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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 17
Uma Proposta de Pesquisa sobre Formação de Professores de
Matemática no Tocantins usando a História Oral

Fernando Guedes Cury


UNESP/Rio Claro
UFT – Araguaína (TO)
matfernando@yahoo.com.br

Resumo

Esta é um exemplo de uma proposta de investigação que pretende constituir uma história da formação e
da atuação de professores de matemática e dos primeiros cursos que preparavam pessoas para o
magistério nesta área no Estado Tocantins a partir de documentação pertinente e, principalmente, de
depoimentos dos que participaram dos processos de criação daqueles cursos, de sua implementação
procurando entender ainda como se deu a formação dos que atuavam nas aulas de matemática no
Estado antes até da criação de tais cursos. Assim, buscar-se-á identificar as condições da
formação/capacitação de professores se deu em meio às dificuldades encontradas no sistema de ensino
da região. A investigação sobre os primeiros anos de atuação daqueles estabelecimentos formadores
quer levantar dados sobre sua estrutura física, o perfil de discentes e docentes, disciplinas ministradas,
motivações político-administrativas necessárias para seu surgimento, as principais práticas de
formação, entre outros aspectos, fazendo, para tanto, uso da História Oral como alternativa
metodológica para se estudar esta face da História da Educação brasileira, em especial da Educação
Matemática, naquela região.
Cabe ressaltar que esta proposta insere-se num programa maior do Grupo de Pesquisa em História Oral
e Educação Matemática que busca esboçar um mapa da formação de professores de matemática no
Brasil e onde está inscrito um estudo anterior a este, em nível de mestrado, já concluído, que investigou
a institucionalização da formação docente no Estado de Goiás e que serve de suporte teórico-
metodológico para o presente estudo. Este último trabalho já teve parte de seus resultados apresentados
no último SNHM.

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Uma Pesquisa sobre Formação de Professores de


Matemática no Tocantins usando a História Oral

Fernando Guedes Cury


Unesp – Rio Claro (SP)
UFT – Araguaína (TO)
matfernando@yahoo.com.br

Introdução e Objetivos

De acordo com os dados da sexta edição da Pesquisa de Informações Básicas Municipais,


divulgados em outubro de 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Tocantins é o Estado
que mais investiu em formação de professores e em inclusão digital. Os números da pesquisa mostram
como os municípios tratam questões como segurança pública, educação e inclusão digital.
Segundo o IBGE, dos municípios que desenvolveram ações nessa área se destacaram os dos
estados de Tocantins (69%), Bahia (65,6%), Rio Grande do Norte (63,6%) e Acre (61,5%). Em relação à
educação, a pesquisa mostra que a principal melhoria na área promovida pelos gestores municipais em
2006 foi a capacitação de professores, adotada por 85,2% dos municípios. O Tocantins está entre os dez
estados com melhor resultado nas avaliações do Saeb – Sistema de Avaliação da Educação Básica –, da
Prova Brasil, entre outros (OLIVEIRA, 2007).
Entretanto as coisas não caminharam sempre assim: após a divulgação de um mal resultado
no Saeb de 2001 quando o Estado do Tocantins ficou em 21˚ lugar entre as Unidades da Federação
avaliadas1, a Secretaria da Educação e Cultura do Estado de Tocantins implantou em 2003, em parceria
com a Fundação Cesgranrio, o programa Melhoria da Qualidade de Ensino do Tocantins, destinado à
formação continuada de professores de Matemática e Língua Portuguesa de 4ª e 8ª séries do ensino
fundamental. Em 2004 o Programa passou a atender também professores da 3ª, 5ª, 6ª e 7ª séries. Em 2005
foram incluídos professores do ensino médio (Ibid).

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Nesta edição do Saeb os Estados os Estados do Acre, Amará e Roraima não foram avaliados.
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Para superar esses baixos desempenhos diversas ações vem sendo implementadas de modo que
a formação de professores no Estado do Tocantins vem tomando grande fôlego nos últimos anos. Os
cursos emergenciais como os de formação em serviço, o aparecimento de faculdades e universidades
(particulares e públicas) aumentam a oferta de vagas para os cursos de licenciatura, mesmo assim a do
ensino é precária.
A formação de professores de Matemática constitui-se em base fundamental para a Educação
Matemática, e investigar como se deu o processo de institucionalização da formação do professor de
matemática e como se deu tal formação (se esta existia) mesmo antes da criação dos cursos atualmente em
funcionamento no Estado do Tocantins é a proposta encampada por este trabalho que, essencialmente,
buscará informações sobre as condições nas quais esses cursos começaram a funcionar, sobre o perfil dos
primeiros discentes e docentes, sobre a estrutura física, sobre quais as principais motivações que
desencadearam os processos, as demandas, as vivências; sobre quais eram, à época, os entornos políticos,
educacionais, humanos. Tenta-se, enfim, caracterizar um cenário, contar uma versão histórica a partir da
constituição de fontes – principalmente orais – como possível contribuição à História da Educação
Matemática Brasileira.

Revisão da literatura relevante

As pesquisas em História da Educação Matemática têm ganhado espaço nos últimos anos,
principalmente aquelas que se valem da Historia Oral como metodologia de pesquisa.. A preocupação
destas pesquisas com a formação de professores é latente, mas eles também voltam seus olhares para as
práticas pedagógicas relativas à Educação Matemática em diversas modalidades de ensino, para a
institucionalização de cursos que formavam professores de matemática, para a formação da identidade de
grupos de pesquisa/estudo/formação, entre outros vieses.
Um esforço recente nesta direção é o trabalho de doutorado de Antonio Henrique Pinto,
defendido em 2006, intitulado Educação Matemática e Formação para o Trabalho: práticas escolares na
Escola Técnica de Vitória - 1960 a 1990. O estudo pretendeu investigar e registrar práticas escolares que
foram se constituindo no fazer pedagógico da Escola Técnica de Vitória (ES) – hoje Centro Federal de
Educação Tecnológica do Espírito Santo (CEFETES) – destacando suas continuidades e descontinuidades.
O autor faz uso de depoimentos de pessoas envolvidas com aquela instituição como ex-professores, ex-
alunos, ex-diretores, além de uma vasta documentação levantada junto a arquivos ligados à instituição e
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entrelaça-os a documentos guardados em arquivos. Ao olhar para as práticas, culturas e saberes escolares
Antonio Henrique Pinto se apóia, entre outros autores, em Michel de Certeau evidenciando conflitos e
contradições presentes no cotidiano da instituição.
O trabalho de mestrado de Maria Ednéia Martins-Salandim, chamado Escolas Técnicas
Agrícolas e Educação Matemática: Histórias, Prática e Marginalidade, defendido em 2007, pretende
construir uma história da formação de professores de matemática que atuaram em núcleos de ensino
técnico agrícola nas décadas de 1950 a 1970 a partir do uso da metodologia de pesquisa da História Oral.
Tendo como principal eixo para as análises o conceito de marginalização e aproveitando visitas a algumas
instituições onde foram consultados documentos em arquivos. A autora também pretendeu descrever
especificidades das escolas estudadas, formas de atuação e inserção do discurso daqueles professores na
História da Educação Matemática Brasileira.
Entretanto, emerge entre estas pesquisas uma que – pela proximidade de objetivos – servirá de
suporte para a presente proposta de investigação: o meu trabalho de mestrado denominado Uma História
da Formação de Professores de Matemática em Goiás. Neste trabalho pretendi contar uma história da
institucionalização dos primeiros cursos de formação de professores de matemática em nível superior por
meio de documentação pertinente e – principalmente – de depoimento de (ex-)professores e (ex)alunos
que estiveram envolvidas nos processos de viabilização, implementação e condução de tais cursos.
Buscou-se caracterizar as primeiras negociações para o início das atividades de formação, as condições em
que ocorreram as atividades de ensino e dados gerais sobre a estrutura física e acadêmica daquelas
instituições. Essa investigação vale-se da História Oral – em sua vertente temática – como alternativa para
constituir uma narrativa sobre a história da Educação Matemática naquela região.
Especificamente no Estado do Tocantins podemos citar o trabalho de Regina Célia Padovan
que levantou alguns apontamentos sobre a formação de professores e da constituição de uma identidade
educacional na região do Bico do Papagaio (extremo norte do Tocantins). Seu estudo, “Memória e
Formação Docente: indícios e registros da identidade educacional na região do Bico do Papagaio”, teve
como foco o processo de constituição de fontes e documentação sobre formação de professores, a partir da
reunião dos diferentes registros sobre o antigo Centro de Formação de Professores Primários de
Tocantinópolis (CFPP), no período de 1970 a 1991, acrescido de outros projetos realizados, em anos
posteriores. A relevância da documentação reunida resultou na implementação de um Centro de

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Documentação2, servindo como local de referência para realização de futuras pesquisas, como a que agora
se apresenta.
Um outro estudo realizado no Tocantins que entendemos como relevante para apoiar nossa
investigação é o livro de Maria José de Pinho chamado “políticas de formação de professores: intenção e
realidade”. A autora colocando o Estado do Tocantins no centro da sua discussão, afirma que as políticas
de formação no Brasil padecem de muitas mazelas, entre elas, a inadequação dos modelos curriculares
usados na formação em serviço, a ausência de uma política de valorização da carreira docente e a falta de
continuidade nas políticas publicas já executadas.

Relevância da investigação proposta

Mesmo após uma crise revolucionária, quando se tenta dar uma nova
estrutura a um sistema de ensino e de formação, o processo educativo [inclusive aquele
ligado à educação matemática] almeja integrar a pessoa (normalmente, e por motivos
óbvios, a criança e o jovem) a um determinado contexto e tradição sócio-cultural. Uma
vez consolidado, o processo educativo visa à transmissão desta, pois é esta que sustenta
os valores em que a sociedade se apóia.
Entretanto, à História da Educação compete não somente o relato das
diversas tradições educativas, mas, sobretudo, a tarefa de ajudar a formar uma visão
crítica das mesmas (GILES, 1987, p. 1).

A partir daí, e considerando-me um educador matemático com uma certa visão


histórica/historiográfica que me permite enxergar o passado do processo educativo em nosso presente, na
forma de pressupostos, de práticas, de atitudes e, invariavelmente, de preconceitos – eliminando a idéia de
História da Educação Matemática como uma simples leitura passiva de um “passado” ou como singelo
relato cronológico do desenrolar das teorias e práticas educativas – que entendo ser altamente relevante
para a Educação Matemática e para o estado do Tocantins a proposta encampada pelo presente projeto.
Esta pesquisa pretende inserir-se no que atualmente tem se caracterizado, no domínio da
Educação Matemática (EM), como a tendência de investigação “História da Educação Matemática” na
medida em que se propõe a “recolher, conhecer e estudar o depoimento de antigos professores visando à

2
O Centro de Documentação denominado Formação de Profissionais da Educação originou-se do projeto de pesquisa
“Formação inicial e continuada de professores no Tocantins: melhoria da qualidade de ensino e de vida”, financiado pelo
CNPq, através do Edital PNOPG/2001, desenvolvido no período de 2002 a 2004. O projeto reuniu diferentes profissionais da
Fundação Universidade Federal do Tocantins (UFT), da Universidade do Tocantins (UNITINS) e da Secretaria de Educação do
Estado (SEDUC).
O Centro de Documentação localiza-se em duas salas, nas dependências do Campus Universitário de Tocantinópolis, e
atualmente insere-se como projeto nas atividades de pesquisas de professores e alunos.
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reconstituição de histórias dentro da História” (GARNICA, 2000, p.5) e dispõe-se a delinear um mapa da
formação de professores de matemática do no Tocantins em seus passos iniciais. Um “mapa” será aqui
entendido como uma configuração aberta, uma possibilidade de reescrita das condições em que ocorreu a
formação dos professores de Matemática, dos modos com que se deu a atuação desses professores, do
como se apropriavam dos materiais didáticos, seguiam ou subvertiam as legislações vigentes etc.
(GARNICA, 2005).
A presente investigação, portanto, mostra-se relevante visto não apenas sua contribuição para a
constituição do panorama nacional sobre a formação de professores, mas, também, pela utilização do
método da história oral, metodologia recentemente incorporada aos estudos dessa região de interface.
Inscrevendo-se em um grupo de pesquisa já consolidado em Educação Matemática, a pesquisa poderá
trazer à luz informações, procedimentos, fundamentos e perspectivas relevantes tanto sobre o método
quanto sobre a própria Educação Matemática e a formação de seus professores.
Esta pesquisa, ainda, dá passos na direção da constituição de um mapa da formação de
professores de matemática no Brasil, objetivo de um dos projetos de pesquisa do GHOEM, que já dispõe
de trabalhos enfocando a formação de professores, políticas educacionais, educação matemática rural e
Escolas Técnicas Agrícolas no Estado de São Paulo, a educação matemática nas escolas “alemãs” de
Santa Catarina, a constituição, a atuação e a identidade de Grupos de Estudos e Pesquisas em Educação
Matemática. Assim, pensamos que esta nossa iniciativa possibilita ampliar o quadro de referências criado
com as atividades desenvolvidas pelo Grupo no sentido de compreender melhor a movimentação da EM e
seus entornos, ao longo dos anos, no país.

Fundamentação teórica e procedimentos de investigação e de análise

Tendo como pano de fundo o Grupo de Pesquisa “História Oral e Educação Matemática”, as
discussões nele promovidas e as publicações de seus membros, acreditamos que esta pesquisa pode ser
caracterizada como de natureza historiográfica, sendo então pertinente apresentar, aqui, uma concepção –
ainda que inicial – do que temos entendido por História. A concepção defendida por Jenkins (2005)
poderá esboçar, em princípio e em linhas gerais, uma matriz do que pretendemos perseguir:

A História é um discurso cambiante e problemático, tendo como pretexto


um aspecto do mundo, o passado, que é produzido por um grupo de trabalhadores
cuja cabeça está no presente (e que, em nossa cultura, são na imensa maioria
trabalhadores assalariados), que tocam seu ofício de maneiras reconhecíveis uns
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para os outros (maneiras que estão posicionadas em termos epistemológicos,
metodológicos, ideológicos e práticos) e cujos produtos, uma vez colocados em
circulação, vêem-se sujeitos a uma série de usos e abusos que são teoricamente
infinitos, mas que na realidade compreendem a uma gama de bases de poder que
existe naquele determinado momento e que estruturam e distribuem ao longo de um
espectro do tipo dominantes/ marginais os significados das histórias
produzidas.(2005, p. 52)

Admitindo que os “acontecimentos” do passado, objeto central de estudo da História, podem


ter vários significados dependendo de como são registrados, interpretados e transmitidos, trabalhar a partir
das versões de pessoas que participaram, efetivamente, desses “acontecimentos”, pode apresentar-se como
uma interessante intervenção para (e sobre) a produção de conhecimento, aceitando-se, na base dessa
opção, a possibilidade de que vivenciamos e registramos “alguma” história e não “a” história com um
significado unívoco, global e generalizante: tal é a crença fundamental que está na base dos esforços da
História Oral como a concebemos.
História Oral, segundo Meihy (2000), é um recurso de pesquisa moderno usado para a
elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência social de pessoas e grupos.
Assim, admitindo a necessidade de constituir outras fontes de informação dando valor às palavras dos que
foram ofuscados ou não foram profundamente estudados, optamos pela História Oral “Temática”3 como
modalidade para esta investigação.
Dessa forma, fundamentados em depoimentos orais de participantes considerados
significativos para a criação dos primeiros cursos de formação de professores de matemática do Estado do
Tocantins bem como dos que atuaram antes da consolidação destes cursos, reconstituindo aspectos de suas
práticas de formação e atuação, acreditamos ser possível identificar experiências relacionadas à
investigação proposta neste texto.
Entrevistas colocam-se, portanto, como fundamentais nessa pesquisa ainda que consideremos
necessária uma investigação documental prévia, incluindo consultas a jornais, livros, atas de reuniões etc,
a fim de reunir informações que indiquem nomes de potenciais entrevistados. Essa articulação com os
documentos escritos, alguns dos quais ditos “oficiais”, é um aspecto importante quando se pretende

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A História Oral Temática pauta-se nos depoimentos orais recolhidos das pessoas particularmente significativas para o
problema focado pelo pesquisador centrando-se mais, porém, em um conjunto limitado de temas – distintamente do que se faz,
por exemplo, na História Oral de Vida, uma outra modalidade nesse mesmo método, que pretende abarcar as experiências
vivenciadas pelos depoentes, por eles relatadas sem especificações prévias. Pretende-se, na História Oral Temática, reconstituir
“aspectos” da vida dos entrevistados, auscultar partes de experiências de vida, em recortes previamente selecionados pelo
pesquisador. (GARNICA, 2003, p. 7).
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configurar algo em interface com a história das instituições e das práticas docentes; textos escritos podem
complementar fontes orais (e vice-versa); depoimentos imprimem vida e re-significam fontes escritas; e
considerando os dados oriundos desse processo de articulação, torna-se possível elaborar novas histórias,
investigar, constituir e questionar verdades, sejam elas “novas” ou já vistas.
A busca pelos depoentes poderá acontecer, também, a partir do critério de rede em que os
próprios depoentes indicam outros para serem entrevistados. Alguns potenciais depoentes já foram
determinados por serem localmente reconhecidos como atuantes no período que interessa esta pesquisa e
se mostraram interessados na participação na pesquisa. As entrevistas serão conduzidas a partir de
questões pré-determinadas e de questões suscitadas pelos entrevistados no processo da pesquisa ou, ainda,
a partir de questões especialmente elaboradas com a intenção de aprofundar de detalhes que interessem à
pesquisa, quando o caso for eticamente viável. Aliás, este é um cuidado que se faz presente em todos os
momentos do trabalho: o respeito ao interlocutor.
Garnica (2003) adverte:
Os termos gerais da pesquisa – seu objetivo, suas pretensões, seus
procedimentos, a equipe envolvida, o uso que se fará do material coletado etc –
devem ser, já de início, explicitados claramente ao depoente. A concordância com
esses termos – ou com os termos que resultarem do processo de negociação – se
captados por gravação, dispensará a carta de cessão que permitirá o pesquisador o
uso dos dados para fins acadêmicos [...] As condições gerais da entrevista – tempo,
número de seções, locais etc – devem submeter-se primeiramente às condições do
depoente.

Após a coleta das entrevistas, os documentos escritos produzidos a partir delas serão analisados
segundo num exame hermenêutico. Muitos autores salientam o fascínio das entrevistas envolvidas em
pesquisas na História Oral.
Os depoimentos gravados passarão por um processo inicial chamado “transcrição”, fase
primária de tratamento dos depoimentos, quando é feito o primeiro registro escrito dos depoimentos orais,
sendo, o pesquisador, o mais fiel possível a todos os elementos lingüísticos presentes nos diálogos entre
pesquisador e colaborador.
Em um segundo momento, o depoimento transcrito passará pelo processo de “textualização”.
Pode haver, então, uma mudança mais radical no texto da transcrição, omitindo-se as perguntas, os vícios
de linguagem e construindo um texto em que as informações são colocadas de forma corrente e integradas
ao contexto da pesquisa. A textualização é considerada um texto em co-autoria pesquisador/entrevistado,

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embora muitas vezes – como pode ser confirmado pelas pesquisas já desenvolvidas por outros
investigadores do Grupo de Pesquisa “História Oral e Educação Matemática” – seja um texto de autoria
do pesquisador que o depoente autoriza (ou não) como algo que ele diria ou escreveria.
Finalmente, textualização e transcrição são devolvidas ao depoente para que ele faça suas
considerações, censurando ou acrescentando informações e concedendo ao pesquisador, por uma carta de
cessão, o direito de tornar público o registro desses vários encontros, tornado texto escrito. Este processo
caracteriza-se ainda por uma negociação entre os dados acrescidos/censurados pelo depoente e os
objetivos da própria pesquisa.
Em relação à análise, pensamos que este momento não é específico, realizados apenas ao final
da investigação, mas algo que durante todo o processo o pesquisador faz em suas interpretações e
escolhas. Assumimos, portanto, a análise como um aspecto próprio da pesquisa: analisar é reconhecer e
registrar a contaminação que nossas compreensões sofrem no contato com o outro, e a análise, portanto,
adquire diferentes formas conforme os objetivos da pesquisa, o estilo dos colaboradores e do pesquisador
e o referencial teórico em jogo.

Exeqüibilidade

Creio que tal projeto de pesquisa é exeqüível no prazo de quatro anos por conta de alguns
fatores: sou professor no Colegiado de Matemática da Universidade Federal do Tocantins residindo na
cidade de Araguaína, onde tenho total apoio para o desenvolvimento do projeto que segue seu cronograma
de forma compassada. Além disso, o meu trabalho de mestrado, recentemente concluído, tem as mesmas
bases teóricas e metodológicas do estudo que agora apresento. Outro aspecto favorável ao bom andamento
da investigação é que ela está inserida no grupo de pesquisa “História Oral e Educação Matemática”,
cadastrado no CNPq, do qual fazemos parte desde 2004, discutindo questões como metodologia e
fundamentação teórica da interface História Oral e Educação Matemática e promovendo interlocução com
outros pesquisadores de instituições e áreas diversas. Por fim, mas não menos importante, ressalto que
alguns primeiros contatos para a seleção de depoentes estão sendo estabelecidos e podem ser considerados
satisfatórios com a determinação de potenciais depoentes.

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