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A R.N.E.S. estende-se por uma área de 23.160 ha, dos quais, cerca de
13.500 ha são de área estuarina e os restantes, cerca de 9.500, são
constituídos por zonas húmidas marginais convertidas para a salinicultura,
para piscicultura e para a orizicultura, por áreas terrestres e por pequenos
cursos permanentes de água doce.
A flora
Das inúmeras espécies de flora que se podem encontrar nas diversas áreas
da R.N.E.S., como os sapais, as dunas, entre outras, destacam-se as
seguintes pela sua manifesta beleza: Giesta (cytisus sp.), Armeria pungens,
Dedaleira (Digitalis purpurea), Lírio (Iris sp.), Feto (Pteridum aquilinum), Lírio
(Íris psedochorus), Camarinheira (Corema album), Tomilho (Thimus
capitellatus), Santolina (Santolina impressa), Cardo rolador (Eryngium
maritimum) e Bocas de lobo (Antirrhinum majus).
A fauna
Os golfinhos que encontramos no estuário do Sado, pelas águas da Arrábida ou pela costa da
Galé, pertencem a uma espécie que ocorre em quase todos os mares do mundo. É o golfinho-
roaz, roaz ou roaz-corvineiro e é o mais típico dos golfinhos, aquele que habitualmente se
encontra nos jardins zoológicos ou que aparece na televisão.
É uma espécie que nasce com 90-130 cm de comprimento e os adultos podem atingir os 4
metros. Atingem a maturidade sexual a partir dos 7 anos, o período de gestação é de um ano e a
cria alimenta-se do leite da mãe até aos 18 meses. Só dois ou três anos depois de ter uma cria é
que as fêmeas estão aptas a ter outra.
O golfinho-roaz pode ser encontrado no oceano, mas geralmente habita águas costeiras em
locais como os estuários. O estuário do Sado alberga uma população de golfinhos-roazes com
cerca de 40 indivíduos, a única população de golfinhos residente em Portugal. Pensa-se que os
indivíduos que a constitutem fazem parte da mesma população que visitava o estuário do Tejo.
Desde 1984 que estes golfinhos têm sido o objecto de estudo de vários cientistas. No entanto,
uma vez que são animais de estrutura social complexa e que passam 90% do seu tempo
debaixo de água é difícil tirar grandes conclusões em poucos anos de estudo.
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Também os machos e as fêmeas se confundem. Só através das fendas genitais que possuem
no ventre se podem diferenciar. No Sado, como tal não é possível de observar, são
consideradas fêmeas os animais que acompanham as crias.
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O rio Sado é uma zona altamente intervencionada pelas actividades humanas. A poluição resulta
não só de toda a indústria que lá existe, mas também das minas, da agricultura, da intensa
actividade portuária e dos esgotos urbanos. Existe uma Reserva Natural na zona mais a
montante do estuário, mas que não engloba as zonas onde os golfinhos passam a maior parte
do seu tempo.
Os golfinhos são mais fáceis de encontrar ao longo da costa de Tróia, no canal menos poluído e
com maior circulação de águas. Mas tal não quer dizer que estes animais não corram perigo,
pois as águas acabam sempre por se misturarem e nelas existem substâncias muito nocivas
como os pesticidas e os metais pesados. Estas substâncias possuem uma capacidade de se
acumularem ao longo da cadeia trófica, tornando-se mais prejudiciais para os animais de topo da
cadeia alimentar, como são os golfinhos-roazes. Quem sofre ainda mais são as crias que,
indefesas, bebem o leite materno contaminado, em cuja gordura se fixam estes poluentes.
Outro problema dos golfinhos do Sado são os barcos. Desde os grandes navios, rebocadores,
traineiras, ferry-boats que fazem a ligação permanente Tróia-Setúbal, até aos barcos de lazer e
motas-de-água, os golfinhos estão sujeitos diariamente a um intenso tráfego marítimo, causador
também de um grande ruído sub-aquático constante.
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O estuário do Sado:
No que respeita à conservação da natureza, os estuários têm vindo cada vez mais a ser
considerados sistemas de grande importância, representando para a Estratégia Mundial da
Conservação, biótopos essenciais aos processos ecológicos que suportam a vida e
implicitamente de vital importância para a manutenção dos equilíbrios ecológicos da biosfera.
Possuem no geral, uma produtividade elevada que origina cadeias alimentares diversificadas e
abundantes, que desempenham um papel determinante na sobrevivência das populações.
O estuário do Sado, situado na península de Setúbal a 30º 04’ N, 09º 24’ W, é uma das zonas
húmidas mais importantes de Portugal, com grande valor ambiental e sócio-económico. Em 1980
foi criada a Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES) que engloba a zona mais a montante
do estuário.
O estuário do Sado subdivide-se em três zonas distintas no que respeita à circulação das águas:
o canal sul, com uma profundidade média de 20m e correntes intensas, que corresponde à zona
preferencial de trocas de água entre a zona marinha e a parte interior do estuário; o canal norte,
com uma profundidade média de 10m, cujas correntes são fracas e no sentido montante e que
além disso, recebe a maior parte das descargas de efluentes urbanos e industriais; e ainda uma
zona intermédia, que corresponde à zona de baixios.
O rio Sado é um habitat altamente intervencionado pelas actividades humanas, que colocam em
risco o seu equilíbrio ecológico. Para tal contribuem diversas fontes de poluição, nomeadamente
os efluentes urbanos e industriais, a actividade agrícola e as minas de pirites, que apesar de
desactivadas, contêm nas suas águas de escorrência uma composição semelhante à dos
efluentes das minas em actividade. A nível dos efluentes industriais os poluentes mais
importantes são os TBT´s, os PCB’s (especialmente no canal norte), o DDT e os metais
pesados, que têm origem nas diversas industrias locais (química, cimenteira, construção naval e
actividade portuária). Cargas consideráveis de matéria orgânica, aumento de concentração de
fosfatos, nitratos, amónia e contaminação por bactérias e vírus, são as consequências dos
efluentes urbanos, de instalações pecuárias, curtumes, etc. As actividades agrícolas, em
particular as culturas intensivas de tomate e principalmente de arroz, originam descargas
consideráveis de fertilizantes e pesticidas.
A actividade piscatória no rio Sado é muito intensa sendo as redes de tresmalho (solheira e
branqueira) as artes mais utilizadas, embora também se usem frequentemente artes ilegais
como o arrasto bentónico. A mais utilizada é a solheira que é practicada durante todo o ano, mas
possui um período de maior intensidade correspondente à época de maior abundância de choco
(Sepia officinalis) e de linguado (Solea vulgaris), espécies que representam practicamente a
totalidade das capturas.
As espécies mais representativas da ictiofauna pelágica são o sargo-safia (Diplodus vulgaris), a
choupa (Spondyliosoma cantharus) e a taínha-garrento (Liza aurata), seguidas do sargo
(Diplodus sargus), do salmonete (Mullus surmuletus) e do robalo (Dicenthrarchus labrax). Da
ictiofauna bentónica destacam-se o charroco (Halobatrachus didactylus) e o linguado, e ainda o
biqueirão (Engraulis encrasicolus), o alcorraz (Diplodus annularis) e o caboz (Gobius niger).
Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (1993), muitas destas espécies
encontram-se comercialmente ameaçadas. As taínhas no geral (Mugilidae) e a savelha (Alosa
fallax) são ainda espécies que merecem destaque pela sua importância na dieta dos golfinhos-
roazes. Também representados no estuário do Sado e de grande importância na alimentação
dos golfinhos-roazes estão os cefalópodes que são, por ordem decrescente de importância, o
choco, o polvo (Octopus vulgaris) e a lula (Loligo vulgaris).
O conhecimento da salubridade do rio Sado é limitado já que a maior parte dos estudos
existentes sobre a qualidade das águas e a fauna deste, se encontram desactualizados. No
entanto, em resultado das actividades humanas dos últimos anos, é notável o crescente estado
de deterioração do estuário.
FRANCISCO CANEIRA
RODRIGO DE OLIVEIRA
TIAGO ABADE