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(2007/Cespe – TCU – Analista) Discorra de forma breve sobre as origens do

Estado Federal e aponte suas características básicas, explicando cada uma delas.
Extensão máxima: 20 linhas.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A origem do Estado Federal remonta à Convenção da Filadélfia, quando, em 1787,
os Estados resultantes da independência das 13 antigas colônias inglesas
decidiram abrir mão de parcela de sua soberania e constituir um novo Estado
Soberano.
No mesmo ano, com a promulgação da Constituição dos Estados Unidos da
América, foi criado o primeiro Estado Federal, alegando-se a necessidade de as
ex-colônias se unirem visando à consecução de objetivos comuns, como juntar
forças contra ameaças externas e contra os problemas políticos, administrativos
e econômicos internos.
Para que se possa conceituar um Estado como Federal, certas características são
indispensáveis: a existência de efetiva autonomia dos estados-membros,
assegurada por uma Constituição comum; a inexistência de direito de secessão;
e a possibilidade de a União utilizar-se do instituto da intervenção nos Estados,
quando circunstâncias desagregadoras comprometerem a sobrevivência da
Federação. A esse rol podem ser adicionadas: a participação das vontades
políticas dos Estados no Governo Federal e a repartição de competências e a de
rendas.
Por fim, o Estado Federal mantém seu prestígio, ainda, por preservar as
particularidades regionais, afinal as características socioculturais dos Estados-
membros são preservadas.

2010/Esaf – MTE – Auditor-Fiscal do Trabalho) O artigo 2.º da Constituição da


República Federativa do Brasil assim dispõe: “São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
A partir do dispositivo constitucional supra, deve o candidato discorrer sobre o
tema INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE OS PODERES, abordando
obrigatoriamente os seguintes tópicos:
a) harmonia entre os poderes – divisão de funções entre os órgãos de poder –
princípio da indelegabilidade de funções – absoluta ou relativa?
b) independência entre os poderes – absoluta ou relativa?
c) sistema de freios e contrapesos;
d) exceções ao princípio da divisão dos Poderes – Exemplos
Extensão: de 15 a 30 linhas.

MINHA PROPOSTA DE SOLUÇÃO


A Constituição Federal de 1988 (CF/1988), visando, principalmente, evitar o
arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência
dos Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre
eles as funções estatais.
De acordo com a clássica Tripartição dos Poderes, as funções estatais legislativa,
judicial e executiva deveriam ser distribuídas de forma rígida ou absoluta por
órgãos distintos e independentes, sem a usurpação e abuso de funções,
permitindo-se assim a harmonia entre eles, num típico sistema de freios e
contrapesos, garantidor do princípio da separação dos Poderes.
Apesar de alinhada à doutrina clássica da tripartição de Poderes, a CF/1988
estabelece que não é a exclusividade no exercício das funções o que caracteriza
a independência entre os órgãos do Poder, mas sim a predominância do
interesse, ou seja, a divisão de poderes adotada por nós é relativa. Assim, ao lado
das funções típicas, os Poderes realizam funções atípicas, como a edição de
medidas provisórias pelo Chefe do Executivo, de natureza legislativa, e a licitação
pela Câmara dos Deputados, atribuição administrativa.
Por fim, há, na CF/1988, diversas prerrogativas, imunidades e garantias repartidas
pelos Poderes para o equilíbrio, o controle e a harmonia do Estado democrático,
consagrando a Teoria dos Freios e Contrapesos. São exemplos de controles
recíprocos: a declaração de inconstitucionalidade das leis pelo Judiciário e o
poder de veto de projetos de leis pelo Chefe do Executivo e a fiscalização do
Legislativo sobre os atos do Executivo. Tais controles recíprocos reforçam o
caráter relativo da independência entre os Poderes

(2007/Cespe – Procurador/GO) Considerando que o artigo 1.º da Constituição


Federal dispõe que a República Federativa do Brasil é formada pela união
indissolúvel dos estados e municípios e do Distrito Federal, redija um texto
dissertativo a respeito do Estado Federal, abordando, necessariamente, os
seguintes aspectos:
– conceito de Estado Federal;
– princípios caracterizadores da Federação;
– pressupostos para a existência de um Estado Federal;
– princípios limitadores da autonomia dos estados-membros de uma
Federação.
Extensão máxima: 60 linhas.

COMENTÁRIOS
Certamente, o roteiro é um facilitador, mas também um traidor, pois o candidato,
ao não responder o tópico sugerido, garante ao examinador a margem para
preciosos descontos.
Bom, a banca facilitou nossa missão, pois é suficiente seguir o roteiro sugerido. A
tarefa, agora, é a elaboração do plano ou roteiro do texto. Nossa missão é
escrever sobre o Estado Federal, na seguinte ordem:

Conceito?
Princípios norteadores?
Pressupostos de existência?
Princípios limitadores da autonomia dos estados-membros?

Vejamos uma possível solução.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O conceito de Estado não é fixo no tempo e no espaço. No entanto, alguns de
seus elementos são constantes: o humano (povo), o geográfico (território) e o
político-administrativo (governo soberano). Nesse contexto, podem ser
encontradas diversas formas de Estado, a depender da época, do território ou
das razões históricas, a exemplo do Estado Unitário e do Estado Federal.
Os conceitos de Estado Unitário e Estado Federal são inconfundíveis, pois,
enquanto naquele existe um único centro de poder, responsável por todas as
atribuições políticas, como é o exemplo da França; no Estado Federal, há
diferentes polos de poder, os quais atuam de forma autônoma, como é o caso do
Brasil.
Relativamente ao federalismo, registra-se ser ele um fenômeno moderno, cujas
principais raízes remontam ao século XVIII. Assim, se é verdade que em qualquer
época da história humana encontram-se referências a alianças entre Estados,
deve-se também reconhecer que, para identificar um efetivo Estado Federal, nos
moldes hoje existentes, são exigidas determinadas peculiaridades inexistentes
até 1787, quando então se consolidou a nova forma de Estado: a Federação.
Porém, há certos pressupostos para que se possa, efetivamente, conceituar um
Estado como federal, são eles: existência de efetiva autonomia dos Estados-
membros, assegurada por uma Constituição comum; inexistência de direito de
secessão; previsão de um tribunal habilitado a resolver eventuais conflitos de
competência; e possibilidade de a União utilizar-se do instituto da intervenção
nos Estados, quando circunstâncias desagregadoras comprometerem a
sobrevivência da Federação. A esse rol podem ser adicionadas: a participação das
vontades políticas dos Estados no Governo Federal, a repartição de competências
e a repartição de rendas.
Demais disso, tem-se acrescido ao federalismo a função de garantia da
democracia participativa, com sua multiplicação de círculos de decisões políticas
em que o cidadão fica mais próximo do poder. O Estado Federal mantém seu
prestígio, ainda, por preservar as particularidades regionais, afinal a Federação
mantém as características socioculturais dos Estados-membros, todos
autônomos, nos termos da Constituição.
No entanto, a distribuição de autonomia aos entes federados encontra limites. O
federalismo, em sua origem, reportado como a união de estados federados, põe
freios ao exercício da autonomia dos entes políticos. Podem ser citados os
seguintes exemplos de restrição à autonomia: cumprimento dos princípios
constitucionais sensíveis, sob pena de intervenção federal; não tributação das
rendas, do patrimônio e dos serviços entre os entes federados (a denominada
imunidade recíproca); em conformidade com as normas gerais editadas pela
União; edição das Cartas Estaduais e Leis Orgânicas em conformidade com as
diretrizes gerais previstas na Constituição da República.
Há autores que criticam a existência da Federação, por exemplo, em razão dos
conflitos políticos e jurídicos advindos da coexistência de inúmeras esferas
autônomas, cujos limites de atuação nem sempre estão bem distribuídos
constitucionalmente. Apesar disso, não se pode olvidar que esse tipo de
configuração estatal assegura oportunidades mais amplas de participação no
poder político, pois quem não obtiver ou não quiser a liderança federal poderá
ter acesso aos poderes locais.
Assim, o Federalismo tem sido a forma de Estado mais difundida pelos atuais
Estados Soberanos. Entretanto, para ser considerada a forma mais avançada e
efetiva de descentralização política, devem-se garantir aos Estados-membros
recursos financeiros para o exercício de suas competências.
A última etapa é a revisão. É o momento de verificarmos, em última leitura, se os
quesitos foram respondidos, a contento: há o conceito de Estado Federal? Há os
princípios e pressupostos do Estado Federal? Se a resposta for positiva, parabéns,
os pontos reservados na planilha de correção ser-lhes-ão atribuídos.

(2010/Esaf – AFRFB) Considerando as atribuições inerentes aos ocupantes do


cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil e partindo-se da ideia da
divisão de funções entre os três Poderes do Estado, podendo-se, assim, afirmar,
em sentido amplo, que todo ato praticado no exercício da função administrativa
é ato da Administração, desenvolva, objetivamente, um texto abordando os
seguintes tópicos:
a) produção de efeitos jurídicos do ato administrativo;
b) o “motivo” do ato administrativo e os conceitos jurídicos indeterminados;
c) a convalidação do ato administrativo e seus efeitos.

Extensão: de 15 a 30 linhas.
COMENTÁRIOS
Mais uma questão de Esaf. O enunciado não oferece grandes dificuldades,
solicitando de nós objetivamente uma dissertação sobre atos administrativos,
seus efeitos, elementos e convalidação.
À época, tive acesso às provas de candidatos, logo fica fácil, agora, listar
exatamente o raciocínio da ilustre organizadora. Vamos ao roteiro:

• Produção de efeitos jurídicos;


• Motivo;
• Conceitos jurídicos indeterminados;
• Convalidação e seus efeitos.

Como já dito reiteradas vezes, o planejamento é o ponto máximo da prova


discursiva. Não podemos deixar de mencionar qualquer dos tópicos, a fim de
evitarmos a penalização por omissão de tópico ou desconhecimento total ou
parcial da problemática. A banca não perdoa!
Vamos por partes.

– Efeitos jurídicos
Os atos administrativos produzem efeitos jurídicos imediatos para a
Administração e particulares, em geral. Esses efeitos são os mais diversos, podem
ser, por exemplo: constitutivos, declaratórios, alienativos de direitos e de
obrigações dos administrados ou da própria Administração. A imediata
operacionalidade dos atos é garantida pelo atributo da presunção de
legitimidade, enfim, mesmo atos ilegais, enquanto não extintos do mundo
jurídico, consideram-se legais e eficazes.

– Motivo do ato
O motivo é entendido como sendo o pressuposto de fato, acontecimento no
mundo real – nascimento de filho, por exemplo – e de direito, que fundamenta a
prática do ato, podendo ser vinculado ou discricionário, conforme o caso, por
exemplo, lei que permita licença-maternidade.
O motivo, enquanto elemento de formação dos atos, não se confunde com a
motivação, esta é a formalização dos motivos do ato, ocorrendo prévia ou
concomitantemente à edição do ato.

– Conceitos jurídicos indeterminados


Os livros de Direito Administrativo costumam indicar a existência de três
modalidades de conceitos jurídicos indeterminados: técnicos, empíricos ou de
experiência e de valor. Tais conceitos são estabelecidos pelo legislador, porém,
de forma imprecisa, incerta, fluida, são conceitos dotados de largueza e
ambiguidade, garantindo-se, nesse sentido, ao lado de uma zona de certeza, uma
zona cinzenta ou zona gris – de penumbra, com a existência de conceitos
plurissignificativos, elásticos (leia-se: não exatos, não matemáticos), como, por
exemplo, os requisitos de relevância e urgência presentes para a edição de
medidas provisórias.
Os técnicos, apesar de aparentemente fluidos, não garantem margem de
manobra para os administradores. Por exemplo: o que é um prédio em ruínas?
Caberia a contratação direta ou sem licitação para sua reforma, sob pena da
ocorrência de uma calamidade pública? Perceba a existência de certa imprecisão,
contudo, depois da emissão do laudo técnico pelo setor de engenharia
responsável, restará uma única solução por parte do agente público.
Da mesma forma, os conceitos empíricos ou de experiência – por exemplo: bons
antecedentes e força maior – não oferecem flexibilidade aos gestores públicos.
Diante do caso concreto, haverá uma única solução cabível.
Por fim, os conceitos de valor - por exemplo: interesse público, moralidade
administrativa, relevância e urgência - possibilitam certa margem de
discricionariedade, distintamente dos técnicos e dos empíricos.

– Convalidação
É ato administrativo mediante o qual um ato viciado, com ilegalidade, é corrigido,
mantido no mundo jurídico. Com outras palavras, no lugar de simplesmente
retirar o ato administrativo, mantém-no íntegro, com os devidos arremates.
A convalidação ou sanatória de atos viciados ocorre, entre outros princípios, em
nome da segurança jurídica, e, pela circunstância de dizer respeito a ilegalidades,
é realizada com efeitos retroativos.
A convalidação pode derivar de um ato privativo da Administração, como é mais
comum, ou de um ato do particular afetado pelo provimento viciado (quando
recebe o nome de saneamento, cuidado!). Por exemplo: o particular “X” recebe
a autorização de porte de arma, contudo, o setor responsável da Polícia Federal,
depois de um ano, em organização aos processos de autorização, não acha o
pedido formal do particular. Assim, sabendo que o pedido do particular é
pressuposto legal para a concessão do ato, caberá ao particular a renovação do
pedido, a título de saneamento.
Então, prontos? Mãos à obra! Antes da leitura da proposta de solução, que tal a
tentativa de elaboração da sua própria solução?
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
No Brasil, vigora a tripartição funcional de Poderes: Legislativo, Judiciário e
Executivo, cada qual no desempenho de uma função típica: legislativa, judicante
e administrativa, respectivamente. Todavia, essa tripartição é moderada, pois, ao
lado das funções primordiais, convivem ou podem conviver as atípicas, por
exemplo: todos se sujeitam ao dever de realizar concursos públicos, enfim, todos
administram.
A função administrativa é materializada em atos e fatos da Administração. Entre
esses, destacam-se os atos administrativos, declarações unilaterais do Estado ou
de quem lhe faça as vezes – exemplo das concessionárias de serviços públicos –,
regidos predominantemente pelo Direito Público, sujeitos ao controle judicial e
aptos à produção imediata de efeitos jurídicos.
Tais efeitos jurídicos imediatos podem ser constitutivos, enunciativos e
declaratórios de direitos e de obrigações, atingindo tanto particulares como a
própria Administração. A imediata operacionalidade dos atos é permitida pelo
atributo da presunção de legitimidade, afinal mesmo atos ilegais, enquanto não
retirados do mundo jurídico, consideram-se legais e eficazes.
Os atos administrativos são compostos por elementos, entre os quais, destaca-se
o motivo, entendido como o pressuposto de fato e de direito que fundamenta a
prática dos atos, sendo inconfundível com a motivação – formalização dos
motivos – podendo o motivo do ato ser vinculado ou discricionário, conforme o
caso.
A discricionariedade dos atos pode ser percebida, por exemplo, no uso, pelo
legislador, de conceitos jurídicos indeterminados, aqueles que são estabelecidos
de forma imprecisa, incerta, fluida, sendo dotados de largueza e ambiguidade.
Tais conceitos garantem, ao lado de uma zona de certeza, uma zona cinzenta,
com a existência de conceitos plurissignificativos, elásticos, como, por exemplo,
os requisitos de relevância e urgência presentes para a edição de medidas
provisórias.
A discricionariedade, no entanto, é sempre parcial, não se identificando com a
arbitrariedade, esta importa na ilegalidade dos atos, competindo à Administração
a anulação ou a convalidação, conforme o caso. A anulação é a retirada do ato,
com efeitos retroativos; já, por meio da convalidação – ato privativo da
Administração –, os atos com vícios sanáveis são corrigidos, e mantidos no mundo
jurídico, realizada com efeitos retroativos, desde que não cause prejuízo ao erário
ou a terceiros.
(2004/Cespe – MPE/TO – Promotor de Justiça) Explique, de forma objetiva, em
que consiste o poder de polícia sanitária e analise, em tese, a validade de contrato
administrativo em que tal atividade tenha sido objeto de delegação a empresa
particular.
Extensão máxima: 30 linhas.
COMENTÁRIOS
O problema maior da questão não é sua interpretação, isso porque o enunciado
é direto: explicar, de forma objetiva, em que consiste o poder de polícia sanitária
e a análise da delegação da referida atividade do Estado para particulares. A
dificuldade reside, portanto, na definição de poder de polícia sanitária, afinal não
é tema de conhecimento corrente entre os concursandos.
O poder de polícia do Estado incide em duas áreas de atuação: administrativa e
judiciária. Mais precisamente o poder de polícia administrativa é prerrogativa de
restringir e de condicionar direitos, bens e atividades em prol do interesse público
e da segurança do Estado. Entre as atividades condicionadas pelo Estado para a
segurança da sociedade pode ser destacada a polícia sanitária.
A polícia sanitária constitui atividade típica do Estado, logo indelegável a
particulares, entendimento, inclusive, pacificado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) na ADI 1.717.
Depois do breve “passeio” teórico, que tal passarmos à estruturação da
dissertação, com a sugestão de seis linhas por parágrafo:
1.º Parágrafo (introdução) – o tópico frasal, além de chamariz para o examinador,
serve de preparação para o regular desenvolvimento da dissertação. O candidato
pode expor o conceito de poder de polícia e indicar as duas áreas de atuação, a
judiciária e a administrativa, para concluir que a polícia administrativa, entre
outros tipos, pode atuar no campo sanitário.
2.º Parágrafo (desenvolvimento – definição do poder de polícia sanitária) – depois
de apresentar o conceito de poder de polícia, o candidato definirá em que
consiste a polícia sanitária. Pode ser sinteticamente definida como a prerrogativa
de o Estado eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação
de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
3.º Parágrafo (desenvolvimento – atos indelegáveis a particulares) – o candidato
precisa criar sempre um link entre os parágrafos. Na situação apresentada,
questiona-se sobre a delegação do Poder de Polícia a empresa particular, logo é
recomendável tecer breves comentários sobre atos indelegáveis a particulares,
deixando para o tópico de conclusão o detalhamento do poder de polícia
enquanto atividade indelegável.
4.º Parágrafo (conclusão – empresa particular e exercício do poder de polícia) –
no parágrafo anterior, o candidato mencionou que determinadas atividades do
Estado são indelegáveis. Entre tais atividades, o poder de polícia é exclusivo do
Estado, logo não sendo passível de exercício pela empresa particular. Portanto, o
candidato, além de retomar a definição de polícia sanitária, concluirá que referido
poder não pode ser objeto de delegação a particulares, o que, inclusive, já foi
pacificado pelo STF no julgamento da ADI 1.717.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O poder de polícia é a prerrogativa de o Estado limitar, dentro da lei, o exercício
dos direitos individuais em prol do interesse da coletividade. Essa faculdade a
cargo do Estado, para impor medidas restritivas aos particulares, pode incidir em
duas áreas: na judiciária e na administrativa. Entre as finalidades da polícia
administrativa, destacam-se a de assegurar a tranquilidade, a segurança e a
salubridade em setores diversos de atuação, como: ambiental, comunicação,
edilícia, das profissões, e sanitária.
Entre essas, a polícia sanitária é exercida pelo Estado enquanto legislador, pois
apenas por lei os administrados podem ser limitados, bem como pelo Estado-
administrador, na regulamentação da lei e sua execução. Referido setor do poder
de polícia pode ser conceituado, sinteticamente, como o conjunto de normas e
de providências específicas, em face de situações de perigo atual ou futuro, que
prejudiquem ou simplesmente ameacem lesar a saúde e a segurança dos
indivíduos. Para o seu exercício há discricionariedade na escolha e imposição das
limitações de higiene e segurança, em defesa da população.
Relativamente à delegação das funções estatais, cumpre registrar que não há
óbice jurídico do desenvolvimento de determinadas tarefas de titularidade do
Estado por particulares, como é o caso da delegação da prestação de serviços
públicos a concessionárias e a permissionárias, nos termos do art. 175 da
CF/1988. Contudo, certas atribuições são indelegáveis, porque exclusivas,
exemplo da atividade jurisdicional, da regulação e, também, do poder de polícia,
haja vista, nesses casos, a presença do poder de império, nota peculiar
inexistente nas relações travadas entre particulares.
Em conclusão, sabendo que determinadas atividades são exclusivas do Estado,
caso do poder de polícia, o exercício da polícia sanitária não pode ser delegado
às empresas particulares. Esse entendimento, inclusive, foi pacificado pelo
Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 1.717, oportunidade em que se
concluiu que os Conselhos Profissionais, autarquias “sui generis”, por praticarem
atos de polícia administrativa, não podem ter outra natureza jurídica que não seja
a de Direito Público.

(2010/Esaf – MTE – Auditor-Fiscal do Trabalho) O artigo 2.º da Constituição da


República Federativa do Brasil assim dispõe: “São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
A partir do dispositivo constitucional supra, deve o candidato discorrer sobre o
tema INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE OS PODERES, abordando
obrigatoriamente os seguintes tópicos:
a) harmonia entre os poderes – divisão de funções entre os órgãos de poder –
princípio da indelegabilidade de funções – absoluta ou relativa?
b) independência entre os poderes – absoluta ou relativa?
c) sistema de freios e contrapesos;
d) exceções ao princípio da divisão dos Poderes – Exemplos
Extensão: de 15 a 30 linhas.
COMENTÁRIOS
O roteiro foi traçado pela organizadora, o que, de certa forma, facilita no
planejamento da dissertação. Para a presente questão, utilizei-me do livro dos
autores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, bem como o do autor Alexandre
de Moraes. Vejamos uma possível solução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 (CF/1988), visando, principalmente, evitar o
arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência
dos Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre
eles as funções estatais.
De acordo com a clássica Tripartição dos Poderes, as funções estatais legislativa,
judicial e executiva deveriam ser distribuídas de forma rígida ou absoluta por
órgãos distintos e independentes, sem a usurpação e abuso de funções,
permitindo-se assim a harmonia entre eles, num típico sistema de freios e
contrapesos, garantidor do princípio da separação dos Poderes.
Apesar de alinhada à doutrina clássica da tripartição de Poderes, a CF/1988
estabelece que não é a exclusividade no exercício das funções o que caracteriza
a independência entre os órgãos do Poder, mas sim a predominância do
interesse, ou seja, a divisão de poderes adotada por nós é relativa. Assim, ao lado
das funções típicas, os Poderes realizam funções atípicas, como a edição de
medidas provisórias pelo Chefe do Executivo, de natureza legislativa, e a licitação
pela Câmara dos Deputados, atribuição administrativa.
No entanto, no que concerne às atribuições primordiais, o texto constitucional
veda implicitamente a delegação de Poderes, conforme o princípio da separação
de Poderes, no art. 60, § 4º, III, da CF/1988. Contudo, essa indelegabilidade não
é absoluta, isso porque o Presidente da República poderá elaborar a Lei Delegada,
devendo a delegação ser solicitada ao Congresso Nacional, que a outorgará por
resolução, por maioria absoluta, com ou sem reserva de apreciação do projeto
do Executivo.
Por fim, há, na CF/1988, diversas prerrogativas, imunidades e garantias repartidas
pelos Poderes para o equilíbrio, o controle e a harmonia do Estado democrático,
consagrando a Teoria dos Freios e Contrapesos. São exemplos de controles
recíprocos: a declaração de inconstitucionalidade das leis pelo Judiciário e o
poder de veto de projetos de leis pelo Chefe do Executivo e a fiscalização do
Legislativo sobre os atos do Executivo. Tais controles recíprocos reforçam o
caráter relativo da independência entre os Poderes.

(2005/Delegado do DF) São várias as áreas de atuação do Estado, entre elas o


exercício do poder de polícia. Nesse sentido, aponte as diferenças entre a polícia
administrativa e a polícia judiciária.
Extensão máxima: 20 linhas.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos
direitos individuais em prol da sociedade e da segurança do próprio Estado. Essa
prerrogativa que o Estado exerce pode incidir em duas áreas de atuação estatal:
na administrativa e na judiciária, as quais são inconfundíveis entre si quanto à
incidência, à competência, e à natureza.
Quanto à incidência, enquanto a polícia administrativa é regida pelo Direito
Administrativo, incidindo sobre bens, direitos ou atividades, atuante na área dos
ilícitos administrativos; a judiciária, comandada pelo Direito Processual Penal,
recai sobre as pessoas, atuando na área do ilícito penal.
Relativamente à competência, enquanto a administrativa é espalhada por toda a
Administração Pública de Direito Público, haja vista a indelegabilidade a
particulares; a judiciária é privativa de corporações especializadas – na União,
polícia federal; nos Estados, a polícia civil, por exemplo.
Por fim, no que concerne à natureza, enquanto a polícia administrativa é
eminentemente preventiva, atividade negativa, com aplicações de repressão,
exemplo da interdição de estabelecimentos comerciais insalubres; a judiciária é
predominantemente repressiva, com sinais de prevenção ao inibir a prática de
novo ilícito penal pelo infrator.

(2010/Esaf – MTE – Auditor Fiscal do Trabalho) O estudo dos atos


administrativos é elemento fundamental a possibilitar a adequada situação dos
servidores públicos e da própria Administração. A produção de tais atos demanda
uma avaliação de aspectos atinentes à regularidade do ato, bem assim à
conveniência e à oportunidade em sua expedição. Nesse contexto, pergunta-se
uma vez expedidos, existem atos administrativos que não podem ser revogados?
À luz da doutrina e jurisprudência pátrias, justifique sua resposta, indicando:
a) os fundamentos que confirmam a inexistência de atos administrativos
irrevogáveis: ou
b) no caso de resposta afirmativa à pergunta, as hipóteses de irrevogabilidade
de atos administrativos.
Extensão: de 15 a 30 linhas.
COMENTÁRIOS
É uma questão relativamente simples. Caro leitor, responda rápido: qual o ponto
central da redação? Dissertar sobre as formas de desfazimento, anulação e
revogação, conceituando-as e definindo-as? Obviamente, não!
Perceba: depois da afirmação de que os atos administrativos podem ser
controlados quanto à regularidade (detecção de vícios – anulação), e quanto à
conveniência e oportunidade (revogação), a ilustre organizadora restringe o
objeto da prova discursiva ao estudo dos atos irrevogáveis, como se pode notar
a partir da pergunta: existem atos que não podem ser revogados?
Sem perder de vista a interpretação do enunciado, vamos à paragrafação:
1º Parágrafo (introdução) – uma boa dica de “abre-alas” é capturar as ideias
contidas no enunciado da organizadora, utilizando-se, em todo caso, de palavras
próximas e não iguais! O concursando pode esclarecer que a conduta de qualquer
agente público deve se guiar nas normas e princípios, evitando-se a invalidação e
a revogação (o tema), conforme o caso.
2º Parágrafo (desenvolvimento – confirmação da existência dos atos
irrevogáveis) – esclarecimentos gerais sobre a revogação (o tema): conceito
(desfazimento de ato legal e eficaz), fundamento (poder discricionário da
Administração) e efeito (não retroativo). Porém, o concursando não deve
protelar a entrada no tema, de maneira que, depois dos pormenores sobre a
revogação, deve elucidar que há sim atos irrevogáveis, utilizando-se das palavras
da organizadora (confirmando a existência de atos administrativos irrevogáveis)
para facilitar a localização pelo professor corretor.
3º e 4º Parágrafos (desenvolvimento) – informação de que o poder de revogação
não é ilimitado, isso porque há situações jurídicas que a impedem. Os atos são
irrevogáveis pela própria natureza do ato anterior e pelos efeitos produzidos na
ordem jurídica. Suficiente listar exemplos de atos irrevogáveis: atos vinculados,
atos complexos, atos geradores de direito adquirido, entre outros.
5º Parágrafo (conclusão) – é mais do que recomendável que o amigo
concursando retome as ideias e as sintetize.
A seguir, uma possível proposta de solução.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A conduta dos agentes públicos, de qualquer nível da Administração Pública, deve
ser sempre pautada nas normas e princípios constitucionais e legais,
preservando-se a integridade de suas ações, e, por conseguinte, evitando-se a
retirada de seus atos administrativos viciados por anulação, e dos atos
inconvenientes e inoportunos por revogação.
A revogação é a retirada do ato administrativo legal e eficaz, com efeitos não
retroativos, tendo por fundamento o poder discricionário da Administração
Pública, porque lhe é facultada a revisão de sua atividade interna por razões de
mérito, de conveniência e de oportunidade, para adequá-la à realização do
interesse público. Contudo, o poder de revogação não é ilimitado, isso porque há
situações jurídicas que a impedem, confirmando a existência de atos
administrativos irrevogáveis.
Os atos administrativos são irrevogáveis tendo por base a própria natureza do ato
anterior e os efeitos produzidos na ordem jurídica, destacando-se, dentre outros:
os atos exauridos ou consumados, com o fundamento de que o efeito da
revogação é não retroativo, não sendo possível, portanto, a retroação para
alcançar os efeitos passados; os atos vinculados, haja vista a revogação se apoiar
em razões de mérito e em aspectos de conveniência e de oportunidade,
inexistentes nos atos vinculados; e os atos geradores de direitos adquiridos,
conforme previsto na jurisprudência do STF (Súmula 473).
Adicionalmente, a doutrina lista os seguintes atos irrevogáveis: os atos
integrantes de um procedimento administrativo, porque a prática do ato
sucessivo acarreta a preclusão do ato anterior (p. ex.: a celebração de contrato
administrativo impede a revogação do ato de adjudicação); os meros atos
administrativos, como são os atestados, os pareceres e as certidões, porque os
efeitos são prefixados pelo legislador; os atos complexos, porque são formados
pela conjugação de vontades de órgãos diversos, logo, a vontade de um dos
órgãos não pode desfazer o ato que a lei impõe a integração de vontades para a
formação; e, por fim, a revogação não pode ser promovida quando se exauriu a
competência relativamente ao objeto do ato.
Por todo o exposto, conclui-se que os poderes garantidos aos administradores
públicos são limitados, seja quanto à sua regularidade, seja quanto à sua
conveniência e oportunidade, sendo-lhes imposta a autotutela dos atos
administrativos. Porém, mesmo diante de atos inconvenientes e inoportunos, os
servidores públicos podem se deparar com situações de irrevogabilidade,
relativamente à própria natureza do ato anterior ou quanto aos efeitos
produzidos na ordem jurídica.

(2009/FCC – TRE/AM – Analista Judiciário/Administrativa) Discorra sobre o


poder-dever de agir do administrador público, indicando a diferença entre o
poder de agir deste e do particular, e aponte o significado dos deveres de
eficiência e de probidade.
Extensão: até 30 linhas.
COMENTÁRIOS
Esse é um modelo de enunciado direto, porém, pode ser perigoso. A dificuldade
está na realização de uma ótima interpretação e, a partir daí, a escolha das
palavras ideais, porque a organizadora simplesmente não nos oferece roteiro.
Depois da leitura do enunciado, o planejamento da dissertação é fundamental
para a composição da discursiva. O candidato pode interpretar o enunciado a
partir de perguntas, as quais, se respondidas corretamente, oferecerão a prova
subjetiva. Vejamos:

• O que é poder-dever de agir?


• Qual a diferença entre o poder de agir do administrador público e o particular?
• Quais os conceitos de deveres de eficiência e de probidade?

Agora, o problema é agrupar as ideias, é redigir. O que o examinador gostaria de


ouvir? Nesse instante, é aconselhável, antes de pôr a mão na massa, lançar na
folha resumo lembretes sobre o tema. Vejamos:

• Os agentes públicos, quando no desempenho das funções públicas, são


investidos de poderes.
• Os poderes são atributos dos cargos e das funções e não privilégios das pessoas.
• Os poderes administrativos são instrumentos usados para assegurar a
prevalência de um interesse maior, ou seja, do interesse público sobre o interesse
particular, quando estes dois interesses vão de encontro.
• O poder de agir se converte em dever de agir, isso porque os agentes públicos
não podem simplesmente renunciar à competência pública, devem fazer valer o
interesse da coletividade.
• Enquanto no Direito Privado, o direito de agir é uma faculdade; no Direito
Público, é uma imposição. Inclusive, em casos de omissão, o Estado será
responsabilizado civilmente.
• O dever de eficiência exige dos agentes bom rendimento funcional, perfeição e
eficácia.
• A inobservância do dever de eficiência pode gerar a perda do cargo, exemplo
da avaliação periódica de desempenho, nos termos de Lei Complementar.
• O dever de probidade é um aspecto da moralidade que mereceu destaque
expresso no texto constitucional, em seu art. 37, § 4.º.
• Os agentes ímprobos respondem civil, administrativa e penalmente. Entre as
sanções aplicáveis, destacam-se a suspensão dos direitos políticos e a perda da
função pública.

Então, os flashes da matéria não foram importantes? No entanto, a maior


dificuldade dos concursandos continua sendo a montagem da redação, a correta
divisão de parágrafos, o que falar em cada um deles. Obviamente, só com muito
treino os amigos alcançaram um nível ótimo. A seguir, contribuição de como
estruturar a dissertação. Vejamos:

1.º Parágrafo (introdução) – no tópico frasal, o candidato pode esclarecer o


conceito de poderes administrativos, enquanto prerrogativas do cargo e não
privilégios pessoais, observando, ainda, que são estabelecidos em lei e impostos
pela moral administrativa, visando ao atendimento do interesse da coletividade.
É conveniente deixar um link para o parágrafo subsequente. Qual link? Estaremos
falando sobre o quê? Poder-dever de agir e a diferença de alcance entre o público
e o particular. A partir disso, estabeleça o link.

2.º Parágrafo (desenvolvimento) – exposição de breve conceito de poder-dever


de agir. Os agentes públicos não podem deixar de exercitar o poder, afinal a
competência é irrenunciável. Todo aquele que detém o poder tem o dever de
exercitá-lo em prol da coletividade. Para concluir sobre a distinção de alcance
entre os particulares e gestores públicos, enquanto o poder é uma faculdade para
o particular; para os administradores públicos, o poder é um dever, uma
imposição, sob pena de a omissão gerar responsabilidade civil do Estado.
Mais uma vez, o candidato deve atentar para deixar no final da frase palavras que
possam servir de “gancho” para o início do parágrafo subsequente. No caso,
como trataremos de deveres, finalizamos o 2.º Parágrafo com a expressão
deveres, assim o link está criado. Perceberá isso, mais claramente, na proposta
de solução.

3.º Parágrafo (desenvolvimento) – a estratégia para esse parágrafo é simples.


Primeiro, o candidato expõe que os gestores públicos, depois de investidos de
competência, passam a autoridades, com poderes e deveres. Segundo, o
candidato enumera os principais deveres, com os deveres de eficiência e de
probidade.
Ainda nesse parágrafo o candidato pode trabalhar o conceito de dever de
eficiência, entendido como dever de boa administração, elevado a princípio
constitucional, citando suas aplicações, exemplo: avaliação periódica de
desempenho; aquisição de estabilidade depois de avaliação positiva de
desempenho; celebração de contratos de gestão, instituição de escolas de
governo.

4.º Parágrafo (desenvolvimento) – restam os comentários sobre o dever de


probidade. O candidato pode demonstrar que o dever de probidade está ligado
à legitimidade dos atos administrativos, além de legais, os atos devem ser morais
e em atendimento à finalidade pública. Pode, ainda, falar de parte das
consequências da prática de atos de improbidade (art. 37, § 4.º, da CF/1988), da
Lei 8.429/1992 e os tipos de improbidade, da invalidação dos atos pela própria
Administração e pelo Poder Judiciário.

5.º Parágrafo (conclusão) – o candidato pode capturar as principais ideias do


texto e trazê-las para o tópico conclusivo. Atenção: sugiro que não criem uma
ideia nova (a chamada conclusão-avanço), mas, simplesmente, colham as
informações já expostas ao longo da dissertação (chamada de conclusão-
retorno). A seguir, possível proposta.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O Estado, como agrupamento politicamente organizado, não passa de uma ficção
jurídica, criação humana de representação coletiva. Por essa razão, o Estado não
age por si mesmo, precisa da figuração dos agentes públicos. A ordem jurídica a
estes confere prerrogativas diferenciadas, a serem utilizadas para o alcance dos
interesses coletivos. Esse conjunto de prerrogativas de direito público é
reconhecido como Poderes Administrativos.
No entanto, enquanto o princípio da supremacia do interesse público sobre o
privado remete à ideia de poderes, o princípio da indisponibilidade do interesse
público cria verdadeira imposição de deveres e restrições, formando-se,
portanto, o binômio poder-dever de agir. Assim, se para os particulares o
exercício do poder é uma faculdade, o uso da competência para os gestores
públicos é uma obrigação. Dessa forma, em âmbito público, quem detém poder
deve exercitá-lo, sob pena de a omissão acarretar para o Estado responsabilidade
civil.
Portanto, evidente que o exercício da função pública é verdadeiro encargo
público. Afinal, por protegerem interesses de todos, os agentes públicos, de
modo geral, encarregam-se de variados deveres, por exemplo: de obediência, de
prestar contas, de lealdade, de eficiência e de probidade. Entre esses, o dever de
eficiência traduz a ideia da boa administração, de que o agente, além de agir com
rapidez, deve ser perfeito e deter bom rendimento funcional.
Tal dever foi, inclusive, elevado a princípio constitucional (art. 37, “caput”, da
CF/1988), sendo detectado, entre outros momentos, na necessidade de avaliação
periódica de desempenho dos servidores, na avaliação positiva de desempenho
como condição para a aquisição de estabilidade, na instituição de Escolas de
Governo, e na faculdade de celebração de contratos de gestão, neste caso, para
incremento da autonomia financeira, orçamentária e patrimonial dos órgãos e
entidades do Estado.
Por sua vez, o dever de probidade, traduzido no princípio da probidade, tem
previsão expressa no texto constitucional (art. 37, § 4.º, da CF), em que a prática
de atos de improbidade pode acarretar, por exemplo, a perda da função pública
e a suspensão dos direitos políticos. O dever de probidade exige que os atos dos
agentes públicos sejam legítimos, não sendo suficiente o atendimento da lei
formal, mas, sobretudo, a observância da moralidade administrativa e da
finalidade pública.
Por sua importância, o dever de probidade mereceu, ainda, Lei própria, a Lei
8.429/1992, a qual trata dos atos que geram enriquecimento ilícito, dos que
causam prejuízo ao erário, ou ainda daqueles que ferem princípios da
Administração. Tais atos ímprobos podem ser invalidados pela própria
Administração – princípio da autotutela – como, também, pelo Poder Judiciário,
se provocado.
Não há dúvida de que os gestores públicos têm sua conduta funcional traçada em
leis e em regras de moralidade, portanto, os poderes administrativos são
prerrogativas, e não privilégios pessoais, concedidas aos agentes públicos com
objetivo de instrumentalizá-los para o alcance do fim último a que se presta o
Estado: a satisfação do interesse público.
(2008/Cespe – MMA – Administração e Planejamento) A Constituição de 1988
consagrou uma série de princípios e estabeleceu um conjunto de regras atinentes
à relação entre a administração e os servidores. Um dos aspectos mais relevantes
diz respeito à investidura em cargo ou emprego público, seja mediante concurso
público, seja para os chamados cargos em comissão.
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca do ingresso no serviço público a partir dos princípios da
administração. Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
– principais princípios da administração pública na Constituição Federal;
– formas principais de ingresso no serviço público;
– relações entre formas de ingresso e princípios da administração descritos.
Extensão máxima: 60 linhas.
COMENTÁRIOS
De pronto, devemos meditar sobre o que a banca nos solicita. A partir da leitura
e da interpretação do enunciado, desvendamos, facilmente, tratar-se de
dissertação sobre o “ingresso no serviço público”. No entanto, não é suficiente a
simples apresentação do acesso via concurso público aos cargos e aos empregos
públicos, ou ainda sem concurso aos cargos e funções de chefia, de direção e
assessoramento, isso porque a organizadora pede a abordagem dos seguintes
tópicos:

– principais princípios da Administração Pública na Constituição Federal;


– principais formas de ingresso no serviço público;
– relações entre formas de ingresso e princípios da administração descritos.
Sabendo que o planejamento da dissertação foi montado pela organizadora,
vamos a rápidos lembretes teóricos:

• O art. 37, caput, da CF/1988, lista os seguintes princípios expressos:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...).
• Os princípios constitucionais nem sempre são expressos, podem ser implícitos
ou reconhecidos. No art. 37, encontramos outras disposições fundamentais, por
exemplo: concursos públicos (inc. II do art. 37), licitações (inc. XXI do art. 37),
responsabilidade do Estado (§ 6.º do art. 37), probidade administrativa (§ 4.º do
art. 37), e participação popular na Administração (§ 3.º do art. 37).

• A Lei 8.112/1990 (Regime Jurídico dos servidos civis da União) dispõe que (art.
11):

O concurso será de provas ou de provas e títulos, podendo ser realizado em duas


etapas, conforme dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano de
carreira, condicionada a inscrição do candidato ao pagamento do valor fixado no
edital, quando indispensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção
nele expressamente previstas.

• Vejamos o que estabelece o art. 3.º da Lei 8.745/1993:

O recrutamento do pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito
mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive
através do Diário Oficial da União, prescindindo de concurso público.

• O inc. V do art. 37 da CF/1988 estabelece que:

V – as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes


de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores
de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;

Síntese: são preenchidos sem a necessidade de prévio concurso público, não


oferecendo garantia de permanência ao titular no cargo (a estabilidade).
• Aplicação do princípio da impessoalidade pode ser encontrada no inc. II do art.
37. Ao se exigir concurso público para o acesso aos cargos públicos, o legislador
prezou pelo mérito, sem criar discriminações benéficas ou detrimentosas, em
observância ao princípio da isonomia.

• Com base no princípio da eficiência, da moralidade, e em outros fundamentos


constitucionais, o STF, por meio da Súmula Vinculante 13, entendeu que viola a
Constituição a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta,
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante
ou do servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia
ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,
ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta.

Então, vamos à paragrafação?

1.º Parágrafo (introdução) – o candidato, depois de esclarecer o alcance dos


princípios, pode expor que tais postulados não são apenas expressos, mas
também implícitos, fazendo referência ao princípio do concurso público (palavra
de interligação com o parágrafo subsequente).
2.º Parágrafo (desenvolvimento – principais formas de ingresso) – sem perder
de vista o link do parágrafo anterior, o candidato deve listar as formas de acesso
às funções públicas (agentes políticos e auxiliares, quinto constitucional,
membros dos Tribunais de Contas, forças armadas). Ao candidato cabe restringir
a dissertação aos principais acessos: cargos e empregos públicos, contratação
temporária, e cargos comissionados.
3.º Parágrafo (desenvolvimento – principais formas de ingresso – conceituação)
– preparado o terreno no parágrafo anterior, o candidato acha-se apto à
conceituação das principais formas de ingresso.

4.º e 5.º Parágrafos (desenvolvimento-conclusão – relação entre as formas de


ingresso e os princípios – tópico de conclusão) – se o candidato não tiver espaço
suficiente para um tópico específico de conclusão, deve transformar o último
item de desenvolvimento em conclusão, o que chamo, a partir de agora, de
desenvolvimento-conclusão.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 (CF/1988) consagrou capítulo específico para a
Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. De acordo com a CF/1988, todos
devem observância aos princípios expressos da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da publicidade e da eficiência e, também, a outras disposições
fundamentais implícitas, como: a licitação, a responsabilidade civil do Estado e o
princípio do concurso público.
Relativamente ao princípio do concurso público, cabem duas observações
preliminares. A primeira é a de que nem todas as formas de ingresso no serviço
público são precedidas de concurso público, por exemplo: os parlamentares e os
Chefes dos Executivos, porque são eleitos; a contratação temporária de agentes
comunitários de saúde e de combate a endemias, porque são admitidos via
processo seletivo público simplificado. A segunda é a de que, ao lado de formas
principais de acesso – cargos efetivos, empregos públicos, e comissionados –, o
texto constitucional enumera outras formas de ingresso no serviço público:
forças armadas, contratação por necessidade temporária de excepcional
interesse público, quinto constitucional, parlamentares, e Chefia do Executivo.
No tocante às principais formas de acesso ao serviço público, o texto
constitucional é categórico ao exigir a realização prévia de concurso público, de
provas ou de provas e títulos, para cargos efetivos e empregos públicos, de
acordo com a natureza e a complexidade das atribuições, fato que alcança toda
a Administração Pública Direta e Indireta, incluídas, neste último caso, as
empresas governamentais, por exemplo, as sociedades de economia mista,
ficando ressalvada, no entanto, a nomeação em cargos comissionados, assim
entendidos os cargos de chefia, direção e assessoramento, porque são de livre
nomeação e exoneração (“ad nutum”).
Pertinente à relação entre as formas de ingresso e os princípios constitucionais,
registre-se que todos os princípios são aplicáveis, direta ou indiretamente, às
formas de acesso ao serviço público. No entanto, mais diretamente, podem ser
listados os princípios da impessoalidade, da moralidade e da eficiência. A
impessoalidade – na acepção de isonomia–, pois é dever do Estado garantir
tratamento impessoal e isonômico entre os iguais, sem discriminações benéficas
ou detrimentosas. A moralidade, porque os cargos públicos não são prêmios ou
doações, vigorando o sistema de mérito. A eficiência, porque agentes não
admitidos por seletos concursos públicos geram a imperfeição, a lentidão e o
baixo rendimento funcional no serviço público.
Por fim, alguns desses princípios podem ser aplicados, igualmente, quando do
acesso aos cargos comissionados. Nesse sentido, com base nos princípios da
eficiência, da moralidade, da igualdade e da impessoalidade, o STF, por meio da
Súmula Vinculante 13, vedou a prática de nepotismo direto e cruzado, por
entender que viola a Constituição a nomeação de certas pessoas para os cargos
comissionados na Administração Pública direta e indireta, em face do grau de
parentesco.

(2010/Esaf – AFRB – Auditor Fiscal) A seguinte afirmativa está repleta de erros


conceituais. Identifique-os, fundamentando sua argumentação:
“Pelo fato de integrar, nos termos do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado, o chamado Núcleo Estratégico, a fiscalização tributária se reveste de um
caráter eminentemente burocrático. Por conseguinte, seu processo de
modernização deve ser refratário à incorporação de novas técnicas gerenciais,
limitando-se ao desenvolvimento de ferramentas de acesso aos dados fiscais do
contribuinte, a exemplo do que ocorre, há mais de uma década, com a declaração
do imposto de renda via internet.”

COMENTÁRIOS
A questão encontra-se na parte de organização administrativa, trata, mais
precisamente, sobre a Reforma do Aparelho do Estado. Não há grandes
problemas na interpretação, pois a organizadora solicita, tão somente, a
identificação de erros e sua respectiva argumentação. A problemática, no dia de
prova, foi identificar quais os diversos erros conceituais no texto sugerido.
Segundo o parecer da Esaf (pós-recursos), a questão teve por objetivo a
identificação fundamentada, com base no PDRAE, dos seguintes erros
conceituais:

(I) a fiscalização tributária integra o grupo das Atividades Exclusivas do Estado;

(II) seu caráter deve ser gerencial;

(III) o processo de modernização não deve ser refratário à incorporação de novas


técnicas gerenciais; e
(IV) o processo de modernização deve atender à necessidade dos contribuintes,
provendo eficiência e eficácia.

Para a organizadora, foram penalizados os textos que:

(I) não identificaram os erros de forma objetiva (erro X, erro Y,...);

(II) não fundamentaram a argumentação (isso é assim por causa daquilo);

(III) discorreram, no todo ou na maior parte, sobre o PDRAE (buscava-se o


raciocínio e não a decoreba);

(IV) discorreram sobre história das reformas administrativas, economia política,


história política do país ou sobre tudo o mais usado à guisa de preenchimento de
linhas, na falta de domínio sobre o tema proposto.

Vejamos, a seguir, exemplo de redação de conteúdo máximo:

– Conforme o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), a


fiscalização tributária compõe as chamadas Atividades Exclusivas do Estado e não
o Núcleo Estratégico. Desta forma, a atividade de fiscalização tributária, apesar
de não apresentar um caráter absolutamente gerencial, não se reveste de um
caráter eminentemente burocrático, como dito pela afirmativa.

– As Atividades Exclusivas do Estado, segundo o PDRAE, são receptivas às


diretrizes do modelo gerencial, o que torna seu processo de modernização
favorável à incorporação de novas técnicas gerenciais, como, por exemplo, o
planejamento estratégico e o “Balanced ScoreCard” (BSC). Assim, não se pode
falar que esse processo seja refratário à incorporação das novas técnicas
gerenciais.
– Adicionalmente, as Atividades Exclusivas do Estado, ao incorporarem as ideias
do modelo gerencial, tornando-se menos burocrática, começam a priorizar o
controle nos resultados e não nas atividades-meio, portanto, passam a direcionar
suas ações com foco nos cidadãos, e tornam-se mais eficientes e eficazes.

– Todas essas características das atividades exclusivas do Estado podem ser


identificadas na fiscalização tributária no Brasil, que se apresenta, a cada dia, mais
ágil, eficiente, descentralizada e com foco nos resultados.

Ao compararmos o espelho de correção da Esaf com a dissertação do candidato


(Gabriel Pereira), percebemos perfeito encaixe, sendo incabível a atribuição de
nota distinta de 10,0. Vejamos:

Item I – A fiscalização tributária integra o grupo das Atividades Exclusivas do


Estado;

1.º Parágrafo
(...), a fiscalização tributária compõe as chamadas Atividades Exclusivas do Estado
e não o Núcleo Estratégico. Desta forma, a atividade de fiscalização tributária,
apesar de não apresentar um caráter absolutamente gerencial, não se reveste de
um caráter eminentemente burocrático, como dito pela afirmativa.

Item II – Seu caráter deve ser gerencial; e Item III – O processo de modernização
não deve ser refratário à incorporação de novas técnicas gerenciais; e

2.º Parágrafo

As Atividades Exclusivas do Estado (...) são receptivas às diretrizes do modelo


gerencial, o que torna, portanto, seu processo de modernização favorável à
incorporação de novas técnicas gerenciais, como, por exemplo, o planejamento
estratégico e o “Balanced ScoreCard” (BSC). Assim, não se pode falar que esse
processo seja refratário à incorporação das novas técnicas gerenciais.
Item IV – O processo de modernização deve atender à necessidade dos
contribuintes, provendo eficiência e eficácia.

3.º Parágrafo
(...), as Atividades Exclusivas do Estado, ao incorporarem as ideias do modelo
gerencial, (...) começam a priorizar o controle nos resultados e não nas atividades
meio, portanto, passam a direcionar suas ações com foco nos cidadãos, e tornam-
se mais eficientes e eficazes.

Agora é sua vez, tente fazer igual ou melhor que a dissertação acima. Em todo
caso, recomendo a leitura do livro do Gabriel Pereira e Gisele Sulsbach, Guia
Prático de Discursivas (São Paulo: Método, 2010).

Outras questões discursivas...ainda sobre o tema organização administrativa...

(2008/Cespe – OAB/Unificado-2) O governador de um estado editou decreto


promovendo uma ampla reformulação administrativa, na qual foram previstas a
criação, a extinção e a fusão de órgãos da administração direta e de autarquias
estaduais. Alegou o governo estadual que, além de atender ao interesse público,
a reformulação administrativa inseria-se na competência do Poder Executivo
para, no exercício do poder regulamentar, dispor sobre a estruturação, as
atribuições e o funcionamento da administração estadual.
Em face dessa situação, responda, de forma fundamentada, se é considerada
legítima a iniciativa do chefe do Poder Executivo estadual de, mediante decreto,
promover as mudanças pretendidas.
Extensão máxima: 30 linhas.
COMENTÁRIOS
Apesar do objetivo maior desta obra, áreas fiscal e de controle, as provas do
Exame da OAB nos servem para a preparação do porvir, principalmente em face
da excelência da elaboração.
Nessa questão, é suficiente o conhecimento da figura do Decreto Autônomo,
reintroduzido a partir da EC 32/2001. A Emenda garante ao Chefe do Executivo
federal a edição desta espécie de decreto em dois momentos, nos termos do art.
84, VI, da CF/1988: para a extinção de cargos ou de funções, quando vagos, e para
a organização e funcionamento da Administração, desde que não acarrete o
incremento de despesas e a criação de órgãos.
Por simetria, se houver previsão da Constituição Estadual, ao Poder Executivo
estadual é garantida a expedição de Decretos Autônomos.
Agora, é só dissertar!
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
Em capítulo reservado à Administração Pública, a Constituição Federal de 1988
(CF/1988) registra expressamente alguns princípios, entre os quais: a moralidade,
a publicidade, a eficiência e a legalidade.
Entre esses fundamentos, a legalidade administrativa determina que a atuação
dos administradores seja pautada em lei formal, isto é, só podem agir ou deixar
de agir se houver autorização ou permissão em lei. No entanto, essa não é uma
regra sem exceções. Entre as atenuações ao princípio da legalidade formal, a
Emenda Constitucional 32/2001 reintroduziu a figura do Decreto Autônomo ou
Independente, reservando ao Chefe do Executivo Federal o tratamento de
determinadas matérias via decreto.
A chamada Reserva da Administração exercida pelo Chefe do Executivo Federal,
nos termos do art. 84, VI, da CF/1988, por excepcional, deverá se adstringir à
organização e funcionamento da Administração Pública e à extinção de cargos e
de funções. Todavia, a expedição do decreto, nesses casos, sofre restrições. Em
nome do princípio da reserva legal, não é cabível sua edição para o aumento de
despesas e para a criação/extinção de órgãos/entidades, bem como para a
extinção de funções ou de cargos ocupados.
No caso concreto, o governador de Estado editou decreto para a promoção de
ampla reformulação administrativa, na qual foram previstas a criação, a extinção
e a fusão de órgãos da administração direta e de autarquias estaduais.
A primeira consideração é a de que o governador é parte competente para a
expedição de Decretos Autônomos, por ser aplicável o princípio da simetria à
esfera federal. Logo é legítima a iniciativa do Poder Executivo estadual no que
concerne à fusão de órgãos da administração direta e autárquica, desde que não
importe incremento de despesas.
A segunda e última conclusão é a de que a iniciativa do Chefe do Executivo
estadual foi ilegítima quanto à criação e à extinção de órgãos e de entidades,
porque matéria submetida à reserva legal, nos termos do art. 37, XIX, c/c o art.
88 da CF/1988.

(2007/Esaf – TC/GO – Auditor/Conselheiro-substituto) Discorra sobre o instituto


do acordo-programa, abordando:
a) conceito;
b) seus objetivos;
c) quem pode celebrá-lo;
d) fundamentos que lhe dão amparo no sistema legislativo pátrio; e
e) principais críticas ao instituto.
Extensão mínima: 20 linhas.
COMENTÁRIOS
Calma, muita calma! Descobrir o que pede o examinador é o ponto de partida. A
estruturação da discursiva depende muito, ou, sobretudo, da excelência na
interpretação. No caso, o mais difícil, nessa questão, é a compreensão de que
acordo-programa é sinônimo de contrato de gestão.
Quanto ao roteiro, a Esaf já o traçou, logo suficiente seguirmos, atentando,
obviamente, para o atendimento aos quesitos “a” a “e”, sob pena de descontos
de omissão de tópico ou de desconhecimento da problemática.
Relativamente à redação do texto, temos que o contrato de gestão, na realidade,
é tão só um pacto firmado pela Administração Pública, uma espécie de acordo-
programa, como diz o comando da questão, por intermédio de um órgão
supervisor com outro órgão ou entidade. Por meio do acordo, estabelecem-se
indicadores, metas, a serem atingidas, ao passo que se garantem ao
órgão/entidade beneficiário recursos para o alcance dos resultados pretendidos.
Diante do fato de ser um pacto em que os partícipes buscam interesses paralelos,
mútuos, a doutrina costuma aproximar os contratos de gestão dos convênios e
não dos contratos, pois nesses os efeitos são contrapostos ou divergentes.
Em termos de fundamentos jurídicos, destacam-se: o art. 37, § 8.º, da
Constituição, em que se ampara o contrato entre órgãos e entidades da
Administração; a Lei 9.637/1998, que dá suporte às organizações sociais; e o art.
51 da Lei 9.649/1998, regulamentado pelo Decreto 2.487/1998, responsável
pelos acordos celebrados com as agências executivas.
Outra questão importante diz respeito à assinatura do contrato de gestão entre
órgãos, o que foi, e ainda é, bastante criticado pela doutrina. Como poderiam os
órgãos firmar contratos, uma vez que destituídos de personalidade própria?
A explicação é que esses contratos se assemelham mais a uma forma de ajuste,
um acordo, pela melhoria da gestão pública. O nome dado ao instituto é que é
muito ruim. E mais: como pode o contrato de gestão, que não é lei, garantir o
incremento de autonomia financeira e orçamentária, por exemplo? Essas são
críticas que serão expostas na solução a seguir. Vejamos.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O acordo-programa ou contrato de gestão é um pacto firmado pela
Administração Pública, uma espécie de convênio administrativo, entre um órgão
supervisor com outro órgão ou entidade da Administração Pública ou do Terceiro
Setor. Por meio do acordo, estabelecem-se indicadores, metas, a serem atingidas,
ao passo que se garantem ao órgão/entidade beneficiário recursos para o alcance
dos resultados pretendidos. O acordo-programa, portanto, assume ou pode
assumir tripla configuração.
A primeira é a formação de uma parceria entre o Poder Público e suas entidades,
conferindo a estas maior autonomia gerencial, orçamentária e financeira,
devendo-se, em todo caso, observância às metas de desempenho, aos
indicadores de eficiência. A formação da parceria, nesse caso, encontra-se
fundamentada no art. 37, § 8.º, da Constituição Federal. Por ilustrativo, podem
ser citadas as agências executivas. Nos termos da Lei 9.649/1998, é previsto, para
a titulação de autarquias ou fundações públicas como agências executivas, o
atendimento cumulativo de apresentação de plano de reestruturação ou de
desenvolvimento institucional, ainda que em andamento, e a celebração de
contrato de gestão com o respectivo Ministério da área supervisora.
Já a segunda configuração garante a assinatura de contratos de gestão com
entidades não integrantes da Administração Pública. Nesse sentido, a Lei
9.637/1998, a qual trata das Organizações Sociais (OSs), dá a possibilidade de
assinatura de contratos de gestão, ficando obrigadas a atingir metas relacionadas
a serviços e atividades de interesse público – atividades relativas às áreas de
ensino, cultura e saúde, por exemplo. Em contrapartida, recebem auxílio da
Administração, mediante, por exemplo, transferência de recursos públicos,
cessão de bens e servidores públicos.
Por fim, a terceira configuração é a celebração entre o Poder Público e seus
próprios órgãos, unidades administrativas despersonalizadas, fundamentada,
igualmente, no art. 37, § 8.º, da Constituição Federal. Essa última configuração
tem sido objeto de críticas por parte da doutrina: a primeira apoia-se no fato de
que órgãos, por serem despersonalizados, não poderiam assinar contratos; a
segunda sustenta-se na ideia de que o contrato não é lei, logo, não é o
instrumento hábil ao incremento de autonomia financeiro-orçamentária. O que
se tem, em verdade, é um acordo operacional, espécie de convênio
administrativo, por meio do qual o Poder Público garante maior autonomia
administrativa aos órgãos, em troca de maior eficiência, com desenho de metas
e de indicadores de desempenho.

(2007/Cespe – TCU – Auditor/Ministro-substituto) No segundo semestre de


2006, o presidente da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público
da Câmara dos Deputados encaminhou aviso ao Tribunal de Contas da União
(TCU), solicitando pronunciamento dessa Corte, em tese, acerca da possibilidade
de aproveitamento, por conselhos de fiscalização profissional, de candidatos
aprovados em concursos realizados por outros conselhos de fiscalização
profissional, vinculados à mesma categoria profissional ou a categoria
profissional diversa. Ao documento foi anexado um parecer do órgão que presta
assessoria jurídica à referida comissão. No âmbito do TCU, o processo foi
instruído pela unidade técnica competente. Após a instrução, o relator solicitou
o pronunciamento do Ministério Público junto ao TCU.
Considerando a situação hipotética acima, elabore o relatório, a proposta de
deliberação e a minuta de acórdão a serem submetidos à apreciação do
colegiado competente do TCU.
Extensão máxima: 120 linhas.
COMENTÁRIOS
É uma questão, além de minuciosa, estritamente técnica, por envolver a
elaboração de uma proposta de deliberação a ser submetida à apreciação do
colegiado do TCU. Como enfatizado, apesar de o objetivo desta obra não ser os
meandros das peças técnicas, aproveito para explorar o assunto em si, em face
da riqueza de detalhes.
É aconselhável a leitura da Decisão 633/1994 – TCU – Plenário, Decisão 627/1997
– TCU – Plenário, Decisão 212/1998 – TCU – Plenário, Acórdão 1281/2007 – TCU
– Plenário e Acórdão 2596/2003 da 1.ª Câmara.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
RELATÓRIO
Tratam os autos de consulta formulada pelo presidente da Comissão de Trabalho,
de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, valendo¬ se da
prerrogativa expressa no art. 264, inciso IV, do Regimento Interno desta Corte
(RI/TCU), conforme expediente juntado ao Volume Principal.
A consulta, sob exame, contém a indicação precisa do seu objeto, formulada
articuladamente, tendo sido instruída com parecer do órgão que presta
assessoria jurídica à referida comissão, nos termos do art. 264 do RI/TCU (por
cópia no Principal).
Em teoria, questiona-se sobre a “possibilidade de aproveitamento, por conselhos
de fiscalização profissional, de candidatos aprovados em concursos realizados por
outros conselhos de fiscalização profissional, vinculados à mesma categoria
profissional ou à categoria profissional diversa”.
No âmbito do TCU, o processo foi instruído pela Unidade Técnica e pelo
Ministério Público junto ao Tribunal.
A douta Procuradoria, em seu judicioso Parecer, emitido em atendimento ao
pleito do Ministro Relator, em parecer concordante com a Unidade Técnica,
manifestou-se, no essencial, nos seguintes termos:
Sobre a questão, parece-nos que não existe possibilidade jurídica de provimento
das vagas existentes num Conselho Profissional pelos candidatos excedentes de
concursos realizados noutros Conselhos, porque a aprovação no concurso público
se dá para cargo específico a que se destinava e ao qual se submeteu o candidato.
Esse cargo faz parte da carreira do quadro do Conselho que realizou o concurso.
E a carreira de um determinado Conselho não faz parte da carreira de outro
Conselho, mesmo que se trate de cargos que tenham a mesma denominação.
Desse modo, propomos que se responda negativamente à consulta.
É o Relatório.
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
Nos termos do art. 71, inciso II, da CF/1988, a matéria ora submetida à
deliberação deste Egrégio Plenário se insere na competência deste Tribunal.
De acrescentar que a presente consulta – por ter sido formulada por Comissão da
Câmara dos Deputados e não versar sobre caso concreto – merece ser conhecida,
por atender aos pressupostos de admissibilidade prescritos nos arts. 264 e 265
do Regimento Interno do TCU.
Passando ao exame do objeto da consulta, releva assinalar, desde logo, a
complexidade da matéria. Com efeito, constitui prática antiga na Administração
Pública, não abolida após o advento da Constituição Federal de 1988, a nomeação
de candidatos aprovados em concurso público, a fim de exercerem cargos
efetivos integrantes de quadro de pessoal que não o do órgão ou entidade
promotora do aludido certame.
Realça-se que não há no ordenamento jurídico brasileiro norma expressa
proibitiva de tal procedimento; tampouco autorização legal explícita para tanto.
Desse modo, há quem entenda ser lícito ao administrador nomear candidatos,
aprovados em concurso público, para exercerem, em outro órgão ou entidade
que não a que promotora do certame, cargos de mesma denominação que
aqueles para os quais se habilitaram. Os que defendem essa tese argumentam
inexistir lei ou jurisprudência que exija seja a nomeação precedida de habilitação
específica para cargo de determinada carreira. Entendimento com o qual
concordo, com as devidas adaptações jurídicas.
De ressaltar, desde que entrou em vigor a Constituição Federal de 1988, a
proibição de prover cargos públicos sem concurso tornou-se mais rigorosa.
Assim, é inegável que o concurso público constitui instrumento de realização
concreta dos princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade e, por
isso mesmo, é sempre realizado para cargos definidos, encartados em
determinada ou determinadas carreiras, integrantes de um ou alguns quadros de
pessoal.
De conformidade com o art. 12 da Lei 8.112/1990, no edital do concurso deverão
ser fixados o prazo de validade e as condições de sua realização, dentre as quais
se insere, obviamente, a sua finalidade ou destinação. O edital é, pois, o estatuto
que rege as relações jurídicas entre a Administração e os interessados no
concurso público, impondo-se, pois, a fiel observância do seu inteiro teor.
Consequentemente, se, por exemplo, o edital declarar que o concurso público se
destina, especificamente, ao provimento de cargos integrantes de carreira do
Quadro de Pessoal Permanente de determinado órgão/entidade, não é lícito ao
administrador, segundo entendo, nomear candidato aprovado nesse certame
para exercer cargo integrante de carreira diversa de outros órgãos/entidades. É
que a carreira de um determinado órgão/entidade não é, a priori, a mesma e, por
isso, não se confunde com a de outros, mesmo que os cargos tenham idêntica
denominação e atribuições correlatas. Em sentido reverso, se o edital garantir
expressamente essa possibilidade, os princípios da Administração não terão sido
desatendidos.
Nesse sentido, discordo dos pareceres concordantes da Unidade Técnica e do
MP/TCU, temperando-os à luz do princípio da eficiência, à vista da economia de
recursos públicos advinda do aproveitamento de candidatos já selecionados em
outros certames igualmente públicos.
Com efeito, o aproveitamento realizado entre distintos Conselhos de candidatos
aprovados em concursos públicos, de per si, não infringe o preceituado no art.
37, inciso II, da Constituição Federal, desde que, obviamente, o provimento se
estabeleça em cargo idêntico, enfim, com as mesmas denominação e descrição.
Demais disso, é importante fixar a orientação de que o aproveitamento somente
é possível se realizado entre Conselhos de idêntica categoria profissional, sendo
imprescindível constar no edital que a seleção se destina ao preenchimento de
vagas do Conselho promotor do concurso e demais Conselhos da mesma
categoria profissional, em observância aos princípios constitucionais da
impessoalidade e da publicidade.
MINUTA DE ACÓRDÃO
VISTOS, relatados e discutidos estes autos em que se examina Consulta
formulada pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da
Câmara dos Deputados, para dirimir as dúvidas acerca da possibilidade de
aproveitamento, por conselhos de fiscalização profissional, de candidatos
aprovados em concursos realizados por outros conselhos de fiscalização
profissional, vinculados à mesma categoria profissional ou à categoria
profissional diversa.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão
Plenária, com fundamento art. 264, caput, inciso VI e §§ 1.º e 2.º, do Regimento
Interno e ante as razões expostas pelo Relator, em:
1. conhecer da presente consulta, por preencher os requisitos regimentais
aplicáveis à espécie;
2. responder ao consulente que:
2.1. não infringe o preceituado no art. 37, inciso II, da Constituição Federal a
investidura em cargos efetivos da mesma denominação, integrantes dos Quadros
de Pessoal de Conselhos Profissionais de idêntica categoria profissional, desde
que os candidatos tenham sido aprovados em concurso público de provas ou de
provas e títulos e sejam observadas a ordem de classificação e a finalidade ou
destinação definida no respectivo edital, baixado na forma da lei;
2.2. requer-se somente que o cargo para o qual se realiza o concurso seja o
mesmo, no sentido de que tenha as mesmas denominação e descrição e envolva
as mesmas atribuições, competências, direitos e deveres, de tal forma que, para
seu provimento, se exijam idênticos requisitos de habilitação acadêmica e de
qualificação profissional, e que, naturalmente, se cumpram as demais imposições
legais, tais como a obediência à ordem de classificação obtida pelos candidatos
aprovados para o concurso em causa e ao prazo de validade do certame;
2.3. nos editais dos concursos, em atendimento aos princípios de igualdade, de
transparência e conhecimento prévio das bases e condições de uma seleção
pública, conste expressamente a possibilidade de eventual nomeação dos
candidatos aprovados em vagas existentes em outros Conselhos Profissionais de
idêntica categoria profissional;
3. encaminhar ao consulente cópia do Acórdão, do Relatório e do Voto que o
fundamentaram.
4. arquivar os presentes autos.

(2006/Cesgranrio – BNDES) Considerando sinônimos os conceitos de


“Administração centralizada” e “Administração direta”, bem como a identidade
de significado entre os termos “Administração descentralizada” e “Administração
indireta”:
a) descreva 2 (dois) elementos distintivos entre a descentralização e a
desconcentração administrativa;
b) discorra sobre a existência de relação hierárquica ou de controle ou tutela
entre a Administração central e os respectivos entes administrativos
descentralizados, e
c) indique um exemplo de desconcentração administrativa no âmbito da
organização da estrutura administrativa federal brasileira.
Extensão máxima: 20 linhas.
COMENTÁRIOS
A organizadora facilitou nosso trabalho, enfim, o roteiro foi traçado. Agora é só
dissertar! Vejamos uma possível solução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A Administração Pública desempenha suas atribuições de forma direta ou
centralizada, por meio dos próprios órgãos, de forma desconcentrada; ou de
forma indireta ou descentralizada, nesse caso por intermédio de novas pessoas
jurídicas, exemplo das autarquias e fundações públicas.
Na desconcentração administrativa há a distribuição de competências dentro de
uma mesma entidade ou pessoa jurídica, enquanto a descentralização pressupõe
o exercício por outra pessoa distinta do ente central. Com a desconcentração
existe um vínculo hierárquico entre as unidades administrativas, o qual não se
verifica na descentralização, em que existe tão somente o controle ou tutela nos
limites da lei.
Nesse contexto, não há relação de subordinação ou de hierarquia entre a pessoa
estatal descentralizada e a Administração central, isso porque as pessoas jurídicas
que compõem a Administração Indireta são distintas do Estado e a supervisão
exercida pelo ente central visa a assegurar o cumprimento dos objetivos fixados
no ato de sua criação e a zelar pela sua autonomia administrativa, financeira e
operacional.

(2002/Cespe – Câmara dos Deputados – Consultor Legislativo/Área I)


PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR
Regulamenta o § 8.º do art. 37, da Constituição Federal, que institui o contrato
de gestão como instrumento para a ampliação da autonomia gerencial,
orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e
indireta, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta, e eu sanciono, a seguinte Lei
Complementar:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1.º Esta Lei Complementar estabelece normas gerais, no âmbito dos poderes
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, sobre a ampliação da
autonomia gerencial, orçamentária e financeira, dos órgãos e entidades da
administração direta e indireta, mediante a celebração de contrato de gestão.
Parágrafo único. As diretrizes, critérios e procedimentos para a celebração de
contrato de gestão entre órgãos e entidades serão estabelecidos em ato do Poder
Executivo no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados a partir da data da
publicação da presente Lei Complementar.
(...)
CAPÍTULO II
DO CONTRATO DE GESTÃO
Art. 5.º Contrato de gestão é o instrumento celebrado entre o Ministério ou órgão
setorial equivalente do Poder Público, na qualidade de autoridade responsável
pela formulação e supervisão de uma ou mais políticas públicas, e órgão ou
entidade da administração direta e indireta, por meio do qual os administradores
destes últimos comprometem-se a atingir metas de desempenho
preestabelecidas, tendo como contrapartida a ampliação da autonomia
gerencial, orçamentária e financeira dos mesmos.
(...)
CAPÍTULO VI
DA AMPLIAÇÃO DA AUTONOMIA DE GESTÃO
Art. 19. Os órgãos e entidades que celebrem contrato de gestão com o Poder
Público poderão sujeitar-se a regulamento próprio dispondo acerca de:
I. Gestão e contratação de recursos humanos, incluindo-se a definição de
quadros, cargos, sistemas remuneratórios, modalidades de provimento, sistemas
informatizados de pagamento e controle, avaliação de desempenho e
desenvolvimento e capacitação;
II. Gestão de orçamento e finanças, incluindo-se a definição de níveis e sistemas
de programação e execução orçamentária e financeira;
III. Gestão de licitações e contratos, incluindo-se a definição de modalidades e
limites licitatórios.
(...)
Art. 20. Os regulamentos a que se refere o art. 19 serão elaborados por ato do
Poder Executivo, tendo como base critérios e parâmetros por este estabelecidos
e em estrita observância dos princípios constitucionais da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
(...)
Art. 22. Os regulamentos a que se refere o art. 19 permitirão o amplo e irrestrito
acesso dos órgãos de controle interno e externo, responsáveis pela fiscalização
do contrato de gestão, bem assim assegurarão amplo controle social e
transparência de atos e fatos de gestão dos órgãos e entidades contratados.
(...)
Art. 25. Os dirigentes dos órgãos e entidades contratados e contratantes
promoverão as ações necessárias ao cumprimento do contrato de gestão sob
pena de responsabilidade solidária por eventual irregularidade, ilegalidade ou
desperdício na utilização de recursos ou bens.
Com base nos excertos da proposição legal hipotética apresentada acima, redija
um parecer, fundamentado nas questões conceituais pertinentes, tendo em
vista o atual contexto da administração pública brasileira, em especial no que
se refere aos questionamentos a seguir.
A) A necessidade de flexibilidade gerencial é um requisito pertinente de
desempenho institucional, em face da crescente complexidade do contexto da
gestão pública contemporânea, ou sua aplicação decorre de efeito mimético
inspirado em experiências paradigmáticas exógenas?
B) Trata-se o contrato de gestão de dispositivo comprovadamente eficaz à
garantia tanto de flexibilidades de gestão quanto de mecanismos de
accountability, tendo em vista o risco da ocorrência de problemas de agência e
as históricas influências patrimonialistas na cultura política e administrativa
brasileira?
C) Em que extensão seria viável ou recomendável a implementação do contrato
de gestão, em face da natureza burocrática e centralizada dos sistemas auxiliares
e de controle da administração pública, que se baseiam predominantemente na
lógica da conformidade e do controle, e não na lógica do desempenho?
D) Em que extensão seria viável ou recomendável a implementação do contrato
de gestão, em face da cultura procedimental e ao baixo compromisso com
resultados, predominante em muitas organizações públicas?
E) De que forma o dispositivo constitucional em questão poderia ou deveria ser
aplicado?
Extensão: mínimo de 60 e máximo de 90 linhas.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O contrato de gestão ou acordo-programa foi idealizado no direito francês como
meio de controle administrativo ou de proteção sobre as empresas estatais. Mas,
antes disso, o acordo-programa já era utilizado como meio de vinculação de
determinadas empresas privadas a programas governamentais.
Mais recentemente, no Brasil, os contratos de gestão passaram a ser celebrados
entre o Poder Público e seus próprios órgãos, portanto, com unidades
administrativas destituídas de personalidade jurídica própria – os chamados
centros de responsabilidade.
Tais centros se comprometem a atingir determinados objetivos institucionais,
fixados em consonância com o programa de qualidade proposto pelo órgão
interessado e aprovado pela autoridade competente, em troca, também, de
maior autonomia de gestão.
O simples fato de ser celebrado com um órgão sem personalidade jurídica já
demonstra que o vocábulo “contrato”, no caso, só é empregado provavelmente
porque não se conseguiu outro melhor, já que, na realidade, não se trata de
verdadeiro contrato, o qual supõe que ambas as partes tenham personalidade
jurídica própria, sendo enquadrado, portanto, como típico acordo operacional ou
convênio administrativo.
Em relação às empresas estatais e aos centros de responsabilidade, a ideia é a de,
por meio do contrato de gestão, fixar compromissos bilaterais: a) para a empresa
ou órgão, o de cumprir determinados objetivos fixados em planos nacionais ou
em programas pré-definidos pelas partes; e b) para a Administração Pública, o de
flexibilizar os meios de controle sobre a entidade, conferindo-lhe maior grau de
autonomia na gestão dos negócios.
No direito brasileiro, o contrato de gestão vem sendo celebrado com empresas
estatais, com o mesmo objetivo visado no direito francês, porém, esse efeito
mimético é um pouco distinto. O ponto de coincidência encontra-se no alcance
dos contratos de gestão em relação às empresas estatais, isso porque houve por
parte do Governo o mesmo objetivo que inspirou o sistema francês, de
contratualizar o controle que a Administração exerce sobre as entidades da
Administração Indireta. Logo, a flexibilidade gerencial é um requisito
indispensável ao novo desenho institucional, em face da crescente complexidade
da nova gestão pública.
Nesse caso, a vantagem existe para as duas partes: para o Estado, porque
submete as empresas ao cumprimento dos programas ou objetivos
governamentais; para as empresas, porque ganham maior autonomia de gestão,
sujeitando-se a um controle de resultados, ao invés do controle puramente
formal a que se sujeitam normalmente. Aliás, o controle de resultados é essencial
nesse tipo de contrato, porque é a única maneira de verificar-se a consecução dos
objetivos governamentais. Evidente, portanto, que o contrato de gestão tende a
ser eficaz em termos de flexibilidade de gestão, bem como na responsabilidade
dos agentes, no dever de transparência, o accountability.
No entanto, a utilização de tais acordos no direito brasileiro ainda encontra
dificuldades para a plena eficácia, em face, sobretudo, do direito positivo
atualmente em vigor em relação às entidades da Administração Indireta, o que
impede, certamente, o pleno efeito mimético. A partir da Constituição de 1988,
verificou-se a tendência de se publicizar o regime jurídico das pessoas jurídicas
de direito privado integrantes da Administração Indireta. Enfim, praticamente se
igualou o regime de tais empresas e o da Administração Direta, em termos de
contabilidade, orçamento, controle, licitação, processo de seleção de pessoal.
Na ausência de reformas da estrutura da Administração Direta e Indireta, fica
difícil conseguir resultados mais positivos com o contrato de gestão, porque, em
contrapartida pelos compromissos impostos às empresas estatais, não pode o
Governo oferecer a almejada autonomia financeira, orçamentária, patrimonial.
Aquilo que é possível no direito administrativo francês, muito menos legislado do
que o nosso, fica difícil, senão impossível, no direito brasileiro, enfim, o efeito
mimético não é alcançado, porque as estruturas são diferentes, logo, são exigidas
adaptações de toda ordem. Dificilmente se pode celebrar contrato de gestão,
sem esbarrar em normas legais expressas. É exatamente o que vem ocorrendo na
esfera federal.
À vista das dificuldades apontadas, é indispensável, para assegurar a almejada
autonomia, mudar o direito positivo. Não se pode, por meio de contrato de
gestão, descumprir normas legais e preceitos da própria Constituição. A sua plena
operacionalidade é recomendável, especialmente diante da atual cultura
organizacional, baseada, muita das vezes, em processos e não em resultados, e
do baixo grau de compromisso dos atores públicos.
É evidente que o contrato de gestão pode ser útil para o Estado e para suas
empresas, mas há que ser respeitado o direito positivo. A autonomia a ser
concedida às entidades com as quais o Estado celebra esse tipo de contrato não
pode ultrapassar os limites definidos em lei. De outra forma, as entidades
integrantes da Administração Pública Federal, embora assinem contrato de
gestão, continuam obrigadas a determinadas regras constitucionais, tais como:
obrigatoriedade de concurso público para a seleção e admissão de pessoal (art.
37, II, da CF/1988); observância do limite máximo de remuneração de dirigentes
e servidores (art. 37, XI, da CF/1988); cumprimento das normas para licitação e
contratos pertinentes a obras, serviços, compras, alienações e locações (art. 37,
XXI, da CF/1988, e Lei 8.666/1993).
A viabilidade do contrato de gestão pode ser observada também fora do âmbito
da Administração Indireta. Os contratos de gestão vêm sendo mencionados pelo
Governo Federal como modalidade de ajuste a ser celebrado com antigas
instituições governamentais, então transformadas em organizações sociais, com
o mesmo objetivo de flexibilização do direito francês. Aqui é válida a crítica já
feita com o transporte do modelo para o nosso tão positivado.
As organizações sociais constituem novo tipo de entidade, que o Governo chama
de “pública não estatal”. Ela é pública, não porque pertença ao Estado, mas
porque exerce serviço de utilidade pública e administra o patrimônio público, sob
controle por parte do poder público. Só que esse controle se flexibiliza, deixando
de ser essencialmente formal, como ocorre hoje em relação às entidades da
Administração Indireta, passando a ser um controle de resultados.
Não há dúvida de que o contrato de gestão representa peça fundamental na
implantação da Administração Pública Gerencial, com o toque de maior eficiência
no desenvolvimento das atividades e flexibilidade na atuação Estatal, a partir da
descentralização dos serviços. Esses ganhos de eficiência serão obtidos sem
prejuízo do atendimento aos anseios da sociedade usuária, cada vez mais
exigente e globalizada.

(2010/Cespe – OAB/Unificado-3) Carlos exerce os cargos públicos de professor


de universidade federal, em regime de 40 horas semanais, e de professor da rede
municipal de ensino, também em regime de 40 horas semanais. A administração
federal, ao constatar tal acumulação, considerou-a ilícita e notificou o servidor
para que optasse por um dos cargos. O servidor manifestou seu interesse em
continuar apenas na universidade federal. Na sequência, a administração federal
promoveu os descontos relativos à restituição da remuneração que o servidor
havia percebido durante o período em que acumulara os referidos cargos.
Considerando essa situação hipotética, discorra, com a devida fundamentação,
sobre a regularidade dos referidos descontos na remuneração percebida pelo
servidor.
Extensão máxima: 30 linhas.
COMENTÁRIOS
A questão trata de assunto bem interessante: a acumulação de cargos e de
empregos públicos, a qual, diga-se de passagem, não é a regra, mas sim exceção.
Vejamos.
A regra é que se veda a acumulação remunerada de cargos, empregos, e funções
públicos, seja na Administração Direta, seja na Administração Indireta. A não
acumulação abrange, portanto, também autarquias, fundações, empresas
públicas, e sociedades de economia mista, em quaisquer esferas da federação:
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Há dois pressupostos para que possa ocorrer a acumulação remunerada: a
compatibilidade de horários e a observância ao teto remuneratório. Não
existindo compatibilidade de horários, toda e qualquer acumulação de
cargos/empregos públicos será vedada.
A jurisprudência do TCU admite acumulação com jornada máxima de 60 horas,
ou seja, um cargo/emprego público de 40 horas + um cargo/emprego público de
20 horas, por exemplo.
Outro ponto a ser levado em consideração diz respeito à observância dos tetos
constitucionais remuneratórios, estabelecidos no art. 37, XI, da CF/1988, os quais,
nos casos de acumulação acima listados, não poderão ser superados.
De acordo com o inc. XVI do art. 37 da CF/1988, a acumulação de cargos e
empregos públicos é permitida nas seguintes situações:
a) dois cargos de professor;
b) um cargo de professor com outro técnico ou científico; e
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas.
Então, prontos para dissertar? Vamos à solução.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 dispõe que é vedada a acumulação remunerada
de cargos, empregos e funções públicas. Essa vedação é aplicável a toda a
Administração Pública Direta e Indireta, como também extensiva às subsidiárias
e às sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo Poder Público.
A proibição, no entanto, não é absoluta. O texto constitucional admite a
acumulação remunerada em algumas situações, desde que observados o teto
remuneratório do funcionalismo público e a compatibilidade de horários. Dentre
as permissões constitucionais, destaca-se a de dois cargos de professor.
Assim, no caso concreto, não haveria, “a priori”, impedimento de Carlos acumular
o cargo de professor em universidade federal com o de professor rede municipal
de ensino. Porém, a jurisprudência sinaliza que a acumulação não pode
ultrapassar a jornada máxima de 60 horas. Dessa forma, é lícito à Administração
ordenar que Carlos opte por um dos cargos, obrigando-se a afastar do outro. No
presente caso, Carlos, ao fazer a opção por um dos cargos, terá reconhecida sua
boa-fé.
As questões que se impõem é saber se há o dever de restituição dos valores
percebidos por Carlos e se pode a Administração efetivar o desconto em folha.
Quanto à devolução dos dinheiros, a Lei 8.112/1990 prevê que se provada a
acumulação proibida e o servidor optar por um dos cargos, ficará reconhecida sua
boa-fé; se todavia constatada que sua conduta esteja eivada de má-fé, perderá o
cargo federal e restituirá o que tiver recebido indevidamente do Estado, cabendo
ainda comunicação da demissão à Administração Municipal para a adoção das
providências que entender cabíveis.
Relativamente ao desconto em folha, o Supremo Tribunal Federal (STF) considera
que a Administração não pode, sem o consentimento do servidor, promover a
indenização do prejuízo por meio de processo administrativo que resultaria em
desconto em contracheque, sendo necessária a propositura de ação judicial. No
entanto, não se trata aqui de desconto decorrente de indenização, mas de
natureza administrativa, ou seja, reposição de verbas salariais indevidamente
pagas ao servidor, o que tornaria, em tese, factível o desconto em folha de Carlos,
acaso comprovada sua má-fé.
Por todo o exposto, considerando os termos da Lei 8.112/1990 e da
jurisprudência do STF, não há necessidade de Carlos restituir os dinheiros aos
cofres públicos, porque reconhecida sua boa-fé e demonstrada a efetiva
prestação dos serviços. Em sentido reverso, de má-fé, os descontos em folha
poderiam ser efetivados, observados os requisitos do art. 46 da Lei 8.112/1990.

(2010/Cespe – DPU – Defensor Público) A empregada de um banco, regida, em


sua relação de emprego, pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), foi
removida, de ofício, de Belém para Goiânia. Seu cônjuge, servidor administrativo
do Departamento de Polícia Federal na capital paraense, imediatamente,
formulou requerimento à seção de recursos humanos desse órgão solicitando sua
remoção para a capital goiana, justificando seu pedido com base na remoção da
esposa.
O requerimento foi indeferido com base no argumento de que os cônjuges
pertenciam a esferas administrativas distintas, além de não existir vaga na
localidade pretendida pelo requerente. Esse servidor procurou, então, a
Defensoria Pública da União no Pará, a fim de que fosse tomada alguma medida
judicial contra o ato daquela autoridade policial e fosse garantida a remoção.
Diante dessa situação hipotética, considerando a independência funcional
prevista na LC 80/1994, na qualidade de defensor público federal designado
para o caso, redija um texto em que esclareça, objetivamente, se a pretensão
do servidor é juridicamente viável. Fundamente sua resposta.
Extensão máxima: 20 linhas.
COMENTÁRIOS
A questão oferece alto grau de dificuldade, em face das sutilezas, de suas
“pegadinhas”, por assim dizer.
Além da apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens e
indicação de parágrafos), o candidato deve estabelecer a possibilidade de o
servidor ser removido com fundamento no art. 36, III, “a”, da Lei 8.112/1990; art.
37, caput, da CF/1988; art. 226 da CF/1988; e na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal (STF).

Em forma de perguntas, vamos planejar a dissertação:


• Quais são as formas de remoção? O que é remoção?
• Deslocamento de empregada de banco privado é suficiente para a remoção do
servidor da PF ou o banco, além de privado, precisa ser do Estado?
• O fato, por exemplo, de a empregada ser do Estado ou da Administração
Indireta da União, portanto, lotada em esfera administrativa distinta, é fator
impeditivo para a remoção do servidor da PF?
• A remoção para acompanhar o cônjuge é ato discricionário ou vinculado? Há
necessidade de provar a existência de vagas?
A seguir, passo à transcrição de trechos do MS 23.058/STF, em que se admite a
presente remoção. Vejamos:
Havendo a transferência, de ofício, do cônjuge da impetrante, empregado da
Caixa Econômica Federal, para a cidade de Fortaleza/CE, tem ela, servidora
ocupante de cargo no Tribunal de Contas da União, direito líquido e certo de
também ser removida, independentemente da existência de vagas.
A alínea “a” do inciso III do parágrafo único do art. 36 da Lei 8.112/1990 não exige
que o cônjuge do servidor seja também regido pelo Estatuto dos servidores
públicos federais. A expressão legal “servidor público civil ou militar, de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” não é
outra senão a que se lê na cabeça do art. 37 da Constituição Federal para alcançar,
justamente, todo e qualquer servidor da Administração Pública, tanto a
Administração Direta quanto a Indireta.
O entendimento ora perfilhado descansa no regaço do art. 226 da Constituição
Federal, que, sobre fazer da família a base de toda a sociedade, a ela garante
“especial proteção do Estado”. Outra especial proteção à família não se poderia
esperar senão aquela que garantisse à impetrante o direito de acompanhar seu
cônjuge, e, assim, manter a integridade dos laços familiares que os prendem.
Por fim, vamos à paragrafação:
1.º Parágrafo (introdução) – esse é o modelo de questão situação-problema,
logo, como sugerido, o candidato deve, a partir dos trechos do enunciado, montar
objetivo tópico frasal, antecipando, em todo caso, as razões do indeferimento da
remoção.
2.º e 3.º Parágrafos (desenvolvimento) – depois da exposição das razões do
indeferimento, o candidato pode indicar, preliminarmente, os tipos de remoção
a que faz jus os servidores, utilizando-se, para tanto, os dispositivos da Lei
8.112/1990.
4.º Parágrafo (desenvolvimento) – feitas as apresentações dos tipos de remoção
e as respectivas naturezas, vinculada ou discricionária, conforme o caso, o
candidato mencionará o alcance do conceito de servidor público civil, nos termos
da Lei 8.112/1990, para estabelecer que a remoção é direito subjetivo do servidor
da Polícia Federal (PF), finalizando com o esclarecimento de que, em sendo ato
vinculado, não há necessidade de existência de vagas.
5.º e 6.º Parágrafos (conclusão) – o candidato retoma as considerações
promovidas, com o realce de tratar-se de Banco do Estado, afinal o uso dos
termos “entre esferas administrativas distintas” revela ser um banco do Estado.
Pode acrescentar que a regra contida na Constituição de amparo à família deve
ser protegida, pois visa a preservar a integridade dos núcleos domésticos. Vamos
à solução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
Servidor administrativo da Polícia Federal (PF), depois de solicitar a remoção para
acompanhar o cônjuge, de Belém para Goiânia, então empregada de banco do
Estado, regida, em sua relação de emprego, pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), teve o pleito indeferido pelo Departamento de Polícia Federal sob
dois argumentos: o de os cônjuges pertencerem a esferas administrativas
distintas e o de inexistir vaga na localidade requerida. A seguir, na qualidade de
defensor público federal, será esclarecido, de forma objetiva, se a pretensão do
servidor é viável juridicamente.
Preliminarmente à análise do caso, cumpre anotar o tratamento do instituto da
remoção nos termos da Lei 8.112/1990, a qual rege as relações jurídico-
funcionais dos servidores públicos civis da União, exemplo do servidor
administrativo da PF. A remoção é o deslocamento do servidor, com ou sem
mudança de sede, para desempenhar suas atribuições em outra unidade do
mesmo quadro, podendo ocorrer de ofício, no interesse da Administração, ou a
pedido do servidor, a critério da Administração – ato discricionário – ou
independentemente do interesse desta – ato vinculado.
Entre as formas de remoção a pedido, independentemente do interesse da
Administração, podem ser destacadas: por motivo de doença do servidor,
cônjuge, ou dependente que viva às suas expensas, sendo que neste último caso,
a pessoa deverá constar do assentamento funcional do servidor, e para
acompanhar o cônjuge, que também deve ser servidor, civil ou militar, de
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
e ter sido deslocado no interesse da administração.
Assim, no presente caso, em que empregada de banco privado do Estado está
sendo removida de ofício, de Belém para Goiânia, fica patente que a remoção a
pedido do servidor administrativo do Departamento da PF para acompanhar o
cônjuge é ato vinculado, sendo prescindível a avaliação de interesse da
Administração, bem como a existência de vagas.
Relativamente ao argumento de as esferas serem distintas, não merece,
igualmente, prosperar, isso porque não se exige que o cônjuge do servidor seja
também regido pela Lei 8.112/1990. Com efeito, a expressão servidor público
deve ser interpretada de maneira ampla, abrangendo civis ou militares, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
de modo a alcançar, justamente, todo e qualquer servidor da Administração
Direta e Indireta, a exemplo dos empregados públicos das empresas
governamentais, como no presente caso.
Por todo o exposto, a pretensão do servidor administrativo é juridicamente
viável, primeiro porque o ato de remoção a pedido para acompanhar o cônjuge
removido de ofício é ato vinculado, portanto, aplicável independentemente de
vaga; segundo porque o conceito de servidor público civil deve ser considerado
em sentido amplo, abarcando todos os servidores da Administração Direta e
Indireta, a exemplo dos empregados de banco privado do Estado, sendo
incoerente a alegação de as esferas serem distintas.
Assim, cabe a orientação de interposição de mandado de segurança contra o ato
da autoridade policial, a fim de garantir a imediata remoção, com base na Lei
8.112/1990 combinada com o art. 226 da Constituição Federal, que, ao
reconhecer a família como a base de toda a sociedade, a ela garante especial
proteção do Estado.

Mais questões discursivas.

E, gente, são propostas antigas. Inclusive, destaco que houve um equívoco na


última questão. Atualmente, o STF observa o teto remuneratório não mais pelo
somatório dos cargos acumuláveis. Hoje, leva-se em consideração o cargo,
isoladamente.

(2009/Cespe – OAB/Unificado-2) Os vencimentos da servidora pública Joana não


foram adequadamente reajustados em 5/5/2001, entretanto, na ocasião, ela não
impugnou administrativamente o ato ilegal cometido. Agora, pretende propor
ação judicial visando à condenação do ente federativo ao pagamento retroativo
do reajuste bem como à determinação de que esse reajuste seja aplicado aos
vencimentos futuros.
Nessa situação hipotética, de que medida judicial deverá valer-se Joana para
lograr os seus objetivos? Haveria prescrição na hipótese? Fundamente ambas
as respostas.
Extensão máxima: 30 linhas.
COMENTÁRIOS
Vamos nos restringir às considerações apresentadas pela organizadora.
A única medida judicial que visa atender aos objetivos de Joana é uma ação de
rito ordinário, cumulando-se os pedidos de obrigação de fazer (corrigir a
remuneração mensal), com pedido de obrigação de pagar (cobrança) as parcelas
que deveriam ter sido pagas nos últimos cinco anos. Requer-se, também, a tutela
antecipada.
Estão prescritas as parcelas devidas para além dos últimos cinco anos, de acordo
com o Decreto 20.910/1932. No entanto, como não houve o indeferimento do
pedido na esfera administrativa, não houve a prescrição do fundo do direito.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem entendendo que se trata de relação
jurídica de trato sucessivo, razão pela qual se renova a cada mês. Assim, as
parcelas devidas no período anterior aos cinco anos antes da propositura da ação
são atingidas pela prescrição, mas não o próprio fundo do direito.
Súmula 85 do STJ: “Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda
Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do
quinquênio anterior à propositura da ação”.

(2009/Cespe – OAB/Unificado-1) Joaquim, servidor público efetivo, foi


exonerado durante o período do estágio probatório, sem que tivesse sido
instaurado procedimento administrativo e sem que lhe fosse concedida
oportunidade de exercer o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às
seguintes perguntas:
– A exoneração de servidor público ocupante de cargo efetivo em estágio
probatório demanda a instauração de procedimento administrativo?
– O ato de exoneração de servidor público em estágio probatório tem natureza
jurídica de penalidade? Justifique a sua resposta, mencionando as hipóteses de
cabimento do ato de exoneração.

Extensão máxima: 30 linhas.


COMENTÁRIOS
Vamos direto aos quesitos, e, depois de respondidos, transformamos em
dissertação.
De acordo com Súmula 21 do STF, a exoneração de servidor público, ainda que
em estágio probatório, deve ser antecedida de contraditório e de ampla defesa,
sem a necessidade, no entanto, de abertura de processo administrativo, enfim, o
rito pode ser mais simplificado.
Distintamente da demissão e da destituição de cargos comissionados, a
exoneração não goza de natureza punitiva. São exemplos de exoneração: a
pedido do servidor e a de ofício, neste último caso, destacando-se a inabilitação
em estágio probatório, a decorrente do excesso de despesas e da extinção do
cargo, para servidores não estáveis.
Prontos? Vamos dissertar. À solução.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
No âmbito da União, o diploma normativo que rege as relações jurídico¬
funcionais dos servidores públicos federais é a Lei 8.112, de 1990, a qual,
juntamente com as normas constitucionais relativas a esses agentes, constitui o
regime jurídico responsável por delinear os direitos, os deveres e as garantias dos
servidores.
Entre os direitos podem ser destacadas a aposentadoria, as férias, o direito de
greve. Já, em termos de deveres, há a disciplina, a responsabilidade, a
assiduidade, os quais se não observados podem gerar, por exemplo, a inabilitação
dos servidores efetivos no curso do estágio probatório. A inabilitação poderá,
conforme o caso, acarretar a recondução, se o servidor for estável, ou, gerar a
exoneração, se o servidor não tiver adquirido a estabilidade no serviço público.
Distintamente da demissão, a exoneração não tem o caráter punitivo, podendo
ocorrer, entre outras hipóteses, a pedido do servidor detentor de cargo
comissionado ou de ofício pela Administração, por excesso de pessoal (art. 169
da CF/1988), decorrente da avaliação periódica de desempenho ( art. 41, § 1.º,
inc. III, da CF/1988), e devido à inabilitação em estágio probatório, por exemplo.
Apesar de a exoneração não ter natureza jurídica de penalidade, o entendimento
dominante na doutrina e na jurisprudência é que devem ser observados o
contraditório e a ampla defesa para o desligamento por inabilitação em estágio
probatório, como se depreende, por exemplo, da leitura da Súmula 21 do
Supremo Tribunal Federal.
Diante de todo o exposto, a exoneração do servidor público efetivo Joaquim
deverá ser precedida dos princípios do contraditório e da ampla defesa, a
despeito de a exoneração não ter a natureza punitiva, como é o entendimento
da doutrina e da jurisprudência sumulada do STF, contudo, sem a necessidade de
procedimento específico para extinção de seu vínculo com a Administração
Pública.
(2009/Cespe – TRT/9R – Analista Judiciário) Maria, servidora pública federal, é
casada com Antônio, portador de obesidade mórbida, reconhecida por junta
médica oficial. Com vistas a proporcionar o tratamento de que o marido
necessita, inexistente no seu atual domicílio, Maria requereu a sua remoção para
a capital do estado. A administração pública, ao fundamento de que a remoção
só pode ser concedida no interesse da administração, negou o seu pedido,
alegando não poder prescindir do trabalho de Maria. Além disso, arguiu que não
há vagas na capital.
Com base nessa situação hipotética, redija um texto em que responda, de forma
fundamentada, ao seguinte questionamento.
Agiu com acerto a administração?
Extensão máxima: 30 linhas.

COMENTÁRIOS
Vamos direto à paragrafação:
1.º Parágrafo (introdução) – exposição do caso concreto, com palavras próximas
às utilizadas pela organizadora.
2.º Parágrafo (desenvolvimento – considerações sobre os tipos de remoção) –
sugiro listar os tipos de remoção encontrados na Lei 8.112/1990 (de ofício e a
pedido), finalizando o parágrafo com a remoção a pedido que independe do
interesse da Administração, a fim de criarmos uma possível interligação com o
parágrafo subsequente.
3.º Parágrafo (desenvolvimento – remoção a pedido independentemente do
interesse da Administração) – o candidato deve destacar que a remoção a pedido
por motivo de saúde do cônjuge ou companheiro, condicionada à comprovação
por junta médica oficial, além de dispensar o interesse da Administração, será
efetuada ainda que não haja vagas.
4.º Parágrafo (conclusão) – demonstração de que a servidora faz jus à remoção
a pedido, independentemente do interesse da Administração e da existência de
vagas.

Vamos à solução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
Na situação apresentada, a Administração indeferiu o pleito de servidora pública
federal de remoção para capital do estado, com o propósito de assistir o cônjuge,
em face de ser portador de obesidade mórbida, reconhecida por junta médica
oficial. Para tanto, a Administração alegou a inexistência de vagas e a
circunstância de a remoção não atender a seu interesse.
Preliminarmente ao deslinde do caso, cabe registrar que a Lei 8.112/1990 prevê
o deslocamento do servidor de ofício ou a pedido. A remoção a pedido, por sua
vez, assume duas categorias: dependente ou independentemente do interesse
da Administração, destacando-se, nesse último caso, o deslocamento para
acompanhar o cônjuge servidor público civil que tenha sido removido de ofício,
entre outras hipóteses.
Dentre as hipóteses de remoção a pedido, independentemente do interesse da
Administração, destaca-se, ainda, a concedida por motivo de saúde do servidor,
cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu
assentamento funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial.
Nesse caso, a remoção será efetuada ainda que não haja vagas.
Por todo o exposto, conclui-se que os argumentos da Administração não
merecem prosperar. Logo, independentemente da existência de vagas e do
interesse da Administração, a servidora fará jus à remoção a pedido, de forma
vinculada, haja vista o reconhecimento de o cônjuge ser portador de obesidade
mórbida, atestada por junta médica oficial.

(2006/Esaf – TCU – Analista) Dissertar, sobre o âmbito de incidência, do regime


jurídico único, estabelecido na Lei n. 8.112/90, e quanto às normas
constitucionais, relativas aos servidores públicos, regidos por aquele diploma
legal, suas garantias fundamentais e fiscalização específica, estabelecida na
Constituição, expressamente, para aferir a legalidade, de determinados atos
administrativos, concernentes a suas relações jurídico-funcionais.
Extensão máxima: 60 linhas.

COMENTÁRIOS
Esse é um enunciado que não favoreceu nem um pouco o guerreiro concursando.
No entanto, com um pouco de calma e de método, poderá ser compreendido, de
forma a se descobrir o que o examinador queria que o candidato escrevesse em
sua resposta. Vejamos.
Vamos montar nosso roteiro virtual, haja vista a omissão da ilustre banca:

1) âmbito de incidência da Lei 8.112/1990;


2) normas constitucionais relativas aos servidores públicos;
3) garantias fundamentais dos servidores;
4) fiscalização específica, estabelecida expressamente na Constituição, para aferir
a legalidade de determinados atos administrativos, concernentes às relações
jurídico-funcionais dos servidores públicos.

Agora não ficou bem mais fácil entender o enunciado? Agora é suficiente seguir
o bê-a-bá: introdução, desenvolvimento, conclusão.
No momento de dissertar, a cola é permitida na prova dissertativa! Isso mesmo.
Devemos coletar as informações do enunciado para montarmos nosso tópico
frasal. Por exemplo: No âmbito da União, o diploma normativo que rege as
relações jurídico-funcionais dos servidores públicos federais é a Lei 8.112, de
1990 (Estatuto dos servidores), a qual, juntamente com as normas constitucionais
relativas a esses agentes, constitui o regime jurídico responsável por delinear os
direitos, os deveres e as garantias dos servidores.
Com esse parágrafo, nossa missão está parcialmente cumprida. Reforço que esta
é apenas uma sugestão de parágrafo introdutório, pois, como dito, é partir do
treinamento que vocês aperfeiçoarão o próprio estilo de redação.
Em termos de incidência, aprendemos ser relativamente ampla, isso porque se
aplica a todos os servidores públicos federais, assim entendidos os detentores de
cargos efetivos e comissionados, lotados na administração direta e indireta,
compreendidas, nesse último caso, apenas as fundações públicas e as autarquias
federais, inclusive as sob regime especial, a exemplo das agências reguladoras e
executivas.
No entanto, o Regime Legal dos Servidores não esgota o rol de direitos e deveres
dos servidores públicos, pois o texto constitucional possui capítulo próprio
repleto de dispositivos atinentes às relações jurídico-funcionais desses agentes,
por exemplo: dever de probidade, dever de eficiência, direito a férias, direito à
aposentadoria.
Sabemos, ainda, que, além dos deveres e dos direitos, legais e constitucionais, há
a previsão de garantias. Uma das principais garantias dos servidores públicos
estatutários efetivos é a estabilidade, a qual é adquirida após o decurso de três
anos de efetivo exercício e avaliação positiva de desempenho por comissão
constituída com essa finalidade.
Ainda em termos de garantias, pode ser citada a necessidade de instauração de
processo administrativo (em sentido amplo), com direito ao contraditório e à
ampla defesa, para a aplicação de penalidades administrativas aos servidores,
bem como a irredutibilidade da remuneração.
Por fim, em termos constitucionais, cumpre observar que tanto a admissão como
o término – aposentadorias e pensões – da relação funcional dos servidores
estatutários não ficam imunes à fiscalização, destacando-se, com esse objetivo,
por exemplo, a atividade de registro a cargo do Tribunal de Contas da União.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
No âmbito da União, o diploma normativo que rege as relações jurídico¬
funcionais dos servidores públicos federais é a Lei 8.112/1990 (Estatuto dos
servidores), a qual, juntamente com as normas constitucionais relativas a esses
agentes, constitui o regime jurídico responsável por delinear os direitos, os
deveres e as garantias dos servidores.
Em termos de incidência, o referido diploma legal tem alcance bem amplo,
aplicando-se a todos os servidores públicos civis federais, assim entendidos os
detentores de cargos efetivos e comissionados, lotados na administração direta
e indireta, compreendidas, nesse último caso, apenas as fundações públicas e as
autarquias federais, inclusive as sob regime especial, exemplo das agências
reguladoras e executivas.
Apesar de sua larga abrangência, o Estatuto dos servidores não esgota o rol de
direitos e de deveres dos servidores públicos, tendo o texto constitucional
destacado, inclusive, capítulo próprio repleto de dispositivos atinentes às
relações jurídico-funcionais dos servidores, por exemplo: dever de probidade,
dever de eficiência, direito a férias, e direito à aposentadoria.
Além dos deveres e dos direitos, legais e constitucionais assegurados, há a
previsão de garantias. Uma das principais garantias dos servidores públicos
estatutários efetivos é a estabilidade, a qual é adquirida após o decurso de três
anos de efetivo exercício e a avaliação positiva de desempenho por comissão
constituída com essa finalidade.
Ainda, em termos de garantias, pode ser citada a necessidade de instauração de
processo administrativo prévio, para a aplicação de penalidades administrativas
aos servidores, em que serão observados o contraditório e a ampla defesa, bem
como a garantia de irredutibilidade de vencimentos, de salário-mínimo, de
descanso remunerado, preferencialmente aos domingos, entre outras.
Por fim, em termos constitucionais, cumpre observar que tanto a admissão como
o término da relação funcional dos servidores estatutários não ficam imunes à
fiscalização, destacando-se expressamente, com esse objetivo, o exemplo da
atividade de registro a cargo do Tribunal de Contas da União (TCU), em que será
verificada a legalidade do ato de admissão e de aposentação, aperfeiçoando-se
assim o ato complexo originariamente praticado pela Administração.
Por todo o exposto, não há dúvida de que a existência de um regime jurídico para
os servidores públicos, tanto em nível constitucional como em âmbito legal,
contribui para a transparência das relações jurídicas travadas entre esses agentes
e o Estado, em nítido fortalecimento dos princípios da Administração Pública e
do Estado Democrático de Direito.

(2006/Cespe – AC/Juiz Substituto) Lúcio é servidor público do estado do Acre,


casado com funcionária de empresa pública desse mesmo estado, e ocupa o
cargo efetivo de técnico de administração, de nível superior, acessível a qualquer
candidato com curso superior em qualquer área. Lúcio acumula esse cargo
efetivo, que exige carga horária de trabalho de 40 horas semanais, e cujas funções
são meramente burocráticas, com o cargo de professor na rede de ensino
municipal, com a qual mantém contrato de trabalho de 20 horas semanais. Tanto
no âmbito estadual quanto municipal, há regime próprio de previdência.
Com base nessa situação hipotética e considerando o conteúdo das Emendas
19/1998 e 20/1998 da Constituição Federal de 1988 e os precedentes dos
tribunais superiores, redija um texto dissertativo que responda, de modo
fundamentado, aos questionamentos a seguir.
– A acumulação dos cargos, na situação descrita, é constitucional?
– No caso de Lúcio vir a falecer, deixando as duas pensões em favor de sua
esposa, ela poderá acumular essas pensões com a remuneração do seu
emprego?
– Caso Lúcio se aposente em um dos cargos, poderá acumular a sua
aposentadoria com a remuneração do outro cargo?
Extensão máxima: 60 linhas.
COMENTÁRIOS
O tema acumulação de cargos/empregos/funções públicos é de conhecimento do
público concursístico em geral, não despertando grandes divergências
doutrinárias e jurisprudenciais. Assim, por amor ao pragmatismo, siga minha
sugestão de resolução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
Inicialmente, registre-se que a Constituição Federal (CF/1988) veda a acumulação
remunerada de cargos, empregos e funções públicas. Essa vedação, contudo, não
é irrestrita, as exceções são igualmente previstas pela Constituição.
Antes de se cogitar das hipóteses em que se admite a acumulação de cargos e
empregos públicos, cabe destacar que são necessários o atendimento ao teto
remuneratório do funcionalismo e a compatibilidade de horários entre as
atribuições públicas a serem exercidas, ou seja, torna-se irrelevante serem os
cargos acumuláveis segundo a CF/1988, caso os horários dos cargos ou empregos
em regime de acumulação forem incompatíveis entre si, por exemplo.
No caso sob exame, há compatibilidade entre os horários, uma vez que o regime
do primeiro cargo é 40 horas semanais e o do segundo de 20 horas semanais,
perfazendo um total de 60 horas por semana, o que possibilita o acúmulo, dado
que a jornada diária média totaliza 12 horas, proporcionando o intervalo entre
jornadas de 12 horas, superior ao mínimo aceitável, que é de 11 horas. Essa
interpretação é encontrada por analogia à Consolidação das Leis Trabalhistas,
uma vez que não há, nos estatutos próprios dos servidores, referência ao
intervalo mínimo de descanso entre as jornadas de trabalho.
Retomando o que estabelece a Constituição Federal, três exemplos podem ser
citados em que se admite o acúmulo de cargos e empregos públicos, a saber: dois
cargos ou empregos de profissionais da área de saúde, desde que se trate de
profissões regulamentadas; dois cargos ou empregos de professor em
instituições públicas de ensino; e, cargo de professor em instituição de ensino
público com outro técnico ou científico.
Em razão da evidente impropriedade das primeiras situações, poder-se-ia cogitar
da adequabilidade da situação apreciada ao último caso. Todavia, ante o
estabelecido pelo atual ordenamento jurídico, combinado com os entendimentos
dos Tribunais Superiores, também não é possível que o servidor acumule os
cargos públicos em questão.
Com efeito, o cargo ocupado pelo servidor Lúcio tem natureza meramente
burocrática, sem exigir qualquer formação específica para seu desempenho. Não
se coaduna, portanto, com o conceito de cargo técnico ou científico. Desse modo,
inviável a acumulação com o emprego de professor, pois se trata de hipótese não
admitida pela Constituição Federal.
À vista da inviabilidade da acumulação quando em vida, resta igualmente inviável
a acumulação das pensões correspondentes, no caso de falecimento do servidor.
É que a jurisprudência indica que só se podem acumular as pensões
correspondentes a cargos ou empregos acumuláveis, de tal sorte que cargos
inacumuláveis na atividade não permitem acúmulo de benefícios de pensão que
lhes corresponderiam.
Por outro lado, caso Lúcio haja ingressado nos quadros da Administração Pública
em data anterior à publicação da Emenda Constitucional 20, de 1998, poderia
acumular os proventos da aposentadoria com a remuneração da ativa,
conquanto se tratasse de cargos inacumuláveis na atividade, em face do que
estabelece o art. 11 da referida Emenda.
Todavia, ao se aposentar, o servidor deve, também em face da Emenda 20, fazer
opção por qual dos proventos correspondentes aos cargos públicos usufruirá,
pois não há a possibilidade, nesse caso, de acumulação de proventos.
E, finalmente, durante o período de recebimento simultâneo da remuneração do
cargo ativo e dos proventos de aposentadoria, o servidor estará submetido ao
teto remuneratório dos servidores públicos, estabelecido no inciso XI do art. 37
da CF/1988.

(2008/FGV – SEAD/PE – Analista em Gestão Administrativa) O Governo do


Estado da Paraíba decidiu promover uma grande festa de réveillon. Para tanto
instalou três procedimentos diferentes de contratação administrativa. Para
cuidar da produção executiva da festa – que inclui a montagem do palco,
iluminação, som e toda a gestão administrativa do evento – com previsão de
custo de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) a Secretaria de Estado de
Administração iniciou um procedimento de concorrência. Com o objetivo de
promover o desenvolvimento econômico do Estado, o Secretário estabeleceu
como condição que a empresa tivesse sua sede fiscal no Estado da Paraíba.
Duas das dez firmas que participaram da concorrência apresentaram o mesmo
menor valor para os serviços. Não havia elementos diferenciadores em nenhuma
das propostas apresentadas que permitissem preterir qualquer das concorrentes
e que a escolha pelo critério do menor preço ficou prejudicada em razão das duas
propostas serem idênticas, o Secretário de Estado selecionou a empresa de
capital francês TTC por se tratar de uma empresa que investia no
desenvolvimento de tecnologia no Brasil e financiava projetos culturais e de
inclusão digital mantidos no Estado da Paraíba. Foi preterida a firma ATC,
empresa que, apesar de ser brasileira de capital nacional, nunca investiu em
pesquisa ou no desenvolvimento de tecnologia no País.
Para a escolha do artista que cantaria logo após a queima de fogos de artifício,
foi dispensada a licitação e contratada a dupla sertaneja “Queijo e Goiabada”,
que contava com muitos fãs na região, embora não fosse um caso de músicos
consagrados pela crítica especializada ou pela opinião pública. Vale registrar que
a contratação não foi realizada diretamente, mas através de empresário
exclusivo.
A figura do empresário exclusivo gerou críticas dos políticos da oposição, tendo o
Secretário de Estado afirmado que tais críticas nada mais eram do que bobagens
da oposição, a quem não interessava que a festa fosse um sucesso.
Por fim, para cuidar da propaganda do evento (com orçamento previsto de R$
100.000,00 cem mil reais) foi iniciado procedimento de convite, tendo sido
escolhidas cinco firmas dentre aquelas cadastradas na Secretaria de Estado de
Administração para realização desse tipo específico de serviço.
Como o número de empresas convidadas superava o mínimo exigido pela
legislação (que é de três empresas), foi vedada a extensão do convite às demais
firmas cadastradas, a fim de não inviabilizar a análise das propostas.
Quatro empresas (CTS, CJUS, CDE e NPJ) eram muito boas e apenas uma (MKT)
não preenchia os requisitos técnicos mínimos para sua aceitação. A empresa
escolhida foi a NPJ, uma firma nova, relativamente desconhecida no mercado,
mas cujo dono, coincidentemente, era vizinho do Secretário de Estado em um
condomínio privativo de casas luxuosas na beira da praia. Com o intuito de se
resguardar da opinião pública, o Secretário determinou que não fosse dada
publicidade ao despacho proferido nos autos do processo licitatório
fundamentando sua escolha. Com efeito, aquele despacho apresentava como
fundamentos para a escolha os seguintes fatos: (a) a empresa CTS não
apresentara documentação comprobatória da qualificação técnica; (b) a firma
CJUS não estava em situação regular no cumprimento dos encargos sociais
instituídos por lei; (c) a empresa CDE não poderia executar o serviço porque um
dos membros da comissão de licitação mantinha contrato de consultoria com a
CDE; e (d) a empresa NPJ, apesar de praticamente desconhecida, tinha prestado
bons serviços sempre que escolhida em licitações públicas.
– Identifique e discorra de forma sucinta sobre os seis vícios ou irregularidades
nas escolhas e contratações de serviços que podem ser identificados na
narrativa acima, considerando as regras legais.
Extensão máxima: 40 linhas.
COMENTÁRIOS
Enquanto na questão anterior, a organizadora não fez destaque de quantos
seriam os vícios, nesta, a banca foi expressa: discorra sobre as seis
irregularidades. Sinceramente, é preferível esse modelo de questão, a fim de não
ser pego de surpresa quando da divulgação do espelho de correção. Vejamos uma
possível solução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A contratação da festa de Réveillon pelo Governo do Estado da Paraíba foi
dividida em três procedimentos de contratação: uma concorrência, para a
contratação da produção executiva da festa, incluindo montagem de palco,
iluminação, som e gestão administrativa do evento; uma dispensa de licitação,
para a contratação direta da dupla sertaneja “Queijo e Goiabada”; e um convite,
destinado à contratação da propaganda do evento.
Nos procedimentos administrativos mencionados foram detectadas seis
irregularidades ou violações aos preceitos da Lei 8.666/1993.
Em primeiro lugar, houve restrição ao caráter competitivo da concorrência, ao se
estabelecer a condição de que a empresa licitante tenha sede no Estado da
Paraíba. Segundo a Lei de Licitações, é vedado aos agentes públicos incluir
cláusulas ou condições que restrinjam o caráter competitivo do certame por meio
de distinções ou preferências em função da sede, domicílio e nacionalidade da
empresa. Esse tipo de atitude fere os princípios da competitividade, da igualdade
e da indistinção.
Em segundo lugar, na escolha da empresa vencedora da concorrência, não se
utilizou o critério de desempate correto, beneficiando indevidamente a empresa
TTC. Segundo a Lei, o primeiro critério de desempate é aquele que dá preferência
à contratação bens e serviços produzidos ou prestados por empresas brasileiras
de capital nacional, enquadrando-se, nesse caso, a empresa ATC. As empresas
que invistam em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia no país só serão
beneficiadas no último critério de desempate.
Em terceiro lugar, houve contratação indevida por dispensa de licitação da dupla
sertaneja “Queijo e Goiabada”. A dispensa de licitação só poderá ocorrer nas
hipóteses previstas no art. 24 da Lei 8.666/1993. Esse rol é exaustivo, ou seja, não
há hipótese de dispensa que não esteja contida neste rol. O que a Lei admite é a
contratação direta por inexigibilidade de licitação, no caso de contratação de
profissional do setor artístico consagrado pela crítica especializada ou pela
opinião pública, o que não era o caso da dupla sertaneja em questão.
Em quarto lugar, houve utilização indevida da modalidade convite para a
contratação de propaganda do evento. Ora, a modalidade de licitação deverá ser
escolhida com base no valor estimado da contratação. Para o valor estimado de
R$ 100.000,00, a modalidade de licitação mínima prevista na Lei é a tomada de
preços (a partir de R$ 80.000,00), facultando-se, em todo caso, a realização de
concorrência.
Em quinto lugar, houve restrição à competitividade do convite, haja vista a
vedação à participação de outras empresas no procedimento licitatório que não
aquelas convidadas. Segundo dispõe a Lei, o convite deverá ser estendido às
demais empresas cadastradas na correspondente especialidade, desde que estas
manifestem seu interesse com antecedência de até 24 horas da apresentação das
propostas.
Em sexto lugar, houve vício relativo à publicidade do despacho que foi proferido
nos autos do convite, que escolheu a empresa NPJ. Segundo a Lei, são públicos e
acessíveis ao público todos os atos do procedimento licitatório, com exceção do
conteúdo das propostas até a respectiva abertura. Dessa forma, o Governo do
Estado da Paraíba não poderia, por motivo algum, restringir o acesso ao despacho
que determinou a escolha da empresa NPJ.
Por fim, cabe mencionar que os vícios elencados acima violam os princípios da
licitação, tais como, legalidade, isonomia, publicidade, competitividade,
acarretando nulidade nos procedimentos de contratação mencionados.
Conforme dispõe a lei, a nulidade da licitação acarreta a nulidade dos contratos
decorrentes. Logo, os três contratos examinados são nulos.

(2009/Cespe – TCU – AUFC – Tecnologia da Informação) Considerando que o


Ministério da Educação pretende realizar contrato de prestação de serviços de
informática, com dispensa de licitação, com fundação de apoio vinculada a
determinada universidade estadual, redija um texto dissertativo sobre a
possibilidade ou não da realização desse contrato com dispensa de licitação que,
de modo fundamentado e à luz do entendimento do Tribunal de Contas da União,
responda, necessariamente, aos seguintes questionamentos:
– Qual é a distinção entre os institutos da dispensa e inexigibilidade de
licitação?
– É possível a contratação com dispensa de licitação?
– É possível a contratação de instituição de outra esfera da administração?
Extensão máxima: 20 linhas.
COMENTÁRIOS
Esse modelo de questão é muito difícil, não devido à complexidade do assunto,
mas sim porque o espaço reservado é insuficiente para explorar, de forma
detalhada, o tema proposto pela organizadora. Assim, é aconselhável que, para
essas miúdas questões, gastem um “pouquinho” mais de tempo na elaboração
do planejamento, enfim, na distribuição simétrica dos quesitos pelos parágrafos,
de forma a acomodar todas as respostas requeridas. Vejamos à solução sugerida.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A partir da Constituição Federal de 1988, o procedimento de licitação passou a
ser norma impositiva para toda a Administração Pública, direta e indireta.
Contudo, a obrigatoriedade não é absoluta, a Lei 8.666/1993 indica, por exemplo,
duas formas de contratação direta: a inexigibilidade e a dispensa de licitação.
Tais formas de contratação direta têm distinções entre si. Enquanto a
inexigibilidade decorre da impossibilidade jurídica de competição entre os
licitantes, quer pela exclusividade no fornecimento de um bem/serviço, quer pela
singularidade da prestação de determinados serviços visados pela Administração,
com rol exemplificativo de situações; a dispensa, do art. 24 da Lei 8.666/1993, é
vista como ato discricionário do administrador, isto é, conquanto existente a
competição, a Administração pode dispensar, se assim lhe convier, tendo um rol
exaustivo de hipóteses permitidas.
Dos casos de dispensa de licitação, admite-se a contratação de instituição sem
fins lucrativos, com base no art. 24, XIII, da Lei 8.666/1993, desde que haja nexo
efetivo entre a natureza da instituição e o objeto contratado, bem como
compatibilidade com os preços de mercado. Portanto, no presente caso, a
contratação direta da Fundação de Apoio foi incorreta, nos termos da Súmula 250
do Tribunal de Contas da União, isso porque a prestação de serviços de
informática não se correlaciona com pesquisa, ensino ou desenvolvimento
institucional.
Não fosse a ausência do nexo entre o art. 24, XIII, a natureza da instituição
contratada e o objeto contratual (serviços de informática), não haveria
impedimento de a contratação ser efetuada entre instituições de esferas
diversas, federal e estadual, como no caso em tela.
(2009/Cespe – TC/TO – Analista) É inexigível a licitação para a contratação de
serviços técnicos profissionais especializados, de natureza singular, com
profissionais ou empresas de notória especialização. Ressalvados os casos de
inexigibilidade, tais contratos deverão, preferencialmente, ser celebrados
mediante a realização de concurso, com estipulação prévia de prêmio ou
remuneração. A administração só poderá contratar, pagar, premiar ou receber
projeto ou serviço técnico especializado desde que o autor ceda os direitos
patrimoniais a ele relativos e a administração possa utilizá-lo de acordo com o
previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para sua elaboração.
Estas são disposições da Lei 8.666, de 1993, que trata das licitações e contratos
envolvendo a administração pública.
Considerando que o texto acima tem caráter motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
Serviços técnicos profissionais especializados e inexigibilidade de licitação.

Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

– caracterização dos serviços técnicos profissionais especializados e suas


especificidades;
– significado da inexigibilidade de licitação;
– justificativas para a aplicação da inexigibilidade de licitação aos serviços
técnicos profissionais especializados;
– principais dificuldades, vantagens e desvantagens da adoção desse
procedimento.
Extensão máxima: 15 linhas.

COMENTÁRIOS
O espaço para essa questão, novamente, é relativamente curto para tão rico
tema. Nesses casos, o candidato deve primar pela objetividade, sem que esta
acabe por resultar em um texto incompleto. Assim, a concisão e clareza são
palavras-chave nestas redações curtas.
A estrutura de resposta sugerida, então, é dividida em quatro parágrafos.
Um detalhe. A ordem dos itens foi invertida, de forma que a questão fosse
construída de maneira mais lógica. Assim, partiu-se do conceito mais amplo, de
inexigibilidade, para uma das espécies desta: a contratação de serviços técnicos
profissionais, expondo-se, obviamente, tudo o que fora demandado pela banca.

PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A inexigibilidade de licitação é uma das hipóteses de contratação direta, tendo
por fundamento a inviabilidade de competição, pois não há como se instaurar o
procedimento de licitação sob uma das modalidades existentes.
No rol exemplificativo do artigo 25 da Lei 8.666/1993, encontra-se a contratação
de serviços técnicos profissionais prestados por profissionais ou empresas de
notória especialização, enfim, aqueles que reconhecidamente são os que melhor
atendem aos interesses públicos, a despeito de não serem os únicos em suas
categorias. Essa contratação direta constitui vantagem para a Administração, a
qual pode contratar diretamente o profissional que melhor atenda aos interesses
da coletividade.
De outro lado, a não realização de licitação pode implicar a desvantagem de
contratação mais onerosa, uma vez que a Administração não colhe propostas de
preços no mercado, a fim de se certificar da compatibilidade com os preços
correntes.
A Lei de Licitações demanda, basicamente, três requisitos cumulativos para
contratação: serviço enumerado no art. 13 da Lei, objeto de natureza singular e
profissional de notória especialização. Assim, não é suficiente a previsão no
referido artigo, para a decretação de inexigibilidade, devendo se somar a
natureza singular do serviço. Por fim, frisa-se que a avaliação da “singularidade”
é uma das maiores dificuldades da Administração, por envolver sempre um juízo
de valor.

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