora
em alguns dias fucceílivos. Eíla fermenta-
ção tem-fe julgado neceífaria para facili-

tar, e adiantar a miílura dos medicamen-


tos ,
que entrao na compoíição ,
e delia
refultar huma nova virtude ,
ainda além
daquella ,
que pende da fimples miílura
dclies. Afora deíle ufo, que tem os Elc-
éluarios ,
tem também o de fervir para
confervaçao dos miílos tanto tempo, que
muitos durão vinte annos ,
e mais ;
e en-
tão he que são reputados melhores ,
taes
como a Theriaga ,
e outros ,
de que hoje
fe faz pequeno, ou nenhum ufo pelas anr
tigas compoíiçoes longas ,
e importunas,
havendo-fe fublHtuido outras mais bem
combinadas,, e fimplices, que adoptamos.
Guar-

/
;

( 177 )

Guard ão-fe os Eleéluarios em vafos


de vidro , ou de barro vidrado. Muitos
durão hum anno ,
e mais como são os
,

aromáticos : outros durão menos tempo


porque fe alterao pela fermentação, pelo
mofo ,
e bolor ,
que crião na fuperficie ;
e
porque fe feccao ,
e são roidos de bichos.
Os que não devem fermentar ,
e fermen-
tao com effeito; os que tem mofo, e bo-
lor *
e os que já tem bichos por muito
feccos ,
eftão corruptos ,
e por tanto inú-
teis ,
e incapazes de fe empregar no ufo
da Medicina. A-quelles porém ,
que fo-
mente tem adquirido pelo tempo hum
maior gráo de feccura, fe podem reduzir
á devida coníiflencia ,
ajuntando-fe-lhes
huma pequena porção de vinho branco
generofo , e mifturando-fe com efpatula
de páo muito cuidadofamente. Efta fub-
llancia ,
como he mais fluida ,
iníinua-fe

igualmente por todo o Ele&uario fem lhe


augmentar o volume ,
nem fazer variar a
proporção dos fimplices mifturados : o que
não fuccederia fe o Ele&uario fe humede-
Tom. I, Z cef-
,

)'
(

ceíTecom o xarope commum ou com o ,

mel defpumado , como pareceria natural


fazer-fe.

A facilidade ,
com que mais cedo,
ou mais tarde fe alteráo ,. e corrompem os
Ele&uarios ,
que nas boticas fe guardao
fez que Baiimé fe lembra íle de aconfe-
Ihar a prática ,
que para as confervas
tinha aconfelhado ,
de ter cm vafos de
vidro bem tapados os pós já miílura-
dos, de que ha de fazer-fe o Eleftuario
para fe miíturarem com mel ou xarope ,

commum ,
na occafiao mefma em que fe ,

hao de adminiArar ;
evitando afiim a cor-
rupção dos Eleftuarios ,
e a mudança ,
e
alteraçáo de fuas virtudes medicinaes. Pa-
ra não deixar incompleta a fua judiciofa
obferYaçao ,
havendo notado ,
que nem
todos os pós embebem a mefma porção
de humidade ,
eftabeleceo as feguintes re-
gras :

Os pós feitos de plantas ,


lenhos,
cafcas, flores, e femelhantes fe reduzem
á confiítencia de Ele&uario com tres partes
v \
( 179 )

de xarope ,
ou mel para huma de pós: c
ao fim de vinte e quatro horas tem a
devida confiftencia.
As Gomas-reíínas com igual quanti-
dade do feu pezo.
As refinas ,
e balíamos íeccos com
alguma coufa menos do feu pezo.
Os corpos mineraes metallicos como
são limalha de ferro, a pedra hematites,
o antimonio, &c. com a ametade do feu
pezo.
Os faes alcalinos fixos demandáo do
xarope tão fomente a decima parte de feu
pezo j
e os faes neutros ametade ,
pouco
mais ,
ou menos.
Bcitmé todavia ob ferva, que eftas re-
gras aífim fixas ,
e gera es fomente tem
lugar nos Elefluarios ,
cujos fimplices não
tem acção huns fobre os outros ,
da qual
fe figão novas combinações ,
ou decom-
pofiçóes ,
que fação alterar de dia para
dia a fua confiítencia : porque nefte cafq
fòmente a obfervação do prudente Phar-
maceutico ,
e o eftado do Eleftuario he
Z ii que
,

(
38o )

que .pode regular a addição ,


ou não ad-
dição do xarope*

CAPITULO VIII.

Das Pílulas.

D Á-fe o nome de
huma fórma de medicamento folido f
de huma confifiencia menos molle do que
Pílula ,
ou P ir ala

,
x

a do elefhiario ;
de figura esferiea ;
e do*

tamanho de huma ervilha ,


pouco mais
ou menos ;
feito de vários pós recebidos
e amaíTados em xarope, ou mel, ou outra
fubftancia capaz de fuilcntar efia confif-

tencia ;
e deftinado para fer engolido in*-

teiro. Quaíi que nao ha fubílancia algu-


ma na ordem dos medicamentos fimpli-
ces, preparados, ou compoftos, que nao
pofTa fervir para delia fe formarem Pilu-
las ,
ou por fi
,
ou pela varia miftura de
huns com outros remedios ,
e fua diverfa
preparação.
Sendo efies remedios pela maior par^
te precifados de fer reduzidos a pó antes
;

de
,

(
i8i )

de formar Pílulas ,
aqui he forçofo que fe

pratiquem em primeiro lugar as leis da


Pulverização. A eíles pós miíturadõs por
trituração fe ajunte fuíficiente quantidade
de xarope ,
mel defpumado ,
ou de algu-
ma confeição ,
ou conferva molle ,
e em
gral de pedra com mão de páo fe machu-
quem ,
e amaílem tanto tempo ,
e tão for--

temente ,
que fe faça huma maíla igual
uniforme ,
liza ,
e capaz de fe eílender de
algum modo fem partir- fe. Prefere-fe o
xarope a outra qualquer fubítancia liqui-
da ,
ou molle ,
porque a maífa de Pilulas
feita com elle não endurece tão breve-
mente ;
e por iífo a mucilagem nunca
deve fervir para eíle ufo ,
pois que as
Pilulas formadas com ella em poucos dias
adquirem huma dureza de pedra.
Às fubítancias tenazes, como são as
gomas , gomas-reíinas ,
extraflos ,
e ele-
ftuarios hum pouco mais efpeífos ,
e que
já tem por ella razão a coníiftencia analo-
ga á das Pilulas ,
ou fe machuquem com
a mão do gral quente para fe fazer mais
igua-
)

iguaes, ou com huma pequena porção de


liquido conveniente fe reduzão a eftado
de poderem igualmente mifturar com
fe

os outros medicamentos , que entrao na


compoíiçao das Pilulas. Além deitas fub-

ftancias algumas ha ,
que diíficilmente fe
reduzem pó , como he a canfora , e ou-
a

tras. Eftas he melhor triturall as antes com


algumas gottas de efpirito de vinho ,
do
que com o xarope ,
ou mel ;
náo fomente
porque pelo efpirito fe reduzem mais fa-

cilmente pó , mas porque por


a elle fe

não augmenta o volume da maífa ,


e não
póde na repartição das Pilulas fer tão in-

certa a dofe dos medicamentos. As go-


mas, çumos efpeífados ,
e cxtracfos aquo-
fos devem amollecer-fe prime ira mente com
o xarope, e depois he que fede /em ajuris

tar os pós ,
c mifturar- fe tudo da fórma
dita ,
e de modo ,
que a confiftencia feja

capaz de fe formarem as Pilulas.

Afíim feita a maífa ,


fe he para fe

guardar como compoíiçao Oíficinal ,


fe con-
ferve dentro de bexiga ,
humedecida de
. vez
,
,

( i8 3 )
Vez em quando com algum liquido apro-

priado á natureza das Pilulas ,


para que
efteja fempre a maíTa na molleza ,
que fe'

precifa ,
para ellas fe formarem. Se efta

maíTa OfEcinal ,
não obftante a cautela ,
fe

tem feccado mais ,


e de maneira ,
que ao
tempo de fe pedir fe nao poíla formar,
miítura-fe-lhe no almofariz nova quanti-
dade de xarope ,
piza-fe de novo ,
para
que a maíTa adquira a devida molleza ,
e
procede-fe então a fazer as Pilulas do
mefmo modo ,
que fendo a preferi pçao
Magiftral ,
que logo defereveremos. Baumé
aconfelha haver os pós compoítos, de que
fe fação as Pilulas ao tempo de fe pedi-
rem, com a addiçao do xarope ,
da mef-
ma maneira, que os ele&uarios ,
e confer-
vas. Eíle methodo não pode ter lugar na

maíTa de Pilulas ,
em que entrem polpas
e extra&os ,
ou femelhantes fubíbmeias
que fe não reduzem a pó : podendo aliás

fer de utilidade ,
quando todos os medi-
camentos da compoíição das Pilulas po-
dem reduzir-fe a pó ,
e efte confervar-fe
em vidros bem tapados. Pa-
,,

( = 84 )

Para determinar o jufto tamanho das


Pilulas ,
que fe hão de fazer da mafla af-

íim trabalhada ,
ha huma particular má-
quina ,
da qual póde carecer o Boticário ,

fazendo da meíma maífa rolos delgados


e iguaes por toda a fua extensão ,
e cor-
tando-os em pequenos pedaços em iguaes
diítancias ;
dos quaes tomando cada hum
entre os primeiros tres dedos da mão ,
e
revolvendo-os em giro ,
forme cada Pílu-
la do tamanho de huma ervilha ,
e que
tenha de hum grão até linco de pczo,
pouco mais ,
ou menos. Para que a maífa
fe náo apegue aos dedos ,
c deite modo
fe embarace formar-fe as Pilulas ,
dcfcn-
dem-fe os dedos ,
e fe facilita a revolu-

ção da maífa entre elles com qualquer pó


fecco, v. g. de goma de trigo, de alcaí-
fús . de olhos de caranguejo preparados,
de marfim ,
ou de outras femelhantes fub-
ítancias. Quando fe mandão fazer as Pi-
lulas de grandeza ordinária ,
ellas não ex-
cedem finco grãos ,
conforme for o pezo
relativo das fubítancias, de que são- com-
pof-
( i8y )

poífas : aliás fendo determinado o pezo


de cada huma ,
ou o numero delias ,
que
de huma certa porção de maíTa fe deve
fazer ,
eíla determinação fe ha de efcru-
pulofamente cumprir.
Quando fe mandão dourar ,
ou pra-
tear as Pilulas, depois de formadas fere-
volvão fegunda vez entre as palmas das
mãos humedecidas com xarope ,
ou com
outro qualquer liquido ,
para que a fuper-
ficie da Pilula fe humedeça leviífimamen-
te ,
e huma e huma com devida fepáração
fe ponhão fobre folhas de ouro , ou de prata
dentro de huma caixa na qual ,
fe move-
rão em roda movendo a caixa ,
,
para que
rodando fobre as folhas ditas, eítas fe pe-

guem á fuperficie humedecida ,


e a cubrão
igualmente. As Pilulas, que não fe man-
dão dourar ,
ou pratear ,
fe defendem de
fe pegar entre íi com a afpersão dos pós
ditos.

' 4
:

- Tom. I. Aa CA-
(
i8< )

CAPITULO IX.

Vos Trocifcos.

N Âo
êluarios

fenao na figura
dififerem

,
e

e
das pi lulas
dos bolos os
em pouco mais
?
dos ele-
Trocifcos

;
tanto
y

aífim ,
que de antigo tempo tiverao o no-
me de ele&uario folido ,
deflinados para
disfarçar o fabor ingrato de alguns medi-
camentos ;
para fe trazerem na boca nas.
molcftias de língua ,
fauces ,
e fuas vizi-
nhanças ,
em figura de trocifcos ,
paflas ,

ou pafiilhas , morfidos ,
rotulas y
ou rodinhas
triangulares r
orbiculares ,
quadrados ? py-
ramidaes, cylmdrkos, & c. fegundoogof-
to de quem os reduz a forma.
Bem fe vê ,
que em confequencia
quanto fe tem dito fobre o modo de fa-

zer os ele&uarios ,
e pílulas y
tem lugar
para à fafhira dos Trocifcos y
bem adver-
tido ,
que para efies são neceífarios pós
reduzidos á maior tenuidade, edelgadeza
poflivel ,
havendo de fervir para trazer na
bo-
,
;

( )

boca. Cumpre também advertir ,


que fe

não reduzão os pós a maíTa com o mel


porque havendo de guardar- fe os Trocif-
cos por algum tempo ,
feitos com mel
humedecem com o toque do ar : por iífo

o excipiente dos pós feja xarope, como pa-


ra as pílulas ;
e havendo de confervar-fe
os Trocifcos para muito tempo ,
então
he melhor que o excipicnte feja mucil agem
a qual os conferva melhor, e defende do
ar depois de feccos.
De huma até quatro onças de pós
para huma libra de aífucar em calda he a
proporção ,
que fe tem eftabelecido entre
os ingredientes : e pelo que pertence á
mucilagem ,
apenas fe pode determinar
tanta, quanta baile para fazer maífa feme-
Ihante á maífa de pílulas. Como os pós
fe não podem embeber no aífucar todos
de huma vez ,
claro eílá ,
que fe hão de
ir ajuntando pouco a pouco ,
mechendo-os
com efpatula de páo ,
para que fique a
maífa igual ,
e tratavel. Depois da maífa
feita ,
fe lhe dá a forma ,
que fe quer,
Aa ii mas
:,
,

(
i8S )

mas- commummente feda o nome deTro-


cifcos á maia de figura de pequenas

azeitonas, ou de tremoços, oupyramidal.


Efta maíTa facilmente fe pega aos dedos
o que fe pode precaver, tendo-os untado
com qualquer oleo pingue, não rançofo
ou com algum oleo aromatico apropriado
á natureza dos ingredientes ou também :

com o pó de alcaíllis , ou de goma de


trigo. Aíílm formados os Trocifcos ,
fe

póem fobre fedaço limpo ,


em lugar fom-
brio ,
e ventilado ,
tendo a cautela de lhes
mudar por vezes a fupcrficie ,
para que
bem fe fequem e por igual. Confervão-fe
,

em vafos de vidro ou de barro vidrados ,

defendidos do ar ,
para não humedece-
rem ,
e durão hum anno. Parece efeufado
dizer ,
que fendo eha fórma de medica-
mento analoga ao elefluario, e ás pilulas,
fe podem ter os pós ingredientes miílura-
dos ,
e guardados para fe formar Trocif-
cos na occalião ,
em que fe pedem.
Para os Morfulcs recommcnda-fe que
,

fejao folidos ,
quebradiços ,
e a fua con-

4
fif-
. , . 4
,

( i8j> )

fiílencia incapaz de amollecer ao ar : no


refto não diíFcrem dos Trocifcos. As Ro-
tulas porém ou fe fazem do mefmo modo
ou mettendo o aííiicar em pó, e bem fec-

co, e puro n’hum vafo de metal ,


e pon--

do-o ao fogo, mechendo-o continuamente


fem defcançar comefpatula, até que aque-
ça de tal maneira ,
fem fe derreter ,
que
mettendo-fe-lhe o dedo, fenao poífa fup-
portar o calor. Então a cada onça de afi-

fucar nefte eftado fe ajunte huma oitava


do çumo determinado ,
continuando a me-
cher fem interrupção, e ligeiramente ,
até
que tudo igual, e uniformemente miítura-í

do ,
fem haver adquirido empyreuma ,
fe
lance fobre pedra fria plana ,
e horizon-

tal ,
aonde depois de fria a maífa ,
ou
próxima a esfriar de todo, fe formará da
figura que fe quizer. Entrando nefta com-
poíição çumos azedos ,
em vez dos vafos
de metal ,
fe ufe dos de barro não vidra-
dos. i
C 1 9o )

CAPITULO X.

Da Cataplafma.
• *
. !
t
j

•;
; ;

A
de papas
Cataplafma
Magiftral

,
( cujo
,
he
molle
nome também tem )
hum medicamento
,
de conliJftencia

coherente ,
e que fe não derrete com o
calor. Ha Cataplafmas cruas ,
e cozidas,

fegundo o modo ,
por que são feitas. A
humas ,
e outras dão matéria todos os
tres Reinos da Natureza ,
mas muito par-
ticularmente o Reino Vegetal em toda a
íua extensão. O Reino Animal poucas fub-
ftancias fubminillra ;
e o Mineral apenas
os preparados do chumbo.
A Cataplafma crua para fe fazer não
he precifo outro algum trabalho ,
do que
pizar ,
e reduzir a confiftencia de papas
em gral de pedra com mao depáo as her-

vas ,
raizes ,
ou frutos ,
quando são recen-
tes ,
fe nada mais entra na cataplafma. Se
na falta de vegetaes recentes fe hão de
empregar os feccos ,
então fe amollecem
pri-'
( )

prSmeiramente pela maceração ,


e depois
fe machucão ,
e reduzem a Cataplafma.
Faz-fe também a Cataplafma crua de pós
embebidos em qualquer determinado li-

quido ,
e mechidos com efpatula fem in-

terrupção ,
até que fe formem papas de
igual, e uniforme confifíencía ,
como di-

to he.
Daqui fe infere, que a matéria, que
ha de fervir para as Cataplafmas cruas,
ou cozidas ,
deve fer de fua natureza mol-
le ,
ou fazer- fe tal pela Arte ;
e que por

iífo havendo as plantas recentes ,


deftas

com preferencia ás feccas fe deve fazer a


Cataplafma. Para a Cataplafma cozida
humas, e outras plantas fe cozeráó mais,
ou menos tempo em agua, ou no liquido,
que fe determinar ,
machucando-fe ,
e cor-
tando-fe primeiramente as fubílancias mais
rijas, e fervendo, até que pareçao podres,
e fe desfaçao facilmente entre os dedos;

havendo a cautela de que fe nao quei-


mem ,
ou eíturrem. Feito aílim o cozimen-
to ,
coe-fe ;
as fubílancias cozidas pizem-íç

çm
( )

cm gral de p.edra com mão dc pão ,


e fei-
tas em papas ,
fe coem por fedaço ,
para
ficar mais igual a maífa; e a efta fe ajun-

tem os medicamentos ,
que houver feitos
em pó ,
mechendo-fe com efpatula ,
ao
mefmo tempo que vagarofamente fe vão
lançando os pós ,
afim de que fiquem
uniformemente diílribuidos por toda a Ca-
taplafma. Se ella fica menos molle ,
do
que he proprio ,
ajunta-fe-lhe huma por-
ção do cozimento coado baftante para
abrandar, a confiftencia da maífa ;
e fe e fi-

ta he hum pouco mais rala, do que deve


fer ,
torne-fe a levar ao fogo em vafo
competente ,
e fe faça evaporar a dema-
ziada humidade ,
até fe confeguir a con-

fiftencia devida ;
mechendo entre tanto
continuamente com efpatula de pão, para
que nao adquira empyreuma ,
queimam
do-fe.

.
As fubftancias duras ,
que não podem
cozer-fe até o ponto indicado ,
e as aro-
maticas ,
que perderião a fua natureza ,
e
propriedades ,
cozendo-fe ,
fe fação em
pó >
,,

( 193 )

pó, para fe ajuntarem ás papas, com eíla

diíferença ,
que as fubítancias não aroma-
ticas fe ajuntem em todo o tempo ;
as

aromaticas porém ou já fria a Cataplaf-

ma ,
ou quaíi fria. O mefmo fe entenda
dos oleos eífenciaes ,
efpirito de vinho,
tinturas ,
e femelhantes ,
que por ventura
hajão de fe ajuntar. Havendo de fe ajun-

tar á Cataplafma fies, fabáo, ou mel, fe

desfaçao no liquido, em que as mais fub-


ílancias fe háo de cozer ,
antes que eítas
fe miílurem. As raizes bulbofas, e carno-

fas ,
e os frutos ,
taes como as maçans
não fe cozão ,
mas aífem-fe debaixo de
cinzas quentes ,
e fe pizem igualmente
com as fubítancias ,
que forão cozidas : e
fendo da formula a addição de unguentos,
gema de ovo ,
e algumas outras fubítan-
cias untofas ,
eftas fe miíturem ,
quando
ainda a Cataplafma eíliver tépida.
Receitando-fe qualquer Cataplafma
determinando os ingredientes delia fetn
determinação das quantidades de cada
hum e deixando-fe
,
eíles ao arbitrio do
Tom.L Bb Bo-
( >94 )

Boticário pela formula geral de quanto baf-


te\ eíla lie a regra, que elle deve feguir y

geralmente fali ando » Para huma libra de


Catapiafina ,
eujos ingredientes fejão her-
vas ,
farinhas >
ou pós ,
e fubítancias un-
tofas ,
deve tomar feis onças c meia (
pou-
co mais ,
ou menos ) das hervas ;
tres ,
ou
tres e meia das farinhas ,
ou dos pós ;
e
duas das fubílancias untofas >> fazendo a
Catapiafina fegundo. as outras regras da-
das.

Da mefma maneira ,
que para as

confcrvas, ele&uarios, e pilulas > aconfe-


lha Baumé a confervação em vidro tapado
das fubílancias feitas em pó ,
que hao.
de fervir para Cataplafmas. Teria lugar
cila recommendação ,
fe a Cataplafma naa
fora huma formula pofitivamente Magif-
trai ,
e para fe fazer a arbitrio de quem a
prefereve.

CA-
;

C »9sr )

CAPITULO XI.

Do 'Linimento.

T” E o Linimento hum medicamento


Í -tf-
externo de confidencia entre oleo,

e unguento, feito de fubdancias pingues,


e untofas ,
ás quaes fe ajuntáo algumas
vezes outras fubdancias ,
que não fendo
da natureza das primeiras ,
podem toda-
via commodamente entrar na compoíição
fem dedruir a confidencia, e forma delia*

Sáo pois os oleos expreífos ,


infundidos,-
e cozidos; a manteiga; as enxúndias; tu-
tanos dos oífos ;
unguentos ;
cera ;
refinas

e gomas-refinas a matéria próxima dos


Linimentos : e a eílas fe podem mi durar
efpiritos ;
balfamos líquidos ;
tinturas ;

oleos eífenciaes ;
fabáo; mel; mucilagens ;

e femelhantes : tudo de maneira ,


que re-
fulte huma midura igual ,
de molleza un-
to fa ,
e efcorregadia ,
em diíferentes gráos

de confidencia entre a efpeíTura do ungu-


ento, e a tcnuidade do oleo. A confiden-
Bb ii cia
( > 96 )

cia juíta ,
c devida do Linimento tem o
exemplo na miílura de quatro onças de
azeite ,
em que feja derretida huma onça
de cera.

Quando a matena do Linimento suo


fomente oleos efp remidos ,
cozidos ,
ou
infundidos ,
e mefmo eífenciaes deftilla-

dos ,
nada mais fe precifa para fe fazer
do que miíturarem-fe os ingredientes : fe

porém a cíles fe hao de ajuntar líquidos


aquofos ,
e falinos ,
fó póde haver combi-
nação,, triturando, ou anaçando tudo por
muito tempo, ou levando ao fogo, e fa-

zendo exhalar a agua a brando calor.

Tendo dc fe mffturar para Linimen-


to unguentos, gema de ovo, mel, ou fa-

bao, podem miílurar-fe por meio de íim-


ples ,
e aturada trituração ;
ou mais bre-
vemente fazendo aquecer os oleos efpre-
midos, &c. e que nelles fe derretao os
unguentos ,
fe ajunte o fabao ,
e o mel ;
e
quando tudo eÃiver quaíi esfriado ,
fe ajun-

te a gema de ovo ,
para que fe pofla
igualmente diíhibuir fem fe coalhar»
En-
,,

( 197 )

Entrando na compoíição do Linimento


íubíbmcias mais efpefías ,
como são reíl-

nas ,
gomas-reíinas ,
ccra ,
e emplaílros

que fe derretem nos oleos com elles


,
e

fe combinão ,
também fe devem desfazer
ao fogo dentro dos oleos ,
que fem perda
de fuas qualidades podem fupportar o ca-
lor. E ultimamente ,
fe a efta combinação
feita tem de fe ajuntar fubftancias efpi-

rituofas ,
aromaticas ,
e oleos eífenciaes

efta addiçao fe não faça antes de eítar

frio o Linimento : e ,
conforme for a na-

tureza dos ingredientes ,


fe dê em vafo
tapado ,
ou com menos cautela defendido
fómente das immundicies ,
que lhe pofsão
entrar, com cobertura de papel.

CAPITULO XIL
Do Unguento -
.

‘ '
• •*
, ,
\» ' • r ••
t « -

1
1

D
tro
E fubftancias também
gues, como o linimento,
medicamento para ufo externo
oleofas, e pin-
fe faz ou-
mas
;

de coníiítencia tal ,
que nem fe coalhe y e
en-
( r 98 )

endureça com o frio, nem com o tempe-


rado calor do ar fe derreta. Sirva de exem-
plo para maior clareza a confiítencia da
manteiga ,
do unto ,
e do mel. Nelle de-
ve entretanto haver uniforme miítura de
ingredientes ,
e molleza untofa fem afpe-
reza ,
e fem tenacidade. A eíla fôrma de
medicamento fe dá o nome de Unguento ,
e conforme o modo de fe fizer ,
e a na-

tureza dos ingredientes, fe lhe tem dado


diverfos nomes.
Chama-fe Unguento ílmplesmente
mijhirado aquelle ,
que refulta da combi-
nação de matérias capazes para eíta fôr-

ma por trituração, miítura, ou derretidas


juntamente ao fogo. Unguento cozido diz-
fe aquelle ,
em que entrao vegetaes ,
ou
fuas partes tanto tempo cozidos a fogo
brando nos oleos ,
enxúndias ,
&c. ate

que fe tenha evaporado toda a humidade.


G Unguento nutrido he feito de hum oleo
pingue tanto tempo triturado com algum
vinagre ,
ou com algum efpinto alcalino
a-té perfeita miítura ,
e que delia refulte
hu-
,

( i?9 )

huma mafla branca femelhante á nata da


leite. O nome de Balfamo artificial efpejja
vem da miítura de oleos eífenciaes ,
bal-

íamos naturaes ,
refinas, alcanfor, almif-

car ,
e femelhantes : e o de Pomada teve
origem antigamente da addiçao das ma-
çans j
hoje dá-fe ede nome nao fomente a
qualquer Unguento de cheiro agradavel
mas a outros de ufo ccfmetico.
Do que fe tem dito íe conhece qual
he a matéria dos Unguentos ,
a fua con-
fidencia ,
e o modo de íe fazerem ,
de
forma, que pouco reda para accrefcentar,
que feja peculiar a cada huma dedas ef-

pecies d’ Unguento. Tudo quanto fe dilíe

do modo de fazer os linimentos ,


aqui
torna a ter lugar relativamente ao Unguen-
to fimplesmente mifiurado ;
mas como nelle
póde haver de entrar terebintfiina ,
epòs,
he necedario advertir ,
que a tenacidade
da terebinthina ,
(ou os mais ingredientes
fe pofsao unir pela trituração ,
ou neceífi-
tem de fer derretidos,) fe deve primei-
ramente abrandar com a união de •
gemà
d’o-
,

(
200 )

d’ ovo ,
enxúndia ,
ou algum unguento,
que haja dc fer ingrediente da compofi-
ção, que fe quer fazer, triturando-fe mui-
to bem em gral de pedra com mão de pão.
Havendo pós ,
que fe ajuntem ao Ungu-
ento ,
fe elles sao em tanta quantidade

que a confidencia da compofição fique


mais dura do que he dito ,
então com ad-
dição d’ hum pouco mais de azeite fe re-
duza á confiílencia ,
que deve ter : e aílim

pelo contrario ,
fendo ella mais molle ,
e
rala, fe efpelfe mais pela miftura de nova
quantidade de pós, ou cera.
A definição, que dêmos do Unguen-
to cozido ,
inculca a neceílidade ,
que ha
na fua fa£lura de ter em viíta ,
e execu-
tar quanto fe diífe dos oleos feitos por
cozimento, e ajuntar-lhes depois as mais
fubílancias, que nelle fe podem derreter,

e demorar tudo no calor tanto tempo ,

que fe oxhale ,
e confuma a humidade , o
que bem fe conhece pelos feus finaes.

Tanto jjihuns ,
como n’ outros Unguen-
tos ,
fe fubílancias ,
de que elles fe

com-
. ,

( *01 )

compõem ,
nao são inteiramente i Tentas

de matérias cfiranhas ,
que as fazem me-
nos puras, em eftando tudo derretido, fe
coe por fedaço ,
e depois fe lhe ajuntem
os pós ,
fe a receita os pede. O modo de
ajuntar os pós he lançando-os em peque-
na porção ,
e efpalhando-os por toda a
fuperficie do Unguento ,
como fe faria

havendo de ajuntar alguma fubftancia li-

quida ;
mas ao mefrao tempo mechendo
continuamente tudo ,
e fem defcançar com
efpatula de páo, até que chegue de todò
a esfriar.

Para fe fazer o Unguento nutrido ,

nada mais fe precifa do que na fua defi-

nição fe diíTe ;
o Balfamo cfpefjb porém he
feito a fogo ,
ou por íimples miftura ao
frio. He feito a fogo aquelle, que confia
de azeite ,
enxofre ,
alambre ,
fal de chum-
bo ,
ou femelhantes ,
fervendo no azeite
cadahuma defias matérias ,
até adquiri-

rem huma coníiftencia hum pouco mais


liquida do que o mel ,
ou a mefma con-
íifiencia do mel. Efies balfamos são hoje
Tom. I. Cc de
( )

de muito pouco, ou nenhum ufo. São fei-

tos a frio aquelles balfamos ,


em que en-
trão fubítancias aromaticas ;
porque eitas

fe ajuntao a hum oleo pingue efpremido


feitas em pó fino, lançado, e miíturado T

como ha pouco diíTemos, para haver del-


le igual diítribuição. Prefere-fe para oleo
exeipiente o oleo expreífo de Nós mofca-
da ,
chamado em razão deite ufo Corpo pa-
ra balfamo.
Se a Tomada não fe compóe fenao
de fubítancias untofas fáceis de combi-
nar-fe mutuamente, nao diíFerc do Ungu-
ento fimplesmente miíturado ;
mas fe ha
alguma, cuja humidade precife de fer eva-

porada ,
fe evapore fegundo as leis da
Arte. Se porém ,
para fe lavar ,
e fazer

branca a Pomada ,
fe manda ajuntar agua
pura ,
ou alguma deítillada ,
com ella fe

ha de triturar a matéria untofa tanto tem-


po ,
que fe coníiga o defejado eíFcito.

Como na compoíiçao dos Unguen-


tos entrao fubítancias detres diverfas con-

fiítencias ,
a faber ,
liquidas y molles ,
e
fec-
(
2 °3 )

feccas ,
tem difficuldade aílinar os limites

da coníiftencia devida ,
marcando a pro-
porção deftas difíerentes fubftancias. As
molles em qualquer proporção tem a de-
vida coníiftencia. Parahuma onça de azei-
te ,
duas até tres oitavas de cera ,
ou de
coufa femelhante farão hum Unguento de
devida coníiftencia mas havendo de fe
;

ajuntar pós ,
ou alguma matéria mais fec-
ca ,
deve-fe diminuir a quantidade da ce-
ra ?
e proporcionar tudo de maneira ,
que
fe configa huma jufta molleza ,
e mais ca-

raéleres ditos na definição do Unguento.


Para o Unguento nutrido he a proporção
de huma parte de oleo ,
e outra igual de
vinagre de chumbo v. g.


CAPITULO *
t
XIII.

Do Emplajlro.

Ouco o Emplajlro do unguen-


P to ,
diífere

porque he também medicamento


mas
externo ,
feito de matéria pingue ,

mais coherente, folido ,


fem fer quebra-

Cc ii dL
( 104 )

diço, tenaz, que com o calor amollece,

e fe derrete ,
e fe pega facilmente aflim
ao couro ,
ou panno ,
fobre o qual fe ef-
tende, como á parte do corpo, á qual fc

applica. Além das fubítancias pingues , e


untofas ,
refinofas ,
e cera ,
fe faz o Em™
plaílro também com addiçao de çumos
aquofos dos vegetaes ,
balfamos ,
extra^

cios, fabao ,
pós de fubítancias de todos
os Pveinos da Natureza ,
e caes metalli-
cas ;
e fegundo a fua diverfa dureza ,
ou
molleza ,
c mefmo fegundo a forma ,
por
que são applicados ,
fc lhe dão diverfos
nomes. Emplaflro ,
ou Ceroto folião sao os,

nomes, que tem todos , mas mais geral-


mente o nome de Emplaflro j e dá-fe o de
Ceroto ,
fe a fua coníiftencia he mais mol-
le ,
e próxima á do unguento. Dão os La-
tinos o nome de Dropax áquelle Emplaf*
tro ,
cuja principal bafe he o pêz , e he
por tanto mais tenaz, glutinofo, e adhe-
rente. Se, derretido oEmplaítro, nelle fe
mergulha panno ,
ou tiras delíe ,
e eftas

fe involvem de maneira ,
que fiquem de
for-
( *oy )
I

forma longa redonda ,


e igual por toda a

fua extensão, fe lhes dá pela femelhança


o nome de Velinhas , ou Bugias.
Os Emplaftros ,
cujos ingredientes
sao fáceis de fe mifiurar ,
unir ,
e obter

a confifiencia devida por efta uniáo ,


fe

fazem fimplesmente derretendo todas as

fubftancias humas com outras ,


do mefmo
modo, que fe faz o unguento; nem delle

tem mais diíferença ,


do que na quantida-
de maior de cera ,
que lhes dá huma con-
fiítencia mais firme,
Aquelles Emplaíhos porém ,
em cuja
compofiçao entra cal metallica ,
o modo
de fe fazerem he diverfo. Nefies fe ha de
primeiramente cozer a cal metallica. To-
mem-fe por exemplo fezes d’ ouro ;
eftas

na quantidade determinada do azeite ,


e
mifiurada huma moderada porção d’ agua
commum ,
fe pòe ao fogo em vafo conve-
niente. Com efpatula de páo fe meche
tudo continuadamente fem defeançar, pa-
ra que a cal metallica náo tenha lugar de
aifentar no fundo, pegar-fe, equeimar-fe;
e
,

(
20 6 )

c para que fc evapore a agua miílurada


por effeito do calor ;
porque o liquido
mechido oíFerece continuamente novas fu-

períicies ao ar ,
e fc facilita a evaporação

por efte mefmo modo. Evaporada a pri-


meira agua ,
fe accrefcenta fegunda ,
ter-

ceira ,
e mais quantidades ,
fendo neceíla-
rias ,
efperando que cada huma delias fe
haja inteiramente evaporado. A nova agua ,

que fc ajunta ,
deve fer quente ,.
para nao
retardar a operação começada ,
e para evi-

tar alguma detonação perigofa ao Artifka

e que faça perder huma grande parte das


matérias, que fepertendião unir, e incor-
porar. O termo das addiçòes da agua hc
quando eftá obtida eíta intima miítura da
cal com o azeite ,
e eíteja ( fegundo a
frafe Pharmaceutica ) perfeitamente cozi-
da. Ha finaes ,
por onde fe conhece eíte

cozimento eftar feito : i.° a miftura de


avermelhada fe torna pouco, e pouco al-
0
vacenta : 2. nao fe fente no fundo a cal

metallica ,
mechendo com a efpatula :

0
3. huma pequena porção deita miítura
lan-
,:

( 207 )

lançada em agua fria ,


depois dc esfriar
de todo ,
tomada ,
e amaíTada entre os
dedos ,
he femelhante a cera amolgada
entre elles com o íimples calor natural
0
4. evaporada a humidade ,
a miftura fica

liquida :
$.° batida com a efpatula muito
levemente, fe levantao frocos de efcuma
femelhantes aos de fabão batido com agua.
Cozida aílim a cal metallica ,
e conhecido
o cozimento por eíles ditos íinaes ,
he
então que fe ajuntao o pêz ,
refinas ,
fe-

bo ,
gomas, e os pós, ou outros ingredi-
entes, que da receita fejão ,
pelo mefmo
modo, que diífemos no Capitulo antece-
dente.
Porém para evitar toda a equivoca-
çao ,
e incerteza na ordem ,
em que os
ingredientes fe devem fucceder huns a
outros, efte he o procefib geral. i.°) Der-
retem-fe as fubítancias pingues mifturadas
com as mais tenazes a fogo brando ;
de-
pois i.°) fe ajuntao os oleos ,
e outros lí-

quidos não voláteis , já aquecidos ao fo-


0
go. 3. )
As gomas-refinas desfeitas em
yí-
,

( 2o8 )
0
vinagre ,
ou cm terebinthina : e 4. ) eva-
porada a humidade ,
(e conhecida pelos
íinaes ,
que dêmos ,
tratando dos Oleos co-

zidos na Segunda Parte ,


Capitulo oitavo
,

Secção fegunda ,
pag. 77.) fe ajuntão os pós

pelo modo ,
que fe mandão ajuntar aos
0
unguentos. 5'.
)
Tudo o que he volátil fe

ajunta ,
quando he já esfriado o Emplaf-
tro ;
e o azougue ,
mortificado primeira-
mente com terebinthina, fe miftura eftan-

do o Emplaftro tépido, para poder ainda


mifturar-fe por igual ,
mechendo-fe tudo
com a efpatula.

A proporção dos diverfos ingredien-


tes varia ,
conforme a confiftencia dos Em-
plailros he mais molle ,
de confiftencia

mediana ,
ou dura : e aílim

Para fazei Emplaftro


huma onça de -v meia onça <£e

cera ,
J pós.
Huma onça onça e maia 1 íeis oitavas de

de óleo de oera pós.


, j
duas onças de ^

huma onça de
cera, ^ pós.

Bem entendido ,
que fe deve attender á
analogia ,
que entre fi tem as fubftancias

pin-
,

( 2 °9 )

pingues, c untofus com os oleos líquidos,


c a cera com as refinas
,
para fe determi-
narem as quantidades ,
fegundó eíta ta-

boa ,
que fomente tem ufo para o Phar-
maceutico fe governar naquellas formu-
las, em que, nomeados os íimplices, fe

determinão as fuas quantidades pelo mo-


do geral ~ qiimito bafte ,
e F. S. A,

A miílura igual, e uniforme; coniif-


tencia fecca ao frio, íem fe pegar aos de-
dos; havendo pelo calor facilidade na ex-
tensão do Emplaflro ,
e tenacidade pega-
jofa ;
sao eftes os carateres ,
e condições,

que attehão fer bem feito. Os Emplaf-


tros ,
que são de confiftencia mais molle
ou Cerotos , fe guardão em vafos de boca
larga , como os unguentos : os de conílíten-
cia mediana ,
e particularmente os duros
dividem- fe em pedaços de igual grande-
za ,
amafsao-fe bem fobre pedra liza , e
orvalhada de agua ,
para fe não pegarem ,

-( a que chamão malaxar , ) e fe formão em


rolos cylindricos ,
fe involvem em papeis
proporcionados á fua grandeza ,
eque nas
Tom. I. Dd ex-
(
2I ° )

extremidades dos cylindros ,


ou magãa-
Jeoes ,
fejao maiores para involver toda a

porção. Para evitar ,


que o Emplaítro fe
pegue ao papel ,
fe defende com algum
pó fecco competente.
As Vdinhas ou Bugias medicinaes
,

fazem-fe por efte modo. Corta-fe huma


tira de fina cambraia em forma de triân-

gulo agudiílimo ,
e de mais de hum pal-
mo ,
ou palmo e meio de comprimento:
efta fe mergulhe na maíTa cmplaíhica der-
retida deforma, que fe enfope por igual
tire-fe para fora do liquido ,
c fe deixe

nelle efeorrer ,
pegando-lhe pela bafe do
triângulo ,
ou pela fua extremidade mais
larga. Em citando quaf frio o panno em-
bebido ,
e capaz de fe enrolar ,
com os
dedos fe comece eíta operação ,
e depois

fe continue fobre pedra liza ,


limpa ,
e po-
lida ;
ou fobre taboa dura com as mefmas
qualidades, obrigando a rotação com hum
plano também de taboa ,
ou de pedra li-

za, que fe tenha na mão, e continuando-a

com igualdade de força ,


mas fem carre-

ga 3
:

(
211 )

gar ,
para que íe forme a Detinha ,
ou Bugia
de diverfo tamanho ,
e groífura ,
mas em
toda a extensão bem liza. Pelo que per-
tence á groíTura delias ,
efta fe determina
fegundo a largura da cavidade ,
para a qual
fe deítinao ;
e em confequencia também
fe talha mais ,
ou menos larga a tira de
panno, que fe ha de enfopar ,
e da qual
ao depois fe formará a Velinha.

T A B O A
Da diverfa quantidade dos vários faes de ufo

medicinal ,
que fe dijfolve nhwna dada
.
quantidade de agua ,
fendo o . calor da
atmosfera de 50 grãos do Thermometro de
Farenheit ,
conforme as obferva coes de SPF
.
ELMANN.

Huma onça de agua deílillada ,


e puriíli-
ma ,
diífolve

De Terra foliada de Tartaro grãos 4 70.


Sal d’ Epfom ------ ,

324.
— de Tartaro, ou Alcali vegetal 240*
Tartaro tartarizado, ou foluvel - 212,
Dd ii De
(
111 )

De Vitriolo dc Zinco ou branco gr. 210.

Sal -------
gcmma
, ,

200.
— Ammoniaco ----- 176.
— Comraum ------ 170.
. — De -----
Glauber 168.
,í. —
>
DigciHvo de Sylvio - - - 160.

— De -137.
Seignette - - - -

Vitriolo azul, pu de cobre - - 124.


r verde, ou de ferro- - 80,
Nitro purificado ----- (,o„

Sal polychrefto ----- 40,


Tartaro vitriolado - - - - 30.
Mercúrio fublimado corroíivo - 30.
Borax, ou Trincai 20.
Pedra ahume - -- -- - 14,
Sal volátil de Alambre - - - y,
Tartaro crú ------ 4.
Cremor de Tartaro - - - - 3.

N. B. que havendo miítura de alguns faes


com outros fe facilitao as diífoluçóes dei
,
-

les, como v.g. o cremor de Tartaro como


Borax ,
e o Mercúrio fublimado corroíivo
com o fal ammoniaco ,
&c. dillòlvendo-fe
então quantidades, que parecem enormes
(
21 3 )

relativamente no liquido ,
e ás quantida-

des ,
que antes da miílura nelle fe diíTol-

viao.
T A B O A
Das afinidades das diferentes fnbftancias , fe-
gundo LEWIS
N. B. A fubftancia, que ferve de titulo a cada hum
dos artigos efcrito em letra grifa ,
tem maior affinida-

de com a fubftancia ,
que lhe fica immediata ; menor
com a fcgunda ;
e affim cada vez menor á proporção
da diftancia , cm que fica cada huma dcftas.

Todas as vezes ,
que fe achão unidas duas fub-
ftancias ,
fe fe ajunta terceira fubftancia ,
que tenha
maior affinidade com huma delias ,
une-fe com ella ,

e fe faz nova combinação pela decompoíição das duas


primeiras. Por efta lei
,
que he fundamental para mui-
tas operações Pharmaceuticas ,
fe houver, por exem-
plo ,
cobre diífolvido cm acido marinho , e fe ajuntarem

a efta diflblução faes alcalinos fixos , ou terras calca-

reas ,
ou alguma das outras fubftancias ,
que na Lifta
tem primeiro lugar , do que o ferro , efta fe combi-
nará com o acido, largando elle o ferro e refultará ;

daqui huma nova combinação , que igualmehte fe po-


derá decompor pela addição de nova fubftancia
,
que
tenha maior affinidade com huma , das que formão a
nova combinação.

I. signa*
. '

( 114 )

I. Agua.
Sal alcalino fixo.

Efpirito infiammavel.
II. Agtuu
Efpirito infiammavel.
Sal alcalino volátil.
III. Agita.

Efpirito infiammavel.
Vários compoflos falinos.

*
IV. Efpirito ittjlammaveL
*/
.•

Agua. .

Oleos, e Refinas.
V. Acido
-
Vitriolico

O principio infiammavel.

Saes alcalinos fixos.

Terras calcareas calcinadas.


Saes alcalinos voláteis.
Terras calcareas nao calcinadas.
Zinco ,
e Ferro.

Cobre.
Prata.
VI. Acido Nitrofo.
Principio infiammavel.
Saes alcalinos fixos.
( )

Terras calcareas calcinadas.


Saes alcalinos voláteis.
Terras calcareas fiao calcinadas.

Zinco.
Ferro.
Cobre.
Chumbo.
Mercúrio.
Prata.

Alcanfôr.
VIL Acido marinho.
Saes alcalinos fixos.

Terras calcareas calcinadas.


Saes alcalinos voláteis.
Terras calcareas nao calcinadas.
Zinco.
Ferro.
Eftanho.
Régulo de Antimonio.
Cobre.
Chumbo.
Prata.

Mercúrio.
)

VIII. Acido de Vinagre .

Ferro.
Cobre.
IX. Soes alcalinos .

Acido Vitriolico.
Nitro fo.
Marinho.
Vinagre.
Tartaro crú.

Oleos ,
e Enxofre.

X. Terras foluveis.

Acido Vitriolico.

Marinho.
Nitrofo.
XI. Principio 'inflammavel.
Acido Nitrofo.
Vitriolico.

Subftancias metallicas.
Saes alcalinos fixos.

XII. Enxofre .
Sal alcalino fixo, e a Cal.
Ferro.
Cobre.
Chumbo.
( *17 )

Prata.

Régulo de Antimonio.
Azougue.
Arfenico.
XIII. Ouro.
Ether.
Ácidos.
XIV. Azougue.
Acido Marinho.
Vitriolico.

Nitrofo.
XV. Chumbo .

Acido Vitriolico.

Marinho.
Nitrofo.
Vinagre.
Olcos.
XVI. Prata .

Acido Marinho.
Vitriolico.

Nitrofo.
XVII. Cobre.

Acido Vitriolico.

Marinho.
Tom. I. Ee Aci-

#
(
“8 .
)

Acido Nitroíb.
XVIII. Ferro.

Acido Vitriolico.

Marinho.

Nitro fo.
XIX. Régulo cVAntimcnio.

Acido Vitriolico.

Nitrofo.
Marinho.

LISTA
Das abbreviatiiras ,
e carafteres Cbymicos.

Açafrão de Ferro, ou de Marte - C qx


de Cobre ou de Venus - GMf
Acido em geral ------
,

F-IS.
Marinho -----
Nitrofo • - +0.N.0'
- - - -

Vegetal ------ >x<

Vitriolico - - - -

Agua - -- -- -- --
——*
ardente ------- ^
de chuva ------ \P
de fonte ----- S/Font.
( )

Agua forte -------- VA


regia -------
Alambique ------- 'W'
Alcali - - -
W-ft
Alcohol de vinho
i i
----- /WW
Amalgamar - - - - - - - aaa
Antimonio - -- -- -- - g
Ar - ----- A
Areia - -- -- -- -- -- • • •

Arfenico - -- -- -- -• oo§
Azougue, veja-fe Mercúrio.
Banho de areia - - - -

de Maria ----- BM
de Vapor ------
Borax . ou Trincai - - - -

Bifmutho - -- -- -- - W
Cadinho - -------
-

Cal em geral - -- -- -- C
— metailica - -- -- CM -

— ---------Sp
viva
Caput mortuum ------ ç*)

Caranguejos -------
Chumbo ou Saturno ^
Cinnabre
,

------- ê*IÉ-3S
Ee ii Cin-
.

(
220 )

------ vQ
Cinzas clavelladas - -

Cobre ,
7
ou Venus ~T“

Corno de veado - - - - - CC
queimado - - CCV
Cucurbita - -- -- -- Z\.cc
Deílillar -------
Dia ---------- cT
Dia , -------
e noite Cfo
Enxofre -- -- --
- -

Efpirito ------- _r\_. Sp.


------
de vinho -^r

alcoholizado - -

re£iificado - -

Eftanho, ou Júpiter ----- 2jl

Eftrado fobre eíirado - SSS - - -

Ferro, ou Marte ------ tf


Figado de enxofre -----
Fixo - ,

"y
Flores - -- -- -- -- PL
Fogo --------- A
de reverberio ©.ZR - - - -

Garrafa ------ -- ^ -
Goma --------- G
Herva - -- -- -- - _Hb
Ho-
(
MI )

Hora ----- X
Júpiter, veja-fe Eílanho.
Kobalto - -- -- -- - K
Magnefia - - -

-
-

-
------ T M
Maffa de pirolas M?
Marte, veja-fe Ferro.

Mercúrio - - - - «
precipitado - --

íublimado ^.y=o=
Mez - - '
- - - -
'

0
Nitro ----- ©
Noite ----.- - '
P
Numero - - - - - - - - N.°
Oleo ----- o°o
Ourina - - - - - - - - CD
Ouro, ou Sol - - - - - - - O
Ouropimente - - - - - - o=o.^f
Pedra ahume - - - _ _ - - o
Por deliquio - - - - - - - p. d.
Phlogifto - - - - - - c^b
Prata, ou Lua - -
l-D
Preparado _ _ -

Pò ----- $£
Quanto baile - - - ;
! - - - - q. b.

Quan-
(
222 )

Quantum lubet - - - - - q.r.


-
— placet - - - i i i
JO • •

vis - - - - - - - - q. v.

Régulo - - - - - - - - -

— de Antimonio eílrellado -

- - -
Eílrellado - XX
Retortas ----- - - - o^>
Sabao - - - - - - -

Sal em geral - - - -
o
— Alcali, veja-fe Alcali.
— Awvmoniaco - - - ----- |
— Fixo - - - - - 0^
— Gema -----
-
8
— Sedaíivo - - - - - - - ss
- Volátil ----- Ov0v//e
Saturno ,
veja-fe Chumbo.
Sem vinho - - - - - - - - SV
Signatura ----- - - - - s
Sol ,
veja-fe Ouro.
Subílancia metallica - - - - - SM
Sublimar ~ - - - - -

Talco ------ X
Tartaro ^ - - - ^
Terra - - - - - - ~ - A
Ter-
'

( )

Terra argillacea ------


calcarea ------
de Geço ------ °^7°

de pederneira ,
ou vitrifcivel ^e
Tintura - -- -- -- -

Tutia ---------
Venus ?
veja-fe Cobre.
Verdete - -- -- -- - fp
Vidro - -- -- -- -
Vinagre - -- -- -- -

deíhllado - - - - -

Vinho --------- V.
Vitriolo - -- -- -- - ©v
azul
de Cobre
de Venus
de Ferro
de Marte ©x/cT
V erde
Branco
dH/X
de Zinco > >

Volátil 'O.Jl
Zinco X%>
,

(
22 4 )

ÍNDICE
Do que fe contém no Primeiro Tomo
ou nos Elementos de Pharmacia.

C Onhecimentos preliminares.
objeflo ,
e fins da Pharmacia. Pag.
Definição

-
i.
,

Vafios ?
e infirmientos Pharmaceuticos. 3 .

Pezos e Medidas e feus finaes. - - 7.


j ,

PRIMEIRA PARTE.
Da Eleição ,
Colheita ,
Repoíiçao ,
e Du-
ração dos Simplices,

Cap. Unico. Regras geraes relativas d col-

lecçao ,
e arrecadação dos Simplices* 1 2.

SEGUNDA PARTE.
Das Preparações Pharmaceuticas.

Cap. I. Da Pulverização y
e Pos compofios

Ojficinaes. - -- -- -- - 23 .
Cap. II. Da Efprefsão ,
Cumos , e Óleos efi-

premidos. - -- -- -- - 31 .

Cap.
1 ,.

( i2jr ) .

Cap. III. Da Depuração ,


0« Purificação

das fubjlancias liquidas ?


e fuas diferentes
efpecies. - -- -- -- - 39.
Cap. IV. Da Evaporação ,
(fumos efpejjbs y

ou condenfadas £ Polpas. - - - 44.


,

Cap. Y. Da DiJJoluçao dos corpos por diver-

fos menjlruos y
e das operaçoes a efta fubfi-

diarias. - -- -- -- - 46.
Cap. VI. Z>tz Cryflallização ? £ dos Saes. 5 4.
Cap. VIL Da Precipitação. - - - 57.
Cap. VIII. Da Extracção ?
diverfas

efpecies de extracios. - - - - 58.


SECÇÃO I. -ZAíx Infusões
}
e fuas diverfas
efpecies. - -- -- -- - 60.
ARTIGO I. Infusões dos vegetaes em agua. 6 1

ARTIGO II. Infusões em vinagre íw


grej medicinaes. ------ ,

66.
ARTIGO III. Infusões feitas em vinho ,
ou
Vinhos medicinaes. - - - - - 6j.
ARTIGO IV. Infusões em azeite
,
ou Oleos
por infusão. - - - - - -
*—
_ yQ .

SECÇÃO II. Dos Cozimentos. - - 71.


SECÇÃO III. Das Tinturas ,
EJfencias
Elixires ,
Balfamos cheirofos líquidos. 78.
Tom. I. Ff SEC-
.

(
I2Í )

SECÇÃO IV. Dos Extra fios fo lidos.


ARTIGO I. Dos Extra fios aquofos ?
ou go-

mofos ,
miicilaginofos y
e geleias dos ani-

maes. - -- -- -- -- 8 r.

ARTIGO II. Dos Extra fios efpiritttofos ,


ou

rejlnofos. - -- -- -- - 90.
ARTIGO III. Dos Extrafios aqueo-efpirituo -
'

fos ou gomofo-refinofos. - - - 91.
,

Cap. IX. Da Deflillaçao. - - - 92.


ARTIGO I. Das Aguas dejlilladas fmplices
e compojlas. ------- 94.
y

ARTIGO II. Dos Efpiritos inflammaveis ? £


cheirofos tirados por dejlillaçao. - 100.
ARTIGO III. Das Aguas dejlilladas efpiri-

tuofas. - -- -- -- - 104.
ARTIGO IV. Dos Óleos cffenciaes deflilla-

dos. - -- -- -- -- 107.
ARTIGO V. Dos EJpiritos ,
Saes alcali-,

nos voláteis ,
e ^ combinação dejles com os

Efpiritos inflammaveis ,
Oto ejfenciaes ,
5

por meio da deflillaçao. - - 122.


refinas

ARTIGO VI. Dos Oleos empyreumaticos def-

tillados. - - - - - - - -127..
ARTIGO VIL Dos Efpiritos ácidos. 1 3 1

4R--
.

(
I2 7 )

ARTIGO VIII. Dos Efpirilos ácidos adoça-

dos. ------- - - 13 3.

Cap. X. Dj Sublimação. - - - 136.


Cap. XI. Da Calcinação. - - - 130.
Gap. XII. JTz Fusão j e Vitrifcação. 143.

TERCEIRA PARTE.
Da Miílura ou Compoíição dos medica-
mentos.
,

------- - 144.
Cap. I. Dos Sabões. - - - - - 146.
Cap. II. Das Efpecies. - - - - i^o..

Cap. III. .D# Xarope ,


M?/ ,
<? Oxymel ,
£

Looch. - - - - - - - - 5 1.
1

Cap. IV. Da Emulsão - - - - 1 60,

Cap. V. Das Mijluras. - - - - 164.


Cap. VI. Das Confervas. - ~ - 1 66.
Cap. VIL. Do Eleãitario ,
e fuas efpecies.

17 1,
Cap. VIII. Das Eilulas. - 180.
Cap. IX. Dos Trocifcos, - 1 8 d.

Cap. X. Da Cataplafina. - 190.


Cap. XI. Do Linimento, -

Cap. XII. Do Unguento. ~ 197 -

Cap. XIII. Do Emplafro. - 203..

TA-
1

TABOA da diverfa quantidade dos vários facs


de ufo medicinal ,
que fe dijjòlve ríhuma
dada quantidade de agua ,
fendo o calor da
atmosfera de 50 grdos do Thermometro de
Farenheit ;
conforme as obfervaçoes de Spi~

elmann. - - - - - - - - 21 .

TABOA das afinidades das diferentes fubf an-


das y fegundo Levjis. - - - - 213 .

LISTA das abbreviaturas ,


e caraílcres Chy-
micos. - - - - - - - - 218 .
\

o ‘
' V.

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