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Fevereiro 2, 2019
3. Mas, neste SÁBADO INICIAL, Jesus NÃO FAZ nada de semelhante àquilo que fará nos
outros SÁBADOS. Este SÁBADO INICIAL reclama aquele SÁBADO FINAL em que Jesus
também NADA FAZ: passá-lo-á inteiramente deitado no sepulcro! E a própria Paixão é
exatamente o contrário de uma manifestação de poder: é antes passividade e impotência de
Jesus! Ele, que tinha salvado outros, não se salvará a si mesmo! Mas neste SÁBADO INICIAL
Jesus continua também a não dizer nada de novo. Cita dois provérbios: «Médico, cura-te a ti
mesmo» e «nenhum profeta é bem aceite na sua pátria», sendo que os provérbios são
património de todos e de ninguém. Reclama depois a obra de dois Profetas antigos, Elias e
Eliseu, para mostrar que também eles NADA FIZERAM para as gentes da SUA PÁTRIA: Elias
sai da sua pátria para socorrer uma viúva de Sídon, e Eliseu cura o sírio Naamã, um
estrangeiro que o vem procurar na sua pátria. Também Jesus saltará fronteiras e atenderá
estrangeiros. Bem ao contrário, Israel e as gentes de Nazaré: cegos, não acolheram a
ESCRITURA de ontem como Palavra para eles «HOJE», do mesmo modo que no FILHO DE
JOSÉ não souberam ver o Profeta, aquele que, como a Escritura, traz a Palavra. Quebram
dessa maneira o laço de união entre o FILHO e a PÁTRIA, terra dos pais. E para vincar
melhor a rejeição desta herança que é o seu FILHO, expulsam-no para fora da cidade. Pior
ainda, tramam a sua morte: matando o FILHO, renegam a própria paternidade, perdendo
assim a sua própria identidade. Perdendo-se, portanto. Da admiração inicial à rejeição final.
4. Não surpreende, portanto, que esta herança, rejeitada pela própria família, seja
distribuída a outros, aos de fora. Este SÁBADO INICIAL contém em gérmen todos os
elementos que o relato do Evangelho vai mostrar: desde logo o SÁBADO FINAL, mas
também este FILHO DA ESCRITURA, que abre e lê abundantemente a Escritura aos nossos
olhos para que ela se cumpra como Palavra nos nossos ouvidos, tornando-nos FILHOS DA
PALAVRA. A oposição dos habitantes de Nazaré não foi suficiente para travar a história de
Jesus, como também não o conseguiram fazer aqueles que o crucificaram e o continuam a
crucificar ainda HOJE, pois Ele continua HOJE a passar pelo meio de nós. Resta saber que
atitude assumimos nós HOJE. Retê-lo não é possível. Só podemos segui-lo!
5. A citação dos provérbios não é inocente. Mostra Jesus como PROFETA. De facto, ao citar o
provérbio «Médico, cura-te a ti mesmo», Jesus está a dizer o que ainda não foi dito, mas
será dito no cenário da Paixão: «Salvou os outros, que se salve a si mesmo!» (Lucas 23,35),
dirá o povo; «Salva-te a ti mesmo!» (Lucas 23,37), dizem os soldados. E ao dizer:
«Nenhum Profeta é bem recebido na sua pátria», Jesus está a apresentar-se como Profeta
verdadeiro. Na verdade, a perseguição começará logo ali e será uma constante ao longo do
seu caminho. A Palavra profética faz o caminho, e não é o caminho que faz a Palavra! É esse
caminho profético que Ele faz e segue, passando pelo meio deles. Esta Palavra que acontece,
a d’Ele, a minha e a tua, faz a história e julga a história. Ao contrário do que facilmente
dizemos, porque não pensamos, não é a história que nos julga. Somos nós que julgamos a
história.
7. A amendoeira é uma das poucas árvores que floresce em pleno inverno. Jeremias vê bem,
de forma penetrante que, na invernia da sua difícil missão, nasce já a flor da esperança, que
é sempre a última palavra de Deus. E é essa flor-palavra, palavra em flor, que o Profeta vê-
ouve-diz sempre, mesmo no meio da tempestade! Na verdade, Jeremias atravessa o período
mais negro da história do seu país (Judá). Assiste às duas entradas arrasadoras do babilónio
Nabucodonosor em Jerusalém, em 597 e 587 a. C. Os olhos de Jeremias veem a destruição,
o sangue, a morte, a destruição do Templo, a deportação do rei, a que foram vazados os
olhos, depois de ser obrigado a assistir à morte dos seus filhos. Os olhos de Jeremias veem
sangue, ruína, morte, devastação, deportação, enfim, o fim do seu país. Não obstante tudo
isto, Jeremias não fica com os olhos presos no sangue e na lama, e vê já mais além, vê um
ramo de amendoeira, a flor da esperança, que anuncia já um tempo novo, bom e belo. Ainda
hoje, à entrada de Anatôt, terra natal de Jeremias, se pode ver uma grande e velha
amendoeira! Extraordinária lição e desafio para nós que estamos ainda com os olhos turvos
pelas atrocidades, perseguições e acentuado desprezo pela vida humana que se vai vendo
por este mundo fora.
9. Temos hoje a graça de poder saborear um bocadinho do Salmo 71, que é o único Salmo
declaradamente posto na boca de um idoso. E aí, o velho orante não se lamenta nem tão-
pouco faz apelo a qualquer sobrevivência depois da morte, mas implora simplesmente: «Não
me rejeites no tempo da velhice,/ não me abandones quando o meu vigor desvanece» (vv. 9
e 18). Amando apaixonadamente esta vida, e vivendo-a com o intenso gosto de viver que
Deus lhe incutiu no coração, ao homem bíblico não lhe sobra tempo para sonhos fáceis de
imortalidade – o desejo da imortalidade é completamente estranho à alma ou à substância
da antropologia bíblica – ou lúgubres meditações sobre a morte. O Antigo Testamento sabe e
sente que a vida humana tem medida. Não a medida da inveja, como se vê nos mitos assiro-
babilónicos, mas a medida do amor. E isso basta. E isso nos basta.
E vem expor-te
E a ternura
No nosso coração.
António Couto