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Estado Federal e aponte suas características básicas, explicando cada uma delas.
Extensão máxima: 20 linhas.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A origem do Estado Federal remonta à Convenção da Filadélfia, quando, em 1787,
os Estados resultantes da independência das 13 antigas colônias inglesas
decidiram abrir mão de parcela de sua soberania e constituir um novo Estado
Soberano.
No mesmo ano, com a promulgação da Constituição dos Estados Unidos da
América, foi criado o primeiro Estado Federal, alegando-se a necessidade de as
ex-colônias se unirem visando à consecução de objetivos comuns, como juntar
forças contra ameaças externas e contra os problemas políticos, administrativos
e econômicos internos.
Para que se possa conceituar um Estado como Federal, certas características são
indispensáveis: a existência de efetiva autonomia dos estados-membros,
assegurada por uma Constituição comum; a inexistência de direito de secessão;
e a possibilidade de a União utilizar-se do instituto da intervenção nos Estados,
quando circunstâncias desagregadoras comprometerem a sobrevivência da
Federação. A esse rol podem ser adicionadas: a participação das vontades
políticas dos Estados no Governo Federal e a repartição de competências e a de
rendas.
Por fim, o Estado Federal mantém seu prestígio, ainda, por preservar as
particularidades regionais, afinal as características socioculturais dos Estados-
membros são preservadas.
COMENTÁRIOS
Certamente, o roteiro é um facilitador, mas também um traidor, pois o candidato,
ao não responder o tópico sugerido, garante ao examinador a margem para
preciosos descontos.
Bom, a banca facilitou nossa missão, pois é suficiente seguir o roteiro sugerido. A
tarefa, agora, é a elaboração do plano ou roteiro do texto. Nossa missão é
escrever sobre o Estado Federal, na seguinte ordem:
Conceito?
Princípios norteadores?
Pressupostos de existência?
Princípios limitadores da autonomia dos estados-membros?
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O conceito de Estado não é fixo no tempo e no espaço. No entanto, alguns de
seus elementos são constantes: o humano (povo), o geográfico (território) e o
político-administrativo (governo soberano). Nesse contexto, podem ser
encontradas diversas formas de Estado, a depender da época, do território ou
das razões históricas, a exemplo do Estado Unitário e do Estado Federal.
Os conceitos de Estado Unitário e Estado Federal são inconfundíveis, pois,
enquanto naquele existe um único centro de poder, responsável por todas as
atribuições políticas, como é o exemplo da França; no Estado Federal, há
diferentes polos de poder, os quais atuam de forma autônoma, como é o caso do
Brasil.
Relativamente ao federalismo, registra-se ser ele um fenômeno moderno, cujas
principais raízes remontam ao século XVIII. Assim, se é verdade que em qualquer
época da história humana encontram-se referências a alianças entre Estados,
deve-se também reconhecer que, para identificar um efetivo Estado Federal, nos
moldes hoje existentes, são exigidas determinadas peculiaridades inexistentes
até 1787, quando então se consolidou a nova forma de Estado: a Federação.
Porém, há certos pressupostos para que se possa, efetivamente, conceituar um
Estado como federal, são eles: existência de efetiva autonomia dos Estados-
membros, assegurada por uma Constituição comum; inexistência de direito de
secessão; previsão de um tribunal habilitado a resolver eventuais conflitos de
competência; e possibilidade de a União utilizar-se do instituto da intervenção
nos Estados, quando circunstâncias desagregadoras comprometerem a
sobrevivência da Federação. A esse rol podem ser adicionadas: a participação das
vontades políticas dos Estados no Governo Federal, a repartição de competências
e a repartição de rendas.
Demais disso, tem-se acrescido ao federalismo a função de garantia da
democracia participativa, com sua multiplicação de círculos de decisões políticas
em que o cidadão fica mais próximo do poder. O Estado Federal mantém seu
prestígio, ainda, por preservar as particularidades regionais, afinal a Federação
mantém as características socioculturais dos Estados-membros, todos
autônomos, nos termos da Constituição.
No entanto, a distribuição de autonomia aos entes federados encontra limites. O
federalismo, em sua origem, reportado como a união de estados federados, põe
freios ao exercício da autonomia dos entes políticos. Podem ser citados os
seguintes exemplos de restrição à autonomia: cumprimento dos princípios
constitucionais sensíveis, sob pena de intervenção federal; não tributação das
rendas, do patrimônio e dos serviços entre os entes federados (a denominada
imunidade recíproca); em conformidade com as normas gerais editadas pela
União; edição das Cartas Estaduais e Leis Orgânicas em conformidade com as
diretrizes gerais previstas na Constituição da República.
Há autores que criticam a existência da Federação, por exemplo, em razão dos
conflitos políticos e jurídicos advindos da coexistência de inúmeras esferas
autônomas, cujos limites de atuação nem sempre estão bem distribuídos
constitucionalmente. Apesar disso, não se pode olvidar que esse tipo de
configuração estatal assegura oportunidades mais amplas de participação no
poder político, pois quem não obtiver ou não quiser a liderança federal poderá
ter acesso aos poderes locais.
Assim, o Federalismo tem sido a forma de Estado mais difundida pelos atuais
Estados Soberanos. Entretanto, para ser considerada a forma mais avançada e
efetiva de descentralização política, devem-se garantir aos Estados-membros
recursos financeiros para o exercício de suas competências.
A última etapa é a revisão. É o momento de verificarmos, em última leitura, se os
quesitos foram respondidos, a contento: há o conceito de Estado Federal? Há os
princípios e pressupostos do Estado Federal? Se a resposta for positiva, parabéns,
os pontos reservados na planilha de correção ser-lhes-ão atribuídos.
Extensão: de 15 a 30 linhas.
COMENTÁRIOS
Mais uma questão de Esaf. O enunciado não oferece grandes dificuldades,
solicitando de nós objetivamente uma dissertação sobre atos administrativos,
seus efeitos, elementos e convalidação.
À época, tive acesso às provas de candidatos, logo fica fácil, agora, listar
exatamente o raciocínio da ilustre organizadora. Vamos ao roteiro:
– Efeitos jurídicos
Os atos administrativos produzem efeitos jurídicos imediatos para a
Administração e particulares, em geral. Esses efeitos são os mais diversos, podem
ser, por exemplo: constitutivos, declaratórios, alienativos de direitos e de
obrigações dos administrados ou da própria Administração. A imediata
operacionalidade dos atos é garantida pelo atributo da presunção de
legitimidade, enfim, mesmo atos ilegais, enquanto não extintos do mundo
jurídico, consideram-se legais e eficazes.
– Motivo do ato
O motivo é entendido como sendo o pressuposto de fato, acontecimento no
mundo real – nascimento de filho, por exemplo – e de direito, que fundamenta a
prática do ato, podendo ser vinculado ou discricionário, conforme o caso, por
exemplo, lei que permita licença-maternidade.
O motivo, enquanto elemento de formação dos atos, não se confunde com a
motivação, esta é a formalização dos motivos do ato, ocorrendo prévia ou
concomitantemente à edição do ato.
– Convalidação
É ato administrativo mediante o qual um ato viciado, com ilegalidade, é corrigido,
mantido no mundo jurídico. Com outras palavras, no lugar de simplesmente
retirar o ato administrativo, mantém-no íntegro, com os devidos arremates.
A convalidação ou sanatória de atos viciados ocorre, entre outros princípios, em
nome da segurança jurídica, e, pela circunstância de dizer respeito a ilegalidades,
é realizada com efeitos retroativos.
A convalidação pode derivar de um ato privativo da Administração, como é mais
comum, ou de um ato do particular afetado pelo provimento viciado (quando
recebe o nome de saneamento, cuidado!). Por exemplo: o particular “X” recebe
a autorização de porte de arma, contudo, o setor responsável da Polícia Federal,
depois de um ano, em organização aos processos de autorização, não acha o
pedido formal do particular. Assim, sabendo que o pedido do particular é
pressuposto legal para a concessão do ato, caberá ao particular a renovação do
pedido, a título de saneamento.
Então, prontos? Mãos à obra! Antes da leitura da proposta de solução, que tal a
tentativa de elaboração da sua própria solução?
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
No Brasil, vigora a tripartição funcional de Poderes: Legislativo, Judiciário e
Executivo, cada qual no desempenho de uma função típica: legislativa, judicante
e administrativa, respectivamente. Todavia, essa tripartição é moderada, pois, ao
lado das funções primordiais, convivem ou podem conviver as atípicas, por
exemplo: todos se sujeitam ao dever de realizar concursos públicos, enfim, todos
administram.
A função administrativa é materializada em atos e fatos da Administração. Entre
esses, destacam-se os atos administrativos, declarações unilaterais do Estado ou
de quem lhe faça as vezes – exemplo das concessionárias de serviços públicos –,
regidos predominantemente pelo Direito Público, sujeitos ao controle judicial e
aptos à produção imediata de efeitos jurídicos.
Tais efeitos jurídicos imediatos podem ser constitutivos, enunciativos e
declaratórios de direitos e de obrigações, atingindo tanto particulares como a
própria Administração. A imediata operacionalidade dos atos é permitida pelo
atributo da presunção de legitimidade, afinal mesmo atos ilegais, enquanto não
retirados do mundo jurídico, consideram-se legais e eficazes.
Os atos administrativos são compostos por elementos, entre os quais, destaca-se
o motivo, entendido como o pressuposto de fato e de direito que fundamenta a
prática dos atos, sendo inconfundível com a motivação – formalização dos
motivos – podendo o motivo do ato ser vinculado ou discricionário, conforme o
caso.
A discricionariedade dos atos pode ser percebida, por exemplo, no uso, pelo
legislador, de conceitos jurídicos indeterminados, aqueles que são estabelecidos
de forma imprecisa, incerta, fluida, sendo dotados de largueza e ambiguidade.
Tais conceitos garantem, ao lado de uma zona de certeza, uma zona cinzenta,
com a existência de conceitos plurissignificativos, elásticos, como, por exemplo,
os requisitos de relevância e urgência presentes para a edição de medidas
provisórias.
A discricionariedade, no entanto, é sempre parcial, não se identificando com a
arbitrariedade, esta importa na ilegalidade dos atos, competindo à Administração
a anulação ou a convalidação, conforme o caso. A anulação é a retirada do ato,
com efeitos retroativos; já, por meio da convalidação – ato privativo da
Administração –, os atos com vícios sanáveis são corrigidos, e mantidos no mundo
jurídico, realizada com efeitos retroativos, desde que não cause prejuízo ao erário
ou a terceiros.
(2004/Cespe – MPE/TO – Promotor de Justiça) Explique, de forma objetiva, em
que consiste o poder de polícia sanitária e analise, em tese, a validade de contrato
administrativo em que tal atividade tenha sido objeto de delegação a empresa
particular.
Extensão máxima: 30 linhas.
COMENTÁRIOS
O problema maior da questão não é sua interpretação, isso porque o enunciado
é direto: explicar, de forma objetiva, em que consiste o poder de polícia sanitária
e a análise da delegação da referida atividade do Estado para particulares. A
dificuldade reside, portanto, na definição de poder de polícia sanitária, afinal não
é tema de conhecimento corrente entre os concursandos.
O poder de polícia do Estado incide em duas áreas de atuação: administrativa e
judiciária. Mais precisamente o poder de polícia administrativa é prerrogativa de
restringir e de condicionar direitos, bens e atividades em prol do interesse público
e da segurança do Estado. Entre as atividades condicionadas pelo Estado para a
segurança da sociedade pode ser destacada a polícia sanitária.
A polícia sanitária constitui atividade típica do Estado, logo indelegável a
particulares, entendimento, inclusive, pacificado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) na ADI 1.717.
Depois do breve “passeio” teórico, que tal passarmos à estruturação da
dissertação, com a sugestão de seis linhas por parágrafo:
1.º Parágrafo (introdução) – o tópico frasal, além de chamariz para o examinador,
serve de preparação para o regular desenvolvimento da dissertação. O candidato
pode expor o conceito de poder de polícia e indicar as duas áreas de atuação, a
judiciária e a administrativa, para concluir que a polícia administrativa, entre
outros tipos, pode atuar no campo sanitário.
2.º Parágrafo (desenvolvimento – definição do poder de polícia sanitária) – depois
de apresentar o conceito de poder de polícia, o candidato definirá em que
consiste a polícia sanitária. Pode ser sinteticamente definida como a prerrogativa
de o Estado eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação
de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
3.º Parágrafo (desenvolvimento – atos indelegáveis a particulares) – o candidato
precisa criar sempre um link entre os parágrafos. Na situação apresentada,
questiona-se sobre a delegação do Poder de Polícia a empresa particular, logo é
recomendável tecer breves comentários sobre atos indelegáveis a particulares,
deixando para o tópico de conclusão o detalhamento do poder de polícia
enquanto atividade indelegável.
4.º Parágrafo (conclusão – empresa particular e exercício do poder de polícia) –
no parágrafo anterior, o candidato mencionou que determinadas atividades do
Estado são indelegáveis. Entre tais atividades, o poder de polícia é exclusivo do
Estado, logo não sendo passível de exercício pela empresa particular. Portanto, o
candidato, além de retomar a definição de polícia sanitária, concluirá que referido
poder não pode ser objeto de delegação a particulares, o que, inclusive, já foi
pacificado pelo STF no julgamento da ADI 1.717.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O poder de polícia é a prerrogativa de o Estado limitar, dentro da lei, o exercício
dos direitos individuais em prol do interesse da coletividade. Essa faculdade a
cargo do Estado, para impor medidas restritivas aos particulares, pode incidir em
duas áreas: na judiciária e na administrativa. Entre as finalidades da polícia
administrativa, destacam-se a de assegurar a tranquilidade, a segurança e a
salubridade em setores diversos de atuação, como: ambiental, comunicação,
edilícia, das profissões, e sanitária.
Entre essas, a polícia sanitária é exercida pelo Estado enquanto legislador, pois
apenas por lei os administrados podem ser limitados, bem como pelo Estado-
administrador, na regulamentação da lei e sua execução. Referido setor do poder
de polícia pode ser conceituado, sinteticamente, como o conjunto de normas e
de providências específicas, em face de situações de perigo atual ou futuro, que
prejudiquem ou simplesmente ameacem lesar a saúde e a segurança dos
indivíduos. Para o seu exercício há discricionariedade na escolha e imposição das
limitações de higiene e segurança, em defesa da população.
Relativamente à delegação das funções estatais, cumpre registrar que não há
óbice jurídico do desenvolvimento de determinadas tarefas de titularidade do
Estado por particulares, como é o caso da delegação da prestação de serviços
públicos a concessionárias e a permissionárias, nos termos do art. 175 da
CF/1988. Contudo, certas atribuições são indelegáveis, porque exclusivas,
exemplo da atividade jurisdicional, da regulação e, também, do poder de polícia,
haja vista, nesses casos, a presença do poder de império, nota peculiar
inexistente nas relações travadas entre particulares.
Em conclusão, sabendo que determinadas atividades são exclusivas do Estado,
caso do poder de polícia, o exercício da polícia sanitária não pode ser delegado
às empresas particulares. Esse entendimento, inclusive, foi pacificado pelo
Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 1.717, oportunidade em que se
concluiu que os Conselhos Profissionais, autarquias “sui generis”, por praticarem
atos de polícia administrativa, não podem ter outra natureza jurídica que não seja
a de Direito Público.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A conduta dos agentes públicos, de qualquer nível da Administração Pública, deve
ser sempre pautada nas normas e princípios constitucionais e legais,
preservando-se a integridade de suas ações, e, por conseguinte, evitando-se a
retirada de seus atos administrativos viciados por anulação, e dos atos
inconvenientes e inoportunos por revogação.
A revogação é a retirada do ato administrativo legal e eficaz, com efeitos não
retroativos, tendo por fundamento o poder discricionário da Administração
Pública, porque lhe é facultada a revisão de sua atividade interna por razões de
mérito, de conveniência e de oportunidade, para adequá-la à realização do
interesse público. Contudo, o poder de revogação não é ilimitado, isso porque há
situações jurídicas que a impedem, confirmando a existência de atos
administrativos irrevogáveis.
Os atos administrativos são irrevogáveis tendo por base a própria natureza do ato
anterior e os efeitos produzidos na ordem jurídica, destacando-se, dentre outros:
os atos exauridos ou consumados, com o fundamento de que o efeito da
revogação é não retroativo, não sendo possível, portanto, a retroação para
alcançar os efeitos passados; os atos vinculados, haja vista a revogação se apoiar
em razões de mérito e em aspectos de conveniência e de oportunidade,
inexistentes nos atos vinculados; e os atos geradores de direitos adquiridos,
conforme previsto na jurisprudência do STF (Súmula 473).
Adicionalmente, a doutrina lista os seguintes atos irrevogáveis: os atos
integrantes de um procedimento administrativo, porque a prática do ato
sucessivo acarreta a preclusão do ato anterior (p. ex.: a celebração de contrato
administrativo impede a revogação do ato de adjudicação); os meros atos
administrativos, como são os atestados, os pareceres e as certidões, porque os
efeitos são prefixados pelo legislador; os atos complexos, porque são formados
pela conjugação de vontades de órgãos diversos, logo, a vontade de um dos
órgãos não pode desfazer o ato que a lei impõe a integração de vontades para a
formação; e, por fim, a revogação não pode ser promovida quando se exauriu a
competência relativamente ao objeto do ato.
Por todo o exposto, conclui-se que os poderes garantidos aos administradores
públicos são limitados, seja quanto à sua regularidade, seja quanto à sua
conveniência e oportunidade, sendo-lhes imposta a autotutela dos atos
administrativos. Porém, mesmo diante de atos inconvenientes e inoportunos, os
servidores públicos podem se deparar com situações de irrevogabilidade,
relativamente à própria natureza do ato anterior ou quanto aos efeitos
produzidos na ordem jurídica.
• A Lei 8.112/1990 (Regime Jurídico dos servidos civis da União) dispõe que (art.
11):
O recrutamento do pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito
mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive
através do Diário Oficial da União, prescindindo de concurso público.
COMENTÁRIOS
A questão encontra-se na parte de organização administrativa, trata, mais
precisamente, sobre a Reforma do Aparelho do Estado. Não há grandes
problemas na interpretação, pois a organizadora solicita, tão somente, a
identificação de erros e sua respectiva argumentação. A problemática, no dia de
prova, foi identificar quais os diversos erros conceituais no texto sugerido.
Segundo o parecer da Esaf (pós-recursos), a questão teve por objetivo a
identificação fundamentada, com base no PDRAE, dos seguintes erros
conceituais:
1.º Parágrafo
(...), a fiscalização tributária compõe as chamadas Atividades Exclusivas do Estado
e não o Núcleo Estratégico. Desta forma, a atividade de fiscalização tributária,
apesar de não apresentar um caráter absolutamente gerencial, não se reveste de
um caráter eminentemente burocrático, como dito pela afirmativa.
Item II – Seu caráter deve ser gerencial; e Item III – O processo de modernização
não deve ser refratário à incorporação de novas técnicas gerenciais; e
2.º Parágrafo
3.º Parágrafo
(...), as Atividades Exclusivas do Estado, ao incorporarem as ideias do modelo
gerencial, (...) começam a priorizar o controle nos resultados e não nas atividades
meio, portanto, passam a direcionar suas ações com foco nos cidadãos, e tornam-
se mais eficientes e eficazes.
Agora é sua vez, tente fazer igual ou melhor que a dissertação acima. Em todo
caso, recomendo a leitura do livro do Gabriel Pereira e Gisele Sulsbach, Guia
Prático de Discursivas (São Paulo: Método, 2010).
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O acordo-programa ou contrato de gestão é um pacto firmado pela
Administração Pública, uma espécie de convênio administrativo, entre um órgão
supervisor com outro órgão ou entidade da Administração Pública ou do Terceiro
Setor. Por meio do acordo, estabelecem-se indicadores, metas, a serem atingidas,
ao passo que se garantem ao órgão/entidade beneficiário recursos para o alcance
dos resultados pretendidos. O acordo-programa, portanto, assume ou pode
assumir tripla configuração.
A primeira é a formação de uma parceria entre o Poder Público e suas entidades,
conferindo a estas maior autonomia gerencial, orçamentária e financeira,
devendo-se, em todo caso, observância às metas de desempenho, aos
indicadores de eficiência. A formação da parceria, nesse caso, encontra-se
fundamentada no art. 37, § 8.º, da Constituição Federal. Por ilustrativo, podem
ser citadas as agências executivas. Nos termos da Lei 9.649/1998, é previsto, para
a titulação de autarquias ou fundações públicas como agências executivas, o
atendimento cumulativo de apresentação de plano de reestruturação ou de
desenvolvimento institucional, ainda que em andamento, e a celebração de
contrato de gestão com o respectivo Ministério da área supervisora.
Já a segunda configuração garante a assinatura de contratos de gestão com
entidades não integrantes da Administração Pública. Nesse sentido, a Lei
9.637/1998, a qual trata das Organizações Sociais (OSs), dá a possibilidade de
assinatura de contratos de gestão, ficando obrigadas a atingir metas relacionadas
a serviços e atividades de interesse público – atividades relativas às áreas de
ensino, cultura e saúde, por exemplo. Em contrapartida, recebem auxílio da
Administração, mediante, por exemplo, transferência de recursos públicos,
cessão de bens e servidores públicos.
Por fim, a terceira configuração é a celebração entre o Poder Público e seus
próprios órgãos, unidades administrativas despersonalizadas, fundamentada,
igualmente, no art. 37, § 8.º, da Constituição Federal. Essa última configuração
tem sido objeto de críticas por parte da doutrina: a primeira apoia-se no fato de
que órgãos, por serem despersonalizados, não poderiam assinar contratos; a
segunda sustenta-se na ideia de que o contrato não é lei, logo, não é o
instrumento hábil ao incremento de autonomia financeiro-orçamentária. O que
se tem, em verdade, é um acordo operacional, espécie de convênio
administrativo, por meio do qual o Poder Público garante maior autonomia
administrativa aos órgãos, em troca de maior eficiência, com desenho de metas
e de indicadores de desempenho.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta, e eu sanciono, a seguinte Lei
Complementar:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1.º Esta Lei Complementar estabelece normas gerais, no âmbito dos poderes
da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, sobre a ampliação da
autonomia gerencial, orçamentária e financeira, dos órgãos e entidades da
administração direta e indireta, mediante a celebração de contrato de gestão.
Parágrafo único. As diretrizes, critérios e procedimentos para a celebração de
contrato de gestão entre órgãos e entidades serão estabelecidos em ato do Poder
Executivo no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados a partir da data da
publicação da presente Lei Complementar.
(...)
CAPÍTULO II
DO CONTRATO DE GESTÃO
Art. 5.º Contrato de gestão é o instrumento celebrado entre o Ministério ou órgão
setorial equivalente do Poder Público, na qualidade de autoridade responsável
pela formulação e supervisão de uma ou mais políticas públicas, e órgão ou
entidade da administração direta e indireta, por meio do qual os administradores
destes últimos comprometem-se a atingir metas de desempenho
preestabelecidas, tendo como contrapartida a ampliação da autonomia
gerencial, orçamentária e financeira dos mesmos.
(...)
CAPÍTULO VI
DA AMPLIAÇÃO DA AUTONOMIA DE GESTÃO
Art. 19. Os órgãos e entidades que celebrem contrato de gestão com o Poder
Público poderão sujeitar-se a regulamento próprio dispondo acerca de:
I. Gestão e contratação de recursos humanos, incluindo-se a definição de
quadros, cargos, sistemas remuneratórios, modalidades de provimento, sistemas
informatizados de pagamento e controle, avaliação de desempenho e
desenvolvimento e capacitação;
II. Gestão de orçamento e finanças, incluindo-se a definição de níveis e sistemas
de programação e execução orçamentária e financeira;
III. Gestão de licitações e contratos, incluindo-se a definição de modalidades e
limites licitatórios.
(...)
Art. 20. Os regulamentos a que se refere o art. 19 serão elaborados por ato do
Poder Executivo, tendo como base critérios e parâmetros por este estabelecidos
e em estrita observância dos princípios constitucionais da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
(...)
Art. 22. Os regulamentos a que se refere o art. 19 permitirão o amplo e irrestrito
acesso dos órgãos de controle interno e externo, responsáveis pela fiscalização
do contrato de gestão, bem assim assegurarão amplo controle social e
transparência de atos e fatos de gestão dos órgãos e entidades contratados.
(...)
Art. 25. Os dirigentes dos órgãos e entidades contratados e contratantes
promoverão as ações necessárias ao cumprimento do contrato de gestão sob
pena de responsabilidade solidária por eventual irregularidade, ilegalidade ou
desperdício na utilização de recursos ou bens.
Com base nos excertos da proposição legal hipotética apresentada acima, redija
um parecer, fundamentado nas questões conceituais pertinentes, tendo em
vista o atual contexto da administração pública brasileira, em especial no que
se refere aos questionamentos a seguir.
A) A necessidade de flexibilidade gerencial é um requisito pertinente de
desempenho institucional, em face da crescente complexidade do contexto da
gestão pública contemporânea, ou sua aplicação decorre de efeito mimético
inspirado em experiências paradigmáticas exógenas?
B) Trata-se o contrato de gestão de dispositivo comprovadamente eficaz à
garantia tanto de flexibilidades de gestão quanto de mecanismos de
accountability, tendo em vista o risco da ocorrência de problemas de agência e
as históricas influências patrimonialistas na cultura política e administrativa
brasileira?
C) Em que extensão seria viável ou recomendável a implementação do contrato
de gestão, em face da natureza burocrática e centralizada dos sistemas auxiliares
e de controle da administração pública, que se baseiam predominantemente na
lógica da conformidade e do controle, e não na lógica do desempenho?
D) Em que extensão seria viável ou recomendável a implementação do contrato
de gestão, em face da cultura procedimental e ao baixo compromisso com
resultados, predominante em muitas organizações públicas?
E) De que forma o dispositivo constitucional em questão poderia ou deveria ser
aplicado?
Extensão: mínimo de 60 e máximo de 90 linhas.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
O contrato de gestão ou acordo-programa foi idealizado no direito francês como
meio de controle administrativo ou de proteção sobre as empresas estatais. Mas,
antes disso, o acordo-programa já era utilizado como meio de vinculação de
determinadas empresas privadas a programas governamentais.
Mais recentemente, no Brasil, os contratos de gestão passaram a ser celebrados
entre o Poder Público e seus próprios órgãos, portanto, com unidades
administrativas destituídas de personalidade jurídica própria – os chamados
centros de responsabilidade.
Tais centros se comprometem a atingir determinados objetivos institucionais,
fixados em consonância com o programa de qualidade proposto pelo órgão
interessado e aprovado pela autoridade competente, em troca, também, de
maior autonomia de gestão.
O simples fato de ser celebrado com um órgão sem personalidade jurídica já
demonstra que o vocábulo “contrato”, no caso, só é empregado provavelmente
porque não se conseguiu outro melhor, já que, na realidade, não se trata de
verdadeiro contrato, o qual supõe que ambas as partes tenham personalidade
jurídica própria, sendo enquadrado, portanto, como típico acordo operacional ou
convênio administrativo.
Em relação às empresas estatais e aos centros de responsabilidade, a ideia é a de,
por meio do contrato de gestão, fixar compromissos bilaterais: a) para a empresa
ou órgão, o de cumprir determinados objetivos fixados em planos nacionais ou
em programas pré-definidos pelas partes; e b) para a Administração Pública, o de
flexibilizar os meios de controle sobre a entidade, conferindo-lhe maior grau de
autonomia na gestão dos negócios.
No direito brasileiro, o contrato de gestão vem sendo celebrado com empresas
estatais, com o mesmo objetivo visado no direito francês, porém, esse efeito
mimético é um pouco distinto. O ponto de coincidência encontra-se no alcance
dos contratos de gestão em relação às empresas estatais, isso porque houve por
parte do Governo o mesmo objetivo que inspirou o sistema francês, de
contratualizar o controle que a Administração exerce sobre as entidades da
Administração Indireta. Logo, a flexibilidade gerencial é um requisito
indispensável ao novo desenho institucional, em face da crescente complexidade
da nova gestão pública.
Nesse caso, a vantagem existe para as duas partes: para o Estado, porque
submete as empresas ao cumprimento dos programas ou objetivos
governamentais; para as empresas, porque ganham maior autonomia de gestão,
sujeitando-se a um controle de resultados, ao invés do controle puramente
formal a que se sujeitam normalmente. Aliás, o controle de resultados é essencial
nesse tipo de contrato, porque é a única maneira de verificar-se a consecução dos
objetivos governamentais. Evidente, portanto, que o contrato de gestão tende a
ser eficaz em termos de flexibilidade de gestão, bem como na responsabilidade
dos agentes, no dever de transparência, o accountability.
No entanto, a utilização de tais acordos no direito brasileiro ainda encontra
dificuldades para a plena eficácia, em face, sobretudo, do direito positivo
atualmente em vigor em relação às entidades da Administração Indireta, o que
impede, certamente, o pleno efeito mimético. A partir da Constituição de 1988,
verificou-se a tendência de se publicizar o regime jurídico das pessoas jurídicas
de direito privado integrantes da Administração Indireta. Enfim, praticamente se
igualou o regime de tais empresas e o da Administração Direta, em termos de
contabilidade, orçamento, controle, licitação, processo de seleção de pessoal.
Na ausência de reformas da estrutura da Administração Direta e Indireta, fica
difícil conseguir resultados mais positivos com o contrato de gestão, porque, em
contrapartida pelos compromissos impostos às empresas estatais, não pode o
Governo oferecer a almejada autonomia financeira, orçamentária, patrimonial.
Aquilo que é possível no direito administrativo francês, muito menos legislado do
que o nosso, fica difícil, senão impossível, no direito brasileiro, enfim, o efeito
mimético não é alcançado, porque as estruturas são diferentes, logo, são exigidas
adaptações de toda ordem. Dificilmente se pode celebrar contrato de gestão,
sem esbarrar em normas legais expressas. É exatamente o que vem ocorrendo na
esfera federal.
À vista das dificuldades apontadas, é indispensável, para assegurar a almejada
autonomia, mudar o direito positivo. Não se pode, por meio de contrato de
gestão, descumprir normas legais e preceitos da própria Constituição. A sua plena
operacionalidade é recomendável, especialmente diante da atual cultura
organizacional, baseada, muita das vezes, em processos e não em resultados, e
do baixo grau de compromisso dos atores públicos.
É evidente que o contrato de gestão pode ser útil para o Estado e para suas
empresas, mas há que ser respeitado o direito positivo. A autonomia a ser
concedida às entidades com as quais o Estado celebra esse tipo de contrato não
pode ultrapassar os limites definidos em lei. De outra forma, as entidades
integrantes da Administração Pública Federal, embora assinem contrato de
gestão, continuam obrigadas a determinadas regras constitucionais, tais como:
obrigatoriedade de concurso público para a seleção e admissão de pessoal (art.
37, II, da CF/1988); observância do limite máximo de remuneração de dirigentes
e servidores (art. 37, XI, da CF/1988); cumprimento das normas para licitação e
contratos pertinentes a obras, serviços, compras, alienações e locações (art. 37,
XXI, da CF/1988, e Lei 8.666/1993).
A viabilidade do contrato de gestão pode ser observada também fora do âmbito
da Administração Indireta. Os contratos de gestão vêm sendo mencionados pelo
Governo Federal como modalidade de ajuste a ser celebrado com antigas
instituições governamentais, então transformadas em organizações sociais, com
o mesmo objetivo de flexibilização do direito francês. Aqui é válida a crítica já
feita com o transporte do modelo para o nosso tão positivado.
As organizações sociais constituem novo tipo de entidade, que o Governo chama
de “pública não estatal”. Ela é pública, não porque pertença ao Estado, mas
porque exerce serviço de utilidade pública e administra o patrimônio público, sob
controle por parte do poder público. Só que esse controle se flexibiliza, deixando
de ser essencialmente formal, como ocorre hoje em relação às entidades da
Administração Indireta, passando a ser um controle de resultados.
Não há dúvida de que o contrato de gestão representa peça fundamental na
implantação da Administração Pública Gerencial, com o toque de maior eficiência
no desenvolvimento das atividades e flexibilidade na atuação Estatal, a partir da
descentralização dos serviços. Esses ganhos de eficiência serão obtidos sem
prejuízo do atendimento aos anseios da sociedade usuária, cada vez mais
exigente e globalizada.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 dispõe que é vedada a acumulação remunerada
de cargos, empregos e funções públicas. Essa vedação é aplicável a toda a
Administração Pública Direta e Indireta, como também extensiva às subsidiárias
e às sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo Poder Público.
A proibição, no entanto, não é absoluta. O texto constitucional admite a
acumulação remunerada em algumas situações, desde que observados o teto
remuneratório do funcionalismo público e a compatibilidade de horários. Dentre
as permissões constitucionais, destaca-se a de dois cargos de professor.
Assim, no caso concreto, não haveria, “a priori”, impedimento de Carlos acumular
o cargo de professor em universidade federal com o de professor rede municipal
de ensino. Porém, a jurisprudência sinaliza que a acumulação não pode
ultrapassar a jornada máxima de 60 horas. Dessa forma, é lícito à Administração
ordenar que Carlos opte por um dos cargos, obrigando-se a afastar do outro. No
presente caso, Carlos, ao fazer a opção por um dos cargos, terá reconhecida sua
boa-fé.
As questões que se impõem é saber se há o dever de restituição dos valores
percebidos por Carlos e se pode a Administração efetivar o desconto em folha.
Quanto à devolução dos dinheiros, a Lei 8.112/1990 prevê que se provada a
acumulação proibida e o servidor optar por um dos cargos, ficará reconhecida sua
boa-fé; se todavia constatada que sua conduta esteja eivada de má-fé, perderá o
cargo federal e restituirá o que tiver recebido indevidamente do Estado, cabendo
ainda comunicação da demissão à Administração Municipal para a adoção das
providências que entender cabíveis.
Relativamente ao desconto em folha, o Supremo Tribunal Federal (STF) considera
que a Administração não pode, sem o consentimento do servidor, promover a
indenização do prejuízo por meio de processo administrativo que resultaria em
desconto em contracheque, sendo necessária a propositura de ação judicial. No
entanto, não se trata aqui de desconto decorrente de indenização, mas de
natureza administrativa, ou seja, reposição de verbas salariais indevidamente
pagas ao servidor, o que tornaria, em tese, factível o desconto em folha de Carlos,
acaso comprovada sua má-fé.
Por todo o exposto, considerando os termos da Lei 8.112/1990 e da
jurisprudência do STF, não há necessidade de Carlos restituir os dinheiros aos
cofres públicos, porque reconhecida sua boa-fé e demonstrada a efetiva
prestação dos serviços. Em sentido reverso, de má-fé, os descontos em folha
poderiam ser efetivados, observados os requisitos do art. 46 da Lei 8.112/1990.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
No âmbito da União, o diploma normativo que rege as relações jurídico¬
funcionais dos servidores públicos federais é a Lei 8.112, de 1990, a qual,
juntamente com as normas constitucionais relativas a esses agentes, constitui o
regime jurídico responsável por delinear os direitos, os deveres e as garantias dos
servidores.
Entre os direitos podem ser destacadas a aposentadoria, as férias, o direito de
greve. Já, em termos de deveres, há a disciplina, a responsabilidade, a
assiduidade, os quais se não observados podem gerar, por exemplo, a inabilitação
dos servidores efetivos no curso do estágio probatório. A inabilitação poderá,
conforme o caso, acarretar a recondução, se o servidor for estável, ou, gerar a
exoneração, se o servidor não tiver adquirido a estabilidade no serviço público.
Distintamente da demissão, a exoneração não tem o caráter punitivo, podendo
ocorrer, entre outras hipóteses, a pedido do servidor detentor de cargo
comissionado ou de ofício pela Administração, por excesso de pessoal (art. 169
da CF/1988), decorrente da avaliação periódica de desempenho ( art. 41, § 1.º,
inc. III, da CF/1988), e devido à inabilitação em estágio probatório, por exemplo.
Apesar de a exoneração não ter natureza jurídica de penalidade, o entendimento
dominante na doutrina e na jurisprudência é que devem ser observados o
contraditório e a ampla defesa para o desligamento por inabilitação em estágio
probatório, como se depreende, por exemplo, da leitura da Súmula 21 do
Supremo Tribunal Federal.
Diante de todo o exposto, a exoneração do servidor público efetivo Joaquim
deverá ser precedida dos princípios do contraditório e da ampla defesa, a
despeito de a exoneração não ter a natureza punitiva, como é o entendimento
da doutrina e da jurisprudência sumulada do STF, contudo, sem a necessidade de
procedimento específico para extinção de seu vínculo com a Administração
Pública.
(2009/Cespe – TRT/9R – Analista Judiciário) Maria, servidora pública federal, é
casada com Antônio, portador de obesidade mórbida, reconhecida por junta
médica oficial. Com vistas a proporcionar o tratamento de que o marido
necessita, inexistente no seu atual domicílio, Maria requereu a sua remoção para
a capital do estado. A administração pública, ao fundamento de que a remoção
só pode ser concedida no interesse da administração, negou o seu pedido,
alegando não poder prescindir do trabalho de Maria. Além disso, arguiu que não
há vagas na capital.
Com base nessa situação hipotética, redija um texto em que responda, de forma
fundamentada, ao seguinte questionamento.
Agiu com acerto a administração?
Extensão máxima: 30 linhas.
COMENTÁRIOS
Vamos direto à paragrafação:
1.º Parágrafo (introdução) – exposição do caso concreto, com palavras próximas
às utilizadas pela organizadora.
2.º Parágrafo (desenvolvimento – considerações sobre os tipos de remoção) –
sugiro listar os tipos de remoção encontrados na Lei 8.112/1990 (de ofício e a
pedido), finalizando o parágrafo com a remoção a pedido que independe do
interesse da Administração, a fim de criarmos uma possível interligação com o
parágrafo subsequente.
3.º Parágrafo (desenvolvimento – remoção a pedido independentemente do
interesse da Administração) – o candidato deve destacar que a remoção a pedido
por motivo de saúde do cônjuge ou companheiro, condicionada à comprovação
por junta médica oficial, além de dispensar o interesse da Administração, será
efetuada ainda que não haja vagas.
4.º Parágrafo (conclusão) – demonstração de que a servidora faz jus à remoção
a pedido, independentemente do interesse da Administração e da existência de
vagas.
Vamos à solução.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
Na situação apresentada, a Administração indeferiu o pleito de servidora pública
federal de remoção para capital do estado, com o propósito de assistir o cônjuge,
em face de ser portador de obesidade mórbida, reconhecida por junta médica
oficial. Para tanto, a Administração alegou a inexistência de vagas e a
circunstância de a remoção não atender a seu interesse.
Preliminarmente ao deslinde do caso, cabe registrar que a Lei 8.112/1990 prevê
o deslocamento do servidor de ofício ou a pedido. A remoção a pedido, por sua
vez, assume duas categorias: dependente ou independentemente do interesse
da Administração, destacando-se, nesse último caso, o deslocamento para
acompanhar o cônjuge servidor público civil que tenha sido removido de ofício,
entre outras hipóteses.
Dentre as hipóteses de remoção a pedido, independentemente do interesse da
Administração, destaca-se, ainda, a concedida por motivo de saúde do servidor,
cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu
assentamento funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial.
Nesse caso, a remoção será efetuada ainda que não haja vagas.
Por todo o exposto, conclui-se que os argumentos da Administração não
merecem prosperar. Logo, independentemente da existência de vagas e do
interesse da Administração, a servidora fará jus à remoção a pedido, de forma
vinculada, haja vista o reconhecimento de o cônjuge ser portador de obesidade
mórbida, atestada por junta médica oficial.
COMENTÁRIOS
Esse é um enunciado que não favoreceu nem um pouco o guerreiro concursando.
No entanto, com um pouco de calma e de método, poderá ser compreendido, de
forma a se descobrir o que o examinador queria que o candidato escrevesse em
sua resposta. Vejamos.
Vamos montar nosso roteiro virtual, haja vista a omissão da ilustre banca:
Agora não ficou bem mais fácil entender o enunciado? Agora é suficiente seguir
o bê-a-bá: introdução, desenvolvimento, conclusão.
No momento de dissertar, a cola é permitida na prova dissertativa! Isso mesmo.
Devemos coletar as informações do enunciado para montarmos nosso tópico
frasal. Por exemplo: No âmbito da União, o diploma normativo que rege as
relações jurídico-funcionais dos servidores públicos federais é a Lei 8.112, de
1990 (Estatuto dos servidores), a qual, juntamente com as normas constitucionais
relativas a esses agentes, constitui o regime jurídico responsável por delinear os
direitos, os deveres e as garantias dos servidores.
Com esse parágrafo, nossa missão está parcialmente cumprida. Reforço que esta
é apenas uma sugestão de parágrafo introdutório, pois, como dito, é partir do
treinamento que vocês aperfeiçoarão o próprio estilo de redação.
Em termos de incidência, aprendemos ser relativamente ampla, isso porque se
aplica a todos os servidores públicos federais, assim entendidos os detentores de
cargos efetivos e comissionados, lotados na administração direta e indireta,
compreendidas, nesse último caso, apenas as fundações públicas e as autarquias
federais, inclusive as sob regime especial, a exemplo das agências reguladoras e
executivas.
No entanto, o Regime Legal dos Servidores não esgota o rol de direitos e deveres
dos servidores públicos, pois o texto constitucional possui capítulo próprio
repleto de dispositivos atinentes às relações jurídico-funcionais desses agentes,
por exemplo: dever de probidade, dever de eficiência, direito a férias, direito à
aposentadoria.
Sabemos, ainda, que, além dos deveres e dos direitos, legais e constitucionais, há
a previsão de garantias. Uma das principais garantias dos servidores públicos
estatutários efetivos é a estabilidade, a qual é adquirida após o decurso de três
anos de efetivo exercício e avaliação positiva de desempenho por comissão
constituída com essa finalidade.
Ainda em termos de garantias, pode ser citada a necessidade de instauração de
processo administrativo (em sentido amplo), com direito ao contraditório e à
ampla defesa, para a aplicação de penalidades administrativas aos servidores,
bem como a irredutibilidade da remuneração.
Por fim, em termos constitucionais, cumpre observar que tanto a admissão como
o término – aposentadorias e pensões – da relação funcional dos servidores
estatutários não ficam imunes à fiscalização, destacando-se, com esse objetivo,
por exemplo, a atividade de registro a cargo do Tribunal de Contas da União.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
No âmbito da União, o diploma normativo que rege as relações jurídico¬
funcionais dos servidores públicos federais é a Lei 8.112/1990 (Estatuto dos
servidores), a qual, juntamente com as normas constitucionais relativas a esses
agentes, constitui o regime jurídico responsável por delinear os direitos, os
deveres e as garantias dos servidores.
Em termos de incidência, o referido diploma legal tem alcance bem amplo,
aplicando-se a todos os servidores públicos civis federais, assim entendidos os
detentores de cargos efetivos e comissionados, lotados na administração direta
e indireta, compreendidas, nesse último caso, apenas as fundações públicas e as
autarquias federais, inclusive as sob regime especial, exemplo das agências
reguladoras e executivas.
Apesar de sua larga abrangência, o Estatuto dos servidores não esgota o rol de
direitos e de deveres dos servidores públicos, tendo o texto constitucional
destacado, inclusive, capítulo próprio repleto de dispositivos atinentes às
relações jurídico-funcionais dos servidores, por exemplo: dever de probidade,
dever de eficiência, direito a férias, e direito à aposentadoria.
Além dos deveres e dos direitos, legais e constitucionais assegurados, há a
previsão de garantias. Uma das principais garantias dos servidores públicos
estatutários efetivos é a estabilidade, a qual é adquirida após o decurso de três
anos de efetivo exercício e a avaliação positiva de desempenho por comissão
constituída com essa finalidade.
Ainda, em termos de garantias, pode ser citada a necessidade de instauração de
processo administrativo prévio, para a aplicação de penalidades administrativas
aos servidores, em que serão observados o contraditório e a ampla defesa, bem
como a garantia de irredutibilidade de vencimentos, de salário-mínimo, de
descanso remunerado, preferencialmente aos domingos, entre outras.
Por fim, em termos constitucionais, cumpre observar que tanto a admissão como
o término da relação funcional dos servidores estatutários não ficam imunes à
fiscalização, destacando-se expressamente, com esse objetivo, o exemplo da
atividade de registro a cargo do Tribunal de Contas da União (TCU), em que será
verificada a legalidade do ato de admissão e de aposentação, aperfeiçoando-se
assim o ato complexo originariamente praticado pela Administração.
Por todo o exposto, não há dúvida de que a existência de um regime jurídico para
os servidores públicos, tanto em nível constitucional como em âmbito legal,
contribui para a transparência das relações jurídicas travadas entre esses agentes
e o Estado, em nítido fortalecimento dos princípios da Administração Pública e
do Estado Democrático de Direito.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A partir da Constituição Federal de 1988, o procedimento de licitação passou a
ser norma impositiva para toda a Administração Pública, direta e indireta.
Contudo, a obrigatoriedade não é absoluta, a Lei 8.666/1993 indica, por exemplo,
duas formas de contratação direta: a inexigibilidade e a dispensa de licitação.
Tais formas de contratação direta têm distinções entre si. Enquanto a
inexigibilidade decorre da impossibilidade jurídica de competição entre os
licitantes, quer pela exclusividade no fornecimento de um bem/serviço, quer pela
singularidade da prestação de determinados serviços visados pela Administração,
com rol exemplificativo de situações; a dispensa, do art. 24 da Lei 8.666/1993, é
vista como ato discricionário do administrador, isto é, conquanto existente a
competição, a Administração pode dispensar, se assim lhe convier, tendo um rol
exaustivo de hipóteses permitidas.
Dos casos de dispensa de licitação, admite-se a contratação de instituição sem
fins lucrativos, com base no art. 24, XIII, da Lei 8.666/1993, desde que haja nexo
efetivo entre a natureza da instituição e o objeto contratado, bem como
compatibilidade com os preços de mercado. Portanto, no presente caso, a
contratação direta da Fundação de Apoio foi incorreta, nos termos da Súmula 250
do Tribunal de Contas da União, isso porque a prestação de serviços de
informática não se correlaciona com pesquisa, ensino ou desenvolvimento
institucional.
Não fosse a ausência do nexo entre o art. 24, XIII, a natureza da instituição
contratada e o objeto contratual (serviços de informática), não haveria
impedimento de a contratação ser efetuada entre instituições de esferas
diversas, federal e estadual, como no caso em tela.
(2009/Cespe – TC/TO – Analista) É inexigível a licitação para a contratação de
serviços técnicos profissionais especializados, de natureza singular, com
profissionais ou empresas de notória especialização. Ressalvados os casos de
inexigibilidade, tais contratos deverão, preferencialmente, ser celebrados
mediante a realização de concurso, com estipulação prévia de prêmio ou
remuneração. A administração só poderá contratar, pagar, premiar ou receber
projeto ou serviço técnico especializado desde que o autor ceda os direitos
patrimoniais a ele relativos e a administração possa utilizá-lo de acordo com o
previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para sua elaboração.
Estas são disposições da Lei 8.666, de 1993, que trata das licitações e contratos
envolvendo a administração pública.
Considerando que o texto acima tem caráter motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
Serviços técnicos profissionais especializados e inexigibilidade de licitação.
COMENTÁRIOS
O espaço para essa questão, novamente, é relativamente curto para tão rico
tema. Nesses casos, o candidato deve primar pela objetividade, sem que esta
acabe por resultar em um texto incompleto. Assim, a concisão e clareza são
palavras-chave nestas redações curtas.
A estrutura de resposta sugerida, então, é dividida em quatro parágrafos.
Um detalhe. A ordem dos itens foi invertida, de forma que a questão fosse
construída de maneira mais lógica. Assim, partiu-se do conceito mais amplo, de
inexigibilidade, para uma das espécies desta: a contratação de serviços técnicos
profissionais, expondo-se, obviamente, tudo o que fora demandado pela banca.
PROPOSTA DE SOLUÇÃO
A inexigibilidade de licitação é uma das hipóteses de contratação direta, tendo
por fundamento a inviabilidade de competição, pois não há como se instaurar o
procedimento de licitação sob uma das modalidades existentes.
No rol exemplificativo do artigo 25 da Lei 8.666/1993, encontra-se a contratação
de serviços técnicos profissionais prestados por profissionais ou empresas de
notória especialização, enfim, aqueles que reconhecidamente são os que melhor
atendem aos interesses públicos, a despeito de não serem os únicos em suas
categorias. Essa contratação direta constitui vantagem para a Administração, a
qual pode contratar diretamente o profissional que melhor atenda aos interesses
da coletividade.
De outro lado, a não realização de licitação pode implicar a desvantagem de
contratação mais onerosa, uma vez que a Administração não colhe propostas de
preços no mercado, a fim de se certificar da compatibilidade com os preços
correntes.
A Lei de Licitações demanda, basicamente, três requisitos cumulativos para
contratação: serviço enumerado no art. 13 da Lei, objeto de natureza singular e
profissional de notória especialização. Assim, não é suficiente a previsão no
referido artigo, para a decretação de inexigibilidade, devendo se somar a
natureza singular do serviço. Por fim, frisa-se que a avaliação da “singularidade”
é uma das maiores dificuldades da Administração, por envolver sempre um juízo
de valor.