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A Imagem da Ciência no Cinema

Marcia Borin da Cunha e Marcelo Giordan

Neste artigo, discutimos como a ciência e o cientista são representados em determinadas épocas pelo cine-
ma, contribuindo para constituição de uma percepção social da Ciência. Num primeiro momento, relacionamos
o cinema com o momento histórico em que a Ciência se encontrava quando da produção de determinados
filmes. Num segundo momento, discutimos a introdução do cinema na sala de aula no sentido de proporcionar
a professores e alunos uma reflexão sobre seus papéis de autores e audiência na cultura escolar.

comunicação-educação, cinema, imagem da Ciência

Recebido em 27/03/08, aceito em 13/12/08

A
história do cinema pode ser movimento, a reprodução da imagem 28 de dezembro de 1895, em Paris,
contada a partir da busca do teve de migrar da ponta dos pincéis fato esse considerado o marco de
homem em reproduzir a ima- e bicos de pena para o complexo fundação do cinema como empre-
gem em movimento. Há 12 mil anos, processo de trans- endimento socioeco-
o homem das cavernas já desenhava formação química da nômico. Foram pro-
animais com oito patas na tentativa fotografia, resultado A história do cinema jetadas apenas duas
de representar o movimento. Muitos da interação da luz pode ser contada a partir pequenas filmagens
séculos se passaram até que o ale- com o cloreto de pra- da busca do homem em (aproximadamente
mão Athanasius Kircher (século XVIII) ta. Sem a fotografia, reproduzir a imagem em um minuto cada) que
inventasse a “lanterna mágica” – uma inventada em 1827, movimento. causaram espanto
caixa composta de uma fonte de luz não teríamos conhe- no público presente.
e lentes que enviavam imagens fixas cido o cinema. No entanto, o cinema Uma delas foi a chegada de um trem
para tela –, invento considerado como só foi possível, também, porque o à estação e a outra, a saída de ope-
verdadeiro precursor do cinema. ser humano possui uma limitação no rários da fábrica Lumière.
Desse ponto, bastava criar um meca- sistema de captação de imagens. O Embora os franceses reivindiquem
nismo de apresentação sequenciada nosso olho não consegue distinguir para si a invenção do cinema, por
de imagens para produzir a sensação cada uma das cerca de 30 imagens conta do salto dado pelos irmãos Lu-
de movimento, o que levou, posterior- por segundo que recebe. mière, não nos parece correto afirmar,
mente, à captação da imagem em No final do século XIX, o norte- do ponto de vista tecnológico, que o
movimento. americano Thomas Alva Edson (1847- cinema teve seu início na França, por-
Esse mecanismo apareceu em 1931) construiu uma espécie de caixa que na mesma época realizavam-se
1833 quando o britânico W. G. Horner metálica com uma fonte de luz e um experiências semelhantes em vários
criou o zootrópio, aparelho baseado visor (cinetoscópio), por meio do qual outros países que, posteriormente,
na sucessão circular de imagens que, uma fita (filme de celuloide) passava foram reunidas para dar origem a
ao serem giradas, davam a ilusão óp- a razão de 46 imagens por segundo, uma nova concepção sobre como
tica de movimento contínuo. Em 1877, gerando sensação de movimento. representar e criar imagens em mo-
o francês Émile Reynaud inventou o Entretanto, é na França que nasce vimento.
teatro óptico, que juntou a lanterna o cinematógrafo, inventado pelos Apostando mais na invenção
mágica e espelhos para projetar irmãos Luis e Augusto Lumière. A do cinematógrafo, Georges Méliès
filmes de desenhos numa tela. Para primeira apresentação pública de um comprou essa “máquina de filmar” e,
produzir a impressão de realidade do filme, feito por eles, aconteceu em aproveitando sua experiência como

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mágico e diretor de teatro, deu vida A imagem da Ciência no cinema sim, desde o início do século XX até
ao cinema produzindo, em 1902, o os nossos dias, podemos percorrer
primeiro filme com cenas e expressão De modo geral, podemos consi- diferentes imagens produzidas pelo
dramática. Era um curta metragem derar pelo menos três relações entre cinema para mostrar em suas telas a
de 12 minutos, Le voyage dans la os filmes e a opinião pública: Ciência e o cientista.
lune (Viagem à Lua), considerado, 1. Os filmes podem refletir, realçar Nossa intenção, neste artigo, é
atualmente, o primeiro filme de ficção ou intensificar alguns aspectos indicar filmes, classificando-os em
científica do cinema, tendo sido ins- da opinião pública sobre deter- gêneros que, tendo sido produzidos
pirado em um dos romances de Júlio minado assunto ou tema; em períodos mais ou menos delimi-
Verne. É também nesse primeiro filme 2. Os filmes podem inserir novas tados, apresentam o cientista como
que aparecem as primeiras represen- ideias na opinião pública sobre protagonista e a Ciência segundo
tações de cientistas no cinema, ainda algum assunto ou tema; uma concepção marcada por sua
que inspiradas em um romance de 3. Os filmes tentam modificar relação com a sociedade da época,
ficção. ideias presentes na opinião com o intuito de promover uma dupla
Ao longo de todo o século XX, pública sobre determinado as- reflexão: sustentar a tese da dinamici-
muitos outros filmes de ficção cientí- sunto ou tema. dade do empreendimento científico,
fica foram produzidos e contribuíram Do ponto de vista da economia situando-o historicamente a partir
para povoar o imaginário das pesso- de mercado, é preciso lembrar que das diferentes percepções de Ciên-
as, colaborando para construção de o cinema é um produto comercial, cia e sobre o cientista incutidas pelo
uma imagem pública da Ciência e que tem por objetivo atingir altos ní- cinema na constituição do imaginário
dos cientistas. veis de audiência e gerar lucros aos social; e avivar a discussão sobre a
À parte da evolu- seus produtores, o impressão de realidade provocada
ção tecnológica so- que normalmente se pelas obras de ficção cinematográfi-
bre a representação Na linguagem consegue estabele- ca e seus efeitos sobre a percepção
da imagem em movi- cinematográfica, cendo uma empatia social criada em torno da Ciência e
10 mento, o cinema pro- encontramos aspectos entre o público e os do cientista.
duziu uma verdadeira singulares da representação personagens do fil-
revolução na humani- e constituição da me. Nesse sentido, A Ciência e o início da ficção
dade, na medida em realidade, que levam existe uma estreita científica
que trouxe uma nova autor e audiência a relação entre as per- O século XIX foi marcado por
forma de estabelecer construírem novas formas cepções de Ciência grandes avanços da Ciência com o
interações entre su- de pensamento. e de cientista vei- desenvolvimento da força a vapor e
jeitos que concebem culadas nos filmes da eletricidade e suas consequências
o mundo por meio de uma linguagem e aquelas que supostamente estão para melhoria da vida das pessoas.
até então desconhecida. Na lingua- presentes no imaginário do espec- As expectativas em busca de novas
gem cinematográfica, encontramos tador. Podemos dizer que a Ciência conquistas científicas para o novo
aspectos singulares da representa- e o cientista têm sido mostrados século marcaram o início do século
ção e constituição da realidade, que nas telas do cinema de diferentes XX. Esperava-se deste uma crescen-
levam autor e audiência a construírem formas em períodos mais ou menos te evolução no campo da Ciência,
novas formas de pensamento. Essa delimitados. dando continuidade às iniciadas no
relação ‘pensamento-linguagem Não é possível demarcar exata- século anterior. Além disso, a con-
cinematográfica’ nos interessa aqui mente quando inicia ou termina uma quista do espaço sempre foi para a
para discutirmos como a Ciência e fase e onde as imagens de Ciência humanidade um dos seus grandes
os cientistas foram representados e do cientista são modificadas. As objetivos, especialmente em face das
em cada época pelo cinema e no modificações vão surgindo paulatina- alterações sofridas pela Astronomia
imaginário social, já que trataremos mente até o momento em que ocorre no século XIX – de uma ciência volta-
de ‘filmes comerciais’ e como, por- a predominância de uma determinada da principalmente para os planetas e
tanto, cientistas e Ciência podem forma de construção da imagem, se- seus movimentos, para uma Ciência
ser levados à sala de aula na direção gundo uma combinação de elementos dinâmica que visava principalmente o
de propiciar a professores e alunos técnicos como enquadramento e universo estrelar e a Física dos cor-
oportunidades para refletirem sobre iluminação, com elementos artísticos pos nele existentes. O sonho de uma
seus papéis de autores e audiência relativos a cenário, figurinos, atuação Ciência próspera e a perspectiva de
na cultura escolar. Nesse sentido, das personagens, entre diversas novas descobertas científicas fizeram
apresentamos a seguir nove fases outras possibilidades. Simplificada- surgir a ficção científica como forma
da produção cinematográfica, espe- mente, dizemos que a estabilização de de mostrar a projeção do futuro da
cificamente relacionadas à presença determinadas formas de construção Ciência.
da Ciência na temática e do cientista da imagem culmina com o surgimento No cinema, a primeira representa-
como protagonista de filmes. de um mesmo gênero de filmes. As- ção desse momento histórico surge

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em 1902, com o filme Le voyage aceita até aproximadamente 1930 quântica não foram as únicas novida-
dans la lune (Viagem à Lua) de Ge- quando alguns biólogos começaram des do início do século XX, pois a teo-
orges Méliès (Figura 1), baseado no procurar relações no comportamento ria da Relatividade de Einstein (1916)
romance homônimo de Júlio Verne, e na organização das diferentes par- mudava os fundamentos da Física da
tido como o primeiro filme de ficção tes dos organismos. época e provocava inúmeras outras
científica produzido para o cinema. Influenciado pelo contexto da épo- pesquisas nesse campo. Em 1938,
O filme se inicia com uma reunião na ca, em 1910, Thomas Edson filmou os alemães Fritz Strassmann e Otto
Academia de Astrônomos da França. Frankenstein (Figura 2) a partir do Hahn descobriram a fissão nuclear
Os cientistas discutem os planos para romance escrito pela inglesa Mary e iniciaram os estudos da energia
uma viagem à Lua, usando trajes de Shelley (1797-1851), publicado em atômica que levou à construção das
trabalho, muito semelhantes às ves- 1818. Até aproximadamente 1950, o bombas atômicas no final da Segun-
tes de feiticeiros. Antes de embarcar cinema mostrou uma Ciência ocupa- da Guerra Mundial (1939-1945). Em
na cápsula, que será lançada por um da em descobrir os segredos da vida, julho de 1945, os EUA explodiam a
canhão em direção à Lua, eles trocam criando novos seres vivos ou modifi- primeira bomba nuclear no deserto
as vestes por roupas de expedição. cando os já existentes. O cientista é de Alamogordo. Em agosto do mes-
Viagem à Lua é considerado hoje um misto de médico clínico, cirurgião, mo ano, foram lançadas mais duas
um curta metragem, em que Méliès pesquisador, e seu laboratório está bombas sobre as cidades japonesas
mostra uma das visões fantasiosas repleto de equipamentos estranhos de Hiroshima e Nagasaki. Em 1946,
que os homens possuíam da Lua nos com tubos de ensaio borbulhantes. os EUA construíam e disparavam
primeiros anos do século XX. Uma No filme Frankenstein, por exemplo, o primeiro míssil teleguiado e, em
expedição formada por homens cora- o Dr. Frankenstein ousa cruzar a fron- 1952, explodiam no atol de Eniwetok,
josos que vão à Lua, onde encontram teira entre a vida e a morte ao criar um no Pacífico, a primeira bomba de
seres nada amistosos. Lá, distantes monstro humano com partes de cor- hidrogênio que utilizava o processo
de seus locais de trabalho, os “cien- pos sem vida. A criatura sai em busca de fusão nuclear.
tistas” são capturados, mas ao final, de sua identidade e se volta contra As novas descobertas científicas
por meio de técnicas de trucagem o criador. Esse filme não só marcou da primeira metade do século XX e 11
cinematográfica, conseguem escapar uma fase do cinema como também o preço a ser pago pelo desenvol-
e retornar ao nosso planeta. influenciou – e ainda influencia – vimento da Ciência marcaram os
muitas produções cinematográficas filmes até meados dos anos 1960. A
nessa linha. São exemplos de filmes ameaça representada pela energia
dessa fase: Frankenstein (1910), O atômica e as imagens da destruição
médico e o monstro (1931), A ilha de Hiroshima e Nagasaki mostraram
das almas perdidas (1932), O homem no cinema uma Ciência que ameaça-
invisível (1933). va a estabilidade da humanidade. O
mundo se via diante de homens inteli-
gentes e produtores de conhecimento
que construíam uma Ciência que
podia interferir na vida das pessoas.
Além disso, a Ciência era mostrada
como arma para efeitos militares e
Figura 1: Cena do filme Viagem a Lua para demonstrar o poder das nações.
(1902): os astrônomos fugindo dos seres
Em um período de aproximadamente
encontrados na Lua.
25 anos, após a Segunda Guerra
Mundial, já durante a Guerra Fria, a
Ciência e medicina Ciência e o cientista apareceram no
A percepção de uma Ciência com Figura 2: Cena da primeira versão do cinema a serviço dos militares ou do
grandes e ilimitados poderes e a forte filme Frankenstein (1910) em que o Dr. governo. O cinema apresentava tam-
crença de que todos os fenômenos Frankenstein, utilizando magia, produz bém os sobreviventes dos conflitos
da vida podiam ser reduzidos às leis uma nova criatura. militares e os efeitos das guerras. A
básicas da Química e da Física mar- partir de 1962, chegava ao cinema
caram o imaginário sobre a Ciência Ciência como ameaça à hu- o filme com o personagem britânico
do início do século XX. O prussiano manidade 007 que enfrentava o Dr. No, pondo
Jacques Loeb (1859-1924) foi um A primeira metade do século XX foi fim a seu plano diabólico de destruir o
forte defensor da concepção meca- marcada por mudanças significativas mundo. A missão do Agente 007 era
nicista da vida que considerava os no campo científico, principalmente neutralizar a ação de um cientista lou-
corpos como composição de partes no que diz respeito à descoberta co que desejava dominar o mundo. O
e simples agrupamentos de molécu- das unidades básicas do átomo. No cientista (Dr. No) era um especialista
las. Essa concepção foi amplamente entanto, o átomo nuclear e a teoria em Física Nuclear e chefiava uma

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organização criminosa localizada Ciência e poder Hitler. Em 1978 (quando o filme foi
num esconderijo numa ilha do Caribe. A chegada do homem à Lua em lançado), a clonagem ainda não era
Lá a organização protegia-se em um 1969, simbolizada pelos norte-ameri- realidade, mas nessa época havia
abrigo contra bombas. canos Neil Armstrong e Edwin Aldrin as pesquisas sobre a combinação
Nesses filmes, a espionagem era depois de um voo de quatro dias na genética e a recombinação do DNA
o foco principal, e o cientista apare- nave Apollo 11, fez parecer que a (iniciadas na década de 1970) que
cia como um especialista em armas, ciência havia atingido seu auge e o deram as bases para a engenharia
principalmente nucleares. homem havia conseguido realizar seu genética, proporcionando um grande
Dessa época, também é impor- maior sonho, “a conquista do espa- avanço da área nas décadas de 1980
tante destacar dois clássicos que ço”. Os astronautas permaneceram e 1990. A possibilidade de a Ciência
atravessam gerações: A máquina do lá 21 horas e 37 minutos, coletaram reproduzir a vida humana, por meio
tempo (1960) e 2001: uma odisseia no materiais e toda operação pôde ser dos genes, faz surgir filmes desse
espaço (1968). Nes- vista no mundo intei- gênero. Nessa época, entretanto,
tes, o cinema tenta ro pela televisão. Pa- aparece também nos filmes outra
marcar fortemente a De um vídeo didático recia não se ter mais temática que abordava as questões
presença das máqui- a um filme de ficção nada a fazer na Ciên- relativas ao meio ambiente.
nas na condução do científica comercial, cia. Toda ficção cien-
destino dos homens. existem diferenças muito tífica relacionada à
No primeiro filme, grandes, não só em conquista do espaço
um aparato trans- termos de sua produção, parecia ter acabado
porta Rod Taylor até mas principalmente na naquele dia. O que
uma civilização que ideologia presente em fariam os cientistas
perdeu totalmente cada um deles. então? Para o cine-
suas características ma, ou trabalhariam
normais devido a séculos de guerra. para o governo e grandes empresas
12 A humanidade foi reduzida a duas ou serviriam às pessoas com suas
classes sociais: os passivos Eloi e invenções maravilhosas. O cinema
os repugnantes Morlocks. O segundo retrata isso! Assim, num período de
(Figura 3) é uma contagem regressiva aproximadamente uma década (1970
para o futuro, o mapa para o destino a 1980), os filmes deram pouca im-
da humanidade, uma indagação para portância à Ciência, especialmente Figura 4: Capa do filme Meninos do Brasil
o infinito. A viagem começa no nosso aos aspectos relacionados ao seu (1978).
passado ancestral, então salta milê- desenvolvimento. Dos filmes dessa
nios para colônias espaciais, onde o época, 60% mostravam governo, Ciência e as questões ambi-
astronauta Browman entra no espaço Forças Armadas e grandes empresas entais
sideral, até a sua imortalidade. Neste, utilizando a Ciência como instrumen- O aumento demasiado das in-
o cinema questiona as invenções da to, e o cientista despenhando papel dústrias e a falta de uma política de
ciência (as máquinas criadas pelo coadjuvante e, em alguns filmes, ele controle ambiental marcaram o início
homem) e a possível ameaça destas era até ridicularizado. O filme Wes- dos debates sobre meio ambiente
à própria vida do homem. Novamen- tworld (1973), por exemplo, mostrou nas décadas de 1970 e 1980. Temas
te, a ideia do filme Frankenstein – ‘a um parque de diversões onde ricos como os perigos dos efeitos da radio-
criação se volta contra o criador’ – em férias podiam viver suas fantasias atividade nos seres vivos, a eminência
aparece nesse filme com uma nova utilizando robôs que satisfaziam todos de desastres ecológicos e a Guerra
roupagem. os seus desejos. Os cientistas eram Fria fizeram o cinema abordar o tema
encarregados de consertar os robôs sob a forma de alerta.
e de fazer o parque funcionar. Outro A partir da Conferência Mundial
exemplo é o filme Meninos do Brasil sobre Meio Ambiente realizada em
(1978) em que o cientista e a Ciência Estocolmo em 1972 e da Conferên-
estavam a serviço do governo. Nesse cia Internacional sobre Educação
filme (Figura 4), um grupo nazista Ambiental realizada na Geórgia em
põe em prática um antigo projeto do 1977, iniciou-se a discussão em tor-
alto escalão do Partido Nazista, cujo no da necessidade de se promover
objetivo era reproduzir geneticamente uma Educação Ambiental para toda
Hitler, sua família e reviver os acon- população. Em função de todos es-
tecimentos que marcaram sua vida. ses debates, no final da década de
Figura 3: Cena do filme 2001: uma odis- As experiências eram realizadas por 1970 e durante a década de 1980,
seia no espaço (1968): o portal da pas- meio de células congeladas e óvulos o cinema também apresentou uma
sagem do tempo. de mulheres semelhantes à mãe de série de filmes que abordaram temas

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ligados ao meio ambiente, principal- Ciência fantástica e divertida exemplo de filme desse tipo é: Queri-
mente filmes do gênero catástrofe Na década de 1980, supercondu- da, encolhi as crianças (1989).
que tinham como intenção alertar tores foram a grande sensação. Os fí-
a população sobre os perigos das sicos Bednorz e Muller (1986) usaram Ciência e engenharia gené-
bombas nucleares e radiações. Essa uma mistura de bário, lantânio, cobre tica
fase se desenrola especialmente em e oxigênio e produziram uma cerâ- A engenharia genética, que teve
meio à expansão das usinas nuclea- mica supercondutora de eletricida- um grande avanço nas décadas
res e à iminência de de. Outra novidade de 1980 e 1990, tornou possível a
uma terceira guerra foi o lançamento do manipulação do DNA, por meio da
mundial, devido ao Para selecionar um filme, primeiro ônibus es- recombinação, alteração ou adição
aumento do poder é preciso considerar seu pacial (1981) capaz de genes de diferentes origens, e
bélico das nações alcance, o que pode de ser aproveitado também permitiu criar novas formas
mais poderosas ser discutido, em qual em outras missões. de vida. As polêmicas em torno do
do planeta. O filme momento do curso a Atrelado a essas ino- assunto se intensificaram a partir de
Síndrome da China discussão se insere e, vações, na segunda 1996 quando nasceu a ovelha Dolly –
(Figura 5) é um dos sobretudo, ressaltar que metade da década o primeiro mamífero clonado. Desde
mais conhecidos um filme de ficção científica de 1980, ocorreu o então, o cinema não parou mais de
dessa época, pois não tem compromisso em fim da Guerra Fria explorar intensamente o tema, pro-
foi lançado doze espelhar a realidade. entre os EUA e a duzindo uma série variada de filmes
dias antes de um União Soviética e, desse gênero. As questões éticas em
acidente real na usina nuclear de com isso, os filmes cessaram de torno da clonagem e seus riscos tam-
Three Mile Island. Devido ao acidente explorar a visão de Ciência ligada bém foram trazidos ao cinema como
e à intencionalidade dos produtores ao poder e passaram a mostrar uma tema dos filmes dessa época.
desse filme em alertar a população Ciência menos comprometida com Assim, a década de 1990 foi
para os perigos das usinas nuclea- os governos. O cientista era retrata- marcada por filmes nos quais o tema
res, este pode ser considerado um do como um homem mais alegre e principal era a engenharia genética e, 13
marco dos filmes de ficção científica suas experiências não tinham outra especialmente, o processo de clona-
que têm o intuito de abordar ques- finalidade senão resolver problemas gem. Na maioria dos filmes, a primeira
tões que envolvam o ambiente e a imediatos. Tentando projetar uma parte explica as conquistas da Ciência
vida. O título é uma metáfora que se Ciência menos comprometida com e, na continuação, os cientistas ten-
refere ao efeito que poderia provocar o poder e seus malefícios, surgiu no tam fugir das consequências de suas
um reator superaquecido e descon- cinema o personagem Indiana Jones. descobertas/criações. A genética era
trolado derretendo e afundando no O primeiro filme foi lançado em 1981 – apresentada como tema de filmes so-
chão até chegar à China. O filme Indiana Jones e os caçadores da arca bre o futuro do planeta e da humanida-
retrata a dificuldade da mídia (TV) em perdida (dirigido por Steven Spiel- de. Exemplos: Parque dos dinossauros
mostrar e alertar a população sobre berg) –, dando início a uma nova fase (1993) (Figura 6), Gattaca (1998). Em
os perigos de uma usina nuclear da Ciência e do cientista no cinema. filmes do gênero comédia, não se
recém-construída. Outros filmes O cientista era um herói, aventureiro buscava imprimir realidade ao tema
dessa fase: The day after (1983), que usava seus conhecimentos para da clonagem. Exemplos: Eu, minha
Os senhores do holocausto (1989), resolver mistérios e salvar o mundo. mulher e minhas cópias (1996), Uma
O início do fim (1989), A qualquer Era um homem fascinante, espe- aventura de Zico no Brasil (1998).
preço (1989). cialmente para as mulheres, para as
quais despertava desejo. Além disso,
era professor que despertava paixões
nas alunas.
Já na segunda metade da década
de 1980, o cinema passava apresen-
tar um cientista atrapalhado que fazia
experiências incríveis e arriscadas,
mas que nem sempre ‘davam certo’.
Essas experiências surgiam sempre
no momento oportuno para salvar
alguém ou, se as experiências não Figura 6: Cena do filme Parque dos dinos-
‘davam certo’, elas eram corrigidas sauros (1993).
no final do filme. Nessa época, os
cientistas conquistaram a simpatia A mulher na Ciência
Figura 5: Capa do filme Síndrome da do público e eram então vistos como Que a ‘Ciência é masculina’ (Chas-
China (1979). pessoas amistosas e divertidas. Um sot, 2003) nós já sabemos. A quase

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ausência das mulheres entre as laurea- o domínio das máquinas. A grande
das com o prêmio Nobel, por exemplo, intenção dos produtores desse filme
demonstra o predomínio dos homens foi confrontar o virtual à ilusão do
na Ciência. Mesmo quando agracia- quotidiano e nos fazer questionar a
das com a homenagem, as mulheres, respeito do que é o real num mun-
muitas vezes, tiveram que dividir com do virtual e o quanto a Ciência, por
os homens a premiação. Marie Curie meio das máquinas, poderá formar
ganhou dois prêmios Nobel em cam- um novo tipo de humanidade. Em
pos diferentes: em 1903 dividiu com o X-Men, encontramos a presença dos
marido Pierre o Nobel de Física e, em Figura 7: Cena do filme O contato (1997): seres mutantes que resultaram da
1911, ganhou sozinha o de Química. a cientista coletando dados. evolução e alterações genéticas que
Em 1935, a filha do casal Marie e Pierre detêm poderes de super-heróis. Os
ganhou o Nobel de Química também Informática. Segundo Kaku (2001), cientistas, no filme, veem esses seres
com o marido Frederic Joliot. Em 1963, os próximos 100 anos constituirão como um novo degrau da evolução
Maria Goeppert-Mayer recebeu o prê- a idade do domínio, na qual o ho- humana, mas os X-Men convivem
mio de Física ao lado de E. Wigner e mem poderá manipular a vida e a com homens comuns e, muitas ve-
J. Jensen. Em 1964, Dorothy Crowfoot, inteligência. A expectativa de uma zes, são considerados uma ameaça
ganhou sozinha o prêmio de Química ciência controlada pelo homem com à sociedade humana. Como esse é
com seu trabalho sobre estrutura de forte dose de inteligência artificial e um filme baseado em super-heróis,
substâncias bioquímicas. a perspectiva do rompimento com aparece a luta entre o bem e o mal. Al-
Desde então, a Ciência não pre- a Ciência da descoberta fazem o guns mutantes utilizam seus poderes
miou mais nenhuma mulher, mas cinema imprimir uma imagem de Ci- para dominar o mundo, porém o filme
é crescente o número de mulheres ência que apela para a imaginação e traz a figura relevante do cientista-
que se dedicam à Ciência, ingres- questiona a relação dos homens com professor Xavier que percebe que os
sando em cursos de pós-graduação as máquinas. mutantes devem ser educados para
14 e dividindo espaço com os homens No final do século XX e início do controlar seus poderes e utilizá-los
em diferentes campos da Ciência. O século XXI, o cinema apresenta mui- para o bem. Assim a educação apa-
cinema percebeu que a mulher es- tos filmes com seres mutantes, explo- rece como forma de transformação e
tava cada vez mais decidida a fazer rando o vasto campo da animação construção dos indivíduos.
parte da comunidade digital com cenas
científica e, na última impressionantes e
O modo como cada filme
década do século XX, muito bem produzi-
é concebido e a época
apresentou, em suas das. Surgem muitas
em que ele é realizado
telas, a mulher como adaptações de his-
têm reflexos diretos na
protagonista dos fil- tórias em quadrinhos
forma como o indivíduo
mes e das pesquisas em que heróis desa-
produz os significados e,
científicas. O cinema fiam a Ciência com
portanto, na formação de
mostrou uma mu- suas conquistas. O
seu pensamento.
lher dividindo espaço mundo virtual invade
com os homens nos o nosso imaginário e
laboratórios e centros de pesquisa. faz recriar uma nova imagem de Ci-
Figura 8: Cena do filme Matrix (1999): o
As cientistas eram sempre mulheres ência extremamente fantástica e, por
personagem principal Neo conectado as
bonitas e inteligentes, respeitadas vezes, inimaginável. São bons exem- máquinas.
pelo seu conhecimento, mas tinham plos: Matrix (1999), X-Men (2000). No
que lutar pelo seu espaço dentro primeiro filme (Figura 8), a história
dos seus ambientes de trabalho. O acontece por volta de 2200 e mostra O cinema na sala de aula
cinema, a partir de então, passou a a luta do ser humano para se livrar do A utilização de filmes na sala de
idealizar um novo tipo de cientista, domínio das máquinas que tiveram aula tem sido incentivada nos últimos
inserindo a mulher no mundo da Ci- uma evolução surpreendente após o anos, especialmente pelo aspecto
ência. São exemplos dessa fase: O advento da inteligência artificial. Matrix tecnológico da questão, ou seja, a
contato (1997) (Figura 7), Asteroide é o nome do programa de computa- instalação nas escolas de aparelhos
(1997) e Mutação (1997). dor que simula uma realidade virtual de TV, vídeos, telas de projeção etc.
ao qual a humanidade está presa, Entretanto, o aspecto tecnológico
Ciência e a inteligência artifi- enquanto seus corpos reais perma- não garante a utilização adequada do
cial necem em habitáculos. Entretanto, recurso. De um vídeo didático a um
O século XX terminou com gran- escondidos no interior da Terra ainda filme de ficção científica comercial,
des conquistas para três áreas da existe uma cidade povoada por seres existem diferenças muito grandes,
Ciência: a Quântica, a Genética e a humanos livres que tentam combater não só em termos de sua produção,

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mas principalmente na ideologia pensamento. Para Setton (2004), os filme para sala de aula é muito mais
presente em cada um deles (Moraes, produtos da ficção midiática (como que uma opção do professor. Trata-
2004). O modo como cada filme é qualquer outro produto da cultura) se, sobretudo, de um compromisso
concebido e a época em que ele é re- têm o poder de transcodificar dis- com a discussão sobre as ideologias
alizado têm reflexos diretos na forma cursos, sendo também documentos inseridas nos meios de comunicação,
como o indivíduo produz os significa- que contam a história, os anseios e os no nosso caso a mídia cinematográ-
dos e, portanto, na formação de seu conflitos de um povo. Assim, levar um fica. Um filme na sala de aula deve

Filmografia resumida das obras citadas:


Duração
Filme Ano Local Direção Distribuição
(minutos)
Le voyage dans la lune (Via- Material histórico
1902 12 França Georges Méliès
gem à Lua) (disponível na internet)
J. Searle Dawley e Material histórico
Frankenstein 1910 16 Estados Unidos
Thomas Alva Edson (disponível na internet)
O médico e o monstro 1931 98 Estados Unidos Rouban Mamoulian Warner Home Vídeo
A Ilha das almas perdidas ou
1932 70 Estados Unidos Erle C. Kenton Paramount Pictures
Ilha do Dr. Moreau
O homem invisível 1933 71 Estados Unidos James Whale Universal Home Video
A máquina do tempo 1960 103 Estados Unidos George Pal MGM/UA Home Vídeo
Agente 007 1962 109 Estados Unidos Terence Young Warner Home Video
Dr. Fantástico 1964 93 Reino Unido Stanley Kubrick Columbia Pictures
2001: uma odisseia no espaço 1968 149 Estados Unidos Stanley Kubrick MGM 15
Westworld 1973 89 Estados Unidos Michael Crichton Vídeo Arte
Meninos do Brasil 1978 125 Estados Unidos Franklin J. Schaffner Videolar S.A
Síndrome da China 1979 121 Estados Unidos James Dridges Columbia Pictures
Indiana Jones e os caçadores
1981 115 Estados Unidos Steven Spielberg Paramount Pictures
da arca perdida
The day after 1983 126 Estados Unidos Nicolas Meyer Spectrama
Joe Johnston e
Querida, encolhi as crianças 1989 93 Estados Unidos Walt Disney
Robert Minkoff
Os senhores do holocausto 1989 127 Estados Unidos Joseph Sargent Acorn Media
O início do fim 1989 126 Estados Unidos Roland Joffé Paramount
A qualquer preço 1989 145 Estados Unidos Eteven Zaillian Buena Vista Pictures/UIP
Columbia Pictures/
Parque dos dinossauros 1993 127 Estados Unidos Steven Spielberg
Universal Pictures do Brasil
Eu, minha mulher e minhas
1996 117 Estados Unidos Harold Ranis Sony Pictures
cópias
O contato 1997 153 Estados Unidos Robert Zemeckis Warner Bros.
Asteroide 1997 120 Estados Unidos Bradford May Cannes Home Video
Miramax Films/
Mutação 1997 105 Estados Unidos Guillermo del Toro Dimension Films/
Buena Vista International
Columbia Pictures/
Gattaca 1998 112 Estados Unidos Andrew Niccol
Sony Entertainment Pictures
Antonio Carlos de
Uma aventura de Zico no Brasil 1998 93 Brasil Columbia TriStar do Brasil
Fontoura
Andy Wachawski e
Matrix 1999 136 Estados Unidos Warner Bros.
Larry Wachawski
X-Men 2000 104 Estados Unidos Bryan Singer 20th Century Fox

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Imagem da Ciência no Cinema Vol. 31 N° 1, FEVEREIRO 2009


servir como objeto de estudo, pois tido que entendemos a advertência e se apropriam desses critérios, bem
a escola precisa mediar criticamente de Setton (2004) quando sugere ser como dos gêneros do discurso que
os aspectos da cultura cotidiana no necessário retirar o filme de seu es- permeiam a sala de aula e as obras
contexto escolar, no sentido de in- paço de circulação imediato, ou seja, cinematográficas.
tervir positivamente na interpretação do seu contexto normal de exibição O desafio é fazer o aluno tornar-se
dos meios de comunicação. É nesse (usado como entretenimento) para, um espectador mais crítico, seletivo
sentido que entendemos, conforme posteriormente, submetê-lo ao de- e exigente quanto às suas escolhas
Napolitano (2006), bate estabelecido e, portanto, quanto à sua posição
que “o cinema é o a priori. de espectador, formar uma opinião
campo no qual a O desafio é fazer o aluno Conforme temos crítica e argumentada a respeito do
estética, o lazer, a tornar-se um espectador mais sugerido, a aborda- que a mídia produz como um todo
ideologia e os va- crítico, seletivo e exigente gem didática de fil- e como elemento específico da sua
lores sociais mais quanto às suas escolhas mes em sala de aula educação informal.
amplos estão reu- e, portanto, quanto à sua deve considerar os
nidos numa mesma aspectos essenciais Considerações finais
posição de espectador,
obra de arte” (p. formar uma opinião crítica e da discussão que Apresentamos neste artigo su-
11-12). argumentada a respeito do o professor dese- gestões de filmes que podem ser
Para selecionar que a mídia produz como ja conduzir (Arroio levados à sala de aula com o objetivo
um filme, é preciso um todo e como elemento e Giordan, 2006). de discutir as imagens da Ciência e
considerar seu al- específico da sua educação Assim ao planejar a do cientista que são veiculadas em
cance, o que pode informal. utilização de um fil- filmes comerciais de ficção científica.
ser discutido, em me na sala de aula, A sugestão é que o professor leve
qual momento do o professor deve para sala de aula filmes de diferentes
curso a discussão se insere e, so- ter em mente: o tempo do filme e seu épocas e discuta com seus alunos
bretudo, ressaltar que um filme de objetivo como material didático. Um como a Ciência é apresentada, o
16 ficção científica não tem compro- filme muito longo ou que leve o aluno que é cientificamente passível de
misso em espelhar a realidade, mas apenas ao entretenimento desvia a acontecer, qual o momento histórico
que podemos, em muitos deles, atenção deste do foco principal da dis- em que o filme foi produzido e, espe-
encontrar dados da realidade que cussão que o professor pretende. Para cialmente, qual o momento histórico
são interpretados pelos realizadores a sala de aula, sugerimos o trabalho em que a Ciência se apresentava na
dos filmes. Levar essa discussão com seleção de cenas do filme, após época em que determinado filme foi
para a sala de aula é importante, os estudantes terem assistido à obra produzido.
pois não há obra que não carregue completa em atividade extraclasse. O Essas discussões levarão os
as marcas do autor, suas intenções. professor seleciona previamente os alunos a formar uma opinião crítica
Não somos seres neutros nas nossas pontos do filme que ele deseja discutir sobre a mídia e eles possivelmente
interpretações sobre os fatos, na com seus alunos e apresenta as ce- começarão a ver os filmes de ficção
medida em que sempre deixamos nas, fazendo-os observar elementos científica e de Ciência com um olhar
nossas marcas pessoais em tudo que caracterizam, por exemplo, o bem mais criterioso. Dessa forma, a
o que fazemos. Particularmente no cientista e suas atividades profissio- contextualização histórica da Ciência
ensino de ciências, a impressão de nais. Esse é um exercício de análise permitirá reconhecê-la como constru-
realidade que a obra cinematográfica da obra cinematográfica essencial to humano, suscetível às determina-
de ficção científica produz na audiên- para desenvolver a capacidade de ções que extrapolam o laboratório.
cia tem consequências determinantes percepção dos alunos. A seleção de Para o professor, é importante fazê-lo
para a formação da percepção de cenas pode ser feita a partir de recor- reconhecer a presença de múltiplas
Ciência e do cientista. Sendo assim, tes de filmes e produção de um novo vozes na obra cinematográfica, por
é necessário discutir com os alunos vídeo ou, simplesmente, o professor meio das quais é possível estabele-
as intenções do diretor e/ou do seleciona a apresentação das cenas cer relações mais ou menos diretas
roteirista do filme quando atribuem a partir do tempo do filme que é con- com as visões de Ciência de cada
ao cientista esse ou aquele papel, trolado no próprio vídeo. A seleção época.
levando-os a se distanciar por alguns é importante porque é a partir dela
instantes da narrativa do filme. Esse que o professor organiza e elabora
Marcia Borin da Cunha (marciaborin@usp.
é um movimento didático necessário as atividades anteriores e posteriores br), licenciada em Química e mestre em Educação
quando lidamos com a ficção cien- à exibição do filme. Paulatinamente, pela UFSM/RS, é docente do curso de Química
tífica cinematográfica, pois se uma o professor pode desenvolver com da UNIOESTE/PR e doutoranda da Faculdade de
imagem pode significar mais que mil os alunos a capacidade de seleção Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP).
Marcelo Giordan (giordan@usp.br), bacharel,
palavras, um filme de ficção pode de cenas, discutindo os critérios ne- mestre em Química e doutor em Ciências pelo IQ-
enraizar percepções permanentes no cessários. Nesse sentido, poder-se-á UNICAMP, livre-docente em Educação pela FEUSP,
imaginário dos alunos. É nesse sen- verificar quanto os alunos dominam é docente da FEUSP.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA A Imagem da Ciência no Cinema Vol. 31 N° 1, FEVEREIRO 2009


Referências KAKU, M. Visões do futuro: como a Ciência nos séculos XIX e XX. São Paulo:
ciência revolucionará o século XXI. Trad. Zahar, 1987.
ARROIO, A. e GIORDAN, M. O vídeo
Maria Luiza Borges. Rio de Janeiro: Roc- OLIVEIRA, J.B. (Org.). História da Ciên-
educativo: aspectos da organização do
ensino. Química Nova na Escola, n. 24, co, 2001. cia no Cinema 2. Scientia v. 8. UFMG. Belo
nov. 2006. SETTON, M. da G.J. Cinema: instrumen- Horizonte: Argumentum, 2007, p. 7-156.
CHASSOT, A. A Ciência é masculina? to reflexivo e pedagógico. In: _____. (Org.). _____. (Org.). História da Ciência no Ci-
São Leopoldo: Unisinos, 2003. A cultura da mídia na escola: ensaios sobre
nema. Scientia v. 4. UFMG. Belo Horizonte:
MORAES, A.C. A escola vista pelo cinema e educação. São Paulo: Annablu-
Argumentum, 2005, p. 7-185.
cinema: uma proposta de pesquisa. In: me, 2004. p. 67-80.
SUPERINTERESSANTE. O Cinema
Setton, M. da G.J. (Org.). A cultura da
mídia na escola: ensaios sobre cinema e
Para saber mais vai à Ciência. Disponível em: <http://
BOLOGNINI, C.Z. (Org.). O cinema na super.abril.com.br/superarquivo/1990/
educação. São Paulo: Annablume, 2004.
p. 53-66. escola. Campinas: Mercado das Letras, conteudo_112060.shtml>.
NAPOLITANO, N. Como usar o cinema 2007. TUDOR A. Monsters and mad scien-
na sala de aula. São Paulo: Contexto, COLIN A.R. História ilustrada da Ciência tists: a cultural history of the horror movie.
2006. da Universidade de Cambridge, v. IV. A Oxford: Basil Blackwell, 1989.

Abstract: The image of science in the cinema. This article presents a proposal about the education for the media taking into account the introduction of the cinema in Science lessons. First, we
present a relationship between the cinema and the historical moment in which Science was situated when the movies have been produced. In a second moment, we discuss the introduction of the
cinema in the classroom as a means to develop the critical sense in the students, improving their opinions about the media through a historical discussion of the scientific, cultural and ideological
context of the cinematograph production.
Keywords: communication-education, cinema, image of Science

XIII Encontro Nacional de Educação em Ciências


17
O XIII Encontro Nacional de Educação em
Ciências (XIII ENEC) será realizado em Castelo
Branco (Portugal), de 24 a 26 de setembro de
2009, com o tema Educação e Formação: Ciên-
cia, Cultura e Cidadania.
Os objetivos do encontro são:
• Conhecer os desenvolvimentos da investiga-
ção em Educação em Ciências;
• Compreender a realidade da Educação em
Ciências, bem como das práticas de ensino;
• Interrelacionar conhecimentos de natureza
científica, tecnológica, cultural e ética;
• Refletir sobre o valor educativo dos
patrimônios locais, regionais e nacionais;
• Relevar o valor educativo e formativo dos
contextos não formais;
• Potenciar a aproximação entre a ciência es-
colar, a comunidade e a realidade, a partir de
propostas didáticas e de recursos variados.
As discussões serão em torno de conferências, plenárias, painéis de debate, comunicações convidadas, comu-
nicações orais, oficinas de práticas e apresentação de pôsteres.
As inscrições de trabalhos, nas formas de comunicação oral, pôster ou oficina, serão realizadas até 11 de maio
de 2009.

Contato pelo endereço-e: enec2009@ese.ipcb.pt


Informações adicionais: http://enec2009.ese.ipcb.pt

Luciana Caixeta Barboza (editoria QNEsc)

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