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O VALOR DA MARCENARIA
Como são raríssimos os móveis, até mesmo os mais baratos que, ao lado da
utilidade, não apresentam alguma coisa de supérfluo, conclui-se que, contrário do que
dizem alguns, a marcenaria é arte, e arte útil e bela. Quando se considera a
ebanistaria, não se sabe por que mais se deve admirá-la, se pela estética que
emociona e deslumbra, se pela utilidade que tanto conforto proporciona. Os atributos
da ebanistaria são tantos e tão claros que, para apreciá-los, basta encarar essa arte,
em sucinta exposição, debaixo de seus principais pontos de vista, a saber:
Histórico
A história da arte mobiliária teve início quatro ou cinco mil anos A.C., com a
fundação da cidade de Mênfis. Começando, nas margens do Nio, por estilizar as flores
e as folhas do lodão da flora faraônica, atingiu logo tal fausto que, desde aquelas eras
até os dias presentes, tem-se medido o grau de civifização dos povos, não só pelos
edifïcios suntuosos, pela escultura ou pela literatura, como, também, pela história dos
móveis artísticos e milenares.
Milenares, porque, quando confeccionados com cola de muita resistência e
madeiras quase incorruptíveis, tais como o boço, o cedro do Líbano, o cipreste, a
oliveira, os jacarandás, as caviúnas, etc., desdenham, conservados nos palácios ou nos
museus, da ação destruidora dos séculos.
Arquitetônico
A marcenaria é a arquitetura lígnea, como se diz em italiano, pelo que os
conhecimentos do Vignola são tão necessários aos desenhistas de móveis quanto ao
arquiteto. A arquitetura, P. Mantegazza, foi a primeira arte criada pelos homens. como
não se concebe um edifício sem móveis, conclui-se que essas artes andaram sempre
de mãos dadas, inspirando-se mutuamente evoluindomesmo tempo, porquanto não
se harmoniza uma casa de determinado estilo com mobílias de estilo diverso.
Estético
O ebanista se preocupa tanto com a estética, que não raro a beleza do móvel
de luxo sobrepuja a dos palácios, já pelos efeitos naturais da madeira, já pelo verniz, já
pela preciosidade e variedade da matéria-prima, pela delicadeza do todo, como dos
detalhes. Nas grandes exposições em que figuram muitas artes, são os móveis que
mais maravilham e que despertam com mais intensidade o desejo de posse. Os móveis
expostos à vista são, para todos, o paraíso dos olhos e o sonho do coração, porquanto,
no lar, constituem o bem-estar e o conforto da família.
Utilitário
Sob o ponto de vista utilitário, a arte da marcenaria é incomparável. Além da
ordem que por ela se obtém numa casa, por si só decora o ambiente.
Estilístico
A fonte criadora, na ordem decorativa da marcenaria, é inexaurível. Para a sua
evolução estilística lança mão dos assuntos da, natureza e da fantasia do artista. E com
esses elementos, plasmados com engenho e arte, e mediante o concurso de suas
constantes novidades, surpreende e emociona.
Educacional
Como prova do seu valor educativo, basta lembrar que, há poucos anos, os
congressos americano e argentino acharam a arte da madeira a mais educacional de
todas. Efetivamente, ela ensina o rigor das superfícies planas e curvas, as medidas de
precisão, a economia, etc.
Enquanto muitos artífices de outras artes ficam de braços cruzados, olhando as
máquinas de que se utilizam, ebanista maneja todas suas ferramentas, num exercício
saudável, para confeccionar e aperfeiçoar seus trabalhos de feitura artística.
O marceneiro vai buscar na pilha as tábuas em bruto com que faz o móvel, que
não raro agrada pela riqueza de suas linhas, ou maravilha pelo rigor de seu
acabamento beleza das madeiras finas, ao passo que operários de outros ofícios
recebem, apenas para montar, as peças quase prontas das seções correlativas.
Saudável
Os mesmos congressistas americanos argentinos, se conhecessem a fundo a
arte da madeira, teriam acrescentado que, também neste particular, nenhuma outra
lhe leva a palma. No exercício da marcenaria nenhuma das posições de trabalho força
o artífice a ficar em atitude prejudicial ao seu físico. Pelo contrário, todas desenvolvem
e robustecem o indivíduo. O pó inalado das madeiras é tido por muitos médicos como
medicinal. Efetivamente, nunca se soube que um marceneiro viesse a sofrer dos
pulmões.
Lucrativo
Haverá, porventura, outra arte que sobrepuje em rendimento a do mobiliário?
Por certo que não, pois são contadas aos milhões as pessoas que vivem dessa arte.
Bastaria a simples estatística da venda de móveis de um só dia, em todo mundo, para
nos persuadir do quanto é fabulosa a sua fonte de renda.
A marcenaria, num certame como aquele que se realizou em abril de 1936, na
Água Branca (São Paulo), poderia apresentar uma mobília estética e útil de cada um
dos setenta e tantos estilos conhecidos, clássicos e modernos, proporcionando aos
olhos sequiosos do belo um espetáculo maravilhoso.
Será, talvez, por todos esses atributos que a marcenaria é a arte predileta de
muitos médicos, advogados e engenheiros, que a adotam como exercício e distração,
nas suas horas de lazer.